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RAIMUNDO
ESPECIAL
AS PALAVRAS QUE
CARRERO
RETOMA SUA
OFICINA
FORMAMOS E QUE
LITERÁRIA E
INVESTIGA AS
NOS FORMAM
INVENÇÕES
DO MESTRE
FLAUBERT
GALERIA
PR ISCI L L A BU H R
“Fotografar para o Instagram é a minha brincadeira favorita. É leve, é solto, é uma delícia.
Fotografo as coisas que meus olhos gostam de ver e sentir... Me sinto uma fotografa amadora,
amadorizo mesmo, no sentido de amor, com o iPhone na mão. Sair por ai clicando sem ser
percebida, sem ter escrito na minha testa ‘sou fotógrafa’, ser mais uma no meio da multidadão de
fotógrafos de celular é muito divertido. Essa liberdade me instiga!” @pribuhr
O ano termina com uma boa notícia para Curitiba? O silêncio, a distância, a solidão, a SUPERINTENDENTE DE CRIAÇÃO
os leitores do Pernambuco: após enfrentar introspecção - ou seja, as ausências! Wilson Luiz Arrais
problemas de saúde devido a um AVC, em Bueno dizia que Curitiba é uma ‘cidade de GOVERNO DO ESTADO EDIÇÃO
outubro de 2010, Raimundo Carrero re- escritores’. Como ele, acredito que Curitiba DE PERNAMBUCO Raimundo Carrero e Schneider Carpeggiani
toma este mês sua coluna sobre a arte da tem um temperamento propício à literatura.
Governador REDAÇÃO
ficção. O retorno não poderia ser melhor: Sou um carioca apaixonado”.
Eduardo Campos Mariza Pontes e Marco Polo
ele analisa os diálogos de um romance a Para encerrar o ano trazemos para o leitor
partir do ponto de vista de Flaubert. E avi- uma matéria especial sobre o que “significa” ARTE, FOTOGRAFIA E REVISÃO
sa: as próximas colunas serão dedicadas a uma palavra, em todas as suas possibilida- Secretário da Casa Civil Gilson Oliveira, Janio Santos, Karina Freitas,
investigar as inovações que o francês trouxe des – religiosa, filosófica, literária, a palavra Francisco Tadeu Barbosa de Alencar Militão Marques e Sebastião Corrêa
para o moderno romance. “Vou analisar em de rua, a palavra que se perde com o tempo.
PRODUÇÃO GRÁFICA
janeiro Educação sentimental, que é uma das Para isso, contamos com uma equipe for- COMPANHIA EDITORA Eliseu Souza, Joselma Firmino, Júlio Gonçalves, Roberto
minha obras favoritas”, adianta. mada pela repórter Isabelle Barros, pelo DE PERNAMBUCO – CEPE Bandeira e Sóstenes Fernandes
Carrero faz uma dobradinha este mês mestre em filosofia Eduardo César Maia, Presidente
e conversa com José Castello sobre o ro- pela parceria da designer Karina Freitas e MARKETING E PUBLICIDADE
Leda Alves Alexandre Monteiro, Armando Lemos e Rosana Galvão
mance Ribamar, um dos mais premiados pelo fotógrafo Ricardo Moura, que saíram à Diretor de Produção e Edição
deste ano. Castello, inclusive, faz uma ob- procura da melhor forma de ilustrar o tema. Ricardo Melo COMERCIAL E CIRCULAÇÃO
servação curiosa sobre ser um carioca na Ainda nesta edição, o escritor e jornalista Gilberto Silva
Diretor Administrativo e Financeiro
fria e introspectiva Curitiba: “Sigo a lição Ronaldo Bressane perfila o retorno aos
Bráulio Meneses
de Cristóvão Tezza: vivo em Curitiba como quadrinhos de Luiz Gê, um dos mestres da
se não vivesse em Curitiba. Aliás: é assim HQ brasileira nos anos 1980, e Paulo César
que se vive em Curitiba! É uma cidade Souza explica o trabalho de traduzir Assim CONSELHO EDITORIAL
introvertida, fechada, desconfiada, uma falou Zaratustra em meio à tradução da obra Everardo Norões (presidente) PERNAMBUCO é uma publicação da
cidade - mesmo com mais de dois milhões completa de Freud, que tem realizado para Antônio Portela Companhia Editora de Pernambuco – CEPE
Rua Coelho Leite, 530 – Santo Amaro – Recife
de habitantes - cheia de solitários. a Cia. das Letras. Lourival Holanda CEP: 50100-140
Gosto muito de viver em Curitiba, aprendi Nelly Medeiros de Carvalho Contatos com a Redação
a amar essa cidade. Mas o que mais amo em É isso, boa leitura e boas festas. Pedro Américo de Farias 3183.2787 | redacao@suplementope.com.br
BASTIDORES
Um Zaratustra
JANIO SANTOS
em meio a um
Freud e outro
Organizador do lançamento
da obra do pai da psicanálise,
que a Companhia das Letras
tem realizado, fala do desafio
de traduzir um dos livros
mais famosos de Nietzsche
Paulo César de Souza pelo fato de que estava me dando conta da musica-
lidade das palavras impressas e de como produzi-la
– ou seja, estava me descobrindo como prosador.
“Dá pra você encaixar o Zaratustra entre um Freud e Embora já tivesse redigido uma tese de mestrado em
outro nos próximos anos?”, perguntou-me o editor da história que, segundo dizem, é bem escrita (sobre a
Companhia das Letras antes de saírem os primeiros revolta da Sabinada, ocorrida em Salvador em 1836),
volumes da coleção de Freud. Eu já havia traduzido eu ainda vivia em “estado de inocência estilística”
dez obras de Nietzsche, mas pensava em deixar Assim (na expressão do próprio Nietzsche).
falou Zaratustra para o final, por já existir em português Também foi menos trabalhosa no conjunto, porque
uma tradução – a de Mário da Silva, publicada nos o estilo de Zaratustra é bem diverso do das outras obras
anos 1970 – que me parecia recomendável. Ao iniciar de Nietzsche. Eu sou um trabalhador lento; uma pági-
a coleção de obras de Nietzsche, 20 anos atrás, meu na me toma algumas horas, porque acho que é preciso
CARTUNS objetivo era traduzir todos os textos que ele mesmo
publicou enquanto vivia — era e continua sendo (ou
tratar cada linha como se fosse um verso de poema.
