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Mineração

Principais normas e recomendações


existentes para o controle de vibrações
provocadas pelo uso de explosivos em
áreas urbanas – Parte II
Denise de La Corte Bacci
Pós-doutoranda – LACASEMIN - Depart. de Engenharia de Minas e de Petróleo – Escola Politécnica – USP
E-mail: dbacci@dglnet.com.br
Paulo Milton Barbosa Landim
Depart. de Geologia Aplicada - Instituto de Geociências e Ciências Exatas - UNESP/Rio Claro (SP)
E-mail:plandim@rc.unesp.br
Sérgio Médici de Eston
Professor Titular e Chefe do Depart. de Engenharia de Minas e de Petróleo; Coordenador do Laboratório de
Controle Ambiental, Higiene e Segurança na Mineração (LACASEMIN) – Escola Politécnica – USP
E-mail: smeston@usp.br
Wilson Siguemasa Iramina
Pesquisador do LACASEMIN - Depart. de Engenharia de Minas e de Petróleo – Escola Politécnica – USP
E-mail: wilsiram@usp.br

Resumo Abstract
As atividades que envolvem o uso de explosivos devem ser Blasting requires control measures related to structural
controladas, não só com relação ao desmonte de estruturas (rocha damage to buildings and environmental impacts like ground
e outros materiais), mas também quanto a danos estruturais em vibrations, noise, flyrock and air blast. The use of explosives is
edificações próximas (casas, edificações históricas, etc.) e outros
controlled by federal and state regulations, which involve
impactos ambientais como vibração, propagação de ruídos, ultra-
measurement of parameters to evaluate probable damage in
lançamentos e sobrepressão atmosférica. Tais atividades são regi-
das por normas técnicas que sugerem parâmetros de medição e buildings and other type of constructions. In urban areas, the
limites definidos na avaliação de prováveis danos. No caso especí- peak particle velocity (PPV) associated with ground vibration
fico de minerações em áreas urbanas, a velocidade de vibração de and expressed in mm/second, is the best parameter to evaluate
partícula (Vp), normalmente expressa em mm/s, é o parâmetro possible structural damages. Worldwide legal limits vary from
que tem dado melhor correlação na avaliação de possíveis danos às a low 2 mm/s for historical buildings to a high 150 mm/s for
estruturas civis, atribuídos às vibrações do terreno. As diferentes reinforced concrete.
normas existentes apresentam valores de Vp que variam de 2mm/s
para edifícios históricos até 150mm/s para construções em con- Most of the regulations consider peak particle velocity
creto armado. A maioria delas considera na avaliação de danos and frequency as a double damage parameter. Some regulations
estruturais, além da velocidade, a freqüência da vibração. Algumas were elaborated with an experimental database, involving
normas foram elaboradas com base em dados experimentais, ana- different types of construction and building materials. Others
lisando parâmetros como o tipo de construção e o material nela were proposed using empirical data. Both regulations present
utilizados, outras se basearam apenas em valores empíricos, mas
conservative values. The Brazilian norm does not consider the
todas apresentam valores conservativos. A norma brasileira não
avalia o parâmetro freqüência e não classifica os diferentes tipos frequency and the different types of buildings in the damage
de estruturas civis, restringindo-se ao valor resultante da velocida- evaluation.
de de vibração como parâmetro medido, sendo, assim, limitada e This paper presents a review of American and other
deficiente em relação às normas internacionais. A coletânea aqui
regulations for blasting activities as compared to European
apresentada reuniu as normas nas Américas e em outros continen-
tes, além de uma comparação com as normas européias mais im- regulations.
portantes em âmbito mundial. Keywords: ground vibrations, explosives, structural damage,
Palavras-chave: vibrações do terreno, explosivos, danos em es- regulations.
truturas, normas técnicas.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(2): 131-137, abr. jun. 2003 131
1. Introdução A maioria dos seus trabalhos cor- Ground Vibration from Surface Mine
relaciona os parâmetros deslocamento, Blasting" (Siskind et al., 1980). Nesse
Os valores limites do nível de vi- freqüência, velocidade máxima de partí- trabalho, foi constatado que existe um
bração do terreno não dependem ape- cula e distância segura com a energia li- sério problema com a ressonância estru-
