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Como é que sabemos qual o modelo de tramitação a seguir? Que modelos existem? O que
interessa saber em geral sobre a forma única de processo introduzida para o processo comum
pelo Código de 2013?
Estamos a falar de modelos de tramitação. Quando propomos uma acção temos que saber qual a
forma correspondente ao processo que queremos instaurar.
Até ao Código de 2013, havia 3 formas de processo comum, tirando os processos especiais,
estando dentro do “caldeirão dos processos comuns”, temos 3 formas de processo comum, umas
mais solenes que outras e o critério utilizado para distinguir era em primeiro lugar o do valor da
causa.
Todas as acções têm um determinado valor, e este deve corresponder à atividade económica
daquele litígio, há certas causas que têm regras especiais.
A primeira coisa que fazíamos era confrontar o valor da causa com as alçadas e assim tínhamos
várias formas de processo comum.
1. Forma mais solene- Processo ordinário
2. Forma intermédia- Processo sumário
3. Forma menos solene- Processo sumaríssimo: aqui importava também o objecto da acção,
porque há certos objectos relativamente aos quais as acções são repetitivas e portanto uma
tramitação bastante simplificada é adequado a um conhecimento também adequado dos
direitos que estão em jogo, porque tem de haver sempre, por mais simplificada que seja a
tramitação, tem de permitir um correcto conhecimento dos direitos em jogo.
Hoje em dia há várias formas de processo simplificadas que vêem no fundo suscitar, por exemplo
o processo sumaríssimo ou outras formas de processo, e é o único que nós percebemos o sentido
das alterações. ???
O que é que se passa com o Código de 2013? Dentro da lógica de simplificação, celeridade e de
permitir uma adequação ao caso concreta da forma de processo a seguir veio estabelecer como
regra que há uma única forma de processo comum declarativa, artigo 548º.
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A regra é que afastados os processos especiais, quando caímos no processo comum, há uma
única forma de processo comum declarativo, artigo 548º.
Na realidade, isto não significa que todas as acções declarativas comuns sigam a mesma
tramitação. Ou seja, esta ideia que há uma só forma de processo comum é um pouco enganadora
porque nos faz pensar que todas as acções, seja qual for a complexidade da questão material
acabam por seguir todas a mesma tramitação.
Uma das críticas que se fazia a esta “panificação” das formas de processo comum declarativa, era
que as ações de valor baixo iriam seguir uma tramitação complicada tais como as de valor mais
alto.
Contudo esta crítica não é completamente certeira, pois não há só uma forma de processo comum
declarativo.
Vamos tentar demonstrar que na realidade não há só uma forma de processo comum declarativo,
recorrendo a certos princípios e regras do Código.
Vamos começar por falar da acção declarativa especial para cumprimento de obrigações
pecuniárias regulado pelo DL 269/98. Quando foi da reforma de 2013 pensava-se que ia ser
incluída no Código, e isto porque esta ação tem um objeto muito frequente, é quase como uma
ação comum. Pela forma como se define o seu objecto acaba por apanhar acções comuns e até
há zonas de sobreposição.
O legislador manteve esta acção fora do Código, é uma ação que tem uma tramitação muito
simplificada como a sumaríssima. Aliás, é pouco dizer que é muito simplificada, esta tramitação é
muitíssimo simplificada!
Caiu já um pouco em desuso, porque está estabelecido que é facultativo.
Quando eu quero propor uma ação na qual peço o cumprimento de uma obrigação pecuniária e
invoco como causa de pedir, ou como fonte dessa obrigação pecuniária um contrato, e o valor da
causa não excede 15.000€, tenho na realidade duas formas possíveis:
1. Sigo a ação declarativa comum;
2. Sigo a ação especial para cumprimento de obrigações pecuniárias.
Colocou-se o problema de saber se é obrigatório para o credor seguir esta acção especial ou se
pode optar entre a acção especial e comum, o código não disse nada, mas a prof. Maria dos
Prazeres entende que na prática é opcional.
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Temos de ter em conta que existem estas acções especiais, cujo objecto é tão amplo que é quase
como que uma modalidade de acções comuns.
A tramitação, mesmo a tramitação definida por lei não é igual para todos os casos de acções
declarativas comuns.
Em acções de baixo valor ou pelo menos cujo valor não é tão alto como isso, ações até 15.000€
num caso ou até 5.000€ noutro caso, a própria lei prevê certos aligeiramentos de tramitações, ou
seja, certos actos que podem não existir, simplificar produção de prova ou simplifica a discussão
da causa.
Deve ser feita uma remissão para os artigos 597º e ss. E aqui vemos que nas ações com alçadas
não superiores a 15.000€ temos simplificações na fase da marcha do processo. E se fizermos
uma remissão para os artigos 604º/5 e 511º/1 veremos que nas ações até 5.000€ temos uma
simplificação quanto as alegações, produção de prova.
A própria lei para acções de valor não muito elevado tem um aligeiramento de tramitação.
Em terceiro lugar, temos de conjugar estas regras no Código do Processo quanto à tramitação da
única forma da acção declarativa comum com os princípios da adequação formal e da gestão
processual.
Se quisermos explicar o sistema seguido na lei, como é que nós o faríamos? Se virmos os artigos
relativos à marcha de processo, que começam no artigo 552º e ss. A partir deste artigo vem a
marcha do processo.
O que vamos ver é que temos uma fase introdutória, em que as partes formulam os pedidos e
defesa. Depois temos no fundo uma fase instrutória e depois temos o julgamento.
Qualquer acção tem que ter estes 3 momentos, em qualquer ações as partes têm de ter uma fase
em que formulam os pedidos e o réu defende-se, tem necessariamente de ter uma parte de prova
e uma parte decisória, pode depois ter fases intermédias, como é a fase de preparação de
processo antes da prova, antes da decisão uma fase de discussão da causa.
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Mas, o modo concreto como se regulam todas estas fases vão variando e têm variado na lei
portuguesa. O modelo vigente gira em volta das audiências.
Se o processo português continuasse a ser regulado segundo uma lógica de preclusão, no que diz
respeito à sequência dos atos a praticar, cada uma das fases tinha uma determinada função, que
os diversos actos que integram a marcha do processo tinham momento próprio para serem
praticados e passado essa fase ficava precludida a possibilidade de praticar esse actos. Ou seja,
eu perdia o direito de por exemplo alegar, passada a fase dos articulados, ou de produzir prova
passada a fase da instrução.
O princípio da gestão processual permite ordenar de maneira diferente a prática dos diversos
actos que integram a marcha do processo e sendo assim o princípio da preclusão já não pode
funcionar tão bem.
Pode acontecer que eu tenha um momento mais tardio para alegar factos ou um momento mais
tardio para produzir prova, ou discutir, etc.
Posto isto, vamos então começar a estudar o tal modelo de acção declarativa única que o CPC
regula começando pela fase dos articulados, artigo 552º.
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Porque é que se chama fase dos articulados? Na fase dos articulados, as partes expõem as suas
pretensões e a defesa à proteção da parte contrária.
As partes contam a sua história, formulam um pedido, a parte contrária formula o que tem a dizer
contra esse pedido, pode formular um contra-pedido ou um pedido diferente. Mas no fundo os
actores principais são as partes.
Porque é que a lei chama às peças escritas articulados? Do artigo 552º deve ser feita uma
remissão para artigo 147º porque este explica para que servem os articulados e porque é que se
chamam articulados.
A razão é muito simples, a lei impõe quando há advogado que a matéria de facto seja deduzida
por artigos, logo os articulados não são textos corridos normalmente, pelo menos os factos são
deduzidos de forma articulada, isto porquê? Tem uma história para trás, porque tinha que ver com
a maneira como se seleccionava a matéria de facto que importava à causa e que estava ou não
provada, isso foi modificado, mas manteve-se a necessidade de as peças escritas introdutórias
serem apresentadas segundo a forma articulada.
Os factos devem ser deduzidos por artigos por uma questão de facilidade de compreensão da
parte contrária (réu e juiz). Isto obriga a uma disciplina na alegação de factos que se calhar não
era tão respeitada num texto escrito segundo a forma corrida.
Há dois articulados normais, o do autor, que é a petição inicial e o articulado do réu que é a
contestação, que é a tradução prática do direito de defesa e do princípio do contraditório.
Qualquer acção admite petição inicial e contestação.
Segundo a lei actual pode existir réplica, no artigo 584º do CPC temos os casos em que hoje se
prevê expressamente que haja réplica. A réplica é um articulado em que o autor responde à
contestação.
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2. Acções de simples apreciação negativa - o autor pode aproveitar a réplica para responder aos
factos extintivos alegados pelo réu. As acções de simples apreciação negativa são o contrário
do comum das ações, aquilo que o autor pede é que se declare que um determinado direito do
réu não existe. É como se as ações começassem na contestação.
Para a lei estrita são apenas estas as funções possíveis da réplica.
Até à entrada em vigor do Código de 2013 havia réplica noutras situações, por exemplo se o réu
se defendesse por excepção.
O que é defender por excepção? As excepções ou são obstáculos processuais, o réu vem dizer
que é parte ilegítima, o tribunal é incompetente, ou outro qualquer obstáculo a que haja
conhecimento do mérito da causa. Ou então são uma espécie de contra-factos, quando se quer
através das excepções atacar a questão de mérito, por exemplo: eu, que sou autor, peço o
pagamento do prédio, ou o réu invoca a prescrição, ou a invalidade do contrato. Neste sentido são
um contra-facto porque impedem a formação do direito, ou extinguem o direito, ou modificam o
direito.
Até ao código de 2013, era possível na réplica, ou havia réplica, também para responder a estes
factos novos trazidos pelo réu na contestação.
O autor até 2013 podia aproveitar a réplica não só para responder à contestação, mas também
para responder às exceções e às ações de simples apreciação negativa.
Contudo está prestes a surgir uma alteração ao código quanto a este aspeto, visto nada ser dito
quanto à reconvenção e às ações de simples apreciação negativa. E então tem-se colocado a
dúvida de saber como é que o autor pode responder e quando é que o autor pode responder às
excepções trazidas pelo réu na contestação? A lei não prevê.
Tem havido várias soluções nos vários tribunais. Há juízes que permitem uma reposta escrita, até
notificam o autor para responder por escrito. Há juízes que entendem que se a lei não explica
como se responde então é na audiência (prévia ou final) e oralmente, deve ser feita uma remissão
para o artigo 3º/4.
Criou-se uma situação de incerteza quanto à forma como o autor reponde às excepções, que nem
sempre é algo fácil. Há excepções de resposta simples, mas há excepções de resposta complexa,
em que o autor tem toda a vantagem em responder por escrito.
Do ponto de vista do funcionamento da ação são excepções complexas que se se deixa para a
audiência prévia estragam a audiência prévia, um exemplo é a excepção de não cumprimento.
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Já do ponto de vista da lógica do Código de 2013 não é mau haver práticas diferentes, quando a
lei consagra o princípio da gestão processual ou da adequação formal, a lei está a fomentar que
os juízes tenham práticas diferentes nas diversas acções, conforme o que considerem mais
adequado.
O que acontece é que a situação de incerteza considerou-se que não era aceitável e há várias
alterações ao CPC que têm a ver com esta questão a serem discutidas.
A lei portuguesa define o que são os elementos essenciais de uma causa a propósito da repetição
de acções, porque é a propósito disso que tenho de saber se 2 acções são ou não iguais.
Está a propósito da defesa porque normalmente é o réu que tem interesse em dizer que a ação
que foi proposta é igual a outra acção que já foi julgada ou está a ser julgada - artigo 581º.
Quanto ao pedido, a petição inicial tem que definir o pedido. O pedido está no art 581º, é o efeito
jurídico pretendido, só que o que releva para efeitos de considerar que é o autor que tem o
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exclusivo da definição do pedido, é o efeito que o autor quer e o efeito para o qual o autor quer a
tutela do direito.
Por isso se fala em vários acórdãos no efeito prático-jurídico pretendido pelo autor. Isto significa
que o que interesse é respeitar faticamente aquilo que o autor quer, não interessa tanto a
qualificação jurídica que o autor lhe dá.
Por exemplo: AUJ que tem que ver com o efeito da impugnação pauliana (está no moodle).
A consequência jurídica da impugnação pauliana não é tecnicamente a invalidade do ato
impugnado, mas sim a ineficácia do ato relativamente ao autor ou credor.
Neste AUJ discutiu-se se o tribunal podia corrigir a qualificação jurídica que o autor tinha dado ao
seu pedido, o autor quer não ficar prejudicado com determinado ato que foi praticado pelo
devedor. O não ficar prejudicado em termos de impugnação pauliana significa que o ato é ineficaz
em relação ao credor, mas em tudo mais o ato mantém-se.
O tribunal por maioria entendeu que era possível permitir ao tribunal convolar o efeito jurídico em
ineficácia relativamente ao autor em vez de dizer “não, o pedido tem de ser julgado improcedente
porque o efeito da impugnação pauliana não é a invalidade do ato, mas sim a ineficácia
relativamente ao autor”.
Houve muitos votos de vencido porque aqui entendeu-se que já se estava a ultrapassar aquilo que
o princípio dispositivo permite.
Também se encontra no moodle um: AUJ em que se coloca a questão de saber se tendo sido
pedido o cumprimento de um contrato, mas tendo entendido o tribunal oficiosamente que o
contrato era nulo se podia determinar que fosse restituído aquilo que tinha sido já prestado apesar
de o autor não o ter pedido.
A nulidade foi conhecida oficiosamente, pelo tribunal, se calhar se a nulidade tivesse sido
invocada pelo réu a questão já era diferente.
O AUJ veio a entender que materialmente não se justificava que o tribunal pudesse decretar a
nulidade e não pudesse decretar os efeitos da nulidade não obstante eles não terem sido pedidos.
Outro acórdão (que também se encontra no moodle), o autor pede que se declare que é
proprietário de certo imóvel e chega-se à conclusão que o autor é apenas comproprietário. O
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problema que aqui se discute é saber se esta limitação de pedido qualitativo e quantitativo, se
permite dizer que a pessoa é comproprietário é menos do que o que o autor pediu (isso é
possível) ou é coisa diferente daquilo que o autor pediu (isso não é possível).
Este acórdão não foi votado por unanimidade, pois existiam entendimentos diferentes.
O que limite o tribunal é faticamente o efeito prático que o autor pretende alcançar com a acção
que propõe e com o pedido que define, a qualificação jurídica está nas mãos do tribunal e o
tribunal sem desrespeitar o efeito prático que o autor pretende alcançar pode modificar o efeito
sem que com isso esteja a ultrapassar os poderes que lhe são conferidos.
Há casos em que a lei expressamente permite que o tribunal se afaste do que foi pedido, ou não
esteja limitado pelo que foi pedido, é o que acontece por exemplo com os procedimentos
cautelares, com as ações possessórias.
Interessa ainda saber quanto ao pedido que há muitos casos em que numa mesma acção há
vários pedidos (já foi estudado anteriormente a coligação, ou seja, casos em que para além de
numa mesma acção haver vários pedidos, há várias partes e os pedidos estão a ser discutidos
entre partes diferentes).
Vamos ver em que casos e condições é que é possível ao autor numa mesma acção formular
vários pedidos contra o réu, vamos estudar a cumulação de pedidos.
Podem existir vários tipos de cumulação de pedidos. As várias modalidades de cumulação de
pedidos estão reguladas a partir do artigo 553º (classificação do prof. Castro Mendes):
1. Cumulação simples: o autor formula vários pedidos contra o réu, mas pretende a
procedência simultânea de todos os pedidos - artigo 555º;
2. Cumulação em alternativa: casos em que o autor formula vários pedidos contra o
réu, mas o autor não pretende a procedência simultânea de todos os pedidos. Pode
ser cumulação alternativa:
- real - artigo 553º, quando o autor formula dois pedidos mas só pretende a
procedência simultânea de um deles, estabelecendo uma alternatividade. A
possibilidade, salvo leis especiais em que se estabelece um regime
diferente, é relativamente restrita a possibilidade de o autor formular
pedidos alternativos. Não pode ser o juiz a escolher o que é mais
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conveniente do ponto de vista do autor, isto apenas é possível nos pedidos
substantivamente alternativos em que há um mecanismo de escolha da
prestação devida, ou é terceiro que escolhe ou é o devedor.
- aparente - é aquilo que a lei designa como pedidos subsidiários, vem
tratado no artigo 554º. É muito frequente a utilização deste mecanismo. Na
defesa também se utiliza a técnica da defesa subsidiária. O autor define
vários pedidos, mas estabelece uma hierarquia entre os vários pedidos, por
isso é que se diz que é uma alternativa aparente.
Podemos ter vários pedidos cuja procedência simultânea o autor pretende ou vários pedidos
diferentes disto, em que o autor não pretende a procedência simultânea de todos os pedidos, ou
porque há uma alternatividade, ou porque há uma hierarquia estabelecida entre os diversos
pedidos chamando a lei a estes casos pedidos subsidiários.
Em todos os casos, em que numa mesma acção é possível apreciar diversos pedidos, por
exemplo na coligação, cumulação de pedido, reconvenção, pedidos subsidiários vamos encontrar
a exigência dos requisitos que nós já estudámos a propósito da coligação:
- Competência absoluta - um mesmo tribunal competente internacionalmente, em razão da
matéria e hierarquia, para conhecer todos os pedidos.
- Forma de processo - se os vários pedidos vão ser apreciados na mesma acção, vão ser
apreciados segundo a mesma tramitação.
Do artigo 555º deve ser feita uma remissão para o artigo da coligação ou reconvenção.
Os requisitos são sempre os mesmos e a razão de ser é sempre a mesma.
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Efeito da entrada da petição inicial em juízo, no artigo 259º, há um momento que é relevante para
vários efeitos que é a determinação exacta do momento a partir do qual a acção se considera
proposta.
O que se estabelece como regra é a de que uma acção considera-se proposta quando a petição
inicial dá entrada em juízo. Isto nem sempre é evidente, pois há muitas maneiras de mandar a
petição inicial para o tribunal.
É importante para saber por exemplo se o direito foi exercido a tempo, se se tratar de um direito
sujeito a um prazo de caducidade.
Há ainda uma outra coisa que está em vias de ser alterada: a questão de saber se é ou não
possível alterar o pedido.
Até ao Código de 2013 era possível alterar por acordo (o que continua a ser), o problema põe-se
quando não há acordo das partes. Quem tem interesse é o autor, o que protege o réu são regras
que impedem o autor de alterar o pedido.
Até ao Código de 2013 havia uma regra que permitia a alteração do pedido na réplica. Se
houvesse réplica o autor podia aproveitar a réplica para alterar o pedido e se o autor o fizesse
havia mais um articulado, a tréplica, e a parte contrária respondia na tréplica.
Hoje, no artigo 265º limitou-se extraordinariamente a possibilidade de alteração do pedido na falta
de acordo. O autor pode reduzir o pedido, mas se reduz está no fundo a desistir parcialmente do
que pediu, agora fora disso só é possível alterar o pedido se houver um desenvolvimento do
pedido inicial. Esta é uma das críticas que se faz ao código de 2013, não se justifica que não seja
possível ao autor na réplica alterar o pedido tal como acontecia até à entrada em vigor do código
de 2013.
Aquilo que está pensado é voltar ao regime anterior e havendo réplica ser possível a alteração do
pedido, mesmo para além da redução ou do desenvolvimento do pedido anterior.
25/02/19
A Petição inicial é o articulado com que se dá início ao processo, por isso não é de estranhar que
tenha esta função de definir o objeto do processo.
O objeto do processo é constituído pelo conjunto formado pelo pedido e pela causa de pedido.
Causa de pedir:
O código tem dois artigos e temos de os conjugar para saber qual a noção que o código deu a
causa de pedir, que é o artigo 581º, quando define os elementos que identifica uma ação, mas
conjugado com o artigo 5º.
Houve uma certa evolução relativamente ao direito anterior porque o artigo 5º limita o âmbito da
causa de pedir aos factos essenciais, e por isso a professora MPB acredita que exista alguma
restrição quanto ao artigo 581º.
Na petição inicial, artigo 552º, tem o respetivo conteúdo, interessa reter a parte em que diz que na
petição inicial o autor tem de indicar a causa de pedir e os fundamentos de direito do pedido que
formula.
Nós vamos ver que a relação entre o juiz e as partes é completamente diferente, no que diz
respeito à alegação e construção da causa de pedir e no que diz respeito à parte jurídica, ao
fundamento jurídico da ação.
Em primeiro lugar artigo 552º conjugado com o artigo 5º cabe ao autor na petição inicial alegar
aquele núcleo essencial dos factos por referência à fundamentação que o autor invoca.
Nós para sabermos o que deve constituir a causa de pedir, quais são os factos essenciais
integrativos da causa de pedir, temos de fazer esta apreciação por referência a um determinado
quadro normativo.
Por exemplo, erro sobre os motivos, artigo 252º, pelo núcleo essencial vão ser os factos
essenciais para a alegação de que o autor adquiriu uma coisa qualquer em erro e esta versava
sobre um determinado objeto, portanto a causa de pedir é o conjunto dos factos essenciais que no
fundo sustentam o pedido formulado pelo autor, tudo isto por referência a um determinado quadro
normativo.
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Quadro normativo aliás, que foi do decurso da ação que o tribunal até pode modificar, porque
existe um ónus de alegação relativamente aos factos que integram a causa de pedir.
Quando a professora diz que existe um ónus de alegação quer dizer que o tribunal não pode
conhecer desses factos se eles não tiverem sido alegados, e segundo o código de 2013 isto só
acontece quanto aos factos que integram a causa de pedir, relativamente aos outros factos eles
podem vir a ser conhecidos por tribunal, não obstante não terem sido alegados pelo autor, e não
obstante não o terem sido na petição inicial.
Este ónus de alegação da causa de pedir não existe para a fundamentação jurídica, isto pela
razão do tribunal não estar limitado pela fundamentação jurídica apresentada pelo autor.
Eu posso qualificar o meu pedido de indemnização como um caso de responsabilidade extra-
contratual ou contratual, e o juiz quando chegar à sentença chegar à conclusão que a melhor
qualificação para a responsabilidade civil em causa, é por exemplo responsabilidade pré-
contratual.
Contudo, o tribunal relativamente aquele núcleo fáctico, essencial, em que o autor baseia o seu
pedido, não entra.
O que é que é exigido ao autor que alegue para se considerar que o autor alegou suficientemente
a causa de pedir?
Há fundamentalmente duas teorias quanto à noção de causa de pedir, quanto aquele que se deve
entender que deve ser alegado para ser considerado que está definido uma causa de pedir.
- Teoria da individualização
- Teoria da substanciação
Vamos começar por contrapor duas situações, para vermos qual é a implicação da adoção de
cada lei concreta de uma lei ou de outra, para depois vermos qual é a solução da lei portuguesa.
Vamos imaginar que o sr. A instaura contra B uma ação de reivindicação do prédio x, na qual se
pede que o tribunal declare contra B que A é proprietário daquele bem e se for caso disso que o
condena a integrar.
Ação número 1: A instaura contra B uma ação de reivindicação do prédio x
Ação número 2: A instaura contra B uma ação de reivindicação do prédio y.
Apenas tendo em consideração o objeto, em ambos os casos estão objetos da mesma natureza,
em ambas as ações o pedido é o reconhecimento da propriedade.
No entanto consegue-se fazer a distinção da ação nº1 da ação nº2 tomando em consideração
apenas um objeto, prédio x num caso, prédio y no outro.
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Para identificar as ações não é preciso saber se na primeira ação se invoca usucapião ou uma
causa qualquer de aquisição do direito de propriedade, e na ação nº2 uma outra causa ou a
mesma causa.
Para a teoria da substanciação quando estão em causa direitos desta natureza, direitos para cuja
identificação não é preciso saber qual é a sua causa, basta saber qual é o seu objeto.
