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TURISMO E COMÉRCIO DE ARTESANATO NA ROTA BIOCEÂNICA:

OFERTAS E POTENCIALIDADES
Tourism and handcrafts trade on the Bioceanic Route: Offers and Potential

Resumo: O objetivo do presente estudo centra-se no levantamento da oferta e potencialidades de expansão da


atividade turística e o decorrente comércio de peças artesanais ao longo da Rota Bioceânica. O levantamento e
análise dos dados se deu a partir de entrevistas estruturadas com gestores de comércio de artesanato e
levantamento de natureza documental. Os resultados indicam amplo conjunto de atrativos e de peças artesanais
que são atualmente comercializados localmente, mas que tendem a expandir sua oferta a partir da abertura da
rota, especialmente considerando a riqueza histórica, cultural e natural da região na totalidade. Desse modo, o
estudo apresenta avanço ao delinear os atrativos da região da rota e as peças artesanais alusivas as localidades ou
regiões, fomentando a possibilidade de extensão de entendimento a partir de novos estudos indicativos das
potencialidades de expansão do comércio de artesanato a partir da ampliação da oferta turística.
Palavras chave: Comércio de Artesanato; Rota Bioceânica, Turismo

Abstract: The objective of the present study is centered on the survey of the offer and potential for expansion of
the tourist activity and the resulting trade in handicrafts along the Bioceanic Route. The collection and analysis
of data was based on structured interviews with managers of handicraft trade and survey of a documentary
nature. The results indicate a wide range of attractions and handicrafts that are currently sold locally, but that
tend to expand their offer from the opening of the route, especially considering the historical, cultural and natural
wealth of the region as a whole. In this way, the study presents progress in outlining the attractions of the region
of the route and the handicrafts alluding to the localities or regions, fostering the possibility of extending the
understanding from new studies indicating the potential for expanding the handicraft trade from the expansion of
the tourist offer.
Keywords: Handicraft Trade; Bioceanic Route, Tourism

Introdução
Considerando o conjunto de localidades envolvidas na Rota Bioceânica, e tendo o
estado do Mato Grosso do Sul como ponto de partida, indica-se seu razoável fluxo turístico e
importante ponto de apoio estrutural para as atividades envolvendo o ordenamento da
infraestrutura tanto básica quanto turística de fomento do corredor de escoamento de
produção e da ampliação do escopo de atuação turística envolvendo os atores participantes da
empreitada. O novo percurso interligará o Oceano Pacífico ao Atlântico através da América
do Sul e representará importante avanço para todas as partes envolvidas (Wilke et al., 2022).
A Rota Bioceânica não tem a função primeira de servir ao turismo e nem mesmo ao
comércio de artesanato, alvos desta pesquisa, contudo, historicamente, os espaços que são
criados para deslocamento humano e de cargas, podem potencializar tais atividades caso
existam atrativos históricos, culturais, em meio a natureza ou seus derivativos fomentadores
do deslocamento para fruição.
A oferta turística representa na atualidade um dos meios de lazer mais acessados ao
redor do mundo, particularmente considerando sua multiplicidade de possibilidades de
satisfação do desejo humano em relação aos seus aspectos sensoriais e perceptivos.
Diversos atores encontram-se envolvidos na oferta de atividades turísticas,
representando o trade turístico, e podem incluir agentes do governo, órgãos de fomento,
serviços diretos ou indiretos, organizações sociais, com fins lucrativos, governamentais ou
mistas e em conjunto podem suscitar o fomento da visitação turística, impactando de modo
positivo ou negativo em relação ao aspecto econômico, social e/ou ambiental da oferta.
Por seu turno, o comércio de artesanato representa um dos pontos emblemáticos da
moderna visitação turística, pois envolve tanto a aquisição de peças como forma de memória
ou aderência a algum tipo de conceito ou ainda como modo de presentear e indicar a
experiência vivenciada. Seja qual for o motivo de aquisição, o fato é que a peça artesanal está
diretamente ligada a atividade turística e é por ela impactada.
Em se tratando da Rota Bioceânica, vale destacar que ao longo das cidades e regiões
em que o trajeto está estabelecido existem diversas ofertas turísticas tradicionais e comércio
de artesanato estabelecido ou no local ou na região em que a atividade ocorre, contudo, sem
conexão entre os lugares ou mesmo países, o que pode ser alterado a partir da abertura da rota,
pois, a conectividade ocorreria de modo natureza e poderia facilitar o trânsito de potenciais
turistas ao longo do trajeto, gerando desse modo alterações na forma e volume de oferta tanto
dos atrativos turísticos quanto do trade turístico para atendimento desse visitante.
Diversos estudos tem tratado da Rota Bioceânica, a exemplo de Wilke et al., 2022 que
discute a economia, logística, direito, história e o turismo. Wilke et al., 2021, tratam da
questão de competitividade em corredores turísticos tendo como ponto de referência a rota,
enquanto Alves et al., 2021 trazem a única discussão relacionada ao etnoturismo entre os
atuais estudos relacionados a rota.
Silva e Feres, 2021 discutem o papel geopolítico do corredor, ao passo que Lunas et
al., 2019, apontam indicadores de desenvolvimento sustentável do turismo ao longo da rota e
Ferreira et al., 2019 buscam sistematizar as relações culturais no território.
Campos, 2020, trata dos impactos diretos e indiretos das ações ao longo da Rota
Bioceânica e Brite et al., 2021 apresentam e avaliam indicadores econômicos, enquanto
Asato, 2021 busca estruturar as possibilidades de desenvolvimento da atividade turística e
Asato et al., 2021 balizam as discursividades produzidas a respeito da rota.
Arruda et al., 2021 delineiam apontamentos indicativos da necessária qualificação em
turismo no trecho brasileiro da rota, e Almeida et al., 2019 trazem para discussão os impactos
sociais relacionados as comunidades locais nos territórios pertencentes a rota, enquanto
Almeida et al., 2021 discutem políticas públicas fronteiriças e Akamine et al., 2021 tratam
dos atos normativos para preservação do patrimônio cultural.
Observa-se desse modo a existência de amplo conjunto de estudos realizados a
respeito da Rota Bioceânica, especialmente a partir de dois dossiês temáticos lançados pela
Revista Interações (Campo Grande) recebendo o campo do turismo considerável conjunto de
pesquisas, sem contudo apresentar estudos correlacionando a abertura da rota com a expansão
potencial do turismo e do comércio de artesanato, os quais influenciam de modo substancial o
trade turísticos ao movimentar maior volume de matérias-primas, fomentar deslocamentos,
ampliar de espaços de comércio entre outros aspectos envolvendo a atividade como um todo.
Nesse sentido, busca-se suprir a lacuna relacionada a ausência de estudos indicando as
potencialidades de fomento do fluxo turístico a partir dos atrativos existentes bem como a
expansão do comércio de artesanato ao longo da Rota Bioceânica, considerando a
multiplicidade histórica e cultural das peças ofertadas.
Observa-se que o estudo traz avanços ao permitir compreender as principais
localidades de oferta de atividades turísticas já estabelecidas ou potenciais e a diversidade de
peças artesanais caracterizadoras de uma região, história, cultura ou forma de uso das matérias
primas e saberes de determinados autóctones.
O estudo, foi estruturado a partir de análise documental e entrevistas direcionadas a
comerciantes de artesanato, responsáveis por atrativos turísticos e turistas com apoio de
reportagens e documentos alusivos aos locais de oferta turística e de peças artesanais.
O estudo caracterizou brevemente a Rota Bioceânica, o turismo e o artesanato na
região, bem como ilustrou as potencialidades e ofertas nas principais localidades que fazem
parte do percurso traçado de deslocamento entre os países.

