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O ANO – TESTE DE
AVALIAÇÃO N.O 1
GRUPO I
Texto A
A peça de Tiago Correia encerrou o Festival de Almada. Seis meses depois da estreia
e uma pandemia depois, as suas fragilidades cénicas são mais indisfarçáveis.
Em janeiro, os turistas eram uma praga. Seis meses depois da estreia desta produção da
companhia “A Turma”, com a praga Covid-19 pelo meio, e quando a peça encerra o Festival
de Almada, o regresso dos turistas é sonho de autarcas e principalmente dos que viviam deles
e das suas compras e dos seus passeios e dos seus alugueres de curta duração e alto
5 rendimento. Turismo não perdeu o seu sentido com os efeitos da pandemia na vida das
cidades. Continua um espetáculo de intervenção sobre a realidade, mas a realidade é outra e
as circunstâncias deixaram mais à vista as suas fragilidades cénicas.
Na peça que Tiago Correia escreveu e encena, encontra-se uma rapariga que vive na zona
histórica da cidade e que, embora deseje ser atriz, porque a renda e a comida têm o seu
1 preço, desviou-se do trajeto e agora entretém turistas vendendo-lhes bugigangas, mostrando-
0 -lhes as vistas, alugando-lhes o apartamento clandestinamente 1, aqui e ali para eles
cozinhando jantares típicos. Tem por senhorio um polícia, melhor, a mãe dele, habitante do
nevoeiro da doença de Alzheimer, com os seus próprios problemas, atirado para os
subúrbios2 na esperança de rendibilizar a casa no centro e superar as despesas. A este grupo
de vítimas junta-se uma sem-abrigo, espécie de oráculo 3 que vai dizendo as verdades de que
1 ninguém quer saber, um turista francês que, afinal, é um fotógrafo traumatizado pelo que viu
5 no Mediterrâneo, e, claro, um empreendedor cheio de lábia no papel de vilão, apesar de, ao
©Edições ASA | 2020/2021 − Alice Amaro – Novas Leituras 9
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P ORTUGUÊS 9.O ANO – TESTE DE
AVALIAÇÃO N.O 1
olhar do texto, não haver por aqui bons nem maus.
Por detrás dos panos do enredo, já se percebeu, está a gentrificação 4 das cidades na
forma em que ela se apresentou ao autor depois de pesquisas realizadas, em 2017, no Porto,
em Loulé e em Barcelona, as quais, como em Lisboa ou em Veneza, por assim dizer verificam
2 como o turismo apressou a “pressão imobiliária”, expulsou os habitantes pobres, substituiu a
0 barbearia do senhor João pelo Starbucks, ou fez da loja de tecidos da dona Judite uma
mercearia biológica. Foi um tempo em que palavras como trólei e Airbnb 5, ou voos low
cost6, significavam cidades em vias de transição para o parque de diversões,
evidentemente eco-friendly7, desenvolvidos por empreendedores espevitados incentivados por
presidentes de câmara que confundiam cosmopolitismo com ocupação do espaço público, isto
2 é, encurtando e simplificando, descaracterização dos lugares deixando os locais encurralados.
5 O tempo mudou e já mal se ouvem os tuk-tuk8. Os turistas voltarão, decerto. Não se sabe é
quando, nem como, nem quantos. Sabe-se que não será da mesma maneira e espera-se por
uma vacina antes de o mundo como o conhecíamos desaparecer sem garantia de daí nascer
algo melhor. Ora, isto altera consideravelmente a maneira como se vê Turismo, agora, meio
ano depois da estreia. Fornece algum alimento ao pensamento e boa dose de possibilidades
3 de teorização sobre o futuro das cidades que no ínterim 9 caíram de borco10. Mais do que tudo,
0 mostra as inúmeras fragilidades do original.
