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São as condições socioeconômicas e políticas, que frequentemente condicionam o nascimento

de determinadas ideias e que, de modo particular no mundo grego, ao criar as primeiras formas
de liberdade institucionalizada e de democracia, tornaram possível precisamente o nascimento
da filosofia, que se alimenta essencialmente da liberdade.
Período helenístico- O império alexandrino caracterizou-se por levar também a cultura grega
(chamada helênica) para todas as regiões que conquistou. Caracterizou-se também por integrar
os elementos das culturas conquistadas, como aqueles da cultura persa (da qual Alexandre era
um grande admirador), com os elementos da cultura grega. Alexandre aprendeu a valorizar a
cultura alheia sem descaracterizá-la. Muitas cidades, como Alexandria, no Egito, tornaram-se
grandes centros culturais no período helenístico, acomodando saberes científicos, filosóficos,
religiosos e literários de imenso valor. Até mesmo durante o período de domínio do Império
Romano, a cultura helenística persistiu, tornando-se a base da formação dos homens durante
muitos séculos.
A religião na Grécia
Os gregos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses, assim como a maioria dos
povos da Antiguidade. Mas, ao contrário dos outros povos, tinham uma grande intimidade com
seus deuses, pois acreditavam que eles estavam a serviço das pessoas.
Os deuses gregos possuíam características humanas, defeitos e qualidades, fraquezas e
paixões. A diferença existente entre eles e os humanos é que os deuses eram imortais.
0s fenômenos naturais são promovidos por nomes: raios e relâmpagos são arremessados por
Zeus do alto do Olimpo, as ondas do mar são provocadas pelo tridente de Poseidon, o sol pelo
carro de Apolo, e assim por diante. Mas também a vida social dos homens, a sorte das cidades,
as guerras e a paz são imaginadas como vinculadas aos deuses de modo não acidental e, por
vezes, até de modo essencial.
Todavia, quem são esses deuses? Como os estudiosos de há muito reconheceram e
evidenciaram, esses deuses são forças naturais personificadas em formas humanas idealizadas,
ou então são forças e aspectos do homem sublimados e fixados em esplêndidas figuras
antropomórficas. (recordemos que Zeus com a personificação da justiça; Atena, da inteligência;
Afrodite, do amor, e assim por diante.) Esses deuses são, pois, homens amplificados e
idealizados, e, portanto, diferentes do homem comum apenas por quantidade e não por
qualidade. E por isso que os estudiosos classificam a religião publica dos gregos como uma forma
de "naturalismo", uma vez que ela pede ao homem não propriamente que ele mude sua
natureza, ou seja, que se eleve acima de si mesmo; ao contrário, pede que siga sua própria
natureza. Fazer em honra dos deuses o que está em conformidade com a própria natureza é
tudo o que se pede ao homem.
0 0rfismo
Nem todos os gregos consideravam suficiente a religião pública e, por isso, em círculos restritos,
desenvolveram se os "mistérios", com as próprias crenças especificas (embora inseridas no
quadro geral do politeísmo) e com as próprias práticas. Entre os mistérios, porém, os que mais
influíram na filosofia grega foram os mistérios órficos. 0 Orfismo particularmente importante
porque introduz na civilização grega novo esquema de crenças e nova interpretação da
existência humana. Efetivamente, enquanto a concepção grega tradicional, a partir de Homero,
considerava o homem como mortal, pondo na morte o fim total de sua existência, o Orfismo
proclama a imortalidade da alma e concebe o homem conforme o esquema dualista que
contrapões o corpo e a alma (reencarnações).
Resumem o núcleo central da doutrina: "Alegra-te, tu que sofreste a paixão: antes, não a havias
sofrido. De homem, nasceste Deus"; "Feliz e bem-aventurado, serás Deus ao invés de mortal";
"De homem nasceras Deus, pois derivas do divino". Isso significa que o destino ultimo do homem
é de "voltar a estar junto aos deuses". Com esse novo esquema de crenças, o homem via pela
primeira vez a contraposição em si de dois princípios em contraste e luta: a alma (demônio) e o
corpo (como tumba ou lugar de expiação da a alma). Rompe-se assim a visão naturalista; o
homem compreende que algumas tendências ligadas ao corpo devem ser reprimidas, ao passo
que a purificação do elemento divino em relação ao elemento corpóreo torna-se o objetivo do
viver.
Uma coisa deve-se ter presente: sem o Orfismo não se explicaria Pitágoras, nem Heráclito, nem
Empédocles e, sobretudo, não se explicaria uma parte essencial do pensamento de Platão e,
depois, de toda a tradição que deriva de Platão. Ou seja, não se explicaria grande parte da
filosofia antiga, como veremos melhor mais adiante.
Falta de dogmas e de seus guardiões na religião grega
Uma última observação é necessária. 0s gregos não tiveram livros sagrados ou considerados
fruto de revelação divina. Consequentemente, não tiveram uma dogmática (isto é, um núcleo
doutrinai) fixa e imutável. Como vimos, os poetas constituíram-se o veículo de difusão de suas
crenças religiosas. Além disso (e esta i outra consequência da falta de livros sagrados e de uma
dogmática fixa), na Grécia também não pode-se subsistir uma casta sacerdotal guardião do
dogma (os sacerdotes tiveram escassa relevância e escassíssimo poder, porque não tiveram a
prerrogativa de conservar dogmas, nem a exclusividade de receber oferendas religiosas e oficiar
sacrifícios).
Essa inexistência de dogmas e de guardiões dos mesmos deixou ampla liberdade para o
pensamento filosófico, que não se deparou com obstáculos que teria encontrado em países
orientais, onde a livre especulação enfrentaria resistência e restringes dificilmente superáveis.
As condições sócios politicas econômicas que favoreceram o surgimento da filosofia
0 homem oriental era obrigado a uma cega obediência não só ao poder religioso, mas também
ao político, enquanto o grego a este respeito gozou de uma situação privilegiada, pois, pela
primeira vez na história, conseguiu construir instituig6es politicas livres. a filosofia nasce
primeiro nas colônias e não na mãe-pátria. Justamente porque as colônias, com sua operosidade
e comércio, alcançaram primeiro a situação de bem-estar e, por causa da distância da mãe-
pátria, puderam construir instituições livres antes mesmo que ela.
Resta ainda uma última observação. Com a consolidação e a constituição da Polis, isto é, da
Cidade-Estado, o grego deixou de sentir qualquer antítese e qualquer vínculo. A própria
liberdade; ao contrário, descobriu-se essencialmente como cidadão. Para o grego, o homem
passou a coincidir com o cidadão. Dessa forma, o Estado tornou- se o horizonte ético do homem
grego e assim permaneceu até a era helenística. 0s cidadãos sentiram os fins do Estado como
seus próprios fins, o bem do Estado como seu próprio bem, a grandeza do Estado como sua
própria grandeza e a liberdade do Estado como sua própria liberdade.

