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INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO DE EXPERIMENTOS

1. INTRODUÇÃO

Segundo Montgomey (2013) um experimento é um teste ou uma série de teste no qual alterações
propositais são feitas nas variáveis de entrada de um processo ou sistema, afim de que se possa observar e
identificar as razões para mudanças que podem ser observadas nas variáveis respostas.

Processo

O desenvolvimento do planejamento experimental deve-se a Sir Ronald A. Fisher em 1920. Neste


período Fisher foi responsável pela estatística e Análise de dados da Estação Agrícola e experimental de
Londres. Fisher desenvolveu e usou a análise de variância como ferramenta na análise experimental.
Ainda de acordo com Montgomery (2013) as técnicas de planejamento experimental podem ser
utilizadas para melhorar a qualidade do produto ou processo de fabricação, reduzir o número de testes e
otimizar o uso de recursos.

Objetivos gerais de um planejamento experimental

1. Determinar quais as variáveis de entrada (controle) influencia no parâmetro de resposta do processo;


2. Determinar as faixas de valores para os fatores controláveis, de tal forma que a variabilidade da resposta
de interesse seja mínima.
3. Atribuir valores às variáveis influentes (controle) do processo de modo que os efeitos das variáveis não
controláveis sejam reduzidos.

2. TERMINOLOGIA BÁSICA E PRINCÍPIOS BÁSICOS DA EXPERIMENTAÇÃO

O princípio básico do planejamento de experimento e terminologias básicas serão apresentadas por


meio de um exemplo (WERKMA, 1996). Suponha que um engenheiro esteja interessado em estudar o efeito
produzido por três diferentes banhos de têmpera, água, óleo e solução aquosa de cloreto de sódio, na dureza
de um determinado tipo de aço. Seu propósito era determinar qual banho de têmpera produziria a dureza
máxima do aço. Sendo assim, submeteu um determinado número de amostras da liga, que denomina-se
corpo de prova, a cada meio de têmpera e a seguir mediu a dureza da liga. O objetivo era investigar qual o
melhor meio de têmpera.
Ao analisar este experimento, questões importantes podem ser relacionadas:
a) Água, óleo e solução de cloreto de sódio são os únicos banhos de interesse no processo de têmpera?
b) Há outros fatores que podem influenciar a dureza do aço e que devem ser considerado?
c) Quantos corpos de prova devem ser submetidos a cada banho?
d) De que forma os corpos de prova devem ser alocados aos três diferentes banhos, e em que ordem os
dados devem ser coletados?
e) Qual o método de análise de dados deve ser utilizado?
f) Qual diferença entre as durezas médias das peças podem ser consideradas significativas sob o ponto de
vista prático?
Para este exemplo vamos considerar que as barras de aço são provenientes de três diferentes corridas.
Na água foram utilizados os corpos de prova da primeira corrida, no óleo foram utilizados os corpos de
prova da segunda corrida e na água salgada foram utilizados os corpos de prova da terceira corrida.
O que pode-se se esperar da configuração apresentada?
2.1 Terminologia básicos

Em experimentação os conceitos básicos definidos abaixo, são corriqueiramente utilizados.


Definições descritas segundo Werkema (1996).

1. Unidade experimental

É a unidade que vai receber o tratamento e fornecer os dados que deverão refletir seus efeitos.

No exemplo utilizado, cada unidade experimental é um corpo de prova de aço.

2. Fatores

São os tipos distintos de condições que são manipuladas nas unidades experimentais, ou seja, fatores
são as variáveis cuja influência na variável resposta está sendo estudada no experimento.

No exemplo citado, há um único fator: banho de têmpera.

3. Níveis de um fator

Os diferentes modos de presença de um fator no estudo são denominados níveis do fator.

No exemplo, os níveis do fator são os diferentes banhos de têmpera: água, óleo e água salgada.

4. Tratamento

É o método, elemento ou material cujo efeito desejamos medir ou comparar em um experimento.


Combinações específicas dos níveis de diferentes fatores também são denominados tratamentos.
Quando há apenas um fator, os níveis deste fator são denominado tratamentos.

No exemplo, como há um único fator, banho de têmpera, os tratamentos são: água, óleo e água salgada.

5. Ensaio

Cada realização de um experimento em uma determinada condição de interesse (tratamento) é denominada


ensaio, isto é, um ensaio corresponde a aplicação de um tratamento a uma unidade experimental.

