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Mulheres Camponesas e os Desafios do Acesso às

Políticas Públicas para Igualdade de Gênero

Peasant Women and Access to Public Policy Challenges for Gender


Equality

Mujeres Campesinas y los Retos del Acceso a las Política Públicas


para la Igualdad de Género

Caroline Becher
Universidade Estadual de Maringá, Brasil
karolbecher@hotmail.com

Jó Klanovicz
Universidade Estadual do Centro Oeste, Brasil
klanov@gmail.com

Resumo
Este artigo tem como objetivo discutir os limites e as possiblidades ao acesso das mulheres
camponesas às políticas públicas, considerando­as protagonistas diante das atividades
socioprodutivas que envolvem o cenário da agricultura familiar e camponesa na região sudeste do
estado do Paraná, Brasil. Desse modo, compreendemos necessário apresentar ao leitor uma
contextualização das questões de gênero, estabelecendo uma interface entre as camponesas e os
múltiplos sentidos da igualdade de gênero. Não menos importante, buscamos apresentar os avanços
das teorias feministas que culminam em inovações nas políticas públicas agrárias na perspectiva de
gênero. Para um segundo momento, consideramos relevante dar voz a essas camponesas e
apresentar seus relatos, buscando compreender o ser camponesa, registrando o pensamento, o
significado de suas ações para comunidade, revisitando o passado e identificando a importância
delas nas diversas conquistas políticas e sociais na sociedade Dessa forma, para estabelecer os
relatos que pensamos necessários para discussão aqui proposta, amparamo­nos na perspectiva da
história oral, regatando o olhar destas mulheres, bem como suas vivências no rural brasileiro.
Localizar e superar limites ao acesso das mulheres, na participação efetiva em espaços públicos, é
algo primordial quando tratamos da autonomia dessas mulheres.

Palavras­Chave: Autonomia; Camponesas; Comunidade; Gênero; Políticas Públicas.


Abstract
This article aims to discuss the limits and possibilities of access for rural women to public policies,
considering the protagonists in the face of socio­productive activities involving the setting of
family and peasant agriculture in southeastern Paraná state, Brazil. Thus, we understand required
the reader a context of gender issues by establishing an interface between the peasant and the
multiple meanings of gender equality. Not least, we seek to present the progress of feminist theories
that culminate in innovations in agricultural policies with a gender perspective. For a second
moment, we consider relevant to voice these peasant and present their reports, trying to understand
the being peasant, recording the thought, the significance of their actions to the community,
revisiting the past and identifying the importance of them in the various political and social

Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 7, n. 2, p. 159 - 177, ago. / dez. 2016.
Mulheres camponesas e os desafios do acesso às
políticas públicas para igualdade de gênero

achievements in society Thus, to establish the accounts we think necessary to discuss proposed
here, admitted them in the perspective of oral history, regatando the look of these women and their
experiences in the Brazilian countryside. Find and overcome limits on women's access to effective
participation in public spaces is something essential when dealing with the autonomy of these
women.

Keywords: Autonomy; Peasant; Community; Gender; Public Policy.


Resumen
Este artículo tiene como objetivo discutir los límites y las posibilidades de acceso de las mujeres
rurales a las políticas públicas, considerándolas protagonistas en las actividades socio­productivas
que se desarrollan en la agricultura familiar y campesina en la región sudoriental del estado de
Paraná, Brasil. Consideramos necesario presentar para el lector una contextualización de las
cuestiones de género mediante el establecimiento de una interfaz entre las campesinas y los
múltiples significados de la igualdad de género. No menos importante, tratamos de presentar los
avances de las teorías feministas que culminan en las innovaciones en las políticas agrarias con una
perspectiva de género. En segundo lugar, consideramos relevante dar voz a las campesinas y
presentar sus relatos, tratando de entender qué es ser campesina, registrando el pensamiento, el
significado de sus acciones para la comunidad, revisitando el pasado e identificando su importancia
en los diversos logros políticos y sociales. De este modo, para establecer los relatos que creemos
necesarios para discutir esta propuesta, nos amparamos en la perspectiva de la historia oral,
rescatando la mirada de estas mujeres y sus experiencias en el mundo rural brasileño. Localizar y
superar límites al acceso de las mujeres a la participación efectiva en los espacios públicos es algo
esencial cuando se trata de la autonomía de estas mujeres.

Palabras­Clave: La Autonomía; Campesinas; Comunitarias; Género; Política Pública.

Introdução estudos sobre mulheres rurais realizados no


Brasil sempre tendeu a considerá­las a partir
Os estudos rurais tiveram presença de seu lugar dentro da unidade de produção,
destacada ao longo da história das ciências focalizando sua condição de trabalhadoras
sociais brasileiras, desse modo, várias não remuneradas e com baixa valorização”
pesquisas lançaram ênfase às relações de (SCHNEIDER, 2010, p. 2).
desigualdade que marcam a vida das Mesmo que esses estudos tenham revelado
mulheres camponesas. A participação ativa aspectos relevantes relacionados à situação
de camponesas, no cenário rural atual, vem de desigualdade das mulheres, como a sua
demonstrando cada vez mais o seu importância nas atividades agrícolas e seu
empoderamento, tanto nas questões políticas, papel na reprodução social das famílias
quanto nas atividades cotidianas que rurais, permanecem lacunas quanto a
envolvem essas mulheres e o seu trabalho no situações opostas e alternativas a essa
contexto familiar. Assim, o cotidiano dessas desigualdade. Lacunas estas que procuramos
mulheres torna­se espaço de conhecimento e compreender neste artigo.
compreensão da forma como se estabelecem Segundo dados da Organização das
as relações entre homens e mulheres Nações Unidas para Agricultura e
camponeses. Alimentação (FAO), considera­se que as
Para Sergio Schneider1, “boa parte dos mulheres são as que mais contribuem para a

