Você está na página 1de 26

Pastor José Polini

jose@polini.org
SUMÁRIO
SUMÁRIO............................................................................................................................................................... I

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 1

2. HISTÓRIA DOS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS NA IGREJA ........................................................... 1


2.1. O PERÍODO PATRÍSTICO .................................................................................................................................... 1
2.2. O PERÍODO DA IDADE MÉDIA........................................................................................................................... 3
2.3. O PERÍODO DA REFORMA................................................................................................................................. 3
3. UMA PALAVRA AO INTÉRPRETE ............................................................................................................ 4

4. LINGUAGEM BÍBLICA ................................................................................................................................. 6


4.1. LUZES DA PRÓPRIA BÍBLIA............................................................................................................................... 6
4.2. CONTEXTO ....................................................................................................................................................... 6
4.3. VOCABULÁRIO DO ESCRITOR ........................................................................................................................... 7
4.4. VOCABULÁRIO BÍBLICO EM GERAL.................................................................................................................. 7
4.5. PARALELISMO .................................................................................................................................................. 8
4.6. INTUITO DO ESCRITOR ..................................................................................................................................... 8
4.7. CORRELAÇÃO .................................................................................................................................................. 9
5. OS TEMPOS E SUA MENSAGEM ............................................................................................................... 9
5.1. ANTIGAMENTE ................................................................................................................................................. 9
5.2. OS TEMPOS DOS GENTIOS .............................................................................................................................. 10
5.3. OS TEMPOS DO REFRIGÉRIO ........................................................................................................................... 10
6. LINGUAGEM FIGURADA ......................................................................................................................... 11
6.1. METÁFORA .................................................................................................................................................... 11
6.2. SINÉDOQUE .................................................................................................................................................... 11
6.3. METONÍMIA ................................................................................................................................................... 12
6.4. PROSOPOPÉIA................................................................................................................................................. 12
6.5. IRONIA ........................................................................................................................................................... 12
6.6. HIPÉRBOLE .................................................................................................................................................... 13
6.7. ALEGORIA ...................................................................................................................................................... 13
6.8. ANTROPOMORFISMO ...................................................................................................................................... 14
6.9. FÁBULA ......................................................................................................................................................... 14
6.10. ENIGMA ....................................................................................................................................................... 14
6.11. TIPO ............................................................................................................................................................. 14
6.11.1. Tipos Históricos................................................................................................................................... 15
6.11.2. Tipos Rituais ........................................................................................................................................ 15
6.11.2.1. Tabernáculo ..................................................................................................................................................... 15
6.11.2.2. Os Sacrifícios .................................................................................................................................................. 15
6.11.2.3. Solenidades Anuais ......................................................................................................................................... 16
6.12. SÍMBOLO ..................................................................................................................................................... 18
6.12.1. Objetos Reais ....................................................................................................................................... 18
6.12.2. Visões .................................................................................................................................................. 18
6.12.3. Transações ou Atos ............................................................................................................................. 19
6.12.4. Nomes .................................................................................................................................................. 19
6.12.5. Números............................................................................................................................................... 19
6.12.6. Cores ................................................................................................................................................... 20
6.12.7. Formas ................................................................................................................................................ 20
6.12.8. Glossário Simbólico ............................................................................................................................ 20
6.13. PARÁBOLA .................................................................................................................................................. 21

Hermenêutica Bíblica I
Hermenêutica Bíblica II
1

1. INTRODUÇÃO
Podemos ler a Bíblia sem a entendermos, mesmo em pontos essenciais, e isto têm causado muita confusão, pois
uma das primeiras ciências que o pregador deve conhecer é certamente a hermenêutica. Infelizmente a maioria
dos pregadores ignoram até o que significa o termo (originária do grego hermeneuo ou hermenevein, que
significa interpretar), da qual faremos um breve estudo.

Há diferença entre a história da Hermenêutica como CIÊNCIA e a história dos PRINCÍPIOS


HERMENÊUTICOS. A primeira teria começado pelo ano 1.567 A.D., quando Flácio Ilírico fez a primeira
tentativa de um tratado científico de Hermenêutica, enquanto que a última teria seu ponto de partida bem no
começo da era Cristã.

O escritor ou pregador que discorrer sob a hermenêutica expõe os princípios gerais de interpretação,
apresentando um estudo metódico dos princípios e regras de interpretação das Sagradas Escrituras. Uma das
principais qualidades que o intérprete da Bíblia deve possuir é o amor supremo à verdade, como também
qualidades morais, intelectuais, e sinceridade. Deverá possuir também uma boa dose de imaginação e bom senso,
para não exagerar. Boa parte da Bíblia Sagrada consiste de descrições e linguagem poética e sentimental.
Portanto, precisamos do poder da imaginação para penetrar no íntimo do autor do livro, imaginar suas alegrias,
tristezas, aflições, desespero, etc.

Usando a imaginação, podemos acompanhar o poeta no exílio, longe do santuário em Jerusalém e do Rio
Jordão, das terras onde nasceu e foi criado, sua aflição e abandono, e ouvindo insultos e ultrajes do inimigo.
Como já foi citado anteriormente, é necessário cuidado e bom senso com a imaginação, a fim de evitar
interpretações e conclusões fora da Escritura.

Não esgotaremos o assunto neste breve estudo, pois em virtude das características do mesmo, tornaria a apostila
demasiadamente longa e enfadonha. O principal objetivo desta é despertar no leitor a curiosidade, e
conseqüentemente, a vontade de pesquisar nas diversas publicações existentes sobre hermenêutica.

2. HISTÓRIA DOS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS NA IGREJA

2.1. O Período Patrístico

No Período Patrístico, o desenvolvimento dos princípios HERMENÊUTICOS se prende a três diferentes centros
da vida da Igreja: Alexandria, Antioquia e Ocidente.

1. A Escola de Alexandria. No começo do século III A.D. a interpretação bíblica foi influenciada
principalmente pela escola catequética de Alexandria. Esta cidade era importante centro de estudos, e ali a
religião judaica e a filosofia grega se encontraram e mutuamente se influenciaram. A filosofia platônica ainda era
corrente ali nas formas do neoplatonismo (doutrina filosófica que associavam misticismo ao platonismo) e do
gnosticismo (sistema filosófico religioso cujos adeptos pretendiam ter um conhecimento completo de Deus).

Não é de admirar que a famosa escola catequética desta cidade se tenha deixado influenciar por esta filosofia
popular e se acomodado a ela em sua interpretação da Bíblia. Encontrou o método natural de harmonizar religião
e filosofia na interpretação alegórica, pois filósofos pagãos (estóicos) há muito haviam a muito empregado este
método na interpretação de Homero, e, portanto, indicado o caminho; e Filo, que era também de Alexandria,
emprestou a este método o peso de sua autoridade, reduzindo-o a um sistema, e aplicando-o até mesmo para as
mais simples narrativas.

Hermenêutica Bíblica
2

Os principais representantes desta Escola foram Clemente de Alexandria e seu discípulo, Orígenes. Ambos
consideravam a Bíblia como inspirada Palavra de Deus, em sentido estrito, e participavam da opinião de seu
tempo de que regras especiais deviam ser aplicadas na interpretação das comunicações divinas. E, não obstante
reconhecerem o sentido literal da Bíblia, eram de opinião que somente a interpretação alegórica contribuía para
um conhecimento real.

Clemente de Alexandria (150 a 215 d.C.) foi o primeiro a aplicar o método alegórico na interpretação do Velho
Testamento. Propôs o princípio de que toda Escritura devia ser entendida alegoricamente. Isto era um passo além
dos outros intérpretes cristãos e constituía a principal característica da posição de Clemente. Na sua opinião, o
sentido literal da Escritura poderia fornecer apenas um tipo de fé elementar, enquanto que o sentido alegórico
conduziria ao verdadeiro conhecimento. Veja a sua interpretação de Gênesis 22:1-4 - 1º) os três dias são
simbólicos; 2º) ele vê o lugar à distância.

Orígenes (185 a 254 d.C.), seu discípulo, foi além dele tanto em saber como em influência. Foi sem dúvida o
maior teólogo de seu tempo. Mas seu principal mérito reside no trabalho de criticismo textual que realizou, e não
na interpretação bíblica. Como intérprete, ele ilustrou mais sistemática e extensivamente o tipo alexandrino de
exegese (Gilbert). Numa das suas obras, apresenta pormenorizada teoria de interpretação. O princípio
fundamental desta obra é que o sentido que Espírito Santo dá é simples, claro e digno de Deus. Tudo que parece
obscuro, imoral e inconveniente na Bíblia serve simplesmente como incentivo para ultrapassar o sentido literal .
Orígenes considerava a Bíblia como meio de salvação do homem, e porque , de acordo com Platão, o homem
consiste de três partes - corpo, alma e espírito - ele aceitou que a Bíblia tem uma tríplice significação: a literal, a
moral e a mística ou alegórica. Em sua prática exegética, ele que menosprezou o sentido literal da Escritura,
referiu-se raramente ao sentido moral, e constantemente empregou o sentido alegórico - visto que só ele produzia
conhecimento verdadeiro.

2. A Escola de Antioquia. A Escola de Antioquia foi, provavelmente, fundada por Doroteu e Lúcio, no final do
terceiro século, se bem que Farrar considere Diodoro, primeiro presbítero de Antioquia, e depois de 378 A.D.,
bispo de Tarso, como o verdadeiro fundadores da Escola. Diodoro escreveu um tratado sobre princípios de
interpretação. O seu maior monumento, porém, é constituído de dois ilustres discípulos seus - Teodoro de
Mopsuéstia e João Crisóstomo (350 a 428 d.C.).

Estes dois homens diferiam grandemente em vários aspectos. Teodoro sustentou um ponto de vista liberal a
respeito da Bíblia, enquanto de Crisóstomo a considerou em todas as suas partes como sendo a infalível Palavra
de Deus. A exegese do primeiro era intelectual e dogmática; a do último, mais espiritual e prática. Um se tornou
famoso como crítico e intérprete; o outro, se bem que fosse um exegeta de não menos habilidade, eclipsou todos
os seus contemporâneos como orador. Daí porque Teodoro é considerado o exegeta, enquanto que João foi
chamado de Crisóstomo (boca de ouro) por causa do esplendor da sua eloquência. Eles avançaram no sentido de
uma exegese verdadeiramente científica,. reconhecendo, como fizeram, a necessidade de determinar o sentido
original da Bíblia, a fim de fazer dele uso proveitoso. Eles não somente deram um grande valor ao sentido literal
da Bíblia, mas conscientemente rejeitaram o método alegórico de interpretação. No trabalho de exegese,
Teodoro superou Crisóstomo. Os princípios exegéticos da Escola de Antioquia lançaram a base da
Hermenêutica Evangélica Moderna. Infelizmente, Nestorio, discípulo de Teodoro envolveu-se numa heresia
quanto a pessoa de Cristo, e a Escola fechou.

3. O tipo Ocidental de exegese. Apareceu no Ocidente um tipo intermediário de exegese. Acolheu alguns
elementos da escola alegórica de Alexandria, mas também reconheceu os princípios da escola Síria. Seu aspecto
mais característico, entretanto, encontra-se no fato de haver acrescentado outro elemento que até então não havia
sido considerado, a autoridade da tradição e da Igreja na interpretação da Bíblia. Atribuiu valor normativo ao
ensino da Igreja no campo da exegese. Este tipo de exegese foi representado por Hilário e Ambrósio, mas, de
modo especial por Jerônimo e Agostinho.

