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A verdade que precisa se acreditada

Se você encontrou este diário, é porque eu não sobrevivi a este lugar infernal e você caro
explorador, teve mais sorte do que eu. Há uma caixa ao meu lado, e tudo que eu mais queria é algo
que possa aliviar minha dor, mas, eu sei que não é isso que me aguarda, não nesta sala que meus
olhos veem e mesmo assim minha mente é limitada demais para compreender, sinto que há algo me
esperando, me observando, à espera que eu faça o que ele planeja para se mostrar.

Meu nome é Sid II, um elfo que resolveu treinar suas habilidades de batalha mais rigorosamente, eu
não conhecia este lugar e preferiria ter continuado sem conhecer, entretanto, minha idade jovem e
inconsequente não quis acreditar nas lendas deste mortuário, hahahah, parece que eu envelheci
algumas centenas de anos desde que me aventurei aqui.

Deveria ter adivinhado que algo não sairia como planejado, inciando pela minha entrada, ao
vislumbrar as portas da Fortaleza de Berdolock, fui atacado por um Carniçal, um cão vindo direto
das profundezas de um pesadelo, uma cria de algum necromante, ele consegue me ferir no braço,
mas um ferimento leve, como inocente eu era, por não perceber que cada ferimento seria mortal,
mas consegui abatê-lo sem dificuldades. O que na hora me pareceu que os ventos da boa sorte
estavam soprando atrás de mim, agora percebo que eram os ventos da morte a minha frente que me
abraçavam de boa vontade.

Ao adentrar, a seção, era algo comum, para qualquer ser que a visse pela primeira vez, e se
perguntasse “Ok, estátuas, espadas presas a parede” nada fora do comum, não vou mentir, aqueles
monumentos me fizeram pensar um pouco, “Até parecem comigo”. Eu estava no centro do
cruzamento com três caminhos para seguir, me aproximo até a porta a minha frente e ela está
destrancada, resolvi seguir por ela.

Enquanto abria a porta, uma sensação estranha começou a subir pela minha espinha, dei alguns
passos e a porta atrás de mim se fechou. Parecia estar difícil de respirar, o ar estava pesado, pesado
ao ponto de parecer palpável, podia sentir algo, nesta sala grande com mais três caminhos a seguir,
algo que eu não conseguia enxergar, não me demorei aqui, fui direto para frente sem olhar para os
lados, em minha mente só desejava que a porta a qual me dirigia estivesse aberta, estava.

A próxima sala, era escura, mas como sou um Elfo não tenho tantas dificuldades para em lugares
assim, era outra encruzilhada, nesta sala vazia não havia nada na minha frente, resolvi seguir pela
esquerda desta vez, foi aí que descobrir os vermes que se rastejavam no chão enquanto os esmagava
com minha bota, foi um susto e tanto ouvir aquele barulho, sons, a ausência de sons neste lugar, não
é algo normal, essa escuridão parece sufocar tudo e qualquer vontade que quisesse fazer qualquer
ruído, enquanto andava, mesmo com cuidado, parecia que a morte dos vermes ecoava para as
futuras seções.

Ao adentrar, na próxima sala, foi algo mais reconfortante, havia estantes de livros e mais livros, não
me atentei à que se referiam, não me levem a mal, sempre preferi estar com minha espada em punho
do que um livro em minha cabeça, continuei meu caminho sem hesitar, mas nada é o que parece
neste lugar, mesmo nesta sala, ao tentar abrir a porta percebi que havia algo e logo me afastei,
espinhos caíram do teto em frente a porta, isso não poderia ter terminado bem, olhei para o meu
redor, e senti os livros me encararem, como se isto fosse uma peça que eles preparam para me
pegar, abri a porta e passei para a próxima sala.
Fechando a porta, senti o calor das tochas nas paredes, era outra sala grande com um altar no centro
e não havia mais nada, peguei o caminho da direita sem pensar duas vezes e me deparo com outro
altar, porém, diferente. Não era a mesma sensação tão forte quanto da segunda sala, mas havia algo
ali, mais uma vez segui para a próxima seção, um corredor, com mais livros.

Aposto que você deve estar pensando que depois do último incidente eu possa ter me interessado
mais por eles, hahahah, e a resposta é não. Entre as estantes eu encontrei o corpo de um aventureiro,
parecia jazer ali a um bom tempo. Abaixei-me para verificar se havia algo de útil, entretanto, não
consegui averiguar nada, no exato momento, um medo se abateu sobre mim, saquei minha espada e
pulei para o lado, a tempo de esquivar de um provável golpe mortal de um Elemental das Sombras,
investi contra ele por reflexo, sei que o atingi, mas não pareceu sentir meu golpe, ele ficou parado
me encarando, eu não pude ver nada, apenas uma capa preta flutuando com sombras que a
preenchiam e o contornavam, ele partiu para minha frente e com mais um golpe ele se dissolveu
deixando para trás somente a sua capa.