Conceito e objetivo da filosofia antiga


A filosofia ( amor pela sabedoria) tem como objetivo a totalidade das coisas (a realidade como
um todo) e nisto confina com a religião, usa um método racional e nisso tem contatos com a
ciência ( com qual por certo período se identifica) e tem como escopo a pura contemplação da
verdade. A contemplação da verdade que é aspiração natural do homem é visto como
fundamento moral e também da vida politica do mais alto sentido.
A filosofia coma "amor de sabedoria"
Conforme a tradição, o criador do termo "filo-sofia" foi Pitagoras, o que, embora não sendo
historicamente seguro, é, no entanto, verossímil. 0 termo certamente foi cunhado por um
espirito religioso, que pressupunha ser possível só aos deuses uma "sofia" ("sabedoria"), ou seja,
a posse certa e total do verdadeiro, enquanto reservava ao homem apenas uma tendência a
sofia, uma continua aproximação do verdadeiro, um amor ao saber nunca totalmente saciado -
de onde, justamente, o nome "filosofia", ou seja, "amor pela sabedoria".
Desde seu nascimento, a filosofia apresentou Desde seu nascimento, a filosofia apresentou
Desde seu nascimento, a filosofia apresentou
Três conotações, referentes:
a) ao seu conteúdo;
b) ao seu método;
c) ao seu objetivo
O conteúdo da filosofia
No que se refere ao conteúdo, a filosofia quer explicar a totalidade das coisas, ou seja, toda a
realidade, sem exclusivo de partes ou momentos dela. A filosofia, portanto, propõe-se como
objeto a totalidade da realidade e do ser. E, como veremos, alcança-se a totalidade da realidade
e do ser precisamente descobrindo a natureza do primeiro "principio", isto é, o primeiro "por
que" das coisas.
O método da filosofia
No que se refere ao método, a filosofia procura ser "explicação puramente racional daquela
totalidade" que tem por objeto. 0 que vale em filosofia é o argumento da razão, a motivação, a
lógica logica, os logos. Não basta filosofia constatar, determinar dados de fato ou reunir
experiências: ela deve ir além do fato e além das experiências, para encontrar; a causa ou as
causas apenas com a razão.
Com isso, fica esclarecida a diferença entre filosofia, arte e religião. A grande arte e as grandes
religiões também visam a captar o sentido da totalidade do real, mas elas o fazem,
respectivamente, uma, com o mito e a fantasia, outra, com a crença e a fé', ao passo que a
filosofia procura a explicação da totalidade do real precisamente em nível de logos.