No exemplo, cada ensaio consiste em tratar um corpo de prova em determinado banho de têmpera.

6. Variável resposta
É o resultado de interesse registrado após a realização de um ensaio, ou seja, o valor observado.

No exemplo, a variável resposta é a dureza medida em cada corpo de prova após a realização da têmpera.
Segundo (BANZATO & KRONKA, 1995) a pesquisa científica está constantemente se utilizando de
experimentos para provar suas hipóteses. Experimentos variam de pesquisa para outra, porém todos eles são
regidos por alguns princípios básicos, necessários para que as conclusões sejam válidas.

2.2. PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PLANEJAMENTO DE EXPERIMENTOS

Os princípios básicos do planejamento experimental são: réplica, aleatorização e blocos.

1. Princípios de aleatorização

O princípio da casualização tem por finalidade propiciar a todos os tratamentos a mesma


probabilidade de serem designados a qualquer das unidades experimentais.
Refere-se ao fato de que tanto a alocação do material experimental como as diversas condições de
experimentação, quanto à ordem, segundo a qual os ensaios individuais do experimento serão realizados, são
determinados ao acaso.
A aleatorização permite que os efeitos dos fatores não controlados, que afetam a variável resposta
que podem estar presentes durante a realização do experimento, sejam balanceados entre todas as medidas.
Este balanceamento evita o confundimento na avaliação dos resultados devido à atuação destes fatores.
Geralmente este princípio, garante que os erros experimentais sejam variáveis aleatórias
independentes, uma das condições necessária para a modelagem dos dados.

Suponha que no exemplo considerado, os corpos de prova tenham espessuras ligeiramente diferentes.
O que se pode esperar se todos os corpos de prova mais grosso forem submetido a têmpera em água
salgada?

2 - Princípio da réplica

Réplicas são repetições do experimento feitas sob as mesmas condições experimentais.

No exemplo utilizado uma réplica do experimento completo é quando cada um dos banhos são feitos mais
de uma vez com cada tratamento.

Importância da utilização das réplicas:

a) As réplicas permitem a obtenção de uma estimativa da variabilidade devida ao erro experimental.


As estimativas obtidas por meio das réplicas permitem avaliar se a variabilidade presente nos dados é
devido somente ao erro experimental ou se existe influência das diferentes condições avaliadas pelo
pesquisador. Se estas condições forem influentes, deve-se analisar qual condição é mais favorável.

b) As réplicas permitem detectar com precisão desejada, os efeitos produzidos pelas diferentes condições
experimentais.

3 – Princípio do controle local

Este princípio é freqüentemente utilizado, mas não é de uso obrigatório, pois podemos realizar
experimentos sem utilizá-lo. O procedimento é reunir em blocos as unidades experimentais mais
homogêneas, reduzindo assim o erro experimental.

No exemplo, vamos supor que os corpos de prova sejam provenientes de corridas diferentes. Este
fato pode conduzir a mais uma fonte variabilidade que pode mascar o resultado da variável observada.
Neste caso o experimento pode ser conduzido de tal forma que todos os tratamentos sejam alocados
nas diferentes corridas, eliminado o efeito da corrida.

Ilustração de réplica e aleatorização utilizando um exemplo em que os banhos de têmpera são: água, óleo A
e óleo B, tendo como variável resposta a dureza.

Quadro 1 – Réplicas dos tratamentos

Banho
de Número de ensaios
Têmpera
Água 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Óleo A 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Óleo B 19 20 21 22 23 24 25 26 27

Quadro 2 - Aleatorização

Sequencia dos testes Número do ensaio Banho de têmpera


1 16 Óleo A
2 14 Óleo A
3 24 Óleo B
4 19 Óleo B
5 25 Óleo B
6 26 Óleo B
7 9 Água
8 6 Água
9 12 Óleo A
10 17 Óleo A
11 10 Óleo A
12 2 Água
13 7 Água
14 20 Óleo B
15 21 Óleo B
16 8 Água
17 22 Óleo B
18 15 Óleo A
19 18 Óleo A
20 23 Óleo B
21 5 Água
22 4 Água
23 13 Óleo A
24 1 Água
25 3 Água
26 11 Óleo A
27 27 Óleo B
3 – ROTEIRO PARA A REALIZAÇÃO DE UM BOM EXPERIMENTO

a) Identificação dos objetivos do experimento;


b) Seleção da variável reposta;
c) Escolha dos fatores e seus níveis;
d) Planejamento experimental adequada;
e) Realização do experimento;
f) Análise de dados;
g) Interpretação dos resultados;
h) Elaboração do relatório.