nas dos danos que a velocidade de vi- berada na detonação. tural, originada em resposta à vibração
bração de partícula pode causar nas de baixa freqüência propagada no terre-
construções civis, mas também do tipo Duvall e Fogelson (1962) concluí- no, apresentando como resultado au-
de construção em si, tendo sido prova- ram que danos em residências são pro- mentos em deslocamentos e deforma-
do que, com freqüência, a vibração gera- porcionais à velocidade de vibração de ções, o que veio reforçar a idéia de que
da por explosivos é apenas o instante partícula e que danos maiores (queda de danos podem ser ocasionados pela fre-
detonador de um processo de instabili- reboco ou rachaduras) podem ser espera- qüência.
dade atribuído a outras causas, como dos a partir de Vp de 190mm/s (7,6pol/s). Os limites de danos adotados no
recalque, dilatação térmica, insuficiência Já danos menores (trincas no reboco, RI 8507 foram definidos para "danos cos-
de material, erro de cálculo de projeto, abertura de rachaduras preexistentes) méticos do tipo mais superficial", ou seja,
etc. (Fornaro, 1980). podem ser esperados a partir de Vp de fissuras internas que se desenvolvem em
140mm/s (5,6pol/s) e que 50mm/s (2,0pol/s) todas as residências, independentemen-
Também é importante considerar as representa um valor razoável de separa- te das vibrações geradas pela detona-
características próprias das vibrações, ção entre zona de segurança e uma zona ção de explosivos.
ou seja, a freqüência, a repetitividade e a de prováveis danos.
duração do fenômeno. Pode-se dizer que Os níveis de vibração de partícula
um edifício sofre danos, se os impulsos O Boletim 656, publicado pelo seguros foram definidos como "níveis
Bureau of Mines em 1971, intitulado com improbabilidade de produzir fissu-
dinâmicos provocados pelas vibrações
"Blasting Vibrations and Their Effects ras no interior de residências ou quais-
sobrepõem-se aos impulsos estáticos,
of Structures", propôs uma velocidade quer outros danos". Esses níveis são
levando a uma superação das condições
apresentados na Tabela 1 e são defini-
de resistência da estrutura. máxima de partícula de 50mm/s (2,0pol/s)
dos como limites conservativos. Os va-
como o nível de segurança para as cons-
Quando não é possível, partindo lores foram muito criticados pela indús-
truções civis. A probabilidade de danos
apenas das medidas de velocidade, atin- tria das pedreiras por serem considera-
a uma estrutura residencial varia confor- dos desfavoráveis à produção.
gir os valores de deslocamento e os im- me aumenta ou diminui, em proporção, o
pulsos, é necessário recorrer-se a tabe- nível de vibração acima ou abaixo de O United States Bureau of Mines
las empíricas de danos, correlacionan- (USBM) e o Office for Surface Mining
50mm/s.
do, de vários modos, as características Reclamation (OSRME) estabeleceram
mais evidentes do fenômeno. Esse é o O critério atual de danos desenvolvi- dois critérios para o controle dos danos
caminho sugerido pela maior parte das do pelo United States Bureau of Mines provocados pelas vibrações no terreno.
normas (Fornaro, 1980). (USBM) baseia-se nas pesquisas reali- Os dois critérios, mostrados na Figura 1,
zadas em minerações a céu aberto e pu- constituem uma referência de velocida-
Serão apresentadas, a seguir, as blicadas em 1980 no Report of Investi- de máxima de vibração de partícula (Vp)
normas nas Américas, a norma australia- gation RI 8507, intitulado "Structure em função da freqüência.
na e a norma indiana relacionadas ao ní- Response & Damage Produced by
vel de vibração decorrente do uso de
explosivos em minerações, além de uma
comparação destas com as principais Tabela 1 - Níveis seguros de velocidades de vibração da partícula para estruturas
normas européias, indicando quais os civis (Fonte: Bacci, 2000, adaptado de Siskind et al., 1980).
parâmetros e os valores-limites de pro-
váveis danos estruturais que cada uma Tipo de estrutura Vp (mm/s)
delas apresenta.
A baixas A altas
freqüências freqüências
1. Norma Norte- f < 40 Hz f > 40 Hz
Americana - USBM Casas modernas – paredes
(RI 8507) e OSMRE interiores pré-moldadas em gesso, 19 50
O Bureau of Mines americano sem- sem revestimento
pre se destacou como pioneiro nos es-
tudos das vibrações, tendo como preo- Casas velhas – paredes interiores
cupação o estabelecimento de um limite com gesso ou revestimento de 12,7 50
de segurança que não causasse danos
madeira
estruturais em construções civis.

