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OREMOS

T.S. (Watchman) Nee

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PREFÁCIO

O que é a oração? É nossa oração eficaz? Conhecemos o


poder da oração? Precisamos conhecer estes e muitos outros
assuntos se quisermos ter uma vida de oração verdadeira e
desejarmos que nossa oração seja eficaz.
Neste pequeno volume de mensagens proferidas durante
um longo período do ministério do autor, agora traduzidas e
publicadas pela primeira vez, T.S. (Watchman) Nee partilha
conosco as lições que aprendeu sobre a oração ao longo dos
anos. Ele considera a oração um mistério, embora não
incompreensível. Percebe ser a oração a maior obra à qual os
homens são chamados. É trabalhar com Deus. Por meio da
oração, o propósito de Deus é realizado, as intenções de
Satanás são destruídas, e a pessoa que ora é grandemente
beneficiada.
Que nós, portanto, sigamos a admoestação de nosso
bendito Senhor: “Levantai-vos, e orai” (Lc 22:46).

ÍNDICE
Prefácio

1 – O que é oração?
2 – Orar segundo a vontade de Deus
3 – Oração e a obra de Deus
4 – O princípio de orar três vezes
5 – A oração que desafia Satanás
6 – Alguns fatores da oração
7 – As táticas de exaustão de Satanás

CAPÍTULO 1
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O QUE E ORAÇÃO?
Watchman Nee

A oração é o ato mais maravilhoso do reino espiritual e


também um assunto muitíssimo misterioso.

Oração: um mistério
A oração é um mistério; e depois de analisarmos
algumas questões sobre o assunto, creio que apreciaremos
ainda mais o caráter misterioso que envolve a oração, pois é
assunto de difícil compreensão. Com isto não estamos
sugerindo que o mistério da oração seja incompreensível ou
que os variados problemas referentes à oração sejam
inexplicáveis. Simplesmente indica que poucas pessoas
realmente conhecem a fundo essas questões. Por causa disto,
poucos são verdadeiramente capazes de realizar muito para
Deus no ministério da oração. O poder da oração reside não
no quanto, oramos, mas no quanto nossas orações estão de
acordo com o princípio da oração. Somente as orações que
possuem esse princípio têm valor verdadeiro.
A primeira pergunta que se deve fazer é: Por que orar?
Para que serve a oração? Não é Deus onisciente e onipotente?
Por que espera ele que oremos para começar a operar? Uma
vez que ele sabe, por que devemos contar-lhe tudo (Filipenses
4:6)? Sendo Todo-poderoso, por que Deus não opera direta-
mente? Por que precisa ele de nossas orações? Por que
somente os que batem entram (Mt 7:7)? Por que diz Deus:
“Nada tendes, porque não pedis” (Tg 4:2)?
Depois de fazer as perguntas acima devemos continuar
a inquirir, como segue: E a oração contrária à vontade de
Deus? Que relação há entre oração e justiça?
Sabemos que Deus jamais faz algo contra a sua
própria vontade, e se abrir portas é a vontade dele, por que
espera até que batamos para abrir? Por que ele simples-

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mente não abre segundo sua própria vontade sem requerer
que batamos? Sendo onisciente, Deus sabe que precisamos de
portas abertas; por que, então, espera que batamos para
abrir? Se a porta deve-se abrir, e se abrir portas está de
acordo com a vontade de Deus, e se, além disso, ele sabe que
precisamos que ela seja aberta, por que espera que batamos?
Por que ele simplesmente não abre a porta? Que vantagem
tem Deus em que batamos?
Ainda devemos fazer as seguintes perguntas: Uma vez
que a vontade de Deus é abrir a porta e o abrir a porta está
de acordo com a justiça, abrirá Deus a porta se não
batermos? Ou preferiria ele atrasar a realização de sua
vontade e justiça a fim de esperar por nossas orações?
Permitirá Ele que sua vontade de abrir a porta seja impedida
porque deixamos de bater?
Se assim for, não estaremos nós limitando a vontade
de Deus? É Deus realmente Todo-poderoso? Se ele é Todo-
poderoso, por que não pode abrir a porta por si mesmo – por
que deve ele esperar até que batamos? É Deus realmente
capaz de realizar sua própria vontade? Se ele realmente e
capaz, então por que o seu abrir a porta (a vontade de Deus)
é governado por nosso bater (oração do homem)?
Ao fazer estas perguntas compreendemos que a oração
é um grande mistério. Pois aqui vemos o princípio do
trabalho de Deus: seu povo deve orar antes que Deus se
levante e opere – sua vontade somente é realizada mediante
as orações dos que lhe pertencem; as orações dos crentes
devem realizar sua vontade; Deus não cumprirá sua vontade
sozinho – Ele operará somente depois que seu povo mostrar
simpatia por meio das orações.
Tal sendo o caso, podemos dizer, portanto, que a
oração nada mais é que um ato do crente operando
juntamente com Deus. A oração é a união do pensamento do
crente com a vontade de Deus. A oração que o crente profere
na terra nada mais é que o expressar da vontade de Deus no
céu. A oração não é a expressão de nosso desejo de que Deus
ceda à nossa petição e que preencha nosso desejo egoísta.

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Não é forçar o Senhor a mudar sua vontade e realizar o que
não deseja. Não, oração é simplesmente o crente proferindo a
vontade de Deus. Perante Deus, o crente pede, em oração,
que se faça a vontade do Senhor.
A oração não altera o que Deus determinou. Nunca
muda nada; meramente realiza o que já foi pré-ordenado. A
falta de oração, entretanto efetua mudanças. Deus deixará
que muitas de suas resoluções fiquem suspensas devido à
falta de cooperação dedicada de seu povo.
“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra,
terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra,
terá sido desligado no céu” (Mt 18:18). Estamos bem
familiarizados com estas palavras de nosso Senhor, mas
devemos compreender que elas se referem à oração, e são
seguidas imediatamente por esta afirmativa de Cristo: “Em
verdade também vos digo que, se dois entre vós, sobre a
terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que
porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que
está nos céus” (v.19).

O Céu governado pela Terra


Aqui, afirma-se claramente o relacionamento entre a
oração e a obra de Deus. Deus, no céu, somente ligará e
desligará o que seus filhos, sobre a terra, ligaram ou desli-
garam. Muitas coisas há que precisam ser ligadas, mas Deus
não as ligará sozinho. Deseja que seu povo as ligue na terra
primeiro, e então Ele as ligará no céu. Também há muitas
coisas que devem ser desligadas; mas, de novo, Deus não
deseja desligá-las sozinho: espera até que seu povo as
desligue na terra, então ele as desligará no céu. Pense nisto:
Todas as ações do céu são governadas pelas ações da terra! E
da mesma forma todos os acontecimentos do céu são restritos
pelos acontecimentos da terral Deus tem grande deleite em
colocar todas as suas obras sob o controle de seu povo. (Deve-
se ressaltar que estas palavras de Mateus não foram ditas a
pessoas carnais, porque tais pessoas não estão qualificadas
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Para ouvi-las. Tenhamos muito cuidado aqui para que a
carne não interfira, pois nesse caso estaremos ofendendo a
Deus em muitos aspectos.)
Há uma passagem em Isaías que transmite o pensa-
mento encontrado em Mateus: “Assim diz o Senhor, o Santo
de Israel, aquele que o formou: Quereis, acaso, saber as
coisas futuras? quereis dar ordens acerca de meus filhos e
acerca das obras de minhas mãos?” (45:11). Ao examinar esta
palavra, possamos nós ser verdadeiramente piedosos, não
permitindo que a carne entre de maneira sutil. Deus deseja
homens humildes como nós para comandá-Lo! Ele começa a
fazer sua obra quando ordenamos! Toda a ação de Deus no
céu, seja ligar ou desligar, é feita de acordo com nossa ordem
na terra.
Primeiro e preciso que a terra ligue antes que o céu o
possa fazer; a terra deve primeiro desligar para que o céu
também o faça. Deus nunca faz nada contra sua vontade.
Não é porque a terra ligou alguma coisa que o Senhor seja
forçado a ligar aquilo que não desejava. Não é assim. Ele figa
no céu o que foi ligado na terra simplesmente porque sua
vontade original sempre foi ligar o que sobre a terra foi
ligado. Espera até que seu povo sobre a terra ligue o que os
céus têm desejado ligar, e então obedece à sua ordem e liga
para eles o que pediram. O próprio fato de Deus estar
disposto a ouvir a ordem de seu povo e ligar o que foi ligado é
evidência de que já era sua vontade fazer tal coisa (porque
todas as vontades de Deus são eternas). Por que ele não liga
antes? Uma vez que sua vontade é ligar, e essa vontade é
eterna, por que não liga ele antes o que devia ser ligado
segundo sua própria vontade? Por que deve ele esperar até
que a terra ligue para depois e ele ligar no céu? E verdade
que o que não ‘ ligado na terra não pode ser ligado no céu? Se
houver demora em ligar na terra, haverá também demora no
céu? Por que deve Deus esperar que a terra ligue o que ele há
muito desejou ligar?
Seja-me permitido dizer que e ao responder a estas
perguntas o crente pode tornar-se mais útil nas mãos de

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Deus. Já conhecemos o motivo da criação do homem. Deus
cria o homem para que possa se unir com ele e derrotar
Satanás e suas obras. Criado com livre-arbítrio, espera-se
que o homem exerça sua vontade de ter união com a vontade
de Deus em oposição à vontade de Satanás. Esse é o
propósito da criação e também o propósito da redenção. A
vida toda do Senhor Jesus demonstra este princípio. Não
sabemos o motivo, entretanto sabemos que Deus não age
independentemente. Se o povo de Deus falhar em mostrar-
lhe simpatia, cedendo-lhe sua vontade e tendo unidade
mental com ele em oração, Deus prefere esperar e adiar sua
obra. Ele se recusa a agir sozinho. Ao pedir que seu povo
trabalhe com ele, recebe glória. Embora ele seja Todo-
poderoso, deleita-se em que sua onipotência seja circunscrita
por seus filhos. Embora seja zeloso de sua própria vontade,
temporariamente permitirá que Satanás mantenha a
ofensiva se seu povo esquecer-se da vontade divina e falhar
em mostrar simpatia na cooperação com Deus.
Oh, que os filhos de Deus não fossem tão frios como se
mostram hoje! Que fossem mais dispostos a negar-se a si
mesmos e submeter-se à vontade de Deus – tendo maior
cuidado por sua glória e guardando sua palavra! Então a
vontade de Deus referente a esta época seria realizada
rapidamente; a igreja não estaria em tamanha confusão; os
pecadores não estariam tão endurecidos; a vinda do Senhor
Jesus e seu reino chegariam mais cedo; Satanás e seus
poderes seriam jogados mais cedo no poço sem fundo, e o
conhecimento do Senhor encheria mais rapidamente a terra.
Devido ao fato de que os crentes se preocupam demasiada-
mente com seus próprios afazeres e falham em trabalhar com
Deus, muitos inimigos e muita falta de lei não são amar-
rados, e muitos pecadores e muita graça não são libertados.
Quão restrito fica o céu pela terra! Uma vez que Deus nos
respeita tanto, não podemos nós confiar nele da mesma
forma?
Como é que ligamos o que Deus deseja, e desligamos o
que Deus quer? A resposta do Senhor Jesus é: “Concordarem

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a respeito de qualquer coisa que pedirem.” Ora, isto é oração
– a oração do corpo de Cristo. O ponto alto de nosso trabalho
com Deus e pedir a uma só voz que Deus realize o que deseja.
O significado verdadeiro da oração é que a pessoa que ora o
faça pelo cumprimento da vontade daquele a quem ora.
Oração é a oportunidade pela qual expressamos nosso desejo
da vontade de Deus. A oração significa que nossa vontade
está do lado de Deus. Fora disto não existe oração.

O Ego e a Oração
Quantas orações hoje em dia realmente expressam a
vontade de Deus? Em que medida esquecemos de nós
mesmos completamente e procuramos somente a vontade do
Senhor? Quantos crentes estão realmente trabalhando com
Deus em oração? Quantos de nós realmente estamos decla-
rando diariamente perante ele sua vontade e derramando
nossos corações em oração para que ele possa manifestar-nos
sua vontade, qualquer que ela seja? Que se reconheça clara-
mente que o egoísmo pode manifestar-se nas outras áreas e
também na oração! Quão múltiplos são os pedidos para nós
mesmos! Quão fortes são nossas opiniões, desejos, planos e
aspirações! Tendo tanto de nós mesmos na oração, como
podemos esperar ser capazes de esquecermos de nós mesmos
completamente e procurarmos a vontade de Deus em oração?
A autonegação deve ser praticada em tudo. E tão essencial
na oração como no agir. E preciso saber que os redimidos
devem viver para o Senhor – aquele que morreu e agora vive
para nós. Devemos viver inteiramente para ele e nada
procurar para nos mesmos. A oração faz parte das coisas que
devemos consagrar a Deus.
Prevalece um sério erro em nossa compreensão, isto é,
que sempre pensamos na oração como um canal para
expressar o de que precisamos – como nosso pedido de
socorro a Deus. Não percebemos que orar é pedir que Deus
cumpra suas necessidades. Devemos compreender que o
pensamento original de Deus certamente não é permitir que
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os crentes alcancem os próprios alvos mediante a oração;
antes, é Deus realizando seu propósito por meio das orações
dos crentes. Isto não quer dizer que os cristãos nunca devem
pedir ao Senhor que supra suas necessidades. Serve somente
para indicar que primeiro precisamos compreender o signifi-
cado e os princípios da oração.
Sempre que o crente estiver passando por necessi-
dades, primeiro deve inquirir: Tal falta afetará a Deus? Ele
deseja que eu passe necessidade? Ou é sua vontade suprir
minha necessidade? Ao ver que a vontade de Deus é suprir
sua necessidade, então pode pedir-lhe que supra a
necessidade dele suprindo a sua. Tendo conhecido a vontade
dele, você deve orar de acordo com essa vontade. Você ora
para que ele preencha a necessidade divina. A questão já não
é se sua necessidade será suprida, mas se a vontade de Deus
será feita. Embora sua oração de hoje não seja muito
diferente da do passado, entretanto o que agora você procura
e que seja feita a vontade de Deus nesta questão particular e
pessoal, e não que sua própria necessidade seja suprida. E
aqui registram-se muitos fracassos: os crentes, muitas vezes,
dão prioridade às suas necessidades; embora saibam que a
vontade do Senhor é, suprir-lhes as necessidades, não
conseguem esquecer-se de mencionar essas necessidades em
primeiro lugar em suas orações.
Não devemos orar somente por nossas necessidades.
No céu e na terra só uma oração é legítima e aceitável a Deus
– a que lhe pede que se cumpra sua vontade. Nossas
necessidades deviam-se perder na vontade de Deus. Sempre
que virmos a vontade de Deus concernente à nossa necessi-
dade, devemos, imediatamente, despojar-nos de nossa neces-
sidade e pedir-lhe que cumpra a sua. Pedir ao Senhor, direta-
mente, que supra nossas necessidades, quaisquer que sejam,
não pode ser considerada oração de alto nível. Na oração, as
necessidades, pessoais devem ser tocadas indiretamente,
primeiro pedindo que a vontade do Senhor seja feita. Este e o
segredo da oração, a chave para a vitória em oração.

