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A justificativa para a escolha desta arquiteta se deve aos estudos realizados na faculdade e a

admiração por sua obra, que sutilmente lida com as formas geométricas que possuem.
Lina Bo Bardi encantou a todos ao pisar no Brasil. É uma figura para nossa cultura, pela
singularidade é capaz de entender a população, a cultura e história do local, e produzir
arquitetura a partir destes elementos.

Breve Histórico

Achillina Bo nasceu em Roma perto do Vaticano, Itália 1914. Aprendeu a desenhar com seu
pai, e antes de se formar arquiteta, em 1940, estudou desenho no Liceu Artístico, se formou
na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma, que tinha como enfoque as disciplinas
de História da Arquitetura, o que elevou seus estudos e também a preocupação com os
monumentos, na época dirigido por Marcello Piacentini (Roma, 1881 – 1960), conhecido
como o arquiteto do regime fascista. Na época de sua formação, a arquitetura moderna na
Itália já consolidava várias correntes modernistas, mesmo que ainda ideológica. Por estar
descontente com esse pensamento fascista e nostálgico que havia em Roma, na década de
1930 se muda para Milão, que se configura um pólo cultural vanguardista, e busca nessa
cidade reformista e industrial abraçar de vez o racionalismo e o modernismo, o conhecido
international style, uma arquitetura universal. Trabalhou com o arquiteto Gió Ponti (Milão,
1891 - 1979), fundador da revista Domus e editor da revista Stile, que defende o pensamento
que não se separa arquitetura do mobiliário e é o líder do movimento de renovação do
artesanato italiano. Mais tarde, foi editora da revista Domus e Quaderni Domus, publicando
artigos críticos sobre artes em geral.
A Europa estava em um momento de reconstrução de seus ideais: de um lado, os fascistas
propunham uma cidade grandiosa construída como monumentos baseados no movimento
futurista, e do outro lado, as discussões do CIAM, que criticava o estilo monumental e se
baseava na cidade funcionalismo. Lina nesses discursos apoiava Ernesto Nathan Rogers
(Milão, 1909 - 1969) que questionava o radicalismo e utopismo do movimento moderno,
querendo a sua reformulação perante a questão em que arquitetura deveria de comunicar com
a população entre as pessoas e os espaços.
Em 1943, ingressa no partido comunista clandestino, que após a guerra, pensa nos novos
fundamentos do movimento moderno, e esse grupo de jovens arquitetos acreditavam que as
cidades não deveriam ser funcionalistas e universalistas, deveriam se diferenciar e se
identificar conforme o lugar, a população e os seus valores culturais.
Juntamente com Bruno Zevi (Roma, 1918 - 2000), antifascista, um defensor da arquitetura
orgânica, funda a revista A Cultura della Vita, que trata da reconstrução das cidades
européias.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1947, casa-se com o Pietro Maria Bardi (Itália,
1900 - 1999), artista e jornalista, um dos grandes personagens para a arte no Brasil; devido
aos traumas da guerra e as desilusões políticas, parte para o Rio de Janeiro, local totalmente
diferente da Europa - o que fascina Lina desde o início, local onde não havia ruínas e nem
passado de guerras, um local com espaço para criação. O Brasil estava passando pelo período
da migração de mão-de-obra impulsionado pela indústria. O que incentivou a vinda de
renomeados arquitetos era a mostra de Arquitetura brasileira no MOMA, em 1942, e também
foram atraídos pela economia e cultura brasileira. Vieram para São Paulo atraídos pelo
programa de expansão da construção da cidade, voltados para indústria, lazer e moradia.
Conheceu figuras importantes como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Burle Marx e Assis
Chateubriand, que mais tarde convida seu marido para ser o diretor do museu de arte, que
Lina projetará futuramente.
“No meu país de escolha me senti cidadã de todas as cidades... onde tudo era possível” Lina
Bo Bardi.
Brasil vivia um período histórico político democrático. Entre duas ditaduras militares, foi
impulsionado pela busca da modernidade, e um símbolo da época foi a construção de Brasília,
aparecimento da Bossa Nova e as vanguardas artísticas modernistas. Um período da
concretização das idéias da arquitetura moderna e a inserção de arquitetos estrangeiros
imigrantes, onde Lina se insere profundamente com esse pensamento modernista.
Em 1948, funda juntamente com o arquiteto Giancarlo Palanti (Milão, 1906 - 1977) o Studio
d’Arte Palma e mais tarde a Fábrica de Móveis Pau Brasil, voltada a produção de móveis
utilizando matérias nacionais e populares. Nessa produção do desenho industrial, onde mais
tarde cria no país o primeiro curso de desenho industrial, no Instituto de Arte Contemporâneo
e no MASP.
Funda em 1950 a revista Habitat que já no primeiro número elogia as obras de Vilanova
Artigas. Possuía artigos que podem ser considerados como desabafos das formas de produção
das artes em geral.
Em 1955, é convidada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Paulo
como professora da cadeira de composição decorativa, transformando depois em cadeira de
desenho industrial.
Muitos teóricos classificam a produção da arquiteta no Brasil em três fases: Brasil Moderno
(1948 - 1957), Memória do Brasil Arcaico (1958-1964) e Invenção da Memória Brasileira
(1976-1992).
Em 1958, muda para Salvador, o que ela considera como pólo cultural, e é convidada para dar
aula de Teoria na Universidade Federal de Salvador e dirigir o Museu de Arte Moderna da
Bahia. Considerado como a fase Memória do Brasil Arcaico, atraída pelo pensamento de
conservação dos edifícios como parte da cultura e o pensamento da arquitetura como
objeto do popular, a simplificação da obra. Desenvolve o seu primeiro projeto de restauro e
se insere em múltiplas atividades, uma delas, a arquitetura cênica. Em suas exposições e em
suas aulas, Lina utiliza isso em forma de manifesto e crítica ao governo.
Em 1964, com o início da Ditadura Militar, as atividades populares e culturais, são impedidas
pelos militares; é quando volta a desenvolver as exposições. É considerada a fase Invenção da
Memória Brasileira, quando pretende o esquecer o passado e repensar um Brasil Novo. Um
período marcado pelos manifestos de exposição e opinião em revista e jornais, e a série de
projetos desenvolvidos para a população.
Volta para São Paulo em 1964, após o golpe militar, incorporando nos seus projetos o
pensamento da tradição popular com o desenvolvimento industrial, radicalizando os seus
conceitos da arquitetura moderna.
Mais tarde, podemos perceber nos seus projetos a sua resistência perante o capitalismo e a
produção de mercado, e a luta pela identidade nacional e também a liberdade.
Trabalha até o fim de sua vida, 1992, como arquiteta, designer, curadora...
Obras