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2. Norma Brasileira Com base nas análises realizadas, a área de operação, não devendo ultrapas-
CE - 18.205.02 redigiu e aprovou a norma sar o valor de 134 dBL pico.
(NBR 9653)- Associação NBR 9653, que estabelece a velocidade Embora seja amplamente difundido
Brasileira de Normas de vibração de partícula (Vp) igual a que, para freqüências altas, a estrutura
15mm/s como limite máximo de vibração suporta melhor as vibrações, como no
Técnicas (ABNT) admissível nos arredores da área de ope- caso de estruturas fundadas em rocha
Desde 1983, a Associação Brasilei- ração das pedreiras. A norma também localizadas a menos de 300m da detona-
ra de Normas Técnicas (ABNT) vem co- estabelece que não devem ocorrer, de ção (Siskind et al., 1980), a norma brasi-
letando e analisando dados técnicos da forma alguma, ultralançamentos de leira não trata da freqüência dos fenô-
bibliografia internacional e associando- fragmentos e sobrepressões atmosféri- menos vibratórios, nem determina os ti-
os à experiência nacional, através da sua cas excessivas. pos de edifícios afetados pelas vibra-
Comissão de Estudos CE - 18.205.02. ções, sendo, desse ponto de vista, defi-
A velocidade resultante de vibra-
A experiência brasileira advém de ciente em relação às normas internacio-
ção de partícula deve ser calculada com
trabalhos em pedreiras operando junto à nais já mencionadas.
base na seguinte fórmula:
periferia das grandes concentrações ur- Trabalhos de Langfors e Kihlstrom
banas, em especial, no litoral paulista e
na Grande São Paulo. Em média, a área
[
VR = (VL) 2 + (VT) 2 + (VV) 2 ]1
2 (1) (1963) e do USBM (Siskind et al.,1980)
indicam total ausência de danos nas con-
urbanizada se constitui de residências onde: dições anteriormente mencionadas e
modestas, construídas por uma popula- também para valores de Vp menores que
VR = velocidade resultante de vibração 50mm/s. Para uma faixa de freqüência
ção de baixa renda.
da partícula, em mm/s. entre 2 e 40Hz, os limites de Vp possuem
Esses trabalhos foram analisados ampla dispersão, devido aos grandes
VL = velocidade de vibração na direção
estatisticamente, com os seguintes ob- deslocamentos que ocorrem associados
longitudinal, em mm/s.
jetivos: à ressonância estrutural (as freqüências
VT = velocidade de vibração na direção naturais das estruturas estão nessa fai-
a) Caracterizar as condições médias de
transversal, em mm/s. xa). Para esses casos, os limites de velo-
operação das pedreiras, que corres-
pondem às condições econômicas VV = velocidade de vibração na direção cidade de vibração de partícula (Vp) com
favoráveis. vertical, em mm/s. ausência de danos em edifícios foram
calculados por simples conversão de
b) Caracterizar o nível de vibração cor- Também é definido o nível de so- movimentos harmônicos simples, para a
respondente àquelas condições eco- brepressão atmosférica, medido além da faixa de 13 a 25mm/s, a 10Hz.
nômicas de operação.
Observando-se as correlações exis-
tentes entre as variáveis envolvidas no
100
fenômeno: carga máxima por espera (Q)
e distância (D), velocidade de vibração
de partícula (Vp) observadas ou medi- 50 m m /s
das nos trabalhos realizados, conclui-se: m
m
a) No caso geral (227 medições) para to-
OSM RE ,0 3
2
dos os tipos de rocha estudados 19 m m /s
(gnaisse, granito, calcário e basalto),
não foram observados valores de ve- 12,5 m m /s
USBM
locidade de vibração de partícula (Vp) 10 m
superiores a 15mm/s, a partir de 200m m
7 6
das detonações. 0,
b) Para a faixa de valores de D (distân-
cia) inferiores a 200m, sugeriram-se li-
3
mites do uso da carga máxima por es-
pera (Q), de modo a não se excederem 10 100
1
os valores de velocidade de vibração
da partícula (Vp) em 15mm/s, ou seja: Freqüência (Hz)
• para 140 < D < 200 => Q < 100 kg/espera Figura 1 - Diagrama representando os limites de Vp e de deslocamento, sugeridos
pelo USBM e OSMRE, medidos em mm/s e mm, respectivamente, em função da
• para 40 < D < 140 => Q < 30 kg/espera freqüência, em Hz. A linha tracejada, em baixo,refere-se aos valores propostos pelo
USBM para paredes rebocadas. (Fonte: Bacci, 2000, modificado de Berta, 1985).