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O propósito de Deus é que estejamos tão imbuídos de
sua vontade que nos esqueçamos de nossos próprios interes-
ses. Ele nos chama para trabalhar com ele a fim de realizar
sua vontade. O trabalho é a oração. Por esse motivo ele
deseja que aprendamos dele qual seja sua vontade com
relação a todas as coisas para que possamos, então, orar
segundo sua vontade.
A oração verdadeira é trabalho real. Orar de acordo
com a vontade e Deus e orar somente pedindo sua vontade é
deveras obra que exige a negação pessoal. A menos que nos
despojemos completamente de nós mesmos, e não tenhamos
o mínimo interesse próprio, mas vivamos absolutamente
para o Senhor e procuremos sua glória somente, não
gostaremos do que ele gosta, não procuraremos o que ele
procura, nem oraremos da maneira que ele deseja que
oremos. Não resta dúvida que trabalhar para Deus sem o
interesse próprio é muito difícil; mas orar sem nenhum
interesse próprio e ainda mais difícil. Não obstante todos os
que vivem para Deus devem fazer isso.
Nas gerações passadas o Senhor não fez muitas coisas
que pode fazer e gosta de fazer, por causa da falta de coope-
ração de seus filhos. O fracasso não está em Deus, mas em
seu povo. Se analisarmos nossas próprias histórias pessoais
veremos mesmo triste estado. Tivéssemos tido fé maior e
mais oração, nossa vida não teria sido tão ineficaz. O que o
Senhor procura agora e que seus filhos estejam dispostos a
unir-se a sua vontade e expressar tal união mediante a
oração. Crente algum jamais experimentou completamente a
grandeza da realização por meio da união com a vontade de
Deus.

Oração – Preparação do
caminho de Deus
Um servo do Senhor disse de forma correta: A oração é
a estrada da obra de Deus. Deveras, a oração está para a

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vontade de Deus assim como os trilhos estão para o trem de
ferro. A locomotiva tem poder: é capaz de correr milhares de
quilômetros por dia. Mas se não existirem trilhos, não poderá
avançar um centímetro sequer. Se ousar mover-se sem eles,
logo afundará na terra. Pode percorrer grandes distâncias,
mas não pode andar onde não existem trilhos. Tal é a relação
entre a oração e o trabalho de Deus. Não acho necessário
explicar com detalhes, pois acredito que todos podem
reconhecer o significado desta parábola. Não há dúvida que
Deus é Todo-poderoso e opera poderosamente, mas não pode
trabalhar nem trabalhará se você e eu não trabalharmos com
ele em oração, se não prepararmos o caminho para sua
vontade, e orarmos “com toda oração e súplica” (Ef 6:18) para
dar-lhe a capacidade de operar. Muitas são as coisas que
Deus deseja fazer e gostaria de fazê-las, mas suas mãos estão
atadas porque seus filhos não cooperam com ele e não oram a
fim de preparar os seus caminhos. Deixe-me dizer a todos
que se deram inteiramente a Deus: Examinem-se a si
mesmos de verdade e vejam se não têm limitado a Deus
nesse respeito diariamente. Daí que nosso trabalho mais
importante é preparar o caminho do Senhor. Não há outra
obra que se possa comparar a esta. Com Deus há muitas
“possibilidades”; mas estas se transformarão em “impossibi-
lidades” se os crentes não abrirem caminhos para Deus.
Tendo isto como alvo, nossas orações com a mente de Deus
devem ser grandemente aumentadas. Que possamos orar
exaustivamente – isto é, que possamos orar em todas as
direções – para que a vontade de Deus prospere em todas as
direções. Embora nossas atividades entre os homens sejam
importantes, nosso trabalho com o Senhor, mediante orações,
é muito mais.
A oração não é a tentativa de restaurar o coração do
céu. É totalmente errôneo o conceito de que Deus é muito
duro, e por isso precisamos entrar no combate da oração
contra ele para subjugá-lo e assim fazer com que ele
modifique sua decisão. Toda oração em desacordo com a
vontade de Deus é totalmente vazia. Que nos asseguremos de

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estar lutando perante Deus como se em conflito pela simples
razão de sua vontade estar sendo bloqueada pelos homens ou
pelo diabo, e desta forma desejamos que ele execute sua
vontade a fim de que ela não sofra por causa da oposição.
Desejando, desse modo, a vontade de Deus e orando sim, até
mesmo lutando – contra tudo que se oponha à sua vontade,
preparamos o caminho para que ele execute sua vontade sem
permitir que o que procede do homem ou do diabo prevaleça
temporariamente. É verdade que parece estarmos lutando
contra Deus; mas tal luta não é contra Deus, como se
quiséssemos fazê-lo mudar sua vontade para se acomodar a
nosso prazer; é, em realidade, contra tudo o que se opõe a
Deus de modo que ele possa cumprir sua vontade. A vista
disto, percebamos que somos incapazes de orar como
cooperadores de Deus, a menos que realmente conheçamos
sua vontade.
Agora, já tendo compreendido um pouco do verdadeiro
significado da oração, redobremos nosso cuidado para que a
carne não interfira. Pois, note, por favor, que se o próprio
Deus enviasse trabalhadores, Cristo não nos teria mandado
orar ao Senhor da seara para que mande trabalhadores! Se o
nome de Deus mui naturalmente fosse santificado, se seu
reino viesse sem necessidade de nossa cooperação, e se sua
vontade fosse feita automaticamente na terra, o Senhor
Jesus jamais nos teria ensinado a orar da forma como o fez.
E se ele vai voltar sem a necessidade de uma resposta da sua
igreja, o Espírito do Senhor não teria movido o apostolo João
a clamar para que ele voltasse cedo. Se Deus o Pai
espontaneamente fizesse com que todos os crentes fossem um
teria nosso Senhor, porventura, orado a seu Pai com esse
fim? Se o trabalhar com Deus não e essencial, qual será o
valor da intercessão contínua de nosso Senhor no céu?
Oh, que percebamos que a oração de lealdade a Deus é
mais vital do que qualquer outra coisa! Pois que Deus só
pode operar nos assuntos pelos quais seus filhos mostraram
simpatia. Ele se recusa a operar nas áreas em que não
existem orações e nas quais a vontade de seu povo não está

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unida com a sua. A oração de vontades unidas é a resposta; é
unir a vontade do homem com a de Deus de modo que ele
possa operar. Às vezes pedimos incorretamente e, portanto,
nossa oração fica sem resposta; mas se nossa vontade estiver
unida à vontade de Deus, ele ainda ganhará, porque
mediante nossa simpatia ele pode executar sua vontade.

CAPÍTULO 2

ORAR SEGUNDO A VONTADE DE DEUS


Leitura Bíblica: 1Jo 5:14; Sl 119:147, 148; Dn 10:1-21

Ao lermos o capítulo 10 de Daniel, que nos fala de sua


vida de oração, devemos notar pelo menos dois pontos.

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Primeiro
O primeiro ponto que se deve notar é que aquele que
ora verdadeiramente é uma pessoa que não somente vai a
Deus com freqüência, mas também cuja vontade freqüente-
mente encaixa-se na vontade de Deus – quer dizer, seu
pensamento muitas vezes entra no pensamento de Deus.
Este é um princípio muitíssimo importante da oração.
Há um tipo de oração que se origina inteiramente de
nossa necessidade. Embora, às vezes, o Senhor ouça a tais
orações, ele, não obstante, pouco ou quase nada delas
aproveita. Por favor, preste atenção a este versículo:
“Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma”
(Salmo 106:15). Que significa esta passagem? Ao Israel
clamar a Deus pela gratificação de sua avidez, ele respondeu-
lhes dando o que pediram, entretanto, o resultado foi que se
enfraqueceram perante ele. Oh, sim, às vezes Deus ouve e
responde as nossas orações somente para satisfazer nossas
necessidades, ainda que sua divina vontade não se realize.
Que compreendamos que este tipo de oração não tem muito
valor.
Mas há outro tipo de oração que procede da própria
necessidade de Deus. É de Deus e se inicia em Deus. E tal
oração é de valor incalculável. A fim de ter tal tipo de oração
a pessoa que ora não somente tem de aparecer com
freqüência pessoalmente perante Deus, mas também tem de
permitir que sua vontade se perca na vontade de Deus, seu
pensamento deve perder-se no pensamento de Deus. Por
viver na presença do Senhor, tal pessoa pode conhecer sua
vontade e pensamentos. E estas vontades e pensamentos
divinos tornam-se seus próprios desejos, que então ela
expressa em oração.
Oh, como devemos aprender este segundo tipo de
oração! Embora sejamos imaturos e fracos, podemos não
obstante achegar-nos a Deus e deixar que seu Espírito leve
nossa vontade para a vontade de Deus e nosso pensamento
para o pensamento de Deus. Ao nos apropriarmos um pouco
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de sua vontade e pensamento compreendemos um pouco
mais como opera o Senhor e o que requer de nós. De modo
que, gradativamente, a vontade e o pensamento de Deus, que
conhecemos e que fazem parte de nos, transformam-se em
nossa oração. E tal oração é de grande valor.
Tendo entrado no pensamento de Deus e assim
apropriado de sua vontade e propósito, Daniel encontrou em
seu coração os mesmos desejos de Deus. O anelo de Deus foi
reproduzido em Daniel e se transformou em seu desejo. De
modo que, ao expressar este desejo em oração com gritos e
gemidos, na verdade estava articulando o desejo de Deus.
Precisamos deste tipo de oração, porque ele realmente toca o
coração divino. Não mais precisamos de palavras; o que
necessitamos é tocar mais a mente do Senhor. Que o Espírito
de Deus nos faça penetrar nos Planos do coração de Deus.
É claro que leva tempo para aprender este tipo de
oração. No começo de tal aprendizagem não procuremos mais
palavras nem mais pensamentos. Nosso espírito deve estar
calmo e em repouso. Podemos levar nosso estado atual ao
Senhor e examiná-lo à luz de sua presença, ou podemos nos
esquecer de nosso estado e simplesmente meditar em sua
palavra perante ele. Ou podemos simplesmente viver
perante ele e tentar tocá-lo com nosso espírito. De fato, não
somos nós que saímos para encontrar a Deus; é Deus que
espera por nós. E na presença dele percebemos alguma coisa
e tocamos a sua vontade. A maior sabedoria vem, de fato,
desta fonte. Assim, nossa vontade entra em sua vontade e
nosso pensamento entra em seu coração. E daí nossa oração
subirá a ele.
Ao trazermos a Deus nossa vontade e pensamento sua
própria vontade e pensamento começam a ser reproduzidos
em nós, e então isto se torna nossa vontade e pensamento.
Este tipo de oração é muitíssimo valioso e de grande peso.
Lembremo-nos do que o Senhor Jesus disse acerca da oração:
“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso que estás nos céus,
santificado seja o teu nome; venha o teu reino, faça-se a tua
vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6:9, 10). Estas

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palavras não são simplesmente para repetirmos. Sendo
reveladoras da vontade e do pensamento de Deus, devem ser
reproduzidas em nós quando o Espírito de Deus leva nossa
mente para Deus. E à medida que se tornam nossa vontade e
pensamento, a oração que então proferimos é valiosíssima e
de muita autoridade.
É possível fazer dois tipos diferentes de oração acerca
do mesmo assunto. Um tipo procede de nossa própria
vontade. É baseado em nosso próprio pensar e nossas
próprias expectativas. O Senhor pode ouvir nossa oração e
responder a ela, mas tal oração tem valor muito pequeno. Se,
por outro lado, trazemos o assunto perante Deus e deixamos
que seu Espírito una nossa vontade com a vontade de Deus e
nosso pensamento com o pensamento de Deus, descobriremos
dentro de nós um anseio profundo: a reprodução da vontade
e, do pensamento dele. Suponhamos que o Senhor está
sentido e pesaroso com a morte dos homens. Também nós
sentiremos o urgente desejo de que alma alguma se perca. E
é a reprodução do coração de Deus que nos capacita a orar
com gemidos interiores.
Se o Senhor estiver magoado e ansioso por causa do
fracasso de seus filhos, esse mesmo fardo se reproduzirá em
nós; e o resultado será que teremos o mesmo anseio de não
desejar ver um filho de Deus cair em trevas e pecado. Assim,
oração e intercessão fluirão de nós. Ali confessaremos os
pecados, suplicaremos perdão, e pediremos que Deus puri-
fique seus filhos.
Portanto, um tipo de oração é apresentado de acordo,
com nossa vontade; o outro tipo é a vontade de Deus que se
reproduziu em nós e se tornou nossa vontade. Estes dois
tipos de oração são extremamente diferentes. No último caso,
quando qualquer crente se aproxima de Deus, a vontade de
Deus se reproduzirá nele. Tornar-se-á sua própria essência.
E a oração feita desta forma terá valor e autoridade.
Deus tem muitas coisas que fazer na terra, em muitas
áreas. Como, então, podemos orar segundo nosso próprio
sentimento e pensamento? Devemos nos aproximar de Deus

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e permitir que ele imprima em nós o que ele deseja para que
possamos interceder com gemidos. Às vezes, quando nos
aproximamos de Deus, ele coloca em nós sua vontade de
espalhar o evangelho, e isto logo se torna uma obrigação para
nós. E quando oramos de acordo com essa obrigação,
sentimos como que se nosso próprio gemido estivesse
divulgando a vontade de Deus. O Senhor pode colocar em nós
uma variedade de vontades ou reproduzir em nós diferente
fardos. Mas qualquer que seja a vontade ou fardo, sempre
que for reproduzido em nosso coração somos capazes de fazer
a vontade do Senhor nossa própria vontade e orar de acordo
com ela. Quando Daniel se apresentou perante Deus, tocou
em determinado assunto; e então vimos que orou por isso
com gemidos profundos. Tal oração e preciosa e de grande
substância. Pode santificar o nome de Deus, apressar o seu
reino e fazer com que a sua vontade prevaleça sobre a terra
como no céu.

Segundo
O segundo ponto que devemos notar é: quando
fizermos este tipo de oração, sacudiremos o inferno e
afetaremos a Satanás. Por isto Satanás levantar-se-á para
impedir este tipo de oração. Todas as orações que vêm de
Deus tocam os poderes das trevas. Aqui se apresenta um
combate espiritual. Talvez nossos corpos físicos, nossas
famílias ou qualquer coisa que nos pertença seja atacada por
Satanás. Pois sempre que este tipo de oração é feito, ocorre
ataque satânico. O inimigo ataca para que nossa oração
cesse. Ele pode até tentar lançar algum obstáculo que atrase
a resposta à nossa oração. Essa oração devia receber uma
resposta rápida; entretanto, a resposta parece estar
suspensa no ar. Deste mesmo modo a resposta à oração de
Daniel se atrasou vinte e um dias embora Deus o tivesse
ouvido no dia em que começou a orar. Nesta situação, que fez
Daniel? Ajoelhou-se perante Deus e esperou até que a
resposta à oração chegasse.
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Deixe-me fazer esta pergunta: Você já se perguntou
por que sua oração fica sem resposta? Talvez esteja suspensa
em algum, lugar, mas dentro do prazo de vinte e um dias! É
possível que a resposta do trono já tenha sido dada, mas
encontra oposição e fica suspensa no ar. Por quê? Espera
mais oração da terra; precisa que mais pessoa humilde e
pacientemente esperem pelo Senhor.
Oh, aproxime-se da presença de Deus, tenha calma
perante ele, deixe de lado seus próprios pensamentos, e entre
no pensamento dele. Então você compreenderá o significado
da oração e verá por quantos assuntos está Deus esperando
que você ore. Há coisas em volta do mundo que devem ser
motivos de suas orações, e assuntos de todos os tipos que
devem receber suas orações. Você não ora segundo seu
próprio sentimento; em vez disso, leva o desejo de seu
coração ao desejo do coração de Deus e deixa que a vontade
dele se transforme em sua vontade, gemido e esperança no
universo.
Nada da vontade de Deus jamais é liberado sem
passar pelo homem, e nada dessa vontade liberada através
do homem está livre de um encontro com o poder de Satanás.
Para a realização da vontade de Deus é preciso haver oração;
para remover a oposição de Satanás é preciso oração. Que
exercitemos a autoridade da oração desligando o que deve ser
desligado e ligando o que deve ser ligado. Que não oremos
segundo nossa vontade. Aproximemo-nos de Deus e oremos
segundo a vontade que ele reproduziu em nós. Quando Deus
diz que isso deve ser feito, nós também dizemos que deve ser
feito. Quando ele diz que isto não deve existir, nós também
dizemos que não deve existir. Devemos esquecer de nós
mesmos, tocar a vontade de Deus e expressar sua vontade
presente por meio da oração.