O escopo da filosofia
0 escopo ou fim da filosofia está no puro desejo de conhecer e contemplar a verdade. Conforme
escreve Aristoteles, os homens, ao filosofar, "buscaram o conhecer a fim de saber e não para
conseguir alguma utilidade prática". Com efeito, a filosofia nasceu apenas depois que os homens
resolveram os problemas fundamentais da subsistência e se libertaram das necessidades
materiais mais urgentes.
Compreendemos, portanto, a afirmação de Aristóteles: "Todas as outras ciências. Serão mais
necessárias do que esta, mas nenhuma será superior." Uma afirmação que todo o helenismo
tornou própria.
Conclusões sobre o conceito grego de filosofia
Embora não se submeta a objetivos utilitaristas, ela possui relevância moral e também política
de primeira ordem. Com efeito e evidente que ao se contemplar o todo, mudam
necessariamente todas as perspectivas usuais, muda a visão do significado da vida do homem,
e uma nova hierarquia de valores se impõe. Em resumo, a verdade contemplada infunde enorme
energia moral. E, como veremos, com base precisamente nessa energia moral Platão quis
construir seu Estado ideal.
Entretanto, resultou evidente a absoluta originalidade dessa criação grega. 0s povos orientais
também tiveram uma "sabedoria" que tentava interpretar o sentido de todas as coisas (o
sentido do todo), mas não submetida a objetivos pragmáticos. Tal sabedoria, porém, estava
permeada de representações fantásticas e míticas, o que a levava para a esfera da arte, da
poesia ou da religião. Ter tentado essa aproximação com o todo fazendo uso apenas da razão
(do logos) e do método racional, foi, podemos concluir, a grande descoberta da "filosofia" grega.
Uma descoberta que, estruturalmente e de modo irreversível, condicionou todo o Ocidente.
A filosofia como necessidade primária do espirito humano
Assim, a raiz da filosofia e precisamente esse "maravilhar-se", surgido no homem que se
defronta com o Todo (a totalidade).
As fases e os períodos da história da filosofia antiga
Nesse espaço de tempo, podemos distinguir os seguintes períodos:
1) 0 período naturalista, caracterizado pelo problema da natureza e do cosmo, e que, entre os
séculos VI e V a.C. O Naturalismo, propriamente dito, é uma doutrina filosófica que relaciona os
métodos científicos (hipótese, observação, descrição, previsão, controle...) afirmando que todos
os seres do nosso universo são naturais e que todo o conhecimento que se tem sobre o universo
só é possível com investigações científicas. Na concepção naturalista, a natureza é
completamente conhecível, porque ela apresenta uma unidade, uma regularidade e uma
perfeição que é resultado das leis objetivas que podem ser decifradas pelo conhecimento
científico e seus métodos.
As teorias transcendentes e metafísicas presentes no mundo são ignoradas pelo naturalismo,
pois o mesmo insiste que todos os fenômenos podem ser analisados pelo homem através de
métodos científicos, sendo assim, qualquer teoria sobrenatural, por exemplo, é nula a um
fenômeno natural. Atualmente, o pensamento filosófico deixou de ser naturalista, onde a
natureza é o centro de tudo, ou heliocentro e passou a ser etnocêntrico, ou seja, o homem
começa a obter hábitos sociais que acabam julgando o que é melhor ou pior devido a sua
categoria social. No naturalismo, somente as leis e as forças da natureza atuam no mundo. Cada
etapa da evolução do universo é de encargo das leis naturais que conduzem a estrutura e o
comportamento da natureza.
O naturalismo é, "em oposição ao sobrenatural ou espiritual, a ideia ou crença de que apenas
as leis e as forças naturais operam no mundo; em extensão, a ideia ou crença de que não existe
nada além do mundo natural.
2- 0 período chamado humanista, que em parte, coincide com a última fase da filosofia
naturalista e com sua dissolução, tendo como protagonistas os Sofistas e, sobretudo, Sócrates,
que pela primeira vez procura determinar a essência do homem. Humanismo ] é a filosofia moral
que coloca os humanos como principais, numa escala de importância, no centro do mundo. É
uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas que atribuem a maior
importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, particularmente a racionalidade.
Embora a palavra possa ter diversos sentidos, o significado filosófico essencial destaca-se por
contraposição ao apelo ao sobrenatural ou a uma autoridade superior.
3) 0 momento das grandes sínteses de Platão e Aristóteles, que coincide com o século IV a.C.,
caracterizando-se sobretudo pela descoberta do suprassensível e pela explicitação e formulação
orgânica de viários problemas da filosofia. Era essa a ideia de Platão. Este filósofo recusava a
realidade do mundo dos sentidos; toda a mudança que observamos diariamente era apenas
ilusão, reflexos pálidos de uma realidade suprassensível que poderia ser verdadeiramente
conhecida. Para Platão, só podíamos ter conhecimento do domínio suprassensível, a que ele
chamou o domínio das ideias ou formas; do mundo sensível não podíamos senão ter opiniões,
também elas em constante fluxo. O domínio do sensível era, para Platão, uma forma de opinião
inferior e instável que nunca nos levaria à verdade universal, eterna e imutável, já que se a
mesma coisa fosse verdadeira num momento e falsa no momento seguinte, então não poderia
ser conhecida.
4) Segue-se o período caracterizado pelas Escolas Helenísticas, que vai da conquista de
Alexandre Magno até o fim da era pagã e que, além do florescimento do Cinismo, vê surgirem
também os grandes movimentos do Epicurismo, do Estoicismo, do Ceticismo e a posterior
difusão do Ecletismo. Os pensadores do período helenístico preocuparam-se especialmente
com a condução da vida humana e com a busca pela tranquilidade espiritual (chamada de
ataraxia), que como consequência, proporcionaria a felicidade.
Epicurismo-Para o filósofo, a busca pelos prazeres moderados é a chave para a paz de espírito
(ataraxia). Aquele que é sábio, portanto, deve evitar certos tipos de prazeres que lhe podem ser
prejudicais, e deve buscar os prazeres corretos para encontrar a felicidade.
Estoicismo- pode-se dizer que os estoicos acreditavam que há um ordenamento cósmico que
rege a existência, e que o homem virtuoso deve aceitar viver de acordo com esse fato. A
estrutura do pensamento estoicista fundamenta-se sobre a lógica, a física e a ética.
Ceticismo-Para os céticos pirrônicos (ou seja, seguidores de Pirro), o homem seria incapaz de
formular certezas a respeito da natureza, e por isso, deveria optar pela suspensão do juízo que
lhe ajudaria a combater a ansiedade. Houve outra vertente desta mesma escola, chamada
Ceticismo Acadêmico, que acreditava que os sentidos são falhos e incapazes de proporcionar
um tipo de conhecimento seguro.
Cinismo- Escola marcada especialmente pela figura de Diógenes de Sinope, conhecido como “o
cão”, viveu pelas ruas de Atenas levando uma vida despojada, simples e sem se importar com
qualquer tipo de convenção social vigente. O filósofo recusava e combatia a fama, a posição
social, o dinheiro e o acúmulo de materiais, pois para ele, nenhum destes elementos pode
proporcionar felicidade. A palavra “cínico” vem da palavra grega “kynicos” que significa “cão”.
5) 0 período religioso do pensamento desenvolve-se quase inteiramente em época cristã,
caracterizando-se sobretudo por um grandioso renascimento do Platonismo, que culminara com
o movimento neoplatônico. 0 reflorescimento das outras escolas será condicionado de vários
modos pelo mesmo Platonismo. Um dos movimentos filosóficos mais significativos da
Antiguidade foi o neoplatonismo, assim denominado por beber na fonte da teoria platônica. Na
verdade, só nos dias atuais os pesquisadores acrescentaram o prefixo neo, para marcar uma
diferença em relação às duas correntes, as quais, apesar das aparências, eram bem distintas
uma da outra.
Ao contrário de Platão, Plotino acreditava em uma espécie de monismo idealista. Para ele só
existia mesmo Deus ou o Uno, de onde emana a fonte divina que irradia por toda a criação.
Segundo este filósofo, as sombras nada mais eram que a carência de luz, a qual não conseguia
atingi-las; mas não se podia dizer que elas tinham uma real existência.
Desta forma, os neoplatônicos rejeitavam o conceito do mal, e acreditavam apenas em graus de
imperfeição, na carência da prática do bem. Contrariamente aos ensinamentos cristãos, não era
necessário transpor as fronteiras da morte, caminhar para estágios de uma vida na
espiritualidade, a fim de se conquistar uma alma perfeita e feliz. Estas virtudes podiam ser
obtidas através do exercício constante da meditação filosófica.
6) Nesse período nasce e se desenvolve o pensamento cristão, que tenta formular
racionalmente o dogma da nova religião e defini-lo a luz da razio, com categorias derivadas dos
filósofos gregos. A vitória dos cristãos impor6 sobretudo um repensamento da mensagem
evangélica a luz das categorias da razão. Este momento do pensamento antigo constitui, por,
um coroamento do pensamento grego, mas assinala, antes, a entrada em crise e a superação de
sua maneira de pensar e, assim, prepara a civilização medieval e as bases do que será o
pensamento cristão "europeu".
Os naturalistas – filósofos physis
Tales de Mileto
Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência- de
um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que tal
princípio é a agua. Essa proposição e importantíssima, como logo veremos, podendo com
boa dose de razão ser qualificada como "a primeira proposta filosófica daquilo que se
costuma chamar de civilização ocidental".
O "principio" pode ser definido como aquilo do qual provém, aquilo no qual se concluem
e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas.0s primeiros filósofos (talvez o
próprio Tales) denominaram esse princípio com o termo physis, que indica natureza, não
no sentido moderno do termo, mas no sentido originário de realidade primeira e
fundamental.
A tradição indireta diz que Tales deduziu sua convicção "da constatação de que a nutrição
de todas as coisas é úmida", que as sementes e os germes de todas as coisas "tem natureza
úmida", e de que, portanto, a secura total é a morte. Assim como a vida está ligada i
umidade e esta pressupõe a água, então a água é a fonte última da vida e de todas as
coisas. Tudo vem da água, tudo sustenta sua vida com água e tudo termina na água. Tales,
portanto, fundamenta suas asserções sobre o raciocínio puro, sobre ologos; apresenta uma
forma de conhecimento motivado com argumentações racionais precisas.
Mas não se deve acreditar que a água de Tales seja o elemento físico-químico que hoje
bebemos. A água de Tales deve ser pensada de modo totalizante, ou seja, como a physis
liquida originária da qual tudo deriva e da qual a água que bebemos é apenas uma de suas
tantas manifestações. Tales é um "naturalista" no sentido antigo do termo e não um
"materialista" no sentido moderno e contemporâneo. Com efeito, sua "água" coincidia
com o divino. Desse modo, introduz-se nova concepção de Deus: trata-se de uma
concepção na qual predomina a razão, e destina-se, enquanto tal, a eliminar logo todos os
deuses do politeísmo fantástico- poético dos gregos.
Ao afirmar posteriormente que "tudo está cheio de deuses", Tales queria dizer que tudo é
permeado pelo princípio originário. E como o princípio originário é vida, tudo é vivo e
tudo tem alma (pampsiquismo).
Com Tales, o logo humano rumou com segurança pelo caminho da conquista da realidade
em seu todo (a questão do principio de todas as coisas) e em algumas de suas partes (as
que constituem o objeto das "ciências particulares", como hoje as chamamos).