Respirei fundo, o corte que a tentativa do Carniçal de morder meu braço ainda doía um pouco, mas
pelo menos não estava mais sangrando, “preciso tomar mais cuidado” pensei, tive muita, mas muita
sorte desta vez, não acho que poderei contar com isso da próxima vez. Adiante, me deparo com
mais um altar, porém, este havia algo em cima dele, uma provável oferenda? Não saberia dizer.

Não fiquei para examinar, eu realmente não gosto de lugares desse tipo, me deparei com algo que
eu realmente não esperava ou esperava mas não fazia ideia que eu pudesse encontrar, um
laboratório de alquimia, ou de magia, o que seja lá o que fosse, parecia haver coisas que eu não
saberia dizer o que eram, frascos com líquidos, pós de várias cores, deixei tudo como estava e parti
para a próxima sala, onde eu encontrei, mais livros.

Assim que bati o olho nas estantes, saquei minha espada, se havia algo ali, eu não seria pego
desprevenido, podia sentir algo ali, mas tudo que eu via era livros e mais livros, o corredor fazia
uma curva para a direita, fiquei de costas na estante com o braço que empunhava meu escudo de
madeira preso ao meu peito enquanto meu outro braço estava abaixado, com a espada pronta para
desferir um golpe de baixo para cima no primeiro sinal. Tentava antecipar qualquer coisa, no tempo
que permanecia ali, agucei minha audição para tentar descobrir algo, mas o silencio continuava, as
únicas coisas que eu ouvia eram meus batimentos cardíacos que pareciam tambores naquele
silencio, tomei coragem e me virei. Lá estava ela, parada e imóvel a minha frente, a porta que eu
deveria atravessar, nada dos lados e nem embaixo, não abaixei meu escudo, ainda não, andei
cautelosamente, pé ante pé, quando percebi já era tarde mas não tanto, algo pulou de cima das
estantes atrás de mim, consegui esquivar mas meu rosto sofreu as consequências do meu descuido,
“Em cima, não acredito” pensei, ganhei um corte na minha bochecha que agora sangrava, mas não
tinha tempo para isso, pois o Goblin que aparecera na minha frente me fitava com aquele sorriso
sombrio, mostrando seus dentes podres, esperando mais um descuido, a raiva tomou conta de mim e
dei lhe uma investida que o fez bater nas paredes do corredor e ali ele ficou. “acabou?” você deve
estar achando estranho também, assim como eu, fiquei parado observando e ele percebeu, estando
deitado jogou algo em minha direção e veio correndo para me atacar, esquivei e tentei parti-lo com
minha espada, mas ele fez uma pirueta para o lado e cortou a parte de trás de minha coxa, arfei de
dor e me apoiei com um joelho no chão, enquanto tentava acertá-lo mais uma vez, sem sucesso.

Minha respiração, começou a ficar ofegante, estava perdendo sangue, eu sabia disso, não poderia
estender mais essa luta e em meu devaneio ele atacou mais uma vez mas consegui aparar seu golpe
e o empalei com minha espada, seu sangue jorrou contra mim enquanto eu rasgava seu corpo
imundo. Soltei a espada e caí sentado no chão. Aliviado, com dor e nessa hora uma preocupação
começou a tomar conta de mim, um receio, a semente de uma pequena dúvida começou a
desabrochar em meu coração, de que talvez eu sucumbisse neste lugar esquecido. Levantei com
esforço, peguei minha espada e fui até a porta, girei a maçaneta e senti lâminas entrarem em minha
mão enquanto a porta se abria, um grito reprimido de dor saiu pela minha garganta ecoando pela
nova sala que estava na minha frente, sentindo o sangue quente escorrer, caminhei para a nova sala
onde encontrei várias estátuas em ruínas, o cansaço, começou a cobrar meu corpo, “Eu preciso sair
deste lugar” mas não sabia como.

Na seção seguinte, me deparei com várias runas entalhadas no piso, uma provável sala de magia
talvez, mas não senti nada, parei aqui por alguns instantes, pois esta sala era mais iluminada que as
anteriores e não gostei nem um pouco da aparência da palma da minha mão, prendi um pedaço de
pano que cortei da minha camiseta e segui em frente.

A próxima sala, era uma outra espécie de biblioteca mas, em vez de livros haviam muitos tomos de
pergaminhos, atravessei o mais rápido, como se fugisse de qualquer coisa que ali podia estar
escondido, abri a porta e ao entrar quase tropecei em algo. Era uma armadura, ali, jogada,
possivelmente pertenceu a algum explorador que sucumbiu, troquei a minha por ela e me senti mais
protegido, algo nela conseguiu reacender a esperança que estava morrendo dentro de mim.