18
CAPÍTULO 3

ORAÇÃO E A OBRA DE DEUS


“Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no
Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e
súplica por todos os santos” (Ef 6:18).
“Assim diz o Senhor Deus: Ainda nisto permitirei que
seja eu solicitado pela casa de Israel, que lhe multiplique eu
os homens como rebanho” (Ez 36:37).
“Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas, que
todo o dia e toda a noite jamais se calarão; vós os que fareis
lembrado o Senhor, não descanseis, nem deis a ele descanso
até que restabeleça Jerusalém e a ponha por objeto de louvor
na terra” (Isaías 616, 7).

19
Primeiro
Quando Deus opera, assim o faz com lei específica e
princípio definido. Embora ele possa fazer tudo o que lhe
agrada, não o faz descuidadamente. Sempre atua de acordo
com a lei e princípio que determinou. E inegável que ele pode
transcender a todas estas leis e a todos estes princípios,
porque ele é Deus e pode agir segundo lhe apraz. Não
obstante, descobrimos um fato maravilhoso na Bíblia: apesar
da excelente grandeza e capacidade de operar segundo sua
vontade, Deus sempre age segundo a lei ou o princípio que
determinou. Parece que ele deliberadamente se coloca sob a
lei para ser controlado por ela.
Ora, então qual é o princípio da obra de Deus? A obra
de Deus tem em sua base um principio primário: ele deseja
que o homem ore, deseja que o homem coopere com ele por
meio a oração.
Existiu um cristão que sabia muito bem como orar.
Declarou que todas as obras espirituais incluem quatro
passos: O primeiro é que Deus concebe um pensamento, sua
vontade; o segundo é que Deus revela sua vontade a seus
filhos mediante o Espírito Santo, fazendo com que eles
saibam que ele tem uma vontade, um plano, uma exigência e
uma expectativa; o terceiro passo é que os filhos de Deus
respondam à vontade dele em oração, pois orar é responder à
vontade de Deus – se nosso coração for um com o coração
dele, naturalmente proferiremos a oração que ele deseja; e o
quarto passo é que Deus realize o que pretende.
Aqui nos preocupamos não com o primeiro ou com o
segundo passos, mas com o terceiro – como devemos
responder à vontade de Deus em oração. Por favor, observe a
palavra “responder”. Todas as orações de valor possuem este
elemento de resposta ou retribuição. Se nossa oração tiver
somente o propósito de realizar nosso plano e expectativas
não terá muito valor no reino espiritual. A oração deve
originar-se em Deus e devemos responder a ela. Somente tal
20
oração tem significado, pois a obra de Deus é controlada por
ela. Há muitas coisas que o Senhor deseja fazer, mas não
as faz porque seu povo não ora. Ele espera até que os homens
concordem com ele, e então opera. Este é um grande
princípio da obra de Deus, um dos princípios mais
importantes encontrados na Bíblia.

Segundo
A passagem de Ezequiel 36:37 é surpreendente. O
Senhor diz que tem um propósito: aumentar a casa de Israel
como rebanho. Esta é a vontade de Deus. O que ele ordena,
faz. Entretanto, não realiza instantaneamente, mas espera
um pouco. Qual o motivo da espera? Diz o Senhor: “Ainda
nisto permitirei que seja eu solicitado pela casa de Israel.”
Deus já decidiu multiplicar a casa de Israel, mas deve
esperar até que os filhos de Israel perquiram-no sobre o
assunto. Vejamos que ainda que ele tenha resolvido realizar
certas coisas, não o fará imediatamente. Espera até que os
homens mostrem acordo antes de prosseguir. Toda vez que
opera, nunca o faz imediatamente; não, ele espera, se
necessário, que seu povo expresse o acordo em oração antes
de agir. Realmente é um fenômeno muito espantoso.
Tenhamos sempre em mente esta verdade: todas as
obras espirituais são decididas por Deus e desejadas por seus
filhos – todas iniciam-se em Deus e são aprovadas por seus
filhos. Este é o grande princípio da obra espiritual. “Ainda
nisto permitirei que seja eu solicitado pela casa de Israel”,
diz o Senhor. A obra de Deus espera a petição dos filhos de
Israel. E um dia os israelitas, com efeito, pediram e Deus,
sem tardar, o executou.
Vemos este princípio da obra de Deus? Depois de
iniciar algo, faz pausa em sua execução para que oremos.
Desde a fundação da igreja, não há nada que Deus faça sobre
a terra sem a oração de seus filhos. Desde o instante que tem
seus filhos, faz tudo segundo a oração deles. Coloca tudo em
sua oração. Não sabemos por que ele age assim; mas
21
sabemos que isto é um fato. Deus está disposto a chegar à
posição de se deleitar em cumprir sua vontade por meio de
seus filhos.
Isaías 62 ilustra este fato: “Sobre os teus muros, ó
Jerusalém, pus guardas, que todo o dia e toda a noite jamais
se calarão; vós os que fareis lembrado o Senhor, não
descanseis, nem deis a ele descanso até que restabeleça
Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra” (v.6, 7).
Deus pretende restabelecer Jerusalém e pô-la por objeto de
louvor na terra. Como o faz? Põe guardas sobre os muros
para que clamem a ele. Como devem eles clamar? “Não
descanseis nem deis a ele descanso” – devemos clamar a ele
incessantemente e não dar-lhe descanso. Devemos continuar
orando até que realize sua obra. Embora o Senhor já tenha
desejado colocar Jerusalém por objeto de louvor na terra,
entretanto põe guardas sobre os muros. Por sua oração ele
opera. Insta-os a orar não somente uma vez, mas a orar sem
cessar. Continuar a orar até que sua vontade seja feita. Em
outras palavras, a vontade de Deus é governada pelas
orações do homem. O Senhor espera que oremos. Compre-
endamos claramente que quanto ao conteúdo da vontade de
Deus o próprio Deus é quem decide; nesta decisão não
tomamos parte. Entretanto, o fazer sua vontade é governado
por nossa oração.
Certa vez um irmão observou que a vontade de Deus é
como um trem de ferro, enquanto nossa oração e como os
trilhos. O trem pode ir a qualquer lugar, se tiver trilhos
sobre os quais correr. Tem poder tremendo para ir ao leste,
oeste, sul e norte; mas somente pode ir a lugares onde
existam trilhos. Portanto, não é porque Deus não tenha
poder (ele, como o trem, tem poder, grande poder); mas
escolheu ser governado pela oração do homem. Portanto,
todas as orações de valor (como os trilhos do trem) preparam
o caminho de Deus. Conseqüentemente, se não tomarmos a
responsabilidade da oração, impediremos o cumprimento da
vontade de Deus.

22
Terceiro
Ao criar o homem Deus deu-lhe livre-arbítrio. Portan-
to, no universo existem três vontades diferentes, a saber: a
vontade de Deus, a vontade de Satanás, o inimigo, e a
vontade do homem. As pessoas podem indagar por que, o
Senhor não destrói Satanás em um instante. O Senhor podia,
mas não o fez. E por quê? Porque deseja que o homem
coopere com ele ao lidar com Satanás. Ora, Deus tem sua
vontade, Satanás a dele e o homem a sua. Deus procura que
a vontade do homem se una à sua. Não destruirá a Satanás
sozinho. Não sabemos por que Deus escolheu proceder desta
maneira, mas sabemos que ele se deleita em atuar assim: a
saber, que não agirá independentemente; procura a
cooperação do homem. Esta é responsabilidade da igreja
sobre a terra.
Quando o Senhor deseja fazer uma coisa, primeiro ele
coloca seu próprio pensamento em nos mediante o Espírito
Santo. Somente depois de tornarmos esse pensamento em
oração ele o executa. Tal é o procedimento da operação
divina; Deus não operara nada de outra forma. Ele precisa
da cooperação dos homens. Ele precisa de uma vontade que
seja una com a sua; que lhe seja favorável. Se Deus fizer tudo
sem envolver a nós, os homens, então não há absolutamente
nenhuma necessidade de estarmos aqui na terra, nem
precisamos conhecer a vontade dele. Mas toda a vontade de
Deus deve ser feita por nós, pois ele pede que nossa vontade
seja una com a sua.
Portanto, o primeiro passo para fazermos a vontade de
Deus e que expressemos sua vontade em oração. A vontade
de Deus é expressa mediante nossa oração. Bom seria que
percebamos que a oração é deveras um trabalho.
Não há obra mais importante do que a oração porque
esta realiza e também expressa a vontade de Deus. Donde se
depreende que toda oração que procede da vontade do ego e
inútil. As orações de acordo com a vontade de Deus originam-
se em Deus, são-nos reveladas pelo Espírito Santo, e voltam
23
para Deus quando oramos. Toda oração de acordo com a
vontade de Deus deve originar-se na vontade dele: os homens
meramente reagem a essa vontade e a transmitem. Tudo que
começa conosco são orações sem valor espiritual.
Ao lermos a história da igreja cristã, notamos que todo
grande reavivamento é resultado de oração. Isto nos mostra
como a oração capacita o Senhor a fazer o que deseja. Não
podemos pedir-lhe que faça o que não deseja, embora
certamente possamos atrasar o que ele deseja fazer. Deus é
absoluto; portanto, não podemos mudá-lo, nem podemos
forçá-lo a fazer o que não deseja. Ainda assim, quando somos
chamados para ser canais de sua vontade podemos sem
dúvida bloquear a obra de Deus se não cooperarmos com ele.
Por isso, nossa oração nunca deve ser no sentido de
pedir que o Senhor faça o que não deseja ou tentar mudar
sua vontade. É simplesmente orar segundo sua vontade,
desta forma capacitando-o a fazer o que deseja. No caso de
implorarmos com a expectação de forçá-lo a fazer o que não
tem intenção de fazer, estamos desperdiçando nosso esforço,
pois nossa oração não tem valor algum. Se Deus não deseja
agir, quem pode fazê-lo agir? Só podemos fazer uma coisa,
isto é, podemos orar segundo o desejo de Deus. Então ele
realizará sua obra porque somos um com ele.
Tome, como exemplo, a vinda do Espírito Santo no dia
de Pentecostes. Centenas de anos antes do dia de Pente-
costes, no tempo de Joel, Deus já havia mencionado esta
vinda. Mas o Espírito Santo somente desceu depois de
muitos discípulos terem-se reunido e orado. Embora o
advento do Espírito tivesse muito tempo atrás sido determi-
nado por Deus, não aconteceu até que seu povo orou. O
Senhor é capaz de fazer muitas coisas; ainda assim ele gosta
de fazê-las depois que os homens tenham orado. Ele espera
nosso consentimento. Ele já está pronto e disposto, mas quer
que também estejamos. Muitas são as coisas que ele decidiu
fazer, e ainda assim espera, porque ainda não lhe expres-
samos nosso acordo. Que possamos ver que embora não
tenhamos o poder de forçar Deus a fazer o que ele não deseja,

24
entretanto podemos pedir-lhe que faça o que deseja.
Freqüentemente perdemos bênçãos espirituais porque falha-
mos em expressar a vontade de Deus em oração.
Quão excelente será se alguém se devotar exclusiva-
mente ao trabalho da oração. Deus espera que pessoas tais
operem com ele a fim de capacitá-lo a terminar sua obra.
Alguns crentes podem perguntar por que o Senhor não salva
mais pecadores, porque leão faz com que cada crente triunfe.
Sinceramente creio que ele faria tais coisas se seu povo tão-
somente orasse. Ele está disposto a operar, mas primeiro
deseja obter um povo que trabalhe com ele. Sempre que o
povo começa a trabalhar com ele, ele imediatamente age. Em
todas as obras espirituais, o Senhor está sempre esperando
uma expressão do desejo de seus filhos. Se determinada coisa
será feita ou não, dependerá da oração de seus filhos. Nós,
portanto, devemos declarar nossa cooperação com ele. Deus
espera para abençoar-nos. A pergunta é: Oraremos?
Os que não conhecem, a Deus podem retorquir desta
forma: Se Deus deseja fazer algo, por que ele simplesmente
não faz, por que deseja ele que os homens orem? Não sabe ele
tudo? Tanta oração não incomodará a Deus? Tenhamos em
mente, entretanto, que nós, seres humanos, temos o livre-
arbítrio. Da mesma forma que o Senhor não pode negar sua
própria vontade, ele também não pode forçar-nos. Ele espera
que apresentemos sua vontade em oração. Ainda assim não
quer ele que sua vontade seja feita na terra como é no céu?
Então, por que não vai em frente e a realiza? Por que o
Senhor pede que seus discípulos orem: “Pai nosso que estás
nos céus,... faça-se a tua vontade, assim na terra como no
céu”? Se ele deseja que seu reino venha, por que não vem
automaticamente? Por que devem os discípulos orar: “Venha
o teu reino”? Por que, se indubitavelmente Deus deseja que
seu nome seja santificado por todos, ele não o faz sozinho em
vez de exigir que seus discípulos orem: “Santificado seja o teu
nome”? A razão de tudo isto não é outra senão o fato de que
Deus não deseja fazer nada independentemente; porque
escolheu ter a cooperação dos homens. Ele tem o poder, mas

25
precisa que nossas orações coloquem os trilhos para que o
trem de sua vontade possa correr. Quanto mais trilhos
colocarmos, tanto mais abundantes serão as obras de Deus.
Nossas orações, portanto, devem servir o propósito de lançar
uma enorme rede espiritual de linhas. Quanto mais, melhor.