Heráclito- A doutrina do tudo se escorre


Tudo se move", "tudo escorre", nada permanece imóvel e fixo, tudo muda e se transmuta,
sem exceção. Em dois de seus mais famosos fragmentos podemos ler: "Não se pode
descer duas vezes no mesmo rio. O rio ´w "aparentemente" sempre o mesmo, mas, "na
realidade", é constituído por águas sempre novas e diferentes, que sobrevém e se dispersam.
A doutrina da harmonia dos contrários-continua passagem de um contrário ao outro: as coisas
frias se aquecem, os quentes se resfriam, as úmidas secam, as secas tornam-se úmidas, o jovem
envelhece, o vivo morre, mas daquilo que está morto renasce outra vida jovem, e assim por diante.
Ha, portanto, guerra perpétua entre os contrários que se aproximam. Mas, como toda coisa só tem
realidade precisamente no devir, a guerra (entre os opostos) se revela essencial.
Trata-se, porém, de uma guerra que, ao mesmo tempo, é paz, e de um contraste que é, ao mesmo
tempo, harmonia. Aquilo que é oposição se concilia, das coisas diferentes nasce a mais bela
harmonia e tudo se gera por meio de contrastes"; "harmonia dos contrários, como a harmonia do
arco e da lira." Somente em contenda entre si é que os contrários dão sentido especifico um ao
outro: "A doença torna doce a saúde, a fome torna doce a saciedade e o cansaço torna doce o
repouso.

0s pitagóricos e o número como principio


0 ideal político pitagórico era uma forma de aristocracia baseada nas novas camadas
dedicadas especialmente ao comércio, que, como já dissemos, haviam alcançado elevado
nível nas colônias, antes ainda do que na mãe pátria. Os Pitagóricos indicaram o número
(e os componentes do número) como o "principio", ao invés da água, do ar ou do fogo.
0sPitagóricos foram os primeiros que se dedicaram as matemáticas e as fizeram progredir.
Nutridos pelas mesmas, acreditaram que os princípios delas fossem os princípios de todas
as coisas que existem.
Na realidade, a descoberta de que em todas as coisas existe regularidade matemática, ou
seja, numérica, deve ter produzido uma impressão tão extraordinária a ponto de levar a
mudança de perspectiva da qual falamos, e que marcou uma etapa fundamental no
desenvolvimento espiritual do Ocidente.

