Os egressos são ex-presidiários que tentam se integrar novamente a sociedade,
buscando a oportunidade de estabelecer seus direitos à cidadania e assim levar uma nova vida longe do mundo do crime. A reinserção social, principalmente no mundo do trabalho, se torna muito difícil, visto que, no nosso país, a estigmatização sobre este ex-detento preponderá pela maioria das pessoas. Mas como este egresso poderá ser ressocializado existindo a prevalência de exclusão social por parte da maioria da população? A resposta a esse paradoxo vai além do que se pode ver em um momento. Afinal, este ex-detento possui uma história de vida, sua vida se desenvolveu em meio a sociedade, sociedade esta que influenciou na formação da sua personalidade. Todavia, é imprescindível que entendamos que a socialização é o processo em que um indivíduo se adequa moralmente e emocionalmente aos costumes e regras de uma sociedade, ou seja, a cultura do lugar. (Ulich, apud Hurrelmann, 1991, citado por GRIGOROWITSCHS, 2008). Nesta perspectiva, falar sobre ressocialização em uma sociedade que está “submersa” na desigualdade de oportunidades em âmbito econômico, chega a ser inviável, pois, a própria sociedade, em seus juízos de valores e individualismos, “pare bebês” para o mundo do crime, sempre que negligência as necessidades básicas ao desenvolvimento de um sujeito que é vítima da desigualdade social. O acesso a educação, grande aliada na tentativa de oportunizar chances de ascensão socioeconômica, é precarizado, não só porque existe falta de recursos financeiros por parte do Governo, mas porque a escola sozinha não daria conta sem que esses alunos não tenham o mínimo para sobreviver e permanecer estudando, a falta de oportunidade para se manter na escola leva este sujeito a buscar pelo dinheiro, pelo mínimo, necessário ao “escambo” capitalista. Se este sujeito não possui competência técnica para o mercado de trabalho, como ganhar dinheiro? O roubo é a saída, mas a porta de entrada para uma possível prisão. A partir daqui, este sujeito perde a oportunidade de se socializar. O plano econômico aqui se torna um grande fator, que muitas vezes é passado despercebido pela predominância de valores morais, a estigmatização e a falta de oportunidade empregatícia a egressos de presídios, apenas mantém essa condição de desigualdade, de pobreza. Quem poderá sustentar esse indivíduo, se não ele mesmo?! A saída é roubar e correr o risco de voltar à cadeia. Está na hora de pensar em uma ressocialização para os sujeitos que nunca infringiram o Código Civil, pois estes sim, em sua maioria, receberam a oportunidade de serem socializados desde a infância. Ressocializados para que compreendam que meritocracia é um termo com significado, em seu sentido denotativo, desconhecido ao morador da periferia. Uma ressocialização a todos cidadãos, para que compreendam que a sociedade é um coletivo de pessoas e que todas merecem receber as mínimas condições de oportunidade para viver melhor. Como se falar em ressocialização a quem nunca foi, a priori, socializado?
Referência:
GRIGOROWITSCHS T. O conceito “socialização” caiu em desuso? Uma análise dos
processos de socialização de socialização na infância com base em Georg Simmel e George H. Mead. Educ. Soc., Campinas, vol. 29, n. 102, p. 33-54, jan./abr. 2008.