Para a teoria da individualização basta invocar a relação jurídica em que se insere a pretensão
que estou a deduzir em juízo.
Ação nº1: Vamos imaginar que A instaura uma ação contra B e quer cobrar 200.000€
Ação nº2: A instaura uma ação contra B para cobrar 200.000€
Não se consegue saber se estas ações são repetição uma da outra, se são ou não iguais, ou são
ou não ações diferentes, sem considerar a causa de aquisição do crédito que o autor invoca, sem
considerar os factos concretos, dos quais o autor faz nascer o seu direito de crédito.
Por exemplo um mútuo, um pedido de indemnização, etc.
Para a teoria da individualização basta indicar a relação jurídica em que o direito se insere se não
estou a exercer um direito para fugir da interpretação, é necessário indicar a respetiva causa.
Para a teoria da substanciação, que para a jurisprudência, uniformemente é a teoria adoptada
pela lei portuguesa, e continua a ser à luz do código de 2013, em qualquer tipo de ações, ou seja
qual for o direito que estou a exercer, eu tenho sempre de indicar factos concretos dos quais faço
nascer o meu direito, mesmo numa ação de reivindicação.
Não me posso limitar a pedir que o tribunal declare que sou proprietária do prédio x ou do prédio
y, para a teoria da substanciação e para o artigo 581º/4, eu tenho de indicar factos concretos dos
quais faço nascer o meu direito de propriedade, tenho por exemplo de indicar que quero que o
tribunal declare que sou proprietário porque adquiri o direito de propriedade por usucapião, então
tenho de indicar os factos concretos dos quais eu retiro que adquiri o direito de propriedade por
usucapião. Estes factos têm de ser de uma aquisição originária e não apenas translativa.
Para a lei portuguesa, artigo 581º/4, segundo pacificamente a jurisprudência entende e a doutrina,
apesar do professor Miguel Teixeira de Sousa entender de maneira diferente, a lei portuguesa
segue a teoria da substanciação em qualquer caso.
Portanto mesmo nas ações reais, constitutivas, de anulação, eu tenho sempre de indicar factos
concretos dos quais faço nascer no caso a titularidade do meu direito de propriedade, ou qualquer
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direito que estou a querer exercer. Trato da mesma forma as ações reais e as ações de crédito,
por exemplo.
Qual é a importância de saber qual é a opção que a lei portuguesa tomou para a indicação da
causa de pedir?
Tem uma importância enorme, em primeiro lugar para saber se a minha petição inicial está
completa no que toca à indicação da causa de pedir.
Se eu direito português me limitar na petição inicial a pedir ao juiz para dizer que sou proprietário
do prédio x sem factos concretos o tribunal não vai conhecer do meu pedido de reivindicação.
Mas tem também em segundo lugar repercussões na extensão do ónus de alegação. E tem em
terceiro lugar uma enorme importância no âmbito do caso julgado.
Se eu seguir a teoria da individualização, se disser que para identificar duas ações reais basta
distinguir o respetivo objeto eu estou a querer dizer que uma ação que por exemplo julga
improcedente do pedido de reivindicação, impede-me de voltar a instaurar uma ação de
reivindicação outra vez com qualquer fundamento. Porque assim como podia pedir sem identificar
um caso concreto, também o caso julgado que julgasse procedente ou improcedente, impedia a
repetição de qualquer ação entre A e B relativamente ao mesmo prédio.
Para a lei portuguesa não é assim, para a teoria da substanciação não é assim, eu posso
instaurar uma ação de reivindicação com fundamento em usucapião e o tribunal julga a ação
improcedente por entender que não passou tempo suficiente, os factos que consegui provar não
mostram uma solução de posses com tempo suficiente para justificar a aquisição por usucapião,
mas posso instaurar uma ação de reivindicação com base em acessão, ou com outra causa
originária de aquisição do direito de propriedade.
O âmbito do caso julgado é muito mais restrito quando eu obrigo a indicar factos concretos como
causa de pedir numa qualquer ação do que seria se fosse possível julgar a mesma ação sem
indicar factos concretos.
Para a lei portuguesa qualquer tipo de ação, seja qual for o respetivo objeto, artigo 581º/4, que no
fundo é o que resulta das especificações que lá aparecem, a alegação da causa de pedir traduz-
se necessariamente na alegação de factos concretos dos quais o autor faz nascer o pedido que
formula. Daí dizer-se na jurisprudência e doutrina pacificamente que a lei portuguesa consagrou a
chamada teoria da substanciação.
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O que é que se deve entender que o autor tem que alegar como causa de pedir numa ação de
simples apreciação negativa?
Quando lidamos com ações de simples apreciação negativa temos muitas vezes dificuldades de
visualização do que é que estamos a tratar.
Nestas ações as coisas funcionam um pouco ao contrário.
Na generalidade das ações o autor pede que o tribunal declare que o seu direito existe e o réu
vem dizer porque é que não existe ou porque é que nunca se constituiu.
Nas ações de simples apreciação negativa aquilo que o autor pede é que se declare que
determinado direito supostamente do réu não existe.
O autor para se considerar que indicou a causa de pedir, para que a ação prossiga é exigível ao
autor que alegue factos concretos que provocaram a extinção ou a não constituição do direito
supostamente do réu, ou pode limitar-se o autor a dizer para o juiz declarar contra o réu que x
direito não existe?
O que é que se deve entender que constitui a causa de pedir numa ação de simples apreciação
negativa?
O problema do autor é sempre estar aqui a querer provar factos negativos, ou pelo menos factos
extintivos, e não como é habitual ter de provar factos constitutivos numa ação de simples
apreciação negativa.
Numa ação de simples apreciação negativa a prova de factos extintivos ou modificativos
interessam ao autor e não ao réu, ao réu interessa a prova dos factos constitutivos que está a ser
discutida.
Não há nenhuma regra especifica no que diz respeito à causa de pedir neste tipo de ações e há
várias posições na doutrina sobre o assunto, e isto não é só um problema de opinião doutrinária, é
um problema de saber se o tribunal vai ou não vai conhecer do meu pedido de simples apreciação
negativa, que é o que tem de ser alegado para que o tribunal considere que está suficientemente
definido o objeto desta ação e portanto vai julgar o pedido do autor.
O professor Anselmo de Castro, dizia que ao autor numa ação destas deve bastar a invocação da
inexistência do direito do réu, e é a mesma coisa que dizer que o autor está dispensado de alegar
factos concretos impeditivos, modificativos ou extintivos.
Nesta perspetiva seria o réu pela primeira vez teria o ónus de alegar factos constitutivos do seu
direito sob pena da ação ser julgada contra o réu.
Do outro lado temos a opinião do professor Antunes Varela e da jurisprudência, que pacificamente
a jurisprudência vem entendendo que não há nenhuma definição especial para a definição de
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causa de pedir para as acções de simples apreciação negativa, e não havendo nenhuma regra
especial têm de ser alegados pelo autor factos que dêem o efeito que ele quer.
Se o efeito que o autor quer é que se declare que venha a dizer que não existe, isso significa que
numa acção de simples apreciação negativa, para se considerar que a petição inicial contém
todos os elementos necessários para haver conhecimento do mérito, o autor tem o ónus de alegar
factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito supostamente do réu ou de terceiro.
Professor Castro Mendes (tem uma posição intermédia)- importa para o ónus de alegação da
causa de pedir, isto significa ónus dos factos integrativos da causa de pedir sob pena do tribunal
deles não os conhecer.
Para este professor importava para aqui o regime que o código civil define para a repartição do
ónus da prova nas ações de simples apreciação negativa. O artigo 343º/1 código civil diz que nas
ações de simples apreciação negativa provocadas pelo réu porque se arrogou de um direito, cabe
ao réu o ónus de provar.
Na dúvida sobre se o direito existe ou não existe o juiz julga contra o réu, e por isso diz-se que há
uma inversão do ónus da prova.
O professor CM diz que se isto é assim quanto ao ónus da prova, nós podemos aplicar por
analogia ao ónus de alegação dos factos concretos integrativos da causa de pedir e dizer que
nestas ações também é o réu quem em primeiro lugar tem o ónus de alegar factos concretos
constitutivos do seu direito.
Bastaria ao autor vir dizer que o réu considera ser titular do direito, ele entende que não é e pede-
se ao tribunal que declare que não é titular do direito, se conseguisse fazer prova disto caberia ao
réu a alegação de factos constitutivos do direito, e depois o autor na réplica poderia responder
alegando factos extintivos, modificativos ou impeditivos.
Nas ações de simples apreciação negativa pode haver réplica, justamente para o autor responder
aos factos constitutivos alegados pelo réu na contestação.
Numa ação de simples apreciação negativa quem tem interesse que se declare que um
determinado direito existe é o réu, e não o autor como acontece na generalidade das ações.
Numa ação de simples apreciação negativa quem tem interesse na alegação e na prova dos
factos constitutivos do direito é o réu, o autor tem interesse em mostrar que o direito
supostamente do réu não se constituiu, ou se se constituiu extinguiu-se ou modificou-se.
AUJ 3/2001:
O autor pedia que o tribunal declarasse que ele nada devia ao réu, e nada devia a nenhum título,
nem de contrato, nem obrigação de indemnizar.
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Como é que o réu se defende neste tipo de acções?
A ação principal que leva a jurisprudência a entender que estas acções se devem entender como
quaisquer ações quanto à necessidade do autor alegar a causa de pedir começa por ser esta,
como é que o réu se defende de um pedido destes, correndo o risco de ter uma sentença, que
declara com força de caso julgado, que na altura nada devia B a título nenhum.
Coloca o réu na situação de defesa muito difícil e tem um caso julgado em que neste caso provou-
se que o autor e o réu tinham relações comerciais frequentes e uma sentença declarar naquela
altura que o autor não devia nada ao réu a título nenhum, era um ónus que se estava a colocar
em cima do réu, que não tinha proposto a acção, que podia não estar pronto para a defesa, para
fazer prova.
Se fosse possível uma acção nestes termos o autor tinha de alegar factos concretos para que o
réu se pudesse defender desses casos concretos e para que o caso julgado viesse a formar-se
apenas sobre aqueles casos concretos, isto é “não deve por isto ou por aquilo”.
A professora MPB considera que esta é a solução mais equilibrada do ponto de vista da garantia
do direito de defesa, da possibilidade prática do direito de defesa e da correta extensão do caso
julgado.
Mas é importante ter em atenção que esta é uma questão controversa.
Vamos imaginar que o sr. A invocava um contrato e instaurava uma acção contra B e dizia que
instaurou a ação porque do contrato resultou para B a necessidade de realizar uma determinada
prestação, que ele não realizou, e portanto o autor pede ao juiz para condenar B a realizar a
prestação. O pedido era a realização da prestação e a causa de pedir era o contrato.
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Vamos supor que o réu na contestação vinha invocar a invalidade do contrato, o que acontecia era
que o autor olhando para a defesa do réu, para o motivo de invalidade que o réu vinha fazer da
contestação, pensava devidamente e calculava ser possível que se viesse a dar razão ao réu,
então o autor na réplica podia dizer que queria que o contrato fosse considerado inválido e o réu
tinha de o restituir- isto para a lei anterior.
O código de 2013 acabou com esta possibilidade de alteração sem limites do pedido e da causa
de pedir, a professora MPB considera que foi por uma questão de limitação dos articulados.
Relativamente à causa de pedir também veio limitar a possibilidade de alterar a causa de pedir, à
circunstância, artigo 265º, possibilidade de alteração da causa de pedir, não havendo 265º, não
havendo acordo das partes que é o que normalmente acontece, o autor só pode alterar a causa
de pedir se o réu tiver confessado na contestação algum facto.
Evidentemente que se o réu confessou algum facto isso significa que reconheceu um facto
favorável ao autor, a lei permite apenas que o autor nesse caso aproveite essa confissão para
trazer alguma alteração a causa de pedir.
É uma situação extraordinariamente limitativa da possibilidade de alteração do pedido e da causa
de pedir.
Como acontece na generalidade das situações o autor propõe uma ação e tem toda a
conveniência em se o desenrolar da ação o aconselhar a introduzir alterações naquilo que pediu a
não haver limites a essa possibilidade.
Do ponto de vista do autor o que lhe interessa é poder alterar o pedido e ou a causa de pedir
quando lhe convier, do ponto de vista do réu o interesse é exatamente o oposto. E portanto a lei
anterior tinha estabelecido aqui um certo equilíbrio, dizendo que o autor pode alterar mas apenas
na réplica e apenas em determinadas situações, pois sabendo que havendo esta alteração o réu
tem sempre a possibilidade de se defender na tréplica.
Código de 2013 quis condensar a fase dos articulados, isto é a interpretação da professora MPB,
veio veio reduzir drasticamente as possibilidades de o autor alterar o pedido e a causa de pedir.
E no fundo veio reduzir de maneira a nunca ser uma surpresa para o réu a alteração que o autor
introduz.
Quer o pedido quer a causa de pedir têm de ser indicados na petição inicial.
O que é que acontece quando não define, ou não define de forma inteligível o objeto da causa, ou
seja não define o pedido ou a causa de pedir?
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Quando isso acontece diz-se que a petição é inepta. Temos um caso de ineptidão da petição
inicial.
Do artigo 552º deve ser feita uma remissão para os casos de ineptidão da petição inicial que estão
indicados no artigo 186º (este artigo é o primeiro dos artigos que trata das nulidades processuais).
(Nesta cadeira vamos estudar as nulidades a propósito de duas coisas, vamos estudar as
nulidades processuais que são desvios relativamente ao formalismo previsto na lei, e vamos
estudar as nulidades das decisões a propósito da sentença).
Neste momento interessa uma das mais importantes nulidades que é a chamada ineptidão da
petição inicial.
Exemplo de um caso: Contrato de empreitada, o credor veio a instaurar uma ação contra o banco
que tinha prestado a garantia dizendo que era uma garantia bancária autónoma à primeira
solicitação, e dizia que o contrato não foi cumprido e portanto pedia ao banco que pagasse a
garantia e os prejuízos que este indicava.
E o réu defendeu-se a dizer que a garantia prestada não era uma garantia bancária autónoma
mas sim uma fiança, e sendo uma fiança o autor tinha que invocar factos concretos para justificar
o incumprimento.
Muitas vezes no contrato de empreitada, o dono da obra exige ao empreiteiro que arranje uma
garantia, um terceiro que para o caso dele não cumprir ou cumprir com defeitos e lhe causar
prejuízos, venha pagar por este incumprimento ou defeitos.
Quando há uma fiança, garantia pessoal, através da qual se junta um outro património ao do
devedor e diz-se que esta é causal, só tem de pagar se se mostrar, provar que houve
incumprimento da pessoa que está a garantir.
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Se quero fazer funcionar uma fiança, se quero propor uma ação contra o fiador, eu tenho que
alegar factos concretos que demonstrem o incumprimento do contrato ou a existência de defeitos
na obra que justifiquem que intervenha a garantia do fiador.
As garantias bancárias autónomas dispensam esta alegação e prova por parte do beneficiário da
garantia, neste caso o dono da obra, dispensam que este alegue e prove que o outro não cumpriu.
A diferença está em saber se o beneficiário da garantia quando demanda o banco e diz que quer
a indemnização porque a parte contrária do contrato não cumpriu, se tem de alegar factos
concretos e provar o incumprimento imputável à parte contrária ou se apenas basta alegar o
incumprimento e pedir a indemnização.
A petição era inepta ou não consoante a garantia que quero fazer funcionar seja uma fiança ou
uma garantia bancária autónoma.
Alínea b) — O autor invoca um motivo que justifica a invalidade do contrato e depois pede a
realização de uma prestação que pressupõe a validade do contrato, ou um motivo que justificaria
a resolução do contrato por parte do autor e depois discute-se se é o interesse individual positivo,
negativo, etc, e depois vai fazer um pedido que nunca poderia estar ligado aquela causa
justificativa da resolução ou da invalidade.
O pedido nunca pode ter aquela causa de pedir e vice-versa, o pedido está em contradição com a
causa de pedir.
Exemplo: Vamos supor que há uma escritura de compra e venda de um imóvel qualquer, e eu
venho pedir que o tribunal declare que a compra e venda que está na escritura é nula por
simulação porque encobre uma doação. E simultaneamente eu que tenho direito de preferência
quero exercer o meu direito de preferência.
Se fizer estes dois pedidos ao mesmo nível, estou a formular dois pedidos incompatíveis, porque
a relação ao contrato de doação não há direito de preferência.
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Se eu quiser exercer o direito de preferência o que faço é não falar da simulação e vir exercer o
meu direito de preferência. E depois logo se vê se a parte contrária invoca a simulação.
Agora se eu quero que seja declarada a nulidade e que se demonstre que o negócio realmente
feito, ou realmente querido é uma doação, então não venho exercer o meu direito de preferência.
Se vier pedir as duas coisas ao mesmo tempo tenho uma petição inepta por contraposição
intrínseca entre os pedidos formulados e o mesmo podia acontecer com a indicação de várias
causas de pedir.
Quando eu admito que uma ação possa ter efeitos diferentes e esses efeitos não são compatíveis
a maneira que tenho de conseguir que o tribunal conheça destas várias questões é formular
pedidos subsidiários, assim como posso formular causas de pedir subsidiárias. Se eu for ré
também posso invocar exceções subsidiárias.
Nós temos uma petição inepta, se temos uma petição inepta é porque falta um dos elementos
essenciais de identificação da ação, ou não há pedido, ou não há causa de pedir, ou são coisas
inconciliáveis.
Está expressamente explicado na conjugação dos preceitos artigo 186º e artigo 577º/b).
A ineptidão provoca a nulidade de todo o processo, afecta o ato de propositura da ação, afeta o
ato de definição do processo, por isso se tudo o que se passa é nulo o juiz vai absolver o réu da
instância.
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A nulidade de todo o processo está na lista das exceções dilatórias e o efeito regra é a absolvição
do réu da instância.
Isto só acontece segundo o código de 2013, na realidade quando o autor não alega os factos que
integram a causa de pedir, artigo 15º.
Porque relativamente aos factos complementares ou concretizadores, ou aos factos instrumentais,
eles podem não ser alegados pelo autor mas virem a ser considerados pelo juiz na sentença,
porque desde que resultem da instrução da causa o juiz pode considerá-los não obstante não
terem sido alegados pelo autor.
Eu vou propor uma ação de anulação com fundamento em erro sobre os motivos e apenas não
alego o acordo das partes quanto à essencialidade do motivo, este acordo não integra a causa de
pedir, mas é um facto complementar, concretizador da causa de pedir, pode vir a ser considerado
pelo juiz se resultar da instrução da causa.
É normal que o autor na petição inicial além de alegar os factos que integram a causa de pedir,
alegue os factos necessários à procedência da ação, estes podem não integrar a causa de pedir,
mas se são necessários à procedência da ação, é bom mandar prudência, e é o que acontece na
prática que o autor alegue todos os factos que ache necessários para a procedência da ação. O
juiz pode considerá-los.
O artigo 5º para que estes factos possam ser considerados, resulta da instrução e não da ciência
privada do juiz, a lei exige apenas que tenha sido possível o contraditório.
Tem se levantado a dúvida de saber se, imaginem que a parte a quem os factos aproveitam diz
que não quer que sejam considerados, tem se colocado a dúvida face ao código de 2013 se isto
pode impedir o tribunal de os utilizar.
Porque esta exigência estava no código anterior, dizia-se que era uma espécie de alegação a
posteriori.
A doutrina entende que se a parte não o quer, tem o direito de o impedir, pois trata-se de direitos
disponíveis.
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Não há um ónus de alegação dos factos instrumentais, são factos probatórios que não têm
relevância autónoma, servem para fazer a prova dos factos essenciais.
A prática também vai no sentido das cautelas, e portanto o autor pode alegar os factos
instrumentais na petição inicial.
Uma coisa é ter o ónus da alegação, outra coisa é alegar factos que são úteis para a prova dos
factos mas que o tribunal pode os conhecer mesmo que não os alegue.
É importante ter a noção que ónus de alegação é só para os factos que integram causa de pedido,
o mesmo acontece quanto à base das exceções.
Quanto à preclusão, uma coisa é ter o ónus de alegação ou alegar factos, outra coisa é saber até
quando posso alegar factos, até quando funciona ou não a lógica da preclusão.
Existe diferença entre alegação, preclusão, ónus de alegação, ou sem alegação o tribunal poder
ter o conhecimento desta!
11/03/19
O que é que em termos de tramitação se passa depois da petição inicial ter dado entrada em
juízo?
A secretaria não tem poderes para verificar se o conteúdo da petição inicial está ou não está de
acordo com aquilo que a lei determina. Essa parte da apreciação da petição inicial no fundo está
verdadeiramente dotada, agora a secretária pode verificar se do ponto de vista formal há algumas
razões que justifiquem a sua devolução, artigo 558º.
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A secretária tem determinadas razões formais que justificam o não recebimento (ex. não está
assinada a petição inicial).
O que é que se passa? O que é que se segue há entrada em juízo da petição inicial?
Segue-se um ato que tem uma importância substancial, que é superior ao que pode parecer, que
é a chamada distribuição, há sempre casos em que pode haver desvios.
O que segue há entrada da petição inicial em juízo é a chamada distribuição.
A distribuição está regulada a partir dos artigos 203º e seguintes, e é um sorteio que hoje se faz
por meios eletrónicos.
Os processos que dão entrada em juízo são qualificados com determinados critérios, e depois faz-
se o sorteio, a distribuição, sobretudo para se determinar à sorte quem é o juiz da causa.
Se nós tivermos num tribunal superior, os tribunais superiores funcionam normalmente como
tribunais coletivos, o que se determina é o relator do processo.
Antigamente no Porto existia apenas 3 juízes cíveis, e um conhecido advogado do Porto queria
propor uma determinada ação e achava que só um desses 3 juízes merecia a confiança que ele
entendia para apreciar devidamente o preço.
E então o que é que fez? Deu entrada no mesmo dia 3 processos iguais, como eram todos iguais
foram classificados da mesma forma, e como era de esperar foram atribuídos cada um a cada um
dos juízes.
Então ele decidiu da instância relativamente aos 2 juízes que não lhe interessavam e o processo
seguiu no juiz que tinha confiança.
O ato da distribuição é um ato público, cujos resultados são afixados, parece um ato sem
importância, mas na realidade é um ato que tem um enorme significado.
Até à reforma de 95 depois de se determinar quem era o juiz da causa o processo era entregue ao
juiz da causa, ou seja, era feita a entrega do processo pela secretária ao juiz da causa, o processo
era concluso ao juiz.
O processo até 95 era entregue ao juiz da causa para que este lavrasse o chamado despacho
liminar, e este era o despacho lavrado à entrada do processo.
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O que acontecia é que na entrada deste processo tinha de se fazer logo uma primeira verificação
sobre se o processo era manifestamente improcedente, ou se era improcedente porque faltava
algum pressuposto processual de conhecimento oficioso, ou se era ostensivo que a petição inicial
precisava de ser corrigida em alguns aspetos.
Em 95 e por uma questão de celeridade entendeu-se por bem acabar com este despacho liminar,
o que acontece é que salvo em certos casos o que acontece é que hoje tudo se passa na
secretária até ao fim dos articulados.
Porque é que se diz que o ato da citação é um dos atos mais importantes praticados no processo?
A citação vem regulada a partir dos artigos 219º e seguintes.
A citação é uma espécie particular de notificação. As notificações são atos que se destinam a dar
conhecimento de alguma coisa a alguém.
O que tem de especial a citação e justifica que tenha um regime específico diferente das demais
notificações é que a citação tem como função específica dar conhecimento ao réu que foi
proposta uma ação contra ele, e dar conhecimento dos prazos, do que acontece contra ele, do
que é que ele dispõe se não.