Pitagóricos
Contemporâneos a estes filósofos, e também anteriores a ales, sendo os assim chamados
Pitágoras. Eles primeiro se aplicaram as matemáticas e as fizeram progredir e, nutridos
pelas mesmas, creram que os princípios delas fossem princípios de todos os seres. E,
como nas matemáticas os números sendo por sua natureza os princípios primeiros, e
exatamente nos números eles afirmavam ver muitas semelhanças com as coisas que
existem e são geradas. Porque todas as outras coisas, em toda a realidade, pareciam-lhes
que fossem feitas a imagem dos números e que os números fossem aquilo que o primeiro
em toda a realidade, pensaram que os elementos dos números fossem elementos de todas
as coisas, e que o céu inteiro fosse harmonia e número.
Eles colocam, depois, como elementos constitutivos do número o par e o ímpar; destes, o
primeiro é ilimitado, enquanto o segundo é limitado. Alcméon esteve no auge quando
Pitágoras era ancião e professou uma doutrina muito semelhante a dos Pitágoras. Ele
dizia, de fato, que as múltiplas coisas humanas formam pares de contrários, que ele porém
agrupou não como os Pitagóricos de modo bem determinado mas ao acaso, como por
exemplo: bronco-preto, doce-amargo, bom-mau, grande-pequeno. Fez, portanto,
afirmações desordenadas a respeito de todos os pares de contrários
De um e outros podemos reter apenas o seguinte: os contrários são os princípios dos seres.

Símbolos e preceitos morais religiosos


Concluindo, lemos alguns pontos importantes trechos de vidas dos filósofos, de Diógenes
Laércio, em que são enumerados alguns preceitos morais e religiosos pitagóricos
Preceitos que permaneceram por muito tempo secretos, como de resto os outros
ensinamentos de Pitagóricas. Com o símbolo "não atice o fogo com a faca" queria dizer:
não provocar a ira e o orgulho altivo dos poderosos; com o outro: "não fazer pender a
balança", não violar a equidade e a justiça com o outro: "não se sentar sobre a vasilha",
cuidar também do futuro, pois a vasilha é a ração de um dia. Com "não comer o coração”
queria significar: não consumir a alma com afobações e dores. Proibia oferecer vítimas
aos deuses, permitia venerar apenas o altar purificado de sangue. Nem se deve jurar pelos
deuses; é necessário, com efeito, tornar a si mesmo digno de fé. É preciso honrar os
anciãos, porque aquilo que cronologicamente vem antes merece maior honra; assim como
no mundo a aurora precede o por-do-sol, também na vida humana o princípio precede o
fim, e na vida orgânica o nascimento precede a morte.

O antropomorfismo é uma forma de pensamento que atribui características ou aspectos


humanos a animais, deuses, elementos da natureza e constituintes da realidade em geral.
Nesse sentido, toda a mitologia grega, por exemplo, é antropomórfica
Xénofanes
Esse erro consiste no antropomorfismo, ou seja, em atribuir aos deuses formas exteriores,
características psicológicas e paixões iguais ou análogas as que são próprias dos homens,
apenas quantitativamente mais notáveis, mas não qualitativamente diferentes.
Agudamente, Xénofanes objeta que se os animais tivessem mãos e pudessem fazer
imagens de deuses, os fariam em forma de animal, assim como os Etíopes, que são negros
e tem o nariz achatado, representam seus deuses negros e com o nariz achatado.
A breve distância de seu nascimento, a filosofia mostra a sua forte carga inovadora,
desmontando crenças seculares que se consideravam muito solidas, mas somente porque
se enraíza no modo de pensar e de sentir tipicamente helênico; contesta-lhes qualquer
validade e revoluciona inteiramente o modo de ver Deus que fora próprio do homem
antigo.
Se o Deus de Xénofanes como Deus-cosmo, então podemos compreender claramente as
outras afirmações do filosofo, ou seja, de que Deus "tudo vê, tudo pensa, tudo ouve"; mas
"sem esforço, com a força de sua mente, tudo faz vibrar"; e que, por fim, "permanece
sempre no mesmo lugar sem se mover de modo algum, pois não lhe é próprio andar ora
em um lugar, ora em outro". Em resumo: o ver, o ouvir, o pensar e a onipotente força que
tudo faz vibrar junto com sua estabilidade, são atribuídos a Deus, não em uma dimensão
humana, e sim em uma dimensão cosmológica.

A critica da concepção antropomórfica dos deuses


Xénofanes crítica as concepções tradicionais do divino que eram antropomórficas
Se os bois, cavalos e leões tivessem mãos ou se pudessem pintar e realizar as obras que
os homens fazem com as mãos, os cavalos pintariam imagem dos deuses semelhantes aos
cavalos 0s Etiopes dizem que seus deuses são negros e de nariz achatado. 0s Trácios
dizem ao contrário que tem olhos azuis e cabelos ruivos.

Parmênides
A argumentação é muito simples: tudo aquilo que alguém pensa e diz, é. Coincidem: ". .
.pensar e ser é o mesmo". Há muito que os interpretes apontaram nesse princípio de
Parmênides a primeira grande formulação do princípio da não contradição, isto é, daquele
princípio que afirma a impossibilidade de que os contraditórios coexistam ao mesmo
tempo. E os dois contraditórios supremos não precisamente o "ser" e o "não-ser"; se existe
o ser, é necessário que não exista o não-ser.