Quarto
Como devemos colocar trilhos para a vontade de Deus?
Resposta: “Com toda oração e súplica, orando em todo tempo
no Espírito” (Ef 6:18). Nossa oração deve-se espalhar em
muitas direções. Devemos orar constantemente. Faça orações
específicas e também gerais. Muitas de nossas orações são
por demais difusas; há buracos em demasia pelos quais
Satanás tem a oportunidade de penetrar. Se nossas orações
fossem bem feitas e bem guardadas, ele não poderia causar
prejuízo.
Quando, por exemplo, um irmão sai para pregar,
devemos colocar trilhos para ele a fim de que a vontade de
Deus se realize por intermédio dele. Se proferirmos somente
algumas palavras de oração não específica, pedindo ao
Senhor que abençoe esse irmão, que o proteja e supra suas
necessidades, tal rede de oração é por demais difusa. Se
desejamos orar por uma pessoa em particular, devemos
estender para ela uma rede compacta de modo que Satanás
não possa encontrar brecha alguma pela qual possa
penetrar. Como, então, devemos orar? Enquanto o irmão
estiver se preparando para partir, devemos orar por sua
saúde, bagagem, pelo trem em que vai viajar, até mesmo pelo
horário do trem, pelo descanso e alimento em viagem, e pelas
pessoas com quais encontrará no seu caminho.
Devemos também orar por tudo o que ele fizer depois
de desembarcar: orar pelo lugar onde vai ficar, por seus
vizinhos, até mesmo pelas coisas que ele vai ler; também
oremos por seu trabalho; pelo tempo que levará e também
pelas outras coisas relacionadas com o trabalho. Se orarmos
por ele desta forma, será muito difícil Satanás encontrar
26
uma brecha pela qual atacá-lo. A obra da oração é, portanto,
um trabalho real. Os preguiçosos, tolos e descuidados não
podem fazer tal obra. Entretanto, muitas vezes quando
oramos com fervor por uma determinada coisa, isso é feito.
Há outra lição que devemos aprender aqui. Satanás é
tão ardiloso que realmente e difícil passarmos à frente dele.
Somos incapazes de orar por todos os detalhes, e portanto,
somente podemos orar desta forma: “ó Senhor, possa teu
precioso sangue responder a tudo que vier de Satanás.”
Compreendamos que o precioso sangue de Cristo é a resposta
para todas as obras do inimigo. Tal oração é a melhor que
pode ser oferecida contra ele, de modo que jamais ele possa
passar através desta rede para assaltar o povo de Deus.
Toda vez que orarmos, precisamos perceber três
aspectos: primeiro, precisamos, ver a quem oramos; segundo,
devemos saber por quem oramos; e terceiro devemos
compreender contra quem oramos. Muitas vezes lembramos
somente dois aspectos da oração – os que se referem a Deus
(a quem oramos) e aos homens (por quem oramos). E assim
deixamos de perceber o aspecto do inimigo. Na oração
devemos não somente saber a quem oramos, mas também
contra quem oramos. Devemos saber por quem oramos, mas
também saber que há um inimigo a espreita, pronto a atacar-
nos. Nossa oração é dirigida a Deus, pelos homens, contra
Satanás. Se cuidarmos destes três aspectos, Deus certamente
operará por nós.
Todo aquele que verdadeiramente trabalha para o
Senhor deve espalhar uma rede de oração para que ele possa
trabalhar mediante essa pessoa. Não é que Deus não esteja
disposto a trabalhar: ele simplesmente espera que seu povo
ore. Ele espera ansiosamente que os homens tenham uma
vida de oração; sua vontade espera pelas orações dos
homens. Muitas vezes, sem ter determinado um período de
oração, a pessoa sente a necessidade de orar, como se fora
um fardo. Isto indica que há um item na vontade de Deus
que requer sua oração. Ore quando sentir o fardo da oração –
isto é orar de acordo com a vontade de Deus. É o Espírito.

27
Santo que constrange a fazer a oração segundo a vontade de
Deus. Quando o Espírito Santo levá-lo a orar, ore. Se não
orar, sufocar-se-á por dentro como se alguma coisa tivesse
ficado por fazer. No caso de você ainda não orar, sentir-se-á
até muito, mas afadigado. Finalmente, se você não orar d
modo nenhum, o espírito da oração e o fardo dela ficarão tão
embotados que lhes r difícil conseguir de novo tal sentimento
fazer a oração segundo a vontade de Deus.
Toda vez que Deus coloca um pensamento de oração
em nós, seu Espírito Santo primeiro nos leva a sentir a
necessidade urgente de orar por esse assunto particular.
Assim que recebamos tal sentimento devemos entrega-nos
imediatamente à oração. Devemos pagar o preço de orar bem
por esse assunto. Quando o Espírito Santo nos move, nosso
próprio espírito instantaneamente percebe a necessidade
como se um grande fardo tivesse sido removido de nossos
ombros. Mas, se não levarmos tal fato em oração, ficaremos
com o sentimento de algo por fazer. Se não expressarmos tal
coisa em oração, não estaremos em harmonia com o coração
de Deus. Devemos ser fiéis na oração; isto é, se orássemos
assim que a necessidade chegasse, a oração não se tornaria
um peso, em vez disso seria leve e agradável.
É uma pena que tanta gente apague o Espírito Santo
aí. Eles extinguem a sensação que o Espírito Santo dá para
movê-los a orar. Depois disso, poucas sensações desse tipo
lhes virão. Portanto, já não são vasos úteis perante o Senhor.
O Senhor nada pode conseguir mediante eles porque já não
podem respirar em oração a vontade de Deus. Oh, se cairmos
ao ponto de não termos o tardo da oração, ter-nos-emos
deveras afundado numa situação demasiadamente perigosa;
por já termos perdido a comunhão com Deus ele não mais é
capaz de nos usar em seu serviço. Por esse motivo, devemos
ter cuidado extra ao lidar com o sentimento, que o Espírito
Santo nos dá. Sempre que tiver uma necessidade de oração
devemos imediatamente inquirir do Senhor: “Ó, Deus, pelo
que desejas que eu ore? O que desejas realizar que necessita
de minha oração?” E se orarmos a respeito disso, Deus nos

28
confiará a próxima oração. Se não nos desincumbirmos do
primeiro fardo, seremos incapazes de lidar com o segundo.
Peçamos que o Senhor nos torne parceiros fiéis da
oração. Assim que o fardo chega, descartamo-lo orando a
respeito dele. Se o fardo ficar pesado demais a ponto de não
poder ser descartado pela oração, então devemos jejuar.
Quando a oração não pode desfazer o fardo, deve-se seguir o
jejum. Mediante o jejum, o fardo da oração pode ser
rapidamente vencido, pois o jejum é capaz de ajudar-nos a
desfazer os fardos mais pesados.
Se a pessoa continuar a realizar o trabalho da oração,
tornar-se-á um canal para a vontade de Deus. Sempre que o
Senhor tiver algo para fazer, procurará essa pessoa. Deixe-
me dizer isto: a vontade de Deus sempre procura uma
maneira de se expressar. O Senhor sempre está apreendendo
alguém ou algumas pessoas para que sejam a expressão de
sua vontade. Se muitos se levantarem para fazer esta obra, o
Senhor fará muitas coisas por intermédio de suas orações.

29
CAPÍTULO 4

O PRINCÍPIO DE ORAR
TRÊS VEZES
Deixando-os novamente, foi orar pela terceira vez,
repetindo as mesmas palavras (Mt 26:44).
Por causa disto três vezes pedi ao Senhor cue o
afastasse de mim (2Co 12:8).

Há um segredo particular acerca da oração que


devemos conhecer, isto é, orar três vezes ao Senhor. Esta
“oração tríplice” não fica limitada a somente três vezes; pode
ser feita muitas vezes. O Senhor Jesus implorou a Deus três
vezes no jardim do Getsêmani até que sua oração foi ouvida
— nesse ponto ele parou. Paulo também orou a Deus três
vezes, e parou de orar quando recebeu a palavra de Deus.
Daí que todas as orações devem obedecer ao princípio triplo.
Esta “oração tríplice” não significa que precisados orar
somente uma, duas e três vezes e então parar. Simplesmente
significa que antes de pararmos devemos orar completa-
mente por esse assunto até que Deus nos ouça.
Este princípio das três vezes é muitíssimo significante.
Devemos prestar atenção a tal princípio não somente em
nossa oração pessoal, mas também em nossas reuniões de
oração. Se esperamos que nossa oração numa reunião
cumpra o ministério da igreja em realizar o que quer que
Deus deseja que façamos, devemos lembrar-nos desse princí-
pio importante.

30
O princípio de orar três vezes é. orar completamente,
orar até que saibamos com clareza a vontade de Deus, até
obtermos sua resposta. Numa reunião de oração, nunca
pense que por alguém já ter orado por um assunto este não
mais necessita de minha oração. Por exemplo, certa irmã
está doente e oramos por ela. Não é porque um irmão já orou
por essa irmã que eu já não precise acrescentar a minha
oração à dele. Não, esse irmão orou uma vez, eu devo orar a
segunda vez e outra pessoa a terceira. Isso não implica que
cada oração deva ser feita por três pessoas. A oração deve ser
oferecida com fardo. As vezes precisamos de orar cinco ou dez
vezes. O importante é que há necessidade de oração até que o
fardo seja desfeito. Este é o princípio de orar três vezes. Este
é o segredo do êxito de uma reunião de oração verdadeira e
proveitosa.
Não permitamos que nossa oração salte ao derredor
como um gafanhoto: pulando a outro assunto antes que o
primeiro seja totalmente esgotado, e antes que o segundo
assunto tenha recebido a atenção total, pois então nos
encontramos de volta ao primeiro assunto. Tal oração
saltitante não desfaz fardos, e, portanto, é difícil conseguir as
respostas de Deus. Tal oração é de pouca utilidade e não
preenche o ministério da oração.
A fim de preencher o ministério da oração devemos ter
um fardo de oração perante Deus, Não pretendemos ditar
leis; somente desejamos apresentar aqui este princípio.
Reconheçamos isto: o fardo é o segredo da oração. Se a pessoa
não sente dentro de si o fardo para orar por um assunto em
particular, dificilmente terá êxito em oração. Numa reunião
de oração alguns irmãos podem mencionar muitos pedidos de
oração. Mas se você não for tocado interiormente, não pode
orar. Portanto, cada irmão e irmã que yem a uma reunião de
oração deve ter um fardo de oração a fim de orar.
Ao mesmo tempo não se absorva totalmente na
consideração de que fardo você possui; deve também perceber
o fardo dos outros irmãos e irmãs que estão na reunião. Por
exemplo, uma irmã pode estar tendo problemas com o

31
marido; outro irmão pode estar doente. Se na reunião de
oração uma pessoa pede que Deus salve o marido dessa irmã,
e é seguida por outra pessoa que pede que Deus cure a
doença desse irmão, e por sua vez é seguida por outro
indivíduo que lembra perante Deus algo mais, então cada
pessoa está orando somente por seu assunto em particular.
Tal oração não está de acordo com o princípio do orar três
vezes. Pois no exemplo que acabamos de dar, o que está
acontecendo é que antes que um assunto tenha sido total-
mente esgotado, o segundo tópico já está sendo motivo
de oração. Conseqüentemente, numa reunião de oração
os irmãos que se reuniram devem notar se um fardo de
oração pelo primeiro assunto já foi desfeito. Se todos orarem
por essa irmã e o fardo da oração for desfeito, os crentes
podem então orar pelo irmão doente. Antes que o fardo da
oração do primeiro tópico seja desfeito, os que estão orando
juntos não devem mudar para o segundo ou o terceiro
pedidos de oração. Suponha que o grupo inteiro ainda esteja
envolvido em um assunto particular. Então ninguém
presente deve tentar acrescentar oração que seja somente
segundo seu próprio sentimento pessoal.
Os irmãos devem aprender a fazer contato com o
espírito da reunião toda. Devem entrar no sentimento da
assembléia. Percebamos que por alguns assuntos precisamos
orar somente uma vez e o fardo é desfeito. Mas outros
assuntos talvez necessitem de mais oração, ao passo que às
vezes devemos orar três ou cinco vezes por outros assuntos
antes que os diversos fardos sejam desfeitos. Sem levar em
consideração o número de vezes, o fardo deve ser desfeito
antes que a oração a respeito de certo item seja concluída. O
princípio de orar três vezes não é nada mais que orar até que
o fardo seja levantado.
Em tudo isto, é claro, os crentes devem também
compreender a diferença entre a oração pessoal e a oração
coletiva. Quando a pessoa está orando sozinha, pensa
somente em seus fardos; mas na oração coletiva todos
deviam notar o fardo da reunião em vez de prestar atenção

32
aos seus próprios. Portanto, numa reunião de oração os
irmãos devem aprender a perceber o sentimento da reunião,
Para algumas coisas, orar uma vez é suficiente. Não há
necessidade de orar outra vez, pois a assembléia não mais
tem o fardo. Mas por outras coisas, orar uma única vez não é
o suficiente. Talvez precisemos orar outra vez, a terceira ou a
quinta vez por esses assuntos. Antes que um fardo seja
desfeito, ninguém deve começar a orar acerca de outro.
Todos devem esperar que o primeiro fardo seja levantado;
erigia alguém pode mudar para outro assunto à medida que
o Senhor apresentar o fardo para oração.
De modo que na reunião de oração, aprendamos a orar
por certo assunto permitindo que uma, duas, três ou cinco
pessoas orem conforme necessário. Não no sentido de cada
um fazer sua própria oração, mas orar de comum acordo
enquanto nos reunimos. A oração de comum acordo é algo
que devemos aprender. Certa pessoa pode ser capaz de orar
por si mesma, cinco pessoas podem ser capazes de orar
respectivamente, mas todos nós, quando nos reunimos deve-
mos aprender um novo tipo de oração, que é a oração de
comum acordo. Percebamos que a oração pública ou coletiva
não vem automaticamente; deve ser aprendida.
“Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a
respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhes-
á concedida por meu Pai que está nos céus” (Mt 18:19). Isto
não é algo insignificante. Devemos aprender a perceber o
sentimento dos outros, aprender a tocar o que é chamado de
oração da igreja, e aprender a discernir quando o fardo é
levantado. Então saberemos como realizar o ministério da
oração na reunião.

33
CAPÍTULO 5

A ORAÇÃO QUE DESAFIA SATANÁS


Leitura Bíblica: Lc 18:1-18

Os três aspectos da oração


Nossa oração possui estes três aspectos: (1) nós
mesmos, (2) o Deus a quem oramos, e (3) nosso inimigo,
Satanás. Toda oração verdadeira possui os três aspectos.
Quando oramos, naturalmente o fazemos por nosso próprio
bem-estar. Temos necessidades, desejos e expectativas e
então oramos por eles. Oramos a fim de suprir nossos
pedidos. Mesmo assim, na oração verdadeira não devíamos
simplesmente pedir as coisas relacionadas com o nosso
próprio bem-estar; devemos também orar para a glória de
Deus e para que o céu governe a terra. Embora as respostas
às nossas orações nos tragam benefícios, a realidade do reino
espiritual mostra da mesma forma que o Senhor obtém glória
e que sua vontade é feita. Resposta à oração dá ao Senhor
muita glória, pois revela a grandeza excelente de seu amor e
poder ao atender ao pedido de seus filhos. Também indica
que sua vontade seja feita.
Não precisamos examinar isto com detalhes, pois
todos os fiéis filhos do Senhor que têm alguma experiência
na oração conhecem a relação entre estes seus dois aspectos.
Mas o que gostaríamos de lembrar aos crentes de hoje é o
fato de que se na oração atentarmos para estes dois aspectos
somente, Deus e o homem, nossa oração é ainda imperfeita.
Embora possa ser bastante eficaz, entretanto, existe derrota
porque ainda não dominamos o verdadeiro significado da
oração. Sem dúvida, todos os crentes espirituais estão
cônscios da relação absoluta entre a oração, a glória e a
34
vontade de Deus. A oração não visa apenas ao nosso próprio
bem. Ainda assim, tal conhecimento é incompleto, devemos
também notar o terceiro aspecto: que enquanto oramos ao
Senhor, o que pedimos e o que Deus promete inexorável-
mente ferirão o inimigo.
Sabemos que o regente do universo é Deus. Não
obstante, Satanás é chamado de “o príncipe deste mundo” (Jo
14:30) pois que “o mundo todo jaz no maligno” (1Jo 5:19).
Assim, vemos que há duas forças diametralmente opostas
neste mundo, cada uma procurando vencer a outra. É
verdade que Deus tem a vitória final; entretanto, nesta era
antes do reino milenar, Satanás continua a usurpar poder
neste mundo para opor-se à obra, à vontade e aos interesses
de Deus. Nós que somos filhos de Deus pertencemos a ele. Se
ganharmos qualquer coisa sob sua mão, naturalmente
significará que seu inimigo sofrerá a perda. A soma de ganho
que temos é a quantia da vontade de Deus realizada. E a
quantia vontade de Deus realizada é, por sua vez a soma a
perda sofrida por Satanás.
Uma vez que pertencemos a Deus, Satanás procura
frustrar-nos, afligir-nos ou suprimir-nos e não deixar que nos
firmemos. Este é seu objetivo, embora tal meta possa não ser
alcançada porque podemos chegar ao trono da graça pelo
precioso sangue de nosso Senhor Jesus, pedindo a proteção e
o cuidado de Deus. À medida que Deus ouve nossa oração, o
plano de Satanás é definitivamente derrotado. Ao responder
nossa oração Deus subverte a vontade maligna de Satanás, e,
conseqüentemente, este não pode maltratar-nos segundo este
esquema. Tudo o que ganhamos em oração é perda do
inimigo. De modo que nosso ganho é a glória do Senhor estão
em proporção inversa: à perda de Satanás. Um ganha, o
outro perde; um perde, o outro ganha. À vista disto, em nossa
oração não devíamos considerar somente nosso bem-estar e a
glória e a vontade de Deus, mas também observar o terceiro
aspecto – o que pertence ao inimigo, Satanás. A oração que
não leva em consideração os três aspectos, é superficial, de
pequeno valor, e pouco realiza.