Não faço uma primeira versão que depois é revista e
RAFAEL SICA
HTTP://RAFAELSICA.ZIP.NET/
seja, não pretendo incluir os chamados “fragmentos esmerilhada, como fazem outros (excelentes) tradu-
póstumos”). Além do Zaratustra, faltavam apenas O nas- tores. Leio a frase original, vejo como ela é vertida em
cimento da tragédia e as quatro Considerações extemporâneas, várias traduções do livro em outras línguas, consulto
quando ouvi a solicitação do editor. dicionários, fico cismando, matutando e jogando com
Ele argumentou que era um pedido dos leitores, a ordem dos termos na cabeça, e por fim digito a frase
que chegava tanto através do pessoal de vendas no teclado. Ela demora a aparecer na tela, mas quase
como, por e-mails, diretamente ao departamento não haverá alteração depois.
editorial. Nunca me preocupei muito com as vendas A prosa de Zaratustra é feita de períodos mais curtos
(talvez por elas serem boas...), mas é impossível que a dos outros livros do autor, com menos orações
não levar em conta os anseios dos leitores, ainda subordinadas e frequente repetição de termos. Os
mais porque eu próprio já os havia escutado, em parágrafos costumam ser breves, e são numerosos
encontros casuais e em palestras. os capítulos: 80 no total. Publicado em quatro partes,
Experimentei traduzir o prólogo de Zaratustra já em entre 1883 e 1885, o livro é uma peculiar mistura
2009, fiquei entusiasmado e concluí a primeira das de narrativa poética, reflexão filosófica e indagação
quatro partes no início de 2010. Depois de publicados religiosa, contendo os discursos e aventuras do
os três volumes inaugurais da obras completas de mítico profeta Zaratustra. Numerosas ideias encon-
Freud, retomei o Nietzsche e, excetuando os intervalos tradas em outros textos de Nietzsche reaparecem ali
para acompanhar a preparação de mais três volumes numa linguagem transfigurada, mas são claramente
de Freud, prossegui o trabalho até concluí-lo, em reconhecíveis. É uma prosa meio encantatória, que
agosto deste ano (a publicação de seis volumes de visa tanto seduzir quanto esclarecer.
Freud em pouco mais de um ano só foi possível porque Já o estilo das outras obras é sobretudo reflexivo, feito
eu já os vinha traduzindo há muito tempo; costumava de longos períodos em que se criam ondas ou arcos
alternar um ano com Nietzsche e outro com Freud, de tensão. Nos dois casos há um emprego abundante
sendo que guardava as traduções deste para quando de recursos que normalmente associamos à poesia,
os direitos caíssem em domínio público). como aliterações, metáforas, rimas, jogos de palavras,
Traduzir Zaratustra acabou por ser uma experiência emprego que é apenas mais explicitado no Zaratustra.
mais prazerosa – e menos trabalhosa – do que a que Oferecendo essa nova tradução aos leitores bra-
tive com a maioria dos outros volumes de Nietzsche. sileiros, tenho a esperança de que ela seja acolhida
A tradução que me deu o maior prazer foi a primeira com a mesma benevolência com que receberam
de todas, a de Ecce homo, seu ensaio autobiográfico (foi as anteriores.
também minha primeira tradução do alemão, tendo
aparecido no final de 1985). Lembro-me que às vezes, A nova edição de Assim falou Zaratustra é lançada
à noite, relia em voz o que havia feito durante o dia, na primeira quinzena de dezembro. Até o fechamento
comovido com a intensidade e a beleza das frases. da edição a editora ainda não tinha definido a arte
Nunca mais tive o mesmo prazer em traduzir, talvez da capa e o preço da obra.
QUADRINHOS
particular
cartão postal
Autor retoma o HQ e
relança o seu clássico álbum
Avenida Paulista de 1991
Ronaldo Bressane
Cercado por aviões, navios, livros, discos e gatos, relançada pela Companhia das Letras – Gê rees-
Luiz Gê está feliz: desenha. Parece um meninão que creveu a maioria dos textos, incluiu duas páginas
se diverte entre seus brinquedos – bem, está dese- de desenhos e um prefácio. É seu primeiro grande
nhando um trenzinho. Não qualquer trenzinho: é lançamento em muitos anos. Por que demorou
um trem tarado, prestes a passar por cima de uma tanto para voltar ao ambiente em que, dizem, é
linda garota presa aos dormentes. É o quadrinho um dos mais geniais do país?
final de Eu quero ser uma locomotiva, história de 1984 Como poucos, Gê dominou todos os espaços da
sobre um maquinista obcecado por sexo. Feito comunicação visual. Fundou no começo dos anos
em dez minutos com a reles caneta do repórter, 1970 a revista de quadrinhos Balão, foi editor da
o desenho sugere que, aos 60 anos, Gê conserva masculina Status e da Circo, esta ao lado de Laerte
a mão segura – e safada. Revela: está de volta aos – dos grandes êxitos do cartum nacional, vendia
quadrinhos. E mais: de volta ao passado. Em um 40 mil exemplares mensais. Em seguida vieram os
momento suspenso, como o quadrinho em que o álbuns Macambúzios e sorumbáticos e Quadrinhos em fúria.
trem se encontra a um apito de triturar a mocinha. Ligou-se à vanguarda paulistana – movimento
Luiz Gê retorna à praça com um álbum lançado liderado por Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção
em dezembro de 1991, Avenida Paulista. A primeira – ao desenhar as HQs que inspiraram os melhores
versão foi publicada na extinta Revista Goodyear, uma álbuns de Arrigo: Clara Crocodilo e Tubarões voadores.
das melhores customizadas do país, celeiro de cra- Depois da Paulista publicou a antologia Território de
ques como Humberto Werneck e Ruy Castro. Para bravos (1993) e trabalhos que expandiram as qua-
a edição especial de dezembro, a editora Rosangela tro linhas: a concepção de O homem dos crocodilos
Petta teve a ideia: e se encomendassem a Luiz Gê e a direção de Até que se apaguem os avisos luminosos,
uma história sobre a Paulista, que completava óperas do parceiro Arrigo. Gê foi roteirista do TV
100 anos? Formado em arquitetura pela FAU/USP, Colosso, programa infantil da Globo, do longa Cidade
obcecado pela história de São Paulo, Gê topou e oculta, de Chico Botelho, desenhou a animação
mostrou uma gigantesca pesquisa sobre o tema. Santos-Dumont e adaptou o romance O Guarani à
Em uma aposta ousada, a redação decidiu que a HQ – uma obra plural que ganhou abordagem
HQ ocuparia quase todo o especial. semiótica em Análise textual da história em quadrinhos,
Gê alugou um estúdio para o job (“que, em época de Antonio Pietroforte.
de Plano Collor, foi muito bem pago e me sal- “Hal Foster, Winsor McCay, Hergé, Robert
vou”, lembra), contratou três assistentes e em Crumb e Moebius”, responde Gê sobre os cinco
três meses intensos produziu as 66 assombrosas grandes quadrinistas do século. São inspirações:
páginas intituladas Fragmentos completos. Um sucesso: de Foster (O Príncipe Valente), vem o apelo à ação;
“A revista recebeu 30 mil pedidos”, recorda. Há de McCay (Little Nemo), a fantasia lúdica; de Hergé
20 anos disputadíssima em sebos, a HQ é agora (Tintin), o aventuresco; de Crumb, a voz irônica
REPRODUÇÃO
A graphic novel
é relançada pela
Companhia das
Letras. Ao lado,
imagem da
edição original do
clássico de Gê
e o olhar urbano; de Moebius, a exploração da O último casarão interessante é da década de 1910,
ENTREVISTA
José Castello
É natural que o bom leitor, ou leitor sistemático, A partir desses exemplos você pode criar seus pró-
queira ser escritor. Nada mais normal. No entanto, prios caminhos, sem a necessidade de imitar. Isso tudo
quem quer escrever precisa aprender primeiro a não deve significar um caminho único; tente variações
pensar. Precisa definir o que quer com a obra. Es- que você vai estabelecer seu projeto de criação.
