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Você quer viver de renda?

Editor Responsável

Felipe Miranda

A primeira coisa que eu preciso dizer é: meu pai largou seu emprego (fixo)
de diretor de banco para trabalhar de casa. Queria viver de renda, a partir
do resultado dos seus trades e de suas estratégias com dividendos em Bolsa.
Quebrou pouco tempo depois. Perdeu tudo o que tinha e mais um pouco.
Deixou de herança um Corsa e um bocado de dívida.

Com o patrimônio, como se servisse generosamente de companhia, foi


embora a harmonia familiar. Se o dinheiro não entra pela porta, o amor
voa pela janela. Ficamos por muito tempo lambendo as feridas, algumas
delas ainda abertas. Ele se foi antes que pudéssemos recuperar a situação
anterior. Recaíram sobre mim a responsabilidade de devolver à mamãe
uma condição financeira melhor e a culpa por não ter conseguido dar ao
papai um fim de vida mais digno.

As linhas a seguir, portanto, e qualquer outra que eu venha a escrever


sobre o tema, não compactuam, nem de longe, com a ideia de “viver de
renda”. A proposta subsequente visa tão somente incrementar seus
rendimentos mensais a partir da implementação de investimentos focados
em dividendos ou pagamentos de cupom.

Apresento a seguir uma carteira focada em geração de rendimentos


adicionais para o investimento.

Não se trata de um portfólio focado em ganho de capital, ou seja, de


apreciação do principal. Hoje me volto ao pinga-pinga mensal ou mesmo
semestral.

De maneira muito simples e até tradicional, vou separar a coisa em três


classes de ativos, imaginando como o portfólio pode ser segmentado em
termos de alocação do capital. Posteriormente, apresento a seleção de
ativos propriamente dita, em cada uma das fatias do portfólio.

Para cada indicação, sem distinção, estou assumindo que você não
precisará do dinheiro no curto prazo. Ou seja, sua reserva de emergência,
tipicamente associada a seis meses de seus gastos, deve estar fora disso. Ela
tipicamente associada a seis meses de seus gastos, deve estar fora disso. Ela
é outra coisa e precisa ser preservada e da qual não abro mão: reserva de
emergência sempre em um fundo DI bem barato (taxa de adm inferior a
0,5% ao ano) ou no Tesouro Selic, a famosa LFT.

Considerando apenas a parcela do seu patrimônio que você gostaria de


aplicar em estratégias de renda, minha proposta seria dividi-la em três
partes menores:

(i) Renda fixa, com 50% de toda a estratégia com renda;

(ii) Ações de dividendos, com 30% dessa carteira; e

(iii) Fundos imobiliários, com 20%.

Feita essa divisão, exponho o que pode ser uma alocação em cada um dos
nichos.

1. Renda Fixa: 50% da estratégia

Do total destinado à sua carteira de renda, metade (50%) pode ser


direcionada à renda fixa.

Tipicamente, alocadores de recursos sugeririam também algum


posicionamento em crédito privado com pagamentos de cupom
interessantes.

Entendo e respeito aqueles que gostam de LCIs, LCAs, CDBs de bancos


médios e debêntures incentivadas. Pessoalmente, porém, não gosto de
crédito, em especial no Brasil. Entendo que a estratégia implica assunção de
um risco não devidamente remunerado pelo retorno adicional a ser
capturado. Aposte centavos para ganhar dólares, nunca o contrário.
A princípio, o crédito privado parece muito atrativo. Paga um pouquinho a
mais que o soberano (títulos públicos) e, como são muitas vezes marcados
na curva, não oferecem volatilidade. O investidor lê a falta de volatilidade
como ausência de riscos e acaba magnetizado por aquela suposta
atratividade. Subitamente, porém, pode ocorrer aquela surpresinha lá na
frente.

Você se expõe a um risco de default (vulgo calote), com perda potencial de


100% do capital investido, para ganhar algumas migalhas sobre o CDI.
Respeito os simpatizantes do crédito no Brasil, mas eu, Felipe, não acho que
valha a pena.

Prefiro obedecer fielmente ao chamado Barbell Strategy, em que separamos


o portfólio em dois grandes polos: de um lado, pouquíssimo risco, com
muito capital; de outro, pouco capital, com muitíssimo risco. Nada no meio.

Por isso, a estratégia em renda fixa se concentra em papel soberano.

Uma alternativa de que gosto bastante é o Tesouro Prefixado com juros


semestrais 2021.

Os títulos prefixados com juros semestrais (antigas NTN-Fs), conforme


obviamente sugere o nome, pagam juros a cada seis meses, representando
uma antecipação da rentabilidade contratada.