4 – ANÁLISE DE VARIÂNCIA

A análise de variância consiste na decomposição dos graus de liberdade e da variância total de um


material em partes atribuídas a causas conhecidas e independentes e a uma porção residual de origem
desconhecida e de natureza aleatória.
Para podermos utilizar a metodologia estatística nos resultados experimentais, é necessário que o
mesmo tenha considerado pelo menos os os princípios da repetição e aleatorização, afim de que seja
possível obter uma estimativa válida para o erro experimental, permitindo a aplicação de testes de
significância.
As hipóteses básicas para a validade da análise de variância são:
a) aditividade: os efeitos dos fatores que ocorrem no modelo devem ser aditivos.
b) independência: os erros ou desvios devidos ao efeito dos fatores não controlados, devem ser
independentes.
c) homogeneidade de variância: os erros ou desvios, devido aos efeitos dos fatores não controlados, devem
possuir uma variância comum.
d) Normalidade: os erros ou desvios, devido ao efeito de fatores não controlados, devem possuir uma
distribuição normal de probabilidade.
Quando as hipóteses básicas não são verificadas um procedimento comum é a transformação dos
dados. Outro procedimento alternativo é analisar os dados de acordo com a distribuição de probabilidades
destes utilizando-se da teoria de modelos lineares generalizados.

As hipóteses básicas para a análise de variância devem ser verificadas por meio de gráficos
específicos ou testes estatísticos. Um teste utilizado para verificar a suposição de homogeinidade de vaiância
é o teste de Hartley ou teste da razão de máxima verossimilhaça.

5 – TESTES DE COMPARAÇÕES MULTIPLAS

Os testes de comparações múltiplas, ou testes de comparações de médias, servem como


complemento do teste F, para detectar diferenças entre os tratamentos (BANZATO & KRONKA, 1995).
Se o interesse é apenas comparações da testemunha com cada um dos outros tratamentos, usar o teste
de Dunett.
Se interessa todas as comparações possíves de médias, duas a duas, usar Duncan ou Tukey.
O método de Scheffé deve ser adotado quando temos interesse em vários contrastes, com pelo
menos um deles envolvendo mais de duas médias.
6. DELINEAMENTOS EXPERIMENTAIS

6.1. Delineamento com um único fator


O delineamento aleatorizado com um único fator é o mais simples de todos os delineamentos experimentais
e os experimentos instalados de acordo com este delineamento são denominados de experimentos
inteiramente ao casualizado (DIC).
Esse delineamento apresenta as seguintes características:
a) utiliza apenas o princípio da repetição e da casualização.
b)os tratamentos são designados às parcelas de forma inteiramente casual.

Para a instalção deste experimento deve-se ter certeza da homogeneidade das condições ambientais e do
material experimental. É um delineamento frequentemente utilizado em laboratórios.

Modelo associado ao delineamento

𝑦𝑖𝑗 = 𝜇 + 𝜏𝑖 + 𝜀𝑖𝑗 (1)

𝑖 = 1,2, … , 𝐼 𝑗 = 1,2, … , 𝐽

em que
𝑦𝑖𝑗 : valor observado na parcela que recebeu o tratamento i na repetição j;
μ: parâmetro comum a todos os tratamentos, média global;
𝜏𝑖 : efeito do i-ésimo tratamento;
𝜀𝑖𝑗 : componente do erro aleatório.
Exemplo 1 - No experimento de banho de têmpera com água, óleo A e óleo B, obteve-se os seguintes resultados
Banho de têmpera
Observações Água Óleo A Óleo B
1 36,7 36,0 35,3
2 38,9 36,4 35,0
3 38,7 35,3 34,3
4 38,8 36,8 35,7
5 37,6 36,9 35,2
6 37,2 37,5 34,2
7 38,8 35,3 36,5
8 38,0 36,0 35,8
9 37,2 35,7 35,5
Totais 341,9 325,9 317,5
Mdias 38,0 36,2 35,3

Faça a análise de variância com 5% de significância para verificar se há diferença entre os tratamentos.

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