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3. CETESB D7.013 térmicas, sendo requisitado o monitora- e) Os desmontes não podem ocorrer mais
mento de todos os desmontes de um em- de uma vez ao dia, excetuando-se des-
A CETESB estabeleceu critérios de preendimento. montes secundários.
avaliação de problemas ambientais atra-
vés da norma interna D7.013, de 1992, na A norma AS2187 (1983) adotou cri- f) As restrições quanto ao tempo e à fre-
qual se fixam as condições exigíveis para térios referentes ao pico de velocidade qüência dos desmontes não se apli-
a atividade de mineração a céu aberto de vibração da partícula, medido no ter- cam a locais onde os efeitos das vi-
que utiliza explosivos no desmonte do reno próximo à fundação da estrutura, brações não são perceptíveis e a mi-
minério, no que se refere ao controle de como mostra a Tabela 2. nas subterrâneas metalíferas.
poluição e à conservação do meio ambi- A norma foi reeditada em 1993, não
ente. Esse critério avalia o incômodo ge- considerando limites de Vp para as cons-
rado à população e não se refere aos da- truções históricas e monumentos, mas
5. Norma Indiana
nos em estruturas civis, como a NBR ressaltando que esses requerem consi- O limite de vibração suportado pe-
9653. derações especiais, muitas vezes resul- las estruturas civis na Índia nos arredo-
A velocidade resultante de vibra- tado em medições adicionais na sua pró- res das minas a céu aberto foi determina-
ção de partícula é calculada do mesmo pria estrutura. do pelo Central Mining Research Insti-
modo que na norma NBR 9653, a qual tute (CMRI), em 1991, através de um
Em abril de 1986, o Environmental monitoramento da resposta estrutural de
estabelece como valor máximo de Vp Noise Control Committee of the
3mm/s, medido na componente vertical. diversas construções.
Australian Environmental Council
Quando a medição for realizada com uti- (AEC) editou um documento intitulado A Tabela 3 apresenta os resultados
lização de instrumentos cujos resultados "Draft Technical Basis for the Control de tal estudo.
sejam a integração das três componen- of Noise and Vibration from Blasting",
tes, o valor máximo permitido para a ve- Os estudos apontam que um valor
sugerindo as seguintes restrições: de Vp de 5mm/s, medido na fundação
locidade de partícula é de 4,2mm/s, para
que não haja incômodo à população. Em a) Nível máximo permitido de velocidade das estruturas, é seguro a baixas freqüên-
ambos os casos, a medição deve ser fei- de vibração da partícula de 5mm/s. cias para qualquer tipo de estrutura resi-
ta fora dos limites da propriedade da mi- dencial, mesmo se este se amplifica no
b) O nível máximo pode ser excedido em nível mais alto, devido à ressonância.
neração. 5% dos desmontes em um período de
Quanto à instalação dos sensores, 12 meses, não ultrapassando nunca o A Tabela 4 mostra os valores míni-
estes devem ser fixados rigidamente no valor de 10mm/s. mos de vibração e os danos que podem
solo, a uma distância inferior a 10m da ser gerados nas estruturas, segundo es-
c) Recomenda o valor de 2mm/s para o tudos do CMRI, em diversos tipos de
edificação mais atingida. controle das vibrações. residências.
d) Os desmontes são permitidos das 9 Os valores propostos nesse estu-
4. Norma Australiana às 15h, de segunda à sábado, sendo do foram monitorados em residências,
Os critérios australianos para limi- proibidos nos domingos e feriados. escolas, construções pobres e demais
tar os níveis de vibração a partir de des-
montes com explosivos em rochas são Tabela 2 - Valores máximos de velocidade de vibração da partícula, adotados pela
baseados nas especificações dos se- Norma AS2187, segundo os tipos de construções civis (Fonte: Bacci, 2000, adaptado
guintes órgãos: de Scott, 1996).