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garantia da segurança alimentar, sendo muito mais do que falar de um movimento


responsáveis pela produção de mais da organizado, ou de dividir o feminismo em
metade dos cultivos do mundo. O mesmo ondas. Analisar essas mudanças é muito
estudo da FAO destaca que em algumas importante, mas, significa também olhar o
regiões, como no Subsaara da África e no feminismo através das relações de gênero
Caribe, as mulheres respondem pelo cultivo que permearam a vida das mulheres, seu
de 60% a 80% dos gêneros alimentícios trabalho, sua participação no âmbito público
básicos (FAO, 1996). e privado, durante séculos de história. Essas
A porcentagem de mulheres responsáveis articulações de diversos movimentos que tem
por atividades agropecuárias na América a mulher como protagonista também abarcam
Latina e Caribe tem crescido nos últimos discussões do rural brasileiro (BURG, 2005).
anos, embora suas terras tendam a ser O movimento dessas mulheres sempre
menores, de menor qualidade e de terem buscou a superação de uma cultura muito
menor acesso ao crédito, assistência técnica e mais patriarcal do que se visualizava nos
capacitação, destaca a FAO. O Chile centros urbanos. Ainda hoje, carecemos de
encabeça a lista dos países da América Latina inúmeros grupos, como associações de
e Caribe, com 30% de suas atividades mulheres trabalhadoras rurais, não limitando
agrícolas a cargo de mulheres, seguido pelo em definições, sejam elas agricultoras
Panamá (29%), Equador (25%) e Haiti (25%) familiares, camponesas, trabalhadoras rurais.
(FAO, 2010). Assim sendo, procuramos mostrar o
Podemos entender que o trabalho é, em conceito de gênero como lente para se
grande medida, qualificado e valorado em analisar processos sociais que se apresentam
função de quem o executa, bem como em no rural brasileiro, e as políticas públicas que
função da posição que os membros ocupam se articulam com esta perspectiva.
na hierarquia social. O trabalho “leve” não Contextualizar as questões de gênero, bem
significa trabalho agradável ou pouco como o movimento feminista, que são, sem
exigente em termos de esforço físico, assim, sombra de dúvidas, a base de qualquer
a divisão sexual do trabalho não pode ser movimento que tenha a mulher como
interpretada só e nem apenas definida em protagonista. Portanto, são abordados os
função de uma racionalidade biológica, pois aspectos que envolvem o conceito de gênero
em grande medida ela é definida como categoria de análise, apresentando sua
culturalmente (LARAIA, 1986). interlocução com a teoria feminista.
A visibilidade das mulheres agricultoras Estabelecer esta interface às mulheres
tem­se ampliado a partir do feminismo e dos camponesas e aos múltiplos sentidos da
movimentos sociais existentes no Brasil, igualdade de gênero é ponto crucial deste
incluindo­se aqueles poucos existentes. estudo, ou seja, dar voz a mulher camponesa
Entretanto, ainda existe a necessidade de é de fundamental importância.
desmistificar as relações de gênero como um Para estabelecer os relatos que penso
instrumento válido para repensar as relações, necessários para a discussão aqui proposta,
esclarecer e desconstruir a naturalização das amparo­me na perspectiva da história oral,
diferenças entre masculino e feminino e, levando­se em conta os cuidados inerentes à
desse modo, construir a relação do coleta de relatos. A história oral tem um
feminismo com nos diversos espaços do percurso característico: até os anos 1970,
público e do privado (BURG, 2005). quando emergiu no Brasil, ela era utilizada
Falar ou pensar em feminismo significa como uma metodologia para preencher

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lacunas deixadas por documentos escritos. passado. “A realidade é complexa e


Nesse sentido, Joana Maria Pedro (2003) multifacetada; e um mérito principal
pontua que os relatos eram elaborados, da história oral é que, em muito
principalmente, por agentes administrativos, maior amplitude do que a maioria
personalidades políticas, com vistas a das fontes, permite que se recrie a
corroborar dados oriundos de outros multiplicidade original de pontos de
documentos. Assim, raramente mulheres vista” (THOMPSON, 1992, p. 25 ­
eram entrevistadas, na medida em que o 26).
interesse estava orientado para o mundo
público. Com a guinada para uma história da Não se pretende com esta pesquisa reduzir
vida privada nos anos 1980, o relato de a categoria gênero ao espaço doméstico, ou
mulheres passou a habitar o mundo da tido como 'privado'. Joan Scott (1989) alerta
história oral com maior frequência e que pesquisadores e estudiosos cometem um
intensidade, na medida em que os próprios erro e ao fazer isso “reduziram o uso da
interesses da história tornaram­se outros, e o categoria de gênero ao sistema de
desenvolvimento teórico­metodológico da parentesco” (fixando o seu olhar sobre o
história oral também passou por mudanças universo doméstico e na família como
(PEDRO, 2003). fundamento da organização social). E, para
Operando­se um deslocamento da vida muito além disso, acrescenta que:
pública para a vida privada, a história oral
pode, nesse sentido, devolver a palavra para Precisamos de uma visão mais
grupos que não tinham voz, redimensionando ampla que inclua não só o
a própria história local (THOMPSON, 1992, parentesco, mas também (em
p. 25). Dessa forma, a história oral favorece a particular, para as sociedades
compreensão do papel desempenhado pela modernas complexas) o mercado de
mulher no cenário agrário brasileiro. trabalho (um mercado de trabalho
Ao amparar­me na leitura de Thompson, sexualmente segregado faz parte do
especialmente no que diz respeito ao traço processo de construção do gênero), a
dos relatos mais consolidados em termos de educação (as instituições de
memória, entrevistei mulheres camponesas educação socialmente masculinas,
da comunidade rural, pois acredito na não mistas ou mistas fazem parte do
memória como a presença do passado, e mesmo processo), o sistema político
ouvindo as memórias contadas pelas (o sufrágio masculino universal faz
entrevistadas, consegui imaginá­las inseridas parte do processo de construção do
num determinado contexto familiar e também gênero) ( SCOTT, 1989, p. 22).
social, e isso auxilia a compreender as
Portanto, não restam dúvidas de que o
vivências na comunidade de Jesuíno
contato com essas mulheres proporcionou­
Marcondes, no município de Prudentópolis,
me uma reconstrução original de suas vidas,
PR, e faz­me aproximar do objeto de
bem como dos contextos que estiveram
pesquisa – a situação das camponesas desta
inseridas. Outro aspecto muito importante
comunidade . Segundo Thompson (1992),
está na metodologia das entrevistas, pois
não há dúvida alguma de que isso buscamos regatar o olhar destas mulheres e,
deve contribuir para uma mais do que isso, dar voz a elas. Registrar o
reconstrução mais realista do pensamento, o significado de suas ações para
comunidade, revisitar o passado e identificar