35
Não temos necessidade de falar acerca das orações
superficiais; não fazem sentido e não procedem do coração –
pois não têm efeito algum sobre qualquer dos três aspectos
da oração. No caso de um cristão carnal, até mesmo sua
oração sensível enfatiza somente o aspecto de seu próprio
bem-estar. Seu motivo na oração é beneficiar-se a si mesmo.
O que tem em mente é apenas suas próprias necessidades e
desejos. Se tão-somente puder fazer com que o Senhor
responda à sua oração e lhe conceda o que o seu coração
deseja, então está satisfeito. Não reconhece que existe tal
coisa como a vontade de Deus, nem está cônscio do que seja a
glória de Deus. E é claro que não tem a menor idéia a
respeito do aspecto da presença de Satanás.
Mas nem todos os crentes são carnais. Agradecemos ao
Senhor e louvamo-lo porque muitos dentre seus filhos são
espirituais. Quando oram, seu propósito não é egoísta de tal
forma que fiquem satisfeitos se o Senhor tão-somente
responder à sua oração suprindo-lhes as necessidades
pessoais. Também dão grande atenção à glória e à vontade
de Deus. Esperam que ele lhes responda à oração não porque
desejam conseguir algo para si mesmos, mas porque Deus
será glorificado na resposta à sua oração. Ao orar, não
insistem em receber aquilo pelo que oram, porque têm
cuidado somente da vontade de Deus. Quanto a essa
vontade, não há questão em saber se o Senhor se agrada em
conceder sua petição, mas se a resposta à oração não entrará
em conflito com a vontade da obra, do governo e do plano de
Deus. Dá-se atenção não somente à oração em si mesma, mas
também ao relacionamento de tal oração com a perspectiva
ampla da obra do Senhor. Portanto, sua oração cobre os dois
aspectos: Deus e o homem.
Entretanto, muito poucos cristãos consideram o
terceiro aspecto – o de Satanás em sua oração. O objetivo da
oração verdadeira toca não somente o ganho pessoal (às
vezes nem se pensa neste aspecto), mas também a glória de
Deus e a perda do inimigo. Não consideram que seu próprio
bem-estar seja de importância maior. Em vez disso, conside-

36
ram sua oração altamente eficaz se fizer que Satanás perca e
que Deus seja glorificado. O que procuram em oração é a
perda do inimigo. Sua visão não está restrita ao seu
ambiente imediato, mas tem como perspectiva a obra de
Deus e sua vontade no mundo inteiro. Deixe-me acrescentar
que com isso não quero sugerir que somente levam em
consideração os aspectos de Deus e Satanás e esquecem
inteiramente do aspecto pessoal da oração. De fato, quando a
vontade de Deus é feita e Satanás sofre perda, estas pessoas
inexoravelmente terão benefício. O progresso espiritual do
santo pode, portanto, ser julgado pela ênfase dada em sua
oração.

A parábola de Lucas 18
Na parábola registrada em Lucas 18:1-8, nosso Senhor
Jesus abrange os três aspectos da oração sobre os quais
estamos falando. Com relação a isto, note, por favor, que
encontramos menção de três pessoas na parábola, a saber,
(1) o juiz, (2) a viúva e (3) o adversário. O juiz (de um modo
negativo) representa a Deus, a viúva representa a igreja de
hoje ou os cristãos fiéis, enquanto o adversário representa
nosso inimigo, o diabo. Quando explicamos esta parábola,
muitas vezes damos atenção somente à relação entre o juiz e
a viúva. Notamos que o juiz, que não teme a Deus nem
respeita aos homens, finalmente decide o caso da viúva por
causa de sua petição incessante; e, concluímos, que uma vez
que nosso Deus não é como este juiz iníquo, por certo nos
atenderá rapidamente se orarmos. Ora, isto é quase tudo o
que explicamos com respeito a esta parábola.
Mas muitos de nós estamos inconscientes do fato de
estarmos negligenciando outra pessoa importante da
parábola. Vejamos que se não houvesse o adversário esta
viúva não teria necessidade de comparecer perante o juiz.
Porém ela é levada a procurar o juiz porque está sendo
oprimida pelo adversário. Especialmente quando considera-
mos suas palavras ao juiz não podemos deixar de reconhecer
37
o lugar que o adversário tem nesta história. Para ser breve,
as Escrituras meramente registram estas poucas palavras:
“Julga a minha causa contra o meu adversário, mas esta
curta sentença contém muito! Não representa ela uma
situação agonizante? Ao pedir justiça revela que houve erros
cometidos. De onde vêm tais erros e tais ofensas? Procedem
da opressão do adversário: e assim descobre-se a profunda
inimizade que existe entre ele e a viúva. Fala também do
severa sofrimento que esta viúva tem passado nas mãos do
adversário. O que reclama perante o juiz deve ser indubita-
velmente uma recapitulação de suas experiências passadas e
sua situação atual. E ela pede que o juiz julgue os atos
errados cometidos contra ela e que lhe faça justiça.
Em certo sentido, este adversário é a figura central da
parábola. Sem ele não haveria a perturbação da viúva e
então ela não compareceria perante o juiz – estaria mui
comodamente vivendo em paz. Sem dúvida, não havendo o
adversário não haveria nem história nem parábola, pois o
que ocasiona todos os problemas é esse adversário: ele é o
instigador de todas as confusões e aflições. E assim deve ser
o foco de nossa atenção enquanto examinamos os três
personagens desta parábola, um a um.

O Juiz
Este juiz é a única autoridade numa determinada
cidade. Governa-a inteiramente. Em certo sentido esta é uma
figura do poder e autoridade de Deus. Embora no presente
Satanás reine temporariamente sobre o mundo, ele é
somente um usurpador que ocupou o mundo pela força.
Quando o Senhor Jesus morreu na cruz, lançou fora o
príncipe deste mundo. Em sua morte ele “despojou os
principados e as potestades, publicamente os expôs ao
desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2:15). Embora o
mundo ainda esteja no maligno, e totalmente ilegal. E Deus
já determinou um dia quando o reino será retomado e seu
Filho será o Rei deste mundo por mil anos, e daí para frente,
38
então para a eternidade. Mas antes que este tempo chegue,
Deus somente permite que Satanás permaneça ativo,
enquanto Deus mesmo detém as rédeas do governo deste
mundo. Satanás pode governar sobre tudo o que pertence a si
mesmo, e pode até perseguir todos os que pertencem a Deus;
entretanto, tudo isto é só por pouco tempo. E mesmo neste
curto período, Satanás está inteiramente restrito por Deus.
Ele pode perturbara os santos, mas somente dentro de certos
limites. À parte do que Deus permite, o inimigo não tem
autoridade alguma. Podemos perceber isto claramente na
história de Jó. Assim como este juiz governa uma cidade
inteira, também Deus reina sobre o mundo todo. E assim
como é altamente impróprio que as pessoas que estejam sob
a jurisdição de um juiz perturbem os outros, desta forma
tornando-se adversários, também é extraordinário, até
mesmo monstruoso, que Satanás, que esta sob o governo de
Deus, persiga os santos.
O caráter deste juiz é revelado por suas próprias
palavras: “Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a
homem algum.” Deve ser uma pessoa verdadeiramente
imoral, pois não tem respeito por Deus nem pelos homens.
Mas por causa das vindas incessantes da viúva pedindo
justiça, ele fica tão perturbado e cansado de suas petições
que finalmente lhe concede vingança. O Senhor Jesus
emprega esse juiz em termos negativos para sublinhar a
bondade de Deus: pois Deus não é igual ao juiz iníquo da
parábola; pelo contrário, ele é o nosso Pai gracioso e nos
protege; como ele gosta de dar-nos as melhores coisas; e não
é como o juiz da parábola que não se relaciona com a viúva.
Ora, se um juiz como o da parábola está disposto a
julgar a causa da viúva para livrar-se de sua incessante
importunação, quanto mais Deus, que é todo virtude e
bondade, e que se relaciona tão intimamente conosco, julgará
a causa de seus filhos que orem a ele incessantemente! Se
um juiz imoral julga a causa de uma mulher por seu
contínuo clamor, não operará Deus por seu próprio povo? O
motivo de a viúva finalmente obter o consentimento do juiz

39
de julgar sua causa deve ser encontrado em sua petição
incessante. Ela não pode ter esperança no próprio juiz, pois
sabe que ele é imoral e sem virtude. Entretanto, devemos
reconhecer que a resposta à nossa oração a Deus não vem
somente por causa de nosso orar sem cessar – o que em si
mesmo deve ser suficiente para obter o que pedirmos – mas
também por causa da bondade de Deus. É por isso que o
Senhor Jesus termina a parábola dizendo: “Não fará Deus
justiça aos seus escolhidos?” Estas palavras: “não fará Deus”,
implicam uma comparação. Assim como a viúva depende
inteiramente de sua petição incessante como meio de
conseguir o que pede, não receberemos também o que
pedimos por causa de nossa oração constante a Deus e por
causa de sua bondade?

A Viúva
A viúva não tem a quem recorrer. A própria palavra
“viúva” trai o fato de seu isolamento. O marido de quem ela
sempre dependeu está morto. Agora está viúva. Ela
verdadeiramente serve como um tipo para nós, os cristãos,
no mundo. Nosso Senhor Jesus já subiu aos céus; de modo
que, falando simplesmente do ponto de vista físico, os
cristãos estão sem amparo como qualquer viúva. O ensina-
mento de Mateus 5 revela as condições dolorosas dos
cristãos. Devemos ser os mais mansos de todos, e não
devemos oferecer resistência de qualquer à tipo; e, portanto,
sofremos perseguição e até humilhação em todos os lugares.
O Senhor, Jésus seus apóstolos nunca instruíram os crentes
a procurar poder e posição neste mundo; em vez disso,
ensinam-nos a ser humildes, e mansos, aceitando o desprezo
e a perturbação deste mundo e recusando-nos a reivindicar
qualquer coisa segundo o direito ou, a lei. Tal é a posição dos
cristãos e o caminho que nosso Senhor mesmo delineou para
nós. Da mesma forma que o Filho Deus deve morrer na cruz
sem nenhuma resistência ou murmuração, podem seus
discípulos esperar tratamento melhor da parte do mundo? A
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vista de tudo isto, viúva é deveras uma boa ilustração de nós
os cristãos, nesta era.

O adversário
Assim como a viúva tem seu adversário também nós,
os cristãos, temos o nosso. E nosso adversário é Satanás. Pois
o significado da palavra “Satanás” é “adversário”, que
significa um inimigo: “O diabo, vosso adversário” (1Pe 5:8).
Devemos, portanto, reconhecer claramente quem é nosso
inimigo. Saberemos assim como nos achegar ao nosso juiz
que é nosso Deus e acusar nosso inimigo. Se desejarmos
examinar a raiz do motivo da inimizade que existe entre nós
e o diabo descobriremos que por trás dela jaz uma longa
história. Em termos simples, esta inimizade começou no
jardim do Éden. Depois da queda do homem, disse Deus:
“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e
tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3:15). Por haver o diabo fendo,
a nós, os seres humanos, Deus colocou inimizade em nossos
corações e também no coração de Satanás.
Sabemos que a semente da mulher mencionada aqui
em Gênesis refere-se ao Senhor Jesus Cristo: ele e o diabo
estão em inimizade eterna. Isto é algo que o próprio Deus
determinou. Nós que cremos no Senhor Jesus estamos, do
lado do Senhor; portanto, não podemos deixar de reconhecer
que o inimigo do Senhor é também nosso inimigo.
Da mesma forma, Satanás, o inimigo de nosso Senhor
não nos deixará de lado facilmente nem deixará de se opor a
nós. Considera o Senhor Jesus seu inimigo, de modo que não
tem outra alternativa senão considerar os discípulos do
Senhor como seus inimigos também. Mas os que não creram
no Senhor Jesus são filhos do diabo (ver João 8:44), e
naturalmente o diabo ama aos seus. Entretanto, cremos no
Senhor Jesus e estamos unidos com ele; incorremos, pois, no
ódio do diabo por causa do seu ódio a nosso Senhor.

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Tal inimizade se aprofunda dia a dia. Uma vez que o
inimigo é tão forte e nós somos tão pobres e desamparados
como a viúva da parábola, ele usa todos os seus poderes para
oprimir-nos – causando-nos grande perda. Temos sofrido
tanto em suas mãos que, por mais que façamos, não
enfatizamos o suficiente o quanto os cristãos hoje são
perturbados pelo diabo. E se estes erros não forem vingados,
sofreremos perda permanente. Pena é que muitos dos filhos
de Deus ainda estão inconscientes da opressão de Satanás.

Satanás e os Santos
Da mesma forma que o adversário maltratou a viúva,
assim também o diabo hoje maltrata a nós, os crentes. Quem
sabe o quanto já sofremos em suas mãos? É claro que, ao nos
perseguir, ele não se manifesta nem age diretamente. Todas
as suas obras são feitas mediante pessoas ou Coisas. Ele não
faz questão de aparecer; pelo contrário, instiga pessoas a
agirem por ele enquanto ele dirige em secreto. Da mesma
forma que o diabo se disfarçou em serpente para seu
primeiro trabalho, assim também se disfarça toda vez que
opera hoje. Por causa do disfarce, os filhos de Deus muitas
vezes não conseguem reconhecer seu verdadeiro inimigo.
Às vezes ele enfraquece os corpos dos crentes,
causando doença e dor (ver Atos 10:38), e os crentes podem
pensar que seu estado de saúde se deva a problemas de
higiene ou de fadiga, sem compreender que o diabo está
operando nos bastidores. Quanto os cristãos sofrem em suas
mãos nesse respeito somente!
Às vezes o inimigo incita pessoas a perseguir os
crentes (ver Apocalipse 2:10), sendo, portanto, atacados por
sua comunidade, amigos e membros da família. Pensam,
porém, que isto é devido ao ódio que as pessoas têm para com
o Senhor; o que não percebem é que o diabo realmente
instiga os ataques.
Às vezes o maligno opera no meio ambiente envol-
vendo os crentes em durezas e perigos. Freqüentemente ele
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cria mal-entendidos entre os cristãos de modo a separar os
amigos mais queridos e causar muita dor de coração e
lágrimas.
Às vezes o inimigo corta os suprimentos de bens
materiais dos crentes, reduzindo-os à penúria e até mesmo a
morrer de fome. Outras vezes ele lhes oprime o espírito e fá-
los sentirem-se deprimidos, inquietos e sem objetivos. Ou
pode afligir a vontade dos crentes, fazendo com que percam o
poder da livre escolha e desta forma não sabem o que fazer.
Ou injeta temor irracional nos corações dos crentes. Ou
Satanás amontoa as coisas sobre eles para fazê-los cansar
sobremaneira, ou lhes tira o sono para esgotá-los. Ou instila
pensamentos impuros ou confusos em suas mentes para lhes
enfraquecer a resistência ou apresenta-se como um anjo de
luz para enganar e desviar os crentes.
É impossível esgotar a lista das do diabo. Em breve, o
inimigo criará qualquer coisa que faça com que os crentes
sofram espiritual ou fisicamente, que os faça cair em pecados
ou sofrer perda e danos. Infelizmente, muitos dos filhos de
Deus não têm consciência das obras de Satanás quando
sofrem em suas mãos. Tudo o que lhes acontece, atribuem ao
natural, ao acidental, e ao humano – não discernindo que em
muitas ocorrências naturais reside o sobrenatural satânico,
como em muitos episódios acidentais reside o enredo
diabólico, e como em muitas lides humanas estão envolvidas
as manobras malignas do inimigo.

