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Energia na era digital: quem

ganha o quê?
27.06.2016 às 11h53




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Os contadores inteligentes podem induzir novos padrões de consumo ajudando a


baixar a fatura
JAVIER LARREA
Seja na gestão da rede elétrica ou na relação com o cliente, a
digitalização da energia traz benefícios vários. Mas estamos a
aproveitar todo o potencial?

JOÃO RAMOS

MIGUEL PRADO
Afatura energética de grande parte dos consumidores
domésticos e dos pequenos negócios poderá reduzir-se de forma
significativa dentro de poucos anos. Uma boa notícia que é o
resultado da feliz conjugação de três inovações tecnológicas em
curso. A primeira resulta da massificação da microgeração
(produção de energia elétrica através de instalações de pequena
escala) usando fontes renováveis, geralmente painéis solares. A
segunda inovação está relacionada com as novas baterias
domésticas que permitem o armazenamento eficaz de energia.
Por último, os operadores e distribuidores de energia estão a
acelerar a democratização da rede elétrica inteligente (smart
grid), após uma fase de ensaios-piloto.

“Portugal está no pelotão dos países mais avançados no ensaio


de redes elétricas digitais e inteligentes”, defende António
Feijão, responsável pela área de energia na Cisco Portugal. Mas
o responsável desta multinacional americana, que deverá ter um
papel importante na infraestrutura tecnológica das smart grids,
admite que ainda “há um longo caminho a percorrer até que
toda a rede elétrica portuguesa esteja digitalizada”.

Este processo iniciou-se em 2007 quando a EDP Distribuição


lançou o projeto Inovgrid, para associar à gestão da rede a
inteligência própria das tecnologias de informação. As
chamadas smart grids permitem aos operadores detetar
problemas técnicos e solucioná-los muito mais rapidamente. E
gerir de forma eficaz uma rede cada vez mais complexa. Com
cada vez mais consumidores que também são produtores de
energia é essencial ter soluções que respondam rapidamente
para garantir o equilíbrio entre oferta e procura. A digitalização
dá essa resposta.

Segundo a EDP, há já mais de 7 mil controladores em postos de


transformação que comunicam com os terminais de supervisão
da rede de distribuição. E todos os postos de transformação têm
telecontagem.

As redes elétricas vão deixar de ser meras redes de distribuição


e vão tornar-se bidirecionais, em que a informação vai circular
através de uma rede IP (protocolo da internet). Para o
consumidor final, esta digitalização irá permitir a telemetria e a
venda da energia excedentária à rede (microgeração) ou o seu
armazenamento em baterias. Por exemplo, as americanas Tesla
(fabricante de veículos elétricos) e a SimpliPhi Power já
anunciaram baterias domésticas (custam atualmente €3 mil)
que armazenam energia produzida localmente.

Ao nível dos produtores e distribuidores de energia, a smart


grid também vai permitir controlar as subestações da rede de
forma a otimizar a gestão das fontes de energia (renováveis
versus convencionais). Toda a informação gerada através do
elevado número de sensores instalados na rede vai alimentar
sofisticados sistemas de informação que geram e analisam
grandes volumes de informação. São os sistemas big data que
preveem e antecipam padrões de consumo.