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a importância delas nas diversas conquistas, maneira geral, um amadurecimento desse


políticas, sociais, culturais da comunidade. movimento e uma afirmação de seus ideais.
Esse estudo faz parte da dissertação de As transformações feministas na sociedade,
mestrado no Programa de Pós­graduação seja elas voltadas aos direitos adquiridos, ou
Interdisciplinar em Desenvolvimento mesmo por uma modificação na cultura da
Comunitário, da Universidade Estadual do sociedade, mostram­se em constante
Centro Oeste, que está em fase de conclusão. emergência. Fato é que:
Considero de grande valia a aproximação
com a comunidade aqui apresentada, mais do o feminismo brasileiro, e também o
que uma aventura teórica, a realidade mundial, de fato mudou, e não
mostrou­se bastante peculiar, rica em mudou somente em relação àquele
elementos de um rural brasileiro em movimento sufragista,
constante transformação. emancipacionista do século XIX,
mudou também em relação aos anos
Articulações sobre Gênero e Feminismo – 1960, 1970, até mesmo 1980 e 1990.
Definição e Discussões Teóricas Atuais Na verdade, vem mudando
cotidianamente, a cada
Há quem diga que o movimento feminista enfrentamento, a cada conquista, a
esteja em decadência. Esse questionamento é cada nova demanda, em uma
bastante comum em nosso cotidiano, dinâmica impossível de ser
entretanto, esse movimento ainda é tema acompanhada por quem não
central de discussões na sociedade atual. A vivencia suas entranhas. No
Cientista Social Ana Alice Alcantara Costa movimento feminista a dialética
(2005) considera que, tanto o movimento viaja na velocidade da luz (COSTA,
feminista não acabou, como vem passando 2005, p. 1).
por constantes metamorfoses. Sua fala é
bastante marcante quando nos coloca seu As discussões de autoras atuais vêm
posicionamento frente a este questionamento: problematizando a ideia de se trabalhar com
'ondas' do feminismo em pesquisas que
O feminismo enquanto movimento envolvem relações de gênero. Penso
social nunca esteve tão vivo, tão necessário, neste artigo, destacar alguns
mobilizado, tão atuante como nesse conceitos apontados por autoras como Joana
início de século, de milênio. Talvez Maria Pedro. A historiadora Joana Maria
tenha mudado de cara, já não Pedro considera necessário relembrar alguns
“queima sutiã”, raramente faz teóricos, como Kosellek (2006) para
passeata e panfletagem, o que não compreender alguns conceitos básicos no que
significa dizer que tenha perdido sua refere­se a história das mulheres e do
radicalidade, abandonado suas lutas, feminismo. A crítica da autora está
se acomodado com as conquistas exatamente no uso de 'ondas' do feminismo
obtidas ou mesmo se para demarcar momentos históricos muito
institucionalizado (COSTA, 2005, p. específicos, pois onda denota um sentido de
1). marcador de intervalos de tempo e, assim,
oculta a dialética dos tempos históricos.
Nota­se uma reconfiguração do Joana Maria Pedro contrapõe o termo
movimento feminista, isso demonstra, de 'onda' trazendo o conceito de rizoma como

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uma forma de interpretar o entrelace desses forma de não perder de vista


movimentos em diferentes tempos históricos, continuidades, persistências, mas
que acabam por culminar em infinitas também rupturas, lembrando que
combinações de 'ramificações', continuadas “raízes” podem estar entrelaçadas,
ou não, sinalizando movimentos e mudar de rumo, podem seguir e não
transformações de visões de mundo. seguir em diferentes sentidos,
Esses movimentos históricos, determinado podem mesmo retroceder... Há que
por diversos momentos de luta das mulheres, repensar modos de ler as fontes
sinalizam transformações e avanços ao históricas, documentais e orais
feminismo que “seriam produzidos, pois, por (COSTA, 2009, p. 10­11).
um processo de tomada de consciência das
mulheres engendrado nas circunstâncias e Penso que é na perspectiva que Joana
nos dilemas vividos por mulheres, inscritos Maria Pedro nos aponta, a de se trabalhar
em processos de longa duração histórica e com rizomas, que ocorre a busca pela
não como algo que irrompe numa dada experiência de mulheres camponesas na
conjuntura” (COSTA, 2009, p. 6­7). comunidade de Jesuíno Marcondes. Mulheres
Importante destacar que cada momento, que, em seu cotidiano, lutam por sua
trançados entre si, culminam em um avanço emancipação, por seus direitos reconhecidos
significativo para os estudos que envolvem a por sua valorização ativa no processo
perspectiva de gênero, sobretudo, destaca­se produtivo na agricultura familiar. Esse
a terceira geração do movimento feminista cenário, muitas vezes, ofusca o real papel da
que, para Suely Gomes Costa (2009), está mulher, de ser camponesa, atribuindo funções
mais voltada a 'reconciliar o tempo maternal tidas por homens como somente um auxílio
(cíclico e monumental) com o linear (político na vida no campo. Para uma das camponesas
e histórico)'. que fizeram parte da pesquisa, o reconhecer­
Nos estudos sobre o feminismo, há que se se como agricultora fica claro quando ela
pensar nas particularidades, não somente do revive a sua História e afirma:
movimento em si, mas essencialmente na
particularidade de cada mulher, inserida em Nasci na vila mesmo, meu pai e
cada contexto histórico específico. Retratar a minha mãe também nasceram aqui,
história dessas mulheres é buscar a essência sempre trabalhamos na roça, na
de cada experiência de vida feminina. Dessa agricultura. Plantamos de tudo um
maneira, as pesquisas sobre feminismo pouco: milho, feijão, tínhamos
necessitam de cuidados específicos, basta também as criações, vaca de leite,
recordarmos as diferenças sobre 'ondas' e porca, galinha, dessas um pouco
'rizomas', que exemplificam bem a vendíamos e outro pegávamos para
importância dessas metáforas na nós comer em casa. Eu sempre fui
compreensão de conceitos convergentes. agricultora, desde que era pequena
Sobre essa interpretação Suely Gomes Costa ajudava meus pais na roça. Fazia de
(2009) considera que tudo, desde arar a terra, o plantio,
colher. Cuidava da criação dos
há por narrar experiências animais. Saía cedinho de casa junto
femininas, como nos sugere Joana com meus pais para enfrentar o
Maria Pedro, de olho na derivação trabalho da roça dia pós dia. Não
metafórica do termo “rizoma”, consegui terminar os estudos, pois

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na época a escola era muito longe, e relevante para el pensamiento