Este ato tem em primeiro lugar um enorme interesse do ponto de vista do réu, porque permite que
o sistema oportunamente accione o seu direito de defesa.
Mas também tem interesse do ponto de vista do lado da decisão da justiça porque não é
indiferente à administração da justiça que o réu venha ao processo e que o tribunal possa ter uma
visão de ambas as partes, uma visão mais objetiva sobre o litígio cuja apreciação é pedida.
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É a partir do ato da citação que o processo é eficaz relativamente ao réu, e isso também tem
outras consequências substantivas e processuais.
Modalidades de citação:
Em termos de história processual o que é que se passou nas últimas reformas relativamente
quanto ao momento da citação. A citação é um momento crucial da vida do processo.
Pô-se durante muitos anos em Portugal, e continua a ser colocado, o problema de saber como é
que na prática se garante que a situação chega ao seu destino, que se dá efetivamente
conhecimento ao réu que a ação é proposta e a tempo dele organizar a sua defesa se for caso
disso.
É por isso que nas últimas reformas, nomeadamente até 95/96, o legislador mexia no ato da
citação e continua a mexer, no ato de citar, de fazer as garantias, etc.
Até 85 e mesmo a partir daí continuou a ser assim para as pessoas singulares, introduziu-se uma
diferença para as pessoas coletivas, a citação era feita da seguinte forma, o funcionário do
tribunal procurava o réu no local indicado pelo autor na petição inicial, e este indicava
normalmente o domicílio e na prática era muitas vezes a citação era frustada.
Acontecia a frustação porque para além das vezes em que o réu evita ser citado, os funcionários
judiciais também trabalhavam na generalidade das mesmas horas das pessoas que criam citar.
O Diploma de 85, que ficou conhecido como a reforma intercalar do processo, foi feito por uma
comissão presidida pelo professor Antunes Varela, um dos pontos que essa comissão indicou
como sendo um ponto crítico na marcha do processo era o momento da citação.
E então nessa altura tentou se introduzir a citação feita pelo correio, simplesmente na altura
depois da revisão governamental só passou a citação por correio para as entidades coletivas.
Porque se entendeu que estas têm uma certa organização e normalmente está alguém às horas
normais na respetiva sede, mas manteve-se a necessidade do funcionário do tribunal procurar o
réu no local do seu domicílio.
Em 95 veio generalizar-se a possibilidade de citação feita por correio, uma das maneiras normais
de fazer a citação é a citação feita por correio através de carta registada com aviso de recepção.
Faz parte dos regulamentos postais que o aviso de recepção não tenha de ser assinado pelo
próprio, a não ser que se encontre lá alguma modalidade especial que não é a exigida para a
situação, então na maior parte dos casos o que acontece é que a citação se faz pelo correio
através de uma carta registada com aviso de recepção.
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O que interessa é ficar saber que a lei prevê duas modalidades de citação, artigo 225º. E quando
é dito que prevê duas modalidades de citação não tem que ver se é feito por via postal ou não,
estamos a pensar na hipótese da chamada citação pessoal e citação edital.
A citação edital utiliza-se quando ou não se sabe quem é a pessoa concretamente a citar, por
exemplo quando se propõe uma ação contra os herdeiros incertos e desconhecidos de uma
determinada pessoa, matéria da personalidade judiciária da herança.
Também se utiliza a citação edital quando se desconhece o paradeiro do réu, não é só porque o
autor não sabe onde o réu está, algumas averiguações que a polícia faz e no fundo chega-se à
conclusão que a generalidade das pessoas que contactam com o réu não sabem onde ele está.
É uma maneira de não deixar o autor sem a possibilidade de propor a ação só porque não sabe
exatamente quem é o demandado.
A citação edital chama-se edital em primeiro lugar porque se afixam editais em determinados
locais, por exemplo no local do último domicílio conhecido da pessoa que morreu.
A lei permite em certas circunstâncias que sejam os advogados a fazer a citação do réu, não é
uma prática generalizada.
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tem um regime especialíssimo em função de servir para chamar pela primeira vez ao processo o
réu e dar conhecimento que a ação foi proposta.
Numa ação temos uma situação mas temos várias notificações, cada vez que o tribunal quer
chamar alguém para comparecer em juízo, ou dar a conhecer uma das partes de uma
determinada decisão, manda notificar.
Ao longo do processo existem várias notificações que são produzidas ao passo que citação há
apenas uma.
Tal como as notificações feitas em processos pendentes destinam-se a levar uma coisa ao
conhecimento de alguém, mas as notificações judiciais avulsas servem para fazer uma
comunicação particularmente segura de um determinado ato.
Exemplo: Quero interromper a prescrição ou quero resolver um contrato, e quero ter uma maneira
simples de provar que enviei uma determinada carta a outra pessoa interrompendo a prescrição
ou resolvendo um contrato.
Uma maneira particularmente segura de o fazer é para as chamadas notificações judiciais
avulsas, e são avulsas porque não são feitas na pendência do processo, são feitas através do
tribunal, só que o tribunal nas notificações judiciais avulsas funciona como uma espécie de caixa
de correio particularmente qualificada.
O juiz não vai pronunciar-se sobre se tenho direito a resolver o contrato ou se tenho direito a
interromper a prescrição, o tribunal funciona como uma caixa de correio particularmente
notificada, porque se for preciso provar que mandei uma carta com determinado conteúdo, eu
quando mando uma carta registada com aviso de recepção a única coisa que consigo provar é
que mandei a carta.
Uma maneira particularmente segura de resolver o contrato é utilizar a via das notificações
judiciais avulsas, reguladas nos artigos 256º e seguintes.
A citação faz com que uma ação seja eficaz relativamente ao réu. E essa circunstância de a ação
se tornar eficaz relativamente ao réu tem determinados efeitos quer do ponto de vista da própria
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ação onde a citação é feita, ou seja natureza processual, quer de natureza substantiva. O código
civil atribui vários efeitos de natureza substantiva ao ato de citação.
Quais são os efeitos mais importantes da citação do réu quer do ponto de vista material quer do
ponto de vista processual?
A ação considera-se proposta quando a petição inicial dá entrada em juízo, mas só produz efeitos
em relação ao réu com a respetiva citação.
Efeitos materiais, alguns estão indicados no CPC, outros no código civil, só vamos falar dos mais
importantes para entender a importância do ato da citação.
A citação faz cessar a boa fé do possuidor. Nós temos de imaginar uma ação em que tenha
relevância saber se o réu que é o possuidor está de boa ou má fé.
Exemplo: Imaginem uma ação de reivindicação, A propõe contra B, A diz ser o proprietário,
quando proponho a ação de reivindicação, o réu podia estar convencido que era o proprietário
que não estava a lesar a minha posse, e continua convencido disso apesar de ser citado, se A
ganhar a ação B, a partir da citação, passa a ser aplicado ao réu o estatuto de possuidor de má fé.
Por exemplo se quiser propor uma ação de anulação de um contrato, o prazo de 1 ano a partir do
momento em que descobri o erro, o que interessa para saber se a ação de anulação foi pedida a
tempo, é saber se a petição inicial deu entrada em juízo.
Para a caducidade o que interessa é o momento da entrada da ação em juízo.
Há casos em que o efeito (do tempo)? sobre um determinado direito está sujeito ao instituto da
prescrição.
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E a prescrição não funciona da mesma maneira como funciona o instituto da caducidade.
Processualmente as coisas são diferentes consoante o direito que o autor queira exercer esteja
sujeito a um prazo de caducidade ou a um prazo de prescrição.
O momento em que quero exercer judicialmente esse direito, o momento que interessa é o
momento da propositura da ação. Porque não interessa saber qual foi a atitude do sujeito passivo
contra quem estou a propor a ação.
Interessa saber se propus a ação a tempo, se exerci o direito a tempo.
A prescrição, o decurso do prazo de prescrição não extingue direito nenhum, para que a
prescrição opere é preciso que o beneficiário da prescrição, ou seja o sujeito passivo do direito
que estamos a falar, venha invocar a prescrição.
Não é indiferente para saber se o direito prescreveu ou não saber qual foi a atitude do sujeito
passivo contra o qual estou a exercer o meu direito.
Se eu exercer o meu direito judicialmente, o que interessa já não é o momento em que propus a
ação mas sim a altura em que o réu foi citado.
A citação interrompe o prazo de prescrição e isto significa que inutiliza o prazo que passou para
trás. E mais, o artigo 223º do código civil diz que só depois do trânsito em julgado da decisão é
que a citação proferida é que se for caso disso começará outra vez a contar o prazo de
prescrição.
A citação é uma forma particularmente qualificada de dar a conhecer ao réu a minha intenção de
exercer o direito. Não é uma forma muito recomendada porque se o réu não vier por em causa a
31
existência do direito funciona o artigo que diz que se o réu apenas discutir a exigibilidade do
direito e disser que nunca foi interpelado o autor pode ganhar a ação e pagar as custas.
O decurso do prazo de prescrição não extingue o direito, e isso é uma diferença relativamente ao
prazo de caducidade, se eu pagar (se for um caso disso) mesmo sem saber que podia invocar a
prescrição aplica-se o regime das obrigações naturais. Não posso vir pedir a restituição do que
entreguei, o que é uma prova provada que o decurso do prazo não extingue o direito, apenas
afeta a sua exigibilidade judicial.
Terceiro aspeto que interessa do ponto de vista substantivo, e que a lei também atribui à citação, e
atribui porque esta no fundo é uma modalidade particularmente qualificada de interpelação que se
faz ao devedor.
Artigo 805º/1 código civil- a interpelação, e se usar a citação como forma de citação do devedor,
esta constitui o devedor em mora nas obrigações não dependentes de prazo.
Exemplos nos quais a citação do réu numa ação deduz efeitos na própria relação substantiva que
está a ser discutida pelas partes, em todos os casos os efeitos resultam da citação tornar a ação
eficaz relativamente ao réu.
O artigo 564º nas al. b) e c), efeitos processuais da citação do réu, e temos em primeiro lugar a
estabilidade dos elementos da causa (deve ser feita uma remissão para o 260º).
Se conjugarmos estes dois artigos verificamos que a citação torna estáveis (a lei diz estáveis e
não imutáveis) os elementos essenciais de uma causa.
Os elementos essenciais de uma causa são os elementos de identificação de uma ação, que nos
permite distinguir entre uma ação e outra ação são:
- Sujeitos;
- Pedido;
- Causa de pedir.
O autor até à citação pode fazer o que lhe apetece, mas após a citação do réu a sua posição
passa a merecer tutela.
O interesse que o autor tem é poder modificar os elementos da ação quando lhe apetecer mas a
certa altura o réu tomou conhecimento da ação com uma determinada configuração e passa a
32
merecer tutela da lei e esta traduz-se do ponto de vista da instância ou da identificação da
instância nesta estabilidade da instância.
Há regras que definem as condições em que podem ser alterados os sujeitos, pedido e causa de
pedir.
Em relação aos sujeitos nós já estudamos os incidentes da intervenção de terceiros, estes estão
regulados, dizem em que situações é que é possível haver intervenção de uma terceira pessoa,
em alguns casos é o próprio réu que tem este interesse.
Porque por exemplo quer que essa terceira pessoa fique vinculada ao caso julgado.
Também pode haver alteração do ponto de vista subjetivo quanto à transmissão quer da posição
do autor quer da posição do réu, quer essa transmissão seja inter vivos ou mortis causa. Em
qualquer dos casos o que acontece é que é preciso provar ao tribunal essa transmissão, ou seja é
preciso provar que o adquirente tem uma qualidade que lhe permite vir a substituir se ao autor ou
ao réu.
Esta prova faz-se através da habilitação da pessoa que se quer substituir.
Exemplo: Acontece muitas vezes estar pendente numa ação, entre A e B, e o B morre, os
sucessores de B vêm substituir-se na posição de réu, para continuar a ação têm de vir provar a
tribunal que são eles os sucessores de B e isto faz-se através da habilitação.
Quanto às alterações objetivas, do pedido e da causa de pedir. Podem existir alterações por
acordo (raramente existem), na maior parte dos casos o que acontece é que o autor pode estar
interessado em alterar o pedido e a causa de pedir e já vimos em que condições é que isso é
possível.
Contestação:
33
Vamos primeiro ver como é que o réu contesta, e vamos ver o que é que acontece ao réu se ele
não cumprir o ónus de contestar, se entrar em situação de revelia.
Pedido de absolvição do pedido é o que o réu faz quando invoca uma defesa que se dirige ao
direito substancial imputado pelo autor, quando o réu vem invocar que o direito invocado pelo
autor se extinguiu, o autor pede o pagamento e réu alega que já pagou, por exemplo.
Neste caso temos um pedido de absolvição do pedido.
O que distingue a reconvenção é que aqui o pedido formulado pelo réu é um pedido autónomo ao
pedido de absolvição.
Quando há reconvenção há como que ações cruzadas em que ambas partes são
simultaneamente autor e réu, conforme o pedido que estamos a considerar.
Quando o réu formula um pedido reconvencional o réu é autor relativamente a este e o pedido que
formula é diferente do pedido de absolvição.
A reconvenção não é livre, não pode aproveitar uma ação para se resolver todas as questões que
tenham haver com o réu.
Normalmente tem alguma ligação com a contestação do réu, e este é o motivo pelo qual vamos
dar a reconvenção à propósito da contestação em sentido material. Vamos primeiro estudar a
contestação de defesa e depois a reconvenção
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Depois de darmos a contestação em sentido material vamos ver a:
2. Contestação em sentido formal
Vamos ver a contestação com trâmite, como é que o remete pode ou dever proceder para
contestar de forma regular.
E vamos sucessivamente ver a chamada contestação articulada, a contestação por mera junção
de documentos e a contestação por negação e vamos ver se todas elas servem.
Tem se discutido se vale ou não vale a contestação por mera junção de documentos.
Exemplo: Imaginar que a ação traduz se no exercício de um direito de crédito, o réu em vez de
uma contestação articulada, limita-se a juntar ao processo o recibo destinado a provar o
pagamento. O pagamento é um facto extintivo do direito que o autor invoca.
Tem se discutido se para a lei portuguesa deve se considerar que contesta ou não, o réu que se
limita a juntar um documento que prove um facto que tenha alguma proporção sobre o direito
invocado pelo autor.
Contestação por negação: O réu em vez de se pronunciar pelos factos alegados pelo autor, que é
o que normalmente se faz, o réu limita-se a dizer que não aconteceu nada que o autor alegou, ou
seja, nega em bloco ou a totalidade, ou pelo menos uma parte relevante da petição inicial.
Quando se fala em contestação defesa está-se a pensar na contestação que conclui com o pedido
de absolvição, a conclusão lógica da chamada contestação de defesa é a absolvição do réu, da
instância ou do pedido.
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Há várias distinções doutrinárias que têm sido oferecidas para fazer distinções dentro da chamada
contestação de defesa consoante esta seja mais direta ou menos direta.
Exemplo: Posso estar a por em causa frontalmente o pedido do autor invocando factos extintivos
do direito do autor, ou factos impeditivos do direito do autor, ou posso estar, a fazer aquilo que
muitas vezes a doutrina chama de defesa lateral.
É normal utilizar-se a distinção que a lei atual faz no artigo 571º que é dentro da contestação de
defesa, a defesa por impugnação e a defesa por exceção.
É uma das questões mais importantes a fazer se formos réus numa ação, que tipo de defesa é
que queremos utilizar, porque há determinadas regras para um caso e para outro.
E se formos autores também temos interesse em saber com todo o tipo de cuidado em saber qual
é o tipo de defesa que o réu utilizou que é para saber como reagir, porque também tem
consequências diferentes.
Como é que se distingue? Qual é a importância prática de saber qual foi a defesa do réu, se foi
por impugnação ou por exceção?
Costuma-se dizer que quando o réu se defende por impugnação não sai dos círculos constitutivos
do direito do autor.
O autor quando propõe uma ação invoca um determinado direito e alega factos constitutivos
desse direito, os factos que alegam a causa de pedir e os factos complementares.
Em qualquer dos casos estando o autor interessado em que o autor alegue que é titular de
determinado direito contra o réu, o que o autor alega são factos constitutivos do seu direito.
O réu ao contestar pode não sair do círculo dos factos constitutivos alegados pelo autor, e pode
não sair de várias formas, pode por exemplo nega-los frontalmente.
Quando o réu diz não vendeu, está em primeiro lugar a impugnar do ponto de vista dos factos
impugnados pelo autor. Temos aqui uma impugnação de facto direta.
Pode haver uma impugnação de facto indireta, dando uma versão dos factos ligeiramente
diferente. Não estou propriamente a alegar outros factos ou contra-factos, apenas estou a dar
uma versão diferente à história, aos factos que o autor alegou.
Em qualquer das hipóteses o réu está a defender-se por impugnação de facto, está a contrariar
diretamente ou indiretamente os factos que o autor alegou.
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Pode haver uma impugnação de direito, normalmente a impugnação de direito implica uma
aceitação dos factos.
Exemplo: o autor vem dizer que celebrou um contrato de mandato com o réu, obrigou-se a praticar
um determinado ato jurídico por conta do réu, e praticou, e pede ao juiz para condenar o réu a
pagar a retribuição correspondente. O réu pode vir dizer que é tudo verdade, que nem sequer
discute que o autor tenha praticado o ato que diz ter praticado, simplesmente segundo o código
civil, o mandato civil presume-se gratuito, e como não convencionaram nenhuma retribuição, o réu
nada deve ao autor.
Em todas estas situações o réu, em primeiro lugar não sai do círculo dos factos constitutivos
alegados pelo autor, no fundo não faz a defesa por exceção, mas umas vezes defende-se no
plano dos factos direta ou indiretamente, outras vezes defende-se no plano do direito.
Na defesa por exceção o réu toma uma atitude diferente, o réu trás questões novas que podem
atacar ou a relação processual ou a relação substantiva.
Ataca a relação processual se invocar obstáculos ao conhecimento do mérito da causa, isto é se
invocar exceções dilatórias, se invocar a falta de pressupostos processuais.
Defende-se por exceção, quando invoca obstáculos ao conhecimento da relação substantiva, e
portanto coloca a sua defesa no âmbito da relação processual.
Pode colocar a sua defesa no plano da relação substantiva, diz que invoca exceções que atacam
a relação substantiva, isto é quando invoca contra-factos. O réu invoca factos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito alegado pelo autor.
A defesa por exceção normalmente até significa que o réu aceita os factos que o autor alega.
Razões que justificam a importância prática de saber se o réu se defendeu por impugnação ou por
exceção:
Em primeiro lugar para o CPC anterior, saber se o réu se defendeu por impugnação ou por
exceção tinha logo relevância no nº de articulados admissível (por exemplo saber se o autor
dispunha ou não de réplica), hoje a questão não se põe nos mesmos termos porque a réplica está
prevista para reconvenção ou nas ações de simples apreciação negativa, mas coloca-se o
problema de saber se o autor pode aproveitar para responder, etc. Não é bem verdade que não
releve para efeitos de articulados.
Em segundo lugar nós havemos de estudar, artigo 572º al. c), que há uma regra da contestação
segundo a qual o réu deve tomar posição definida sobre os factos articulados pelo autor, sob pena
de a lei presumir que o réu os aceita.
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A lei hoje obriga o réu a distinguir dentro da contestação que apresenta se está a defender-se por
impugnação ou por exceção, porque se não fizer esta distinção, esta consequência da falta de
impugnação definida não se aplica ao autor- 572º/c).
Na defesa por exceção quanto aos factos constitutivos da exceção é o réu que tem o ónus da
prova, temos aqui uma sequência na repartição do ónus da prova, só tem importância saber se o
réu provou as exceções se o autor puder conseguir provar os factos constitutivos.
É importante para vários efeitos saber qual foi o tipo de defesa utilizada pelo réu e os mais
importantes são os referidos nesta aula.
18/03/19
A seguir vamos falar de outro tipo de classificação da contestação quanto à sua forma.
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Fizemos esta distinção, foi-nos explicada quais as consequências para as diferentes
contestações, nomeadamente em termos do princípio do contraditório e do princípio de prova.
O que nós vamos ver hoje é a defesa por exceção. Ao contrário da defesa por impugnação, em
que o réu contradiz diretamente ou indiretamente aquilo que foi alegado pelo autor na petição
inicial, quando o réu se defende por contestação exceção réu vem invocar factos novos, esta é a
grande caraterística desta contestação.
O réu sai do núcleo de factos alegados pelo autor e extravasa desse núcleo de factos vindo alegar
factos novos, no fundo a defesa por exceção traduz-se numa resposta do réu em termos “sim, é
verdade o que o autor diz, mas há este e este facto novo que levam a um resultado diferente
daquele que o autor pretende”.
O código civil é muito claro e o legislador fornece-nos uma noção daquilo que é a defesa por
exceção, artigo 571º/2, este permite-nos em primeiro lugar distinguir a defesa por impugnação e
por exceção, e diz que o réu defende-se por impugnação quando contradiz os factos articulados
na petição, ou quando afirma que esses factos não podem produzir os efeitos jurídicos pretendido
pelo autor, e portanto há aqui uma contradição direta, uma impugnação direta ou da matéria de
facto ou da matéria de direito.
Mas defende-se por exceção quando alega factos novos que obstam à apreciação do mérito da
ação ou que servem de causa modificativa, extintiva, impeditiva do direito invocado pelo autor e
determinam a improcedência total ou parcial do pedido. Ou seja, o que é comum há defesa por
exceção é a invocação de factos novos, o que o réu vem dizer não é propriamente negar os factos
alegados na petição, nem atacar os efeitos jurídicos que daí resultam, mas vem invocar factos
novos que impedem a procedência do pedido do autor.
Impedem a procedência do pedido do autor por duas vias, temos dois tipos de exceção:
- Exceção dilatória: temos uma sempre que, artigo 576º que nos dá uma noção destas duas
exceções, exceção dilatória é um facto novo mas que se traduz num obstáculo processual à
procedência da ação, factos novos relativos a questões processuais. Uma dilação é um período
de tempo que acaba por atrasar a ocorrência de um determinado facto. Estas exceções são de
natureza dilatória porque atrasam o conhecimento do mérito naquela ação em concreto, mas
pode noutra ação o juiz conhecer do mérito da causa uma vez que a procedência de uma
exceção dilatória conduz à absolvição do réu da instância e não do pedido.
Exemplo: O réu vem dizer que apesar do que o autor pede as partes não são legitimas, ele
réu não é parte legitima para estar na ação. O réu vem invocar um facto novo que é a
ilegitimidade, mas é um facto novo que impede que o juiz conheça do mérito da causa.
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- Exceção peremptória: estão em causa factos novos que são impeditivos, modificativos ou
extintivos do direito alegado pelo autor. Quando procedente esta exceção peremptória, em
regra conduz à absolvição do réu do pedido.
Exemplos: tudo o que são exceções que não são de natureza processual são exceções
peremptórias.
Vamos supor que numa ação A vem instaurar uma ação para condenar B a cumprir um
determinado contrato, diz que celebrou com o réu um contrato de compra e venda e o réu não lhe
pagou o preço, portanto quer que este seja condenado a pagar-lhe o preço.
Qual é a razão de ser principal da distinção entre a defesa por impugnação e por exceção? Isto
não é uma questão meramente teórica, é uma exceção relevante sobretudo em termos do direito
contraditório, porque se o réu não sai do círculo de factos alegados pelo autor, não há razão para
dar ao autor oportunidade de se pronunciar, porque este já disse tudo o que tinha para dizer. O
réu apenas vem exercer o contraditório em relação aquele mesmo conjunto de factos.
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Já quando o réu vem alegar um facto novo faz sentido que o autor possa ter a oportunidade do
contraditório relativamente aqueles factos novos.
É de extrema importância esta distinção entre defesa por exceção e defesa por impugnação.