Identificar o Inimigo
A coisa mais importante que temos pela frente é
identificar o inimigo. Devemos ter a certeza de quem é nosso
adversário, quem é que nos causa tanto sofrimento. Quão
freqüentemente pensamos que nossos sofrimentos vêm dos
homens. A Bíblia nos diz que “a nossa luta não é contra o
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sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades,
contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as
forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6:12). Por
isso, toda vez que sofremos pelas mãos dos homens, preci-
samos lembrar que por trás da carne e sangue Satanás e
seus poderes das trevas podem muito bem estar lá dirigindo
tudo. Devemos ter a visão espiritual necessária para
discernir entre a obra de Deus e manobra de Satanás.
Devemos distinguir o que é natural do sobrenatural. Deve-
mos exercitar nossa vida interior de modo a conseguir o
conhecimento do reino espiritual para que nenhuma das
obras ocultas de Satanás possa escapar à nossa observação.
Tal sendo o caso, não devemos nós reconhecer que o
que geralmente consideramos acontecimentos incidentais; e
naturais possam envolver as obras do inimigo nos basti-
dores? É fácil ver que Satanás realmente está tentando
frustrar-nos a todo instante e oprimir-nos em todas as coisas.
Que pena havermos sofrido tanto da mão dele no passado
sem saber que era ele quem nos fazia sofrer. Agora, parte da
nossa obra mais urgente hoje é gerar um coração de ódio
para com Satanás por causa de sua crueldade. Não preci-
samos temer que nossa inimizade com Satanás se torne
demasiadamente profunda. Antes de haver a possibilidade
de nossa vitória devemos manter em nosso coração uma
atitude hostil para com ele, não mais dispostos a submeter-
nos à sua opressão. Devemos compreender que o que temos
sofrido nas mãos de Satanás é real e deve se vingado. Ele não
tem direito de nos perturbar, mas o faz. Isto é deveras
injustiça, perturbação que não pode ficar sem se vingada.
Clamor por vingança
Ora, depois de a viúva ter sofrido tanto, vem ao juiz
suplicando justiça. Isto é algo que devemos aprender a fazer.
Não vamos a juízes terrenos, implorando que ajam a nosso
favor. Não, pedimos a nosso juiz, que não é outro senão nosso
Deus Pai que está nos céus. As armas de nossa batalha não
são da carne (2Co 10:4), portanto não empregaremos
44
nenhum meio terreno o carnal contra os instrumentos , a
carne sangue utilizados por Satanás. Muito pelo contrário,
em vez de mostrar impaciência, raiva ou mesmo hostilidade
para com eles, devemos ter piedade deles, porque são
somente instrumentos de Satanás. Percebamos que na
guerra espiritual as armas da carne são totalmente inúteis.
Não são somente inúteis, mas todo aquele que as usar, sem
dúvida será vencido por Satanás.
Segundo está registrado em Efésios 6, as armas
espirituais são de muitos tipos. E a mais eficaz dentre essas
armas é a oração, mencionada no versículo 18. Em verdade,
estamos sem força e, portanto, incapazes de fazer justiça
contra nosso adversário. Mas podemos orar a nosso Deus
pedindo-lhe que nos vingue. A oração é a melhor arma
ofensiva contra nosso inimigo. Mediante ela podemos
preservar intacta nossa linha de defesa. Mediante a oração
também podemos atacar nosso inimigo e infligir grande
perda em seu plano, obra e poder. Esta viúva compreendeu
que se lutasse sozinha contra seu adversário não venceria,
porque ela, sendo viúva e fraca, não podia jamais levar
vantagem contra um vilão como ele. Da mesma maneira, se
os filhos de Deus lutarem independentemente sem confiar,
por meio da oração, no poder de Deus e no seu apoio para
acusar o inimigo e pedir a Deus vingança, eles também serão
feridos pelos dardos inflamados. Nesta parábola o Senhor
Jesus ensina-nos a melhor maneira de vencer o adversário,
que é orar dia e noite a Deus pedindo-lhe que julgue nossa
causa contra o inimigo.
Oração que resiste a Satanás
A Bíblia dá-nos muita ajuda nesta questão de orar
contra Satanás. Aqui examinaremos algumas destas passa-
gens para aprendermos como oferecer tal oração.
Lembramos como em Gênesis 3 Deus puniu e
amaldiçoou o diabo depois de sua primeira operação maligna.
Nessa maldição divina Deus predisse claramente que a
cabeça do diabo seria esmagada pelo Senhor Jesus na cruz. E
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assim sempre que sofrermos nas mãos do diabo poderemos
nos aproveitar do castigo que lhe foi infligido, orando: “Ó
Deus, amaldiçoa a Satanás de novo para que não possa fazer
o que deseja. Tu o derrotaste no jardim do Éden. Peço-te que,
amaldiçoes de novo, colocando-o novamente sob o poder da
cruz a fim de imobilizá-lo.” O que o diabo mais teme é a
maldição de Deus. No momento em que Deus amaldiçoa,
Satanás não nos ousa ferir.
Está registrado em Marcos, capítulo 1, que quando o
Senhor Jesus expulsava os demônios não lhes permitia falar.
Portanto, quando Satanás usa pessoas para proferirem
muitas palavras de incompreensão ou violência, podemos
pedir ao Senhor que feche a boca e que não lhe permita falar
por meio delas. Às vezes, quando pregamos o evangelho ou
ensinamos as pessoas, podemos pedir ao Senhor que proíba o
diabo de falar a nosso auditório, para que ele não induza as
pessoas a duvidarem da palavra de Deus, nem resistam a
ela. Lembramo-nos da história de Daniel na cova dos leões.
Eis uma oração bastante eficaz: “ó Senhor, fecha a boca do
leão; não permitas que ele fira teu povo.”
Mateus 12 dá-nos outro bom exemplo de oração do
Senhor: “Como pode alguém entrar na casa do valente e
roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? e então lhe
saqueará a casa” (v. 29). Sabemos que o valente a que se
refere o Senhor é Satanás. A fim de vencer a Satanás
primeiro precisamos amarrá-lo, assim imobilizando-o. Nós
mesmos, é claro, não temos a força para amarrar o valente e
fazer com que perca sua liberdade de resistir a nossas obras.
Mas podemos orar. Em nossa oração podemos pedir a Deus
que amarre Satanás e o torne impotente. Toda vez que
começarmos uma obra, se primeiro amarrarmos Satanás em
oração, nossa vitória é certa. Devemos sempre orar: “O
Senhor, amarra o valente.”
“Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir
as obras do diabo” (1Jo 18). Assim que percebermos que certa
obra é do diabo, podemos orar como segue. “Ó Deus teu Filho
se manifestou para destruir as obras do diabo. Agradeço-te

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ele ter destruído as obras do diabo na cruz. Mas o diabo está
operando novamente. Por favor, destrói sua obra em nós,
destrói a sua manipulação de nossa obra, destrói seus
artifícios em nosso ambiente e destrói todas as suas obras.”
Quando oramos, podemos orar segundo a situação na qual
nos encontramos. Se notarmos que Satanás está trabalhando
em nós, em nossa família, em nossa emprego, em nossos
estudos ou em nosso país, podemos pedir que Deus destrua
sua obra nessa área particular.
Judas registra o que o arcanjo Miguel disse a Satanás:
“O Senhor te repreenda” (v. 9). Depois de tal mensagem,
Satanás já não ousou resistir. Portanto, podemos usar esta
mesma palavra para nossa oração contra ele. Pedimos ao
Senhor que repreenda o inimigo. Devemos saber que o
Senhor dá ouvidos a esse tipo de oração. Se pedirmos que ele
repreenda, ele repreenderá. Devemos também crer que
depois que o Senhor tiver repreendido a Satanás, o inimigo já
não e capaz de resistir, pois teme a repreensão do Senhor.
Quando nosso Senhor repreendeu o vento e o mar, estes
elementos deram ouvidos à sua voz e imediatamente o vento
cessou e o mar se acalmou. Sua repreensao produz o mesmo
efeito sobre Satanás.
Ao ler os salmos, veremos quão eficaz é a repreensão
do Senhor! “Então se viu o leito das águas, e se descobriram
os fundamentos do mundo, pela tua repreensão, Senhor, pelo
iroso resfolgar das tuas narinas” (18:15). “Ante a tua
repreensão, ó Deus de Jacó, paralisaram carros e cavalos”
(76:6). “Está queimada de fogo, está decepada. Perecem pela
repreensão do teu rosto” (80:16). À tua repreensão fugiram, à
voz do teu trovão bateram em retirada” (104:7). “Repreendeu
o Mar Vermelho e ele secou” (106:9). Estes versículos bíblicos
mostram-nos o poder da repreensão do Senhor. Se o Senhor
repreender a Satanás, este jamais poderá resistir. Quando o
inimigo nos oprime, devemos pedir que Deus o repreenda.
Está escrito em Mateus 16 que por amor da afeição
humana Pedro desejou impedir que Jesus fosse à cruz. O
Senhor o repreendeu dizendo: “Arreda! Satanás” (v. 23).

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Sempre que o diabo fizer uso de nossos amigos e parentes
para impedir-nos — por amor da afeição humana — de fazer
a vontade de Deus, podemos pedir que Deus afaste Satanás
de nós.
Está registrado em Mateus 6 que o Senhor Jesus nos
ensina a orar desta maneira: “Livra-nos do mal” (v. 13).
Como não sabemos o maligno virá para importunar-nos,
devemos sempre fazer essa oração.
Nosso Senhor Jesus, “despojando os principados e as
potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando
deles na cruz” (Cl 2:15). Sempre que virmos o poder do diabo
operando, devemos permanecer à sombra da cruz, pedindo ao
Senhor que exponha o diabo ao desprezo uma vez mais. O
diabo já sofreu a vergonha na cruz; de modo que, baseado em
sua primeira humilhação, podemos pedir ao Senhor que o
exponha ao desprezo novamente. Humilhado, ele não ousa
levantar a cabeça. Então como poderá importunar-nos de
novo? Portanto, oremos: “Ó Senhor, agora estamos firmados
aos pés da cruz, pedindo-te que novamente desfaças a terrí-
vel arrogância do diabo.”

A duração da oração
Por quanto tempo devemos fazer tal oração? Sabemos
que há muitas orações que precisam ser feitas somente uma
vez. Mas nunca será demais fazer a oração que ataca a
Satanás. O propósito desta parábola de nosso Senhor é que
“oremos sempre” (Lc 18:1). Este juiz julga a causa da viúva
não pelo amor da justiça nem por outra razão qualquer, mas
porque não pode suportar a contínua importunação dela. Não
diz ele a si mesmo: “Julgarei a sua causa, para não suceder
que, por fim, venha a molestar-me”? Conseqüentemente,
este tipo de oração deve ser oferecido de modo ininterrupto.
A oração contra o adversário não é meramente para os
tempos de necessidades especiais; deve ser mantida como
uma atitude e sussurrada incessantemente no espírito em
dias comuns, quando tudo está calmo. O Senhor Jesus, ao
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explicar esta parábola, pergunta: “Não fará Deus justiça aos
seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite”? Este tipo de
oração deve, portanto, ser feito dia e noite sem cessar.
Devemos acusar nosso inimigo perante Deus incessantemen-
te, pois Apocalipse 12 nos diz que Satanás “os acusa [aos
irmãos] de dia, e de noite, diante do nosso Deus” (v. 10). Se
ele nos acusa de dia, e de noite, não devemos também nós
acusá-lo noite e dia?
Esta é a verdadeira vingança: como o diabo nos trata,
também devemos tratá-lo. O clamor da viúva continuou até
que o adversário foi julgado e punido e ela foi vingada da
importunação que sofria. Enquanto houver outro dia no qual
Satanás ainda usurpa o mundo, e enquanto ele não for
aprisionado no poço sem fundo ou jogado no lago do fogo, não
cessaremos de orar contra ele. Não devemos parar de orar
até que Deus nos tenha feito justiça e Satanás tenha
verdadeiramente caído do céu como um relâmpago. E grande
é o desejo de Deus que mostremos ódio mais profundo para
com o diabo. Já não sofremos demais nas mãos dele? Ele tem
mostrado sua inimizade para conosco a cada passo do
caminho; tem-nos feito sofrer terrivelmente tanto no corpo
como no espírito; então, por que aguentamos sua perseguição
sem reclamar ou orar? Por que não nos levantamos para
acusá-lo perante nosso Deus com palavras de oração?
Devemos procurar vingança. Por que não nos aproximamos
continuamente de Deus e acusamos o inimigo, desta forma
liberando a exasperação há tempo reprimida? O Senhor
Jesus nos chama hoje para nos opormos ao diabo com oração.

