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REFLEXÕES CRÍTICAS À RESSOCIALIZAÇÃO DE

EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL

Bárbara Andrômeda Araújo Soares - UFPI


andrômedabarbara@gmail.com

Os egressos são ex-presidiários que tentam se integrar novamente a sociedade,


buscando a oportunidade de estabelecer seus direitos à cidadania e assim levar uma nova
vida longe do mundo do crime.
A reinserção social, principalmente no mundo do trabalho, se torna muito difícil,
visto que, no nosso país, a estigmatização sobre este ex-detento preponderá pela maioria
das pessoas. Mas como este egresso poderá ser ressocializado existindo a prevalência de
exclusão social por parte da maioria da população? A resposta a esse paradoxo vai além
do que se pode ver em um momento. Afinal, este ex-detento possui uma história de vida,
sua vida se desenvolveu em meio a sociedade, sociedade esta que influenciou na formação
da sua personalidade.
Todavia, é imprescindível que entendamos que a socialização é o processo em que
um indivíduo se adequa moralmente e emocionalmente aos costumes e regras de uma
sociedade, ou seja, a cultura do lugar. (Ulich, apud Hurrelmann, 1991, citado por
GRIGOROWITSCHS, 2008).
Nesta perspectiva, falar sobre ressocialização em uma sociedade que está
“submersa” na desigualdade de oportunidades em âmbito econômico, chega a ser inviável,
pois, a própria sociedade, em seus juízos de valores e individualismos, “pare bebês” para
o mundo do crime, sempre que negligência as necessidades básicas ao desenvolvimento
de um sujeito que é vítima da desigualdade social.
O acesso a educação, grande aliada na tentativa de oportunizar chances de
ascensão socioeconômica, é precarizado, não só porque existe falta de recursos
financeiros por parte do Governo, mas porque a escola sozinha não daria conta sem que
esses alunos não tenham o mínimo para sobreviver e permanecer estudando, a falta de
oportunidade para se manter na escola leva este sujeito a buscar pelo dinheiro, pelo
mínimo, necessário ao “escambo” capitalista.
Se este sujeito não possui competência técnica para o mercado de trabalho, como
ganhar dinheiro? O roubo é a saída, mas a porta de entrada para uma possível prisão. A
partir daqui, este sujeito perde a oportunidade de se socializar. O plano econômico aqui
se torna um grande fator, que muitas vezes é passado despercebido pela predominância
de valores morais, a estigmatização e a falta de oportunidade empregatícia a egressos de
presídios, apenas mantém essa condição de desigualdade, de pobreza.
Quem poderá sustentar esse indivíduo, se não ele mesmo?! A saída é roubar e
correr o risco de voltar à cadeia. Está na hora de pensar em uma ressocialização para os
sujeitos que nunca infringiram o Código Civil, pois estes sim, em sua maioria, receberam
a oportunidade de serem socializados desde a infância. Ressocializados para que
compreendam que meritocracia é um termo com significado, em seu sentido denotativo,
desconhecido ao morador da periferia. Uma ressocialização a todos cidadãos, para que
compreendam que a sociedade é um coletivo de pessoas e que todas merecem receber as
mínimas condições de oportunidade para viver melhor. Como se falar em ressocialização
a quem nunca foi, a priori, socializado?

Referência:

GRIGOROWITSCHS T. O conceito “socialização” caiu em desuso? Uma análise dos


processos de socialização de socialização na infância com base em Georg Simmel e George H.
Mead. Educ. Soc., Campinas, vol. 29, n. 102, p. 33-54, jan./abr. 2008.

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