também muito difícil seguir nos feminista. Considerar como trabajo
estudos sabendo que era necessário las inúmeras atividades
trabalhar (Agricultora 1). desarrolladas por mujeres em el
hogar y em las pequenas
Reviver essa história trouxe­nos propriedades agrícolas fue uma
elementos importantes, como reconhecer­se forma de volverlas visibles y más
enquanto agricultora e muito mais do que valorizadas. Cuanto al trabajo
isso, compreender sua importância no remunerado, él fue considerado
contexto familiar e comunitário. fundamental, pues, em uma
Há que se analisar o discreto caminhar sociedade daonde casi todo se
dessas camponesas na busca por espaços de compra, el acceso de la mujer a
igualdade. Nota­se que a vontade de alguma forma de renta própria
participação e consequente transformação podría hacerla más independiente
dessas mulheres, no que refere­se ao del marido y más participante em las
processo como um todo, que vai desde a decisiones que envuelven tato el
compreensão dos programas que estão grupo doméstico como la sociedade
inseridas até as formas de plantio, más amplia.
comercialização do alimento produzido. Isso
demonstra uma maturidade enquanto Para o feminismo, a categoria “trabalho”
reconhecer­se protagonista desse processo apresenta centralidade quando tratamos de
produtivo presente no cenário rural. conquistas do movimento das mulheres
agricultoras e de outros movimentos sociais
Conhecendo o Trabalho Produtivo das do campo, que nas palavras de Paulilo (2006,
Mulheres em Jesuíno Marcondes p. 3) “luchó para que las esposas envueltas
em la producción agrícola famíliar fuerem
Escrever sobre o trabalho das mulheres consideradas “productoras rurales”, y no
rurais da comunidade de Jesuíno Marcondes “amas de casa”.
não significa tão somente traçar um perfil Destaca­se que a participação em diversas
único e exclusivo dessas mulheres e suas atividades no campo esteve presente ao longo
atividades, mas compreende, acima de tudo, da história política, econômica e social do
visualizar particularidades desse cenário que mundo agrário brasileiro. O protagonismo
servem de suporte para compreender sobre a dessas mulheres vem sendo ocultado,
importância do trabalho dessas mulheres para gerando uma invisibilidade na luta dos
a agricultura familiar brasileira. movimentos sociais, sejam eles urbanos ou
As diversas lutas do movimento feminista rurais. Na concepção de Farias (2003), as
apresentam­se como ferramenta fundamental mulheres caracterizam­se como:
para a igualdade de gêneros no meio rural. A
contribuição de Maria Ignez Paulilo (2006, p. Figuras constantes nos enredos dos
3) para a discussão, consiste na valorização movimentos sociais rurais, como o
do trabalho dessas agricultoras, considerando cangaço, canudos, messianismo,
que: rebeliões populares, luta pela terra
(...) não ficaram registradas como
La categoria “trabajo”, sea personagens dos acontecimentos,
remunerado o no, siempre se mostro mas apenas como presenças

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anônimas ou acompanhantes. acho que muitas vezes só entendem


Portadoras de um falar, cujo som como um auxílio e não reconhecem
não era escutado como voz de saber por inteiro o trabalho na produção
ou de poder, mas de deveres dos alimentos, do cuidado com a
prescritos, por papéis bem definidos. casa, com a família e de todas as
Herdeiras de uma memória das outras atividades que as mulheres
tradições. Guardiãs dos tempos e das sempre fizeram. Eu amo o que eu
permanências. Mesmo no faço, o trabalho no campo;
movimento sindical rural, não plantando, cultivando é muito
tinham o direito a sindicalização. gratificante, não troco por nada
Eram sombras de corpos ocultados essa vida aqui para ir morar na
(FARIAS, 2003, p. 147). cidade.

O questionamento posto figura uma Ao me contar sobre o seu papel enquanto


construção do contexto histórico do espaço agricultora, ela deixa claro a preocupação
rural, da efervescência dos movimentos sobre o reconhecimento de seu trabalho na
sociais rurais, que outrora ofuscaram a propriedade familiar enquanto agricultora, e
mulher como sujeito político e participante reafirma o que já diz a literatura sobre as
na luta por direitos. Daí perpetua a ideia da atividades serem consideradas apenas como
mulher como um mero coadjuvante nas um auxílio ao trabalho realizado pelo
árduas lutas que emergiam no rural homem. Entretanto, me chamou atenção a
brasileiro. Essa luta não está somente ligada sua clara compreensão de considerar­se uma
aos movimentos sociais, mas sim no dia a dia agricultura e, acima de tudo, apresentar a
dessas mulheres. importância do seu trabalho cotidiano para a
Essa invisibilidade não fica somente retida geração de renda da família, para a sociedade
a uma história de luta no espaço rural, ela em geral.
estende­se ao cotidiano do trabalho das Há uma maior inserção das mulheres no
camponesas, nos espaços onde ela mercado de trabalho no final da década de
desenvolve suas atividades, suas diferentes 1960 e durante a década de 1970, não
formas de produção na propriedade familiar. somente nas atividades domésticas, como
Nesse sentido, a Agricultora 1 pondera elas passam a acumular novas funções e
sobre a importância do trabalho da mulher no assumir novos papéis na sociedade do
cenário rural: trabalho.
Em seus diversos estudos sobre contextos
Eu acredito muito no campo, sei da rurais brasileiros, a Cientista Social Maria
importância que nós temos para o Ignez Paulilo (1987) verificou nas famílias
consumo nas cidades. Sempre fui camponesas, a existência de categorias
agricultora, e há uns 15 anos atrás consideradas como trabalho 'leve' e trabalho
não se dava muito valor para o 'pesado'. A autora coloca que o trabalho 'leve'
trabalho e a produção de alimentos está sempre relacionado a tarefas realizadas
do pequeno produtor, quanto menos por mulheres e crianças, enquanto que o que
do trabalho das mulheres, eu vejo é considerado trabalho 'pesado' é de restrita
que as próprias pessoas da família, incumbência masculina. No entanto, ela
ou de fora também, não valorizam mostra que aquilo que é considerado trabalho
tanto o trabalho da mulher rural, “pesado” e de responsabilidade masculina em

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um lugar, pode ser considerado trabalho dominação é um sistema de exploração que


“leve” quando atribuído a mulheres e sujeita mulheres a trabalhar em más
crianças, essa compreensão geralmente condições e por salários mais baixos (DE
ocorre de forma diferenciada quando se trata GRANDI, 1999).
de regiões. Esse sistema considera duas esferas3
Na região estudada, verifica­se uma forte distintas que, por si só, são antagonistas. Esse
adesão a programas do Governo Federal para espaço doméstico, que foi atribuído à mulher
produção e comercialização dos alimentos ao longo da história ocidental, ainda possui
advindo da agricultura familiar, muitos resquícios na sociedade atual estando mais
desses, até pouco tempo, considerados “os de evidenciado quando se trata do espaço rural.
quintal”, das mulheres. Sobre isso a A correlação dessas esferas fica claro
Agricultora 1 acrescenta­nos que: quando a filósofa alemã Hannah Arendt
(1995) esclarece que:
Essa nova forma de abastecimento,
com a entrada desses programas2 O mundo público é o lugar
ajuda muito as mulheres, pois hoje privilegiado de constituição da
me sinto mais valorizada, tenho que realidade. O real é o que aparece no
participar de reuniões, trabalho com público, é o visto e ouvido por
documentação, venda, entrega de todos. A experiência comum,
todos os produtos. Além disso, compartilhada, é um critério
aprendemos a conviver na primordial para o existir das coisas.
associação, que é uma tarefa muito Mesmo a mais comum das coisas só
difícil, pois temos que superar os se torna realidade na presença de
interesses individuais. Além desses outros que vêem o que vemos e
interesses, temos que superar a ouvem o que ouvimos. Só pode ser
ideia de que, mulher não é para vir real o que é reconhecido. Para algo
nas reuniões da A.M.A, pois no aparecer na vida pública precisa ser
começo da associação, as reuniões considerado importante por quem
eram apenas para os homens. tem este poder de atribuição de
valor. Esse alguém é o próprio
Como muito bem dito pela agricultora, público que encaminha para o
desenha­se uma etapa nova para as mulheres privado aquilo que julga como
no cenário rural, as mulheres agricultoras de pouco relevante ou de interesse
Jesuíno Marcondes , por exemplo, participam individual. O mundo, como lugar de
ativamente de reuniões mensais da A. M. A e, vida humana, é público, enquanto
assim sendo, discutem questões pertinentes bem comum a todos, interpondo e
ao cultivo, organizações de eventos da reunindo homens, criando relações
comunidade, entrega das produções, banco entre eles. A vida privada carrega
de sementes, ou seja, discutem em pé de duas acepções: a de privação e de
igualdade com os homens sobre as ocultação. Viver uma vida
problemáticas que emergem na comunidade. inteiramente privada significa acima
De Grandi considera que o patriarcado de tudo ser destituído de coisas
consiste no poder de dominação masculina, essenciais à vida verdadeiramente
referência implícita e sistemática da humana (ARENDT, 1995, p. 59).
dominação sexual. Além de um sistema de