• Comissão Estadual de Controle da


Velocidade máxima de
Poluição (SPCC) do Manual de Con-
trole de Perturbação Ambiental (New Tipos de construções vibração de partícula
South Wales) - 1980. (mm/s)

• Conselho Ambiental Australiano


(AEC) - Norma AS2187, Parte 2 de 1983 Construções históricas e monumentos de
2
- uso de explosivos. especial valor ou significado

• U.S. Bureau of Mines (USBM) - Rela-


tório RI 8485.
Casas e prédios residenciais de baixa altura 10
O critério adotado pela SPCC para
velocidade de vibração da partícula era
o de não exceder 7mm/s e as detonações Prédios comerciais ou industriais ou
deveriam ser realizadas no período das 9 25
estruturas de concreto armado ou ferro
às 15 horas, para se evitarem inversões

134 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(2): 131-137, abr. jun. 2003
locais de interesse. Muitas dessas resi- normas européias definem o tipo de de freqüência menores, devido aos ti-
dências encontravam-se em mau estado edifício em função do seu uso (resi- pos de construções mais antigas e,
de conservação e foram construídas sem dencial, industrial, histórico), dando portanto, mais sensíveis encontradas
nenhuma supervisão e com material de valores de Vp mais baixos que a nor- nesses países.
baixa qualidade. ma americana para freqüências meno-
Segundo Schillinger (1994), uma
res que 40Hz. No intervalo de 40 a
comparação entre a norma alemã DIN
100Hz, para edifícios industriais, os
4150 e a norma norte-americana USBM
6. Análise das valores se aproximam daqueles da nor-
RI8507 mostra uma variação dos valores
principais normas ma americana, mantendo-se mais bai-
de Vp admitidos, como mostra a Figura
xos para os outros tipos de edifícios.
técnicas 2. A razão entre a USBM RI8507 e a DIN
c) Quanto aos intervalos de freqüência: 4150, para residências e monumentos
As principais diferenças entre as as normas norte-americanas definem históricos, mostra um fator 3 a 4 vezes
normas americanas em relação às reco- os intervalos em menor e maior que maior para a norma americana, no inter-
mendações européias são: 40Hz, pois a ressonância natural dos valo de freqüência de 1 a 100Hz, signifi-
a) Quanto à instalação do geofone: na edifícios está abaixo desse valor. As cando que as estruturas residenciais dos
norma americana os geofones são, em normas européias definem intervalos Estados Unidos seriam de 3 a 4 vezes
geral, dispostos no terreno circundan-
te à estrutura em observação, e não
no interior do edifício ou em corres-
Tabela 3 - Valores-limites estabelecidos pelo CMRI para vibrações na fundação a
pondência de suas partes particular- diferentes níveis de freqüência (Fonte: adaptado de Pal Roy, 1998).
mente sensíveis.
b) Quanto aos tipos de edifícios: as re- Valores de Vp
comendações do USBM distinguem os Tipo Especificações da estrutura
(mm/s)
edifícios em duas classes, consideran-
do o tipo de revestimento interno, ou < 24 Hz > 24 Hz
seja, aqueles construídos com pare- Construções domésticas, paredes interiores
des rebocadas, e os construídos sem (a) pré-moldadas em gesso; estruturas com 5 10
reboco nas paredes, ou com revesti-
reboco; pontes.
mentos em gesso ou madeira. Os limi-
tes para as paredes à vista (sem rebo- Prédios industriais, estruturas de concreto
co), propostos pelo USBM, coincidem (b) 12,5 25
armado ou aço.
com aqueles do OSMRE, no campo da
freqüência compreendido entre 0 e
Estruturas de importância histórica; estruturas
11Hz e entre 40 e 100Hz. A recomen-
dação do OSRME permite maiores va- muito sensíveis; com mais de 50 anos de
(c) 2 5
lores de Vp no intervalo de freqüência idade; estruturas em baixo estado de
compreendido entre 11 e 40Hz. As conservação e sem reparações.

Tabela 4 - Valores mínimos de vibrações produzidas por desmontes nos quais ocorreram danos, medidos nas estruturas, segundo
CMRI (1991).

Vp (mm/s) Local de medição Tipo de estrutura


Ocorrência das primeiras trincas 50 Solo Estrutura de tijolo
Ocorrência das primeiras trincas 76 Primeiro andar Estrutura de tijolo
Ocorrência das primeiras trincas 400 Paredes laterais Estrutura de concreto
Alargamento de trincas existentes 90 Solo Estrutura de tijolo
Rachaduras 240 - Estrutura de tijolo
Queda de reboco 280 - Estrutura de tijolo

Construções de sapê
Fissuras profundas 192 Paredes laterais e cantos
(mud houses )