O efeito da oração
Qual é o efeito de tal oração? Seu efeito é visto em
duas ocasiões diferentes. Primeiro é o efeito imediato. Toda
vez que o inimigo é acusado, ele de novo é restringido por
Deus e não nos pode ferir. Embora depois de algum tempo
ele possa retornar, entretanto, nesse período em que está
sendo acusado, não ousa causar nenhuma violência; pois
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toda vez que reivindicarmos a vitória da cruz, essa vitória se
nos torna real uma vez mais. Toda vez que oramos contra o
inimigo/ sua obra de novo é destruída pelo Senhor e ele é de
novo repreendido pelo Senhor. Se orarmos uma vez mais,
Satanás sofrerá urna perda a mais. Quando Deus ouve nossa
oração uma vez mais, Satanás perde seu lucro uma vez mais.
Mas este efeito vai além do tempo presente. O Senhor
Jesus dá ênfase aqui a vingança última. Ao orarmos vezes
sem conta, o Senhor repreende e destrói o diabo vezes sem
conta. Mas esta oração ainda não é final, isto é, de uma vez
por todas; porque o diabo fica restringido somente tempora-
riamente; ele ainda deve sofrer a consequência de sua
derrota final. “Não fará E)eus justiça aos seus escolhidos,
que a ele clamam dia e noite”, pergunta o Senhor, “embora
pareça demorado em defendê-los?” Isto se refere à destruição
final de Satanás. Sabemos como o inimigo será aprisionado
no poço sem fundo durante o reino milenial. Depois ele será
jogado, pelo Senhor Jesus, no lago do fogo. Então será a
vingança última dos crentes. Por isso, os crentes hoje devem
orar muito contra o diabo, a fim de que suas perturbações
sejam para sempre vingadas. Agora é o tempo da miseri-
córdia de Deus. Embora ele realmente ouça as orações dos
crentes e restrinja as obras do diabo, contudo ainda não
lançou fora o diabo totalmente de forma que ele não nos
possa molestar.
Logo, hoje também é o tempo de os crentes orarem a
fim de apressar o amanhecer desse dia. A esse respeito,
nossa oração teria o efeito de acelerar a obra de Deus. Se a
viúva não tivesse orado pedindo sempre, quem poderia saber
quando o juiz teria julgado sua causa contra o adversário?
Seu pedido constante apressou o dia de sua vingança. Hoje
também devemos agir da mesma forma. “Digo-vos”, pros-
segue o Senhor, “que depressa lhes fará justiça.” Parece que
o Senhor aqui está querendo dizer que a rapidez da obra de
Deus é determinada pela frequência de nossa oração. Se sem-
pre acusarmos o diabo em oração, Deus nos vingará rapida-
mente. Quando o Senhor Jesus voltar outra vez, expulsará

50
Satanás dos céus de modo a tirar-lhe todo o poder. A oração
que acusa a Satanás apressará o dia da volta do Senhor.

Trabalhando com Deus


Sempre pensamos que Deus faz tudo segundo sua
vontade. Sem dúvida, isto é correto. Entretanto, é somente
um lado da verdade, não a verdade toda. Deus opera segundo
sua vontade — certamente este é seu princípio; mas quando
ele realmente começa a operar, sempre espera que seus
filhos expressem sua simpatia para com sua vontade medi-
ante a oração antes que ele faça qualquer coisa.
Corno Deus precisa de homens para trabalhar com ele!
Verdadeiramente ele tem sua própria vontade, mas deseja
que os homens peçam segundo sua vontade. Então ele rapi-
damente realizará a obra que sua vontade já determinou.
Sem a oração de seus filhos, que indica que estão traba-
lhando com ele, Deus não operará sozinho o que deseja fazer.
Destruir o diabo é a intenção de Deus. Fazer justiça aes
crentes é, indubitavelmente, sua vontade. Entretanto, espera
que seus filhos orem. Assim como o juiz da parábola não
teria julgado a causa da viúva se não tivesse ela vindo e
implorado, assim também Deus hoje não julgará a causa dos
crentes rapidamente se não orarem contra Satanás.
Não sabemos exatamente por que isto é assim, mas
sabemos o quanto Deus gosta que seu povo trabalhe junta-
mente com ele. É natural que a acusação deva ser baseada
em fato. Mas como os cristãos estão sendo frequentemente
perturbados por Satanás, podem acusá-lo perante Deus pelo
mau tratamento que tem recebido. Isto causar-lhe-á a morte.

Os últimos dias
Ao terminar o Senhor Jesus de propor esta parábola,
concluiu com uma palavra final: 'Contudo, quando vier o
Filho do homem, achará porventura fé na terra?” A julgar

51
por esta pergunta, parece que na época de sua volta haverá
grande falta deste tipo de oração entre seu povo. Não fazem
este tipo de oração por não terem fé. Especulam que é coisa
grande demais e demasiadamente difícil lançar Satanás fora
do céu, no poço sem fundo e depois no lago do fogo. Como a
promessa de que “o Deus da paz em breve esmagará debaixo
dos vossos pés a Satanás” (Rm 16:20) depois de vinte séculos
ainda não foi cumprida, como posso esperar que Deus
destrua a Satanás mediante minha oração? O que o Senhor
Jesus quer dizer com esta palavra é que no tempo de sua
volta iminente as pessoas terão falta de fé para orar acerca
deste assunto. Entretanto, é nos últimos dias que devemos
orar. Podemos nós ser os poucos fiéis que, nos dias quando
tal oração for tão rara, oraremos contra o diabo de forma a
fazer com que ele perca a posição e o poder? Sabemos que nos
últimos dias Satanás e seus espíritos malignos estarão
ativamente operando. Portanto, devemos orar mais do que
nunca contra ele e derrubar seu governo. Para falar a
verdade, não há maior obra que os filhos de Deus possam
fazer hoje do que esta. Quem está disposto a orar contra
Satanás pelo amor de Deus e por amor de si mesmo?
“Contende, Senhor, com os que contendem comigo;
peleja contra os que contra mim pelejam. Embraça o escudo e
o broquel, e ergue-te em meu auxílio. Empunha a lança, e
reprime o passo aos meus perseguidores; dize à minha alma:
Eu sou a tua salvação. Sejam confundidos e cobertos de
vexame os que buscam tirar-me a vida; retrocedam, e sejam
envergonhados os que tramam contra mim. Sejam como a
palha ao léu do vento, impelindo-os o anjo do Senhor. Torne-
se-lhes o caminho tenebroso e escorregadio, e o anjo do
Senhor os persiga. Pois sem causa me tramaram laços, sem
causa abriram cova para a minha vida. ...Acorda, e desperta
para me fazeres justiça, para a minha causa, Deus meu e
Senhor meu” (Sl 35:1-7, 23).

52
CAPÍTULO SEIS

ALGUNS FATORES DA ORAÇÃO


Primeiro, Deus nos deu provisão suficiente para a
oração? Sim, Deus nos deu provisão suficiente em seu Filho
pelo Espírito Santo. Sem tal provisão adequada podíamos
relegar nosso privilégio e dever da oração. Mas graças ao
Senhor, ele providenciou-nos todas as condições ideais para
nos achegarmos a ele e vivermos em sua presença. Podemos
resumir sua provisão em duas palavras: confiança e ajuda.
Vamos examinar “confiança” primeiro. Confiança
significa ter a capacidade de confiar, depender ousadamente
de alguém, segurança completa de depender de alguém, e
assim por diante. Na verdade, engloba muita coisa. O
espírito de confiança é essencial à oração e à vida cristã total.
53
Se nosso relacionamento com o Senhor flutuar continua-
mente e não tivermos segurança nem confiança nossa vida
toda será fatalmente ferida. Examinemos as seguintes
passagens bíblicas: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para
entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo
e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela
sua carne, e tendo grande sacerdote, sobre a casa de Deus,
aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé
... (Hb 10:19-22). “Por intermédio de quem obtivemos igual-
mente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes”
(Rm 5:2). “Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um
Espírito” (Ef 2:18). “Pelo qual temos ousadia e acesso com
confiança, mediante a fé nele” (Ef 3:12).
A confiança verdadeira tem base em um fator, isto é, o
próprio Cristo. Temos o privilégio absoluto de achegarmos a
Deus porque o próprio Cristo é o privilégio que possuímos.
Esta é a provisão de Deus. Em nome de Cristo podemos ir ao
Pai a qualquer hora e em qualquer lugar. Nunca nos
achegamos ao Pai em nosso nome ou condição porque isto
simplesmente é impossível. Vamos ao Pai em nome do Filho
somente.
Diz Efésios 3:12 que em Cristo Jesus nosso Senhor
temos intrepidez e acesso com confiança mediante nossa fé
nele. Não vamos a Deus levando nossa “indignidade” a, ele,
antes, é Cristo que nos toma pela mão e nos conduz ao Pai.
Ele leva à presença de Deus todos os que foram lavados pelo
sangue como se tivessem ressuscitado dos mortos, porque
estamos vestidos com “ele” como nosso manto de justiça. Daí
que nossa confiança é o próprio Cristo.
Em seguida vamos examinar o termo “ajuda”. Bem-
aventurados são os que podem chegar a Deus com ousadia e
confiança! Embora possuamos tão alto privilégio, todavia
percebemos tanto de nossa própria incapacidade, fraqueza e
estultícia que não sabemos como orar. Quão bom Pode ser se
a esta altura conhecermos e experimentarmos a ajuda do
Espírito Santo!

54
“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em
nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas
o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com
gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe
qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de
Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm 8:26, 27). Nossa
fraqueza manifesta-se mais facilmente na oração. Nada no
reino espiritual revela nossa fraqueza mais do que esta
atividade. Todos nós estamos conscientes da grande
dificuldade que os discípulos experimentaram em oração no
jardim do Getsêmani. Não puderam vigiar nem orar. Mas,
graças a Deus, temos o Espírito Santo Todo-poderoso para
ajudar-nos. Devemos confiar no Espírito Santo que em nós
habita, que opera em nós com poder, pois ele é nossa ajuda
em tempos de enfermidade e ignorância. Embora não
saibamos orar, ainda assim, o Espírito Santo que em nós
habita, que conhece a vontade de Deus, ensinar-nos-á a orar
segundo a mente de Deus. Além disso, dará significado à
nossa comunhão com Deus e assim nos levará à realidade da
comunhão. Quando orarmos, portanto, dependamos de Cristo
em quem cremos e do Espírito Santo que é nossa ajuda.

Segundo, por que Satanás tenta resistir à oração?


Satanás está resolvido a cortar nossa comunhão com os céus;
conseqüentemente, está disposto a pagar qualquer preço
para impedir a oração verdadeira. Estejamos cônscios do fato
de que ele ataca com persistência as orações da igreja e
também as orações dos crentes. Se tiver êxito no ataque à
oração ele sabe que pode descansar em paz. Devemos,
portanto, estar vigilantes e em guarda contra o inimigo,
especialmente quando vamos orar.
Ao lidar com o ataque satânico devemos dar particular
atenção às seguintes áreas:
(1) Satanás atacará nossa confiança no Senhor. Ele
sabe que se puder fazer-nos sentir indignos, incapazes e que
estamos perdendo a confiança no Senhor, tirará nosso
coração da oração.

55
(2) Às vezes ele também ataca nosso corpo, até mesmo
nosso pensamento, nervos ou outras partes de nosso corpo.
Quando nos sentimos cansados – e sem forças – não
gostamos de orar. Guardemo-nos contra isto e vençamos esta
situação. Quanto às coisas que estão além de nosso controle,
o Senhor será responsável.
(3) Às vezes o diabo atacará a hora que reservamos
para oração, tanto em particular quanto na igreja. Muitos
têm experimentado isto. Quão sutil é o inimigo! Se ele não
conseguir preencher nosso tempo de oração com outras
coisas, certificar-se-á de que não façamos a oração verdadeira
nesse período. Muitas vezes somos capazes de conservar o
período de oração, mas falta-nos a vida de oração.
(4) Às vezes Satanás ataca nossa comunhão constante
com o Senhor criando uma camada pesada que se interpõe
entre nós e nosso Senhor, de modo que não podemos fazer
contato. Parece que uma névoa misteriosa nos separa do
Senhor.
(5) Finalmente, ele intenta empurrar-nos para as
trevas de modo que não possamos ver a necessidade de
oração. Constantemente distrairá nossa atenção para outras
coisas, assim prejudicando nossa vida de oração. Que jamais
caiamos nessa armadilha. Devemos olhar para o Senhor,
juntar muitos materiais para oração, e prestar bastante
atenção aos interesses e necessidades de Deus. Nossa respon-
sabilidade na oração não é pequena – portanto, vigiemos e
oremos.

Terceiro, além da oração pessoal, que outro tipo de


oração devemos fazer, de acordo com a palavra de Deus?
Devemos fazer a oração coletiva, que e a oração da igreja.
Ao falar da oração da igreja não significa que
releguemos a segundo plano a oração, particular nem
significa que demos importância à oração pessoal. Vejamos,
porém, que é uma regra do reino de Deus que o que certa
pessoa é incapaz de fazer em algumas áreas deve ser feito
mediante a ajuda mútua, e coletiva. Especialmente no

56
assunto da oração, é preciso haver reciprocidade. Todos os
que seguem ao Senhor de perto freqüentemente percebem a
necessidade de orar com outros crentes. Às vezes sentem a
insuficiência de sua própria oração. Particularmente ao orar
por um assunto tão grande como o reino de Deus, isto requer
a força de uma igreja toda. “A minha casa”, diz o Senhor
“Será chamada casa de oração.” Mateus 21:13. A isto
podemos acrescentar “a qual casa somos nós” (Hb 3:6).
“Em verdade também vos digo”, declara o Senhor,
“que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a
respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhes-
á concedida por meu Pai que está nos céus. “Porque onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no
meio deles” (Mt 18:19, 20). O fato e a experiência dizem-nos
que a porção de Cristo é maior na reunião dos crentes em
nome do Senhor do que e cada indivíduo, porque o Senhor
está no meio da igreja e não pode estar no meio de um
indivíduo (não há “no meio de” um indivíduo porque o Senhor
está no indivíduo. Essa porção de Cristo que está no meio é o
que a pessoa não pode ter, individualmente). Quando
estamos verdadeiramente reunidos no Senhor, sentimos
muito mais a largueza do horizonte em oração, e somos
muito mais fortalecidos na batalha da oração. Além disso,
muitas vezes experimentamos na reunião de oração a mente
de Deus que se revela mediante o Espírito Santo que nos dá
tanto o fardo como a capacidade de orar. Não há dúvida que
há muitas coisas que podemos dizer acerca da oração da
igreja, mas talvez devêssemos parar aqui e simplesmente
dizer uma coisa importante. Que a oração da igreja jamais
pode ser um substituto para a oração particular, embora ao
mesmo tempo devemos notar que a oração pessoal está
continuamente ficando para trás da oração da igreja e jamais
poderá alcançá-la.

Quarto, quais são os aspectos vários na obra da oração


que precisam de atenção? Muitas coisas exigem nossa
atenção na obra da oração, dentre elas as seguintes:

57
(1) Comunhão com o Senhor em todas as coisas.
Devemos levar todas as coisas de nossa vida ao Senhor, pois
não há nada comum ou insignificante na vida cristã Nosso
hábito natural e diário devia ser a comunhão com o Senhor
em todas as coisas (ver Filipenses 4:6).
(2) Peça e continue a Pedir, pois o Senhor se deleita no
pedido de seu povo. Ele é o Doador rico; portanto, deseja que
os homens peçam. “Se, porém, algum de vós necessita... peça
a Deus que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera; e
ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada
duvidando” (Tg 1:5, 6). “Nada tendes, porque não pedis;
pedis, e não recebeis, porque pedis mal” (Tg 4:2b, 3). O pedir
inclui confiança e desejo. Se o motivo de nosso pedido for
puro, nada há melhor.
(3) Meditar e interceder. Estamos perante o Senhor
para orar pelos outros. Na realidade isto é comunhão com o
Senhor em sua função de sumo sacerdote. Ele mesmo
intercede incessantemente por seu povo e por suas
necessidades (Hb 7:25; cf. Colossenses 4:12).
(4) Orar sempre. Ao falar de orar com importunação,
primeiro precisamos livrar-nos de um conceito errôneo que
diz que nosso Deus é relutante em responder à oração. Orar
com persistência simplesmente significa que, tendo reco-
nhecido com clareza a necessidade de Deus, a pessoa
continua a orar. Por que o Senhor não responde imediata-
mente? Por que devem se prolongar os dias do seu silêncio?
Eis, pelo menos, duas razões: (a) que Deus precisa de uma
reação total de seu povo concernente a coisa pela qual ele
tem interesse profundo; e (b) que às vezes tal oração cons-
tante é necessária devido a certo tipo de necessidade ou
ambiente – por causa das fortalezas que Satanás constrói, é
necessário mais oração intensa para destruí-las (ver Mateus
7:7, 8; Marcos 9:28, 29).
(5) Oração executiva. Estando unidos com o Senhor
que está sentado no trono (pois ele é o Senhor de todos),
podemos orar em seu nome que está acima de todos os nomes
(Fp 2:9).

