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Capítulo

O PROPÓSITO ETERNO DE DEUS

Ao estudarmos o plano da redenção, qual deve ser o ponto de partida? Como nós o descre-
veremos? Não é verdade que a maioria das vezes nossas concepções são erradas porque come-
çamos no lugar errado?

Frequentemente a história da humanidade tem sido interpretada a partir da queda. Se esse for o
ponto de partida, é muito natural que a história tenha um colorido de redenção e o propósito de
Deus, então, seja visto à luz da necessidade do homem ser redimido. É claro que a necessidade de
redenção não deve ter a sua grande importância diminuída, porém não pode tornar-se uma
verdade que ofusque as demais. Às vezes parece que o homem entrou em cena exatamente para
que pudesse ser salvo. Dessa forma, o homem só se torna importante no propósito de Deus por
sua queda e a redenção é vista como a principal obra de Deus.

Mas quando paramos para pensar, chegamos a uma conclusão, lá no íntimo do coração, de que
certamente há um “propósito melhor”. Se começamos com o homem e sua queda, somos levados
a conceber que isso é o centro de tudo e, guiados pelo ponto de partida errado, isto é, o homem e
sua queda, não podemos deixar de chegar a um final errado: o homem e sua restauração.

Mas há outros que, percebendo esse perigo, partem da comissão dada por Deus a Adão: "Sede
fecundos, enchei a terra e dominai-a” (Gn 1.28). Partindo desse ponto, toda a história é
interpretada sob um ponto de vista de governo e de reino. Assim, uma vez que o homem foi
criado para governar, ele vê tudo por esse prisma e o reino passa a ser o tema central.
Há ainda aqueles que reconhecem a necessidade de começar com Deus, em vez de começar
com o homem, e por isso iniciam onde Deus inicia: Gênesis 1.1 - Deus como Criador. Partindo
desse ponto de vista, tem-se como resultado a visão de um Deus arquiteto e soberano e tudo o
mais girando em torno disso. Porém, mesmo considerando Deus como ponto de partida, não
conseguem uma resposta satisfatória para Seu propósito na criação nem explicação para Sua
soberania.

Então, nos admiramos que não haja um supremo ponto de partida que solucione o enigma de
vida e propósito. A esta altura, imediatamente reconhecemos por que o apóstolo Paulo sempre
parte lá de trás, do coração do Pai Eterno, antes da fundação do mundo. Paulo sempre começa
com a vital paternidade de Deus — ou o Seu compartilhamento de Si mesmo. Uma luz se projeta
sobre o futuro. Qual seria o desejo do Pai? Qual seria Sua intenção e Seu supremo propósito?

O propósito que anteriormente estivera oculto em mistério e que foi revelado ao apóstolo
Paulo era este: o Pai tencionava que Seu Filho tivesse um corpo para expressar ao mundo Sua
vida - Ele mesmo - agora, antes de toda a criação e nos séculos vindouros.

Esta é a razão por que insistimos em começar no coração do Pai, com Seu desejo, intenção e
propósito. Fazendo isso, vemos Cristo de um ponto de vista completamente diferente, pois não é
primariamente às necessidades do homem que Ele está ligado, e sim, em primeiro lugar, ao
supremo propósito do Pai.

Já que os planos e propósitos de Deus não são determinados pelas necessidades do homem,
vejamos então como todas as coisas, de modo adequado, estão relacionadas a Ele e existem para
Sua honra, glória, prazer e satisfação.

1.10 PROPÓSITO DE DEUS AO CRIAR O HOMEM

A. A restauração de todas as coisas


Entre os versículos 1 e 2 de Gênesis 1, a Escritura mostra que houve um cataclismo universal
onde tudo o que fora criado, de algum modo foi destruído e se tornou um caos. Aliás, o termo
“ERA sem forma e vazia” de fato pode ser traduzido como “SE TORNOU sem forma e vazia
Muitos teólogos crêem que aí está descrita a queda de Lúcifer que, após tal evento, foi lançado
sobre a terra, como afirmam os textos dos profetas Isaías e Ezequiel.

Dessa forma, ao criar o homem, Deus estava formando um ser do pó da terra, o lugar exato
onde Lúcifer fora lançado. Em outras palavras, Deus dizia a ele: “Você tinha um lugar especial
diante de mim e não guardou essa posição tão privilegiada. Agora eu vou criar um ser inferior a
você, do pó dessa terra. Esse ser vai escolher voluntariamente me amar, vai ser instrumento da sua
derrota e finalmente ocupará o seu lugar na minha presença para sempre”. Isto é o que vemos nos
últimos capítulos do Apocalipse: os redimidos de Deus perante Ele em adoração. Isso é
maravilhoso!
B. Comunhão

...nos predestinou para Ele. (Ef 1.5)

Deus nos criou para Sua própria satisfação. Ele não pretendia simplesmente compartilhar com
o homem da Sua glória, mas ter um relacionamento com ele. Deus nos chama para nos
relacionarmos com Ele. Mas se nós, às vezes, encontramos dificuldade em ter comunhão com
pessoas cujos interesses não são os mesmos que os nossos, o que diremos a respeito de Deus, que
procura comungar com o homem, contudo o encontra girando em torno de si mesmo e de seus
propósitos insignificantes?

C. Expressá-lo

...façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança... (Gn


1.26)

Ao criar o homem à Sua imagem e semelhança, Deus estava dando a ele a capacidade de
expressá-lo. O propósito de Deus era e continua sendo expressar-se. A Palavra de Deus diz que
Deus é amor e expressou Seu amor através de Jesus. Deus deseja expressar-se através do homem.

Expressar Deus significa expressar a Sua glória. Quando Moisés desceu do monte Sinai, estava
com o rosto brilhando, pois esteve diante da glória de Deus (Ex 34.29). Deus deseja expressar Seu
caráter e por isso busca um homem segundo o Seu coração e a Sua mente (ISm 2.35), pois esse é
o homem capaz de expressá-lo. Adão não entendeu isso e não cumpriu o propósito de Deus.

D. Filiação

...assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo [...] para a
adoção de filhos... (Ef 1.4-5) ...multiplicai-vos, enchei a terra... (Gn 1.28)

Deus queria filhos parecidos com Jesus. O conceito de família nasceu no coração de Deus. A
aliança de Deus com Abraão implicava em uma descendência numerosa: “...em ti serão benditas
todas as famílias da terra...” (Gn 12.3).

E. Governo

...dominai, sujeitai... (Gn 1.28)

Deus deu ao homem a capacidade para governar e era Seu propósito que o homem exercesse
governo sobre toda a criação. Mais tarde o mesmo propósito foi visto em relação ao povo de
Israel. Deus queria fazer-se conhecido através da nação de Israel (Dt 14.2) mas eles não enten-
deram e rejeitaram o governo de Deus ao pedirem um rei espelhando-se nas nações pagãs (ISm
8.5). Israel aceitou a libertação de Deus, mas falhou em viver para Deus.

O mesmo acontece conosco hoje quando não discernimos o propósito de Deus e não nos
submetemos ao Seu governo. Jesus veio para estabelecer o governo de Deus através do homem. O
mundo gentio conheceria o Senhor quando Ele, como “Cabeça”, se unisse ao “Corpo ’.
...o governo está sobre os seus ombros... (Is 9.6)

Na verdade, Deus governa sobre tudo. Mas, ao criar o homem Ele decide compartilhar com
este o Seu governo. O homem muitas vezes tem falhado, entretanto ainda hoje o propósito de
Deus permanece através da Sua igreja. “Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas,
então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus
seja tudo em todos” (lCo 15.28).

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