quecer toda vaidade. Será julgado pela crítica sempre Nunca esqueça que Aristóteles viu no persona-
de acordo com os resultados estéticos e o resultado gem a metáfora em ação. Você criará até se decidir
estético depende de sua maneira de ver o mundo. pelo melhor, observando, ainda, que uma página
Não existe forma/estética sem conteúdo, ponto de deve ter de quatro a cinco parágrafos de cinco li-
vista ou visão do mundo. Tudo isso responde a al- nhas, para deixar o leitor mais à vontade; uma
gumas simples perguntas: o que é que vou escrever? página com um só ou dois parágrafos de 10 linhas,
Como escrever sem saber o que vou dizer? Eu só sei cada, pode causar ansiedade no leitor. Desde que
o que vou dizer, se tiver um ponto de vista. Isso não não seja por motivo técnico.
significa que você vai escrever discursos ideológicos, Quanto ao diálogo, optará pelo diálogo interno ou
político, sermões religiosos, teses econômicas, ou até pelo discurso indireto livre . Se se tratar de uma
coisas parecidas. Aliás, tudo isso será transformado narrativa aberta, observe que o diálogo tradicional
em forma. Quem, por fim, realiza a sua obra é a – marcado por um travessão de acordo com a fala
técnica – os elementos internos da obra, que você ou com mudanças de fala – será mais aconselhável
vai escolher ou definir. até pela distribuição das palavras na página, com
Mas lembre-se, seja qual for o seu ponto de vista, espaço aberto entre as falas.
é preciso começar uma obra ficcional – romance, O que é um diálogo interno? É quando o autor não
conto ou novela – sempre com um cena em ângulo usa travessões, nem aspas, nem verbos dicendi. Este
Raimundo
aberto, o que transformará sua ideia em técnica. A tipo de diálogo aparece dentro da narrativa, e deve ser
cena significa movimento, o que, em geral, provoca o usado, por exemplo, no caso dos textos intimistas.
CARRERO
interesse do leitor. Lembre-se, por exemplo, da cena Você estava lá? Não devia ter ido, não devia ter saído. Não
de abertura de Madame Bovary. Quando o romance podia ir embora. A surpresa ficou na boca. Assim, suspensa.
começa,os alunos estão sentados, sonolentos, abrin- Toda surpresa é suspensa? Nem devia haver, uma surpresa. O
do a boca, silenciosos. Aí entra o tutor conduzindo olho aceso ali, espiando. Coisa incrível a surpresa. E os olhos
uma carteira e, ao lado, um rapaz, que chama a mirando, mirando muito bem. (Trecho do meu livro Seria
atenção até pelo boné exótico. O professor decide uma sombria noite secreta).
perguntar seu nome e ele, supertímido, solta um gru- Qualquer leitor mediano percebe que existe aí
nhido que nada quer dizer: - charlesbovarrrrrrrrrrrr- um diálogo. Basta verificar o ritmo. E o ritmo é
ry, e repete: Carlesbovarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrry. O fundamental em qualquer narrativa, sobretudo,
professor pede então que ele se levante. Na verdade, por causa das perguntas e das respostas. Aí não há
ele se levanta, e o chapéu exótico, ridículo, cai no a poluição das aspas nem os espaços abertos por
chão e é chutado pelos colegas. Depois de todo esse causa dos travessões. A narrativa continua íntegra,
Não se acanhe:
embaraço volta a se sentar. intima, interior. Por esta razão é que funciona me-
Neste momento, Flaubert apresenta o personagem, lhor numa narrativa intimista.
mostra como ele se comporta e deixa claro que tipo No texto aberto, solto, para narrativas sociais,
de personagem tratará no transcorrer do romance. políticas, históricas, documentais, jornalísticas,
Ou seja, é Charles Bovary, o futuro marido de Ema como já se disse, é aconselhável o diálogo aberto:
ficção é lugar
Bovary. E mostrará, ao invés de dizer, que se trata - Você estava lá?
de um homem fraco, sem reações, que se deixa - Não devia ter ido, não devia ter saído. Não podia ir embora.
levar pelos outros. Basta pensar nisso para entender - A surpresa ficou na boca. Assim, suspensa. Toda surpresa
a diferença entre técnica e conteúdo. é suspensa?
para conversa
Na época de Madame Bovary era comum se escrever - Nem devia haver, uma surpresa.
assim: “Na cidade de Ruen vivia um médico tímido, - O olho aceso ali, espiando.
fraco e trapalhão, tímido e incompetente chamado - Coisa incrível, a surpresa.
Charles Bovary. Ele estudou na escola X, onde era E os olhos mirando, mirando muito bem. (Trecho do meu
motivo de brincadeiras. Foi criado somente pela mãe, romance Seria uma sombria noite secreta).
porque o pai morreu cedo.” E as aspas? Como ficam as aspas nesta história?
O leitor perceberá, mais tarde, que o primeiro en- É preciso ressaltar, todavia, que o escritor, desde
Aprenda, este mês, as contro dele com Emma se dá em meio a uma pequena
confusão – que quase repete a primeira apresentação,
o princípio, deve entregar seu ponto de vista a um
narrador em terceira pessoa, em primeira pessoa,
LANÇAMENTO
Marco Maria Gabriela Llansol tem suas obras lançadas pela
Polo editora Autêntica, pela primeira vez no Brasil
A editora Autêntica inicia o juntos numa caixa. Os livros
lançamento da obra de Maria vêm apresentados por Arnaldo
Gabriela Llansol (foto), uma Antunes, Lucia Castello Branco
estranha (e desconhecida no e Alice Ruiz, que ressaltam o
Brasil) escritora portuguesa, para caráter labiríntico e fragmentário
quem “tudo é simultâneo e tem da escrita de Llansol, bem como
as mesmas raízes, escrever é o sua originalidade. Fazer da
duplo de viver”. As primeiras vida a palavra, fazer da palavra
CRITÉRIOS PARA
RECEBIMENTO E APRECIAÇÃO
DE ORIGINAIS PELO
JANIO SANTOS
CONSELHO EDITORIAL
I Os originais de livros submetidos à Cepe,
exceto aqueles que a Diretoria considera
projetos da própria Editora, são analisados
pelo Conselho Editorial, que delibera a partir
dos seguintes critérios:
CAPA
CAPA
Para a Cabala,
Deus teria 72
“nomes”, que
são sequências
de três letras,
liberando energias
espirituais
A relação entre religião e palavra desce a mi-
núcias delicadas quando se chega ao Islamismo.
Os muçulmanos acreditam que o idioma árabe foi
revelado ao profeta Maomé, ao longo de 23 anos,
no livro sagrado da religião, o Alcorão. “A oração é
feita apenas para Deus, sem intermediários. Então,
no mundo inteiro, o seguidor do Islã é obrigado a
ler e escrever o árabe para praticar a religião como
se deve. Uma oração recitada em outro idioma não
tem valor”, explica o sheik Mabrouk El Sawy Said,
do Centro Islâmico do Recife.