A fama de Jerônimo se baseia mais na tradução da Vulgata do que na sua interpretação da Bíblia. Era conhecedor
tanto do hebraico como do grego, mas seu trabalho no campo exegético consiste principalmente de grande
número de notas lingüísticas, históricas e arqueológicas. Agostinho difere de Jerônimo no fato de o seu
conhecimento das línguas originais se muito deficiente. Isso equivale a dizer que fundamentalmente ele não foi
um exegeta. Ele foi grande na sistematização das verdades bíblicas, porém não foi na interpretação da Escritura.
Seus princípios hermenêuticos, apresentados n o trabalho De Doctrinas Christiana eram melhores do que sua

Hermenêutica Bíblica
3

exegese. Advogava que um intérprete devia estar preparado para sua tarefa, tanto filológica como crítica e
historicamente, e devia, acima de tudo, ter amor ao autor. Deu ênfase à necessidade de se considerar o sentido
literal, e de se basear nele o alegórico, mas ao mesmo tempo, usou muito livremente a interpretação alegórica.
Além do mais, nos casos em que o sentido da Escritura era dúbio, ele deu voz decisiva a regula fidei que
significava uma afirmação compendiada da fé da Igreja. Infelizmente, Agostinho também adotou um quádruplo
sentido da Escritura: histórico (mostra o que nossos pais fizeram), etiológico ou moral (dá-nos as regras da vida
diária), analógico (mostra onde termina nossa luta) e alegórico (mostra onde está oculta a nossa fé). Tomemos
como exemplo Jerusalém: no sentido literal ela representa a própria cidade histórica; no sentido alegórico, refere-
se a Igreja de Cristo; no sentido etiológico, refere-se a alma humana, e analogicamente, refere-se a Jerusalém
Celestial.

2.2. O Período da Idade Média

Durante a Idade Média (600 a 1500 DC), muitos, mesmo dos clérigos, viviam em profunda ignorância da Bíblia.
E o que dela conheciam era somente da Vulgata e dos raros escritos existentes. A Bíblia era considerada um
livro cheio de mistérios, e que só poderia ser entendido místicamente. Neste período, o quádruplo sentido da
Escritura (literal, tropológico, alegórico e analógico) era geralmente aceito, e tornou-se princípio estabelecido
que a interpretação da Bíblia tinha de adaptar-se à tradição e a doutrina da Igreja. Considerava-se a mais alta
sabedoria reproduzir os ensinos dos Pais, e descobrir os ensinos da Igreja na Escritura Sagrada. A regra de São
Benedito foi prudentemente adotada nos mosteiros, e foi decretado que as Escrituras deviam ser lidas, e com
elas, como explicação final, a exposição dos Pais. Hugo de São Victor chegou a dizer Aprende primeiro o que
deves crer e então vai à Bíblia para encontrar a confirmação. Nenhum princípio hermenêutico surgiu nesse
tempo, e a exegese estava de mão e pés amarrados pela tradição e pela autoridade da Igreja.

Este estado de coisas se reflete claramente nas obras que foram escritas neste período. Como exemplo citaremos
o Livro das Sentenças (Liber Sententiarum) de Pedro Lombardo. Este trabalho é basicamente uma compilação
de exposições selecionadas dos escritos de Hilário, Ambrósio e Agostinho. Difere dos trabalhos acima citados
pelo fato de ser mais do que simples compilação. Se bem que Pedro Lombardo fosse cuidadoso no sentido de não
insurgir-se contra a autoridade estabelecida, no caso a Igreja, contudo, dentro de certos limites suscitou
questões, fez distinções, e chegou a acrescentar comentários propriamente seus. Nos séculos que seguiram
imediatamente, seu trabalho foi estudado mais diligentemente do que a própria Bíblia.

Apesar do quádruplo sentido da Escritura ser geralmente aceito neste tempo, pelo menos alguns começaram a ver
incongruência de tal ponto de vista. Mesmo Tomás de Aquino parece haver sentido isto, vagamente. É verdade
que ele alegorizou constantemente, mas também ao menos em teoria, considerava o estilo literal do fundamento
necessário de toda exposição da Escritura. Mas foi especialmente Nicolau de Lira (1270 a 1340) quem quebrou
as cadeias do seu tempo. Não abandonou de modo extensivo a opinião corrente, mesmo no que se refere à tese do
quádruplo significado, mas na realidade, admitiu apenas dois sentidos - o literal e o místico - e ainda assim
fundamentou o literal no místico. Insistiu na necessidade de referência ao original, queixando-se do sentido
místico permitido para sufocar o literal, e exigiu que o último só fosse usado para demonstrar a doutrina. Seu
trabalho influenciou profundamente a Lutero, e conseqüentemente afetou também a Reforma.

2.3. O Período da Reforma

A Renascença foi de grande importância para o desenvolvimento de sadios princípios HERMENÊUTICOS. Nos
séculos XIV e XV havia muita ignorância quanto ao conteúdo da Bíblia. Havia doutores em divindade que
nunca haviam lido a Bíblia toda. E a única forma em que a Bíblia era conhecida era a tradução de Jerônimo
(Vulgata).

A Renascença chamou a atenção para a necessidade de recorrer ao original. Reuchlin e Erasmo - chamados os
dois olhos da Europa - por sua vez, mostraram aos intérpretes da Bíblia que tinham o dever de estudá-la nas
línguas em que foi escrita. Além disso, esses dois homens facilitaram grandemente tal estudo, o primeiro

Hermenêutica Bíblica
4

publicou uma gramática e um dicionário da língua hebraica, o último a primeira edição crítica do Novo
Testamento Grego. O quádruplo sentido da Bíblia foi gradualmente abandonado, e se estabeleceu o princípio de
que a Bíblia tem apenas um sentido.

a) Os Reformadores. Os reformadores acreditavam que a Bíblia era a inspirada Palavra de Deus, mas, ainda
que sua idéia de inspiração fosse estrita, elas a concebiam como sendo mais orgânica do que mecânica. Em
certos aspectos, revelaram notável liberdade de trato das Escrituras. Ao mesmo tempo, consideravam a Bíblia a
mais alta autoridade, e a corte final de apelação em todas as questões teológicas. Contra a infalibilidade da
Igreja eles puseram a infalibilidade da Palavra., Sua posição se patenteia na afirmação de que não é a Igreja que
determina o que as Escrituras ensinam, mas as Escrituras que determinam o que a Igreja deve ensinar. O
caráter essencial de sua exegese resultou de dois princípios fundamentais: o que a Escritura é a intérprete da
Escritura, e que toda compreensão e exposição da Escritura seja de acordo com a analogia da fé. E para eles a
analogia da fé é igual a analogia das Escrituras, isto é, o ensino uniforme da Escritura.

a.1) Lutero. (1483 a 1546) Traduzindo a Bíblia para o alemão vernáculo, Lutero prestou um grande serviço à
nação alemã. Realizou também algum de exposição, se bem que bastante limitado. Suas regras de hermenêutica
eram melhores do que sua exegese. Se bem que não reconhecesse senão o sentido literal, e houvesse zombado da
interpretação alegórica como Affenspiel (momice), ele não evitou inteiramente o método que condenou.
Defendeu o direito de juízo privado, salientou a necessidade de se considerar o contexto e as circunstâncias
históricas, exigiu do intérprete a intuição espiritual e fé, e pretendeu, encontrar Cristo em toda parte na Escritura.
Um dos grandes princípios hermenêuticos de Lutero dizia que se deve fazer cuidadosa distinção entre a Lei e o
Evangelho. Para ele, a Lei refere-se a Deus em sua ira, seu juízo e seu ódio ao pecado. O Evangelho, refere-se a
Deus em sua graça, seu amor e sua salvação.

a.2) Melanchton. Foi a mão direita de Lutero e seu superior no saber. Seu grande talento e extenso
conhecimento, inclusive do grego e do hebraico, fizeram dele um intérprete admirável. Na sua obra exegética,
seguiu os sadios princípios de que as Escrituras devem ser entendidas gramaticalmente antes de o serem
teologicamente e as Escrituras têm apenas um simples e determinado sentido.

a.3) Calvino. (1508 a 1564) Foi considerado por todos o maior exegeta da Reforma. Suas exposições abrangem
quase todos os livros da Bíblia, e ainda se reconhece o seu valor. Seus princípios fundamentais foram adotados
por Lutero e Melanchton, porém ele os superou pelo fato de haver praticado a sua teoria. Achava que o método
alegórico era uma artimanha satânica para obscurecer o sentido da Escritura. Acreditava firmemente na
significação tipológica de muitas coisas no Velho Testamento, mas não concordava com a opinião de Lutero,
segundo a qual Cristo podia ser encontrado em qualquer lugar da Escritura. Além disso, reduziu o número de
Salmos que poderiam ser considerados messiânicos. Insistiu em que os profetas deviam ser interpretados à luz
das circunstâncias históricas. Segundo lhe parecia, a virtude por excelência de um expositor era a lúcida
brevidade. Além do mais, considerava como primeiro dever de um intérprete, permitir que o autor diga o que
realmente diz, ao invés de lhe atribuir o que pensamos que devia dizer.

b) Os Católicos Romanos. Estes não progrediram no campo exegético, durante a Reforma. Não admitiram o
direito de juízo privado segundo a qual a Bíblia devia ser interpretada em harmonia com a tradição. O Concílio
de Trento enfatizou que devia ser mantida a autoridade da tradição eclesiástica; que a mais alta autoridade devia
ser atribuída à Vulgata; e que é necessário que a interpretação que se dá esteja de acordo com a autoridade da
Igreja e o assentimento unânime dos Pais. Onde prevaleceram esses princípios, não houve progresso no campo da
exegese.

3. UMA PALAVRA AO INTÉRPRETE


A tarefa do ministro, no que se relaciona com o conteúdo da Palavra de Deus, é dupla: 1º) ele tem de ser ministro
da Palavra de Deus; 2º) deve ministrar a Palavra de Deus com exatidão. Parafraseando Ramm:

O pregador é um ministro da Palavra de Deus. Sua tarefa fundamental na pregação não é ser inteligente ou
didático, solene ou profundo, mas ministrar a verdade de Deus. Os apóstolos foram ordenados como

Hermenêutica Bíblica
5

testemunhas de Jesus Cristo (Atos 1:8). A tarefa deles era pregar o que tinham ouvido e visto com referência à
vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. O Obreiro deve afadigar-se na palavra e no ensino (I Timóteo 5:17).
O que Timóteo deve transmitir aos outros é ...a verdade do Cristianismo que ele ouviu de muitos cristãos (II
Timóteo 2:2). Paulo instruiu a Timóteo a pregar a palavra (II Timóteo 4:2. No Grego: Kerukson ton logon).
Pedro diz ser presbítero em virtude de haver testemunhado os sofrimentos de Jesus (I Pedro 5:1). O servo de
Cristo Jesus do Novo Testamento não era livre para pregar conforme lhe aprouvesse, mas era obrigado a pregar a
verdade do cristianismo, pregar a Palavra de Deus, e ser testemunha do Evangelho.

O servo de Cristo deve fazer mais do que pregar a Palavra. É possível ser fervoroso, eloqüente e ter excelente
conhecimento das Escrituras e, não obstante, pregá-la com inexatidão e ficar aquém de sua plena verdade (Apolo
em Atos 18:24-28). Paulo ordena a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como Obreiro que não
têm de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da Verdade” (II Timóteo 2:15). Um obreiro que se
sentiria envergonhado se descobrisse incompetência ou desleixo em seu trabalho. Paulo diz a Timóteo que o
modo de não se envergonhar e de ser aprovado diante de Deus é manejar bem a Palavra da Verdade. Por
conseguinte, a dupla tarefa do Pastor, conforme definida no versículo acima, é 1º) pregar a palavra de Deus; 2º)
interpretá-la com exatidão 3) Viver conforme ela ensina.

A maior parte da pregação feita hoje em dia pode ser conceitualizada da seguinte maneira:

A pregação expositiva começa com determinada passagem e investiga-a, empregando o processo que temos
rotulado de análises histórico-cultural, contextual, léxico-sintática, teológica e literária. Seu enfoque primário é
uma exposição do que Deus tencionava dizer nessa passagem, levando a uma aplicação desse significado na vida
dos cristãos de nossos dias.