Corredor Bioceânico – breve contextualização


A Rota Bioceânica tem entre suas funções, a de servir como um corredor que
conectará Brasil, Paraguai, Argentina e Chile com a missão de reduzir o tempo de
deslocamento de cargas, melhorar a logística de transporte e aumentar a competitividade das
exportações desses países com a Ásia, além de fomentar a atividade turística, estimular a
criação de novos fluxos comerciais regionais e aprofundar a integração entre os países
pertencentes ao projeto (Almeida et al., 2021, Alves et al., 2021).
Seu início remonta ao ano 2000 com a cúpula dos presidentes da América do Sul,
inicialmente nominada de Integração da Infraestrutura Regional (Lirsa).
Como marco histórico destaca-se que a rota como campo de possibilidades para o
desenvolvimento da atividade turística iniciou seus esforços a mais de 20 anos, originalmente
incluindo Brasil, Bolívia e Chile, com a busca de abertura de rota de integração almejando o
mercado asiático e a costa leste dos Estados Unidos além do Canadá e o Oriente Médio, com
benefícios tanto do ponto de vista do escoamento de grãos quanto da integração do turismo ao
longo do percurso (Asato, 2021, Akamine et al., 2021, Violin et al., 2022).
Contudo, a ausência de dinamismo entre os governos brasileiro e boliviano bem como
o encurtamento do trecho pelo lado paraguaio fomentaram a alteração da rota especialmente a
partir do compromisso da Itaipu Binacional de financiar a construção da ponte entre Porto
Murtinho e Carmelo Peralta, dando impulso ao projeto e legitimando o novo caminho (Asato
et al., 2021).
Tais alterações emergiram a partir da Carta de Asunción assinada em 2015 pelos
presidentes dos países envolvidos atualmente no projeto, com o Corredor Bioceânico partindo
de Campo Grande, MS e chegando aos portos chilenos.
A Rota Bioceânica inicia-se na capital do estado do Mato Grosso do Sul, passando por
Porto Murtinho, MS (Brasil) e segue pelo Paraguai passando por Carmelo Peralta, Mariscal
Estigarribia e Pozo Hondo. Já no trecho argentino as cidades relacionadas ao trajeto são
Misión La Paz, Tartagal, Jujuy e Salta e tem seu ponto final, já em território chileno na cidade
Passo de Jama, chegando aos portos de Antofagasta, Mejillones e Iquique (Akamine, et al.,
2021).
A Rota Bioceânica tem potencialidade turística ao integrar os quatro países
componentes do acordo com troca no fluxo de turistas, além de permitir a entrada de
estrangeiros ao disponibilizar novas possibilidades de deslocamento, com especial atenção a
potencialidade de expansão das atividades considerando o fomento da integração social,
ambiental e econômica ao longo do percurso (Alves et al., 2021).
A referência ao termo Corredor Bioceânico está associada, em primeira instância, as
funções de um corredor logístico (Wilke et al., 2022) e segundo Geipot (2002) designa
lugares em que existe investimento e constituição de mercados produtores e consumidores;
espaço de convergência e fluxo de cargas servido por modais e/ou multimodais permissivos
de adequado sistema de deslocamento.
A expressão “Corredor Bioceânico” foi usualmente utilizada pelo poder público
considerando as designações do Conselho Sul-americano de Infraestrutura e Planejamento
indicando serem corredores de deslocamento. Por seu turno a comunidade empresarial
entendeu que a palavra “Corredor” limitava as possibilidades envolvidas no projeto, optando
pela designação “Rota de Integração” a qual contemplaria de modo mais amplo as
potencialidades que envolvem tal tipo de empreendimento (Wilke et al., 2021, Asato et al.,
2021), contudo, as possibilidades da Rota Bioceânica estendem-se para além das
nomenclaturas, gerando condições de avanço nas esferas econômica, social e ambiental.
O corredor é vinculado a RILA (Rota de Integração Latino-americana) e possui
conjunto de objetivos específicos para cada país integrante. No Brasil a pretensão é a de
potencializar o escoamento dos produtos advindos do agronegócio através do Pacífico a
custos e preços mais competitivos, já para o Paraguai, um dos principais benefícios seria a
melhoria da infraestrutura e integração da região do Chaco com o restante do país (Brites et
al., 2021).
Por seu turno, a Argentina tem como maiores pretensões o fortalecimento do Plano
Belgrano com investimento em infraestrutura entre as províncias de Salta e Jujuy, e por fim, o
Chile almeja desenvolver relações comerciais mais estreitas com os países da região
emergindo como importante plataforma logística (Campos, 2020).