Para os seguidores do Islamismo, o Alcorão é uma
instituição, pois tem uma ação sobre espectros am-
plos de sua vida, com ensinamentos sobre dogma,
moral e leis. Foi feito para ser recitado e memorizado.
“É por isso que não há comparação possível entre o
Alcorão e a Bíblia”, lembra Said. Mas, por terem um
patriarca comum – Abraão – e por apresentarem es-
crituras sagradas, os cristãos, assim como os judeus,
são conhecidos pelos muçulmanos como “Povos do
Livro”. Para os islâmicos, o Alcorão é tão importante os aspectos não existe. Por que exigir a perfeição mesmo tempo, usa o verbo como instrumento de
que a tradução dele para outros idiomas é entendida só dos tradutores? Toda prática humana é falha, concórdia”, aponta Jarouche.
como uma pálida representação do sentido do livro embora sempre almeje a perfeição. A tradução não Gonçalo M. Tavares diz que a maior riqueza da
original. “Há oito versões do Alcorão para o portu- é melhor nem pior que as outras”. linguagem é inventar mundos paralelos por meio
guês, mas nenhuma delas é sagrada. Como foram A palavra, de acordo com Jarouche, também é da ficção. “Quando eu digo ‘ontem vi um elefante
feitas por mãos humanas, não são a tradução exata capaz de criar outros tipos de ponte, não apenas voar por cima da igreja’, eu crio um universo ima-
da palavra de Allah”, diz o sheik Said. entre um idioma e outro, mas entre a humanidade ginário, impossível fisicamente, e isso mostra que é
e a barbárie. “Nas grandes cidades, quase sempre os possível se abrir a um mundo que não vemos. Falar
PALAVRA HUMANA, DEMASIADO HUMANA ladrões dizem ‘não fale’, pois a palavra cria vínculos essa frase, a princípio, é um absurdo, mas é o que
É antigo o uso do adágio “tradutor, traidor” para entre as pessoas. Se torna complicado você tentar nos diferencia dos animais. Quem não gosta da
designar o ofício de dar sentido em uma língua às manter uma conversação com um bandido, porque ficção, do imaginário, limita sua cabeça ao mundo
palavras originadas em outra. A tradução, assim, se o modus operandi dele é a violência”. visível, e isso é empobrecedor”.
torna metáfora da imperfeição humana. O professor Transcender a realidade através da literatura, da Na família de Emi, há outro caso de transfor-
e tradutor Mamede Jarouche, premiado por verter narrativa, é outra forma de manter a essência do mação pela palavra, mas por uma via diferente
o Livro das mil e uma noites do árabe para o português, ser humano. “A estratégia da personagem Shera- do sagrado. Para Ricardo “Kcal” Gomes, 37 anos,
defende a tradução como obra do instinto e do sen- zade, das ‘Mil e Uma Noites’, é o uso apropriado da cunhado do operário e pregador, foi com a literatura
timento. Posição semelhante tem o poeta e tradutor palavra para a sobrevivência. Ao contar histórias que ele conseguiu chegar à abstração, em um local
Paulo Henriques Britto. “Resumindo drasticamente por noites a fio a um rei traumatizado pela traição onde as necessidades mais básicas de sobrevivência
minha posição: uma tradução perfeita sob todos de uma antiga esposa, ela evita sua morte e, ao estão sempre na ordem do dia. Também morador
“Um quadrado
pode nos
emocionar tanto
quanto uma
palavra”, avisa o
escritor Gonçalo
M. Tavares
estilizar os caracteres; a ideia central, no entanto,
seguia preservada.
O designer, tipógrafo e professor universitário
Leonardo “Buggy” lembra que é possível explorar
novas possibilidades para a representação gráfica
da escrita, ainda que seja utilizado o alfabeto foné-
tico ocidental ao qual estamos acostumados. “As
fontes alteram, sim, o significado do que é lido.
Quando ainda era estudante de design da UFPE,
fiz um trabalho na qual escrevi em uma belíssima
letra cursiva as palavras ‘puta’, ‘corno’ e ‘viado’.
Ou seja, a forma da palavra pode até contradizer
seu significado”.
Em um mundo no qual a saturação de imagens
virou tema recorrente, Buggy lembra das transfor-
mações da forma das palavras a partir do uso social
da tecnologia. “Novos códigos emergem continu-
amente: hoje, se você entrar na internet e escrever
com o Caps Lock ativado, parece que você está
gritando. O jeito com o qual a palavra é escrita pode
da comunidade do Bode, ele tornou-se conheci- história, pouco a pouco, se espalhou e chamou a remeter a um tom de voz”.
do por abrir uma biblioteca comunitária e por se atenção de jornalistas e autoridades, que passaram É pela imagem, pelas figuras, segundo Gonçalo
apresentar como “traficante de livros”, em um a cortejá-lo, oferecendo apoio a suas atividades. M. Tavares, que se pode promover uma reconci-
lugar onde o verbo traficar era sinônimo apenas Daí veio a mudança para um espaço maior, bati- liação entre a palavra escrita e sua representação
de conflito com a lei. zado de Livroteca Brincante do Pina, reconhecida primitiva, o traço. Esse último elemento, que existe
Kcal diz ter conhecido literatura aos 16 anos, ao pelo Ministério da Cultura e inaugurada em 2009 antes da palavra, está presente de forma central
encontrar uma caixa cheia de livros às margens do como primeiro Ponto de Leitura do país. A vida do em duas das obras do escritor português: O senhor
Rio Capibaribe, enquanto jogava bola. Dentro dela, autodenominado agitador cultural ganhou até uma Swedenborg e as investigações geométricas e O senhor Valéry
havia títulos como A rosa do povo, de Carlos Drum- cinebiografia, chamada A mão e a luva – A história de e a lógica. “Há todo um mundo infantil que se perde,
mond de Andrade, e A mão e a luva, de Machado de um traficante de livros, rodada por um cineasta italiano quando começamos a ler e a abandonar o desenho
Assis. “Me apaixonei de cara. Virei fã de poesia, chamado Roberto Orazi. “Ser alternativo, diferente em favor da linguagem escrita. O desenho é ou-
tanto que hoje escrevo meus versos e componho do meu meio, era um defeito. Hoje tenho repercus- tra forma de pensamento, e há uma grande falha
algumas músicas”. Aqueles eram os primeiros li- são, visibilidade, amigos. As pessoas me respeitam, do conhecimento humano quando eles saem do
vros de um conjunto que hoje reúne 20 mil obras, acreditam em mim. A livroteca é uma forma de mundo natural para se tornarem, muitas vezes,
adquiridas por meio de compra ou doações. libertação para a comunidade”. Para Kcal, a acei- algo técnico. Um quadrado pode nos emocionar
A primeira sede da biblioteca comunitária do tação de seu trabalho se mede por passar imune a tanto quanto uma palavra”.
Bode, batizada de Guardiões, foi improvisada na um constrangimento que atinge outros moradores.
casa de Kcal, localizada em uma das palafitas que “Não sou revistado pela polícia há anos”. Isabelle Barros é jornalista e mestranda em teoria da
ainda hoje existem no local. O inusitado de sua Mas, mesmo depois de tanta exposição, houve comunicação.