Lembro me de que, quando estava vestindo, as paredes eram cheias de sinais, talvez runas, mas
eram diferentes, sinais estranhos, com muitas curvas e alguns se interligavam, não sou nenhum
entendedor mas poderia ser algum tipo de escrita que eu não conheço.

A dor na minha perna começara a se intensificar, estava passando por outro altar mais uma vez,
“parece que é normal ter esses altares por aqui, não é Sid?”pensei, passei para a próxima sala sem
esperar.

Ao abrir a porta, algo me fez paralisar, uma brisa me tragou para dentro daquele, daquele,
mortuário? Circulo de sacrifício humano? Havia muitos mortos nessa sala e que não eram apenas de
aventureiros, não, não. Havia muitas outras pessoas, como velhos, crianças e animais, todos juntos.
Os corpos estavam amontoados sem nenhum tipo de padrão, como se tivessem sido jogados ali e
também havia aquela tensão no ar, enquanto atravessava a sala dos mortos encontrei uma trouxinha
perto da porta, verifiquei algumas moedas de ouro, prendi-a no meu cinto e avancei.

Aqui, meu caro, amigo de sorte por ter vencido este inferno, foi quando as coisas desandaram para
mim, claro, que você deve estar falando “Primeiro que você não deveria nem ter pensando em se
aventurar neste lugar e ter acreditado nas estórias”, mas veja bem, se existe alguém que possa ter
passado, por tudo isso e sobrevivido eu também poderia, pelo menos era no que eu acreditava.

Nesta nova sala, eu não consigo me lembrar dela, um medo se abateu sobre o meu corpo de uma
maneira que a adrenalina subiu ao seu ápice, não vi nada e ao mesmo tempo vi tudo, corri,
mancando mas corri, para longe daquele lugar, chutei a porta e continuei correndo, continuava com
um corredor, que virava, direita, esquerda, para frente, até que eu tropecei e caí no chão.

Eu estava na sala dos mortos mais uma vez, as moedas caíram e se espalharam pelo chão. Eu vi
aquilo e comecei a rir, gargalhar, como o destino é injusto, “tantas moedas de ouro, e tudo que eu
preciso é algo que acabe com a minha dor” disse em voz alta para quem quisesse ouvir. Depois de
um tempo me levantei, estar deitado no meio de tantos corpos mortos, não seria interessante para
minha saúde mental, não que eu estivesse em um estado equilibradamente normal, mas devido as
circunstâncias, não queria piorar minha loucura momentânea.

A nova sala que eu entrei, havia muita umidade, deveria haver algum vazamento, pois o lodo se
alastrou por toda ela, minha visão começou a ficar embaçada, devo ter perdido bastante sangue
nesse caminho todo, abri a porta e entrei e ali naquele salão eu sabia o que me aguardava.
Caí de joelhos, olhei para aquele lugar e minha mente não conseguia transformar em palavra,
coisas, vivencias para entender o que era tudo aquilo, eu parecia ter ido para outro mundo, estátuas
de Deuses? Eu não sei dizer, me encaravam, eu me encolhi com medo no canto da sala e ali fiquei,
minha dor aumentava a cada segundo, “Sid, aqui será seu fim! Você sabe disso meu amigo!” essas
palavras não paravam de martelar na minha cabeça, eu não conseguia pensar em outra coisa, até que
eu desisti.

Aquelas estátuas, que pareciam ser tão reais, continuavam a me encarar, havia tochas que
iluminavam o lugar, e eu estava sentado, encostado em uma parede, ao meu lado, percebi uma
pequena caixa, hahahah, “a esperança veio bater na minha porta uma última vez”. Tudo que eu
desejava era algo para sanar minha dor, algo que me anestesiasse, abri a caixa.

Um anel de ouro com uma pedra vermelha reluziu na escuridão, e a chama da esperança se apagou
de vez, atirei a caixa na parede a minha frente e o anel veio pulando para a minha direção e parou
no meu pé.
– Para quê vou usar você! Onde vou usar ouro?
Gritei para o alto, mas sabia, que era em vão, nesta fortaleza poderia haver deuses que a olhassem,
mas não nesta sala maldita, até eu ouvir algo na sala para onde eu deveria ir.

Silencio.

Neste exato momento, estou terminando de escrever o meu relato, utilizei as forças que me
restavam para que se alguém viesse a encontrar isso, é porque realmente esse foi o meu fim, mas
você que encontrou, conseguiu encontrar a saída? Se sim, passe esse manuscrito, diga a todos que
as lendas da Fortaleza de Berdolock são reais, para que ninguém caia numa armadilha assim como
eu. A porta a minha frente está abrindo, parece que está chegando a hora, neste momento sem
esperança não aceitarei a morte sem lutar, dou minha última olhada para esses seres em forma de
estátuas que não ouso descrever pois, não existem palavras que consigam tal coisa, a porta está
aberta e só me resta uma coisa …..

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