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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL - MECÂNICA APLICADA

CAPÍTULO V

Fios e Cabos

SEMESTRE VERÃO 2004/2005

Manuela Gonçalves
Maria Idália Gomes 1/9
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Capitulo V – Fios e Cabos

5.1 Considerações Gerais

A diferença fundamental entre fio e cabo é sobretudo na área da sua secção, que é maior nos
cabos e, por isso, estes têm uma maior capacidade de suportar cargas.

De um modo geral chama-se fio ou cabo a qualquer sistema estrutural que possa ser
considerado flexível em todos os seus pontos. Assim, é um fio ou um cabo um sistema
infinitamente articulado, isto é, articulado em todos os seus pontos.

Os cabos podem ser divididos em duas categorias, de acordo com o seu carregamento:

9 cabos que suportam cargas concentradas;

9 cabos que suportam cargas distribuídas:

• cabos sujeitos ao seu peso próprio cuja configuração de equilíbrio é uma


catenária - como exemplos têm-se os cabos transportadores, linhas de
transmissão ou teleféricos;

• cabos sujeitos a uma carga distribuída cuja configuração de equilíbrio é uma


parábola de 2º grau - as pontes suspensas são o melhor exemplo.
Todas as linhas de pequena flecha podem ser assimiladas, com erro desprezível, a suspensão
parabólica, o que equivale admitir que a carga se distribuem uniformemente ao longo do vão e
não, como é na realidade, distribuída ao longo do fio. Os cabos de pontes suspensas podem
considerar-se assim carregados, uma vez que o peso dos cabos é muito pequeno comparado
com o peso do tabuleiro.

Figura 1 – Linhas de transmissão

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Figura 2 – Teleférico

Figura 3 – Ponte suspensa

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Figura 4 – Ponte suspensa

5.2 Cabos sujeitos a Cargas Concentradas

A figura 5 mostra um cabo flexível (resistência à flexão pode ser desprezada) preso a dois
pontos fixos A e B e sujeito a três cargas concentradas verticais Q1, Q2 e Q3. O peso do cabo é
desprezível face às cargas que suporta. Assim, as forças internas em qualquer ponto do cabo
reduzem-se a uma força de tracção com a direcção da tangente ao cabo nesse ponto.

Figura 5

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Na figura 6(a) encontra-se o diagrama de corpo livre de todo o cabo e na figura 6(b) o diagrama
de corpo livre do troço AP.

Figura 6

Conhecendo-se o vão (L), o desnivelamento vertical entre apoios (d), as distâncias entre as
forças e os apoios (x1, x2 e x3) e ainda a posição de um qualquer ponto P (x e y) é possível
calcular as reacções de apoio (VA, HA, VB, e HB), a configuração do cabo (definida por y1, y2 e
y3) e o seu comprimento total.

A partir do diagrama de corpo livre de todo o cabo:

∑MA = 0 ou ∑MB = 0

∑Fx = 0

∑Fy = 0

E a partir do diagrama de corpo livre do troço AP:

∑MP = 0

Com as quatro equações anteriores calculam-se as reacções de apoio.

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Para se calcular cada uma das ordenadas (y1, y2 e y3) dos pontos C1, C2 e C3 considera-se:

• diagrama de corpo livre do troço AC1 ou BC1 e estabelecer-se a equação ∑MC1 = 0 → y1

• diagrama de corpo livre do troço AC2 ou BC2 e estabelecer-se a equação ∑MC2 = 0→ y2

• diagrama de corpo livre do troço AC3 ou BC3 e estabelecer-se a equação ∑MC3 = 0→ y3

No diagrama de corpo livre de um qualquer troço a equação ∑Fx = 0 conduz a T cos α = HA =


HB, isto é, a componente horizontal da força de tracção é a mesma em qualquer ponto do cabo.
Pode concluir-se que a força de tracção T é máxima quando cos α é mínimo, ou seja no troço
de maior inclinação, que é logicamente adjacente a um dos dois apoios.

5.3 Cabos sujeitos a Cargas Distribuídas

O cabo flexível preso a dois pontos fixos A e B e sujeito a uma qualquer carga distribuída
(figura 7(a)) pende com a configuração de uma curva e a força interna num qualquer ponto é a
força de tracção com a direcção da tangente à curva.

A figura 7(b) representa o diagrama de corpo livre da parte compreendida entre o ponto mais
baixo O e um dado ponto D do cabo onde actuam as forças de tracção To (horizontal) e T
(direcção da tangente à curva em D) e a força resultante P da carga distribuída suportada pelo
troço OD.

(a) (b) (c)


Figura 7

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Na figura 7(c) encontra-se o polígono de forças fechado (porque o sistema está em equilíbrio),
a partir do qual é possível obter as seguintes relações:
1
P
T cosθ = T0 ; T senθ = P; T = (T02 + P 2 ) 2 e tgθ =
T0

Pode concluir-se que a componente horizontal da força de tracção é a mesma em qualquer


ponto, a tracção mínima verifica-se no ponto mais baixo ( θ = 0 → cos θ = 1) e a máxima num
dos pontos de fixação.

Na figura 8(a) o cabo AB suporta uma carga uniformemente distribuída, p, ao longo da


horizontal e na figura 8(b) está o diagrama de corpo livre da parte compreendida entre o ponto
mais baixo O e um dado ponto D.

(a) (b)
Figura 8

x x2
A partir da equação ∑M D = 0 → px − T0 y = 0 chega-se a y = p T0 que é a equação de
2 2
uma parábola com eixo vertical e vértice na origem das coordenadas.

A distância horizontal L entre os apoios do cabo designa-se vão e a projecção vertical da


distância h desde os apoios ao ponto mais baixo é denominada flecha (figura 9).

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(a) (b) (c)


Figura 9

O comprimento do cabo desde o seu ponto mais baixo O até ao apoio B pode ser obtido por

 2  y 2 2  y 4 
sB = xB 1 +  B  −  B  + ....
 3  xB  5  xB  

yB
mas para valores 〈 0,5 só é necessário calcular os dois primeiros termos da série.
xB

Exercício de Aplicação
Enunciado Figura
A
6,0 m
7,0 m

Considere a estrutura apresentada. C

Calcule:
60 kN B

a) tracção máxima do cabo P

F
b) tracção mínima do cabo. D

E
30 kN
40 kN

50 kN

2,0 m 2,0 m 2,0 m 3,0 m 2,0 m 2,0 m

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Exercício de Aplicação
Enunciado

Um cabo com os suportes ao mesmo nível vence um vão de 100 metros e suporta uma
carga de 200 N/m (em projecção horizontal), sendo a tracção máxima de 20 kN, determine:

a) as reacções nos suportes do cabo

b) a flecha máxima dos cabos.

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