A segunda via
0 caminho da verdade é o caminho da razão (a senda do dia), ao passo que o caminho do
erro, substancialmente, é o caminho dos sentidos (a senda da noite). Com efeito, os
sentidos pareceriam atestar o não ser, a medida que parecem atestar a existência do nascer
e do morrer, do movimento e do devir (é um conceito filosófico que significa as mudanças
pelas quais passam as coisas). Por isso, a deusa exorta Parmênides a não se deixar enganar
pelos sentidos e pelo hábito que eles criam, contrapondo aos sentidos a razão.

Zenão e o nascimento da dialética


0s argumentos de Zenão contra o movimento. Pretende-se que, movendo-se de um ponto
de partida, um corpo possa alcançar a meta estabelecida. No entanto, isso não é possível.
Com efeito, antes de alcançar a meta, tal corpo deveria percorrer a metade do caminho
que deve percorrer e, antes disso, a metade da metade e, antes, a metade da metade da
metade, e assim por diante, ao infinito (a metade da metade da metade ... nunca chega ao
zero). Esse é o primeiro argumento, chamado "da dicotomia".
No menos famoso é o "de Aquiles", o qual demonstra que Aquiles, conhecido por ser "o
pé veloz", nunca poderia alcançar a tartaruga, conhecida por ser muito lenta. Com efeito,
caso se admitisse o oposto, se apresentariam as mesmas dificuldades
vistas no argumento anterior.
Um terceiro argumento, chamado "da flecha", demonstrava que uma flecha lançada do
arco, que a opinião comum crê estar em movimento, na realidade está parada. Com efeito,
em cada um dos instantes em que o tempo de voo é divisível, a flecha ocupa um espaço
idêntico; mas aquilo que ocupa um espaço idêntico está em repouso; então, se a flecha
estiver em repouso em cada um dos instantes, deve estar também na totalidade (na soma)
de todos os instantes.
Um quarto argumento tendia a demonstrar que a velocidade, considerada como uma das
propriedades essenciais do movimento, não é algo objetivo, mas sim relativo, e que,
portanto, o movimento do qual é propriedade essencial também é relativo e não objetivo.

Eleatismo
0 grande problema que os Eleatas deixavam para os sucessores era o seguinte: era
necessário reconhecer a razão, as suas razoes, mas, ao mesmo tempo, deviam ser
reconhecidas também as razões da experiência, que testemunha (sob certos aspectos) ao
contrário.

A amizade e o ódio como forças motrizes e seus efeitos


Empedócles introduziu as forças cósmicas do Amor ou da Amizade e do ódio ou discórdia,
respectivamente, como causa da união e da separação dos elementos. Tais forças, segundo uma
alternância, predominam uma sobre a outra e vice-versa por períodos de tempo constantes, fixados
pelo destino. Quando predomina o Amor ou a Amizade, os elementos se reúnem em unidade;
quando predomina o ódio ou a discórdia, ao contrário, eles se separam.

Heráclito
“Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substancia
mortal no mesmo estado, mas, por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança se
espalha e se reúne, vem e vai.”
Vendo que toda a realidade sensível está em movimento e que daquilo que muda não se pode
dizer nada de verdadeiro, concluíram que não é possível dizer a verdade sobre aquilo que muda
em todo sentido e de toda maneira.
A harmonia dos opostos ao qual o devir se desenvolve.
É fato que o devir e, portanto, o ser, implica o continuo passar de um contrário ao outro e,
portanto, ele pareceria a atuação de continua luta dos contrários, corno dizia Anaximandro;
todavia, destes contrários, diz Heraclito, nasce uma harmonia, portanto, maravilhosa síntese
unitária.
0 que é oposição se concilia e das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia, e tudo é gerado
por via dos contrastes. A doença torna doce a saúde, a fome torna doce a sociedade e a fadiga
torna doce o repouso.
Página 59 (página do livro)

As palavras que concluem o prologo deixam claro que são as três vias sobre quais procede o
pensamento humano.
I) a da pura verdade,
9) a das opiniões erradas dos mortais
3) a do opinião plausível que se move de modo correto entre as aparências
Recordemos alguns conceitos chaves, Parmenídes fala da via da verdade absoluta, ou seja, da via
do ser e, por antítese, da via absoluta da falsidade, que é a via do não ser, ou seja, a via que
percorrem aqueles mortais que crêem que ser e não ser, se misturem a vários modos.

As demonstrações por absurdo das teses do Eleatismo

Zenão desempenhou a função de atacante dos adversários da escola eleática. Com efeito,
procurou defender as teses de Parmenídes media as sistemáticas refutações das teses
contrarias dos adversários, para reduzi-los ao silêncio. Nasceu com ele a assim chamada
demonstração por absurdo que, ao invés de demonstrar uma tese partindo de determinados
princípios, procura prová-la levando ao absurdo a tese contraditória.

Inteligência Cósmica

Com efeito (Platão) eu não teria acreditado jamais que alguém sustentava que as coisas
foram ordenadas pela inteligência cósmica ( universal), atribuísse a elas outra coisa que
não fossem essa, ou seja, que o melhor para elas eram ser como são. Ex: Se a terra é plana
; é por que deveria ser assim ou se a terra é redonda ela deveria ser assim. Acredito que
atribuindo a causa a cada coisa em particular e a todos em comum, teria explicado aquilo
que é melhor para cada uma delas e aquilo que é melhor e que é comum a todas.
Anaxágoras, embora tenham introduzindo uma inteligência cósmica para todas as coisas,
permaneceu no plano físico e continuava a dar relevância para isso. Deveria ter mostrado
com a inteligência como tal, age em função do melhor, ou seja, do bem, que implica uma
dimensão do ser que está além do puramente físico.
Se alguém dissesse que se não tivesse um corpo ( esqueleto, órgãos e pele), não teria
condições de fazer aquilo que quero, diria bem: mas se dissesse que faço as coisas que
faço exatamente por causa destas e fazendo as coisas que faço, eu posso agir assim, com
a minha inteligência, mas não da virtude da escolha do melhor, raciocinaria com grande
leviandade.