CAPA
Delas “vivem”
poetas, filósofos
e a nossa razão
Entenda como os pensadores
ergueram a “realidade” das
palavras que nós usamos
Eduardo Cesar Maia
Uma maneira interessante e elucidativa de abordar a filosofia como ontologia, quer dizer, como busca de
história da filosofia no Ocidente é tentar compreender uma totalidade – um pensamento orientado à reflexão
as diferenças fundamentais entre escolas e tradições sobre o ser de tudo o que há e suas causas últimas.
filosóficas distintas a partir do problema da palavra ou Pode-se dizer que, na Modernidade, os métodos
de como cada uma das várias correntes teóricas en- foram modificados, mas os fins não se distanciaram
tendia o funcionamento da linguagem e seu papel no tanto da visão racionalista clássica. O emblema filo-
ato de conhecer. Desde suas origens na antiguidade, sófico de um dos principais pensadores modernos,
o projeto maior da filosofia, seu fim último – pelo Baruch Espinosa, não deixa dúvidas: o conhecimento
menos em seu viés racionalista –, relacionava-se com deve ser buscado sub specie aeternitats (sob a perspec-
a ideia de que a natureza essencial de tudo que existe tiva da eternidade). O foco da filosofia se volta para
podia ser apreendida intelectualmente pela razão e a mente e o conhecimento racionalista do mundo,
pela linguagem humanas. O termo logos, que entre os baseado na noção cartesiana de que a razão é nossa
muitos significados, abarcava, no pensamento grego, única e exclusiva via de acesso a um mundo que, de
as concepções de palavra e razão ao mesmo tempo, outro modo, seria inacessível, e que a realidade não
transmitia a ideia de que, de alguma forma, a lei e a é senão aquilo que nossas ideias podem representar
lógica que regiam o universo estavam em harmonia desse mundo em nosso pensamento. “Não há outra
com a razão humana e podiam ser captadas por esta. realidade que a de nosso pensamento”, declarou
Era meta do filósofo, pois, ultrapassar o uso cotidiano Berkeley; ou, em outras palavras, esse est percipi (ser é
e pragmático das palavras e chegar a uma espécie ser percebido). O filósofo, nessa concepção moderna,
de idioma transcendental (ou uma linguagem ideal, passa a ser definido como alguém que conhece o
como diriam os positivistas lógicos do século passado) mundo porque domina as ideias.
que apresentasse a verdadeira natureza das coisas, Hegel localizava em Descartes a origem do pensa-
da realidade, independentemente de pontos de vista mento moderno porque o francês assumia que toda a
individuais e subjetivos. As famosas críticas de Platão filosofia do Renascimento – o pensamento humanista
– representante maior dessa tradição racionalista – aos – era somente uma forma de especulação “sensorial e
poetas e, também, aos retóricos sofistas, fundamen- figurativa”, um jogo retórico e filológico que não atingia
tavam-se justamente nesse projeto de atingir uma uma claridade conceitual e que não se podia classificar
forma de conhecimento superior, universal, através como racional. Mais uma vez – recordemos a disputa
do emprego “exato” das palavras. Para chegar a esse entre Platão e os sofistas – a retórica, o senso comum,
grau de conhecimento (episteme) de uma totalidade a poesia e o uso cotidiano e pragmático das palavras
inteligível e coerentemente organizada, era necessário eram considerados impróprios para a verdadeira filosofia.
abandonar a esfera do meramente sensível, do transi- A hegemonia da perspectiva racionalista levou a uma
tório e contingente. As palavras do verdadeiro filósofo concepção de critério científico como rigor formal,
deveriam, portanto, abandonar o âmbito da simples quer dizer, o valor de verdade das proposições está
opinião (doxa). Platão, seguindo as indicações de ante- na adequação lógica em relação com as premissas
cessores como Parmênides e Heráclito, assume como estabelecidas: as palavras, para serem verdadeiras,
empreendimento autêntico da filosofia a fundação de tinham que obedecer a uma dedução lógico-racional,
uma linguagem abstrata e formal, independente de e nenhuma forma de linguagem comum, cotidiana,
fatores temporais e históricos. Tal tradição entende pragmática ou artística, que se servisse de imagens,
comum a todas que temos por verdades e as que usamos como critério
para considerar aquelas não tão comuns. Para ele, pois,
conhecer é trabalhar com metáforas favoritas, uma
linguagem normal, no uso comum das pessoas, num
sistema vivo e amplo de relações; a linguagem, dirá o
segundo Wittgenstein, é uma forma de vida.
racionalismo é
sobre as palavras que usamos. O ceticismo linguístico hermenêutica, o enfoque da filosofia recai no estudo
de Nietzsche surge da constatação de que as palavras específico da linguagem, no uso filosófico das pa-
não podem captar as coisas em sua essência e verdade. lavras. Antes se tratava de conhecer algo que estava
a ambição de
“Não são as coisas – escreve o jovem Nietzsche no seu fora do sujeito – uma concepção de conhecimento
Curso de retórica – que penetram na consciência, mas a objetivo como espelho da natureza, na expressão crítica
maneira em que nós estamos ante elas (...). Nunca se de Richard Rorty; ou como olho de Deus (a suposição
ENSAIO
Corte, costure e
JANIO SANTOS
deprede o autor
à sua vontade
Entenda a “biblioteca de
babel” que é o mercado de
resumo de obras literárias
Luís Fernando Moura
todo autor é
mos”. Por outro, descredita os próprios originais, vistos Pierre Menard”. O autor, por um lado, vinha sugerir
como blá-blá-blá diletantista perto de um resumo que um texto literário somente o é em determinadas
eficaz. “Um olhar atento sobre as provas mostra que circunstâncias de tempo e espaço, relativizando mé-
interpretável”,
elas dão um recado implícito aos alunos: recorram ritos de autoria inclusive para a cópia – não estariam
aos resumos”, polemizou, certa vez, o professor João sendo, os resumidores, diminuídos? Por outro, como
Amálio Ribas, sobre os processos de seleção parana- sugere Anco Márcio, ele viria propor o exato oposto
enses junto ao portal Vida Universitária.
Professora da Faculdade de Educação da Universida-
de Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do
relativiza Ronaldo da verve denotativa do resumo. “O conto é a metáfora
da experiência com a obra. Como toda experiência,
ela é individual, única e histórica”.
Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da instituição,
Maria Zélia Versiani rechaça a supervalorização do re-
sumo entre os mais pragmáticos, e prefere percebê-los
Correia de Brito Tanto é pessoal que Pierre Bayard, psicanalista
e professor de literatura francesa, nuançou ainda
mais o flerte entre obras e seus consumidores. A
como treinamento didático e convite à leitura apro- questionável. É muito difícil alguém dizer, através de despeito de uma hierarquização entre bons leitores
fundada. Num momento em que o Exame Nacional um resumo, o que é um livro, se não do que se trata”. – de livros – e maus leitores, afeitos a enunciados
do Ensino Médio (Enem), que não prescreve títulos de Ronaldo Correia de Brito, que teve seu Livro dos fragmentados, apressados ou abjetos, Bayard tentou
literatura, tem sido adotado progressivamente como homens resumido para o vestibular da Universidade esboçar atrevida teoria da leitura, dissecando modos
prova de ingresso nas universidades, a pesquisadora Federal de Goiás (UFG), é assertivo – “resumos não de ler e de, que bom, não ler.
prevê horizonte de leituras menos instrumentalizadas. são bons”, ainda que cumpram seu papel com algu- Em sua obra Como falar dos livros que não lemos?, o
“Se por um lado preocupa o fato de o exame não ma generosidade em certos casos mais narrativos, professor pareia casos em que obras lidas da primeira
indicar obras literárias, por outro, e com boa dose de avalia. “Não acredito que Guimarães Rosa pudesse à última página são facilmente esquecidas, enquan-
otimismo, podemos vislumbrar experiências de leitura fazer um bom resumo da obra de Guimarães Rosa. to outras que nem ao menos folheamos – sejam
mais significativas, sem a pressão do vestibular, e que, No caso dele, o deleite é a linguagem, e não acho shakespearianas, bíblicas ou adjacentes diversas
portanto, não sejam substituídas por resumos”, sugere. que qualquer resumo teria sucesso”. – são capazes de volta e meia ressoar em nossas
A notícia de inclusão de Os rios turvos na lista de in- vidas, tal como se as conhecêssemos de cor. Tais
COMO FAZER UM BOM RESUMO dicações para o exame da UPE chegou contente para questões – o que é ler?, o que é ter lido? – dariam,
Maria Auxiliadora Carvalho é professora de bibliote- Luzilá Gonçalves. “Mas logo me contaram que, diante enfim, humilde crédito aos imodestos resumos. Ou,
conomia na Universidade Federal de Pernambuco e de um aluno que queria lê-la, uma professora acon- como escreve Bayard, “é até desejável, para falar
já lecionou em ementas para resumidores cientistas, selhou: ‘Não compre. Eu faço o resumo para vocês’”. com precisão de um livro, não tê-lo lido inteiro,
mas o passo a passo falha quando aterrissa na lite- Aos poucos, a autora foi conhecendo o produto das eventualmente sequer tê-lo aberto”.
ratura. A professora, que acha mais difícil resumir sínteses. “Foi um desastre. Interpretaram, concluíram,
filmes que livros, diz que “resumo de ficção é algo até disseram coisas que não falei.” Maria Auxiliadora nos Luís Fernando Moura é jornalista
Primeiro colocado da categoria Infantil Primeiro colocado da categoria Juvenil A cabrinha Cordulina, que sonha
no I Concurso Cepe de Literatura Infantil no I Concurso Cepe de Literatura com o amor de um lindo bode chamado
e Juvenil, realizado em 2010. Conta a Infantil e Juvenil. Inspirado na história Matias, vive uma série de aventuras,
história de um menino comum, igual a real de um menino que viveu nas ruas que incluem voar e tomar banho de
de outros de sua idade, mostrando que do Recife, mostra como uma amizade cachoeira, até que seu sonho se torna
ninguém precisa de superpoderes para pode perdurar, mesmo na adversidade. realidade. Ilustrações do artista plástico
ser feliz. Ilustrações de Igor Colares. Ilustrações de Roberto Ploeg. Luciano Pinheiro.
A obra é uma compilação de breves e Segunda edição da obra Viagem Há meio século, o Padre Daniel produz
bem-humoradas histórias de escritores, ao planeta dos boatos. O leitor uma poesia de qualidade singular,
jornalistas, artistas, poetas, políticos, acompanha o rumor de que a barragem mas que zelosamente subtrai ao olhar
populares e boêmios pernambucanos, de Tapacurá havia estourado a partir do grande público. Agora, os amigos
anteriormente publicadas na coluna do de relatos, incluindo, no caso mais venceram sua resistência em publicar os
autor na revista Algomais. recente, a repercussão do mesmo em versos e juntaram quatro de seus livros
redes sociais. inéditos neste magnífico volume.
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KARINA FREITAS
BALZAC, O AMOR
E OUTROS DEMÔNIOS
Para Cybelle, que salvou a noite amores míopes no peito; as mesmas ambições isso o admiro), conclui: “a verdade é que dois
e pretensões; as mesmas ilusões de relevância. amantes muitas vezes se separam em menos
Sempre pensei que o amor e a literatura ti- A cena que gostaria de lembrar do romance tempo do que precisaram para se unir”.
nham algo em comum: ambos são um ato balzaquiano é uma das mais conhecidas, na Dois amantes podem ser também um es-
de leitura. Gosto muito da sabedoria das di- qual Lucien e o até então grande amor de sua critor e seu leitor. Em algum lugar de A dupla
ferentes religiões, porque elas personificam vida, Mme. de Bargeton, recém-chegados a chama, Octavio Paz sustenta que no amor pre-
certos estados, experiências e sentimentos Paris, assistem a um espetáculo teatral e são cisamos convencer a vontade do outro. Não é,
que constituem parte fundamental da nossa submetidos ao escrutínio da nobreza pari- afinal de contas, um bom resumo para o nosso
existência. Muitas vezes penso no mal, na siense. A aristocracia, claro, não perdoa os trabalho? Cada texto literário é um pedido de
morte e no amor em termos de personagens, ares provincianos dos dois personagens e lhes hipoteca de um pedaço do tempo e do amor
tais como o Diabo, ou Afrodite. Embora neles impõe um doloroso rito de humilhação. dos seus possíveis leitores. É fascinante que
não acredite, estes personagens possuem uma Em Angouleme, pequena cidade onde os as roupas e o próprio corpo de Bargeton e
existência concreta na minha vida: o meu dois personagens viviam, antes da mudança Rubempré não tenham mudado; mudaram
pacto com o mundo sempre foi o da ficção. à capital, tudo parecia fazer sentido. Nun- as condições de leitura que cada um impôs
Já xinguei muito o amor e nisto não estou ca houve amantes mais arrebatados: diante ao outro. É por isso, talvez, que o lado pouco
sozinho. Uma das minhas poetas preferidas, dos olhos de Rubempré, que “queriam achar indagado, porém real, do amor seja um reino
Safo, ou o que sobrou de sua voz, em certo tudo bom”, Mme. de Bargeton parecia uma composto pelo medo, posse e paranoia: quem
momento cantou: “Imortal Afrodite do trono aristocrata belíssima, com forte caráter e pre- sabe quando as regras do jogo vão mudar e
de flores/Filha de Zeus, tu que teces enganos”. sença de espírito, marcada ainda por uma nascerá uma necessidade dilacerante, aquela
É a respeito disto que gostaria de conversar aguda sensibilidade literária e inteligência. À que pede favores à distância e ao silêncio?
com vocês. sua amante, Lucien era nada menos do que Estamos atados a tantos corpos e textos; a
Tenho acompanhado nas últimas semanas – um Gênio e a encarnação da Beleza (mai- palavras que mudam ao sabor dos ventos de
o doutorado no Mackenzie tem me devolvido úsculas inclusas no pacote). No entanto... cada época; enredados em ardis criados pelas
ao século 19 – as desventuras de Lucien de Subitamente, tudo se modifica. Aquilo que deusas de rostos terríveis, vincados, cujos
Rubempré, protagonista do romance Ilusões parecia pleno de significado se transforma olhares inescrutáveis se mantêm fixos diante
perdidas, de Balzac. Nosso amigo Lucien é um em desconforto, distância, desilusão. Agora, de nós; nomes que se movem de modo nem
SOBRE O AUTOR jovem poeta, ambicioso e ingênuo, que se “apesar da extrema beleza”, Bargeton perce- sempre compreensível, vontades escondidas
muda de uma pequena cidade provinciana bia, ao observá-lo no teatro, que nosso poeta na nosso própria sombra.