Quanto à distinção entre exceções dilatórias e peremptórias é relevante mas mais do ponto de
vista da consequência jurídica da sua procedência e não tanto em termos de exercício do direito
do contraditório.
De qualquer maneira quer para as exceções dilatórias quer para as peremptórias há direito ao
exercício do contraditória.
Exemplo ainda nesta ação de cumprimento: vamos supor que o réu na contestação vem dizer que
já pagou o preço e que quem não entregou a coisa vendida foi o autor e portanto o réu pede ao
tribunal que condene o autor na entrega da coisa vendida. Que tipo de contestação é esta? É uma
contestação de defesa por exceção peremptória visto vir dizer que já pagou e um pedido de
reconvencional.
A reconvenção normalmente não surge sozinha vem sempre na sequência de uma contestação
de defesa, porque se o réu se limitasse a formular o pedido reconvencional estaria a admitir o
pedido formulado pelo autor.
Aspecto externo com que surge a contestação. De acordo com este critério distingue-se 3 tipos de
contestação:
- (mais comum, é o que a lei expressamente admite) Contestação articulada - a generalidade
das peças processuais deve ser apresentada por artigos, a cada facto corresponde um artigo,
isto resulta expressamente do artigo 147º do CPC, daí resulta a obrigação de como regra as
peças serem articuladas.
Há casos que fogem a estas regras e são discutidos na doutrina se devem ser admitidos ou não:
- Contestação por negação.
- Contestação por mera junção de documentos.
O que é que significa a contestação por negação? O réu nega em bloco toda a matéria constante
da petição, no fundo é uma contestação em que o réu se limita a dizer tudo o que autor alega é
falso e nenhum dos elementos jurídicos que o autor invoca é procedente.
Era uma negação em bloco de tudo o que é dito na petição inicial, atualmente este tipo de
negação é expressamente proibido pelo CPC.
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O legislador exige que o réu assuma uma posição definida sobre os factos e o direito alegados
pelo autor na petição inicial.
Esta necessidade de o réu vir pronunciar-se de forma definida por tudo alegado pelo autor na
petição inicial resulta do que está expresso do artigo 574º do CPC no nº1.
Porque é que não é admitida a contestação por simples negação? Porque no fundo o legislador
quer promover o contraditório do réu, a intenção do processo civil é a descoberta da verdade
material e esta só se alcança com a colaboração das partes. Para o legislador a contestação do
réu é uma coisa boa para o processo civil, daí as consequências graves da não contestação, daí
ser um ónus, daí a obrigação de se pronunciar sobre cada um dos aspetos mencionados na
petição inicial.
Contestação por mera junção de documentos (tb duvidosa na sua admissibilidade) será que é
válida uma contestação em que não entrego qualquer peça processual e limito-me a juntar aos
autos um documento?
Exemplo: o autor condena o réu ao pagamento de um preço, vamos supor que o réu no último dia
do prazo para contestar, mas ainda dentro do prazo para contestar vem juntar ao processo um
recibo de pagamento do valor que o autor pede.
Quando estes casos excecionais acontecem em que medida é que é admitido? A professora diz
que nunca viu acontecer, mas a doutrina trata deste assunto e diz que esta contestação só é
admissível desde que se verifiquem dois requisitos:
1. Tem de resultar expressamente do documento aquilo que o réu pretende alegar, tem de ser
um documento evidente do ponto de vista da alegação dos factos, como é o caso de um
recibo de pagamento. Há outros casos em que é mais duvidoso, se junto um contrato pode
resultar qualquer coisa relativamente aquilo que é alegado pelo autor, tem que ser um
documento de onde resulta de forma expressa e evidente o facto que o réu quer alegar.
2. O documento para servir como contestação tem de ser apresentado dentro do prazo da
contestação, este requisito faz sentido porque o prazo para a entrega de documentos é mais
extenso do que o para apresentação da contestação, o artigo 423º/1 e 2 do CPC, nº1 diz que
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os documentos são apresentados com o articulado, mas o nº2 diz que se não forem
apresentados com o articulado os documentos podem ser apresentados até 20 dias antes da
data em que se realiza a audiência final.
Eu posso apresentar documentos até mais tarde, mas esses documentos só podem valer como
contestação se forem apresentados no prazo da contestação.
Uma coisa é a articulação dos factos, outra coisa é a prova dos factos. No primeiro caso
normalmente usa-se a petição inicial e neste caso a contestação, para a prova dos factos
podemos usar os documentos, na contestação por mera junção de documentos estou a juntar as
duas coisas, através de um documento estou a articular e a juntar, se junto os dois aspetos na
contestação tenho de obedecer ao prazo mais curto que é o prazo da alegação de factos.
Desta forma não pode o réu vir apresentar este recibo querendo que ele sirva como alegação de
facto se vier apresentar o recibo dentro da apresentação da prova de documentos e não do
articulado.
Estes são os dois requisitos para a doutrina admitir este tipo de contestação por mera junção de
documentos.
A professora considera que não é aconselhável proceder desta forma enquanto advogados até
porque o juiz pode considerar que o documento não é óbvio quanto à alegação dos factos e
portanto não o aceita como contestação.
A prova não serve de nada se os factos não estiverem alegados, os factos que têm de ser
alegados pelas partes, se a parte não os alegue e depois tem de vir juntar prova, o juiz como
regra vai indeferir a prova por considerar que é meramente dilatória, uma vez que os factos tinham
de ser alegados e não foram.
Outra coisa são os factos que o juiz pode tomar em consideração mesmo que não tenham sido
alegados. Há factos que podem resultar da instrução da causa e que o juiz pode considerar
oficiosamente, quanto a estes não há problema.
Quanto aos que têm de ser alegados pela parte e que não foram, não basta a junção da prova a
não ser no caso da contestação por mera junção de documentos.
Exceções dilatórias: são as que o réu alega factos novos capaz de obstar a apreciação do mérito
da ação, e que não têm como consequência a absolvição da instância ou a remessa de processo
para outro tribunal.
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Há uma lista de exceções dilatórias no artigo 557º do CPP é uma lista mas não é taxativa, é
exemplificativa.
Em termos de regime, e diz-nos o 578º, as exceções dilatórias são de conhecimento oficioso, ou
seja apesar de o réu as poder invocar na contestação, a regra é de que o juiz mesmo que o réu
não as tenha invocado, o juiz pode conhece-las, mas há exceções.
Mesmos os casos de exceções que são de conhecimento oficioso, o réu não perde nada em vir
invocá-las na contestação, muitas vezes vai lembrar ao juiz aspetos que pode não se ter lembrado
e invocar razões que o juiz pode não se ter lembrado.
Há uma exceção dilatória que a professora quer chamar à atenção no artigo 577º alínea i), que é
a litispendência ou caso julgado.
(Vamos antecipar matéria da sentença).
Até à reforma de 95/96 a litispendência e o caso julgado funcionava como uma exceção
peremptória e não dilatória, hoje em dia está expressamente na lista das exceções dilatórias o que
faz com que se o juiz considerar procedente a invocação destas exceções o juiz deverá absolver o
réu da instância e não do pedido.
O que significa que outro tribunal, noutra ação, poderá julgar diferentemente.
Ainda antes de a decisão se tornar definitiva, ainda na pendência da ação o legislador considerou
que não podem estar pendentes simultaneamente duas causas iguais, quando há uma pendência
de duas causas iguais esse fenómeno chama-se litispendência.
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Quando há duas causas iguais, mas uma posterior ao transito em julgado da outra, diz-se que há
caso julgado.
Esta é a única diferença que existe entre estas duas figuras.
A semelhança é a identidade de causas.
Como é que eu sei quando é que há a repartição de duas causas quer em termos de
litispendência, quer em termos de caso julgado?
O artigo 581º diz nos quando há repetição de causas, e para determinar quando há repartição de
causas temos um critério de triplicidade, ou seja, sempre que temos uma identidade em termos de
sujeitos, pedido e causa de pedir.
São estes os 3 elementos que relevam para efeitos de considerar uma causa idêntica à outra.
Sempre que haja uma causa com estes 3 há uma repetição de causas.
Há caso julgado se a anterior transitou em caso julgado, há litispendência se a anterior não
transitou em julgado.
A propósito da litispendência, sendo que quando há caso julgado o tribunal já não pode julgar a
segunda, se estão duas pendentes ao mesmo tempo qual delas é que o tribunal vai absolver da
instância, qual delas é que o tribunal não pode julgar?
Para isso temos no artigo 582º o critério de que a litispendência deve ser deduzida na ação
proposta em 2º lugar, ao contrário do que se possa julgar não é a que entrou depois, mas sim a
que o réu foi citado em segundo lugar, nº2 do artigo 582º. O que conta é a data da citação do réu.
Exemplo: ação A e ação B, a ação A entrou 1º, mas se o réu for citado em 1º lugar na ação B
então a litispendência que existe é relativamente a ação A.
A litispendência não é admitida, e em círculos judiciais mais pequenos até podia dar origem a uma
espécie de fraude (exemplo da história da aula passada sobre as 3 ações pelo mesmo advogado).
Exceções peremptórias: são infindáveis dependente do direito invocado pelo autor na ação. O
artigo 579º do CPC que nos diz que também as exceções peremptórias são de conhecimento
oficioso, excepto aquelas cujas invocação a lei não torne dependente da vontade do interessado,
como é o caso evidente por exemplo da prescrição.
O que é que significa este conhecimento oficioso pelo juiz das exceções peremptórias? Não
significa que o juiz na ação de cumprimento do pagamento do preço que o juiz sabe ou descobre
que o réu já pagou, o juiz não pode oficiosamente vir julgar improcedente a ação porque o réu já
pagou.
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O que o juiz pode fazer é retirar dos factos do processo geralmente trazidos pela parte, retirar a
consequência jurídica desses factos ainda que a parte não os tenha alegado, isto no domínio da
qualificação jurídica.
O artigo 579º quando nos diz que as exceções peremptórias são de conhecimento oficioso está a
falar das exceções peremptórias não no plano dos factos, visto o juiz não poder fornecer para
além dos factos que lhe são permitidos, mas está a falar no plano do direito.
Ou seja, no fundo o que está a dizer é o mesmo que diz o artigo 5º/3, que o juiz não está
vinculado pela qualificação jurídica das exceções invocadas pelo réu na contestação.
Há um conhecimento oficioso relativo das exceções peremptórias, ambas as partes têm de estar
presentes para o juiz poder conhecer dessa ação.
Há uma série de regras e uma série de princípios que o réu tem de respeitar quando apresenta a
sua contestação de defesa.
Este princípio está consagrado no 573º do CPC e no fundo é uma manifestação de um princípio
maior, transversal a todo o processo civil, que é o princípio da preclusão, isto é há momentos
próprios ao longo da marcha do processo para a prática dos diversos atos processuais.
E portanto, uma vez que as partes não pratiquem um determinado ato em determinado momento
ao caso processual já não poderão praticar mais tarde.
O réu tem o ónus de concentrar toda a sua defesa na contestação, e apresentá-la no prazo da
contestação, tudo o que o réu tenha a dizer relativamente ao pedido do autor, o réu tem de dizer
na contestação.
Não pode o réu ao longo da ação cada vez que se lembra de mais um pormenor vir a acrescentar
ao processo.
É na contestação e é no prazo de 30 dias, há uma certa desigualdade real entre o autor e o réu. O
autor pode levar 6 meses a preparar a sua petição inicial.
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Há aqui uma certa desigualdade que o legislador tenta equilibrar quer através da possibilidade
que o réu tem de pedir uma prorrogação do prazo, que o juiz ao abrigo do seu poder de gestão
processual pode conceder, justificadas certas circunstâncias.
Há casos também quando a citação é no estrangeiro, há uma dilação do prazo.
Há um pressuposto processual que tem como fundamento específico a proteção do réu, que é de
repente surpreendido pela propositura de uma ação.
Qual é o pressuposto processual que tenta de alguma forma proteger o réu de toda e qualquer
propositura de qualquer ação que o autor se lembre? O interesse em agir, para além de ser uma
defesa da máquina da justiça, para não se ter um custo sem necessidade dos meios judiciários, e
também por defesa do réu.
Suspeições do juiz é diferente de impedimentos do juiz, os impedimentos são casos mais graves
de relação do juiz com a causa. As suspeições são casos em que o juiz não está impedido de
julgar, mas uma vez que se gera esta desconfiança a outra parte pode vir invocar a suspeição do
juiz, fica na disponibilidade da parte que levanta a suspeição.
O prazo para a dedução da suspeição, diz o artigo 121º é o mesmo da contestação, no entanto é
necessário que esta suspeição seja apresentada num articulado separado, isto porque a
suspeição não é uma forma de defesa do pedido articulado pelo autor, por isso se exige que seja
apresentado como uma defesa separada.
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- Defesa diferida ou posterior: casos em que os meios de defesa podem ser deduzidos
posteriormente à contestação, num prazo mais alargado. Quais são estes casos de defesa
diferida ou posterior? Em primeiro lugar os casos dos articulados supervenientes. Vimos que há
factos supervenientes que justificam que as partes possam vir apresentar articulados fora do
tempo normal em que deveriam ser apresentados, não é uma petição inicial, não é uma
contestação, mas admite-se e isto está consagrado no artigo 588º que quando existam factos
supervenientes que a parte não pode alegar num momento próprio, que seria a petição inicial
ou a contestação, a parte pode vir alegar posteriormente.
Isto não significa dizer que os factos possam vir a ser alegados mais tarde, os factos têm de ser
alegados no momento próprio, na contestação do réu, mas vamos supor que há uma nulidade por
vício de forma de um contrato, e o autor vem alegar o contrato e o réu na contestação não invoca
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a nulidade do contrato, mas estão lá todos os factos, foi provado que o contrato foi celebrado
através do respetivo titular, por escritura pública, etc. ainda que não venha a parte invocar a
nulidade daquele contrato, como o juiz conhecer oficiosamente a qualquer momento, a parte
também pode fazê-lo.
No fundo a parte não vem alegar um facto novo mas sim suscitar. Isto relativamente às exceções
dilatórias ainda é mais evidente visto estar perante um conhecimento oficioso mais tardio.
Este princípio está consagrado no artigo 574º do CPC e no fundo resulta daí que a citação
constitui o réu no ónus de impugnar os factos alegados pelo autor, é um ónus porque se não o
fizer, esses factos consideram-se nos termos do artigo 574º/2 admitidos por acordo.
Há algumas exceções previstas no 574º/2 nomeadamente se esses factos tiverem oposição com
a defesa considerada no seu conjunto, ou se não for admissível condição sobre eles, ou se só
puderem ser provados por documento escrito, isto são exceções admissíveis a esta ambição de
admissão por acordo dos factos impugnados.
Exemplo: facto que o réu se esquece de impugnar, a defesa considerada no seu conjunto, o
sentido daquele facto resulta como impugnado.
A regra é de que os factos não impugnados pelo réu consideram-se admitidos pela parte contrária,
este ónus da impugnação, este princípio do ónus da impugnação, está consagrado no 574º/1,
qual é o seu conteúdo?
Este artigo diz-nos que ao contestar deve o réu tomar posição definida perante os factos alegados
pelo autor, ora bem, o legislador diz posição definida, não diz posição individual sobre os factos.
A posição do nosso legislador quanto a este ónus de impugnação variou ao longo do tempo,
originariamente isto tinha um ónus de impugnação especificada, ou seja, o réu tinha de
pronunciar-se especificadamente sobre cada um dos factos alegados pelo autor.
Hoje em dia considera-se que, depois da reforma de 95/96, o ónus de impugnação do réu não é
de uma impugnação especificada, é de uma impugnação definida, isto é diferente.
O réu não tem de se pronunciar sobre cada um dos factos especificados pelo autor, desde que do
conjunto da sua defesa todos os factos alegados pelo autor resultem contraditados, ou seja ainda
que não vá artigo a artigo e que o réu não se pronuncie em bloco, eles consideram-se
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impugnados. Aqueles que não se considerem impugnados então consideram-se admitidos por
acordo.
A revelia é a não contestação, aqui não há uma não contestação, pode é haver uma contestação
apenas parcial e alguns factos serem dados como admitidos. A revelia é uma confissão dos factos
em bloco, o ónus da prova é mais restrito.
Relativamente a este ónus da impugnação, este princípio do ónus da impugnação não se aplica
apenas há contestação, aplica-se também à réplica e aos articulados supervenientes, ou seja, se
por exemplo na réplica o autor for responder ao pedido reconvencional, ou responder às
exceções, se não responder consideram-se admitidos por acordo, e o mesmo quanto aos
articulados supervenientes. Isto encontra-se previsto no artigo 587º do CPC, esta extensão do
ónus da impugnação aos outros articulados.
No artigo 574º/3 há um caso especial em que pode acontecer, e acontece muitas vezes, que o réu
na contestação venha dizer que não sabe se os factos alegados pelo autor são verdade ou não,
não se lembra se os factos alegados pelo autor são ou não verdade. Isto significa uma
impugnação ou uma admissão por acordo? Não sabemos porque o conteúdo do que o que o réu
diz não é nem uma coisa nem outra.
O legislador no 574º/3 resolveu dar um significado declarativo a este desconhecimento invocado
pelo réu, e diz-nos que o réu declarar que não sabe se determinado facto é real, essa declaração
equivale a confissão quando se trate de um facto pessoal que devia ter conhecimento e equivale a
impugnação do caso contrário.
O legislador tentou tirar um significado deste desconhecimento do réu, vamos imaginar que diz
respeito a um facto que o réu praticou e este diz que não se lembra se o praticou ou não, sendo
um facto pessoal do réu, se o réu disser isto equivale a uma confissão do facto. Se for um facto de
que o réu não é obrigado a ter conhecimento, não é um facto pessoal, ou porque o réu não estava
presente, o dizer que não conhece equivale a uma impugnação dos factos alegados.
26/03/19
Contestação-reconvenção
50
A contestação é uma espécie de contra-ataque que o réu faz relativamente ao autor, faz com que
passem a existir duas ações cruzadas, e que autor e réu passem a ser simultaneamente autores e
réus de um pedido formulado de um contra outro.
Mas a verdade é que o pedido reconvencional ao contrário da contestação de defesa não é livre,
ou seja o réu não pode sempre que deseja formular um pedido reconvencional contra o autor,
depende de certas circunstâncias sob pena de repente submeter todo o processo em razão da
economia processual
Não é qualquer pedido que o réu queira formular contra o autor que pode ser formulado naquela
ação, é necessário que se verifiquem certos requisitos que são garante do respeito em economia
processual naquela ação ou então aquela ação vai ser prejudicada em razão dos pedidos
formulados pelo réu.
Existe uma série de requisitos de admissibilidade para a reconvenção, aliás requisitos esses que
são comuns a outras figuras que já vimos e discutimos várias vezes, como a formulação de
pedidos, a coligação, os pedidos acabam por ser todos equivalentes a essas situações de
economia processual.
Quais são os requisitos que têm de se verificar para que o réu possa formular o pedido contra o
autor?
1. Requisitos de ordem substantiva: traduzem-se na necessidade de que exista uma conexão
entre o pedido principal e o pedido reconvencional. O réu não pode formular qualquer pedido
contra o autor, não pode ser formulado um pedido se o réu nada tiver contra o autor. Que tipo de
relação é que tem de existir? Qualquer uma das relações previstas no 266º/2, neste artigo estão
previstas uma série de relações entre o pedido principal e o pedido reconvencional e desde que
exista qualquer uma delas, não são cumulativas, qualquer uma delas é suficiente para que exista
o pedido reconvencional.
a) “Quando o pedido do réu emerge do facto jurídico que serve de fundamento à ação ou à
defesa;” Ou seja, como fundamento da ação ou da defesa do réu há factos que podem
justificar um pedido reconvencional.
Exemplo: Uma ação em que o autor vem invocar que celebrou um determinado
contrato com o réu e pede a condenação do réu no cumprimento. Vamos imaginar
que o contrato é de cariz sinalagmático e o réu vem dizer é verdade que não
cumpriu mas é porque o autor ainda não cumpriu a parte dele que era primeiro, e
por isso condene-se o autor no cumprimento da prestação. No fundo há aqui um
pedido reconvencional cuja causa de pedir incide sobre os elementos alegados
51
neste caso pelo réu na contestação, há aqui uma relação com o pedido do autor.
Há outras situações de relação possíveis.
d) “Quando o pedido do réu tende a conseguir, em seu benefício, o mesmo efeito jurídico que
o autor se propõe obter.” É muito frequente nas ações de reivindicação, em que o autor
vem pedir a condenação do réu a reconhecer a sua propriedade e entregar-lha e o réu
vem dizer que a propriedade do bem é dele, e que quem tem de ser condenado a
reconhecer a sua propriedade é o autor. O pedido que o réu faz contra o autor é o mesmo
que o autor faz contra o réu, é o caso típico em que se admite a cumulação.
2. Existem também requisitos de cariz processual, para que o pedido reconvencional seja
admitido, são estes a competência absoluta e a identidade da forma de processo.
Há aqui uma única diferença em relação ao que já falamos da coligação e da cumulação de
pedidos, é que aqui já há um pedido inicial proposto, já há um tribunal competente e já há uma
forma de processo no momento em que é formulado o pedido reconvencional.
Aquilo que temos de fazer é analisar se o pedido reconvencional se encaixa na competência
absoluta do tribunal onde a ação está a decorrer e se encaixa na forma de processo que já está a
ser efetivamente seguida.
52
Portanto, há aqui um pedido que chega mais tarde do que os outros porque é formulado pelo réu,
se há um pedido reconvencional que é formulado para o qual aquele tribunal não tem
competência absoluta ou para o qual a forma de processo não é a adequada, a consequência vai
ser ou a absolvição da instância do pedido reconvencional.
Atenção:
O pedido reconvencional é um pedido autónomo, o juiz vai poder pronunciar-se quanto à instância
apenas do pedido reconvencional o outro continua.
Ou em termos de forma de processo a mesma coisa, se houver um erro na forma de processo das
duas uma, ou é possível o tribunal adaptar, e isto é exatamente o que é dito quanto ao requisito da
forma de processo para as outras figuras, portanto o tribunal adapta, ou se não é possível haverá
também a absolvição da instância do pedido reconvencional.
53
E portanto ainda que as partes não sejam as mesmas é possível que o pedido reconvencional
seja formulado não apenas contra o autor mas também contra outros que sejam entretanto
supervenientemente chamados à ação.
Admissibilidade da reconvenção
Encontra-se prevista no 266º/2/c), e aqui prevê-se que a compensação possa ser invocada pelo
réu através do pedido reconvencional.
Depois do código de 2013 a questão tornou-se relativamente pacífica, mas para trás existiam
várias dúvidas quanto a esta questão, hoje apesar de já se encontrar resolvida pelo legislador não
quer dizer que esta questão não volte a ser suscitada.
É importante perceber em termos históricos o que está para trás que é para percebermos a
sucessão que existe hoje e que nunca se sabe quando é que o legislador resolve optar por outra
solução.
Qual foi a questão que esteve por detrás desta admissibilidade da reconvenção?
De acordo com o código civil de 1966 (código que está em vigor) o artigo 848º/1 diz que a
compensação torna-se efetiva mediante a declaração de uma das partes à outra. Nós sabemos
que a compensação é uma extinção reciproca de créditos de valor igual ou inferior e portanto há
uma extinção dos créditos naquela parte e a extinção dos créditos através de compensação
opera-se através da declaração de uma das partes à outra.
No entanto o 847º/1 do código civil diz-nos que os créditos consideram-se extintos a partir do
momento em que se consideram compensáveis, ou seja, a partir do momento em que há as
condições para a compensação, um crédito e um contra-crédito do credor e do devedor eles
extinguem-se. Mas para se tornar efetiva a compensação é necessária a declaração de uma das
partes à outra.