.
A ética de Demócrito
Alcança a tranquilidade de espírito pelo equilíbrio dos prazeres e pela moderação geral
na vida: o demasiado e o pouco são fáceis de mudar e portanto de produzir grandes
perturbações no espírito. E os espíritos que estão sempre agitados entre os extremos
opostos não são firmes e nem tranquilos. Deve se voltar a mente para as coisas possíveis
e contentar-se com aquilo que se tem, não se preocupando com pessoas invejadas e
admiradas. E não ficar pensando nelas, tem que olhar para a vida daqueles que estão
sobrecarregados de aborrecimentos, refletindo seriamente sobre o que suportam e então
o que possuímos no presente nos parecerá grande e invejável e não acontecerá de
sofrermos em nosso coração pelo desejo de bens maiores .
Se alguém admira os ricos e todos os outros que são afortunados, em todo momento seu
pensamento se dirige a eles, será forçado a perseguir continuamente o novo e até desejar
realizar alguma ação irremediável ( ações que são proibidas pelas leis). Por isso é preciso
não buscar tudo o que vemos, mas contentar-se com aquilo que temos, comparando as
nossas vidas com aqueles que estão em condições piores e considerarmos felizes,
pensando o quanto eles suportam e quanto é melhor nosso estado em relações a eles. Se
considerar assim as coisas, viverá com o espirito tranquilo e expulsará inspirações
funestas, como a inveja, a ambição e a inimizade.
Origens, natureza e finalidade do movimento sofista.
Sofista significa sábio e sábio em cada um dos problemas que dizem respeito ao homem
e a sua posição na sociedade. Constituiu a radical inovação da problemática filosófica,
deslocando as pesquisas do cosmo para o homem, inaugura o período humanista da
filosofia grega. Esta nova orientação vai além das causas filosóficas- os filósofos da
natureza não souberam dar uma resposta satisfatória ao problema do princípio- também
as causas sociopolíticas: a crise da aristocracia e a ascensão da nova classe social.
Os sofistas proclamaram a arte de educar os homens e prepara-los para a vida política,
oferecendo lhe novas ideias e novos instrumentos.

Significado do termo sofista


Sofista significa sábio, especialista do saber. A acepção do termo que em si mesma é
positiva, tornou-se negativa sobretudo pela tomada de posição polêmica de Platão e
Aristóteles. Informações fornecidas por Platão e Aristóteles sobre os sofistas, do jeito que
esse movimento foi desvalorizado e considerado como momento de grave decadência do
pensamento grego. Somente no século XX foi possível uma revisão sistemáticas desses
juízos e uma radical reavaliação histórica dos sofistas e a conclusão que chegou que os
sofistas constituem um elo essencial da história do pensamento antigo.

Deslocamento do interesse da natureza do homem


Os sofistas operaram uma verdadeira revolução espiritual, deslocando a reflexão da
physis e do cosmo para o homem e aquilo que concerne a vida, do homem como membro
da sociedade. Centrando seus interesses sobre a ética, a política, a retórica, a arte, a língua,
a religião e a educação, ou seja, sobre aquilo que chamamos de cultura do homem. Correto
afirmas que os sofistas iniciam o período humanista da filosofia antiga.
E isso se originou por duas causas. A filosofia da physis (a natureza enquanto fonte de
progresso e evolução) exauriu todas as suas possibilidades, o pensamento “físico” chegara
aos seus limites extremos. Desse modo era fatal a busca de outro objetivo. Do outro lado
no século V a.c, manifestaram fermentos sociais, econômicos e culturais que ao mesmo
tempo, favoreceu o desenvolvimento da Sofística.

Mudanças sociopolíticas que favoreceram o nascimento da sofística


A crise da aristocracia, acompanhado pelo sempre crescente poder do povo, o fluxo cada
vez mais maciço de estrangeiros as cidades, especialmente em antenas, com ampliação
do comércio, que superando os limites de cada cidade, levava a cada uma delas o contato
com o mundo mais amplo; a difusão de conhecimentos e experiências dos viajantes, que
levava a inevitável comparação entre usos, costumes e leis helênicas ( leis totalmente
diferentes).
Todos esses fatores contribuíram para a problemática sofística. A crise da Aristocracia
implicou também na crise da antiga areté, os valores tradicionais que eram apreciados
pela Aristocracia. A crescente afirmação de poder do demos (uma subdivisão da Ática,
região da Grécia em torno de Atenas. Os demos já existiam, como meras subdivisões de
terra nas áreas rurais-povo) e a possiblidade de aceder ao poder a círculos mais vastos,
fizeram desmoronar a convicção de que a areté estivesse ligado a nascença, isto é, quem
nasce virtuoso e não se tornava, pondo a questão de como se adquire a virtude política. A
ruptura do círculo restrito da pólis (cidade gregas) e o conhecimento e costumes, uso e
leis opostos deveriam constituir a premissa do relativismo, gerando a convicção que
aquilo é verdadeiramente válido, na verdade não tinha valor em outros meios e em outras
circunstâncias.
*Areté é uma palavra de origem grega que expressa o conceito grego de excelência, ligado
à noção de cumprimento do propósito ou da função a que o indivíduo se destina. No
sentido grego, a virtude coincide com a realização da própria essência, e portanto a noção
se estende a todos os seres vivos. Segundo Sócrates, a virtude é fazer aquilo que a que
cada um se destina. Aquilo que no plano objetivo é a realização da própria essência, no
plano subjetivo coincide com a própria felicidade.
Na Grécia Antiga, aretê significava também a coragem e a força de enfrentar todas as
adversidades, e era uma virtude a que todos aspiravam. A raiz da palavra é a mesma de
aristos, que originou aristocracia, que significa habilidade ou superioridade, e era
constantemente usada para denotar nobreza. O termo era aplicado para qualquer coisa,
desde a descrição da boa fatura de um objeto utilitário até para indicar o cidadão exemplar
e o herói, mas em todos os casos a aretê de cada um envolvia valores diferentes.
Posições assumidas pelos Sofistas e suas avaliações opostas
Os sofistas souberam captar de modo perfeito essas instâncias da época conturbada,
sabendo explicitar da melhor forma. Tendo sucesso especialmente entre os jovens,
respondendo as reais necessidades do momento ( dando a palavra nova que esperaram),
já que não estão mais satisfeitos com os valores tradicionais que a velha geração lhe
propunha. Sofistas foram poucos apreciados pela sua forma de difundir a cultura, do fator
de tornar esta difusão uma profissão, de percorrer várias cidades- estado, sua liberdade de
espírito e a crítica em relação a tradição.
Os diversos tipos de sofistas
Os sofistas não foram um bloco compacto de pensadores, visavam as mesmas finalidades
com esforços independentes. Existiam 4 grupos de sofistas:1- Os famosos mestres da
primeira geração e que não estavam privados de reservas morais e eram considerados por
Platão 2-Erísticos , que levavam o aspecto formal do método a exasperação, perderem o
interesse pelo conteúdo e também perderam a moral que a caracterizava os mestres.3-
Políticos Sofistas- usavam ideias sofistas em sentido ideológico ( com finalidades
políticas), caindo em vários excessos, até a teorização do imoralismo.4- Escola particular
de sofistas que tomaram o nome de “naturalista”.