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mais resistentes à cargas dinâmicas, que res de vibração dificilmente excedem a cômodo gerado nesses casos é o que
as construções européias. No entanto, norma NBR 9653, embora em alguns ca- mais preocupa, restringindo os valores
o próprio autor não aceita essa hipótese sos excedam os valores estabelecidos de Vp.
e argumenta que as regulamentações pela CETESB. Nesse caso, apresentam
As Tabelas 5 e 6 comparam os pa-
possuem um caráter conservativo e não altas freqüências diminuindo muito o ris-
râmetros e os valores de velocidade e
estão isentas de referências políticas. co de possíveis danos estruturais, se-
freqüência das principais normas.
Tais referências, geralmente, estão con- gundo os padrões internacionais. O in-
centradas na determinação da probabili-
dade de aceitação social da ocorrência
de danos e incômodo. Atualmente, o in-
cômodo aos seres humanos vem sendo 60
até mais considerado que os danos em
edifícios, embora com maior dificuldade
V p (m m /s ) USBM R I 8507
para serem regulamentados, devido à sua
subjetividade.
40
A norma brasileira não apresenta
uma definição dos valores de Vp em re-
lação à freqüência e não define os tipos
de construção civil nem os possíveis D IN 4 1 5 0
danos que podem ocorrer em função do 20
tipo de material utilizado. O valor defini-
do pela ABNT como limite máximo de 10
vibração a ser gerado é mais coerente
com os estudos internacionais e não com 0
F re q ü ê ncia (H z)
a realidade das construções nacionais. 1 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
A CETESB apresenta valores mais
rígidos para o limite de vibração de partí- Figura 2 - Gráfico comparativo das normas alemã DIN 4150 e norte-americana RI 8507
cula, pois considera o incômodo ao ser (Fonte: Bacci, 2000, modificado de Schillinger, 1994).
humano e não os danos possíveis de
serem causados em determinados tipos
Tabela 5 - Valores de velocidade de vibração de partícula e freqüência das principais
de estruturas civis, como define a NBR normas internacionais. Mínimos e máximos estabelecidos em função do tipo de edifício.
9653.
A realidade brasileira mostra que a Velocidade (mm/s) Freqüência (Hz)
maioria das pedreiras em áreas urbanas Países