Isto é importante porque tudo o que é no plano substantivo tem repercussões no seu
funcionamento a nível processual.
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O problema que sempre se levantou era o de saber se esta declaração de compensação de
créditos feita pelo réu tinha a natureza de reconvenção ou se constituía apenas uma exceção
peremptória.
Não era claro antes do CPC de 2013 e na vigência do código civil de 1966 saber qual era o meio
processual adequado, isto porque apesar de ser verdade que quando o réu vem invocar a
compensação, vem invocar uma relação creditícia autónoma, para haver compensação podem
estar em causa créditos diferentes.
A relação jurídica que o autor vem invocar é diferente da que o autor invocou, e nesse aspeto há
aqui uma semelhança com a reconvenção, portanto há uma relação jurídica autónoma que é aqui
invocada.
No entanto o objetivo do réu quando invoca a compensação é ser absolvido do pedido, e esse
efeito é o efeito típico de uma exceção peremptória.
No a compensação em termos processuais acaba por ser uma figura híbrida entre a defesa por
exceção e a compensação por reconvenção uma vez que tem aspetos mistos caraterísticos dos
dois tipos de defesa, e por isso é que a questão se levantou na doutrina processualista.
Não havia uma norma como a do 266º/2/c) e portanto discutia-se qual a forma correta de vir
invocar a compensação.
55
Em rigor isto não fazia muito sentido, porque na parte da compensação estávamos sempre a
seguir regimes diferentes quando em rigor a figura substantiva que estava a ser invocada era a
mesma. Mas esta era a doutrina que era seguida, nomeadamente o professor Antunes Varela,
professor Lebre de Freitas, isto anteriormente ao código de 2013.
A partir do código de 2013 toda esta discussão acabou por ficar expressamente consagrada no
artigo 266º/2/c) e que diz muito claramente que a reconvenção é admissível “Quando o réu
pretende o reconhecimento de um crédito, seja para obter a compensação seja para obter o
pagamento do valor em que o crédito invocado excede o do autor;”
Isto é, seja inferior, seja superior, tanto faz, o regime que se deve sempre seguir é o do pedido
reconvencional, ao contrário do que se dizia anteriormente na doutrina.
Porque é que esta questão da discussão é importante? Porque é que pode fazer toda a diferença
dizer que se aplica o regime da contestação ou da reconvenção?
É muito mais favorável que a defesa seja qualificada como defesa por exceção. Porque a defesa
por exceção é muito mais facilmente admitida do que a defesa por reconvenção que tem uma
série de requisitos acrescidos.
Quais são as grandes diferenças de regime entre estas duas modalidades de contestação?
1. Qual é o regime das exceções quanto à competência/ incompetência:
Como resulta do artigo 91º/1, o tribunal competente para a ação é automaticamente competente
para conhecer as exceções invocadas pelo réu.
A alegação de exceções pelo réu é um exercício do direito ao contraditório. Se tivesse que exigir
para que o réu se pudesse defender por exceção que o tribunal tivesse que ser competente em
função de x, y, z, estaríamos a limitar o direito ao contraditório.
Há uma regra da competência automática do tribunal para o pedido do autor para poder conhecer
qualquer exceção invocada pelo réu, tem que ter necessariamente algo a ver com o pedido
principal, porque são factos novos, são modificativos, impeditivos ou extintivos do direito do autor.
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Vendo isto agora lateralmente, aplicando isto à compensação, o que o CPC 2013 fez ao consagrar
expressamente que a compensação é um pedido reconvencional fez com que para o réu possa
ser mais difícil vir invocar um contra-crédito, porque se o tribunal do pedido do autor não for
absolutamente competente para conhecer esse pedido reconvencional isso faz com que vá ser
condenado quando no fundo é dono de um contra-crédito por vezes superior contra o próprio
autor.
Chamar à compensação defesa por reconvenção vai dificultar mais ao réu invocar um contra-
crédito.
Isto não quer dizer que não possa invocar mas tem de o fazer numa ação autónoma e portanto
naquela ação vai ser condenado, mesmo que depois consiga a condenação do autor noutra ação.
Em que medida é que a defesa por exceção invocada pelo réu está abrangida pela força de caso
julgado da decisão?
O artigo 91º/2 diz que em regra (há exceções) o caso julgado material, não abrange as questões
suscitadas pelo réu na sua defesa, ou seja, não está coberta pela força de caso julgado material
da decisão a defesa por exceção invocada pelo réu.
Pelo contrário o pedido reconvencional claro que está abrangido pela força de caso julgado,
porque é um pedido autónomo, sendo um pedido autónomo quando o tribunal for decidir o pedido
do autor vai também se pronunciar autonomamente sobre o pedido do réu, até pode condenar o
réu no pedido do autor e não condenar o autor no pedido reconvencional.
São dois pedidos autónomos sobre o qual a sentença se vai pronunciar e pode-se pronunciar em
termos contrários.
O pedido reconvencional é como que uma decisão sobre o pedido principal, tem força de caso
julgado material.
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O que é que isto quer dizer em termos de compensação?
Quer dizer que se a compensação fosse tratada como uma defesa por exceção, isso significava
que se o pedido fosse improcedente, o réu podia voltar a propor uma outra ação a cobrar o valor
contra o autor, e isto não faria sentido.
3. O Valor da causa:
Em que medida é que a formulação de uma defesa por exceção ou de um pedido reconvencional
interfere no valor da causa?
Como se compreende da natureza dos 2 pedidos, sendo a defesa por exceção uma mera defesa
o valor inicial da causa que resulta do pedido formulado pelo autor não é alterado em função de
um contra-crédito que fosse invocado por exemplo como defesa por exceção.
E portanto a defesa por exceção não altera o valor da causa.
Já um pedido reconvencional tem um valor económico autónomo, é uma pretensão que o réu
formula contra o autor e portanto resulta das regras gerais do 299º/2, que é um artigo que está no
âmbito das normas que determinam o valor da causa. Resulta deste artigo que o valor da causa
passa a corresponder a soma dos pedidos do autor e do réu quando haja um pedido
reconvencional.
No entanto há exceções a esta regra, uma das exceções a esta regra que a doutrina muito se
insurgia contra isto, no pedido da compensação de créditos, porque vinha dizer que não fazia
sentido quando o réu invoca uma compensação de créditos, apesar de dever ser tratado como um
pedido reconvencional em rigor não acrescenta ali nenhuma utilidade económica acrescida.
Porque no fundo o que o réu está a fazer a invocar a compensação normalmente está a pedir que
seja absolvido no pedido e portanto seria artificial somar o o valor da compensação ao do crédito
inicial.
E por isso o legislador estabeleceu uma exceção a esta regra de que o valor é a soma do pedido,
é a soma do pedido principal mais o pedido reconvencionado, e essa exceção acontece
precisamente na compensação de créditos, artigo 530º/3 diz que quando à compensação de
créditos a lei considera que apesar de ser tratado como reconvenção não há um pedido distinto.
O artigo 266º/2/c) diz que a compensação deve ser tratada como um pedido reconvencional mas
depois o 530º diz que no valor da causa não se considera um pedido distinto o pedido
reconvencional, isto porque a compensação visa apenas absolver o réu do pedido.
Já quando pretende a condenação do autor no excedente, aí sim já há um valor distinto que deve
acrescer ao pedido inicialmente formulado.
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A dúvida que existia antes do CPC de 2013 não era quanto ao excedente era apenas quanto à
compensação propriamente dita.
Exemplo: Vamos imaginar o pedido das benfeitorias, o pedido do réu numa ação de despejo pede
as benfeitorias, se o autor vem desistir do pedido do despejo, o pedido das benfeitorias também
cairá, mas essa não é a regra.
A regra é que sendo a reconvenção um pedido autónomo então o pedido reconvencional continua
a ser conhecido mesmo depois da desistência do pedido.
Isto resulta dos artigos 286º/2 e 266º/6.
Iremos ver mais à frente nas aulas que isto não é bem assim mas que em termos simples é assim.
Neste aspeto tudo apontaria a que a contestação fosse tratada como um pedido reconvencional,
não faria sentido no caso da compensação de créditos que de repente o réu viesse invocar uma
relação de crédito completamente nova para compensar o pedido do autor e não fosse feito um
novo articulado para responder ao réu.
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A natureza ambivalente da compensação faz com que em muitos aspetos lhe seja mais adequado
o regime da reconvenção e por isso é que o CPC optou por este.
01/04/19
Estávamos a dar a matéria da contestação, hoje vamos tratar das consequências da falta de
contestação:
O que é que acontece quando o réu é citado para apresentar contestação e não o faz?
Ao contrário do que acontece com a petição inicial que é obrigatória, não há ação, não há
processo sem petição inicial, a contestação pode existir ou não existir.
A contestação é apenas um ónus, logo o réu pode optar por não contestar, mas se não o fizer irá
sofrer as consequências desfavoráveis da não contestação que iremos ver nesta aula.
Não sofre as consequências de uma prática ilícita pois trata-se de um ónus e não de uma
obrigação.
O legislador do sistema processual vê como uma vantagem o facto de o réu contestar, para a
descoberta da verdade material é essencial poder ouvir a versão das duas partes. A contestação
correspondendo ao exercício do direito do contraditório por parte do réu e ao mesmo tempo há um
interesse público em que o réu apresente a contestação.
Não estão em causa só os direitos do réu e a tutela ao direito do contraditório mas também o
interesse público da descoberta da verdade material. Esta é a razão pela qual a contestação é um
ónus e não um simples direito, uma simples faculdade, pois estão por de trás interesses de busca
da verdade material.
Ao ser um ónus, isso significa que se o réu não contesta há todo um regime aplicável que
pretende penalizar o réu por esse facto e pressiona-lo a que ele apresente contestação.
Essas consequências desfavoráveis o que pretendem é que aquele que está onerado com esse
ónus acaba por respeita-lo em benefício de um interesse maior.
O que é que acontece quando o réu não apresenta contestação dentro do prazo legal?
Em primeiro lugar importa distinguir duas situações diferentes na sequência da não contestação.
Revelia Absoluta:
A primeira situação é aquela em que o réu apesar de não ter apresentado contestação também
não teve qualquer intervenção no processo.
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Que tipo de intervenção é que podia ter para além da apresentação da contestação?
Podia ter constituído advogado, vir ao processo consulta-lo, apresentar uma certidão a dizer que a
sua morada é diferente da que está no processo.
O réu pode ter intervenções no processo independentemente da contestação. Isto coloca o réu
numa situação de revelia absoluta.
Revelia Relativa:
São 2 situações diferentes, a primeira coisa que temos de ver é se o réu está numa situação de
revelia, ou seja não contestação, e se é absoluta ou relativa, dependendo destas circunstâncias.
Na hipótese de o réu estar em revelia absoluta a primeira coisa que o tribunal deve fazer é
verificar se a citação do réu foi bem feita, foi feita com observância de todas as formalidades
legais, se não tiver sido determina a repetição da citação. Isto está previsto no artigo 566º CPC,
que é o primeiro artigo que começa a tratar da matéria da revelia.
O artigo 566º diz que em qualquer situação de revelia absoluta a primeira coisa que o juiz tem de
fazer é ver se a citação foi bem feita, o que se compreende, se o réu não dá sinal de vida no
processo, há uma grande probabilidade que possa nem ter conhecimento que a ação foi proposta
contra ele.
A primeira coisa que tem de fazer é se a citação foi ou não bem feita, se foi bem feita manda
repetir.
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Enquanto que na hipótese A , de revelia absoluta, o juiz primeiro tem de interferir e verificar se
está tudo correto para depois se estiver tudo correto aplicar as consequências da revelia. Na
hipótese B é automático pois há provas que o réu tomou conhecimento do processo e dessa
forma se não contestou o ónus é dele e sofre automaticamente os efeitos da não contestação.
Consequências da revelia:
1º. O primeiro efeito está no nº1, aqui a lei ficciona que o réu está a confessar, está a atribuir ao
silêncio do réu um valor de confissão dos factos articulados pelo autor. Este é o efeito mais
gravoso da revelia do réu.
O facto de se considerarem admitidos todos os factos ditos pelo autor não significa a condenação
do autor. São coisas diferentes, vamos imaginar que os factos articulados pelo autor foram mal
articulados e não são suficientes para daí retirar a procedência do pedido do autor.
Claro que tendencialmente quando há revelia a grande probabilidade é que o réu venha a ser
condenado, porque os factos alegados pelo autor foram todos dados como provados, mas pode
acontecer que não, pode a petição inicial não estar bem feita, pode o autor por algum motivo
desistir do pedido ou da instância, pode o juiz considerar que o autor não tinha razão nenhuma
mesmo com os factos que alegou, pode a questão ser apenas uma questão jurídica portanto os
factos estão todos provados mas o juiz considera que do direito invocado não resulta a
procedência do pedido.
Há uma grande probabilidade de os factos dados como provados significarem a condenação do
autor, mas não é a mesma coisa, pode não acontecer.
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A regra é a que se encontra prevista no artigo 567º “confessados os factos articulados pelo autor”.
Esta é a primeira consequência da revelia.
3º. O terceiro efeito da revelia é a preclusão da possibilidade de o réu vir invocar factos
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor, portanto a preclusão da possibilidade
de o réu vir invocar novos factos. Isto é uma consequência evidente de ter passado prazo da
contestação, é uma consequência evidente daquele princípio da concentração dos meios de
defesa na contestação.
Se o réu deixou passar o prazo da contestação como é evidente para além de se considerarem
admitidos por acordo os factos alegados pelo autor o réu deixa de poder ter a possibilidade de
invocar o que quer que seja na contestação, nomeadamente factos novos quer relativos à matéria
substantiva ou à processual.
Tudo o que são factos cujo o momento próprio de alegar era na contestação, como é evidente
porque é uma consequência natural da revelia há a preclusão da possibilidade de os vir alegar.
Questão que as vezes se coloca na doutrina, que é o seguinte, tendo em conta que um dos
efeitos da revelia é que se consideram confessados os factos articulados pelo autor, há alguma
doutrina em que se vem colocar a questão de saber se esta revelia que implica a confissão dos
factos pode ou não ser anulada.
Exemplo:
1. O réu não contestou porque o autor exerceu sobre ele qualquer forma de coação física ou
moral que o levou a não contestar, o autor exerceu uma forma de pressão sobre o réu que
determinou que não tivesse contestado.
2. O autor convenceu o réu de que não valia a pena contratar um advogado porque entretanto
tinha decidido que ia desistir do pedido, e portanto o réu de boa fé convenceu-se de que o
autor o ia fazer, acreditou na suposta boa fé do autor e não apresentou contestação.
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3. Por algum motivo, porque a ação é uma simulação, vamos supor que o processo instaurado
pelo autor contra o réu foi uma forma de simular um determinado ato que não seria autorizado
no plano substantivo, por exemplo a questão da proibição de determinados atos entre pais e
filhos, vamos supor que os pais e um determinado filho a quem queriam favorecer resolvem
que o filho instaura uma ação de reivindicação de um determinado bem e combina com os
pais que estes não contestam, e a ação acaba por ser julgado procedente. Este tipo de acordo
é um acordo simulatório para conseguir que um bem que pertencia aos pais, os pais perdendo
a ação indiretamente estão a recorrer a mecanismos processuais para favorecer aquele filho,
é um exemplo de fraude processual.
4. O réu convence-se erroneamente que os factos articulados pelo autor são verdadeiros e
resolve não contestar mas depois arrepende-se. Ou o réu achava que tinha 40 dias para
contestar e afinal só tinha 30.
Portanto, a pergunta aqui feita é se esses meios de anulação podem ou não ser aplicados a uma
confissão que não é expressa mas é ficta?
Até porque a pergunta vem do facto de repugnar atribuir a esta confissão ficta uma força
probatória superior à confissão expressa, se eu não a posso invalidar com base em qualquer
fundamento que servem para invalidar a confissão expressa, então isto significa que esta
confissão ficta resultante da não contestação tem uma força ainda maior.
E por isso a doutrina discute esta questão, até porque não há nenhuma norma como o 359º do
código civil que se aplique diretamente a este caso.
A doutrina e a jurisprudência optaram por distinguir dentro destes exemplos, 2 tipos de situações,
ou seja quando a falta de contestação tenha que ver com a intervenção do autor, quando este
tenha tido intervenção na razão da não contestação, entendem que nesse caso a confissão ficta
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poderá ser anulada com fundamento em vícios da vontade, portanto quando o autor seja
responsável pela não contestação do réu.
Nos exemplos mencionados, o 1º e o 2º resultaram claramente de comportamentos induzidos pelo
autor, nestes casos a não contestação pode ser invalidada.
Pelo contrário quando seja o réu responsável pelo seu próprio auto-convencimento e portanto pela
sua não contestação quando o réu seja responsável, porque até mesmo no caso da simulação ele
é responsável, ele acordou e portanto foi com base na sua vontade que não contestou.
Quando não se possa imputar ao autor, então nesse caso não há justificação para anular a não
contestação. Isto porque há outros valores no processo para além da mera vontade do réu e
portanto não pode ser deixado ao seu critério.
Dúvida:
Se a coação vier da parte de um 3º interessado de acordo com esta doutrina não pode ser
invalidada a não contestação. Pode acontecer eventualmente uma ação de responsabilidade civil
contra um 3º, pois não sendo este parte na ação o autor não pode por este ser penalizado.
Dúvida:
Quando há um justo impedimento devidamente provado, o juiz pode dar um novo prazo para
contestar. Mas são situações absolutamente excecionais e verificáveis caso a caso.
Este não é bem uma extensão do efeito da não invalidação mas sim do prazo de 30 dias.
Já vimos quais os efeitos, agora cabe perguntar se os efeitos da revelia se aplicam sempre e
sobre os próprios factos automaticamente só pelo facto de não ter havido contestação.
E vemos pelo regime da revelia previsto nos artigos 566º e seguintes que de facto há aqui alguns
pressupostos para que estes efeitos se apliquem e não só a não contestação.
O 1º pressuposto da aplicação dos efeitos da não revelia é a não contestação do réu. No entanto
não é suficiente, quais são então os outros pressupostos do regime da revelia?
O 2º pressuposto é que a citação do réu tenha sido pessoal e sem irregularidades, portanto o réu
tenha sido citado pessoalmente sem irregularidades. Se o réu tiver sido citado através de citação
pessoal e não tiver tido nenhuma intervenção voltamos ao 566º e o juiz vai verificar se foi feito
sem nenhuma irregularidade, uma vez que conclua que sim aplicam-se os efeitos da revelia.
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Quando o réu é citado editalmente o que é que acontece? A citação edital dá muito menos
garantias que o réu tenha tomado conhecimento da citação.
E portanto o legislador não quis culminar imediatamente o réu com as consequências da revelia
se a citação for edital pode o réu não ter tomado consciência que havia uma ação pendente contra
ele.
Quando a citação é edital isso significa que nunca se aplicam os efeitos da revelia? Não, mas
apenas se aplicam os efeitos da revelia quando o réu tenha dito alguma intervenção no processo.
No caso da citação edital só se a revelia do réu for meramente relativa é que se aplicam os efeitos
da revelia.
Quando se diz intervenção é qualquer tipo, mesmo que apenas tenha sido a constituição de
advogado, qualquer intervenção do réu no processo que demonstre que teve conhecimento da
ação proposta contra ele desencadeia os efeitos da revelia.
Há uma incongruência no CPC, na letra de um artigo, mas que a nível de entendimento doutrinal é
pacífico, e qual é esta divergência que existe aqui?
No artigo 567º/1 em que se fala de facto destes pressupostos que estamos a falar para a
aplicação do regime da revelia. O nº1 começa a dizer quando é que se aplicam os efeitos da
revelia.
Se lermos com atenção o 567º/1 o que nos diz é que os pressupostos dos efeitos da revelia o
primeiro é a não contestação, segundo que tenha havido uma citação pessoal, terceiro não tendo
havido citação pessoal então que o réu tenha tido intervenção constituindo mandatário judicial no
processo.
Parece que este artigo 567º/1 apenas dá relevo à intervenção do réu no processo que se traduza
na constituição de advogado, portanto qualquer outra parece resultar deste artigo que não tem
qualquer relevância. No entanto se formos depois ao artigo 568º/b) última parte a contrário,
parece dar relevo a qualquer intervenção do réu no processo, enquanto que o 567º/1 parece dar
relevância apenas à constituição de mandatário judicial do réu citado editalmente para que se
apliquem os efeitos da revelia.
Há aqui uma contradição, parece que o artigo 567º é muito mais exigente para aplicar os efeitos
da revelia e portanto podia o réu citado editalmente ter vindo ao processo fazer alguma coisa que
não constituir advogado, e o 567º parecia que não se aplicava os efeitos da revelia.
Não é esse o entendimento da doutrina que acaba por dar prevalência ao 568º/b) última parte.
3º pressuposto do regime da revelia, que não se verifique nenhuma das exceções previstas no
artigo 568º do CPC.
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O artigo 568º prevê uma série de casos em que apesar de não ter havido contestação do réu, não
se lhe aplicam os efeitos do regime da revelia.
Qual é a razão de ser? No fundo estamos a dizer que os outros réus ganham com o facto de um
deles ter contestado e é isso precisamente que a lei pretende.
Por um lado seria incongruente ter dentro de vários réus, os mesmos factos considerassem contra
o réu que contestou ficassem como não provados, e contra os réus que não contestassem
ficassem como provados. Portanto havia aqui uma incoerência a nível da matéria de facto que o
legislador entendeu que deveria ser julgada em benefício daqueles que não apresentaram
contestação.
Qual seria a lógica de se o autor vier dizer que já pagou e o réu que contestou dizer que não
pagou, neste caso ficar como provado que o autor não pagou, e quanto aos restantes réus que o
autor tinha pago.
O que o legislador quis evitar foi esta contradição nos efeitos que resultaria se se considerassem
provados os factos alegados pelo autor. E por isso acabou por em vez de prejudicar o réu que
contestou, resolveu beneficiar os que não contestaram.
Mas há uma outra razão, uma razão de economia de meios, através desta exceção à revelia o
que o legislador fez foi incentivar a que apenas 1 conteste, ou seja, podem indiretamente,
informalmente os outros réus delegarem no réu que contesta a resposta à petição inicial.
Em vez de cada um dos réus contratar o seu advogado, formular a sua contestação, apresentar o
seu meio de defesa próprio, os réus sabem que se não contestarem, se combinarem que apenas
67
1 contesta, essa contestação aproveita a todos.
Exemplo: Um dos condóminos num condomínio instaura uma ação porque não concordou com
uma deliberação, instaurou uma ação contra cada um dos condóminos que tinha estado presente
na assembleia e que tinha aprovado aquela deliberação. Os condóminos contra quem instaurou a
ação eram por hipótese 15.
Cada um dos condóminos era réu, cada um destes podia ter contactado um advogado e
apresentar a sua contestação, provavelmente em muitos aspetos semelhante à dos outros
condóminos mas estes para não estar cada um a ter custos com a contratação e com a orientação
da sua defesa e contratação de um advogado decidiu-se que apenas um ia contratar advogado e
apresentar contestação, os custos seriam divididos por todos, e aquela contestação serviria a
todos.
A última parte da alínea a) do artigo 568º diz “quanto aos factos que o contestante impugnar” ou
seja, se o contestante não impugnar algum dos factos, a consequência é que consideram-se
admitidos por acordo os factos impugnados e este efeito aplica-se não apenas aquele que
contestar mas também aqueles que não contestaram.
Há aqui uma espécie de ficção de que aquela contestação aproveita a todos, mas se esta também
não tiver completa claro que os efeitos da não contestação daqueles factos também se aplica a
todos.