Turismo e Comércio de Artesanato


O Turismo, em sua acepção de atividade socioeconômica, representa substancial fonte
de geração de renda, desenvolvimento, preservação e emprego.
Os preceitos que amparam as bases da competitividade de destinos turísticos indicam a
necessidade de ampliação da capacidade de gestão para alinhamento entre o destino e
demanda com cuidado no trato dos aspectos de produção e alocação de recursos, correta
formação de produtos, serviços e atrativos com valor agregado aos usuários permitindo que o
local ou região apresente condições de geração de fluxo de turistas (Wilke et al., 2021; Arruda
et al., 2021; Violin et al., 2022).
Em 2019 o setor de viagens e turismo foi responsável mundialmente por mais de 10%
de toda a riqueza gerada naquele ano, com um número de aproximadamente 330 milhões de
pessoas direta ou indiretamente ligadas a atividade. No Brasil 7,78% do Produto Interno Bruto
vieram do setor de turismo com praticamente 8% de todos os empregos formais (WTTC,
2021).
No primeiro semestre de 2022 o segmento aéreo nacional aumentou suas vendas em
80,9% com ganhos na receita chegando ao patamar de 199,2%. Os dados do segmento aéreo
internacional também são expressivos ao apresentarem crescimento de 286,9% e aumento de
590,9% nas receitas. Na hotelaria, os dados apontam para retomada da atividade turística no
período pós-pandemia, com aumento de 45,8% nas vendas e crescimento de 78,9% na
rentabilidade (Abracorp, 2022).
Na comparação entre os meses de janeiro de 2021 e 2022, o volume de atividades
turísticas no Brasil cresceu 29,1%. O percentual é três vezes maior do que o registrado no
mesmo período por todo o setor de serviço (9,5%), com impulsionamento tracionado pelos
segmentos de transportes aéreo e rodoviário coletivo de passageiros, hotéis, restaurantes e
locação de automóveis. O aumento no ano de 2022, até julho foi de 51,3% (Brasil, 2022).
De modo efetivo a Rota Bioceânica ainda não entrou em operação, contudo é preciso
observar suas potencialidades em relação ao desenvolvimento regional e a integração
multilateral para os países da América do Sul, em particular a atividade turística apesar de não
estar contemplada entre os objetivos da Declaração de Assunção de 2015, traz em seu bojo a
latência da expansão da atividade considerando o conjunto de atrativos existentes atualmente,
independente de outras estruturas de acesso e permissividade de uso (Violin et al., 2022).
No contexto da atividade turística ligada a Rota Bioceânica indica-se os aspectos
ligados a singularidade, a exemplo do Deserto do Atacama (Chile), montanhas rochosas
multicoloridas (Argentina), Chaco (Paraguai), Flutuação, cavernas e abismos aquáticos
(Brasil), com menção extra ao Salar de Uyuni (maior deserto de sal do mundo) que se
encontra na Bolívia (Wilke et al., 2021, Alves et al., 2021), o que indica a diversidade e
capacidade de conectividade entre atrativos ao longo da rota, ponderando que:
Roteiros conjugados, além de dar visibilidade a mais de um destino, o que reforça
uma ação horizontal, oferece ao turista um maior número de possibilidades de
experiência com destinos singulares; fomenta as economias locais e estimula regiões
vizinhas a se re(organizarem) para a oferta turística, inclusive com opções para os
turistas de passagem, como a oferta de um day-use (passeios a locais turísticos sem
pernoite) e, ao considerarmos o turismo local sustentável como um potencial
catalizador de turistas para o longo prazo, há inclusive a possibilidade de um “day-
use sustentável”, com alternativas em que o turista possa fazer refeições dentro da
comunidade local acompanhado de uma sesta (descanso após o almoço), em uma
rede (Asato, 2021, p.92).