O consenso ainda não admite a retomada do ciclo de cortes depois de uma


pausa. Ao contrário, a curva sugere que o próximo movimento é de alta lá
na frente. Mas grandes investidores com muita expertise em trading de
curva de juros já estão se posicionando para capturar eventuais novos
cortes no juro básico.

Ainda que não seja certa a caminhada da Selic para 6% ao ano — e de fato
não é —, a aposta no juro curto oferece uma matriz de payoff assimétrica e
não é —, a aposta no juro curto oferece uma matriz de payoff assimétrica e
convidativa. Muito a ganhar, pouco a perder.

Caso não encontre título nesse vencimento no Tesouro Direto e/ou na sua
corretora, procure replicar da maneira mais fidedigna possível a alocação
sugerida.

Tributação

Os cupons distribuídos por títulos públicos são tributados conforme a


tabela regressiva de renda fixa: nos primeiros seis meses (180 dias), os juros
estão sujeitos a um Imposto de Renda de 22,5%; de 181 a 360 dias, o IR cai
para 20%; de 361 a 720 dias, para 17,5%; e, após 702 dias, para 15%.

2. Ações de dividendos: 30% da


estratégia

A alocação em ações pode ser dividida em papéis de qualidade, com


histórico comprovado de boa pagadora de dividendos, de maneira a
construir um portfólio diversificado. Uma de minhas preferidas e com a
qual você pode começar a montar sua carteira é:

BB Seguridade (BBSE3)

Trata-se da maior corretora de seguros da América Latina. Criada no fim de


2012 a partir da divisão de seguros do Banco do Brasil, abriu seu capital na
Bolsa em 29 de abril do ano seguinte e hoje, quase cinco anos depois, possui
diferenciais competitivos relevantes que a tornam uma excelente pagadora
de dividendos.

BBSE mantém um yield recorrente de aproximadamente 6,5%, o que é um


BBSE mantém um yield recorrente de aproximadamente 6,5%, o que é um
ótimo retorno, considerando a opcionalidade de ganho na valorização das
próprias ações. No setor de seguros, a barreira de entrada está concentrada
na distribuição, aspecto que faz de BBSE a companhia com a maior
rentabilidade no setor.

Sua parceria de exclusividade com o Banco do Brasil lhe proporciona uma


base de ativos muito leve (“asset light”) que, em nossa visão, é a maior
qualidade do negócio.

O destaque da distribuição dos produtos via BB permite à empresa manter


a enorme qualidade no pagamento dos proventos, principalmente por dois
motivos: (i) corretagem, que representa 40% dos lucros da companhia e
possui baixíssimo custo; e (ii) float, que é quanto a empresa consegue gerar
de rentabilidade – ROE (return on equity) superior a 50%.

Tributação

No caso de ações, os proventos costumam ser pagos em forma de juros


sobre capital próprio, que estão sujeitos a um Imposto de Renda de 15% na
fonte, ou em forma dos tradicionais dividendos, com maior apelo por serem
isentos de imposto.

3. Fundos imobiliários: 20% da


estratégia

Os fundos imobiliários podem responder por 20% da sua carteira de renda.


Aqui, sugiro um dos meus favoritos com essa abordagem:

O VISC11 é um fundo recém-chegado à Bolsa, que estreou em 1º de


novembro de 2017. Atualmente, é o melhor dentre os de shopping center,
não só pela exposição ao setor (nosso preferido), mas também pela
não só pela exposição ao setor (nosso preferido), mas também pela
qualidade dos ativos, time de gestão, bom track record em M&A (fusões e
aquisições), portfólio pulverizado e alinhamento de interesses entre
gestores e cotistas.

O papel passou por uma oferta recente, a R$ 107 por cota, assim,
entendemos que, no momento não faz sentido pagar muito acima disso.
Vamos estabelecer um teto de R$ 110. Acima disso, podemos deixar um
pouco de dinheiro na mesa no curto prazo. Mas isso não muda a nossa
visão de que no médio prazo esse fundo trará boas-novas aos investidores
via renda e ganho de capital.

Tributação

Uma das vantagens dessa modalidade de ativo é a isenção de Imposto de


Renda sobre dividendos pagos para investidores pessoa física, desde que o
FII atenda determinadas condições:

As cotas do fundo imobiliário em questão devem ser negociadas na Bolsa de


Valores ou no mercado de balcão organizado;

O fundo deve ter, no mínimo, 50 cotistas;

O cotista em questão deve deter menos de 10% do total de cotas do FII ou


receber rendimento inferior a 10% dos rendimentos auferidos pelo fundo.
O investidor que detiver mais do que 10% será isento até esse limite, e a
tributação incidirá apenas sobre os rendimentos inerentes às cotas que
estiverem acima do referido percentual.

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