O sermonar começa com uma idéia na mente do pregador - um problema social ou político mais pertinente, ou
uma introspecção teológica ou psicológica - e amplia esta idéia num sermão. Como parte do processo,
acrescentam-se textos bíblicos aplicáveis, à medida que vêm à mente, ou conforme encontrados com auxílio de
recursos de estudo. O enfoque básico deste método é a elaboração de uma idéia humana em formas coerentes
com o ensino geral da Bíblia nessa área.

A pregação tópica começa pela seleção de um tópico relacionado com a Escritura de uma forma ou de outra
(temas bíblicos, doutrinas, personagens da Bíblia). Se o sermão é preparado pela seleção de passagens bíblicas
pertinentes e pelo desenvolvimento de um esboço baseado em exposição destas passagens, essa pregação poderia
dominar-se “tópico expositiva”. Seu esboço do sermão se desenvolve, mediante idéias que vêm a mente do
pregador e em seguidas são corroboradas pela ligação com um versículo bíblico pertinente, poderíamos dar a esta
pregação o título de “tópico sermonal”.

A maioria dos sermões pregados hoje em dia parece ser da variedade tópico sermonal ou sermonar. Se a
proporção da pregação expositiva para a sermonal serve de indicação, a maioria das escolas de Teologia parece
não estar preparando seus alunos nas técnicas necessárias à pregação expositiva, ou não os estar estimulando a
usar a pregação expositiva como uma alternativa para o sermonar.

Um detalhe importante é que hoje há muitos “consumidores” e poucos “produtores” de sermões. Vejamos como
exemplo uma análise histórico cultural:

Pergunta: Provérbios 22:28 ordena “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais.” Significa este
versículo:
a. Não efetuar mudanças na forma como sempre fizemos as coisas.
b. Não furtar.
c. Não remover os marcos que orientam os viajantes de cidade para cidade.
d. Nenhum dos casos acima.
e. Todos eles

A resposta à pergunta é (b). Se sua reposta foi (a) ou (c) é provável que você tenha chegado ao texto
subconscientemente indagando: “Que significa este texto para mim?” A pergunta importante, porém, é “Que é
que este texto significava para o autor e para seu primeiro auditório?” Neste caso o marco refere-se ao poste que
indicava o fim da propriedade de certa pessoa e o começo da do seu vizinho. Sem as modernas técnicas de

Hermenêutica Bíblica
6

agrimensura, era uma coisa relativamente fácil aumentar a área da gleba mudando os marcos. A proibição é
dirigida contra um tipo específico de furto. Há outras análises que devem ser feitas: léxico-sintática, teológica,
literária, comparação com outros textos e a aplicação do texto.

4. LINGUAGEM BÍBLICA

4.1. Luzes da Própria Bíblia


Cristo corrigiu os erros dos chefes de Israel, mostrando-lhes que não davam atenção a certos textos que
esclareciam a doutrina. Seus exageros acerca do sábado e seu relaxamento em relação ao divórcio provinham de
negligenciarem certas escrituras e assim também o erro dos saduceus sobre a vida além túmulo resultava da
mesma ignorância.

Cristo exemplificou seu método quando, já ressuscitado, comparou as várias escrituras de Moisés e dos
profetas para mostrar que o Cristo devia padecer, morrer crucificado e ressuscitar dos mortos.

Não se deve interpretar nenhum termo isoladamente, nem basear doutrina alguma em um texto isolado; mas
interpretar a escritura com escritura.

Em regra, a linguagem da Bíblia é clara, inteligível, devendo ser entendida no seu sentido vulgar e lexical. Toda
vez, porém, que surjam dúvidas sobre o sentido de uma palavra, de uma frase, de uma sentença, procuremos
firmar a interpretação no conjunto do ensino da mesma Bíblia a tal respeito.

Os principais auxílios que se nos deparam na própria Bíblia para sua correta interpretação, encontram-se no
contexto, no conhecimento do vocabulário do escritor, na observação do vocabulário bíblico em geral, nos
paralelismos, em descobrir-se o intuito do escritor e na correlação existente entre várias passagens.

4.2. Contexto

Texto quer dizer tecido, e contexto é tudo que se acha entretecido logicamente com o texto em apreço.

Quase todos os erros de doutrina se estribam em asserções separadas do seu contexto. Já se tem dito e com razão,
que por tal processo, até se poderia provar com a Bíblia o ateísmo, pois nela se encontra a asserção Não há
Deus..., pessoa alguma de bom senso aceitaria a conclusão tão monstruosa sem verificar a passagem citada:
Salmos 14:1, e logo verificaria que, de fato, lá encontra a asserção, mas atribuída ao insensato. Passam
entretanto, como conclusões legítimas centenas de erros semelhantes a esse, quando o assunto não é tão chocante
e a elucidação do texto depende de um contexto mais remoto.

Exemplo: Romanos 7:1-6. Paulo demonstra com a ilustração do casamento que agora estamos livres da lei. De
que lei fala Paulo? O sabatista responde imediatamente da lei do cerimonial; pois da lei moral contida e
resumida nos dez mandamentos não podemos jamais eximir-nos. Para confirmar sua atitude, pode o sabatista
grande cópia de textos do Velho Testamento e alguns livros do Novo Testamento isoladamente. Examinemos
porém o contexto. Logo no versículo seguinte (7), o apóstolo, que já esperava a objeção da parte dos judeus,
pergunta: Que diremos pois? É a Lei pecado? e responde: De modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado
senão pela Lei; porque não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás? É o decálogo !
É o décimo mandamento. Logo é ao decálogo que Paulo se refere neste trecho em que afirma Estamos livres da
Lei. É o contexto que o estabelece, e interpretar desprezando o contexto não é interpretar: é torcer o sentido do
próprio escritor.

Consulte-se o contexto, tanto o imediato como o remoto. O contexto remoto pode até incluir o livro todo.

Hermenêutica Bíblica
7

Em certos livros da Bíblia, o contexto é mais importante do que noutros. Nas narrativas, em tratados doutrinários
como a Epístola aos Romanos, o contexto é de um valor inestimável. Já nos Provérbios quase não há contexto,
visto que cada máxima constitui um todo independente.

4.3. Vocabulário do Escritor

As vezes é preciso verificar cuidadosamente em que sentido um escritor usa certa palavra a fim de termos a
compreensão exata de um texto em que ela aparece. Nos escritos do apóstolo João, por exemplo, aparece muitas
vezes a palavra mandamento. Eis um texto que os legalistas, os judaizantes de todos os tempos, referem com o
fim de provar que estamos debaixo da Lei. João 2:4 Aquele que diz: Eu conheço, e não guarda os
mandamentos, é mentiroso e nele não está a verdade. Ocupa-se João aqui dos mandamentos do decálogo?
Estará ele em contradição com Paulo, que diz que Estamos livres da Lei...? Se tomarmos uma concordância
bíblica e examinarmos nos escritos de João (Evangelho e Epístolas) o emprego da palavra mandamento e seu
plural, veremos que nem uma única vez se refere ao decálogo. E não só isso, mas encontraremos em I João 3:23
sua própria definição do termo por ele empregado: E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu
Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros.

Do mesmo modo temos que acertar com o sentido de frases como a justiça de Deus, usada por Paulo em suas
Epístolas; o reino dos céus, empregada por Mateus em seu Evangelho; o caminho de que usa Lucas nos Atos, e
muitos outros termos e expressões peculiares a certos escritores.

4.4. Vocabulário Bíblico em Geral

Assim como há palavras e frases peculiares a certos escritores sagrados, há também palavras e expressões
bíblicas cujo sentido tem de ser determinado, não unicamente pelos dicionaristas antigos e modernos, nem pelo
uso de escritores seculares que foram contemporâneos dos que escreveram a Bíblia e falavam o mesmo idioma, e
sim pelo emprego que delas fizeram os próprios escritores sagrados, pois estes, usando da linguagem existente,
tiveram necessidade de exprimir idéias que essa linguagem não podia transmitir com a exatidão desejada senão
por uma adaptação nova.

A palavra JUSTIFICA, por exemplo, assim se define num dicionário comum de uso geral: provar a justiça ou
inocência de...restituir ao estado de inocência. Em Romanos 4:1-5 Paulo argumenta sobre a justificação de
Abraão, mostrando que este foi justificado pela fé, e conclui: Mas aquele que não pratica, mas crê naquele que
justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. Qual o sentido aqui, do verbo justificar? Não é provar a
justiça ou inocência, pois como poderia Deus provar a justiça ou inocência do ímpio? Também não é restituir ao
estado de inocência porque a última cláusula mostra que esse ato de justificar consiste em imputar como justiça o
ato de crer; imputar é o mesmo que tomar em conta, ou lançar à conta de alguém (Versículos 23-24). Assim a
justificação pela fé, segundo o Novo Testamento, é um ato pelo qual Deus judicialmente lança à conta de quem
crê em Jesus, aquela justiça perfeita que este realizou mediante seu sacrifício redentor efetuado no Calvário.

Estão nesse caso muitas palavras e expressões que na Bíblia se empregam com significação especial, que se tem
de verificar pela comparação de diversos textos e pela observação cuidadosa dos respectivos contextos.

No caso das palavras transliteradas das línguas originais por falta de correspondentes na línguas modernas, ainda
mais necessário é seguir este critério.

O conhecimento da significação delas pelos léxicos e pela leitura dos clássicos, embora muitíssimo valioso, não
basta para assegurar que temos o sentido exato em que a Bíblia as emprega. Como exemplo tomaremos a palavra
IGREJA. Os gregos chamavam ekklesia a toda e qualquer assembléia ou ajuntamento. O sentido bíblico não é
esse exatamente. São muitos os casos em que precisamos recorrer ao uso próprio das Escrituras.

Hermenêutica Bíblica
8

4.5. Paralelismo

É igualmente importante que sejam comparadas as passagens paralelas. Há duas classes de paralelismo: os
VERBAIS e os REAIS.

Chamam-se paralelismos verbais as passagens em que ocorre a mesma palavra. São a base da construção das
Concordâncias Bíblicas e da maioria de referências marginais que se encontram em certas edições das Escrituras
Sagradas.

Paralelismos reais são as passagens em que, apareça ou não uma ou mais palavras em comum, se trata do mesmo
assunto ou se expõe a mesma doutrina.

Os quatro Evangelhos nos fornecem os mais notáveis casos de paralelismos reais. O milagre da multiplicação dos
cinco pães e dois peixes, por exemplo, é narrado por todos os quatro evangelistas. Assim também a paixão,
morte e ressurreição do Senhor. Os livros dos Reis e das Crônicas juntamente com certos capítulos de Isaías e
alguns Salmos, são outros exemplos de paralelismos reais.

O valor hermenêutico das passagens paralelas, quer sejam verbais ou reais, consiste na possibilidade de
comparar textos que se nos afigurem algum tanto obscuros com outro que, tratando do mesmo assunto ou
empregando certa palavra ou frase cujo sentido procuramos descobrir, venha projetar sobre eles uma nova luz.

No Apocalipse 3:5 por exemplo, promete-se ...o que vencer será vestido de VESTES BRANCAS. O estudante
verificará que aí está uma linguagem figurada ou simbólica; resta-lhe porém descobrir de que serão símbolos
estas vestes. Uma Bíblia com referências irá indicar o versículo 8 do capítulo 19, onde se encontra a chave do
símbolo: E foi -lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças
dos santos. Outras referências conduzem a Isaías, onde se diz ...as vossas justiças são como trapos de
imundícies, e às bodas do Filho do Rei, em Mateus onde um homem é lançado para fora nas trevas exteriores,
porque não está trajado das vestes nupciais.