Considerando a oferta turística ao longo da Rota Bioceânica, as principais vertentes


incluem turismo de negócios e eventos; cultural, histórico e étnico além das atividades de
aventura e voltadas ao turismo de natureza, particularmente considerando os desertos, o
Pantanal e o Cerrado além do Chaco e as regiões montanhosas (Ferreira et al., 2019; Alves et
al., 2021).
Por sua natureza, a atividade turística pode ampliar as condições positivas ou
negativas de sua oferta a partir das formas de impactos geradas, sejam elas de dimensão
social, ambiental e/ou econômica, particularmente pela ação de governança e dos acordos
gerados entre localidades envolvendo a sociedade empresarial, representativa de classe e o
poder público (Asato et al.,2021).
Ao gerar valor para as partes envolvidas o turismo pode reforçar a percepção do que
vem a ser risco tanto ambiental quanto social nos espaços que a governança se mostre
inoperante. A sociedade empresarial, movida por efeitos de mudanças conscientes,
principalmente em função das novas gerações (novos entrantes), tendem a considerar seja por
força da lei, da consciência organizacional ou do apelo mercadológico as questões de natureza
ambiental e social em virtude de seus desdobramentos frente a potenciais consumidores.
O que denota inferir que não há ações efetivas socioambientais sem a alcunha da
governança, por melhor que seja a intenção dos governantes, da rede empresarial e/ou da
esfera acadêmica. A execução deve superar a boa intenção socioambiental.
Destaca-se a necessária inserção dos autóctones na construção da oferta das atividades
turísticas considerando sua ligação indissociável com a história e a cultura desenvolvida ao
longo do tempo no espaço em que habita (Trindade et al., 2019; Violin et al., 2022),
conforme observa-se:
Essa devida participação da comunidade no processo pré-construção da rota é
fundamental, principalmente levando em conta as comunidades tradicionais. Um
passeio de catamarã pelo Rio Paraguai faz muito mais sentido se for conduzido por
um pescador local. O espaço para a roda do tereré e para a degustação do coquito
(espécie de pão de origem no Paraguai, comercializado também em cidades
brasileiras que fazem fronteira com esse país, caso de Porto Murtinho) são ações que
brotam dentro da comunidade (Asato, 2021, p. 98).

O mesmo autor ainda destaca que em se tratando do dinamismo da atividade turística,


é preciso observar que ela atua como:

“...vetor de desenvolvimento econômico local e sustentável, ainda, que seja


concebida para fins de geração de riqueza, oportunidade de trabalho, reforço às
características culturais de uma comunidade, podendo impactar também de forma
negativa a sustentabilidade da mesma comunidade, se não nutrido de um
planejamento prévio” (Asato, 2021, p.99)

Nesse contexto, é imprescindível compreender que o artesanato é uma criação de raiz


ancestral, cujo oficio tem sido transmitido de uma geração para outra, e figura como
importante manifestação da identidade cultural e do patrimônio de um povo ou de um
determinado local (BNC, 2022).
Historicamente as técnicas e materiais utilizados para confecção das peças de valor de
uso e subsequente disponibilização para aquisição de turistas são estabelecidas a partir das
características das localidades em que determinadas comunidades se estabelecem e passam a
valer-se daquilo que existe à disposição em termos de matérias primas, condições ambientais,
pessoas disponíveis, organizações sociais ou outras questões que pesem em determinado
momento (Alves, et al., 2021; Violin et al., 2022).
A figura do artesão traz em seu cerne a execução de um ofício de natureza distintiva,
conforme pode-se observar:
A contribuição manual nos produtos artesanais é significativa no conceito de
artesanato, mas implica também o domínio de um ofício técnico, o uso de
ferramentas especializadas e complexos mecanismos de produção. Os trabalhos são
normalmente feitos numa oficina artesanal e são fruto de uma perícia manual
orientada para uma finalidade utilitária e lucrativa. Diferentemente da arte popular, o
artesanato não é uma atividade ocasional e desinteressada (BNC, 2022, sp).

Por seu turno, a identificação do valor e importância do artesanato é expresso pelo


Marco Legal através da Resolución IPA N° 270/20 em seu artigo primeiro -
REGLAMENTAR el Artículo 4° inciso a) de la Ley 2448/2004 “De Artesanía” – expressando
o seguinte:

O artesanato é constituído por produtos de elevado valor cultural, resultantes dos


processos e práticas realizados por uma comunidade, aos quais são atribuídos
valores e saberes individuais e coletivos, que são transmitidos de geração em
geração, criando um sentimento de pertença, identidade cultural comunitária,
memória e legado participativo. Os artesanatos possuem e expressam características
estéticas e simbólicas e adotam funcionalidades de uso utilitário e/ou decorativo,
para cerimônias e rituais, entre outras funções. O artesanato expressa a identidade e
a cultura de uma comunidade, de um país e de uma região (Paraguay, 2020, sp).

Desse modo, destaca-se o papel do turismo, do artesão e do artesanato no contexto das


potencialidades subjacentes a Rota Bioceânica, especialmente considerando a riqueza
histórica, cultural e social tanto da atividade turística organizada quanto da oferta de peças de
natureza artesanal como expressões de um povo, de uma época, de um momento ou de um
local.