Al. b) “Quando o réu ou algum dos réus for incapaz, situando‐se a causa no âmbito da
incapacidade, ou houver sido citado editalmente e permaneça na situação de revelia absoluta;”
Esta alínea tem aqui 2 situações diferentes, a primeira quando o réu ou algum dos réus for
incapaz, se o réu ou algum dos réus, mesmo que haja um único incapaz, isso é suficiente para
que não se apliquem os efeitos da revelia nem aquele réu nem a nenhum dos outros, basta haver
um réu incapaz para que todos beneficiem dessa incapacidade, isto no sentido de não se
considerarem provados os factos alegados pelo autor, nem todos os outros efeitos da revelia.
O objetivo é proteger o incapaz, mesmo que tenha advogado constituído, mesmo que esteja
devidamente representado, o legislador considerou que por intuito de proteger o réu incapaz não
se aplicavam os efeitos da revelia.
Esta alínea b) na segunda parte prevê outra exceção que é a seguinte quando o réu ou algum dos
réus houver sido citado editalmente e permaneça na situação de revelia absoluta.
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Aqui voltamos à questão que se houver um dos réus que tenha sido citado editalmente e que não
tenha tido nenhum tipo de intervenção no processo já sabemos que não se aplicavam os efeitos
da revelia.
A novidade aqui é que resulta deste artigo que não se aplicam os efeitos da revelia nem a ele,
nem aos outros. É sempre a mesma lógica, basta haver um dos réus citado editalmente e todos
os outros gozam desse facto e portanto não se aplicam os efeitos da revelia, para evitar a solução
dos mesmos factos serem provados quanto a um dos réus e não provados quanto a outros.
Al. c) “Quando a vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela ação se
pretende obter;”
No fundo esta alínea refere-se às relações jurídicas indisponíveis, nós já tínhamos visto isto como
pressuposto da confissão como meio de prova válida. Tudo o que são direitos indisponíveis não é
possível confessar, não é possível apresentar confissão como meio de prova em ações em que
estejam em causa direitos indisponíveis, é o caso das ações de divórcio, investigação da
paternidade, etc. Tudo o que diz respeito a direitos pessoais desta natureza.
Se isto é assim para a confissão como meio de prova, também é assim por maioria de razão
quanto aos efeitos da revelia que se consideram confessados os factos articulados pelo autor, e
portanto é no fundo um paralelo com o regime da confissão como meio de prova.
Al. d) “Quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito.”
Aqui também temos um paralelo com o que vimos a propósito da admissibilidade da confissão, ou
seja, se para a prova daquele facto eu precisar de um documento escrito não faz sentido que a lei
admita que através da não contestação o facto fique provado, porque se não está a defraudar a
exigência da forma legal.
Vamos supor um contrato de compra e venda de um imóvel em que sabemos que para a sua
validade formal precisamos de escritura pública.
O autor na petição inicial vem alegar que foi celebrada uma compra e venda de um imóvel, mas
não junta escritura pública, até porque não existe, foi celebrado verbalmente ou por escrito
simples, claro que se a não contestação do réu significasse que a compra e venda ficava provada
então estar-se-ia a admitir a existência de uma compra e venda quando ela formalmente foi nula.
Não podem estes efeitos da revelia substituir a exigência de forma legal e daí esta exceção da
alínea d) do artigo 568º.
69
Outros articulados possíveis para além da petição inicial e contestação:
Réplica:
Este articulado é possível mas não obrigatório, os únicos articulados obrigatórios no sentido de
constituirem um direito das partes são a petição inicial e a contestação, são articulados livres.
A petição inicial é essencial, a contestação depende da opção do réu ainda que sofra as
consequências da não contestação.
Pelo contrário, a partir daqui, a réplica é um articulado condicionado, isto porque depende da
existência de certos pressupostos, ou seja, pressupostos que dependem do conteúdo da
contestação.
É um articulado apresentado pelo autor, é a vez do autor responder, e o autor só pode recorrer à
réplica para responder à contestação desde que se verifiquem os pressupostos do artigo 584º/1,
que nos diz que só é admissível réplica para o autor deduzir toda a defesa quanto à matéria da
reconvenção.
Nas ações de simples apreciação negativa, estas funcionam ao contrário, têm uma procedência
própria. As ações de simples apreciação negativa dizem que começam em rigor na contestação,
porque é na contestação que o réu vem invocar factos constitutivos de direito porque se o autor
pretende que se declare a inexistência do direito do réu, então é na contestação que pela primeira
vez vão ser invocados factos constitutivos do direito do réu, e o autor pode nem saber quais são.
E por isso entende-se que o 3º articulado serve para o autor exercer o contraditório nas ações de
simples apreciação negativa.
70
O CPC de 2013 veio restringir a possibilidade de réplica porque antes deste havia uma outra
situação em que era possível a réplica, era a situação em que na contestação o réu tivesse vindo
invocar exceções.
Já vimos que as exceções são factos novos que digam respeito quer a relação substantiva quer a
relação processual. Antes de 2013 entendia-se que se os factos são novos então o autor tem de
ter a possibilidade de responder aos factos novos na réplica.
Qual foi a razão desta supressão da possibilidade de responder na réplica? Teve haver com
razões de economia processual, ou seja, entendeu-se que a réplica deveria ser um articulado
absolutamente excecional e que normalmente havia sempre defesa por exceção e portanto
permitindo a réplica responder à defesa por exceção então em quase todas as ações havia
réplica. E portanto, o objetivo de restringir foi diminuir o número de articulados e acelerar os
processos.
Com o CPC de 2013 alterou-se a redação deste artigo e a réplica deixou de ser permitida para
responder às exceções, o que é estranho, porque se são factos novos o princípio do contraditório
também exigiria que o autor pudesse responder na réplica às exceções.
Então o autor não pode responder às exceções na réplica? Pode responder às exceções, mas
não na réplica, diz-nos o artigo 3º/4 quando fala do princípio do contraditório, diz-nos que às
exceções admitidas no último articulado admissível pode a parte contrário responder na audiência
prévia, ou não havendo lugar a ela o início da audiência final.
O 3º/4 prevê aqui uma possibilidade de resposta alternativa.
Como é evidente não é a mesma coisa responder num articulado com a réplica ou no início da
audiência. O estilo de resposta que pode ser dada numa audiência é muito mais limitada, primeiro
é oral, e depois o juiz está ali para apreciar a prova, normalmente no início da audiência há um
ditar para a ata de algumas razões de resposta à defesa por exceção, como é evidente não vão
ser analisadas da mesma forma pelo juiz.
E por isso a doutrina apesar de ter acabado a réplica para responder às exceções colocou a
seguinte dúvida que resultou da prática: Supor que tendo havido reconvenção na contestação, ou
seja, o autor tinha direito a apresentar réplica, será que o autor sendo admissível a réplica pode
aproveitar a réplica para vir também responder às exceções?
Tem se admitido que sim, porque se entende que se este procedimento não viola o princípio da
economia processual, porque já haveria direito à réplica e para além disso se o autor podia
responder às exceções no início da audiência nada impede que havendo um documento escrito
anterior que aproveite para responder nesse articulado.
Esse tem sido o entendimento generalizado da doutrina e da jurisprudência.
71
Uma das alterações que está a ser proposta ao novo CPC que já se estão a discutir é esta, é que
se faça um preceito em que expressamente se diga que se a réplica for admissível nos termos do
584º então o autor pode aproveitar para responder às exceções na réplica.
Articulados supervenientes:
O último articulado possível são os articulados supervenientes, são também articulados eventuais,
previstos nos artigos 588º e 589º e em termos gerais aquilo que resulta desses artigos é que
relativamente a factos que ocorram posteriormente ao articulado em que deviam ter sido alegados
ou de que a parte só tenha conhecimento posteriormente a esse articulado podem ser alegados
mais tarde, através de articulados supervenientes.
Temos aqui que distinguir dois tipos de superveniência dos factos, superveniência essa
relativamente a um ponto concreto que é o articulado em que o facto devia ter sido alegado. Os
articulados supervenientes valem quer para o autor, quer para o réu.
Exemplo: Imaginar que o autor na petição inicial não alegou um facto porque só veio a ter
conhecimento dele mais tarde, ou porque só ocorreu mais tarde.
A mesma coisa para o réu na contestação, se não contestou alegando um facto que era
superveniente então há um outro articulado possível para o autor e para o réu.
Desde que o facto tenha ocorrido mais tarde ou que tenha chegado ao conhecimento da parte
mais tarde, o primeiro é de superveniência objetiva e o segundo de superveniência subjetiva.
Em qualquer um destes casos podem as partes apresentar um outro articulado até ao
encerramento da audiência de discussão e julgamento.
72
08/04/19
É a fase que se segue findo os articulados. E como o próprio nome indica nesta fase pode
acontecer uma de duas coisas: ou o julgamento antecipado ou o saneamento e condensação do
processo.
O CPC quando começa a regular esta fase da marcha do processo (o CPC regula de forma
cronológica as várias fases do processo) chama-lhe da gestão inicial do processo e da audiência
prévia.
Isto a partir do artigo 590º, o título que aí começa é da gestão inicial do processo e da audiência
prévia, o que por outras palavras nos leva a perceber também um pouco do conteúdo desta fase,
pois quer o saneamento e condensação, quer o julgamento antecipado de alguma forma são uma
maneira de gestão do processo.
Quando a lei fala em audiência prévia iremos ver que não é bem conteúdo da fase, é mais um ato
processual.
Segundo a opinião da professora o título do CPC não é muito correto (a ver mais à frente).
Quando é que pode acontecer este julgamento imediato por questões de forma ou de mérito?
Em primeiro lugar por questões de forma, acontece sempre que o juiz considere que pode
absolver imediatamente o réu da instância pela existência de uma exceção dilatória insanável ou
não sanada.
73
O juiz pode chegar à conclusão que o réu é parte ilegítima, e que há ali uma ilegitimidade singular.
Esta ilegitimidade não é sanável, logo se o juiz se apercebe disto na fase do saneamento vai
absolver o réu da instância.
Isto é raro uma vez que o critério que hoje é adoptado de legitimidade singular deixa muito
marginal a questão da ilegitimidade.
Em primeiro lugar a presença de exceções dilatórias e insanáveis ou não sanadas dão lugar a um
julgamento antecipado de forma ou meramente processual.
Quanto à questão de mérito, como é que é possível que um juiz nesta fase possa já proferir uma
decisão sobre o mérito da causa, esta significa ou absolver ou condenar o réu pedido. Estas são
as decisões possíveis, os julgamentos antecipados quanto ao mérito.
Pode acontecer que ainda que não haja conciliação, o juiz se aperceba de que pelos factos que
estão presentes na ação e pela prova que entretanto já foi produzida, que nós sabemos que na
fase dos articulados há alguma prova que é imediatamente produzida, é o caso da prova
documental.
Vamos supor que a prova documental apresentada tem uma força probatória especial e portanto
estão provados todos os factos alegados pelo autor, aí o juiz pode sem margem para dúvida
condenar o réu no pedido.
Ou pelo contrário, se o juiz considera que não irão estar presentes todos os factos essenciais por
algum motivo ou que a questão é meramente jurídica, porque todos os factos já estão provados e
o juiz resolve decidir logo a questão jurídica.
74
Exemplo: Em ações laborais muitas vezes a maior dúvida ou em ações de impugnação do
despedimento, ou indemnização por despedimento, etc. muitas vezes a questão principal que se
discute é saber se ali está presente um contrato de trabalho ou um contrato de prestação de
serviços.
As partes muitas vezes nem têm dúvidas sobre todos os factos, o que é que foi combinado, em
que dias é que ia trabalhar, etc. os factos muitas vezes não são controvertidos, apenas é a
questão jurídica de saber se aplicando o direito ao caso, ou com a doutrina ou jurisprudência se
há algum contrato de trabalho ou não.
Nesse caso o juiz pode entender que não se justifica avançar com o processo para a fase de
instrução e portanto pode considerar-se em condições de julgar imediatamente.
Esta possibilidade de julgamento antecipado da ação nesta fase processual está prevista no CPC
nos artigos 595º/1 que trata do despacho saneador, que é no fundo o ato processual por
excelência desta fase processual.
A alínea b) deste artigo diz que o juiz pode conhecer imediatamente do mérito da causa sempre
que o estando do processo o permitir. Já a alínea a) diz que o despacho saneador se destina a
conhecer as exceções dilatórias que hajam sido suscitadas, o que permite concluir que o juiz pode
tomar conhecimento de forma imediata ou um conhecimento de mérito imediato.
Portanto, no fundo o julgamento antecipado pode acontecer por estes motivos.
Segunda possibilidade desta fase, não ocorrendo julgamento antecipado, ou seja, se a ação não
findada nesta fase, se o juiz o que vai fazer é preparar a ação para a fase seguinte, que é a fase
da instrução.
O que é que vai fazer para preparar o processo para a fase seguinte?
Vai por um lado fazer um saneamento.
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Em segundo lugar vai verificar a existência de nulidades processuais. Tanto esta como o
conhecimento das exceções dilatórias estão previstas dentro do saneamento do processo no
595º/1/al. a).
Nota:
Todas estas funções que estamos a falar estão um bocado misturadas. Esta matéria não está
nada organizada a partir do artigo 590º.
Última função deste saneamento, é a decisão das questões que possam ser logo decididas e que
não ponham termo ao processo (se puserem termo ao processo voltamos à hipótese do
julgamento antecipado). O que é que isto significa?
Vamos supor que o juiz considera que estão presentes todos os pressupostos processuais, as
partes são legítimas, eventualmente vai elaborar um despacho onde diz que as partes são
legítimas, o tribunal é competente, etc. Isto faz parte do saneamento do processo.
Se pelo contrário considerar que se verificam exceções dilatórias, então faz parte do julgamento
antecipado do processo.
O juiz vai por exemplo sumariar o objeto do litígio dizendo que interessa verificar se estão
reunidos todos os pressupostos de que depende o pagamento de uma indemnização do réu ao
autor, este é o objeto do litígio.
Identificar o objeto é identificar o pedido e a causa de pedir.
Saber se o réu tem ou não de pagar uma indemnização devido à existência dos pressupostos da
responsabilidade civil.
Dentro do saneamento a enunciação dos temas da prova, ou seja, identificar quais são as
questões que estão por provar e que são fundamentais à decisão do litígio, vai identificar o que é
que ficou por provar e o que já ficou provado.
A condensação e estas duas funções da condensação estão previstas no artigo 596º do CPC
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Claro que o exercício, desempenho, prossecução destes fins desta fase processual fazem-se
através de atos concretos. Aquilo que agora vamos ver é ver quais são os atos processuais a
realizar nesta fase para desempenhar adequadamente aqueles (estudos)?
Há dois atos fundamentais nesta segunda fase do processo: Por um lado o despacho pré-
saneador e por outro lado a audiência prévia.
77
No entanto este poder de aperfeiçoamento não é válido se se tratar de completar ou indicar a
causa de pedir, não se pode referir aos factos que integram a causa de pedir. Nós já vimos que
esses constituem o último reduto do dispositivo, tem de ser o autor a indicar a causa de pedir.
O aperfeiçoamento dos articulados não é quanto aos factos que integram a causa de pedir mas
sim quanto aos factos complementares ou concretizadores, de onde é que resulta esta
possibilidade do aperfeiçoamento? 590º/6 quando diz que o pedido de aperfeiçoamento de um juiz
deve obedecer aos limites estabelecidos pela possibilidade de alterar o pedido e a causa de pedir.
Este é o limite deste convite ao aperfeiçoamento.
c) Determinar a junção de documentos com vista a permitir a apreciação de exceções dilatórias ou
o conhecimento, no todo ou em parte, do mérito da causa no despacho saneador. — O juiz pode
convidar as partes a juntar alguns documentos que ele entenda necessários para julgar
antecipadamente por razões de mérito ou de forma.
Quer tenha havido ou não despacho pré-saneador, segue-se a audiência prévia, é o segundo ato
processual desta fase.
Os fins à pouco mencionados desta fase processual misturam-se todos aqui nestes vários atos.
O despacho pré-saneador pode ser prévio ao próprio julgamento antecipado, quando falamos de
julgamento antecipado ou saneamento e condensação, o juiz não parte para esta fase muitas
vezes já a saber o que é que vai fazer, muitas vezes emite um despacho pré-saneador e depois
logo se vê qual será a evolução e se haverá um julgamento antecipado ou um saneamento e
condensação.
O segundo ato processual, no sentido da sequência, porque pode não existir despacho pré-
saneador, é a audiência prévia. Esta também pode existir ou não, embora a probabilidade é de
que exista, tendencialmente desde a reforma de 95/96 ao CPC anterior esta é uma audiência que
por regra se realiza.
A exceção são os casos em que não se realiza, e são exceção porque o legislador previu
expressamente nos artigos 592º e 593º os casos em que não se realiza imperativamente ou em
que o juiz a pode dispensar. Normalmente são casos mais simples em que não se justifica estar a
perder tempo com uma audiência prévia.
Portanto, a regra geral é de que a audiência prévia se justifica.
Antes desta reforma de 95/96 não existia audiência prévia, ou seja, o que acontecia era que o juiz
reunia num despacho escrito todas as funções desta segunda fase processual, e portanto proferia
um despacho pré-saneador que continua a existir mas é proferido na própria audiência prévia.
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Antigamente o juiz fazia tudo no seu gabinete, proferia um despacho e as partes depois
reclamavam ou não.
Nota:
Estão no moodle as atas das audiências prévias dos julgamentos que fomos assistir. A professora
recomenda voltar a ler para perceber qual é a função da audiência prévia.
Artigo 591º:
1 ‐ Concluídas as diligências resultantes do preceituado no n.o 2 do artigo anterior, se a elas
houver lugar, é convocada audiência prévia, a realizar num dos 30 dias subsequentes, destinada a
algum ou alguns dos fins seguintes:
a) Realizar tentativa de conciliação, nos termos do artigo 594.o; — A primeira coisa que o juiz faz
se foi ou não possível chegar a um acordo, na maioria das situações não há este acordo, mas há
casos em que as partes dizem que sim há negociações, pede-se ao juiz para suspender o
processo, e muitas vezes já chegam com um acordo e o juiz limita-se a homologar o acordo e a
julgar antecipadamente a causa.
b) Facultar às partes a discussão de facto e de direito, nos casos em que ao juiz cumpra apreciar
exceções dilatórias ou quando tencione conhecer imediatamente, no todo ou em parte, do mérito
da causa; — A segunda função é facultar às partes a discussão de facto e de direito, mas em que
circunstâncias? Quando haja alguma exceção dilatória que o juiz esteja na dúvida e queira
conhecer ou quando já entoa que pode antecipar o julgamento. No fundo é aqui um direito ao
contraditório aqui acrescido.
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Se algum facto faça o juiz desconfiar que pode decidir já a causa nesta fase, o juiz tem pelo
menos de abrir a possibilidade às partes de se pronunciarem sobre essa possibilidade.
c) Discutir as posições das partes, com vista à delimitação dos termos do litígio, e suprir as
insuficiências ou imprecisões na exposição da matéria de facto que ainda subsistam ou se tornem
patentes na sequência do debate; — Há aqui também uma função tal como no despacho pré-
saneador, ainda há aqui uma segunda oportunidade na audiência prévia de o juiz convidar as
partes a acrescentar algum facto, a aperfeiçoar os articulados. Ou porque as partes não o fizeram
antes, ou porque o juiz só se apercebeu agora na audiência prévia, mais uma oportunidade dada
às partes de colmatarem aquilo que são as lacunas na exposição da matéria de facto.
d) Proferir despacho saneador, nos termos do n.o 1 do artigo 595.o; — Outro ato processual
fundamental que é normalmente proferido no âmbito da audiência prévia. Portanto, o juiz é
durante a audiência prévia que vai proferir o despacho senador, no fundo este é o que sintetiza o
saneamento do processo.
Porque é que este ato é tão importante? Mesmo quando não há audiência prévia, ou porque o juiz
a dispensou, ou porque a lei diz que não se realiza, mesmo nestes casos o despacho saneador
tem sempre que haver.
Mesmo sem audiência prévia, o juiz profere autonomamente, por escrito, um despacho saneador.
(vamos voltar a falar deste despacho porque é extremamente importante)
e) Determinar, após debate, a adequação formal, a simplificação ou a agilização processual, nos
termos previstos no n.o 1 do artigo 6.o e no artigo 547.o; — É neste momento que cabe ao juiz
dizer quais são os atos que entende dispensar ou não, ou se o juiz quiser criar uma marcha
processual própria adequada aquele processo pode fazê-lo livremente.
f) Proferir, após debate, o despacho previsto no n.o 1 do artigo 596.o e decidir as reclamações
deduzidas pelas partes; — Este despacho é o despacho da condensação, é o despacho onde o
juiz identifica o objeto do litígio e as questões que vão ser objeto de prova, chamadas temas de
prova.
No fundo todas as funções desta segunda fase processual incluem-se nesta audiência prévia,
quer o julgamento antecipado, quer a condensação, quer o saneamento, tudo se sintetiza nesta
audiência prévia.
Ao longo do tempo a política sobre este despacho em que o juiz identifica os temas da prova, ou
seja, o que vai ser objeto de prova na fase seguinte, foi sofrendo uma grande alteração, no início
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este despacho era um despacho que incluía uma lista de factos já provados e uma lista de factos
por provar.
A lista de factos já provados era chamada especificação, a lista de factos por provar era o
questionário. Era uma lista de factos minuciosa, ou seja, o juiz pegava nos articulados e pegava
nos seguintes artigos e concluía se estava provado ou não, a maioria não estava, e levava esses
factos com um ponto de interrogação a esta lista de factos não provados.
Com o tempo achou-se que essa lista era minuciosa de mais e que limitava as partes na produção
da prova, porque se havia um facto que resultava da instrução e que não estava lá, não era
considerado. E a partir daí resultou um processo com algum alargamento dos factos que
constavam nessa lista e substitui-se o questionário com a base instrutória, esta ainda era uma
lista de factos mas mais amplos do que aqueles que constavam dos articulados, já havia uma
maior liberdade na produção da prova.
Mas com o CPC de 2013 foi quando se deu o maior salto, ou seja, a base instrutória foi
substituída pelos chamados termos da prova.
Os termos da prova no fundo são uma enunciação muito genérica daquilo que tem de ser provado
na instrução, ou seja, em vez de perguntar: “a autora lesada no acidente de viação sofreu de
danos afetivos na sequência deste que se pode estimar no valor de 10.000€ no dia x foi internada
com uma depressão na sequência do acidente”.
Em vez de haver uma concretização minuciosa dos factos, o que é que acontece agora nos
chamados temas da prova? É preciso ver em termos genéricos quais foram as consequências do
acidente.
Nós já vimos pelo artigo 5º que há factos que podem não ter sido alegados pela parte e que
podem resultar da instrução, o legislador não quis fechar a porta a esses factos, numa tendência
cada vez mais alargada da busca da verdade material e consideração de tudo o que seja verdade
material em detrimento da verdade formal.
Se resultarem da instrução factos não alegados, o juiz pode considerá-los, então se os pode
considerar é preciso que a instrução tenha um objeto mais largo. Para que a instrução tenha um
objeto mais largo é preciso que os temas da prova sejam entendidos em termos mais genéricos.
g) Programar, após audição dos mandatários, os atos a realizar na audiência final, estabelecer o
número de sessões e a sua provável duração e designar as respetivas datas. — É na audiência
prévia que se decide normalmente em diálogo com os advogados, que têm de ver nas suas
agendas, se estão ou não disponíveis aquela data e aquela hora, porque se depois não estiverem
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sofrem sanções por não estar. Outra das funções da audiência prévia é agendar ou calendarizar
as sessões da audiência de julgamento.
Quer o despacho saneador quer o despacho onde se identifica o objeto do litígio e os temas da
prova existem mesmo que não exista audiência prévia. A diferença é que se não existe audiência
prévia será comunicado por escrito às partes.