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Ao se compreender essas duas esferas sido responsabilizadas pelas 'obrigações'


como espaços de contradição, compreende­ familiares, trabalho este não remunerado,
se, também, que o público manteve­se como realizado gratuitamente para os outros
lugar de aparecer e o privado como lugar de membros da família, considerado de
ocultar. Para Farias (2001), é necessário secundária importância e, portanto, um
buscar quais são as diferenças objetivas que trabalho invisível, 'feito não para si, mas para
representam as posições diversas dos seres os outros, sempre em nome da natureza, do
humanos na ocupação desses dois espaços amor e do dever maternal'. Sobre o trabalho
sociais. Isto é muito bem evidenciado no caso das mulheres no espaço rural, a Agricultora 2
das diferenças de gênero que percebemos considera que:
entre homens e mulheres, e que ao longo do
tempo fizeram do espaço público 'lugar de O trabalho da mulher ainda é visto
homens' e do espaço privado 'espaço de por muitos como somente um
mulheres' (FARIAS, 2001). complemento, uma renda
A partir daí, pode­se esclarecer a forma de insignificante, uma obrigação
organização do espaço social na modernidade mesmo de cuidar da casa, quintal, o
ocidental, que de maneira mais clara reforçou plantio e visto como quintal mas eu
a exclusão das mulheres da vida pública e não vejo assim, eu procuro estudar,
ativou a sua plena domesticação. ler conversar com as minhas amigas
Fundamentado na força do natural e no e com os técnicos da EMATER que
biológico, atribui­se as mulheres o destino passam aqui e aprender como
normal e natural à maternidade, o cuidado e o deixar minha Hortinha melhor e que
zelo ao marido, aos filhos, aos parentes, e a produza alimentos cada vez mais.
obediência aos homens. A mulher, ao longo
dos tempos, vem sendo excluída da política As mulheres assumem papel importante
no sentido de ser colocada ausente e na garantia da segurança alimentar de seus
incompatível com esse mundo (FARIAS, grupos sociais, porém, o trabalho feminino
2001). aparece muitas vezes oculto, não apenas
As relações de gênero são sustentadas e diante das agendas das políticas públicas, de
estruturadas em nossa sociedade por uma pesquisadores e agentes de desenvolvimento
rígida divisão sexual do trabalho, onde o rural, mas também nas percepções das
trabalho masculino ainda é, na sua maioria, famílias rurais e mesmo das próprias
mais valorizado que o feminino. Os homens mulheres camponesas, cujas atividades nem
são considerados os responsáveis pelo sempre são entendidas como parte do
'sustento da família', trabalhando, portanto, processo de trabalho agrícola.
na produção e exercendo funções de elevado Nas palavras da Agricultora 2, fica claro
valor social agregado (políticas, religiosas, que as valorizações das mulheres rurais,
militares), enquanto as mulheres são nessas novas políticas, acabaram criando um
excluídas da esfera pública, cabendo a elas as espaço de participação e reconhecimento
atribuições da reprodução. para essas mulheres, gerando uma maior
Assim, num equivocado julgamento de visibilidade das nas questões que envolvem
valor social, o trabalho feminino é não só a produção como também a
considerado 'leve', 'insignificante', participação em reuniões de organização,
caracterizado como uma 'ajuda' à família. Ao comercialização de produtos, o que favorece
longo do processo histórico, as mulheres têm não somente a geração de renda na unidade

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Mulheres camponesas e os desafios do acesso às
políticas públicas para igualdade de gênero

familiar, mas também a autonomia dessas Nesse caso, a participação das mulheres
mulheres rurais. nos ambientes onde se decide essas questões
Para as agricultoras, sair de casa para que envolvem diretamente a comunidade é
frequentar reuniões, no início da década de fundamental, pois além da promoção da
1980, foi muito difícil. Até mesmo os direitos igualdade de gêneros, na participação
de herança não funcionam como a lei feminina são trazidos dados importantes do
determina, ou seja, que todos os filhos têm ambiente rural (e da comunidade), visto pelos
direitos iguais na partilha dos bens, o que se olhares femininos, ambientes estes
visualiza é que as mulheres sempre perdem desvalorizados historicamente, mas do qual
nessas relações. A propriedade da terra está esse segmento depende para sua reprodução.
muito mais ligada ao homem do que à mulher Corroborando com essa discussão, a
(PAULILO, 2003). Agricultora 1 comenta sobre as suas
A voz da Agricultora 3 mostra muito sobre atividades cotidianas, as quais considera
essa autonomia, demonstrando mudanças relevantes não somente para a família mas
importantes para as mulheres: também para sociedade de forma geral:

Antigamente eu não participava de As atividades do dia a dia que eu


nenhuma associação nem reuniões desenvolvo hoje, não são muito
sobre plantio, há mais ou menos uns diferentes das de anos atrás, a
7 anos que começamos nos diferença é que hoje a variedade de
organizar melhor, as mulheres, e alimentos que cultivamos é maior e
participar como membros da AMA o que considero mais importante é
(Associação Marcondense de que produzimos sem veneno.
Agricultores), isso facilitou muito Alimentamos escolas municipais e
nosso trabalho enquanto estaduais, APAEs e utilizamos para
agricultora, fez com que eu me o consumo próprio, além de vender
reconhecesse como uma. na feira na cidade4, a feira ainda é
Nota da pesquisadora: a fala da muito fraca, pois não temos
mulher foi interrompida por um incentivo do poder local, Prefeitura,
homem, membro da associação apenas vendemos para os
(AMA), através de um balançar de programas federais como PAA, e
cabeça, indicando uma negativa do PNAE, se tivessem mais programas
exposto e seguido de risos. como estes a renda aumentaria
bastante.
Localizar e superar limites ao acesso das
mulheres, na participação efetiva em espaços O espaço que as agricultoras utilizam para
públicos, é algo primordial quando tratamos o plantio desses alimentos é geralmente
de autonomia dessas mulheres. No relato da próximo da residência, como um quintal, que
agricultora evidencia­se um progresso dessa neste cenário é resgatado como lugar de
autonomia, justamente em discussões onde produção para autoconsumo, gerando uma
elas anteriormente não tinham acesso, dando melhoria na qualidade alimentar da família.
ênfase a importância de criação e abertura de Ao analisarmos circuitos curtos de
espaços que valorizem a mulher enquanto comercialização destes alimentos, nota­se
sujeito de sua própria história, e agente pela fala da agricultora uma potencialização
fundamental de transformação. pela política pública do PAA e PNAE. A

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políticas públicas para igualdade de gênero

partir da percepção das próprias agricultoras trabalhar no plantio do fumo, e


sobre a sua realidade, amplia­se a ideia do nessa lida, fomos convencidos a
que se considera desenvolvimento, “visibiliza investir cerca de R$ 60 mil num
como públicas questões que antes eram projeto inovador de uma estufa
consideradas do âmbito privado e valoriza elétrica de grampo para secar o
espaços e tempos das mulheres, fumo, colocamos toda nossa energia
tradicionalmente caracterizados como menos nisso, porém toda a produção
importantes” (BUTTO, 2014, p. 13). acabava por apodrecer dentro da
Sobre o processo de transformação e inovadora estufa. Sem apoio técnico
autonomia dessas mulheres, Butto (2014) prometido, endividamo­nos até os
considera que: dias de hoje. Como o uso de
agrotóxicos é intensivo no esquema
A formação como estratégia não se de plantio das indústrias fumageiras
resume às atividades assim e nosso trabalho tem que varar
denominadas mas se explicita em madrugadas por meses inteiros,
uma postura de trabalho que toda a família desenvolveu
compreende as próprias mulheres problemas de saúde, como: náuseas,
como sujeitos de transformação de vômitos, irritação, tontura,
sua realidade. Por isso, a auto­ tremedeira, desmaios e até
organização das mulheres rurais nos alucinações, ainda assim
territórios permanece não só como persistimos nessa situação por seis
garantia de romper barreiras ao longos e dolorosos anos, mas
acesso às políticas públicas, mas sempre matutando uma solução
também na sociedade e na família. alternativa para escapar dessa
As mulheres rurais vão tecendo este armadilha bem montada das
espaço de vida, de uma vida que indústrias de fumo.
vale a pena ser vivida (BUTTO,
2014, p. 13). A realidade apresentada pela agricultora
figura em uma problemática enfrentada por
Ao dialogar com a Agricultora 4, inúmeras famílias de Jesuíno Marcondes.
identificamos elementos pontuais, Como alternativas a essa forma de cultivo,
principalmente o reconhecer­se agricultora surgem os Programas do Governo Federal,
em tempos que o campo não é um lugar que acabaram favorecendo a participação da
altamente desejável e atraente para se viver. mulher nos meios de produção. Sobre esses
Ainda que muitas famílias permaneçam no programas acrescenta que:
campo, existem muitos atrativos que acabam
retirando essas famílias do espaço rural, Foi quando alguns amigos nos
migrando para cidades. Mesmo assim, a apresentaram o PAA e o PNAE,
agricultora nos relata algumas situações da trazendo uma nova esperança para
luta pela permanência no campo que de certo nós camponeses. O programa
modo, dificultaram esse caminhar de consiste basicamente no governo
agricultora: comprando alimentos de qualidade
diretamente da agricultura familiar
Nasci em família camponesa, local para serem distribuídos nas
sempre fui camponesa. Em escolas da cidade, asilos, orfanatos,
Prudentópolis começamos a

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políticas públicas para igualdade de gênero

hospitais, etc. diminuindo gastos questões da minha comunidade, por


com embalagens, fretes e logística e isso ajudei organizar com as demais
mantendo os recursos na agricultoras a 1ª Festa Local da
comunidade local. Após conhecer e Agricultura Familiar, tendo como
simpatizar com o Programa, objetivo o fortalecimento e
cadastrei­me junto a várias famílias divulgação da produção e da
esperançosas na possibilidade de cultura camponesa e discutir
aumento de renda e qualidade de alternativas sustentáveis para os
vida. Comprometi­me com a entrega colonos, falando sobre a
dos produtos de minha horta importância do resgate das
caseira, que tive que ampliar, e com Sementes Crioulas, combate aos
a entrega de macarrão caseiro, indo agrotóxicos e outros temas
entregar tudo pessoalmente nas relevantes para nossa realidade e
escolas da região. Produzimos hoje para o planeta. Nós mulheres
verduras como alface, beterraba, fizemos a articulação e tivemos o
couve­flor, salsinha, repolho e ainda apoio que tivemos do MDA/SAF –
nos organizamos enquanto Ministério do Desenvolvimento
comunidade para fornecer as frutas Agrário, Governo do Estado através
para as escolas e entidades da Secretaria do Meio Ambiente e
cadastradas (Agricultora 4). Recursos Hídricos, ING­Instituto os
Guardiões da Natureza, EMATER,
Essas atividades geram autonomia às CRESOL, Prefeitura Municipal de
mulheres rurais, constituindo­se em Prudentópolis dentre outros, em
estratégias dessa política pública. Se em nossa festa contamos também com a
algum momento discutia­se e necessitava presença de várias autoridades
relevar “quem eram, como viviam, e o que como o Juiz de nossa comarca,
produziam, as mulheres rurais” (BUTTO, Promotora de Justiça,
2014, p. 38), atualmente, a melhoria das representantes da SEED,
estatísticas que tem a característica sob a DAS/DIBAP/IAP, SEAB, SESA,
perspectiva de gênero contribui para indicar TECPAR, entre outros. Como
cenários e tendências para a atuação dessas tivemos uma ótima participação da
políticas públicas, possibilitando, cada dia comunidade, pretendemos tornar
mais a forma de viver e produzir das este evento reconhecido
mulheres no meio rural. regionalmente.
Para muito além das atividades cotidianas
dessas mulheres, ganham destaque a
participação em atividades que envolvem As mulheres rurais participam desses
toda a comunidade em busca de eventos (reuniões, seminários, oficinas de
conhecimentos para melhoria da qualidade trabalho) e dos próprios Conselhos, em
do alimento produzido, comercialização, número muito menor que os homens e, via de
alternativas de plantio. Para a Agricultora 4: regra, quando se envolvem em alguma
atividade concreta, o fazem especificamente
Além de minhas atividades nos temas ditos 'sociais' (tais como saúde e
cotidianas de produção, procuro educação) e em intensidade muito menor, nas
envolver­me com as grandes atividades ditas 'econômicas' (ligadas com a