De igual modo as narrativas paralelas dos Evangelhos se completam umas às outras do ponto de vista histórico.
Convém reconhecer, entretanto, que cada livro da Bíblia tem um intuito especial, todo seu - tem sua própria
mensagem, que se deve descobrir à luz do seu contexto, de modo que os fatos que cada um narra em paralelo
com os outros não são meras repetições ou cópias daquilo que os outros escreveram. As chamadas
HARMONIAS dos Evangelhos, muito úteis ao aspecto histórico, são empecilhos à boa interpretação, se nos
levam a fundir os quatro evangelhos em um só, obliterando deste modo o intuito especial de cada um dos
evangelistas.

4.6. Intuito do Escritor

De grande auxílio na interpretação da Bíblia é sabermos qual era o intuito do escritor, nos colocando no seu
ponto de vista e seguirmos o seu pensamento.

As vezes o próprio autor declara o seu intuito, como o faz o apóstolo João no fim do seu Evangelho (20:30-31) e
Lucas no começo do seu (1:1-4); outras vezes se deduz da introdução, como geralmente acontece nas epístolas
(Romanos, Gálatas, I Timóteo, etc.)

Deduz-se em outros casos de uma frase que lhe serve de chave, como a expressão - no deserto Num. 1:1, que os
hebreus empregaram como título do livro chamado Números; ou a frase tantas vezes repetida no Eclesiastes -
debaixo do sol.

Em certos casos não será tão fácil determinar o intuito do escritor, tornando-se necessário ler todo o livro várias
vezes do princípio ao fim até conseguir uma vista do conjunto. É um exercício utilíssimo que convém fazer de
vez em quando até nos apoderarmos do ponto de vista do sagrado escritor, podendo então acompanhá-lo nos
detalhes da sua exposição.

Hermenêutica Bíblica
9

4.7. Correlação

A Bíblia é um todo harmônico e bem ajustado. Apesar de composta de sessenta e seis livros escritos no decurso
de mil e seiscentos anos por pessoas de variadas condições sociais e não menos variados graus de cultura, há em
toda a Bíblia uma unidade de propósito, um fio doutrinário ininterrupto, uma perfeita harmonia moral e
espiritual e uma constante progressão na revelação de suas verdades, que tem causado a admiração das maiores
celebridades da cultura humana e que demonstram cabalmente ser um só o AUTOR dela, ainda que muitos os
escritores.

Em um todo de tal natureza, há sempre partes correlatas:

1 - Há profecias de seu cumprimento. Se bem que haja dentro de cada um dos Testamentos certas profecias cujo
cumprimento nele mesmo se registrará, a grande massa das profecias pertence ao Velho Testamento e a narração
de seu cumprimento se encontra no Novo Testamento.
2 - Há tipos de variadas modalidades, a que correspondem os respectivos anti-tipos também encontrados nas
Escrituras.
3 - Há verdades enunciadas em linguagem doutrinária, moral ou filosófica em certas passagens, e em outras se
encontram ilustrações exatamente correlatas. Tem-se dito que o Novo Testamento contém a doutrina e o Velho
as ilustrações. Em menor número encontrar-se-ão dentro de um mesmo Testamento essa correlação completa.
Assim muitos dos provérbios de Salomão são ilustrados palas narrativas do Velho Testamento.

No Novo Testamento, podemos exemplificar esse fato comparando João 14:6 com Lucas 15:1-24. Aí os três
atributos de Cristo são ilustrados pela tríplice parábola, do seguinte modo: A ovelha perdida que o dono acha e
leva aos ombros ilustra a declaração Eu sou o caminho. A moeda perdida, que para se achar, precisa de candeia
acesa corresponde a asserção Eu sou a verdade. O filho que se tinha perdido e se achou, que era morto e reviveu,
mostra a necessidade que tem o homem daquele que disse Eu sou a vida. Para outros exemplos, veja I João 1:16,
Gênesis 3:6.

O estudante cuidadoso encontrará por si mesmo centenas de correlações desta natureza para enriquecimento de
seu patrimônio doutrinário e corroboração de sua fé.

Os chamados textos áureos das lições bíblicas que já se tornaram como que obrigatórios nas escolas dominicais,
quando não pertencem a porção bíblica do dia se enquadram bem ao assunto, sintetizando-o, são textos
correlatos e exemplificam o que já foi citado.

Os dois últimos pontos citados são por essência subjetivos enquanto que os cinco iniciais são mais objetivos.

5. OS TEMPOS E SUA MENSAGEM


Dirigindo-se aos Hebreus, Paulo estabelece no primeiro versículo de sua epístola a divisão dos tempos em duas
grandes épocas em relação a maneira por que Deus falou, e a quem se dirigiu em sua revelação. Antigamente -
aos pais - pelos profetas. Nestes últimos dias - a nós - pelo Filho.

5.1. Antigamente

É claro da linguagem apostólica que esta época abrange toda a história da humanidade anterior a vinda de
Cristo ao mundo. A revelação divina durante essa grande época é dirigida aos pais, a descendência de Jacó, e

Hermenêutica Bíblica
10

não aos gentios. O mesmo Paulo, em Romanos 5:13-14 e 20, estabelece ainda para Israel uma subdivisão dessa
época, em que distingue o período até a lei - desde Adão até Moisés, durante o qual todos pecaram, mas não
houve transgressão porque não havia lei; e o período posterior, em que veio a lei para que a ofensa abundasse.

Para os gentios porém, que não foram objeto da legislação mosaica, visto que a lei foi dada unicamente aqueles a
quem o Senhor tirara da terra do Egito (Ex. 20:2; Deut. 5:6) toda essa época é qualificada pelo mesmo Paulo
como os tempos da ignorância (Atos 17:30).

Desde a vinda de Cristo ao mundo, Deus se dirige primeiramente ao judeu, mas também ao gentio. Onde
abundou o pecado pela presença da Lei, que fez dele uma transgressão positiva e diretamente imputável ao
pecador - superabundou a graça; onde reinaram idolatria e a ignorância, Deus anuncia a todos os homens que se
arrependam. Assim é pregado o Evangelho aos gentios e a estes escreve Paulo onze das suas catorze epístolas,
sendo que outros livros do Evangelho são também de aplicação aos crentes, ou seja à Igreja de judeus e gentios
convertidos ao Senhor Jesus Cristo.

Coincidindo em parte com a antigüidade e em parte com os últimos dias, há um período designado nas escrituras
como “os tempos dos gentios” e “os tempos do refrigério”.

5.2. Os Tempos dos Gentios

Por causa da preponderância destes na política do mundo. Os tempos dos gentios começaram com a queda do
reino de Judá e a servidão de seus filhos sob Nabucodonozor, rei da Babilônia, e ainda perduram. Cristo nasceu
dentro desse período, e tendo sido por ordem do gentio imperador César que José e Maria se dirigiram a Belém,
onde se deu a natividade; e Ele predisse que Jerusalém seria pisada pelos gentios até se cumprirem os tempos dos
gentios, (Lucas 21:24).

5.3. Os Tempos do Refrigério

Ou seja, os tempos da restauração de tudo (Atos 3:19-21), os quais se inaugurarão com a segunda vinda de
Cristo.

Convém ao leitor da Bíblia e especialmente aquele que se propõe a explicá-la aos outros, a compreensão da
natureza da época em que vive e daquela a que se refere cada passo das Escrituras, pois é claro que não pode
acertar quem, como nós, vivendo no tempo dos gentios, quiser basear-se nas normas políticas e administrativas
do reinado de Davi ou a do futuro reinado do Messias. De igual modo erra quem religiosamente aplica os
princípios da lei a era da graça ou mistura esta com as injunções estabelecidas para o futuro reino milenário. No
primeiro caso nos atrasaríamos com relação aos planos de Deus, o que acontece a muitos cristãos que nunca
entram em pleno gozo da graça do Evangelho; no segundo nos adiantaríamos desses mesmos planos,
apoderando-nos de promessas que não foram feitas a nós, para depois ficarmos desanimados e confundidos ante
o fracasso de nossas pretensões mal fundadas e malogradas.

É preciso, como bem diz Clarence Larkin, compreender que toda a Escritura é proveitosa para ensinar, para
corrigir, para instruir (II Tim. 3:16) e que o que aconteceu a Israel foi escrito para exemplo nosso (I Cor.
10:11), mas não devemos apropriar à Igreja o que não lhe pertence.

Embora a Bíblia fosse escrita para todas as classes de pessoas e para o nosso ensino, não foi ela endereçada a
todos em geral. Parte dirige aos judeus, parte à Igreja, e parte aos gentios. Nestas três divisões se compreende a
humanidade (I Cor. 10:32). Segue-se que, embora tudo sirva de instrução à Igreja, nem tudo na Bíblia é a
respeito da Igreja Cristã. Ocupando-se quase exclusivamente da história de Israel, estão as escrituras do Velho
Testamento.

Hermenêutica Bíblica
11

6. LINGUAGEM FIGURADA
Certos textos devem ser entendidos literalmente. Vemos que várias profecias a respeito de Jesus se cumpriram ao
pé da letra. Há também na Bíblia, passagens em linguagem figurada - parábolas, metáforas, alegorias, etc, não se
devendo, por isso, interpretar em sentido literal.

Linguagem figurada não quer dizer linguagem sem sentido, nem linguagem ininteligível. Muito ao contrário, as
figuras dão maior realce ao pensamento, tornando a linguagem enfática, o sentido de tal linguagem, se bem que
menos claro que na literal, é perfeitamente acessível e certo.

Devemos ler a Bíblia deixando-a significar o que quer dizer. Sua linguagem figurada é geralmente indicada pelo
contexto. Seus símbolos e tipos são explicados por outras passagens, quando não o são no próprio texto ou no
contexto imediato. Fora disso, sua linguagem deve ser entendida literalmente, a não ser que o sentido requeira
interpretação figurada.

O estudo das figuras de linguagem pertence à Retórica. Para facilitar o aprendizado, relacionaremos a seguir
uma série de figuras, com seus correspondentes exemplos, que precisam ser estudados detidamente repetidas
vezes. Como veremos, as figuras retóricas da linguagem bíblica são as mesmas que em outros idiomas; e não é
tanto para seus nomes, um tanto estranhos, quanto para os exemplos que lhes seguem, é que chamamos a atenção.

6.1. Metáfora

Esta figura tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos, caracterizando-se um com o que é
próprio do outro. Também pode-se dizer que é a figura em que se afirma que alguma coisa é o que ela representa
ou simboliza, ou com que se compara.

Exemplos: Ao dizer Jesus: Eu sou a videira verdadeira, Jesus se caracteriza com o que é próprio e essencial da
videira; e ao dizer aos discípulos: Vós sois as varas, caracteriza-os com o que é próprio das varas. Para a boa
interpretação desta figura, perguntamos, pois: que caracteriza a videira? ou, para que serve principalmente? Na
resposta a tais perguntas está a explicação da figura. Para que serve a videira? Para transmitir seiva e vida às
varas, a fim de produzirem uvas. Pois isto é o que, em sentido espiritual, caracteriza a Cristo: qual uma videira
ou tronco verdadeiro, comunica vida e força aos crentes, para que, como as varas produzem uvas, eles produzam
os frutos do Cristianismo. Proceda-se do mesmo modo na interpretação de outras figuras do mesmo tipo, como
por exemplo: Eu sou a porta, Eu sou o caminho, Eu sou o pão vivo; vos sois a luz, o sal; edifício de Deus;
ide, dizei àquela raposa; são os olhos a lâmpada do corpo; Judá é leãozinho; tu és minha rocha e minha
fortaleza; sol e escudo é o Senhor de Deus; a casa de Jacó será fogo, e a casa de José chama e a casa de
Esaú restolho”, etc. (João 15:1; 10:9; 14:6; 6:51; Mat. 5:13-14, I Cor. 3:9; Luc. 13:32; Mat. 06:22; Gên.
49:9; Sal. 71:3; 84:11; Obadias 18).