Enquanto que na audiência prévia esses despachos são orais e ficam registados em ata porque
as partes estão presentes.
Um despacho saneador típico que é aquele que é proferido na maioria das ações, é favorável, ou
seja, é do género “o tribunal é competente, as partes são legítimas, estão devidamente
representadas, devidamente patrocinadas por advogado, não há nulidades processuais de que
me cumpra conhecer e portanto profiro este despacho no sentido favorável”
Assim não será se houver exceções dilatórias, nulidades processuais procedentes, possibilidade
de conhecer logo do mérito da causa. Se isso acontecer, se o juiz conhecer logo do mérito da
causa, esse despacho saneador é chamado de despacho saneador sentença.
Artigo 595º/3 diz que quando o juiz no despacho saneador tome logo uma decisão definitiva quer
sobre o mérito, quer sobre a forma da causa, esse despacho saneador tem o valor de uma
sentença.
Mas vamos supor que não é isso que acontece e que o processo vai seguir porque o juiz não vê
procedência de nenhuma dessas exceções dilatórias, nulidades, etc., profere um despacho
saneador desse género.
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Dessas 3 funções do despacho saneador, a única que falta ver é o que é que significam as
nulidades processuais.
É no despacho saneador que o juiz se vai debruçar para ver se existem ou não nulidades
processuais.
Atenção:
Nulidades processuais é diferente de nulidades da sentença, que iremos ver mais à frente quando
estudarmos a sentença.
A sentença pode ser nula por causas que estão previstas no artigo 615º.
Atenção:
Nulidade da citação é diferente de falta de citação. A falta de citação é a ausência de citação e a
nulidade da citação que está prevista no 191º é quando não tenham sido observadas as
formalidades previstas na lei.
83
Quanto ao prazo, o legislador distingue aqui dois prazos diferentes, há algumas nulidades
processuais principais que só podem ser arguidas até à contestação, outras podem ser em
qualquer estado do processo, depende das nulidades principais consideradas mais graves e
menos graves.
Exemplo: A falta de citação pode ser arguida em qualquer estado do processo, o interessado em
princípio não tomou conhecimento porque não houve citação, o juiz pode oficiosamente conhece-
la a todo o tempo.
Já uma nulidade que pode ser arguida até à contestação é a ineptidão da petição inicial, porque
apesar de ser extremamente grave, entendeu-se que se o réu consegue apresentar contestação
isso significa que em rigor não há bem uma ineptidão da petição inicial, considera-se que
indiretamente já não se justifica que venha o réu mais tarde venha a arguir a ineptidão da petição
inicial.
É necessário ter em atenção que há nulidades principais mais gravosas do que outras, o que se
manifesta no regime de arguição e de tempestividade de arguição.
Quanto às nulidades secundárias, a maioria das nulidades invocadas no processo pelas partes
são nulidades secundárias, são atípicas. O legislador criou um artigo genérico, 195º, que
consagra as nulidades secundárias.
Tem uma fórmula genérica em que se diz que sempre que há uma irregularidade processual, a
prática de um ato proibido, a omissão de um ato obrigatório ou omissão das formalidades
necessárias. Essa irregularidade pode produzir uma nulidade secundária desde que a ela se
acrescenta uma de duas hipóteses, ou quando a lei o declara, ou quando essa irregularidade
possa influir no exame ou na decisão da causa, este requisito é fundamental.
Sempre que há uma mera irregularidade que não possa influir no exame ou decisão da causa ela
não é uma nulidade secundária, há aqui uma razão de economia processual.
As simples irregularidades se não forem declaradas pela lei ou não influirem do exame ou decisão
da causa, não produzem nulidades secundárias.
Exemplo:
A réplica apenas é admitida quando haja pedido reconvencional ou ação de simples apreciação
negativa, e não só pelo facto de na contestação ser apresentada uma defesa por exceção.
Vamos imaginar que o autor apresenta réplica quando a contestação não for contestação
reconvenção e a ação não é uma ação de simples apreciação negativa, vem apresentar réplica
para responder às exceções, o que existe aqui é uma nulidade secundária.
84
É uma nulidade secundária porque é a prática de um ato que a lei não admite e que
evidentemente pode influir na decisão das partes. O autor confere a si mesmo uma possibilidade
de contraditório que a lei não lhe atribuiria.
É muito comum invocar aqui uma nulidade secundária.
Vamos supor que a réplica até era admitida mas o autor na réplica além de responder ao que
pode, que é o caso do pedido reconvencional e eventualmente das exceções, é para isso que a
doutrina e a jurisprudência o admitem, vem ainda aproveitar para responder à defesa por
impugnação do réu, também aqui há uma nulidade secundária da réplica, mas é parcial da réplica,
a uma parte que é válida outra que é nula.
Exemplo:
- Nulidade parcial da réplica;
Para além disso outro aspeto do regime previsto no 197º, é de que as nulidades secundárias não
podem ser conhecidas oficiosamente, nem pela parte que lhes deu causa.
Um outro aspeto tem haver com o prazo da arguição, não está previsto nenhum regime para
arguição destas nulidades e por isso aplica-se-lhe a regra geral do prazo de 10 dias, que está no
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artigo 149º que é um prazo geral que o CPC estabelece, onde diz que sempre que a lei não prevê
um prazo especial para prática de determinado ato, o prazo é o de 10 dias.
Um último aspeto é que as nulidades secundárias não admitem recurso, esta é a regra geral,
artigo 630º/2, é importante por uma remissão para este artigo, pois isto não consta dos artigos
195º e seguintes. Existem casos excecionais que estão no artigo 630º/2.
Para terminar o despacho saneador, vamos falar da força de caso julgado do despacho saneador
(iremos mais à frente falar da força de caso julgado).
Já sabemos que tudo o que são decisões sobre o mérito da causa têm uma força de caso julgado
material, vinculam quer no próprio processo, quer fora, as decisões meramente processuais têm
força de caso julgado. Ou seja, por uma razão de disciplina do processo vincula o juiz só naquele
processo.
Acontece que não é bem assim, porque o legislador sabe que na prática judiciária, muitas vezes
um juiz profere um despacho saneador nesta fase processual apenas como “pro forma”. Ou seja
faz copy paste de todos os despachos saneadores que já tem no processo, nenhuma das partes
levantou uma questão especial, nem vai averiguar concretamente cada pressuposto processual e
portanto profere um despacho saneador chamado genérico e típico.
Por essa razão, o artigo artigo 595º/3 1º parte, diz-nos que no caso previsto na alínea a) do nº1
que é o caso em que o juiz profere um despacho saneador para conhecer das nulidades
processuais e exceções dilatórias, o despacho constitui logo que transite caso julgado formal
quanto às questões concretamente apreciadas.
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O despacho saneador genérico não tem força de caso julgado formal, só tem força de caso
julgado formal o despacho saneador que se debruce sobre questões concretas.
Vamos supor que o réu vem invocar na contestação que o autor é parte legítima, o juiz no
despacho saneador não profere um despacho saneador genérico, vai pronunciar-se
especificamente sobre a questão levantada pelo réu. Esse despacho saneador em que o juiz
justifique porque é que o autor justifique porque é que o autor é parte legítima é um despacho
saneador concreto.
29/04/19
Fase da instrução:
Nota:
A parte mais relevante foi dada no 1º semestre quando tratamos do direito probatório material.
A maioria da fase da instrução decorre em audiências, nas audiências finais por contraposição à
audiência prévia que é aquela onde o juiz faz o saneamento e condensação. Nesta audiência final
há pelo menos duas fases do processo que ocorrem na audiência final, em primeiro lugar a
produção da prova, em segundo lugar a discussão da causa.
Isto para dizer que a fase da instrução se processa em audiência final.
Relativamente à instrução, embora a regra seja que os atos de instrução de recolha e produção
de prova estejam concentrados nesta fase e sejam produzidos em audiência, como acontece com
a prova testemunhal que foi aquilo que assistimos na audiência final que fomos ver. Há casos em
que cronologicamente os atos de instrução não estão concentrados na audiência e são
produzidos ao longo de outras fases do processo.
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A professora quase que diria que nós podemos entender o sentido instrução num sentido
cronológico ou teleológico, no primeiro atos de instrução são apenas aqueles que se concentrem
na fase assim designada, produzida ou que ocorre em audiência.
Se pensarmos num sentido teleológico ou funcional existem atos de recolha e produção de prova
ao longo de outras fases do processo, a instrução está dispersa pelas várias fases no processo.
Exemplos:
- Prova documental: como regra deve ser junta com os articulados. Depois há exceções, com o
pagamento de multa é possível não apresentar o articulado. Nos articulados há um ato de
instrução funcional que no entanto não é um ato da instrução no sentido cronológico.
- Pode acontecer, artigo 607º/1 CPC que já depois de encerrada a discussão da causa, numa
fase mais à frente do processo que o juiz se não se julgar suficientemente esclarecido volta à
sala de audiência, reabre a audiência para ouvir outras pessoas, ou ordenar outras diligências
probatórias. Quando parecia que o juiz já ia entrar na fase do julgamento volta atrás e reage à
audiência através da prática de novos atos de instrução.
- A última exceção é muito significativa a esta regra de que a instrução está concentrada naquele
momento, na terceira fase processual e na audiência, esta exceção é constituída pelas
situações da chamada produção antecipada de prova, que está regulada nos artigos 419º e
420º do CPC.
Porque é que se chama produção antecipada de prova? Porque é antecipada por referência ao
momento em que deveria ser produzida a prova, que é na fase da instrução, pode acontecer por
várias referências que haja necessidade de produzir prova antes do momento próprio para o fazer.
Quem diz antes do momento próprio para o fazer pode ser inclusivamente antes de ser proposta a
ação. A produção da prova nesta circunstância pode ser admitida mesmo antes de ser proposta a
ação.
Que circunstâncias são essas? Em primeiro lugar apenas é possível produção antecipada de
prova relativamente a certos tipos de prova, que tipos de prova são esses? Perícias, inspeções e
depoimentos.
Quando é que se justifica a possibilidade desta produção de prova fora do tempo adequado à
produção de prova?
Nas situações em que se possa vir tornar muito difícil ou impossível a produção de prova num
momento próprio, por exemplo há uma testemunha com uma idade muito avançada que é
fundamental para uma ação que vou propor, devido à sua idade avançada eu sei que é possível
um momento próprio para que vá a julgamento ou audiência apresentar o seu testemunho já não
esteja viva. É possível nessa circunstância pedir o depoimento antecipado dessa testemunha.
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Vamos imaginar que há um inquilino que tem infiltrações que podem provocar a derrocada do
tecto e que podem instaurar uma ação contra o senhorio a pedir que seja condenado a fazer as
obras ou indemnizá-lo pelo custo de uma obra eventual. Como é evidente o inquilino não vai
esperar durante meses e meses quando as obras são urgentes só para manter o local intacto para
depois ser feita a prova em audiência.
Nestes casos o inquilino requer uma produção antecipada de prova, uma perícia, uma inspeção
judicial para preservar aquele meio de prova antes de fazer obras e pedir uma indemnização.
No fundo são situações de urgência que justificam que a produção de prova seja feita antes do
momento próprio. Apesar de ser feita antes do momento próprio, é feita com todas as garantias
inerentes à pendência de um processo e ao momento próprio.
Para que a prova possa ser utilizada como se tivesse sido produzida no momento próprio na
pendência da ação.
A questão mais difícil que se levanta é que esta é admitida inclusive antes de ser proposta a ação.
A dificuldade aqui surge da circunstância de ainda não haver uma peça processual que identifique
o objeto da ação, e por isso o CPC exige no 420º/2 que o requerente da produção antecipada de
prova nessa circunstância indique sucintamente o pedido e os fundamentos da demanda.
É necessário que resumidamente o requerente da produção antecipada de prova venha identificar
qual vai ser o objeto do litígio futuro.
É necessário que seja requerida pelo autor que vai instaurar a ação, mas a doutrina admite
embora a lei não o preveja que possa ser o eventual futuro réu a pedir a antecipada produção de
prova se antevê que vá ser proposta contra ele uma ação.
Nem sempre há lugar à fase de instrução do processo, a regra é que esta fase exista, até porque
é uma fase fundamental na ação, no entanto pode acontecer por várias circunstâncias que o
processo não chegue à fase de instrução.
Pode acontecer porque há um indeferimento liminar da petição inicial, naqueles casos em que há
um despacho a seguir à petição inicial, artigo 558º do CPC.
Também pode acontecer que o despacho saneador contenha logo um julgamento antecipado, e aí
não passamos à fase da instrução.
Ou acontecer que o réu esteja em revelia, não conteste, e que essa revelia seja operante tendo
como consequência a passagem imediata à passagem da discussão de direito.
Para além disso é importante dizer que a produção da prova tem regras, em regra faz-se na
audiência final e que na pendência desta há uma série de regras na produção da prova.
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Há regras processuais para a realização da audiência, regras processuais que estão contidas nos
artigos 604º e seguintes. No artigo 604º/3 tem uma ordem de prestação de apresentação das
provas, que normalmente primeiro são prestados os depoimentos de parte, porque sendo o
objetivo do depoimento de parte obter uma confissão da contraparte, naturalmente que se houver
confissão há uma série de factos que resultem logo que provados e não há necessidade de
continuar a prestar provas sobre esses factos.
Dentro da produção de cada meio de prova também há uma série de regras de direito probatório
formal que estão previstas a partir dos artigos 423º e seguintes do CPC e onde poderão ver uma
série de regras.
Em primeiro lugar a audiência final decorre sempre perante um juízo singular, atualmente ao
contrário do que aconteceu no passado em que sobretudo nas ações de valor superior o juiz que
julgava era um coletivo que julgava a ação, precisamente pelo facto de que uma vez que a maioria
da prova está sujeita à maioria da apreciação, o legislador entendeu ser mais seguro serem 3
cabeças a apreciar a prova do que apenas 1.
Atualmente não existe coletivo num julgamento em primeira instância, é o contrário do que
acontece na Relação e no Supremo que são sempre coletivos que apreciam as questões.
Hoje em dia a regra é a da gravação da audiência final, artigo 155º CPC, logo acabou por se
aumentar as garantias no plano do registo da prova e diminuir as garantias no plano da
intervenção de um ou mais juízes.
Para terminar a fase da instrução, vamos sintetizar alguns princípios a que obedece a fase da
instrução quando produzida em audiência.
Estão previstos nos artigos 605º e 606º.
Princípio da imediação:
A produção da prova impõe um contacto direto entre o juiz e as provas pessoais. Provas pessoais
são aquelas em que o elemento essencial é uma pessoa, é o caso dos depoimentos, da prova
pericial, etc.
As exceções a esta regra têm de ser devidamente justificadas, ou seja, daqui decorrem várias
consequências, nomeadamente a testemunha que depõe tem de o fazer diretamente olhos nos
olhos com o juiz, presencialmente não podendo ser substituída por um depoimento escrito ou uma
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gravação audio, salvo casos excecionais. Por exemplo membros de órgãos de soberania têm
prerrogativas especiais em que podem depor ou testemunhar por meios escritos.
A regra é a de que o contacto com o juiz é direto em audiência com as provas pessoais.
De acordo com a regra deste princípio, resulta do artigo 605º que ainda que haja uma alteração
ou uma mudança de juiz competente, o juiz que foi transferido ou que mudou vai ter de fazer na
mesma o julgamento daquele processo, no tribunal onde já não exerce funções.
Só em casos absolutamente excecionais é que isto poderá não acontecer, quando isto não
aconteça a consequência é a repetição de toda a audiência final.
O ideal é que seja realizada toda sequencialmente no mesmo dia, se excecionalmente não for
possível, nesse caso a continuação da audiência deve ser marcada para a data mais próxima mas
nunca depois de decorridos 30 dias desde a data da primeira audiência.
91
O objetivo aqui é salvaguardar o princípio da livre apreciação da prova e se o juiz fizer uma parte
da audiência durante um ano seguido, vai ser difícil manter ou assegurar a memória suficiente das
percepções que retirou da audiência de prova.
Fase da discussão:
É uma fase que também se processa em audiência, inclui não apenas a audiência final mas
também a discussão da causa.
Na discussão incluem-se as chamadas alegações das partes, as alegações finais, estas são as
formas de discussão da causa, é uma fase em que cada uma das partes na pessoa dos seus
advogados se vai pronunciar sobre como deve ser julgada a causa.
Estas discussões são quer relativas à matéria de facto, quer relativas à matéria de direito.
Antes do CPC de 2013 a regra era diferente porque a fase de discussão e a fase do julgamento
estavam cruzadas. Primeiro havia a discussão e o julgamento da matéria de facto e só depois é
que havia a discussão e o julgamento da matéria de direito, ou seja, primeiro as partes alegavam
o sentido de dizer como é que o juiz devia julgar os factos.
E antes de 2013 logo a seguir a estas alegações de facto o juiz fazia uma lista das alegações de
facto que considerou provados e não provados na sequência da audiência, só depois é que as
partes alegavam sobre a matéria de direito e normalmente era por escrito. E depois o juiz julgava
a matéria de direito, absolvendo ou condenando o réu.
Depois do CPC de 2013 com a intenção de poupar o tempo gasto na pendência da ação
concentraram-se na fase da discussão a parte da discussão de factos e de direito, na alegação os
advogados devem imediatamente pronunciar-se sobre os factos que consideram provados e
sobre o direito que lhes deve ser aplicável e só na fase posterior é que vai julgar a matéria de
facto e a matéria de direito.
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As alegações da matéria de facto e de direito são orais, ao contrário do que acontecia
anteriormente com a parte de direito que são alegações orais, produzidas em audiência e cada
uma das partes tem como regra até 1 hora no máximo para fazer as alegações.
Normalmente o advogado do autor faz primeiro as suas alegações, depois o advogado do réu e
podem ainda replicar apresentando mais resposta às alegações embora num tempo mais curto.
Fase do julgamento:
Está prevista nos artigos 607º e seguintes e inclui o julgamento de facto e de direito.
Neste artigo 607º estão previstos vários aspetos relevantes relativamente ao julgamento, em
primeiro lugar que como regra a sentença deve ser proferida no prazo máximo de 30 dias desde o
encerramento da audiência final, apesar deste prazo não há uma sanção para o seu desrespeito.
Acontece muitas vezes que se o juiz não respeita muitas vezes é dado conta a uma comissão
disciplinar que vai averiguar se houve ou não razões justificativas, se existirem razões
justificativas este prazo de 30 dias não tem nenhum valor obrigatório.
Um outro aspeto em relação ao julgamento, esta fase culmina com a sentença, esta fase é
provada por várias partes ou deve integrar várias partes previstas no artigo 607º.
3 partes nomeadamente, isto é sempre respeitado a letra sob pena de nulidade da sentença:
1. Introdução - o juiz começa por identificar as partes e o objeto do litígio, volta a resumir o que
se passou até aí.
2. Fundamentos do julgamento da matéria de facto e os fundamentos do julgamento da matéria
de direito.
3. Julgamento em sentido estrito - a decisão do juiz para o caso, que apenas pode ser 1 de 3:
- A condenação do réu
- A absolvição do réu do pedido ou da instância, consoante o fundamento da absolvição seja
um fundamento de mérito ou processual.
Até à sentença o juiz pode absolver o réu da instância por uma questão processual, há
pressupostos processuais como a incompetência absoluta em alguns casos que são de
conhecimento oficioso a todo o tempo.
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O julgamento é o ato jurisdicional por excelência e que põe termo ao processo.
Um outro efeito da sentença é a sua força executiva ou exequibilidade da sentença. Isto significa
que sempre que quando o juiz julgue procedente a ação a sentença pode vir a ser utilizada como
título executivo.
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Vimos que no artigo 703º/1 estava prevista uma lista taxativa dos tipos executivos que podem dar
origem a uma ação executiva, e o primeiro deles previsto nesse artigo na alínea a) é precisamente
as sentenças condenatórias.
A partir do momento em que exista uma sentença condenatória ela pode servir de título executivo
e pode aquele que venceu a ação, nomeadamente o autor porque o réu não pode executar
nenhuma sentença, quer ficar absolvido, mas o autor pode executar a sentença.
O artigo 703º fala em sentenças condenatórias por algum motivo, nem todas as sentenças,
mesmo que sejam procedentes, são sentenças condenatórias. Existem vários tipos de ação, as
ações de condenação, simples apreciação e constitutivas e nem todas as sentenças procedentes
neste tipo de ação resultam daí efeitos exequíveis.
Uma ação de simples apreciação onde eu simplesmente peço ao juiz que declare a existência de
um direito não é uma sentença condenatória, não tem efeitos de exequibilidade, não há nada a
executar.
A regra é que apenas nas ações de condenação surgem sentenças com efeitos condenatórios
que podem ser executadas, esta é a regra, o que não quer dizer que de outras ações não surjam
efeitos condenatórios colaterais.
Exemplo: Ação de anulação de um contrato que é uma ação constitutiva, esta pode ter associados
efeitos condenatórios de devolução daquilo que foi prestado, e portanto será uma sentença de
uma ação constitutiva que tem efeitos de exequibilidade, porque tem efeitos condenatórios
associados apesar de não ser uma ação de condenação.
Exemplo: O mesmo acontece com as ações de simples apreciação, por exemplo uma ação de
declaração de nulidade do contrato também pode ter efeitos condenatórios associados.
Por este motivo é que no artigo 703º diz-se sentenças condenatórias e não apenas sentenças de
condenação ou proferidas em ações de condenação.
Relativamente a esta exequibilidade da sentença há um outro aspeto, muito embora a regra seja
de que as sentenças a partir do momento em que são proferidas sejam em que instância forem
têm efeitos executivos, também pode haver exceções dependente do facto de estar pendente um
recurso contra aquela decisão.
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Tudo depende do efeito do recurso proposto contra a decisão, ou seja, se a decisão transitou em
julgado e já não é suscetível de recurso, já não há nenhum recurso que possa ser interposto
daquela decisão, não há dúvida que o efeito executivo daquela sentença está automaticamente
adquirido.
No entanto pode acontecer que tenha sido interposto recurso de uma decisão de primeira
instância para a Relação ou recurso da Relação para o Supremo e nessas circunstâncias a
possibilidade de executar uma sentença que está pendente de recurso depende do efeito deste
recurso.
Os recursos podem ter dois efeitos um obrigatório e um eventual, o efeito obrigatório de um
recurso é o chamado efeito devolutivo, este significa que o poder jurisdicional é devolvido ao
tribunal que proferiu a decisão ao tribunal que vai apreciar o recurso.
O poder jurisdicional passa para outro tribunal, o recurso devolve o poder jurisdicional a um outro
tribunal.
O poder jurisdicional estava no tribunal ad quo, esta é a designação que se dá ao tribunal que
proferiu a decisão, e o tribunal que vai conhecer o recurso é o tribunal ad quem.
É muito frequente dizer-se que não se concorda com a decisão proferida no tribunal ad quo e
pede-se uma nova decisão ao tribunal ad quem.
Há ainda um outro efeito que pode existir ou não que é o chamado efeito suspensivo do recurso,
ou seja, há recursos que podem ter efeito suspensivo da força executiva da decisão e quando isso
acontece não posso executar a decisão pendente de recurso até ao momento em que é proferida
a decisão pelo tribunal superior.
A regra hoje em dia ao contrário do que já aconteceu no passado é que o recurso tem efeito
meramente devolutivo, quer seja um recurso de apelação que é o recurso para o tribunal da
relação, quer o recurso seja um recurso de revista.
Isto resulta dos artigos 647º para o recurso de apelação e 676º para o recurso de revista, e nestes
artigos que nos diz que não tem efeito suspensivo, tem efeito da decisão, mas se formos a esses
artigos vemos que há exceções, nomeadamente quando a parte o peça e preste caução, mas são
casos pontuais.