é circundada por construções residenci- Mínima Máxima Mínima Máxima
ais de baixa renda, na periferia dos gran-
des centros urbanos. Essas residências Alemanha 3 50 <10 100
apresentam diversos tipos de problemas
Estados Unidos 12,7 50 <40 >40
já na sua construção, como quedas de
rebocos, trincas e rachaduras de pare- Itália 3 50 <10 100
des, originados, não pelas detonações
com explosivos realizadas pelas pedrei- Suíça 10 90 8 30
ras, mas por outros problemas como os
de recalque do terreno, infiltração de França 2,5/4,0 75/15 <10/4 >10/100
água e, ainda, pela má qualidade do ma-
terial utilizado. O maior problema das re- Portugal 2,5 60 <10 >40
clamações contra as pedreiras ocorre
Suécia 18 70 <40 >40
devido à sobrepressão atmosférica e ao
ruído gerado na detonação e não pela Inglaterra 15 50 4 >40
vibração do terreno.
Austrália 2 25 <40 >40
Quando se consideram os terrenos
graníticos ou basálticos - que perfazem Índia 2 25 <24 >24
a maioria das jazidas próximas dos cen-
tros urbanos -, observa-se que os valo- Brasil - 15 - >40

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Tabela 6 - Normas e recomendações para os edifícios.

Parâmetros

Países Normas
Vel. Vp Tipo de Tipo de Tipo de
F Distância Terreno
Total Componente Edifício Vibração Atividade

Alemanha DIN 4150 Sim Não Sim Não Não Sim I, PI Não

USBM (1980) Sim Não Sim Não Não Sim I, PI Não


Estados Unidos
OSMRE Sim Não Sim Não Não Sim I, PI Sim

Itália UNI 9916 Sim Não Sim Não Não Sim I, PI Não

Suíça SN640312/92 Sim Sim Não Não Não Sim I, C Não

AFTES 1974 Sim Não Sim Não Sim Sim I, PI Não


França
Min.Ambiente Sim Não Sim Não Não Sim I, PI, C Sim

(GFEE) Sim Não Sim Não Não Sim I Sim

Portugal NP 2074 Sim Sim Sim Não Sim Sim I Sim

Espanha UNE 22-381 Sim Não Sim Não Não Sim I, PI Não

Suécia SS4604866 Sim Não Sim Sim Sim Sim I, PI Sim

Finlândia Min. Sanità Sim Não Sim Sim Sim Sim I, PI, C Não

Austrália AS2187 Sim Não Sim Não Não Sim I, PI Sim

Índia CMRI Sim Sim Sim Não Não Sim I Não

Brasil NBR 9653 Não Não Sim Sim Não Não I, PI Não

I – Impulsiva; PI – Periódica Impulsiva: C – Contínua.

CETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA


Referências DE SANEAMENTO AMBIENTAL -
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