Cristhiano Aguiar para a luminosa e enlameada Paris, em busca “não tinha boa apresentação”. Na verdade, Desta forma, no amor sou sempre vítima,
é escritor, doutorando em de amor e glórias literárias. Já fui Rubempré “achava-o lastimável”. A avaliação do seu algoz, credor, juiz, tirano, devedor e suplican-
literatura e assina o blog duas vezes. Primeiro, aos 18, quando saí de amante não seria mais amena: comparando-a te. Como os romances e os sonetos, preciso
outroscriticos.blogspot.com Campina Grande e me mudei para Recife; com as mulheres parisienses, concluía que ser habitado para conseguir sobreviver; e
agora, aos 30, quando saio de Pernambuco e sua amada era “seca, pretensiosa, malvestida haverá em mim a falta, a fratura, através da
chego até São Paulo. Em comum, os mesmos sobretudo!”. Balzac, sempre implacável (por qual sou regido pela deusa.
INÉDITOS
Cigarros na cama
(Fragmentos iniciais)
1. 5.
SOBRE O AUTOR
Ricardo Domeneck é
poeta brasileiro residente
em Berlim. Esses
poemas fazem parte do
livro Cigarros na cama
(Berinjela/Modo de Usar
& Co.)
KARINA FREITAS
no intervalo
entre o quarto e o quinto.
12.
Fumando na chuva,
curvado e ainda mais corcunda,
preferindo proteger o cigarro,
não a nuca.
15.
RESENHAS
RERRODUÇÃO
de cores perfeita
quadrinhos do ano, mas Responsável por linguagem, mas sem alegoria que vemos como
ele é provavelmente mais algumas das obras mais nunca transformar a obra o mundo cartesiano,
do que isso. Vencedora importantes dos anos em um mero laboratório racional e arrogante do
de Mazzucchelli
do maior prêmio das 1980, junto com Frank de experimentalismos. arquiteto pode se juntar
HQs, o Eisner, a obra Miller, Mazzucchelli Para a fala de cada um à beleza, à organicidade
tem colecionado críticas parece ter feito Asterios dos personagens, o autor e à fragilidade da artista
elogiosas e até mesmo Polyp ciente que construía reserva uma caligrafia plástica. É como se,
O quadrinho cult Asterios atenção acadêmica desde
que saiu nos Estados
sua obra-prima. É um
livro, como conta André
diferente, que se casa em
alguma medida com a
para Macchuzzelli, se
apaixonar fosse eliminar
Polyp ganha edição nacional Unidos, em 2009. Conti, da Companhia própria personalidade ou as fronteiras, passar a
Agora, ela sai no Brasil, das Letras, responsável função deles na narrativa. carregar em apenas um
caprichada pela Cia. das Letras traduzida pelo escritor pela edição nacional, Em outro momento, corpo duas pessoas.
Daniel Pellizzari, em pensado nos detalhes – trabalhando com a
Diogo Guedes uma cuidadosa edição do cada aspecto da narrativa hipótese de que cada
selo Quadrinhos na Cia. original se relaciona pessoa vê o mundo de
O livro contra a história harmonicamente com uma forma diferente, a
de Asterios, um o formato da página, partir da extensão de sua
renomado arquiteto, a paleta de cores e a própria personalidade,
famosos por construções tipografia, por exemplo. Mazzucchelli constrói
que nunca saíram do Tudo que soa como uma metáfora visual
papel. Autocentrado pretensão, quando poderosa. Usando a
e convencido, ele descrito é harmônico, versatilidade de seu
começa o livro em uma singelo e profundo traço, ele desenha
crise, agravada por um dentro do quadrinho: Asterios como um
incêndio que destrói não é à toa que o leitor conjunto de forma
seu apartamento e todos não sabe, em certos geométricas puras, em
os seus bens. Tomando momentos, se deve azul, enquanto Hana
o acidente como uma acompanhar a narrativa é feita de rabiscos QUADRINHOS
espécie de sinal, ele vai ou simplesmente instáveis, em rosa, e os
para a pacata cidade obversar as invenções dois se contaminam, se Asterios Polyp
de Apogee, disposto cuidadosas do autor. misturam, à medida em Autor - David Mazzucchelli
esquecer e entender Mazzucchelli consegue que vão se conhecendo Editora - Quadrinhos da Cia
seus erros no passado, criar algumas das - assim como se isolam Preço - R$ 63,00
principalmente os que páginas e sequências na sua forma de ver Páginas - 334
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BAILE
Mariza Obra mais conhecida do escritor Ronaldo
Pontes Correia de Brito celebra 28 anos este mês
O baile do menino Deus - Uma porta, convidando a todos para
brincadeira de Natal, obra mais comemorar o nascimento de
conhecida de Ronaldo Correia Jesus. A estreia foi em disco,
de Brito, em parceria com Assis pelo selo Eldorado, e no
Lima e Antônio Madureira, Teatro Valdemar de Oliveira,
comemora 28 anos de criação. encenada pela Cia. Práxis
Inovadora, trouxe elementos Dramática. De lá pra cá teve
da cultura nordestina para o inúmeras apresentações no
DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO
PRATELEIRA
EM CASA – UMA BREVE HISTÓRIA
DA VIDA DOMÉSTICA
Tudo que se queira saber sobre a evolução da
moradia está nesta obra. O autor reúne dados
históricos, sociológicos e científicos, além de
curiosidades sobre os hábitos de morar, e os
apresenta de forma divertida e interessante.
Detalhadamente, ele analisa como cada cômodo
de uma habitação moderna, do hall de entrada
ao banheiro e ao porão, passou a fazer parte
da arquitetura residencial e a determinar os
vários aspectos da vida privada, em diversas
épocas e culturas.