O busílis 11 começa no texto, demasiado carregado de lugares-comuns, cheio de frases
feitas, que, com o uso, já em janeiro, não tinham qualquer efeito, e incapaz de criar
personagens consistentes para além do estereótipo; prolonga-se por uma encenação
habilidosa mas ineficaz a que a utilização de vídeo em tempo real nada acrescenta; encerra-
3 -se numa interpretação frouxa, talvez consequência de má direção dos atores e de um elenco
5 particularmente desequilibrado. O que, no fundo, faz ainda mais mossa a Turismo do que a
mudança dos tempos.
4
0
VOCABULÁRIO
1. Seleciona, em cada item, a alínea que completa cada frase de forma adequada,
de acordo com o sentido do texto.
1.2. As ideias contidas no primeiro parágrafo (linhas 1-7) permitem-nos perceber que
(A) o autor não aprecia a presença de turistas nas cidades.
(B) a pandemia da Covid-19 permitiu o regresso dos turistas.
(C) o setor turístico foi bastante prejudicado pela pandemia da Covid-19.
(D) o turismo não foi afetado pelos efeitos da pandemia da Covid-19.
1.3. De acordo com Rui Monteiro, Turismo é “um espetáculo de intervenção sobre a
realidade” (linha 6), porque
(A) chama a atenção do espetador para um problema social.
(B) apresenta a realidade tal como ela é.
(C) intervém ativamente na realidade, transformando-a.
(D) descreve a realidade de forma direta e objetiva.
2. Tendo em conta a sinopse (linhas 8-18) do autor deste texto sobre a peça Turismo,
identifica a personagem que
a) arrenda um apartamento na zona histórica da cidade.
b) trabalha como guia turístico.
c) visita a cidade.
d) denuncia aspetos negativos da realidade.
3.2. Conclui acerca da opinião de Rui Monteiro sobre a peça de teatro Turismo.
Texto B
Os bárbaros
Primeiro vieram a cavalo e a galope. Guerreando porque serem guerreiros era a sua
condição e a sua razão de viver. Os bárbaros. Alanos, Vândalos e Suevos. Mais tarde os
Visigodos. Algo os atraía já neste claro azul quase africano. Vinham dos seus países brancos
e invernosos, talvez gostassem do brando clima e do azul do céu, gostavam decerto das terras
5 que conquistavam aos indígenas, e onde se instalavam. Depois pararam as visitas violentas.
As últimas, e mais breves, foram as francesas.
E durante muito tempo não houve incursões1. Até ao advento2 do turismo. E então ei-los
que se puseram a chegar todos os anos pelo verão, voando ou de camioneta de vidraças
panorâmicas e ar condicionado, de automóvel também, naturalmente, e até em auto-stop3 que
10 é a maneira atual de viajar na garupa do cavalo. Enchem os hotéis de todas as estrelas que há
na terra e também os parques de campismo onde erguem as suas tendas de paz. Vêm
armados de máquinas fotográficas e de filmar. E só lhes interessam as coisas, e eles próprios
no meio delas. Quanto aos indígenas, querem lá saber. Como dantes.
É uma coisa engraçada, o turismo. Porque não traz nada de verdadeiramente novo. Como,
15 de resto, nada neste mundo, ou tão pouco. As coisas é que mudam de nome e de rosto com
tempo. Mas repetem-se incessantemente.
Estou a escrevinhar estas regras – já muitas vezes escritas – porque avistei agora mesmo,
da minha janela, um grupo loiro e colorido de vikings, saindo do seu drakkar4 terrestre e sem
cabeça de dragão.
(O Jornal, 18-7-80) Maria Judite de Carvalho, Este tempo, Lisboa, Editorial Caminho, 1991
8. “As coisas é que mudam de nome e de rosto com tempo.” (linhas 15-16)
8.1. Explicita o sentido desta afirmação, relacionando-a com o título da crónica.
9. Muitas vezes, o cronista recorre à ironia para transmitir o seu ponto de vista.
9.1. Transcreve um exemplo de ironia que comprove a afirmação anterior.
GRUPO II
1. Completa cada uma das frases seguintes com a forma do verbo apresentada entre
parênteses, no tempo e no modo indicados.