Podemos dizer que as obras de Lina, são voltadas para edifícios intistucionais: museus,
teatros, centro cultural, entre outros. Demonstrando em seus artigos e obras a sua preocupação
social e cultural, obras que resgatam a memória da população com uma base de manifesto à
política.
Tanto em suas obras construídas ou as adaptações a edifícios já existentes, segue a idéia do
modernismo - planta livre, flexibilidade, racionalismo e novas técnicas construtivas - com
uma linguagem brasileira.

Masp - Museu de Arte de São Paulo, Avenida Paulista, São Paulo:

Projetado entre 1957 e 1968, explora a tecnologia dos materiais transformando-o no maior
vão da América Latina (70 m). Pela época que a obra foi construída, mostra mais uma vez a
ousadia da arquiteta em fazer o vão se preocupando tanto com a vista.
Uma arquitetura que se comunica com o usuário, mesmo sendo monumental, ainda assim, é
uma arquitetura pobre. Pensando em utilizar a forma mais simples de solucionar os
problemas, sem acabamentos e com concreto do jeito como sai das formas.
O terreno doado tinha como condição não destruir a ligação ao parque Trianon e o belvedere
com vista da Avenida Nove Julho.
A solução adotada divide o programa em dois edifícios: o primeiro esta suspenso há 8 metros
do chão, liberando o vão livre, que ao mesmo tempo emoldura a paisagem. De racionalidade
construtiva e tecnológica caracterizado pelo piso emborrachado industrial, parede
envidraçada, concreto aparente e a transparência. O segundo edifício está semi-enterrado, e é
caracterizado pelo piso com pedra natural, ajardinado nas laterais e formas irregulares.
O vazio entre os dois edifícios é o único respiro que a Avenida Paulista, totalmente
verticalizada, possui.
O edifício é estruturado por quatro pilares, duas vigas de concreto protendido na cobertura, e
duas vigas centrais para sustentação do andar de baixo. A estrutura distribui os espaços
interiormente, nas laterais, área destinada a escritórios, salas de reuniões, administração e o
grande espaço entre as vigas é destinado ao salão de exposição. O edifício no subsolo tem seu
programa distribuído entre níveis devido ao declive do terreno: 1º subsolo - restaurante,
biblioteca e hall, 2º subsolo - exposições e auditório.
Para Lina, a forma de expor tem que ser livre. A obra é encarada como algo vivo rompendo
com a noção clássica de museus e um percurso contínuo e linear. O belvedere é o espaço para
exposições ao ar livre, local de encontro e revoluções.

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