6.2. Sinédoque

Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte, o plural pelo singular, o gênero
pela espécie, ou vice-versa. Resumindo, é a substituição de uma idéia por outra que lhe é associada.

Exemplos: Toma a parte pelo todo o Salmista ao dizer: Minha carne repousará segura (versão revista e
corrigida), em lugar de dizer: meu corpo ou meu ser, que seria o todo, sendo a carne só parte de seu ser (Salmos
16:9).

Toma o todo pela parte o Apóstolo quando diz da ceia do Senhor: todas as vezes que... beberdes o cálice, em
lugar de dizer beberdes do cálice, isto é, parte do que há no cálice (I Cor. 11:26).

Hermenêutica Bíblica
12

Toma também o todo pela parte os acusadores de Paulo ao dizerem Este homem é uma peste e promove sedições
entre os judeus esparsos por todo o mundo; significando, por aquela parte do mundo ou do Império Romano que
o Apóstolo havia alcançado com sua pregação (Atos 24:5).

6.3. Metonímia

Figura de linguagem baseada numa relação de “causalidade” e que consiste no uso de uma palavra por outra com
a qual apresente certa interdependência, como quando dizemos as cãs inspiram respeito, em vez de a velhice.

Exemplos: Vale-se Jesus desta figura empregando a causa pelo efeito ao dizer Eles têm Moisés e os profetas;
ouçam-nos, em lugar de dizer que têm os escritos de Moisés e dos profetas, ou seja, o Antigo Testamento (Luc.
16:29, Gen. 25:23, Jó 32:7).

Emprega também o sinal ou símbolo quando disse a Pedro Se Eu não te lavar, não tens parte comigo. Aqui
Jesus emprega o sinal de lavar os pés pela realidade de purificar a alma, porque faz saber ele mesmo que o ter
parte com ele não depende da lavagem dos pés, mas da purificação da alma (João 13:8).

Do mesmo modo João faz uso desta figura pondo o sinal pela realidade que indica o sinal, ao dizer O Sangue de
Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado, pois é evidente que aqui a palavra sangue indica toda a paixão e
morte expiatória de Jesus, única cousa eficaz para satisfazer pelo pecado e dele purificar o homem (I João 1:7).

6.4. Prosopopéia

Usa-se esta figura quando personificam as coisas inanimadas, atribuindo-lhes os feitos e ações das pessoas.

Exemplos: O apóstolo fala da morte como de pessoa que pode ganhar vitória ou sofrer derrota, ao perguntar
Onde está ó morte, o teu aguilhão? (I Cor. 15:55). Emprega o apóstolo Pedro a mesma figura, falando do amor,
e referindo-se à pessoa que ama, quando diz: o amor cobre multidão de pecados (I Pedro 4:8). Como é natural,
ocorrem com freqüência estas figuras na linguagem poética do Antigo Testamento, dando-se-lhe assim uma
formosura , vivacidade e animação extraordinárias,, como por exemplo ao prorromper o profeta: Os montes e os
outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas. Convirá observar
que em casos como estes não se trata somente de uma mera personificação das coisas inanimadas, mas de uma
simbolização pelas mesmas, representando nesta passagem os montes e outeiros pessoas eminentes, e árvores
pessoas humildes; uns e outros de regozijo louvando ao Redentor ante seus mensageiros (Isaías 55:12).

Outro caso de personificação grandiosa ocorre no Salmo 85:10-11, onde se faz referência à abundância de
bençãos próprias do reinado do Messias nestes termos: Encontram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se
beijaram. Da terra brota a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar. (Salmos 35:10, Jó 12:7, Gênesis 4:4).

6.5. Ironia

Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se quer dizer, porém sempre de tal modo que se
faz ressaltar o sentido verdadeiro.

Exemplos: Paulo emprega esta figura quando chama aos falsos mestres de os tais apóstolos, dando a entender ao
mesmo tempo que de nenhum modo são apóstolos (II Cor. 11:5; 12:11; veja-se 11:13).

Hermenêutica Bíblica
13

Vale-se da mesma figura o profeta Elias quando no Carmelo disse aos sacerdotes do falso deus Baal: Clamai em
altas vozes... e despertará, dando-lhes a compreender, por sua vez, que era de todo inútil gritarem (I Reis
18:27).

Também Jó faz uso desta figura ao dizer a seus amigos Vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria,
fazendo-os saber que estavam muito longe de serem tais sábios (Jó 12:2, Juízes 10:14).

6.6. Hipérbole

É a figura pela qual se representa uma cousa como muito maior ou menor do que em realidade é, para apresentá-
la viva à imaginação, ou seja, é a afirmação em que as palavras vão além da realidade literal das coisas. Tanto
ironia como hipérbole são pouco usadas nas Escrituras, porém, alguma ou outra vez ocorrem.

Exemplos: Fazem uso da hipérbole os exploradores da terra de Canaã quando voltam para contar o que ali era
visto, dizendo: Vimos ali gigantes... e éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos... as cidades são
grandes e fortificadas até aos céus. (Números 13:33; Deuteronômio 1:28). Daí se vê que os exploradores
falavam como se costuma entre nós ao dizer a uma pessoa a outra, por exemplo: Já lhe avisei mil vezes,
querendo tão somente dizer Já lhe avisei muitas vezes.

Também João faz uso desta figura ao dizer: Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas
fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos.

6.7. Alegoria

A alegoria é uma figura retórica que geralmente consta de várias metáforas unidas, representando cada uma
delas realidades correspondentes. Costuma ser tão palpável a natureza figurativa da alegoria, que uma
interpretação ao pé da letra quase que se faz impossível. Às vezes a alegoria está acompanhada, como a
parábola, da interpretação que exige. Resumindo, é a narrativa em que pessoas representam idéias ou princípios.
As narrativas bíblicas são históricas, verídicas e raramente alegóricas, mas não inexistentes.

Exemplos: Tal exposição alegórica nos faz Jesus ao dizer: Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele
comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo, é a minha carne... Quem comer a minha
carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, etc. Esta alegoria tem sua interpretação na mesma passagem da
Escritura (João 6:51-65). Outra alegoria que mescla a história e sua aplicação apresenta o Salmista (Salmo 80:8-
13) representando os israelitas, sua trasladação do Egito a Canaã e sua sucessiva história sob as figuras
metafóricas de uma videira com suas raízes, ramos, etc., a qual, depois de trasladada, lança raízes e se estende,
ficando porém mais tarde estropiada pelo javali da selva e comida pelas bestas do campo (representando o javali
e as bestas os poderes gentílicos). Veja também Gálatas 4:21-31 o incidente de Agar e Sara, descrito pelo
apóstolo Paulo.

Ainda outra alegoria nos apresenta o povo israelita sob as figuras de uma vinha em lugar fértil, a qual, apesar
dos melhores cuidados, não dá mais que uvas silvestres, etc. Também esta alegoria está acompanhada de uma
explicação correspondente - Porque, a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá
são a planta dileta do Senhor, etc. (Isaías 5:1-7). Esta alegoria está inserida em uma parábola. A parábola tem
prosseguimento mantendo a história e sua aplicação distintas. Nesta parábola especificamente, a história
encontra-se nos versos de 1 a 6 e sua aplicação no verso 7.

Gálatas 4:21-31 - Alegoria entre Sara e Hagar


A.1. Hagar, serva - antiga aliança > A presente Jerusalém
A.2. Sara, mulher livre - nova aliança > Jerusalém Celestial

B.1. Ismael, filho da carne > os escravos da lei

Hermenêutica Bíblica
14

B.2. Isaque, filho da promessa > nós, os crentes (Verso 28)

C.1. Ismael, perseguia Isaque > assim os legalistas perseguem os cristãos


C.2. Expulsa a serva e o filho > não se submetam a um jugo de escravidão

6.8. Antropomorfismo

É a linguagem que atribui a Deus ações e faculdades humanas, e até órgãos e membros do corpo humano.
Exemplos: Gênesis 8:21, Salmo 74:11.

6.9. Fábula

A fábula é uma alegoria histórica, pouco usada na Escritura, na qual um fato ou alguma circunstância se expõe
em forma de narração mediante a personificação de coisas ou de animais.

Exemplos: Lemos em II Reis 14:9 O cardo que está no Líbano, mandou dizer ao cedro que lá está: Dá tua filha
por mulher a meu filho; mas os animais do campo, que estavam no Líbano, passaram e pisaram o cardo. Com
esta fábula Jeoás, rei de Israel, responde ao repto de guerra que lhe havia feito Amazias, rei de Judá. Jeoás
compara-se a si mesmo ao robusto cedro do Líbano e humilha a seu orgulhoso contentor, igualando-o a um débil
cardo, desfazendo toda aliança entre os dois e predizendo a ruína de Amazias com a expressão de que os
animais do campo pisaram o cardo.

6.10. Enigma

O enigma também é um tipo de alegoria, porém sua solução é difícil e abstrusa. Não é do domínio geral das
Escrituras.

Exemplos: Sansão propôs aos filisteus o seguinte: Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura (Juízes
14:14). A solução se encontra no sobredito trecho bíblico.

Entre outros ditos de Agur, encontramos em Provérbios 30:24 o enigma seguinte: Há porém quatro coisas mui
pequenas na terra, que, porém, são mais sábias que os sábios. Este enigma tem também sua solução na mesma
passagem em que se encontra.

6.11. Tipo

O tipo é uma classe de metáfora que não consiste meramente em palavras, mas em fatos, pessoas ou objetos que
designam fatos semelhantes, pessoas ou objetos no porvir. É a representação de pessoa ou transação futura na
esfera espiritual ou religiosa por meio de acontecimentos, pessoas, ou coisas do mundo material que tenham com
ela certa correlação de analogia ou mesmo contraste. Estas figuras são numerosas e chamam-se na Escritura
sombra dos bens vindouros, e se encontram, portanto, no Antigo Testamento.

Os escritores do Novo Testamento declaram que nos vultos, nos acontecimentos e nos tipos do Velho
Testamento existem ensinamentos típicos para nós. Os tipos se classificam em históricos e rituais, segundo os
melhores intérpretes, porém, o estudante poderá encontrar outras classificações, se pesquisar as publicações
existentes sobre o assunto.

Hermenêutica Bíblica
15

Lembre-se que os tipos, como as demais figuras não nos foram dados para servir de base e fundamento das
doutrinas cristãs, mas para confirmar-nos na fé e para ilustrar e representar as doutrinas vivas à mente. os tipos
são lições concretas de Deus.

6.11.1. Tipos Históricos

Os tipos históricos são aqueles em que a analogia e contraste com o antítipo resultam dos termos de alguma
narrativa. Eles ainda subdividem-se em pessoais e coletivos. Tipos históricos pessoais são assim chamados
quando a representação dos fatos espirituais e futuros se concentram em um indivíduo, como Adão,
Melquisedeque, Moisés, etc. Cristo se refere ao conhecido acontecimento com Jonas como tipo, prefigurando
sua sepultura e ressurreição (Mateus 12:40, João 3:14). Paulo nos apresenta o primeiro Adão como tipo,
prefigurando o segundo Adão, Cristo Jesus; e também o cordeiro pascal como o tipo do Redentor (Romanos
5:14; I Coríntios 5:7).

Ao contrário, os tipos históricos coletivos são encontrados quando as circunstâncias históricas da situação geral,
e não os indivíduos nela envolvidas, é que fornecem o quadro, como no caso da libertação dos israelitas do Egito
e sua peregrinação através do deserto. Como exemplo, encontramos em I Coríntios 10 a apresentação de uma
série de fatos tirados das experiências dos israelitas como típicos das experiências dos crentes.