Se os turistas __a.__ (ser – futuro do conjuntivo) civilizados, __b.__ (ser – futuro
do indicativo) bem-vindos.
2. “E então ei-los que se puseram a chegar todos os anos pelo verão [...].” (linhas 7-8]
2.1. Reescreve a frase anterior, substituindo o pronome sublinhado pelo nome
correspondente. Faz apenas as alterações necessárias.
Coluna A Coluna B
1. Sujeito
2. Predicado
A. “Primeiro vieram a cavalo e a galope.” (linha 1)
3. Modificador (do verbo)
B. “Depois pararam as visitas violentas.” (linha 5)
4. Modificador do nome
C. “Enchem os hotéis de todas as estrelas”. (linha 10)
5. Complemento direto
D. “Quanto aos indígenas, querem lá saber.” (linha 13)
6. Complemento indireto
E. “um grupo loiro e colorido de vikings” (linha 18)
7. Complemento oblíquo
8. Predicativo do sujeito
4. Identifica a única frase que não contém uma oração subordinada adjetiva relativa.
(A) Os turistas nem sempre respeitam os locais que visitam no verão.
(B) Muitas vezes, as cidades pelas quais eles passam são devassadas.
(C) Só lhes interessa que possam fotografar e filmar as suas férias.
(D) Eles enchem os parques onde erguem as suas tendas de campismo.
GRUPO III
ITENS DE RESPOSTA
Grupo I – Leitura e Educação Literária COTAÇÕES
1.1. (D)
1.2. (C) 3x3=9
1.3. (A)
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2. a. um polícia
b. uma rapariga 4
c. um turista francês
d. uma sem-abrigo
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3.1. a. “interpretação frouxa” (l. 40);
b. “encenação habilidosa mas ineficaz” (ll. 38-39); 4
c. “demasiado carregado de lugares-comuns, cheio de frases feitas” (ll. 36-37)
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3.2. Rui Monteiro tem uma opinião negativa relativamente à peça Turismo. 2+1=3
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4.1. A cronista avistou pela janela um grupo de turistas nórdicos que lhe fez
lembrar os vikings, o que originou a escrita desta crónica. 3+2=5
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5.1. Sendo naturalmente guerreiros, os povos antigos invadiam Portugal para
conquistar e dominar território num país onde o clima era moderado. 3+2=5
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6.1. À semelhança dos antigos povos invasores, os turistas invadem Portugal,
também vêm “armados” e não se preocupam com os “indígenas” (os nativos), 3+2=5
apenas olham pelos seus interesses.
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7.1. A metáfora insinua que os turistas, à semelhança dos bárbaros, são violentos
e agressivos pois também eles “vêm armados” tal como os antigos povos 4+2=6
guerreiros.
©Edições ASA | 2020/2021 − Alice Amaro – Novas Leituras 9
8
P ORTUGUÊS 9.O ANO – TESTE DE
AVALIAÇÃO N.O 1
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8.1. Segundo a cronista, ainda que agora se chame turistas aos que “invadem”
Portugal todos os anos, estes são tão “bárbaros” quanto os antigos invasores, 3+2=5
pelo seu comportamento agressivo e pela falta de respeito pelas pessoas e
pelos locais onde passam férias.
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9.1. Exemplos de ironia: “que conquistavam aos indígenas” (l. 5); “Quanto aos
indígenas, querem lá saber.” (l. 13); “um grupo loiro e colorido de vikings, 4
saindo do seu drakkar” (l. 18).
Grupo II – Gramática
1. a. forem 2x4=8
b. serão
c. haja
d. possamos
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2.1. E então eis os bárbaros que se puseram a chegar todos os anos pelo verão. 4
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3. A – 7; B – 1; C – 5; D – 3; E – 4 1x5=5
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4. (C) 3