Metodologia
Os procedimentos metodológicos adotados partiram de base analítica qualitativa e
explanatória relacionada as potencialidades de oferta ou expansão da atividade turística das
principais cidades envolvidas na Rota Bioceânica, bem como a caracterização dos tipos de
peças artesanais ofertadas tradicionalmente.
A Rota Bioceânica ainda não encontra-se em funcionamento, desse modo, buscou-se
aferir por meio documental, tanto através de reportagens quanto de documentos advindos de
órgãos governamentais elementos caracterizadores da oferta turística e de peças artesanais nos
principais pontos de contato do viajante – seja trabalhador ou turista – com o trade turístico
do local ou região.
Como parte do levantamento de dados, foram entrevistados responsáveis por atrativos
turísticos brasileiros no trajeto entre Campo Grande e Porto Murtinho e adjacências. No total
foram convidados a participarem da entrevista 67 sujeitos amostrais, com retorno de 21
entrevistas válidas, no período de março a meados de julho de 2022.
Buscou-se acessar 17 responsáveis por empreendimentos que comercializam peças
artesanais, com retorno de 6 entrevistas, e por fim, buscou-se angariar informações junto a
turistas que realizaram visitação ao Mato Grosso do Sul entre 2019 e 2022 para apontamento
de suas percepções em relação a oferta turística e artesanal, totalizando 67 sujeitos amostrais.
O instrumento de coleta de dados foi moldado a partir de três questões básicas para
todos os públicos. A primeira delas versou a respeito do conhecimento a respeito da Rota
Bioceânica e a segunda como percebiam os impactos para o Turismo e para o Comércio de
Artesanato, fechando a terceira questão, além dos elementos caracterizadores dos públicos-
alvo.
Todos os sujeitos amostrais foram contatados segundo conveniência de acesso,
figurando, desse modo amostra por conveniência
A análise dos dados se deu a partir da observação documental apoiada
complementarmente pelas entrevistas com questões abertas, considerando a importância de
fixação dos parâmetros de aferição da concretude da oferta turística ao longo da Rota.
Adicionalmente, a análise contou com apoio de conectores indicando os principais
atrativos turísticos e sua correlata oferta de peças de natureza artesanal, indicando, sob essa
vertente, as potencialidades de expansão dos produtos e serviços nas cidades e/ou regiões que
envolvem o trajeto da Rota Bioceânica.

Análise dos Dados


Observa-se, a partir do estabelecimento da Rota Bioceânica, que a multiplicidade de
atrativos turísticos e por decorrência o fomento dos envolvidos no trade turístico de modo
direto ou indireto tende a acentuar as possibilidades de desenvolvimento das potencialidades
regionais de integração, nesse caso particular, o fomento da produção e comercialização de
peças de natureza artesanal. Chama-se atenção para a figura 1:

Figura1: Corredor Bioceânico - projeção

Fonte: Venceslau, 2021

A extensão da rota, seus traços culturais, históricos, ambientais, sociais além dos
aspectos ligados as características distintivas de biomas e estruturas de funcionamento
indicam que a Rota possuí diversidade conjunta capaz de formar nesse espaço um local de
visitação distintivo e que a potencialidade de conectar atrativos é eminente.
O que implica afirmar que em conjunto os atrativos ao longo do percurso podem ser
exponenciados e tornarem-se passíveis de fomento de oportunidade para os deslocamentos
com fins turísticos, o que não ocorreria com tanta facilidade considerando os locais de modo
isolado.
Ao se considerar, a figura 2 (mapa de obras), com a apresentação dos principais locais
de passagem vinculados a Rota Bioceânica, observa-se com maior riqueza a diversidade de
locais a serem visitados por futuros turistas e sua facilidade de acesso a outras localidades, o
que significa dizer que esse visitante seria estimulado a conhecer outras localidades e teria
para tanto acesso logístico facilitado.

Figura 2: Rota Bioceânica – mapa de obras

Fonte: Diário Última Hora, 2018

Observa-se que a estrutura da rota tem capacidade de interligar várias dimensões da


oferta voltada tanto aos que utilizarão o percurso a trabalho quanto os que o farão com fins
turísticos, com a prerrogativa de apresentar ao longo do percurso ampla diversidade de fauna,
flora, de aspectos estruturais regionais, além de amplo conjunto de ofertas voltados a cultura,
história, gastronomia, música entre outras possibilidades congregadas, as quais são passíveis
de fomento da econômica local e da melhoria de aspectos de natureza social e ambiental, as
quais podem ser potencializadas caso tenham as devidas precauções legais e de ordem
organizacional estabelecidas e respeitadas.
Atualmente não há peças artesanais dos países elaboradas ao longo da Rota Bioceânica
sendo vendidas fora de seu entorno de origem, contudo, existe a tendência desse cenário
alterar-se. Asato (2021) corrobora com tal apontamento ao destacar que a abertura da rota de
integração trará possibilidades reais de comercialização conjunta de produtos e serviços do
trade turístico através dos circuitos formatados pelas operadoras ligadas ao setor, o que leva a
inferência de que o comércio de artesanato, por ser parte consubstanciada de consumo de bens
e serviços por turistas, tende a ter sua produção, deslocamento e comercialização estendidas.
O turismo destaca-se como atividade de caráter estratégico no contexto da Rota
Bioceânica, pois cada localidade pertencente ao trade turístico tem níveis de visitação já
estabelecidos, porém, sem conectividade de modo mais amplo, o que indica a possibilidade de
ampliação do conjunto de serviços e produtos turísticos para tornar os locais mais atraentes,
nesse sentido, os espaços dedicados ao artesanato tendem a extrapolar as lojas que vendem as
peças e ganhar espaço físico junto ao atrativo em si, ou seja, além da oferta em lojas
especializadas, os espaços acercam-se da possibilidade de serem ampliados para que se tenha
unidades de venda em locais de fruição do turista. Tal apontamento é corroborado ao menos
em parte por estudos como os de Ferreira et al., 2019; Silva; Ferres, 2021; Wilke et al., 2021.
O quadro 1 indica os principais tipos de ofertas turísticas das cidades que fazem parte
da Rota Bioceânica ou de seu entorno, como pode ser observado:

Quadro 1: Principais ofertas turísticas


Países Cidades Tipos de Turismo
Campo Grande Negócios, cultural, histórico, pesca,
Brasil
Porto Murtinho ecoturismo e turismo de natureza.
Carmelo Peralta
Loma Plata
Compras, patrimônio histórico e cultural e
Paraguai Mariscal José Félix Estigarribia
turismo de natureza.
Boquerón
Pozo Hondo
Misión La Paz
Turismo de natureza e ecoturismo, cultural e
Tartagal
Argentina histórico, eventos, de nichos (enoturismo, de
Salta
neve, pesca esportiva).
San Salvador de Jujuy
San Pedro do Atacama
Cruzeiros e navegações, turismo de aventura
Iquique
Chile e ecoturismo, cultural, histórico, de nicho
Mejillones
(enoturismo, gastronomia, astroturismo).
Antofogasta
Fontes: Viegas, 2017; Brasil, 2018; Ferreira et al., 2019; Embaixada do Paraguai, 2022;
Brasil, 2022, Argentina Travel, 2022, Chile Travel, 2022.

No trecho brasileiro, especificamente o Mato Grosso do Sul, destaca-se que o


artesanato da região contempla peças feitas a partir de fibras vegetais, argila, couro, ossos,
peixe, madeira, formando peças de cerâmica, cestaria, utensílios domésticos, enfeites,
adereços entre outros tipos de peça, com especial atenção aos artefatos de natureza indígena e
amplo conjunto de artesãos com peças singulares (Brasil, 2022), como modo de ilustração,
destaca-se:

Figura 3: Artesanato comercializado em Mato Grosso do Sul, Brasil – Cerâmica Kadiwéu

Fonte: Brasil, 2022


O artesanato paraguaio, por seu turno, tem duas vertentes diferentes: a indígena e a
dos colonizadores. Na primeira destaca-se o uso de elementos da natureza para a produção
artesanal com penas e peles, raízes, folhas e juncos para produção de peças de tecido, madeira
e barro e na segunda vertente tem-se o uso de fibras, metais, madeira e maquinarias. Os fios
de algodão e a lã, os tecidos, o tratamento de peles, esculturas em pedra e madeira, a
ourivesaria, e o trabalho com cerâmica geram peças de vestuário Ñandutí e Ao Poí, ponchos,
camas, redes, toalhas de mesa, filigranas em ouro e prata, além de instrumentos musicais,
entre outros (Embaixada do Paraguai, 2022). A figura 4 representa uma peça de origem
paraguaia.

Figura 4: Artesanato paraguaio: peça Ñandutí


Fonte: Embaixada do Paraguai, 2022

Por seu turno, na Argentina, as principais peças de artesanato têm ligação com a
cestaria, cerâmica, as esculturas em vidro, as peças feitas a partir da tecelagem, a ourivesaria e
a técnica de Sogeria, a qual representa uma espécie de trançado (Artesanos, 2022), além de
talheres criolos, peças em barro cozido, instrumentos musicais, cordas e selaria, esculturas de
madeira e pedra (Argentina Explora, 2022). Como exemplo, observa-se a produção de peças
em couro.

Figura 5: Peças argentinas

Fonte: Manos de Artesanos (2016)

Como representantes do artesanato chileno tem-se peças de cerâmica moldadas por


indígenas das etnias Diaguita e Mapuche, além de cestarias feitas pelos Atacamenhos,
Mapuches, Patagônicos e Fueguinos. As peças têxteis fiadas manualmente ou ainda através de
teares indígenas (povos Aimarás e Mapuche) e a produção de tecidos Chamantos e mantas do
traje Huaso chileno além dos teares patagônicos.
Os entalhes em madeira são considerados tradicionais no chile como elementos de
atratividade para os turistas, principalmente as ligadas a cultura Rapa Nuí, cujas peças mais
comuns são Ariki ou rei Tuu-ko ihu, e o Moai Kava Kava, além das peças Mapuche, com
elevado volume de artesãos no entorno do povoado de Villarica as produzindo, adicionadas de
peças de ourivesaria, especialmente em pratarias e bordados (Artesanias de Chile, 2022). A
figura 6 exemplifica uma peça artesanal chilena:
Figura 6: Peça artesanal chilena: Diaguita – Cuenco Chico

Fonte: ArtesaniaSur, 2022


Como modo de estabelecimento de compreensão até esse ponto, destaca-se trecho da
entrevista cedida por Gustavo Gilbert, responsável pelo Umbral Acompañamientos
Productivos, o qual aponta que:

“Quando a produção artesanal entra em contato com o outro, através do mercado,


não é apenas a funcionalidade ou o preço do objeto que está em questão, mas na
perspectiva do artesão, a valorização do seu próprio trabalho, conhecimento e
trajetória parecem estar em jogo” (Manos de Artesanos, 2016, sp)

Indica-se que os países envolvidos na Rota Bioceânica apresentam variedade de peças


em amplo conjunto de obras que são trabalhadas a partir de questões culturais, históricas, das
regionalidades e também amparadas pelo conjunto de matérias primas disponíveis. As peças
já possuem mercados estabelecidos para venda e a abertura para novos turistas suscitará o
aumento da produção e dos esforços de distribuição e estabelecimento de pontos comerciais
para venda, o que em última instância gerará ganhos de natureza social a partir da geração de
emprego e econômica a partir da arrecadação de divisas, contudo, é preciso entender de modo
ampliado os impactos ambientais do aumento da produção.
Do ponto de vista da atratividade das principais localidades envolvidas na rota,
destaca-se em primeiro lugar sua extensão e conjunto de possibilidades de ampliação e/ou
montagem da oferta turística, como pode ser observado na figura 7.