Organizador::Bill Bryson
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 536
Preço: R$ 49,00
ÍON
Um dos primeiros diálogos escritos pelo filósofo
Platão ganha edição bilíngue grego–português,
LABORATÓRIO COLOMBO ENQUETE assinada por Cláudio Oliveira, e encadernação
de luxo. O primoroso posfácio de Alberto
Sistema aprovou revista Programa de rádio é Pela lei, quem deve ser Pucheau mostra que a importância da obra
da primeira temporada alternativa domingueira considerado escritor? reside em nos mostrar a filosofia no momento
do seu nascimento. Nessa época, o filósofo
Duas boas notícias para os fãs Café Colombo – o seu programa de livros O resultado da enquete da representava um novo saber e, para se afirmar,
do projeto Laboratório: cultura e e ideias é alternativa radiofônica UBE nacional para definir tinha de fazer frente ao poeta, representante de
crítica: 1) A revista da primeira aos programas televisivos do os aspectos que identificam um saber mais antigo e
temporada foi aprovada domingo. Transmitido das 14h às a profissão de escritor, consolidado, a poesia.
pelo Sistema de Incentivo à 14h30, pela Rádio Universitária discutido no Congresso dos
Cultura da Cidade do Recife. FM (99.9 Mhz), o programa Escritores em novembro, será
Será editada por Wellington permite que o público sugira levado ao Senado Federal,
de Melo e Cristhiano Aguiar, livros, CDs ou DVDs a serem visando contribuir com a
trazendo artigos e entrevistas comentados, indique assuntos antiquíssima polêmica da
dos curadores Cristiano Ramos, para debate e apresente contos regulamentação. A lei vai Autor: Platão
Bruno Piffardini, Johnny Martins e crônicas que serão lidos. Nas estabelecer, por exemplo, se Editora: Autêntica
e convidados; 2) A temporada de segundas-feiras, das 20h às publicações na internet podem Páginas: 88
2012 será dedicada à literatura. 20h30, há reapresentação. definir quem é escritor. Preço: R$ 31,00
CRÔNICA
Mariana Nepomuceno
POLÊMICA Sonha que se esconde e some to que a vida ainda não possui muito pra fazer. Minha vida seria
dentro dela. Que a bolha de sabão, meios de lhe explicar ou fazer longa e intensa. Não inventaria
Dona Lygia, a senhora me des- toda faceira, desaparecerá em se- entender. Volte a ser pessoa, será de ser alegria. Isso todo mundo
culpe. Mas é que a senhora acer- gundos, muitíssimo contente. A mais inteligente. já deveria ser.
tou mesmo. A estrutura da bolha mocinha, diante de tanto fascínio Concordo com a insistência da Longa e intensa. Com briga,
de sabão só pode, de fato, ser e alumbramento pela tal bolha garota e acho que a gente bem com discussão, com organização
o amor. Não sei se é por que a de sabão que deve ser mesmo que poderia ser coisa que voa, para desorganizar não sei que lá.
gente fica olhando, vidrado, na o amor, resolve decidir que vai que tem milhares de cores e que E eu achava que ser bolha de
tentativa de adivinhar para onde ser bolha de sabão dali pela vida. desaparece. Se não é assim, a sabão era complicado porque
a danada da bolha vai. Não sei se Acha que não soube ser amor e gente poderia ser sentimento. era o amor e amor é um negócio
é pela coisinha delicada que é. que já é bem grandinha, dona do Não fazer sentido, não ter linha meio esquisito. Bom de sentir, é
Toda a gente sabe que se tocar próprio nariz e da decisão do que pra andar, conta pra pagar, risco verdade. Dá medo querer ser um
na bolha, ela estoura. A gente quer ser depois de grande. pra correr. Era e pronto. Sem dar sentimento que pode durar anos
pode chegar perto, acompanhar A vida, esta danada, proverá satisfação. mas também pode morrer em
com os olhos e ir atrás, feliz, pra a mocinha de alfinetadas, pra Eu seria rebeldia e ficaria mu- segundos. Deixa lá pros afoitos.
ver se guarda no coração todas mostrar que ela não tem como dando de país umas três vezes Acho que vou querer conti-
as cores que tem ali. O menino sumir de uma hora pra outra, no ano. Depois, tirava férias, nuar gente mesmo. Pra sair cor-
pode querer ver o mundo por que isso tudo não é assim nem passava uns tempos escondida rendo atrás da bolha de sabão,
dentro da bolha. assado, deve ser de outro jei- e ressurgia de novo, com bem enquanto escolho rebeldia.
PEDRO Neste mesmo ano, me apaixo- da dele. Época de quadrilha. As tinha olhos verdes e era bonito.
nei pela primeira vez. O primeiro professoras ordenavam os pares João Paulo me defendeu numa
Era 1992. Jovens brasileiros saíam amor. Talvez, meu determinan- pelo tamanho e eu tinha grande briga. Mário me levou na coorde-
às ruas e se tornavam caras-pin- te no amor. Pedro foi o primeiro chance de dançar com aque- nação quando rachei meu dente
tadas. Meu pai olhava, com orgu- menino a segurar na minha mão. le menino que me dava frio na no chão. Mas, nenhum era Pedro.
lho, pra bandeira do PT, guardada A me deixar nervosa, implicante, barriga todos os dias de manhã. Os namoros que duraram fo-
no canto das coisas antigas da apaixonada. Mas, Pedro, questionador Pedro, ram sempre com meninos com
casa. Havia votado no analfabe- Ele era novato. Entrou na mi- não quis fazer parte do São João algo de Pedro. Adolescente, meu
to nordestino e não no playboy. nha turma depois do começo das do colégio. primeiro beijo foi um magrelo,
Naquele ano, meu aniversário aulas, inclusive. Foi brigando comigo, no fim alto, repetente e de cabelo es-
não teve festa (minha mãe tra- Pedro não era bonito. Mas era do segundo semestre, querendo quisito. Um que namorei por
quinou com a lente de contato magro, alto. Não chegava a ser roubar minha lapiseira lilás de três anos era magrelo, alto, meio
e usava tampão no olho), mas loiro. Era mais velho, já tinha passarinho, que Pedro pegou na revoltado com o mundo. O que
na foto do bolo “pra não passar reprovado duas vezes. Pra mim, minha mão. Ele numa banca e eu eu queria pra marido era líder de
em branco” me achei menos feia ele era um rebelde. Eu nunca na do lado. Nossas mãos ficaram movimento estudantil, 1,93m.
que de costume. Primeira vez na quis um príncipe. Sempre quis entrelaçadas que nem às dos ca- Hoje, é sindicalista.
vida achava isso. Queria que ele um revolucionário. Ele era um sais dos papéis de cartas que eu Encontro meu amor por Pe-
estivesse lá pra ver. Queria dar menino que parecia ter opinião. não colecionava (afinal, eu queria dro sempre por aí. Indo e vindo,
aquela foto pra ele. Na segunda série, qualquer coi- ser diferente das outras meninas). o tempo todo.
Eu estava com oito anos e sa é uma opinião. Cabelo grande E Pedro saiu do colégio antes do (Na verdade, reencontrei Pedro,
alguma coisa do meu futuro se mesmo, feito o que ele tinha, era fim do ano para morar em Portu- em 2001, ano do vestibular. Em
rascunhava ali. Em 1992, ano bis- discurso inteiro. gal com a família. outro colégio. Escrevi cartas anô-
sexto, pensei em estudar Jorna- Ele sentava nas últimas ca- A lapiseira lilás deve estar guar- nimas – coisa que aprendi quando
SOBRE A AUTORA lismo ou Direito. Queria alguma deiras. Eu também, por causa da dada até hoje em algum lugar do me apaixonei pela segunda vez-,
Mariana Nepomuceno coisa que “botasse corrupto na altura. Esperei com o coração na meu guarda- roupa. Morou por e passei um recreio conversando
é jornalista e cronista cadeia”. O mundo era mais fácil mão junho chegar, seria minha anos na minha mochila. No bolso com ele. Mas, era 2001. Pedro já
nessa época. chance de ficar mais perto ain- da frente, fácil de achar. Rafael não era tão Pedro assim).