58
(6) Batalha da oração. Mediante a oração levantamos a
vitória da cruz ao lidar com todas as coisas. O movimento da
oração segue a vitória do Senhor (ver Efésios 6:10-20).
(7) A oração da fé. Sob certas circunstâncias, o Espírito
Santo nos concede um tipo de segurança interior, fazendo
com que conheçamos a vontade de Deus. Assim veremos
nossa oração instantaneamente assegurada (ver Atos 9:40).
(8) O fardo da oração. A oração é um tipo de trabalho
do parto espiritual, o qual é a entrada na comunhão com o
sofrimento de Cristo, com o coração do Pai, e com o gemido
do Espírito Santo até o dia da glória (ver Gálatas 4:19).

Quinto, qual é o objetivo central da oração? Deus


deseja ter uma igreja gloriosa. O propósito central da oração
é preparar para Cristo uma igreja gloriosa que seja conforme
ele. Esta é a revelação da Bíblia toda. É a idéia central de
Deus. Precisamos dar atenção especial a isto, pois é o desejo
do próprio Senhor. Antes de ser crucificado, ele expressou
este pensamento em sua grande oração sacerdotal registrada
em João 17. Nas epístolas de Paulo este desejo de seu
coração torna-se muitíssimo evidente. Isto, não sugere,
entretanto, que as orações por outras coisas devem ser
diminuídas. Simplesmente, serve para dar um foco central a
todos os tipos de oração. Tendo este objetivo em mente,
nossas orações serão elevadas a um nível mais alto. Se
percebermos que pregar o evangelho é mais do que fazer com
que as pessoas passem da morte para a vida e que também, e
mais centralmente, é trazê-las a uma união eterna e
maravilhosa com o Cristo glorioso, então nossa oração
intercessora pelo mundo só pode aumentar e jamais dimi-
nuir. Além disso, há uma grande necessidade hoje de fazer
com que o mundo veja a glória de Cristo mediante a igreja.
Pelo poder do Espírito Santo a igreja deve impressionar o
mundo com o fato de ser deveras o canal de bênçãos para o
mundo.
Finalmente, é a vontade declarada de Deus que deve-
mos ter comunhão mais inteligente e íntima com ele. Ele

59
deseja que nós – seus muitos filhos – nos cheguemos a ele em
seu amado Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ele deseja que
muitos sacerdotes acompanhem o grande Sumo Sacerdote
(aquele que “vive sempre para interceder por eles” - Hebreus
7:25) na obra da intercessão. “E nos constituiu reino,
sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Ap 1:6). “Vós, porém, sois
sacerdócio real” (1Pe 2:9).

CAPÍTULO SETE

A TÁTICA DE EXAUSTÃO
DE SATANÁS
“Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do
Altíssimo” (Dn 7:25).

Satanás tem uma obra, que é atacar os filhos de Deus.


Seu ataque pode não vir repentinamente; muitas vezes, vem
gradual e lentamente. Daniel 7:25 menciona como Satanás
esgota os santos do Altíssimo. De fato, Satanás tem um plano
contra os santos do Altíssimo, que é esgotá-los. Portanto,
reconheçamos claramente que a obra de Satanás na vida dos
filhos de Deus é freqüentemente, não muito perceptível, pois
sua obra é esgotá-los lentamente.
Qual é o significado da frase “esgotar”? Traz em si a
idéia de reduzir um pouco agora, depois reduzir um pouco
mais. Reduzir um pouco hoje e reduzir um pouco mais
amanhã. De forma que o esgotamento seja quase impercep-
tível; entretanto, é uma redução. Quase nem percebemos a-
atividade do esgotamento, mas o resultado final é que nada
60
sobra. Portanto, este princípio da obra de Satanás na vida
dos filhos de Deus é esgotá-los até que estejam completa-
mente acabados. Esgotá-lo-á um pouco hoje e depois um
pouco mais no dia seguinte. Fará com que você sofra um
pouco agora e mais tarde um pouco mais. Você pode pensar
que isto seja algo insignificante, entretanto Satanás sabe que
a conseqüência de tal esgotamento é acabar com o santo
completamente.
Por este motivo, a Bíblia indica que “o amor se esfriará
de quase todos” (Mt 24:12), o que significa um esfriamento
gradual. A Bíblia também menciona que certa jovem, com
um espírito de adivinhação clamou após Paulo e seus colegas
por muitos dias (ver Atos 16:17, 18). Além disso, as Escri-
turas registram que quando Félix esperava que Paulo lhe
desse dinheiro, muitas vezes mandava buscar Paulo e com
ele conversava (At 24:26). E o Antigo Testamento também
descreve como Dalila pressionou Sansão diariamente com
sua palavra e instava com ele continuamente de forma que
sua alma sentiu-se triste até à morte (Jz 16:16). É dessa
forma que Satanás gradativamente, e por muitos dias,
muitas vezes esgotará os filhos de Deus. “O dia mau” de que
fala Efésios 6:13 refere-se às táticas de esgotamento de
Satanás. Devemos pedir que Deus nos abra os olhos para que
possamos discernir o modo pelo qual Satanás nos esgota e o
devemos combater sua tática de esgotamento.

Esgotando o corpo físico


Especialmente com respeito ao corpo humano, pode-
mos facilmente ver como o inimigo esgota os filhos de Deus.
Vêm-nos à mente dois exemplos: o ataque ao corpo de Jó (Jó
17, 8) e o espinho da carne de Paulo (2Co 12:7). Estes são
casos clássicos de esgotamento dos corpos humanos por
Satanás. Muitos cristãos sofrem doenças e enfraquecimento
do corpo depois de serem salvos, ao passo que antes tinham
bastante saúde. Se o Senhor nos abrisse os olhos veríamos
que há alguém tramando contra os filhos de Deus o tempo
61
todo, e esse alguém é Satanás. Nesta mesma linha de pensa-
mento, devemos ressaltar que muitos dos servos do Senhor,
antes de saírem para pregar o evangelho, tinham boa saúde,
mas depois de terem saído a trabalhar para o Senhor sua
saúde foi enfraquecida num curto período de três a cinco
anos. É o inimigo enfraquecendo os santos do Altíssimo. Faz
com que o filho de Deus coma um pouco menos hoje e durma
um pouco menos amanhã. Faz com que se sinta um pouco
cansado hoje e um pouco mais cansado amanhã Assim,
acrescentando um pouco de cada vez, a saúde do crente
finalmente pode ser abalada por completo. Tal é a obra de
Satanás.
Esgotando o coração do homem
Satanás não opera somente no corpo, mas também no
coração humano. A princípio, quando creu no Senhor, você
pode ter-se sentido feliz, alegre e em paz. Mas se não se
cuidar – se estiver ignorante do que o inimigo possa fazer –
pode encontrar-se certo dia misteriosamente em desconforto.
Sente-se um tanto inquieto hoje, um tanto infeliz amanhã, e
um tanto deprimido no dia seguinte. Pouco a pouco, sua paz
é completamente retirada e sua alegria totalmente desfeita.
É desta forma que o diabo o leva a um estado de fadiga e
desespero.

Esgotando a vida espiritual


Satanás também esgota sua vida espiritual. Ele des-
fará sua vida espiritual pouco a pouco, fará com que você
confie em Deus cada vez menos e confie em si mesmo mais e
mais, um pouco de cada vez. Fará com que você se sinta um
pouco mais inteligente que antes. Passo a passo você é levado
a confiar em seu próprio talento, e passo a passo seu coração
é afastado do Senhor. Ora, se Satanás atacasse os filhos de
Deus com grande força de uma vez, eles saberiam como
resistir ao inimigo, Pois reconheceriam imediatamente sua

62
obra. Mas o que é sutilmente mau acerca de Satanás, entre-
tanto, é que ele não ataca de um golpe em vez disso, ele
emprega a tática de esgotar os santos por um grande período
de tempo, assim fazendo com que, os filhos de Deus se
afastem e caiam no pecado um pouco de cada vez. Ele usa o
método gradativo para esgotar o povo de Deus.

Esgotando nosso tempo


Satanás também esgotará nosso tempo. Félix muitas
vezes mandava buscar Paulo para com ele conversar. Depois
de dois anos de conversa com o poderoso e talentoso apóstolo,
Félix ainda era incrédulo. O inimigo usa este artifício para
esgotar o povo. Hoje, Paulo é convidado a falar sem nenhum
resultado; amanhã é convidado de novo a falar, e ainda não
tem resultado; e no dia seguinte novo convite para falar, e
depois outra vez, sem nenhum resultado. Paulo foi levado a
se envolver em uma obra infrutífera por dois anos. Como o
inimigo esgota o tempo e a energia do homem!
Se os filhos de Deus não discernirem os engodos de
Satanás, podem facilmente cair em sua armadilha. Como
devemos remir nosso tempo e aproveitar cada hora! Devemos
impedir que Satanás esgote nosso tempo e devemos resistir a
ele, não deixando que ele nos faça trabalhar em coisas que
não tenham resultado.

Esgotando a consagração de Sansão


Sansão teve fracassos, mas não devia ter perdido sua
consagração nem seu testemunho de separação. Pois a perda
de consagração significa perda de poder, e a perda do
testemunho significa perda da presença de Deus. Sansão era
nazireu, uma pessoa consagrada a Deus. Satanás sabia que a
fonte do poder deste homem estava em sua consagração.
Portanto, a fim de tocar a fonte de vida de Sansão, ele deve
retirar sua consagração. Como o fez? Usou Dalila que

63
“Importunando-o ela todos os dias com as suas palavras, e
molestando-o, apoderou-se da alma dele uma impaciência de
matar. Descobriu-lhe todo o seu coração” (Jz 16:16, 17).
Assim Sansão revelou o segredo de seu poder. E subseqüen-
temente caiu na armadilha de Satanás: perdeu sua consa-
gração, poder, testemunho de separação e a presença de
Deus. Tal “pressionamento diário” é feito pelo inimigo.
Se nossos olhos estiverem abertos por Deus seremos
capazes de ver que quando Satanás esgota as pessoas ele
emprega todos os tipos de recursos. Esgota o corpo, o coração
dos homens, e a nossa vida espiritual. Ele não ataca com
violência; esgota lentamente. Devemos, portanto, guardar-
nos contra as táticas de exaustão de Satanás. Não devemos
permitir que ele nos esgote. Em vez disso, devemos resisti-lo
a cada passo.

Devemos detestar a obra de


exaustão de Satanás
Quando Paulo pregava na Macedônia encontrou certa
jovem que tinha um espírito de adivinhação. Ela o seguia
clamando: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo, e vos
anunciam o caminho da salvação.” E isto ela fez por muitos
dias até que Paulo ficou tão perturbado que, voltando-se,
disse ao espírito: “Em nome de Jesus Cristo eu te mando:
Retira-te dela.” E o espírito mau saiu na mesma hora. (Ver
Atos 16:16-18) No reino espiritual devemos ter o desgosto
que Paulo mostrou aqui. Não devemos detestar os homens,
mas detestar os espíritos maus. Paulo, com certeza, se enojou
do espírito maligno, mas não da jovem. Ele ordenou que o
espírito saísse dela. No caso, tratou-a como uma terceira
pessoa. Que tenhamos o tipo de aversão que Paulo tinha,
sempre que o espírito estiver esgotando os homens.
Se você realmente souber como Satanás tenta esgotá-
lo, pedirá que Deus lhe dê este senso de desgosto – isto é,
detestar Satanás e irar-se contra ele! Muitos sabem perder a

64
paciência com os homens, mas é estranho que não saibam
jogar sua ira sobre Satanás. Ao serem incomodados pelas
pessoas, perdem a paciência, mas não têm consciência de
como o inimigo os está esgotando. Dia após dia Paulo estava
sendo importunado por Satanás até que ficou tão exasperado
que abriu a boca para resistir ao espírito mau, e assim o
espírito deixou a jovem. Da mesma forma não fique em
silêncio o tempo todo. Que se levante a voz em resistência. Se
os filhos de Deus ficassem irados e abrissem a boca para
opor-se a Satanás, tudo estaria bem. Se as pessoas ficarem
com raiva do diabo, gritaremos aleluia, que maravilha! É de
dar pena, que alguns sejam tão fracos que permitam ao
inimigo esgotá-los o tempo todo. Os filhos de Deus deviam ter
raiva de Satanás e detestá-lo. Tendo raiva e mostrando
aborrecimento, eles cessam a atividade e esgotamento do
inimigo.
Freqüentemente, à medida que você está sendo impor-
tunado por Satanás você se conserva silente, pacientemente
suportando e quietamente sofrendo até que se sente tão
desgostoso que começa a ficar com raiva e declara: “Oponho-
me a isto, não mais o suporto!” Simplesmente ao dizer isto,
ao ficar furioso com isto, você é libertado e o processo de
esgotamento cessa. Os filhos de Deus devem, portanto,
levantar-se para repudiar e reprovar o inimigo. Algumas
pessoas falham em receber alívio porque ainda têm “força”
para suportar. A pessoa que continua suportando o desgaste
de Satanás, permitindo que o diabo lhe desperdice a energia,
a alegria e a vida espiritual, caiu na artimanha do inimigo.
Que seja claro, entretanto, que não devemos ficar com raiva
das pessoas que Satanás usa; pelo contrário, devemos ser
pacientes com elas, até mesmo amorosos. Mas devemos nos
opor e resistir à conspiração oculta de Satanás. Se resistir-
mos ao que ele faz, logo estaremos livres.
O poder de resistir ao maligno vem do discernir sua
pressão. Muitos crentes, ao serem manipulados e assaltados,
realmente resistem a Satanás; mas não encontram força em
si mesmos. Isto acontece porque falham em perceber a

65
pressão de Satanás. Embora resistam, parece que não têm a
força de erguer a voz contra o inimigo. Se você resiste a ele
ou não, depende de quanto o detesta. Se você não estiver
bastante chateado com ele, suas palavras se esvairão no ar.
Mas se estiver realmente exasperado, ficará com raiva dele.
Esta ira torna-se em poder. Ao abrir a boca, fará com que ele
fuja.
Tal aborrecimento vem da revelação Ao perceber como
o diabo continua a desgastá-lo, você lhe resiste. No momento
em que você percebe isto, Satanás sabe que sua tática foi
descoberta e perde a esperança. Que Deus possa realmente
ter misericórdia de nós para que possamos reconhecer a obra
de esgotamento de Satanás. Compreendamos que se supor-
tarmos pacientemente, a obra de Satanás por certo continu-
ará; mas se nos enraivecermos, imediatamente ele nos deixa-
rá em paz. Que compreendamos que todos os meios de resis-
tência são inúteis se não decidirmos a resistir; se, porem,
resistirmos, então veremos que Satanás é forçado a bater em
retirada. Se um dia reconhecermos o que Satanás está
fazendo – que realmente ele planeja tudo – levantar-nos-
emos ousadamente e declararemos: “Rejeito isso; oponho-me
a isso!” E à medida que Deus nos dá tal resistência, ela
instantaneamente torna-se eficaz.
Em conclusão, devemos ler Efésios 6:13, onde Paulo
escreve que “tendo feito tudo devemos “ficar firmes”; deve-
mos ficar firmes, e não permitir que Satanás continue a
esgotar-nos. Devemos pedir que o Senhor no abra os olhos
para vermos a obra de exaustão que Satanás está realizando
nos filhos de Deus. Que nos levantemos para resistir e falar
contra o inimigo. Que possamos declarar: “Resisto, oponho-
me a esse esgotamento e não o aceito.” Se rejeitarmos e
resistirmos a toda tática de esgotamento que Satanás possa
estar usando conosco, testemunharemos da salvação do
Senhor e da libertação da estratégia de esgotamento de
Satanás.
Tal palavra precisa da cobertura do sangue. Possa
Deus cobrir-nos com o sangue

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