Figura 7: Corredor Rodoviário Bioceânico

Fonte: Brasil (2018)

O corredor tem aproximadamente 3500 quilômetros partindo de Santos no estado de


São Paulo e próximo a 2400 quilômetros partindo de Campo Grande no Mato Grosso do Sul
até o porto de Antofagasta no Chile. Ao longo desse trecho, tendo como base a capital sul-
mato-grossense, destaca-se o papel das principais cidades da rota em termos de seus atrativos
turísticos e possibilidades de comércio de artesanato.
Campo Grande é a maior cidade da rota e possuí estrutura de atratividade tanto
regional quanto nacional, apesar de receber apenas 4,1% de suas chegadas de estrangeiros. A
cidade oferece turismo de compras, eventos, visitações de natureza cultural e histórica, além
de ser pólo de estudos e referência regional em termos de visitações por questão de saúde. Em
termos de comércio de artesanato, pode-se destacar que a cidade apresenta considerável
conjunto de ofertas a exemplo da Casa do Artesão, Memorial da Cultura Indígena entre
outros.
Porto Murtinho, é a última localidade brasileira faz divisa com a cidade paraguaia de
Carmelo Peralta e representará importante ponto de apoio aos viajantes da rota. O local ainda
não tem desenvolvido de modo amplo o comércio de peças artesanais, contudo, seu entorno, a
exemplo de Bonito (MS) possuí tal tipo de oferta em níveis adequados. O deslocamento entre
as duas localidades e o entorno apresenta possibilidades de fruição turística relacionada a
pesca, gastronomia, turismo em meio natural, eventos entre outras possibilidades.
Entrevista com responsáveis por lojas de artesanato indicaram não existir nenhum tipo
particular de preparação para ampliação da oferta de peças artesanais, contudo, os
entrevistados foram praticamente unânimes aos afirmarem que acreditam que ao se
estabelecer a rota, pode-se ampliar o portfólio de produtos para abarcar o “artesanato
bioceânico” com peças representativas, caso existam aumentos efetivos nas taxas de visitação.
Do lado paraguaio, indica-se que as cidades de Carmelo Peralta; Loma Plata; Mariscal
José Félix Estigarribia; Boquerón e Pozo Hondo fazem parte do trajeto da Rota Bioceânica,
mas, não apresentam volume elevado de comercialização de peças artesanais, apesar de
possuírem possibilidades de desenvolvimento do turismo, sem, no entanto, apresentarem
elementos estruturantes da atividade de modo robusto. A figura 8 ilustra parte da construção
da rodovia integrante da Rota Bioceânica passando pelo Chaco localizado no Paraguai.

Figura 8: Obras no Corredor Bioceânico passando pelo Chaco Paraguaio

Fonte: Ruiz, 2019 (foto e reportagem)

Na Argentina, observa-se a região que envolve San Salvador de Jujuy, localizada na


parte inicial da Cordilheira dos Andes com potencialidade de expansão da atividade turística
considerando a atual oferta de adequada infraestrutura turística e de apoio ao visitante tendo
como pontos de interesse maiores as Salinas Grandes e a Quebrada de Humahuaca entre
outras localidades, como pode ser observado na figura 9:

Figura 9: Atrativos de San Salvador de Jujuy


Fonte: Coubelle e Sá, 2020
A exemplo de San Salvador de Jujuy, Salta também está localizada no sopé da
Cordilheira dos Andes e possui amplo conjunto de elementos viabilizadores da expansão
turística, com atrativos que vão da fruição em ambiente natural, conjunto de eventos locais,
variedade de atrações além de circuitos e passeios de ordem cultural, gastronômica e religiosa
com adequado trade turístico de suporte. A cidade conta com o Trem das Nuvens e Teleférico
além de gozar de boa imagem frente aos turistas.

Figura 10: Garganta do Diabo – Salta, Argentina


Fonte: Maciel, 2022

No Chile, destaca-se San Pedro de Atacama, com tradicional vocação turística e amplo
conjunto de públicos, com serviços que atendem turistas de diversos segmentos de interesse
com amplo conjunto de organizações que servem ao trade turístico tanto em hotéis, quanto
em restaurantes, agências de viagens e os demais serviços associados. Entre seus principais
atrativos destaca-se o próprio deserto do Atacama, com as lagunas de Baltinache, tour
astronômico, Laguna Cejar, Salar de Uyuni, Vale do Arco Íris, Geyser del Tatio e Termas de
Puritama. A figura 11 apresenta um dos atrativos da localidade.

Figura 11: Atacama: Lagunas Escondidas de Baltinache – San Pedro de Atacama, Argentina

Fonte: San Pedro de Atacama, 2021

O porto de Antofagasta apresenta grande importância pelo conjunto de serviços que


presta e em especial pela vocação de mineração da localidade, contudo, apesar de tal
potencialidade turística, seu trade ainda é voltado ao público envolvido direta ou
indiretamente com a estrutura de atendimento ligada ao minério, mas a beleza e as opções
advindas do mar são indicadores de expansão do turismo a exemplo do Balneário Hornito,
Monumento Natural La Portada, Observatório Cerro Paranal e a Playa La Rinconada. A figura
12 apresenta exemplo de atrativo do local.