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políticas públicas para igualdade de gênero

produção agrícola ou pecuária, e com a passou a balizar as políticas públicas


comercialização dos produtos). Neste último para este grupo social. Não raro, o
caso, sua inserção também se dá em Brasil é destacado por organizações
atividades bem segmentadas, como a internacionais multilaterais pela
transformação de produtos (agroindústrias estrutura política e institucional que
caseiras), serviços (turismo rural) ou construiu ao longo dos anos para a
atividades hortícolas (SILIPRANDI, 2009). agricultura familiar, cujos formatos,
objetivos e políticas têm sido
Políticas Públicas para a Agricultura "exportados" para outros países
Familiar na Perspectiva de Gênero (SCHNEIDER; GRIZA, 2014 p. 2).

Historicamente, a agricultura familiar ou Algumas mudanças ocorrem no cenário


'os pequenos agricultores' – como eram das políticas públicas, como em 2003, a
denominados até cerca de duas décadas atrás implementação do Programa de Aquisição de
– e atualmente agricultores familiares, Alimentos – PAA, coordenado nacionalmente
sempre estiveram às margens das ações do pela Companhia Nacional de Abastecimento­
Estado brasileiro. A partir do processo de CONAB. O PAA, considerado como uma das
democratização do Brasil, que iniciou na principais ações estruturantes do Programa
década de 1980 e teve seu auge com a Fome Zero, constitui um mecanismo
promulgação da Constituição Federal em complementar ao Programa Nacional de
1988, tornou­se evidente uma mudança na Agricultura Familiar – PRONAF, uma vez
agenda das políticas públicas direcionadas ao que garante a compra de parte da produção
meio rural. Para o pesquisador Sergio da agricultura familiar (JUNQUEIRA;
Schneider, iniciando uma nova trajetória para LIMA, 2008).
a categoria social: Esses programas abarcaram as políticas na
perspectiva de gênero em seus eixos de
A Constituição de 1988 incitou discussão, dando ênfase ao trabalho da
novos espaços de participação social mulher agricultora. Como a constituição de
e reconheceu direitos; a criação do 1988 trouxe benefícios aos trabalhadores e o
Programa Nacional de direcionamento das políticas públicas, sob o
Fortalecimento da Agricultura impacto da democratização e da luta de
(Pronaf) em 1995 desencadeou a movimentos feministas e de movimentos de
emergência de outras políticas mulheres, desde os anos 1980, visualiza­se
diferenciadas de desenvolvimento no Brasil, um processo gradual de
rural; a criação do Ministério do incorporação da problemática das
Desenvolvimento Agrário (MDA) desigualdades de gênero pela agenda
em 1999, e da Secretaria da governamental. Com a crescente importância
Agricultura Familiar (SAF) no dos governos municipais, a partir da
interior deste em 2001, Constituição de 1988, a redução das
institucionalizaram a dualidade da desigualdades de gênero passou também a
estrutura agrária e fundiária no País; fazer parte da agenda dos governos locais
e em 2006, foi regulamentada a Lei (FARAH, 2003).
da Agricultura Familiar que
reconheceu a categoria social, As mudanças no Estado brasileiro
definiu sua estrutura conceitual e que desde então vêm se processando

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políticas públicas para igualdade de gênero

tiveram como referência uma direcionadas para igualdade de gênero. As


agenda de reforma, construída com a orientações e trabalhos técnicos não possuem
participação de diversos atores a em seu foco de trabalho a mulher agricultora,
partir dos anos 70. Na evolução apenas generalizam a categoria agricultores
dessa agenda de reforma, podem ser familiares, não protagonizando o trabalho da
identificados dois momentos mulher nas diversas comunidades no estado.
principais. Em um primeiro Compreende­se, enquanto pesquisadora,
momento, enfatizou­se a que mesmo a EMATER­PR tendo em seu
democratização dos processos plano de trabalho, a nível estadual, ações que
decisórios e dos resultados das envolvem a temática gênero, essas ações não
políticas públicas, reivindicando­se vêm ocorrendo de forma articulada em todo
a ampliação do leque de atores estado.
envolvidos nas decisões e, ao Para a Agricultora 4, o trabalho da equipe
mesmo tempo, a inclusão de novos técnica especializada de Instituições como
segmentos da população brasileira EMATER­PR, com as mulheres agricultoras
entre os beneficiários das políticas seria de fundamental importância para as
públicas. As propostas priorizadas atividades de formação, organização,
foram a descentralização e a diversidade na produção agrícola. Terezinha
participação da sociedade civil na abre um parêntese e nos coloca:
formulação e na implementação das
políticas públicas. (FARAH, 2004, Precisamos de alguém que olhe
p. 49 ­ 50) para nós enquanto mulheres
agricultoras, que produzem
A incorporação da perspectiva de gênero alimentos, sejam eles do próprio
por políticas públicas é, ainda hoje, um tema plantio como hortaliças, cultivo de
pouco explorado. Entretanto, sinalizar para frutas, até produção de pães,
alguns avanços é de primordial importância geleias, produtos artesanais, e que
para este trabalho. O primeiro passo, do valorizem e reconheçam a mulher
reconhecimento da importância de inserir na enquanto agricultora.
agenda de políticas públicas as discussões de
gênero, é um avanço significativo nos Na comunidade de Jesuíno Marcondes, a
últimos anos. mulher parece ter controle sobre a
Segundo dados do departamento de biodiversidade do ambiente e possui
Desenvolvimento Social/Inclusão Social da conhecimento sobre a importância da
EMATER­PR, não existe um programa conservação da natureza. Sua atividade se
estruturado especificamente para ações em desenvolve sobre uma exploração agrícola
gênero, mas, incentivo a realização de ações familiar, no quadro de uma agricultura de
voltadas às mulheres rurais, visando incluí­ casal, o que acaba favorecendo a confusão
las em projetos produtivos, organizações dos papéis sociais, profissionais e familiares
rurais (associações, cooperativas, sindicatos, e induz à concepção do papel da mulher na
conselhos) e acesso às políticas públicas agricultura, sendo definido muito mais como
(EMATER, 2015). um modo de vida que como uma profissão.
Portando, o que se visualiza nas ações Ser agricultora não se resume a exercer
configura­se como ações fragmentadas, e não uma profissão na agricultura, mas “exige que
como um projeto unânime com ações se leve em conta outros parâmetros que