A regra é de que o efeito do recurso é meramente devolutivo e portanto como regra a sentença
mesmo de 1º instância pendente de recurso é suscetível de execução.
96
Isto exige que se por acaso uma sentença começar a ser executada na pendência do recurso e
depois a decisão do tribunal superior for num sentido diferente é necessário anular ou destruir os
efeitos que entretanto foram produzidos pela execução da sentença.
É um bocado passivo, uma situação similar à das providências cautelares que são provisórias e
que depois com a decisão da ação principal pode ter de se corrigir a situação de facto, se a
decisão da ação principal contrariar a providência cautelar.
Também a execução de uma sentença na pendência de um recurso não deixa de ser uma
execução provisória, pode ter que se adaptar no final quando vier a decisão final.
O que acontecia antes da revisão do regime dos recursos, ainda no CPC anterior, é que a regra
era de que o recurso para a relação tinha efeito suspensivo, mas o recurso para o supremo já não
tinha, o que fazia com que muitas vezes os recursos fossem usados como uma manobra dilatória
da parte que previa a ação do réu, porque sabia que pelo menos até à relação tinha hipótese de
não ver a ação executada. Para evitar isso a última reforma dos recursos estabeleceu que a regra
era o efeito meramente devolutivo do recurso.
Um outro efeito da sentença e aqui é um efeito relativo a casos pontuais diz respeito às sentenças
de condenação que condenem o réu na prestação de dinheiro ou entrega de alguma coisa
fungível. Efeito pontual de um certo tipo de sentenças que são as sentenças de condenação do
réu numa prestação em dinheiro ou na entrega de alguma coisa fungível.
Neste caso destas sentenças diz-nos o artigo 710º do código civil, que estas sentenças
constituem um título executivo de hipoteca sobre quaisquer bens imóveis ou móveis sujeitos a
registo. São as chamadas hipotecas judiciais.
Último efeito e mais importante das sentenças é o efeito de caso julgado, é o principal efeito da
sentença (a estudar nas próximas aulas).
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TEÓRICA PROCESSO CIVIL
6 DE MAIO
Se formos ao art.º 628 do Código de Processo Civil, o legislador dá uma noção clara do que é
que significa o trânsito em julgado.
Artigo 628.º
A decisão considera-se transitada em julgado logo que não seja suscetível de recurso
ordinário ou de reclamação.
Ora bem, recurso ordinário já vimos o que significa. Para efeitos de recurso os tribunais estão
organizados em termos hierárquicos; os tribunais judiciais são uma ordem com vários tribunais
judiciais a nível hierárquico, cuja principal função é precisamente permitir a reapreciação de
decisões em sede de recurso. Sabemos também que há recurso (quando seja possível) da
decisão de 1ª instância para a Relação e da Relação para o Supremo Tribunal de Justiça. O
primeiro é designado recurso de apelação e o segundo recurso de revista. Para efeitos de
recurso, estes são os recursos ordinários, dependem de uma série de requisitos, em que
nomeadamente o mais importante é o do valor da causa, mas para além destes recursos
ordinários há dois outros que são extraordinários:
b. Recurso de revisão que serve para rever uma sentença já transitada em julgado, em
circunstâncias absolutamente excecionais. Como por exemplo a descoberta tardia de um
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meio de prova que vem alterar tudo o que foi decidido; casos de falsidade da sentença,
de meios de prova determinantes, etc. mas são absolutamente excecionais.
O que é então a reclamação? Além de intentar recurso da decisão, é possível também, antes
de instaurar esse recurso, que a parte vencida reclame perante o próprio Tribunal e juiz que
proferiu a sentença, uma alteração da decisão. Esta alteração já vimos em que é que consistia
na última aula – através de um pedido de anulação de sentença, pode ser através de um pedido
de reforma quanto a custas, pode ser um pedido de retificação de erros materiais. Portanto,
como vimos na última aula é possível em casos pontuais, perante o juiz que proferiu a decisão,
vir reclamar da decisão. Normalmente o que se faz é primeiro reclama-se e so depois é que se
recorre.
O que é importante perceber aqui é que a partir do momento em que já não seja possível nem
reclamar da sentença nem recorrer ordinariamente, diz-se que a sentença transitou em julgado.
Quando é que isto acontece? Ou seja, quando é que não é suscetível nem de reclamação
nem de recurso ordinário?
Podemos conceber várias situações. Pode ser porque a parte que o podia fazer deixou
passar o prazo e não o fez, ou porque a decisão não reunia as condições para ser impugnada
(por exemplo porque não tinha o valor suficiente para impor recurso ordinário) ou pode ser
porque a decisão já foi proferida pelo tribunal hierarquicamente superior (decisão do Supremo
Tribunal de Justiça).
O que é que isto significa? Temos que distinguir dois tipos de trânsito em julgado. Temos o
chamado caso jugado formal e o caso julgado material. A distinção diz respeito em primeiro
lugar ao tipo de decisão (objeto da decisão) e em segundo lugar ao efeito dessa decisão. Quais
são as decisões com força de caso julgado formal? Segundo o art.º 620, são as sentenças e
despachos que recaiam sobre a relação processual. Quando falo do efeito de caso julgado da
sentença, o efeito caso julgado da sentença também se aplica aos despachos que tomem
alguma decisão intercalar no processo. Portanto, qualquer decisão quer de ordem material, quer
de ordem processual que seja proferida na pendência da ação (por exemplo um despacho
saneador que põe fim à ação) é equiparável a uma sentença. O caso julgado formal aplica-se às
decisões que tenham por objeto questões processuais, por exemplo uma decisão sobre a
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existência ou inexistência de pressuposto processual ou uma decisão que indefere a arguição de
uma nulidade processual, ou uma que considera que as partes são ilegítimas. Qualquer uma
destas questões tem força de caso julgado formal. O que é que significa? Diz-nos o art.º 620,
que a decisão tem força obrigatória dentro do processo, o que significa que o juiz não pode
decidir de forma diferente mais à frente no mesmo processo, mas não tem força obrigatória fora
do processo. Ou seja, se o juiz absolve o reu da instância por considerar o réu parte ilegítima,
nada garante que noutra ação proposta nos mesmos termos pelo autor, o tribunal da segunda
ação não julgue de forma diferente – não está vinculado à decisão tomada pelo primeiro tribunal
na primeira ação. A força vinculativa do caso julgado formal é no interior da mesma ação
apenas.
Pelo contrário, todas as decisões (quer sentenças, quer despachos) sobre mérito da causa,
sobre a relação material controvertida, segundo o art.º 619/1, têm força obrigatória dentro do
processo e fora dele. Portanto, a força de caso julgado material é muito mais ampla e abrange
inclusive um outro juiz de outro tribunal em que a questão se coloque. A relevância é muito maior
do que o caso julgado formal.
Claro que, olhando aos dois, quais são os fundamentos que estão por detrás da figura do
caso julgado?
Relativamente ao caso julgado material importa ainda distinguir, dentro do conceito de caso
julgado material, dois conceitos diferentes em que o caso julgado material é usado. Pode ser
usado com o sentido de autoridade de caso julgado, de força de caso julgado, no sentido de
que uma decisão quando adquire força de caso julgado passa a ter uma autoridade e a ser
definitiva. Ou pode ser usado com o sentido de exceção de caso julgado.
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Ter autoridade ou força de caso julgado quer dizer que a decisão é obrigatória numa segunda
ação, quer surja a título principal, quer surja a titulo prejudicial na segunda ação.
Exemplo: se numa primeira ação de simples apreciação positiva o autor pede que o tribunal
declare que o seu direito de propriedade existe e se essa decisão é procedente; suponha-se
agora uma segunda ação em que o autor vem pedir (contra o mesmo reu da primeira ação) uma
indemnização com fundamento na violação do dto de propriedade. Se a primeira decisão na
primeira ação já foi proferida com força de transito em julgado, já transitou em julgado, isso
significa que a decisão de que o autor é efetivamente proprietário do imóvel vai surgir na
segunda ação a titulo prejudicial (porque o juiz para condenar o reu numa indemnização por
violação do dto de propriedade tem que apreciar se o dto pertence ou não ao autor) e ela obriga
o juiz da segunda ação, mesmo que surja a titulo prejudicial. Portanto o juiz da segunda ação
tem de partir daí, da declaração de existência do dto de propriedade para decidir se houve ou
não uma violação desse dto e se o reu deve ser ou não condenado a pagar uma indemnização.
A primeira sentença tem uma autoridade de caso julgado que vincula a segunda ação,
sempre, que surja a título principal ou a título prejudicial.
Mas há um outro sentido negativo do caso julgado material, que se designa de exceção de
caso julgado. A exceção de caso julgado é a forma de garantir que a autoridade do caso
julgado é respeitada. No fundo, são dois lados da mesma moeda, a exceção de caso julgado é
o reverso da força ou autoridade do caso julgado. A violação do caso julgado dá origem a
uma exceção de caso julgado, como já vimos quando falámos das exceções dilatórias. Quando
falamos em exceção de caso julgado (que é chamada função negativa do caso julgado) esta
exceção é o que garante que não seja proferida uma segunda sentença inútil, porque ou vai
reproduzir a primeira já transitada ou vai contradizê-la. Note-se, no entanto, que apesar desta
exceção de caso julgado (que é uma exceção dilatória que é nominada - art.577, al. i)), o
legislador consagrou ainda uma espécie de um segundo nível de garantia de que o caso julgado
é respeitado. O normal será que o caso julgado surja como exceção dilatória na segunda ação,
portanto, a parte prejudicada vai invocar que tal questão já foi discutida. Mas imaginem que o
réu não levanta a questão ou que o juiz erradamente considera a exceção improcedente, e
portanto, no art.º 625/1 e 2 o legislador decretou uma segunda garantia, de onde resulta que
se por acaso acontecer que o juiz na segunda ação venha a proferir uma decisão que repita ou
contrarie a primeira, já transitada em julgado, nesse caso apenas vale a primeira. Portanto,
resulta deste art. 625 que apenas a primeira tem força, é como se a segunda não existisse.
101
Temos que entrar então no conteúdo do caso julgado. Quando é que podemos dizer que
uma segunda ação está ou não vinculada por uma decisão de caso julgado anterior. O que é
que está abrangido pela extensão da força de caso julgado de determinada decisão judicial que
já transitou em julgado?
Aqui falamos apenas da força de caso julgado material, porque só essa é que coloca a
questão numa segunda ação – porque a força de caso julgado formal não tem implicações numa
segunda ação. Para saber o que é ou até onde é que se estende a força de uma decisão
transitada em julgado tenho que recorrer ao art.º 580 do Código de Processo Civil, que nos dá
um conceito relativamente ao conteúdo de caso julgado e que nos diz que as exceções da
litispendência e do caso julgado pressupõem a repetição de uma causa. E aqui recordamos que
o caso julgado é a força de uma decisão que já é insuscetível de recurso ordinário ou de
reclamação e a litispendência é um conceito parecido mas em que há duas ações ainda
pendentes, não há ainda nenhum decisão definitiva, houve uma ação que foi proposta em
primeiro lugar e a questão que está a ser decidida na primeira ação repete-se numa segunda,
estando as duas simultaneamente pendentes. O art.º 580/1 dá-nos a noção da litispendência.
Existe caso julgado sempre que exista repetição de uma causa. A autoridade do caso julgado
opera sempre que ocorra repetição de uma causa. Quando é que existe repetição de uma
causa? Vamos ao art.º 581/1. O art.º 580/1 diz-nos que há caso julgado quando haja repetição da
causa, o art.º 581/1 diz-nos quando é que há repetição de uma causa.
Artigo 581.º
1 - Repete-se a causa quando se propõe uma ação idêntica a outra quanto aos sujeitos, ao
pedido e à causa de pedir.
Portanto, basicamente, há aqui três elementos de que depende considerar que existe
repetição de uma causa. Se houver identidade de sujeitos, pedido e causa de pedir, então há
identidade de causas. É necessário que exista uma tríplice identidade (sujeito, pedido e causa
de pedir) para se verificar uma exceção de caso julgado ou autoridade de caso julgado, em
sentido positivo. Por exemplo, se o autor instaura uma ação de reivindicação do bem X porque
diz que o adquiriu por usucapião e o reu violou o seu dto de propriedade, essa ação é decidida
a favor do autor; se o reu numa segunda ação instaura uma ação de reivindicação contra o autor
da primeira ação, pedindo a reivindicação do bem que o autor tinha dito que tinha adquirido por
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usucapião (portanto a única coisa que inverte é a posição das partes), então a ação é
exatamente igual. Ou seja, há identidade de causas quando haja esta tríplice identidade, mas
não é assim tao simples.
Isto porque há situações em que não há esta tríplice identidade e mesmo assim a
doutrina e jurisprudência consideram que ainda assim há exceção de caso julgado.
Exemplo: suponham uma ação de cumprimento de um determinado contrato de C/V. A diz que
vendeu a B um bem, e que B não pagou. B é condenado a pagar o preço e a decisão transita
em julgado. O B, que não se conforma, vem instaurar uma segunda ação em que pede a
anulação do contrato de C/V, bem dizer que quando o celebrou estava em erro e por isso quer a
anulação do mesmo. Ora bem, se a segunda ação for julgada e for julgada procedente, há aqui
uma incompatibilidade prática total entre as duas decisões, a primeira condena o reu a pagar e a
segunda condenaria a outra parte a devolver o que foi pago. Mas não há tríplice identidade, há
os mesmos sujeitos, mas o pedido e a causa de pedir são fundamentalmente diferentes: na
primeira ação peço a condenação no pagamento com fundamento no contrato e no seu
incumprimento, na segunda ação a outra parte pede a anulação com fundamento no erro. Não
há tríplice identidade, mas se eu admitir que não há caso julgado da primeira em relação à
segunda, estaria a admitir que a segunda sentença desfaça a força de caso julgado da primeira.
Se forem ao art.º 580/2, diz qual é o fim do caso julgado. E diz que a exceção de caso julgado
tem por fim evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de contradizer ou de reproduzir uma
decisão anterior. Ou seja, se aplicarmos este critério funcional do caso julgado, eu tenho que
concluir que ainda que não haja uma identidade formal, uma tríplice identidade formal, no plano
material eu tenho de considerar que há caso julgado, e por isso a doutrina e a jurisprudência
fazem do art.º 580/2 uma segunda baliza do caso julgado. Temos o nº 1 que tem um critério
formal e o nº 2 tem um critério material relativamente ao fim do caso julgado. Há aqui um outro
princípio que já vimos, que também aqui impede que seja a segunda ação julgada, que é o
princípio da preclusão. Onde é que o autor da segunda ação devia ter invocado a invalidade do
contrato? Na contestação da primeira ação, em que o autor da primeira pediu a condenação no
cumprimento do contrato. Portanto, uma vez que não vem invocar a nulidade em sede de
exceção na contestação da primeira ação, não pode invocar agora depois numa segunda ação
porque se precludiu a possibilidade de alegar aquele meio de defesa na primeira ação.
Ora bem, de qualquer maneira vamos agora aprofundar estes três requisitos formais de
quando existe identidade de causas. A força de caso julgado decorre de limites objetivos1
1 Quando pergunto “qual é o conteúdo que está abrangido pela força de caso julgado?”
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(pedido e causa de pedir) e limites subjetivos2 (sujeitos da causa). E a professora acrescentaria
aqui ainda um terceiro limite, que é um limite temporal, ou seja, a definitividade do caso julgado
é absoluta ou há circunstâncias temporais que podem fazer com que aquela sentença deixe de
vincular aquela situação?
Respondem à pergunta de saber o que fica definido com força de caso julgado material
quando uma decisão transita em julgado. Os limites objetivos são dados pela identidade do
pedido e causa de pedir (581/1), portanto repete-se a causa em termos de conteúdo quando
haja identidade de pedido e de causa de pedir.
Basta alterar ou o pedido ou a causa de pedir para que não exista força de caso julgado.
Até podia formular todos os pedidos na primeira ação ou juntar todas as causas de pedir na
primeira ação, mas não sou obrigado a isso. Até porque o sistema jurídico português segue a
teoria da substanciação quanto à causa de pedir. Ou seja, em Portugal os autores são
obrigados a identificar a causa de pedir de todos os pedidos, não posso ir a tribunal dizer que
➔ A segunda questão que não está abrangida pela força de caso julgado são as
questões que o réu suscitou como meio de defesa. O que o tribunal foi tendo que
decidir aos poucos, ao longo do processo, não está coberto pela força de caso julgado da
sentença. Diz-nos isso o art.º 91/2.
➔ Finalmente, não está incluído nesta força de caso julgado, dentro dos limites
objetivos, as qualificações jurídicas feitas pelo tribunal. Exemplo: suponham uma ação
de impugnação de um despedimento em que o autor vem dizer que o despedimento foi
ilícito e o juiz naquela ação discute se está em causa um contrato de trabalho ou de
prestação de serviços e o juiz conclui que é um contrato de trabalho e qualifica-o como tal,
julgando ilícito o despedimento. Esta qualificação jurídica que o juiz fez nesta ação não
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vale, para se a parte interessada numa segunda ação quiser propor uma ação para efeitos
de indemnização, por exemplo.
Este significa responder à pergunta “até quando vale o caso julgado material?”.
Por princípio, a força de caso julgado vale para sempre, ou seja, regula aquela relação
material controvertida de forma definitiva para sempre. Mas há exceções, e a razão de ser
dessas exceções vamos encontrá-la no facto do art.º 611 do Código de Processo Civil dizer que
para a decisão que o juiz tome a sentença tem em consideração os factos constitutivos,
modificativos ou extintivos do direito que se produziram até ao momento do encerramento da
discussão. O juiz toma em conta para a sentença todos os factos que tenham ocorrido até ao
momento do encerramento da discussão. Daqui se retira que a sentença é válida apenas e na
medida em que não ocorra uma alteração superveniente dos factos. É válida para aqueles
factos ocorridos até ao momento de ser encerrada a audiência de julgamento. Exemplo:
suponham que numa sentença transitada em julgado em que o reu foi condenado a pagar uma
determinada quantia; se por acaso de hoje para amanha, o reu paga, aquela sentença transitada
em julgado deixa de ter força de caso julgado relativamente ao reu senão ele seria duplamente
obrigado a pagar. Isto porque ocorreu um facto superveniente ao encerramento da discussão
que foi uma causa extintiva do dto do autor. Portanto, estão fora do limite temporal do caso
julgado todos os factos extintivos ou modificativos do dto do autor que ocorram posteriormente,
se o reu, entretanto vier pagar não faz sentido que permaneça a força de caso julgado daquela
decisão porque, entretanto, ocorreu um facto extintivo do dto do autor. Esta conclusão também
se pode retirar do art. 729. O art.º 729 trata, já no domínio de execução de sentença, dos
fundamentos de oposição à execução baseada em sentença. Estamos já numa fase em que foi
proferida sentença, em que a sentença pode até já ter transitado em julgado e já tínhamos visto
que as possibilidade de defesa do reu são muito diminutas porque o reu na ação declarativa já
teve oportunidade de se defender. Portanto, os meios que o reu tem para se defender numa
ação executiva em que o autor, com fundamento na sentença com título executivo vem executar
a sentença são mínimos. Apesar disso, na al. g) do art. 729, ao contrário dos restantes
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fundamentos das outras alíneas (que são de ordem formal), esta dá-nos os únicos fundamentos
de ordem material possíveis de arguir na pendencia da execução pelo executado.
O que se retira daqui é que tudo o que sejam factos supervenientes não estão cobertos pela
força e autoridade do caso julgado, o limite temporal da força de caso julgado encontra-se
precisamente nesta circunstância da ocorrência do encerramento da discussão, tudo o que
sejam factos supervenientes não estão abrangidos pelo limites temporal do caso julgado.
São os que respondem à pergunta de saber “quem é que está vinculado pela força de caso
julgado?”, “A quem é que posso opor uma determinada sentença que me é favorável e que
transitou em julgado?”. A regra evidente é que apenas estão vinculadas pela força de caso
julgado de uma sentença as partes naquela ação, apenas os sujeitos (autores e réus) de uma
determinada ação é que estão obrigados pela força de caso julgado de uma sentença. Atenção
que quando se fala em identidade de sujeitos, o art. 581/2 quando nos dá uma noção de
identidade de sujeitos, fala em qualidade jurídica. O que é isto quer dizer? As partes podem não
ser as mesmas fisicamente, mas juridicamente serem as mesmas. Por exemplo: suponham que
na pendência da ação o autor morre e é substituído na ação pelos seus herdeiros, que são os
sucessores daquele dto. Apesar de serem os herdeiros que o substituem, o autor é o mesmo. Ou
por exemplo, numa sociedade, em que há uma alteração do nome da sociedade, embora
formalmente seja diferente a pessoa que está em juízo, em termos de qualidade jurídica a
sociedade que lhe sucede também está vinculada pela força de caso julgado. Portanto, quando
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falamos em sujeitos, falamos em sujeitos do ponto de vista de qualidade jurídica e não
necessariamente do ponto de vista físico.
Como é evidente, ainda que so as partes estejam vinculadas, isso não significa que todas as
outras pessoas possam ignorar aquela sentença.
As partes não há dúvida que estão vinculadas quanto à força de caso julgado mas para
melhor entender esta regra vamos distinguir algumas categorias de terceiros:
Outro exemplo: suponham que um amigo de A lhe empresta uma casa de férias que lhe
pertence todos os anos. Há alguém que instaura uma ação de reivindicação contra o
amigo e o amigo perde a ação e tem de entregar o imóvel. Para A não é indiferente que a
casa saia do património do seu amigo porque deixa de poder ir para a casa de férias, mas
isso não significa que possa desrespeitar a sentença. Não há nenhum direito jurídico que
seja afetado pela sentença.
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Isto tudo para concluir que vinculados pela sentença estão, não so as partes, mas
também todos os chamados terceiros juridicamente indiferentes, que não tinham nenhuma
dto que pudessem vir defender naquela ação.
É o caso por exemplo do fiador de uma divida. O fiador é titular de uma relação jurídica
dependente da relação jurídica principal entre credor e devedor. Suponha-se que as
únicas partes de uma determinada ação onde se discutia a existência da divida eram o
credor e o devedor. Em que medida é que a sentença que condena o devedor é ou não
oponível ao fiador, que é titular de uma relação jurídica dependente? O que se tem
entendido, que resulta do art. 635 do Cod. Civil é que o caso julgado entre as partes é que
o caso julgado entre as partes não pode vincular o terceiro, neste caso o fiador, se lhe for
desfavorável. Mas esse terceiro pode aproveitar-se da sentença caso essa sentença seja
favorável aos seus interesses. Ou seja, se a ação for de condenação do devedor, se o
fiador não tiver sido chamado à ação, o credor não pode opor essa sentença ao fiador,
obrigando-o a pagar; mas já pelo contrario, se ação for improcedente e o devedor tiver
sido absolvido, nesse caso o fiador já pode vir invocar que aquela sentença lhe pode ser
favorável e ele também não tem de pagar.
O que se entende neste caso, como resultado do regime substantivo é que uma sentença
favorável aproveita a este terceiro titular de uma relação jurídica dependente, mas não
pode prejudicá-lo se ele não tiver sido parte. O habitual, contudo, é que o credor da ação
chame também o fiador.
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É o caso de devedores ou credores de dividas conjuntas. Neste caso, o que seja decidido
apenas quanto à quota-parte da divida daquele que está em juízo não obriga o os outros
que não estão em juízo.
Para alem destas regras gerais, a lei prevê em certas circunstâncias, algumas regras
especiais para certas ações em concreto. Por exemplo, em relação às obrigações solidarias,
temos um regime próprio no art. 522 e 531 do C.Civil relativamente as relações entre os
devedores e credores solidários. Temos também regra especial para caso julgado quanto ao
estado das pessoas no art. 622 do CPC, quando estão em causa interesses e dtos indisponíveis.
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