Protágoras (sofista)
Fundador do relativismo ocidental que expressou a fórmula “o homem é medida de todas
as coisas”, não existe critério absoluto para julgar o verdadeiro e o falso, o bem e o mal,
mas que cada homem julga conforme o próprio modo de ver as coisas. Para cada tese
pode trazer argumento favor ou contra e possível segundo Protágoras, tornar o mais forte
argumento no mais fraco, nisso consistia a virtude ( a habilidade do homem). Então o
verdadeiro e o falso, o bem e o mal, perdem qualquer determinação absoluta.
Entretanto nem tudo para Protágoras é relativo: o homem é medida da verdade é medido
pelo útil e pelo danoso, estes tornam referências.
O homens são por aquilo que são e das que não são por aquilo que não são ( princípio do
homem mensura). Não existe critério absoluto (relativismo), o único critério é apenas o
homem individual “ Tal como cada coisa aparece para mim, tal é para mim; tal coisa que
aparece para você , é para você.” Sendo assim ninguém está no errro , mas todos estão
com a verdade ( a sua verdade).
Relativismo, em torno de cada coisa há dois raciocínios que se contrapõem ( é possível
dizer e contradizer) é possível apresentar razões que se anulam reciprocamente. Pode
tornar o argumento mais fraco no mais forte, não quer dizer que Protágoras ensinasse a
injustiça e a iniquidade contra a justiça e a retidão, mas ensinava a todos como a técnica
era possível ( qualquer que fosse o conteúdo).
A virtude era a habilidade de saber prevalecer qualquer ponto de vista sobre opinião
oposta. Portanto tudo é relativo, não existe verdadeiro absoluto e também não existem
valores morais ( bens absolutos). Existe algo que é mais útil, mais conveniente e mais
oportuno, sabendo convencer também os outros a reconhece-lo e pô-lo em prática.
Dessa forma o relativismo recebe forte limitação. Com efeito, pareceria que enquanto é
medida e mensurada em relação a verdade e a falsidade, o homem seja medido em relação
a utilidade, de alguma forma a utilidade venha se apresentar como objetiva. O bem e o
mal seria útil e danoso e o melhor e o pior, o mais útil e mais danoso.

Górgias de Leontini
A palavra perdendo qualquer relação com o ser, não é mais veículo da verdade, mas torna
portadora da persuasão e sugestão: se esta ação tem propósito prático ( convencer o
público na assembleia, juízes num processo) temos a retórica (oratória), se ao invés, tem
propósito puramente estético, temos a arte.
Parte do niilismo para construir o edifício da retórica. Não existe o ser, mesmo que fosse
pensável, o ser permaneceria inexprimível. A palavra não pode produzir verazmente coisa
nenhuma que não seja ela própria. Como a vista não conhece os sons, igualmente o ouvido
não conhece as cores, mas os sons; e diz o certo quem diz, mas não diz uma cor, nem uma
experiência.
Elimina a possibilidade de conhecer a verdade uma “verdade” absoluta, restanto o
caminho da opinião que é negada também ( a mais pérfida). Então existe o caminho da
razão que se limitar a iluminar fatos, circunstâncias e situações da vida, sem chegar a dar
um fundamento adequado.
Se não existe verdade absoluta e tudo é falso, a palavra adquire então autonomia própria,
quase ilimitada, por que desliga dos vínculos do ser. A palavra pode se tornar disponível
para tudo. No plano teórico da verdade que prescinde de toda verdade, ela pode ser
portadora da persuasão, crença e sugestão, tendo enorme importância na política.
• Niilismo é a teoria filosófica que se fundamenta sobre a admissão de que não
existe ser e, portanto, o nada existe. No niilismo metafísico segue orelativismo
gnosiológico e moral, enquanto na ausência do ser, não é possível fixar uma
verdade, um bem absoluto.
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Pródico de Ceos
Descobriu a técnica da sinonímia, a pesquisa dos termos sinônimos e das diferentes
nuanças dos seus significados. Permiti elaborar discurso sutis e convincentes nos debates
públicos e nas assembleias.

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