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políticas públicas para igualdade de gênero

interferem sobre a representação que as fundamental, pois, além da promoção da


agricultoras constroem delas mesmas, pois igualdade de gêneros na participação
ser agricultora é também ser esposa, mãe, feminina, são trazidos dados importantes do
mulher e rural” (STROPASOLAS, 2006, p. ambiente rural (e da comunidade), visto pelos
152). olhares femininos, ambientes estes
Em Jesuíno Marcondes, o rol de desvalorizados historicamente, mas, do qual
atividades agrícolas desenvolvidas pelas esse segmento depende para sua reprodução.
mulheres é rentável para o grupo familiar e,
geralmente, são as mulheres que preocupam­ Considerações Finais
se com o cultivo de hortaliças fornecidas ao
Programa Nacional de Alimentação Escolar Numa perspectiva da teoria feminista, o
(PNAE), produzindo alimento que abastece processo de empoderamento das mulheres
as escolas públicas municipais e estaduais do rurais deve ser visto como algo conquistado
município. coletivamente e que, a partir da incorporação
Práticas produtivas que abarcam a desses sujeitos, passa a ser significado
manifestação das mulheres agricultoras e dão individualmente. O empoderamento parte da
espaço a elas, parecem se anunciar como compreensão das estruturas sociais de
importantes no âmbito da reflexão sobre as opressão e de poder; e, só a partir de uma
novas ruralidades e o desafio está então em ação coletiva, é capaz de ser questionado.
aprender com elas, conhecendo o papel que Para as agricultoras de Jesuíno
estão desempenhando, bem como as formas Marcondes, a partir da inserção dessas novas
que arranjam para estimular e Políticas Públicas para a agricultura familiar,
institucionalizar esse movimento (KARAM, visualiza­se uma nova alternativa de renda
2004). para a comunidade, e juntamente com isso
As mulheres agricultoras de Jesuíno uma certa autonomia para a mulher
Marcondes participam ativamente de desenvolver tanto atividades agrícolas como
reuniões mensais da A.M.A (Associação as não agrícolas, que caracterizam a
Marcondense de Agricultores) e, dessa pluriatividade.
forma, discutem questões pertinentes ao Os avanços em programas para agricultura
cultivo, organizações de eventos da familiar favorecem, de forma fragmentada, a
comunidade, entrega das produções, banco totalidade das políticas públicas de gênero.
de sementes, ou seja, discutem em igualdade Entretanto, essas políticas ainda não estão
com os homens sobre as problemáticas que articuladas com o conceito de gênero e nota­
emergem na comunidade. se uma maior fragilidade, no caso paranaense
Percebe­se que a criação desses novos em assistência técnica de extensão rural
programas gerou uma maior visibilidade das especializada com essa perspectiva de
mulheres nas questões que envolvem não só gênero. Os avanços nesses programas,
a produção como também a participação em considerados secundários, apontam para uma
reuniões de organização, comercialização de maior visibilidade das mulheres no cenário
produtos, o que favorece a geração de renda rural, mas, isso se mostra ainda de forma
na unidade familiar e também a autonomia muito desestruturada. O Brasil, portanto,
dessas mulheres rurais. carece de uma política pública com a
Nesse caso, a participação das mulheres interface com gênero para o cenário da
nos ambientes onde se decide essas questões agricultura familiar.
que envolvem diretamente a comunidade é

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Mulheres camponesas e os desafios do acesso às
políticas públicas para igualdade de gênero

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em Sociologia da UFRGS. Coordenador do PPG em
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CNPq (Bolsa Produtividade em Pesquisa). BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo: A
experiência vivida. Rio de Janeiro: Nova
2 Os programas que a agricultora refere­se são Fronteira, 1980.
o PNAE (Programa Nacional de Alimentação
Escolar), instituído pela Lei nº 11.947/2009, prevê o
uso de no mínimo 30% dos recursos repassados pelo
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mesmo tempo, fortalecer a agricultura familiar. Para na comercialização em feiras no sudoeste
isso, o programa utiliza mecanismos de paranaense. 2005. Dissertação (Programa de
comercialização que favorecem a aquisição direta de Pós­Graduação em Agroecossistemas) –
produtos de agricultores familiares ou de suas
organizações, estimulando os processos de agregação
Universidade Federal de Santa Catarina,
de valor à produção (BRASIL, [s.a]). Florianópolis.
3 A esfera pública (masculina) focada no BUTLER, Judith. Variações sobre sexo e
social, político e econômico­mercantil, amparada em gênero: Beauvoir, Wittig e Foucault. In:
critérios de êxito, poder, direitos de liberdade e
propriedade universais, e relacionada
BENHABID, Seyla; CORNELL, Drucila
fundamentalmente com a satisfação do componente (Orgs.). Feminismo como crítica da
mais objetivo (o único reconhecido) das necessidades modernidade. Rio de Janeiro: Rosa dos
humanas. Por outro lado, a esfera privada ou Tempos, 1987, p. 139 ­ 154.
doméstica (feminina) focada no lar, baseada em laços
afetivos e sentimentos, desprovida de qualquer ideia
de participação social, política ou produtiva e
BUTTO. Andréia. Mulheres rurais e
relacionada diretamente com as necessidades autonomia : formação e articulação para
subjetivas (sempre esquecidas) das pessoas efetivar políticas públicas nos Territórios
(CARRASCO, 2003). da Cidadania / Nalu Faria, Karla Hora,
Conceição Dantas, Miriam Nobre, orgs.
4 A Feira que a Agricultora refere­se é
Brasília : Ministério do Desenvolvimento
organizada aos sábados pela manhã, na praça Firmo Agrário, 2014. 132 p.
Mendes de Queiroz, na cidade de Prudentópolis, que
reúne produtores rurais de todo município. Ainda não CARRASCO, Cristina. A sustentabilidade da
existe articulação entre esfera pública (municipal) nem vida humana: um assunto de mulheres? In:
tampouco investimento por parte do município para
realização da Feira. Os custos são totalmente ao
NOBRE, Miriam; FARIA, Nalu. A Produção
Agricultor. Nos dois últimos meses, iniciou­se uma do Viver: Ensaios de Economia Feminista.
tentativa de ceder um local mais amplo para a feira, São Paulo: SOF, 2003, p.
que é a Casa da Cultura, essa iniciativa, mesmo que
discreta, agradou os Agricultores e Agricultoras do COSTA, Ana Alice Alcântara. O movimento
município.
feminista no Brasil: dinâmicas de uma

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Recebido em 16 de julho de 2015.


Aceito em 05 de outubro de 2015.

Caroline Becher e Jó Klanovicz


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Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 7, n. 2, p. 159 - 177, ago. / dez. 2016.

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