Figura 12: Monumento Natural La Portada. Antofagasta, Chile


Fonte: Visit Chile, 2022

Por seu turno, a cidade costeira de Iquique possuí atrativos de natureza histórica,
cultural e natural além de sua vocação praieira e como Zona Franca que figura como
importante local de fluxo turístico tanto para a região quanto para os países vizinhos. Entre os
atrativos destaca-se o Parque Nacional Volcán Isluga, a Playa Cavancha e o povoado do vale
de Tarapacá. A figura 13 ilustra um de seus atrativos.

Figura 13: Playa Cavanche – Iquique, Chile

Fonte: Visit Chile, 2022

Tendo em conta o fato de que a atividade turística gera impacto nos espaços em que se
estabelece, sejam eles positivos ou negativos, há de se destacar as expressões que emergem a
partir da dinâmica de funcionamento de determinado ecossistema envolvendo pessoas e os
elementos em seu entorno.
O conjunto de responsáveis por empreendimentos turísticos foram praticamente
unânimes ao afirmarem que a partir da abertura da Rota Bioceânica haverá a expansão da
oferta turística, porém, acreditam que a ela deverá ser dividida por segmentos diferenciando
trabalhadores de turistas, o que leva a especialização dos produtos e serviços, por exemplo, os
meios de hospedagem para quem desloca-se constantemente pela rota deverá ser diferente do
usuário esporádico.
Por seu turno, os potenciais turistas compreendem que a oferta turística e em especial
o comércio de artesanato tendem a se especializarem acomodando o “artesanato bioceânico”
com maior volume de oferta de atrativos conectados, indicando que a singularidade da oferta
pode acomodar peças massificadas, conhecidas como artesanato turístico.
Uma das vertentes destacadas é a produção de peças, que em sua essência representam
a forma com que determinados grupamentos se valem dos elementos dispostos no meio
natural e que passam por processamento gerando valor de uso em primeiro momento, a
exemplo de jarros, cintos, expressões religiosas entre diversas outras possibilidades e valores
de representação ,em um segundo momento essas mesmas peças tornam-se objetos de desejo
de consumo por turistas como “lembranças” de sua vivência em um determinado local.
Em suma, observa-se que a composição de atrativos turísticos e as peças artesanais
que compõem a oferta da localidade tendem a sofrer os impactos da massificação da atividade
turísticas, podendo gerar de um lado ganhos econômicos, sociais e ambientais, mas com
potencialidade de perdas nessas mesmas três esferas por conta da ação de gestores públicos
e/ou privados, deixando desse modo evidente a necessidade de estudos de impacto desse
espaço para além do indicar financeiro.

Considerações Finais
A diversidade e as características peculiares da Rota Bioceânica apontam para a
necessidade de estruturação efetiva dos produtos, serviços, locais e formas de deslocamento
direta ou indiretamente associados ao turismo. Mesmo os trabalhadores que se deslocarão
para o escoamento de produção são consumidores dos elementos ofertados por organizações
vinculadas ao turismo a exemplo dos meios de hospedagem, alimentos e bebidas, eventos
entre outras possibilidades.
Não somente o trade turístico é afetado, os serviços básicos de atendimento aos
cidadãos sofrem impacto com o fomento do turismo ou do deslocamento mesmo sem fins
turísticos diretos, a exemplo da estrutura de saúde, de segurança, as vias públicas entre outros
facilitadores do cotidiano de funcionamento das localidades.
O conjunto das cidades e suas adjacências apresentam potencialidade de expansão da
atividade turística considerando os atrativos históricos, culturais e voltados ao ambiente
natural, e por decorrência a riqueza das peças artesanais é expressa já na atualidade, o que
indica a capacidade da produção se estendida de modo robusto, contudo, as localidades e
regiões comercializam peças apenas de seu país, o que pode ser alterado com a abertura da
rota e em especial, pode-se criar peças alusivas a Rota Bioceânica.
Ademais, ao se emergir uma nova rota entre os países o turismo, através de um de seus
grandes representantes, o artesanato, pode impactar de modo consubstanciado as esferas
sociais, econômicas e ambientais, tanto de modo positivo quanto negativo, a partir de suas
interligações relacionadas a matéria-prima, identidade das peças, forma de projeção da
cultura, história e valores além da logística de entrega das peças artesanais nos locais em que
o turismo de lazer, negócios, eventos ocorrer.
Destaca-se que não somente turistas consomem peças artesanais. Trabalhadores que se
deslocam para outros fins podem comprar para si, por encomenda ou para terceiros, peças de
natureza artesanal representativas de uma data comemorativa, ligadas a religiosidade,
identidade regional ou outros fatores impulsionadores do consumo, basta que para tanto, se
tenha condições e oportunidade de acesso a tais elementos.
A pesquisa apresenta inovação em seu conjunto de informações ao traçar as
localidades de potencialidades turística e as peças artesanais de cada localidade ou região,
indicando ser esse um campo exponencial de crescimento e que apresentam potenciais
impactos tanto ambientais quanto sociais e econômicos, sendo desse modo, válido repensar a
forma de oferta de peças de natureza artesanal frente a expansão da atividade turística nas
localidades.
Contudo, o estudo apresenta limitações relacionadas ao fluxo de turistas e o volume de
peças artesanais comercializadas nas localidades hoje já estabelecidas. Tal tipo de informação
pode fomentar a compreensão do potencial impacto social, através do volume de empregos,
social, a partir do uso de matérias primas e deslocamentos adicionais e econômicos a partir da
projeção das vendas anuais, sendo, portanto, essa vertente, importante alvo de estudo futuro.

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