6.11.2. Tipos Rituais

Como o próprio nome diz, são as prefigurações dos fatos do Novo Testamento por meio dos ritos sagrados que
Deus instituíra no passado. Aqui nossa atenção se volta naturalmente para o Tabernáculo e o Templo e para todo
o sagrado ritual que nesses santos lugares se realizava, como parte essencial da vida religiosa to antigo povo de
Deus. Fixaremos nossa atenção em três tipos essenciais para nosso estudo. O Tabernáculo, os sacrifícios levíticos
e as solenidades anuais.

6.11.2.1. Tabernáculo

O Tabernáculo, em seu conjunto era considerado como a morada de Deus no meio de seu povo, portanto,
poderíamos considerar cada parte do Tabernáculo tipologicamente, como também a mobília e o serviço ali
executado, estudando a finalidade a que se destinavam todos estes objetos, pois foram ali colocados única e
exclusivamente por orientação divina.

Exemplos: Cristo é antítipo do Tabernáculo. Em seu corpo Deus habitou ou tabernaculou entre nós (João 1:14), e
Ele mesmo chamou esse seu corpo de templo ou santuário (João 2:19-21). O santuário do Templo prefigurava o
céu (Hebreus 9:11-28; 10:6-10), etc.

6.11.2.2. Os Sacrifícios

Antes da promulgação do ritual levítico, uma só forma de sacrifício correspondia a todas. Era o holocausto, que
se constituiu na forma de culto dos tempos patriarcais, como se pode observar em Gêneses 8:20; 22:2-13; Jó 1:5.

É no livro de Levítico que vamos encontrar a classificação dos sacrifícios em cinco espécies, em cada uma delas
uma parte era queimada sobre o altar, e representavam cinco diferentes aspectos da obre redentora que o Filho de
Deus havia de efetuar séculos depois.

Hermenêutica Bíblica
16

No holocausto, em que a vítima era toda consumida pelo fogo sobre o altar para aceitação do ofertante sem
referência alguma a este ou aquele pecado determinado (Levíticos 1:3-17 e 6:14-23), prefigurava-se a completa
consagração do Senhor Jesus até a morte e morte de cruz em virtude da qual somos aceitos no Amado, era oferta
de suave cheiro.

Na oferta de cereais, (sem sangue - Lev. 2:1-16 e 6:14-23)que acompanhava o holocausto, indicava-se a pureza,
a santidade, a perfeição moral da vida do Redentor, juntamente com os sofrimentos que precederam a cruz, era
também oferta de suave cheiro.

No sacrifício pacífico (em hebraico, no sacrifício da paz - com sangue - Lev. 3:1-17, 7:11-13, 19:5-8, 22:21-25),
que também era de suave cheiro, somente o sangue e a gordura da vítima eram oferecidos sobre o altar; o peito e
todo o restante da carne servia de alimento ao ofertante juntamente com sua família no átrio sagrado. Esta oferta
indicava a reconciliação e comunhão do homem com Deus em virtude do sacrifício de Cristo.

A oferta pelo pecado, (com sangue - Lev. 4:1-3, 6:24-30) já não era de suave cheiro, e nela o corpo da vítima
era queimado fora do arraial, representando o desagrado de Deus contra o pecado, e o aspecto do sacrifício de
Cristo em que ele é considerado feito pecado por nós, aspecto em que a Cruz lhe é repulsiva, produzindo nele
os horrores do Getsêmani e o clamor angustioso da cruz Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?

A oferta de transgressão, (com sangue - Lev. 5:14-19, 7:1-7)ou oferta de reparação, tinha dois aspectos
distintos: a reparação de alguma infidelidade para com Deus, no caso em que o delinqüente para com Deus
deveria primeiramente oferecer um carneiro em sacrifício e depois pagar o dano acrescido de um quinto do seu
valor; e a reparação do dano causado ao homem, caso em que o pagamento da coisa acrescida de um quinto
vinha em primeiro lugar, oferecendo depois o delinqüente um carneiro em sacrifício a Deus. Em ambos os casos
representava a obra redentora de Cristo no que concerne a reparação de todos os males causados pelo pecado no
universo.

Compare as 5 ofertas com os Evangelhos: 1 sem sangue, 4 com sangue. A oferta de manjares, que era sem
sangue, representa a perfeição do homem Jesus - Mateus o apresenta como o perfeito Messias de Israel; Marcos
como o servo perfeito; Lucas como o varão perfeito; João como o Filho de Deus perfeito. As ofertas com sangue
significam: para Mateus, oferta pela culpa; Marcos, oferta pelo pecado; Lucas, oferta pacífica (Cap. 14 e 15
mostra como Deus vem ao encontro do homem) e João as apresentam como Holocausto. Resumindo, estas
ofertas possuem o seguinte significado para os nossos dias: holocausto, consagração pessoal e total (Ex.: II Cor.
8:5); manjares, consagração dos bens; de pecado, perdão (perdoados estão os teus pecados); de culpa,
restituição; e pacífica, comunhão com deus (não só fazer votos e ofertas quando estamos sofrendo).

6.11.2.3. Solenidades Anuais

O capítulo 23 de Levíticos é outro viveiro de preciosidades tipológicas. Apresenta vários acontecimentos em


sucessão cronológica que tratam da instituição de sete solenidades que se deviam celebrar anualmente na terra da
promissão e em seus tempos determinados. Elas tipificavam os grandes acontecimentos de grande alcance
espiritual que Deus realizaria a seu tempo.

A Páscoa era festa de um só dia, celebrada no dia 14 do primeiro mês, que era o mês de Abib, ou das espigas
verdes. Caracterizava-se pela imolação do cordeiro. Conforme referência feita no Novo Testamento, a páscoa era
tipo do sacrifício de Cristo, que ocorreu exatamente dentro das vinte e quatro horas pertencentes ao dia quatorze
de Abib (Levíticos 23:5; Deuteronômio 16:6; I Coríntios 5:7-8)

A festa dos pães asmos era celebrada em sete dias, imediatamente após a Páscoa. É as vezes considerada como
prolongamento desta, mas a Páscoa propriamente dita era festa de um só dia, apontando para um acontecimento
definido, ao passo ao passo que a solenidade dos pães asmos, por ela introduzida, durava toda uma semana
(símbolo da plenitude do tempo), representando uma atitude, um estado, um modo de viver, como claramente
ensina o apóstolo. É a pureza de vida que convém ao crente, que renuncia a maldade e a malícia, e cultiva a
sinceridade e a verdade (Levíticos 23:6-8; Deuteronômio 16:3; I Coríntios 5:8).

Hermenêutica Bíblica
17

A festa das primícias, como a Páscoa, era festa de um dia só, o dia seguinte ao sábado da semana dos pães
asmos. O grande acontecimento prefigurado nela se deu na manhã desse dia, quando o Senhor Jesus Cristo
ressurgiu dentre os mortos como as primícias dos que dormem. Ele próprio se compara ao grão de trigo que,
caindo na terra, morre para produzir muito fruto. Sua ressurreição é o penhor de uma grande colheita - a
ressurreição de todos os seus na sua vinda (Levíticos 23:9-14; Êxodo 23:19; I Coríntios 15:20).

A festa das semanas, ou do Pentecostes. Os judeus chamavam-na de festa das semanas porque contavam sete
semanas desde o dia seguinte aos sábado dos pães asmos, ou seja, desde o dia das primícias, até o dia seguinte ao
sétimo sábado, que é o pentecostes (qüinquagésimo), como veio a ser conhecido mais tarde, por ser o
qüinquagésimo dia desde o dia da festa das primícias, inclusive. Festa de um só dia, teve seu cumprimento
definitivo, que foi o Batismo do Espírito Santo (Levíticos 23:15-22; Deuteronômio 16:10; Atos 2:1-4; Gálatas
3:29).

A festa das trombetas. Depois de um intervalo de mais de três meses sem festa alguma, que bem sugere este
longo período da Igreja Cristã, por alguém denominado o tempo do silêncio de Deus, recomeça uma segunda
série de três festas finais, as quais ainda não tiveram o seu antítipo na história, pertencendo ao domínio das
profecias a cumprir. Em vista da formação da Igreja e de não haver Deus desprezado seu antigo povo de Israel
(Romanos 11:1), há daqui por diante dois povos distintos nas cogitações de Deus, e estas três últimas
solenidades têm por isso, antítipo na Igreja e em Israel. Assim pois, a festa das trombetas significa: 1 - o
despertar dos que agora dormem no Senhor, ao som da última trombeta, ou da trombeta de Deus, para saírem ao
encontro do Senhor; 2 - o despertar dos eleitos de Israel para arrependimento nacional, pelo trombetear do
Evangelho do Reino, favor consultar Levíticos 23:23-25; Números 29:1; I Coríntios 15:52; I Tessalonicenses
4:16; Mateus 24:31.

O dia da Expiação, que também era solenidade de um só dia, era celebrada a dez do sétimo mês. Como este fora
outrora o primeiro mês do ano, e por conseguinte, o primeiro fora o sétimo, há uma correlação ou
correspondência perfeita entre o dia da expiação e aquele em que fora separado o cordeiro pascal para o
sacrifício (o dia 10 do 1º mês). Realmente a Páscoa alicerçou a relação de Israel para com o Senhor, como um
povo remido, ao passo que no dia da expiação se fazia cada ano comemoração dos pecados deles (Hebreus
10:3). Em relação aos crentes da dispensação atual, esse dia tipifica aquele juízo em que serão avaliados o nosso
serviço como crentes, os motivos e os processos que tivermos empregado em nosso testemunho. Era dia de santa
convocação, humilhação e repouso; e tal há de ser para nós o tribunal de Cristo, porque perante ele todos
compareceremos, e muitas de nossas obras que hoje nos gloriamos serão reprovadas e destruídas pelo fogo
divino que queimará nossas obras de madeira, feno e palha, e também as acusações que serão proferidas pelo
nosso adversário, porém, como o sangue do Cordeiro, venceremos (Levíticos 23:26-32; Levíticos 16; Hebreus
9:28; Romanos 11:26).

A festas dos tabernáculos, que também era festa de sete dias, representa portanto um estado, um modo de viver.
Vinha depois da sega do trigo (símbolo do recolhimento de todos quantos hão de ter parte na primeira
ressurreição) e da vindima (que significa a destruição dos inimigos do Senhor). Tipificava o reinado milenário de
Cristo, como ele próprio mostrou a três de seus discípulos no monte da transfiguração, cena que levou a Pedro a
desejar ficar ali, propondo-se a fazer lá três tabernáculos. Não havia chegado o tempo, nem chegou ainda, mas
vem se aproximando. Nesse tempo, os santos da presente dispensação, já então glorificados, estarão com o
Senhor, à semelhança de Moisés e Elias lá no monte santo, e Israel, nação por esse tempo já convertida, será
como os três discípulos que assistiram aquela glória estando ainda em carne. No final da festa de tabernáculos,
havia um oitavo dia mais solene e de completo repouso. Isso indica que o milênio ainda não é o estado de
perfeição, pois há de findar, como se vê em Apocalipse, com uma rebelião terrível e um juízo espantoso. Depois
vem o dia perfeito com novo céu e nova terra em que habita a justiça (Levíticos 23:33-36; 39:46; João 1:51).

Deus se manifestava de forma especial para seu povo através de cada festa. Na Páscoa, Deus é representado
como Redentor. Na dos Pães Asmos, Deus é representado como pureza e santidade. Na das Primícias, Deus é
representado como a eterna vida. Na do Pentecostes, Deus é representado como mantenedor. Na das Trombetas,
Deus é representado como fiel. Na da Expiação, como Salvador do pecado. Finalmente, na dos Tabernáculos,
Deus é representado como doador de todas as coisas

Hermenêutica Bíblica
18

Obs.: Não esqueça que o tipo é apenas sombra, e não imagem exata das coisas tipificadas, sendo às vezes no
contraste antes que no confronto que sobressai a figura, como acontece na impressão tipográfica efetuada nas
gráficas atualmente.

