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Por isso que os nossos

velhos dizem: "Você não pode


se esquecer de onde você é e
nem de onde você veio,
porque assim você sabe
quem você é e para onde você
vai". Isso não é importante só
para a pessoa do indivíduo, é
importante para o coletivo, é
importante para uma comu-
nidade humana saber quem
ela é, saber para onde ela
está indo...

ailton krenak
Eu quero me apresentar para vocês que
estão aí me ouvindo: o meu nome é Ailton, e
eu me chamo Aílton Krenak porque nós
temos o costume de trazer junto com o
nosso primeiro nome o nome da nossa
tribo. Muito antes do filho do português
vir para cá, muito antes do filho do italiano
vir para cá, já existia um povo que sempre
viveu aqui. Essa gente é que é chamada
índios. Mas nós não somos índios. Antes de
ter encontrado os brancos, eu nunca tinha
ouvido falar na palavra índio. Os brancos é
que nos chamam assim. Na minha língua, nós
nos chamamos borun, que quer dizer ente
humano, ser humano. Mas desde a hora que
os portugueses chegaram aqui eles
começaram a chamar a minha tribo, o meu
povo, com esse apelido de índio. E não con-
seguiram até hoje entender que nós somos
tribos diferentes, somos povos diferentes,
cada um com uma identidade própria, habi-
tando diferentes lugares do Brasil. E
existe também uma diferença dessas tribos
com os outros brasileiros.

ailton krenak
Uma das lembranças mais
agradáveis que tenho da
infância é a de meu avô
me ensinando a ler. Mas
não ler as palavras dos
livros, e sim os sinais da
natureza, sinais que
estão presentes na flor-
esta e que são necessári-
os saber para poder nela
sobreviver.

DANIEL MUNDURUKU
“Dentro do nosso território
nacional existem 307 povos e,
conforme os dados da
pesquisa de 2010 do IBGE, são
faladas cerca de 276 línguas
indígenas.
Quando falo em 307 povos,
são 307 formas de ser
humano. Portanto, ser humano
não é uma experiência única,
são experiências diversas. E
essas experiências precisam
ser apreendidas também para
sermos capazes de compor o
que há de humano em cada um
de nós.”

DANIEL MUNDURUKU
Para o povo Munduruku só
existem dois tempos: o tempo
do passado, que é o tempo da
memória, e o tempo do pre-
sente, que é o tempo do
agora. Na língua Munduruku,
não existe a palavra futuro,
simplesmente porque o
futuro não existe. A língua
Munduruku é concreta, ela
opera a partir de coisas muito
palpáveis, e o futuro, como
vocês sabem, não é nada
palpável. Ele é uma especu-
lação.

daniel munduruku
A gente nunca faz aquela
famosa pergunta para uma
criança: “O que você vai ser
quando crescer?”. Você sabe
disso? Alguém perguntou
para vocês isso? E não faze-
mos essa pergunta por um
motivo muito simples: as cri-
anças não serão nada,
porque elas já são tudo o
que precisam ser, ou seja,
são crianças. Cabe aos adul-
tos darem todas as possibili-
dades para elas serem ple-
namente crianças.

daniel munduruku
A dança é para os indígenas
parte integrante da vida,
presente em todos os mo-
mentos, assim como o canto.
Dançam para plantar, para
pescar, para caçar. Há danças
para o plantio do milho, para
a colheita de mandioca, para
os rituais de passagem.
“Assim nos mantemos conect-
ados com a energia vital,
num fluxo não interrompido
e preservamos a saúde”, diz
Krenak. “Enquanto a pessoa
anda em equilíbrio, não
adoece.”

Ailton krenak
E o que a gente sempre
trouxe para a defesa da
natureza é que nós não
somos guardiãs dela.
Nós somos a própria
natureza. Se permitir-
mos a destruição da na-
tureza, estamos per-
mitindo a nossa dEs-
truição.

SONIA GUAJAJARA
No Brasil, a diversidade de
povos indígenas é muito
grande. Temos 307 povos diF-
erentes que falam 276 línguas,
o que já é um número muito
reduzido em relação ao que
havia em 1500. Só na Amazônia
há mais de 60 povos, e pelo
país, cerca de 80, que vivem
isolados, nunca fizeram conta-
to com a sociedade. Mesmo
sendo os povos oriGI- nários
do país, a sociedade ainda nos
desconhece. Somos invisíveis.

SONIA GUAJAJARA
“Para mim e para meu povo,
ler e escrever é uma técnica,
da mesma maneira que
alguém pode aprender a di-
rigir um carro ou a operar
uma máquina. Então a gente
opera essas coisas, mas nós
damos a elas a exata di-
mensão que têm.
Escrever e ler para mim não é
uma virtude maior que
andar, nadar, subir em ár-
vores, correr, caçar, fazer um
balaio, um arco, uma flecha
ou uma canoa.”

AILTON KRENAK
Daniel Munduruku
(Belém, 28 de fevereiro de 1964) é um
escritor e professor brasileiro. Per-
tence à etnia indígena mundurucu.

É graduado em filosofia, história e


psicologia. Tem mestrado em antropo-
logia social pela Universidade de São
Paulo. É doutor em educação pela Uni-
versidade de São Paulo[3]. É Dire-
tor-Presidente do Instituto Uk´a -
Casa dos Saberes Ancestrais. Como es-
critor, se destaca na área da literatu-
ra infantil. É membro da Academia de
Letras de Lorena[3]. Recebeu a Comen-
da do mérito cultural por duas vezes.
Já recebeu vários prêmios no Brasil e
no exterior: Jabuti, da Academia Bra-
sileira de Letras, Érico Vanucci Mendes
(CNPq), Tolerância (UNESCO).
Sônia Bone Guajajara

é uma líder indígena brasi-


leira. É formada em Letras e
em Enfermagem, especialista
em Educação especial pela
Universidade Estadual do
Maranhão. Recebeu em 2015 a
Ordem do Mérito Cultural.
Ailton Krenak

é um líder indígena, ambi-


entalista e escritor bra-
sileiro. É considerado uma
das maiores lideranças do
movimento indígena bra-
sileiro, possuindo reco-
nhecimento internacional.
Pertence a etnia indígena
crenaque.

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