Muitos abusos têm sido cometidos na interpretação de muitas coisas que parecem típicas do Antigo
Testamento. Assim é que folgamos em aconselhar: 1º - Aceite-se como tipo o que como tal é aceito no Novo
Testamento; 2º - recorde-se que o tipo é inferior ao seu correspondente real e que, por conseguinte, todos os
detalhes do tipo não têm aplicação à dita realidade; 3º - tenha-se presente que às vezes um tipo pode prefigurar
coisas diferentes, e 4º - que os tipos, como as demais figuras, não nos foram dados para servir de base e
fundamento das doutrinas cristãs, mas para confirmar-nos na fé e para ilustrar e apresentar as doutrinas vivas à
mente.

6.12. Símbolo

O símbolo é uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma coisa ou algum fato por meio de outra coisa ou
fato familiar que se considera a propósito para servir de semelhança ou representação.

A Bíblia está cheia de símbolos, e seu estudo constituiria, por assim dizer, o estudo de toda a Bíblia. É preciso
ter idéia clara dos símbolos para entender as profecias e também muitas parábolas, pois estas foram dadas, muitas
vezes, em linguagem simbólica, como também para entender os tipos, pois um tipo é, em regra, um conjunto de
símbolos. A lição completa dos milagres só será entendida compreendendo os intuito simbólico que encerram.

Enfim, o Velho Testamento contém em símbolos as doutrinas do Novo Testamento, e este alicerça suas doutrinas
nos símbolos daquele.

Para facilitar o estudo, vamos classificar os símbolos bíblicos em sete grupos: Objetos Reais, Visões,
Transações, Nomes, Números, Cores e Formas.

6.12.1. Objetos Reais

O sangue por ser o elemento de renovação da vida orgânica do reino animal, simboliza a vida ou a alma. Veio a
ser o elemento expiador, dando a vítima alma por alma. Assim Cristo Derramou sua alma na morte (Isaías
53:12) para fazer expiação pelas nossas almas. Vestidos são símbolos de méritos ou justiça real ou suposta.
Mateus 22:11-13; Isaías 64:6; 60:10. No final deste tópico encontraremos diversos símbolos que detalham mais
claramente todos os grupos aqui citados.

6.12.2. Visões

Encontramos no livro de Apocalipse muitos símbolos desta classe. Em Jeremias 1:11-12 a visão da vara de
amendoeira que simboliza a vigilância do Senhor em cumprir a sua Palavra. Para nós não haveria semelhança
alguma entre o símbolo e a coisa simbolizada, mas para um hebreu, em cuja língua amendoeira é Xaqêd, que
significa despertadora ou vigilante, talvez por ser a primeira planta a despertar do sono hibernal, estava claro a
associação de idéias. Amós nos capítulos 7 e 8 tem quatro visões simbólicas: 1 - Gafanhotos (7:1-3) ,
calamidade; 2 - fogo (7:4-6) trata de um juízo divino contra Israel; 3 - um prumo para provar um muro (7:7-9),
semelhança de um muro desaprumado, que tem de ser demolido, os altos de Isaque serão assolados, e
destruídos os santuários de Israel por falta de conformidade com o padrão de justiça que o prumo simboliza
(Isaías 28:17; Lamentações 2:8); 4 - um cesto de frutos de verão (8:1-2) simboliza frutos maduros, coisa que não
se pode guardar por muito tempo, chegou o fim é a explicação.

Hermenêutica Bíblica
19

São numerosos os símbolos desta classe, e sua interpretação não difere da anterior.

6.12.3. Transações ou Atos

O tipo da Páscoa não estaria completo sem o ato simbólico de aplicar sangue do cordeiro a entrada das portas
dos israelitas do Egito. Do mesmo modo o ato de partir o pão que Jesus praticou ao instituir a Ceia teve tanto
valor simbólico que os apóstolos usavam essa frase como nome do próprio rito; mas os atos de comer o pão e
beber do vinho são igualmente simbólicos e indispensáveis por parte do comungante.

O ato de prostrar-se, significa reverência; levantar a mão, juramento, voto ou propósito de fazer alguma coisa;
cingir-se, dispor-se para o trabalho ou jornada.

Os milagres de Jesus são chamados sinais para indicar que todos eles foram designados como símbolos de
outros, tantos atos que o Senhor realiza na esfera espiritual.

6.12.4. Nomes

Podem ser nomes de pessoas ou nomes geográficos. Adão, nome do primeiro homem, progenitor de toda a raça
humana e responsável pela entrada do pecado no mundo, tornou-se símbolo dessa natureza decaída e do estado
de responsabilidade do homem diante de Deus. Matusalém é o símbolo da longevidade.

O leitor da Bíblia entretanto, tem um campo vasto de aprendizagem, se atentar à significação etimológica dos
nomes de suas personagens. Deus mesmo fez a mudança de alguns desses nomes com tal propósito em vista.
Abrão, pai exaltado, veio a se chamar Abraão, pai de grande multidão; Sarai, minha princesa, passou a ser Sara,
princesa; Jacó, suplantador, tornou-se Israel, príncipe de Deus, ou mais literalmente, Deus dominará; neste
último caso deve-se notar que não desapareceu o primeiro nome. Assim, quando o escritor sagrado quis fazer
alusão às maravilhosas operações da graça e da longanimidade de Deus que transformaram Jacó em Israel, volta
ao velho nome, como na expressão do Salmo 46: O Deus de Jacó é o nosso refúgio.

Como os nomes de pessoas, tem também significação simbólica vários toponímicos, seja por sua etimologia ou
por alusões históricas. Em Hebreus 7:2, o escritor acha na significação etimológica de Salém, como na de
Melquisedeque, elementos simbólicos que entram na interpretação do tipo. Os nomes Belém, casa de pão; e
Hebrom, comunhão; Jerusalém, fundamento da paz, e tantos outros lugares notáveis na história Sagrada deviam
ser lidos sem jamais se perder de vista sua significação etimológica. Babel e Babilônia simbolizam confusão,
tanto por sua etimologia como em razão de sua história. Por sua conexão histórica, Sodoma simboliza corrupção
mundana; o Egito é símbolo do mundo como força dominadora; o Calvário significa sofrimento, e ainda há
muitos outros.

6.12.5. Números

Quase todos os bons expositores das Escrituras tem encontrado simbolismo em vários números. Aqui como em
outros pontos, importa evitar os dois extremos: o de negar o simbolismo dos números e o de dar demasiado valor
aos mesmos. Exemplificando: Um significa unidade e primazia; dois - relação, diferença, divisão; três - solidez,
restrição, restauração; quatro - cessação, fraqueza, fracasso, provação; cinco - o fraco contra o forte, Emanuel,
Deus governando, capacidade, responsabilidade; seis - limitação, domínio humano, manifestação do mal; sete -
plenitude, perfeição, repouso; oito - o novo em contraste com o velho; doze - o governo de Deus manifesto ao
mundo; etc.

Hermenêutica Bíblica
20

6.12.6. Cores

As mais usadas simbolicamente nas Escrituras são as que se mencionam em Êxodo 25:4, não significando porém
que sejam as únicas, para tanto, deverá ser observado o contexto do versículo em questão.

Azul significa perfeição, o celeste, o céu (Ester 8:15). Preto, símbolo de angústia e aflição (Jó 30:30;
Apocalipse 6:5-12). Amarelado, símbolo de enfermidade mortal (Apocalipse 6:8). Carmesim ou escarlate foi a
cor distintiva do povo de Deus, com a qual Raabe identificou-se para com eles (Josué 2:18, Isaías 1:18. I João
1:7). Etc.

6.12.7. Formas

Nas instruções dadas por Deus para a execução das obras do tabernáculo, alguns de seus objetos deviam ser
quadrados, como os dois altares e o peitoral do sumo-sacerdote; outros eram quadrilongos ou retangulares, como
o átrio, o próprio tabernáculo, a mesa e a arca. E todos estes foram colocados de modo a ficarem seus lados
olhando para os quatro pontos cardeais. Daí o simbolismo da universalidade, eqüidade e imparcialidade no trato
de Deus com os homens. Hebreus 8:5.

6.12.8. Glossário Simbólico

A linguagem simbólica oferece muita dificuldade no estudo das Escrituras. Para facilitar e familiarizar-se,
citaremos os seguintes:

- Abelha, símbolo dos reis da Assíria (Isaías 7:18); às vezes simboliza um poder invasor e cruel (Deut. 1:44).
- Adultério, infidelidade, infração do pacto estabelecido. (Jer. 3:8-9; Ezeq. 23:37; Apoc. 2:22).
- Águia, poder, vista penetrante, movimento no sentido mais elevado (Deut. 32:11-22).
- Âncora, esperança (Hebreus 6:19).
- Arca, Cristo (I Pedro 3:20-21; Hebreus 11:7).
- Arco, símbolo de batalha e de vitória (Apoc. 6:2); às vezes engano (Os. 7:16; Jer. 9:3)
- Árvores, as altas, símbolo dos governantes (Ezeq. 31:5-9); as baixas, o povo (Apoc. 7:1; 8:7).
- Azeite, fortaleza pela unção (Tiago 5:14).
- Babilônia, poder perseguidor, idólatra (Isaías 47:12; Apocalipse 17:13; 18:24).
- Balança, trato íntegro e justo (Jó 31:6). Comprando víveres, escassez (Lev. 26:26; Ezeq. 4:16; Apoc. 6:5).
- Berilo (mineral), prosperidade, magnificência (Ezeq. 1:16; 28:13).
- Besta, símbolo de um poder tirano e usurpador, ou um poder temporal qualquer (Dan. 7:3-17; Ezeq. 34:28).
- Bosque, cidade ou reino (Isaías 10:17-34; 32:19; Jer. 21:14; Ezeq. 20:46) - ver também árvores.
- Braço, força e poder; braço nu e estendido, poder em exercício (Isaías 10:17:34; 32:19; Ezeq. 20:46).
- Cabras, símbolo dos maus, em geral (Mateus 25:32-33).
- Cadeia, significa escravidão (Marcos 5:4).
- Cálice, luxúria (Apoc. 17:1); ritos idólatras (I Cor. 10:21); porção que cabe a alguém (Apoc. 14:10; 19:6).
- Cana, fragilidade humana (Mateus 12:20).
- Cão, impureza e apostasia (Prov 26:11; Fil. 3:2; Apoc. 22:15); também significa vigilância (Isaías 56:10).
- Carneiro, símbolo dos reis em geral (Daniel 8:3-7,20)
- Casamento, união e fidelidade no pacto com Deus (Isaías 54:1-6; Apoc. 19:7; Efésios 5:23-32).
- Cavalo, conquista, rapidez, domínio (Zac. 10:3; Joel 2:4; Deut. 32:13 Isa. 58:14).
- Cedro, força e perpetuidade (Salmo 104:16).
- Cegueira, incredulidade (Romanos 11:25)
- Chave, autoridade , direito de abrir e fechar (Isa. 22:22; Apoc. 1:18; 3:7; 20:1; Mat. 16:19).
- Chuva, influência divina (Tiago 5:7).
- Cinzas, tristeza, arrependimento (Jó 42:6; Daniel 9:3).
- Crocodilo ou dragão, símbolo do Egito ou de todo poder anticristão (Isa. 27:1; 51:9; Ezeq. 29:3; Apoc. 12:3).

Hermenêutica Bíblica
21

- Cruz, sacrifício (Col. 2:14).


- Egito, símbolo de um poder orgulhoso e perseguidor, como Roma (Apoc. 11:8)
- Enxofre, símbolo de tormentos (Jó 18:15; Salmo 9:6; Apoc. 14:10; 20:10)
- Ferro, severidade (Apoc. 2:27).
- Fogo, símbolo da Palavra de Deus (Jer. 23:29; Hab. 3:5); destruição (Isa. 42:25; Zac. 13:9); etc.
- Fruto, manifestações das atividades da vida (Mateus 7:16).
- Harpa, símbolo de gozo e louvor (Salmo 49:4; 33:2; II Crôn. 20:28; Isa. 30:32; Apoc. 14:1-2).
- Hissopo, purificação (Salmo 51:7).
- Incenso, oração (Salmo 141:2; Apoc. 8:4; Mal. 1:11).
- Lâmpada, candelabro, símbolo de luz, gozo, verdade e governo (Apoc. 2:5).
- Leão, símbolo de um poder energético e dominador (II Reis 23:33; Amós 3:8; Dan. 7:4; Apoc. 5:5).
- Leopardo (tigre), símbolo de inimigo cruel e enganoso (Apoc. 13:2; Daniel 7:6; Isa. 11:6; Jer. 5:6; Hab. 1:8).
- Lepra, pecado asqueroso (Isa. 1:6).
- Luz, conhecimento, gozo (João 12:35).
- Macho caprino (bode), símbolo dos reis macedônios, especialmente Alexandre (Dan. 8:5-7).
- Maná, símbolo de alimento espiritual (Apoc. 2:17; veja Êxodo 16:33-34).
- Medir (partir, dividir), símbolo de conquista e possessão (Isa. 53:12; Zac. 2:2; Amós 7:17).
- Montanha, símbolo de grandeza e estabilidade (Isa. 2:2; Dan. 2:35).
- Morte, separação, separação de Deus, insensibilidade espiritual (Gál. 3:3; Rom. 5:6; Mat. 8:22; Apoc. 3:1).
- Ouro, realeza e poder (Gên. 41:42).
- Pão, pão da vida, Cristo; alimento, meio de subsistência espiritual (João 6:25).
- Peixes, símbolo de governadores (Ezeq. 29:4-5; Hab. 1:14).
- Pó, fragilidade do homem (Ecles. 3:20; Jó 30:19).
- Pomba, influência suave e benigna do Espírito Santo de Deus (Mat. 3:16).
- Porco, impureza e gula (Mat. 7:6).
- Porta, sede do poder; poder (João 10:9; Mateus 16:18).
- Raposa, engano, astúcia (Lucas 13:32)
- Rãs, símbolo de inimigos imundos e impudicos (Apoc. 16:13).
- Sangue, vida (Gên. 9:4).
- Terremoto, símbolo de agitação violenta no mundo político e social (Joel 2:10; Ageu 2:21; Apoc. 6:12).
- Touro (novilho), símbolo de um inimigo forte e furioso (Salmo 22:12; Ezeq. 39:18). Novilho indicam o povo
comum, e os estábulos, casas e povoações (Jer. 50:27).
- Trombeta, sinal precursor de acontecimentos importantes (Apoc. 6:6).
- Urso, símbolo de um inimigo cegado, feroz e temerário (Prov. 17:12; Isa. 11:7; Apoc. 13:2).
- Vento impetuoso, símbolo de conturbação; ***, símbolo de tranqüilidade (Apoc. 7:1; Jer. 25:31-33).
- Véu, do templo, corpo de Cristo (Heb. 10:20).
- Virgens - símbolo de servos fiéis que não se mancharam com a idolatria (Apoc. 14:4).

Lembramos que só se deve fazer uso destas interpretações no caso de usar-se as palavras aclaradas em sentido
simbólico, coisa que sempre se descobre mediante as regras já citadas anteriormente.

6.13. Parábola

A parábola é uma espécie de alegoria apresentada sob forma de uma narração, relatando fatos naturais ou
acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de declarar ou ilustrar uma ou várias verdades importantes.

Jesus ensinou por parábolas, algumas delas tinham todas as características de parábolas completas: a forma
histórica, a verossimilhança, a naturalidade da narrativa, a correspondência entre os objetos materiais e as
verdades espirituais que eles tinham por fim ilustrar. Outras quase se confundem ora com simples metáforas, ora
com os provérbios, aliás também chamados parábolas nas Escrituras (Lucas 4:23).

Em Lucas 18:1-7 Jesus expõe a verdade de que é preciso orar sempre e sem desfalecer, ainda que tardemos em
receber a resposta. Para aclarar e imprimir nos corações esta verdade, serve-se do exemplo ou parábola de uma
viúva e um mau juiz, que nem teme a Deus nem tem respeito aos homens. Comparece a viúva perante o juiz

Hermenêutica Bíblica
22

pedindo justiça contra seu adversário. Porém o juiz não faz caso; mas em razão de voltar e molestá-lo, a viúva
consegue que o juiz injusto lhe faça justiça. E assim Deus ouvirá aos seus que a ele clamam de dia e de noite,
embora pareça demorado em defendê-los.

Uma parábola que tem por objetivo ilustrar várias verdades, temo-la no Semeador (Mateus 13:3-8), cuja
semente cai na terra em quatro pontos diferentes; necessitando cada um sua interpretação . (verifique os versos
18-25). Outra parábola que ilustra várias verdades é a do joio, no mesmo capítulo, versos 24-30 e 36-43. Várias
verdades são aclaradas também pelas parábolas da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho pródigo
(Lucas 15). Outro tanto se sucede com a do fariseu e o publicano e outras (Lucas 18:10-14).
O intuito do método parabólico de Jesus foi duplo. 1º - Despertar nos discípulos maior atenção e maior desejo
em compreender: Interrogaram-no acerca da parábola. 2º - Ocultar a verdade aos indiferentes e incrédulos:
Para que vendo, vejam e não percebam.

Jesus nos deu, em dois casos, o modelo de interpretação das parábolas. Isto ele fez quando proferiu aquelas
parábolas que se podem classificar de modelares: a do Semeador e a do joio. Não percebeis esta parábola?
Como, pois, entenderás todas as parábolas? Isto foi dito referindo-se à parábola do Semeador e passando a
explicá-la, tornando assim, tanto a parábola como sua interpretação, um modelo. Em sua explicação, Jesus não se
limitou a dar uma idéia do conjunto, mas interpretou também os detalhes.

Temos algumas regras que dirigem a interpretação das parábolas, porém, é conveniente lembrar que sempre há a
possibilidade de exceção a uma regra. e caberá ao estudante determina-la, se assim o for conveniente.

1º - Todos os termos da parábola devem ser interpretados. Alguns deles, são certamente mais salientes ou
essenciais e devem receber nossa maior atenção; outros são menos importantes, constituindo-se ornatos da
figura, mas não são destituídos de valor e significação.

2º - Devemos procurar o ponto central da parábola. Identificado o ponto central, todos os termos da parábola
serão mais facilmente colocados em torno dele, estabelecendo-se perfeita harmonia.

3º - Prestar atenção ao prólogo e epílogo que acompanham várias parábolas. São chaves, sem as quais muitos
tentarão entendê-las sem conseguir resultados satisfatórios se as ignorarem.

4º - Os princípios de interpretação dos símbolos aplicam-se às parábolas. Muitos termos que aparecem nas
parábolas já haviam sido utilizados nos símbolos bíblicos, estando já determinada a sua significação. O fermente
por exemplo, tinha sua significação simbólica determinada. Podendo variar nas modalidades de aplicação, ou
seja, pode ser o mundanismo político de Herodes, o formalismo religioso dos fariseus, o racionalismo incrédulo
dos saduceus, etc.

5º - Interpretar segundo a analogia da fé. É princípio geral de interpretação que nenhum texto se pode dar um
sentido contrário ao ensinamento geral e claro das Escrituras sobre o mesmo assunto. Os passos mais obscuros
interpretam-se pelos mais claros, a linguagem simbólica ou metafórica se esclarece pelo ensino explícito do
mesmo assunto em linguagem literal. Exemplificando: a boa semente na parábola do Semeador é a Palavra de
Deus, e as plantas dela nascidas são os filhos do reino, segundo a parábola do joio; do mesmo modo o campo,
que é o mundo, segundo esta parábola, deve ser assim entendido na do tesouro escondido, onde resulta que o
comprador do campo não é o homem, e sim o Senhor Jesus Cristo.

7º - Em certos casos, um termo, mantendo a unidade fundamental, pode aplicar-se com variadas modalidades
circunstanciais. Quando se diz, por exemplo, o que semeia a boa semente é o Filho do Homem, não se deve
entender essa interpretação em sentido tão restrito que Cristo em pessoa seja o semeador único. Assim também
os espinhos podem significar vários impecílios ao pleno êxito da Palavra de Deus na vida das pessoas, conforme
a situação e tendências de cada um: riqueza, pobreza, diversões, ambições várias, sentimentos mundanos, todas
as quais resultam em distrair das ocupações espirituais o ouvinte do Evangelho.

Também há no caso específico das parábolas um paralelismo de duas espécies: o paralelismo de identidade e o
paralelismo de semelhança.

Hermenêutica Bíblica
23

Há paralelismo de identidade quando a parábola é escrita por dois ou mais evangelistas, como a do Semeador,
que encontramos em Mateus 13:3-23; Marcos 4:3-20; Lucas 8:5-15. O estudante poderá encontra-las sem
maiores dificuldades com a Pequena Enciclopédia Bíblica de O.S. Boyer ou uma harmonia dos Evangelhos.

Paralelismo de semelhança ocorre quando as parábolas têm algum pondo em comum ou se ocupam de certo
aspecto comum da vida humana, mas não são de modo algum a mesma parábola relatada em termos diferentes.
Agruparemos algumas parábolas em que ocorre paralelismo de semelhança:

- Parábolas que tratam de festas


As bodas do filho do Rei. Mateus 22:1-14.
A grande ceia. Lucas 14:15-24.
A festa do regresso do pródigo. Lucas 15:11-32.
As dez virgens. Mateus 25:1-13.
Os servos vigilantes. Lucas 12:35-38.

- Parábolas de dívida e perdão.


O ajuste com o adversário. Mateus 5:25-26; Lucas 20:9-16. (*)
O credor incompassivo. Mateus 18:23-25.
Perdão e amor. Lucas 7:40-50.
(*) Houve neste caso paralelismo de identidade concomitantemente.

Fazendo uma comparação das 7 cartas e das 7 parábolas do capítulo 17 de Mateus com a história da Igreja:

- Éfeso: Era apostólica - Parábola do Semeador, o começo com falha, deixando o primeiro amor que havia logo
após o Pentecostes.
- Smirna - Tempo das 10 perseguições imperiais - Parábola do trigo e do joio, tempo de amargura, com falsos
judeus no meio.
- Pérgamo - Tempo de Constantino - Parábola da semente de mostarda, a Igreja simples cresceu, as aves imundas
(as nações) fizeram seus ninhos na grande árvore em que se transformou a Igreja.
- Tiatira - Roma dominando com sua abominação - Parábola do fermento, Jezabel, a meretriz, a mulher que
colocou o fermento na massa do cristianismo.
- Sardo - Tempo da Reforma e pouco depois - Parábola do tesouro escondido, tens nome de que vives mas estás
morto. Muitos saíram da Igreja romana, aceitaram alguma coisa do Evangelho, mas não se converteram, e
estragaram a obra dos reformadores.
- Filadélfia - O movimento missionário, que marchou para evangelizar países distantes, atingindo a China, Índia,
África, América do Sul e o Japão - Parábola da pérola, o corpo de Cristo, os salvos tirados do mundo para
estarem com ele.
- Laodicéia - Os últimos dias desta era - Parábola da rede, o Juízo de Deus, vomitar-te-ei da minha boca.

Poderíamos relacionais mais parábolas sob os mais variados títulos, porém, estes exemplos são suficientes para
modelo.

Hermenêutica Bíblica

Você também pode gostar