Outra consequência da digitalização, antevê António Feijão, é o


aparecimento dos chamados operadores over the top (OTT),
especialistas na gestão da rede elétrica inteligente que vão atuar
com novos modelos de negócio em áreas onde os operadores
históricos não estão preparados. Outro desafio que estes
operadores incumbentes têm de vencer, adverte o especialista
da Cisco Portugal, é o envelhecimento da força de trabalho, uma
vez que metade vai reformar-se nos próximos cinco anos. “Vai
ser necessário formar e admitir uma nova geração de técnicos
especializados em smart grids”, acrescenta.
Um terço dos clientes comunica leituras pela net
Na relação comercial entre as empresas de energia e os clientes
os canais digitais têm ganho importância. Na EDP cerca de 30%
das leituras da energia consumida são comunicadas pelos
clientes através da aplicação criada pela empresa, a EDP Online.
Segundo José Ferrari Careto, administrador da EDP Comercial,
10% a 15% dos clientes são utilizadores frequentes daquela
ferramenta.
Estes números, aponta o gestor, “são bastante bons” quando
comparados com os de outras utilities europeias. “Há dois anos
estávamos com números muito mais baixos. “Temos vindo a
progredir na relação digital com os clientes”, sublinha.
Há outra área em que os benefícios do digital têm espaço para
crescer. Hoje é ainda residual a quota de consumidores que
usam contadores inteligentes para gerir de forma mais eficiente
os seus consumos.
José Basílio Simões, presidente executivo da Virtual Power
Solutions (VPS), nota que o mercado energético está a fazer um
caminho similar ao das telecomunicações, que em alguns anos
evoluíram do paradigma do telefone fixo para o dos telemóveis
e, rapidamente, para a era dos smartphones. Na energia há
igualmente um processo de autonomização do consumidor.
“Posso escolher se quero consumir energia verde ou se quero
consumir mais a certas horas em que a energia é mais barata”,
aponta Basílio Simões.
Uma das ferramentas que vieram aumentar o poder do
consumidor é o contador inteligente (smart meter), que
permite, em teoria, que cada cliente saiba, minuto a minuto, o
que gasta.
E se lhe associar tomadas inteligentes, que até podem ser
ligadas e desligadas remotamente, é possível saber em tempo
real o consumo de cada eletrodoméstico. Mas por que motivo a
generalidade das famílias não explora ainda esta opção?
“Não é só uma questão de preço. É uma questão de as pessoas
perceberem os benefícios”, diz Basílio Simões. Mas o gestor da
VPS lamenta que a maior parte dos contadores digitais
instalados em Portugal para já apenas comunique com a utility,
sem que o cliente possa ter, em tempo real, a informação que
lhe permita mudar o seu padrão de consumo. Na verdade, a
comunicação de dados ao cliente já é possível, embora seja
ainda vendida como um serviço de valor acrescentado. A VPS
comercializa a sua solução Cloogy numa parceria com a
empresa Energia Simples. A EDP tem uma solução semelhante,
denominada Redy. E José Ferrari Careto diz que este serviço
ajuda a reduzir a fatura, induzindo poupanças de 5% a 10%. “As
pessoas de facto alteram os seus padrões de consumo”, frisa o
administrador da EDP Comercial.
BENEFÍCIOS E PERIGOS
Na rede elétrica a era digital é já uma certeza. Mas a rede não
está imune a riscos, nomeadamente ao nível da cibersegurança
e a segurança física das instalações. O controlo de acessos e a
videovigilância será um dos tópicos mais importantes que as
smart grids vão resolver. Outro beneficio mais esquecido das
redes elétricas inteligentes é aumentar a segurança dos
trabalhadores envolvidos em tarefas de manutenção da rede que
muitas vezes têm que atuar em zonas remotas. Através de uma
rede IP estes técnicos podem interagir com outros técnicos que
estão nos departamentos centrais, por vídeo, ou enviando
documentos que podem ser muito importante na recuperação
da infraestrutura.

Artigo originalmente publicado no Expresso de 25 de junho de

2016

2.4.3 Principais Benefícios e Desafios Os programas de condicionamento da procura geram


uma série de benefícios transversais a toda a cadeia de valor da energia eléctrica, desde o
produtor até ao cliente final. Uma gestão eficiente da procura de energia eléctrica permite ao
sector eléctrico reduzir os consumos, poupando energia. Adicionalmente, permite tirar partido
da máxima capacidade da infraestrutura de distribuição de electricidade, reduzindo a
necessidade de investimentos na construção de novas linhas e na expansão da rede de
distribuição. Duas partes têm de colaborar para a construção de um sistema de gestão de
procura: o próprio sector eléctrico, constituído por toda a sua infra-estrutura de transporte de
distribuição e o consumidor. Num esquema de colaboração, as duas partes têm o objectivo de
maximizar as suas poupanças, salvaguardando os ganhos da outra 35 [Abig08]. De seguida
enumeram-se os principais benefícios dos programas e ferramentas de condicionamento de
procura: Reduzir a margem de produção energética – A capacidade total de produção de uma
central eléctrica tem de ser superior à procura expectável, de modo a poder responder a
situações extraordinárias na produção disponível (e.g. interrupções no fornecimento de
energia primária, quebras na produção eléctrica devido a avarias) ou a variações bruscas na
procura devido, por exemplo, a situações climatéricas extremas. Esta situação representa uma
oportunidade para a DSM. Em vez de se recorrer a uma margem de produção de energia que
preveja anomalias na produção ou na procura e que seria usada raramente, a DSM permitirá a
participação activa dos consumidores residenciais que estejam dispostos a reduzir
drasticamente o seu consumo de energia, quando assim for necessário; Reduzir o investimento
nas redes de transporte e distribuição aumentando a eficiência de operação – A segurança que
existe para uma rede eléctrica suportar situações de interrupção no fornecimento de energia
baseiam-se em medidas preventivas. Estas medidas implicam que a rede eléctrica seja menos
eficiente, de modo a poder suportar interrupções que ocorrem raramente. Esta filosofia
implica custos de operação elevados e uma baixa utilização da capacidade da rede eléctrica na
grande maioria do tempo. Uma abordagem alternativa seria a de se passar para um paradigma
de manutenção correctiva, que assegurasse medidas apropriadas que permitissem reduzir os
impactos de uma situação de interrupção do fornecimento, reduzindo a carga em alguns
pontos na rede de forma dinâmica em colaboração com os consumidores que aceitariam
reduzir o seu consumo para níveis suportáveis se lhes fosse requerido; Gestão do balanço
energético em sistemas integrados com fontes renováveis – As fontes de energia renováveis
terão um papel cada vez mais preponderante na geração de electricidade, tendo em conta a
necessidade de redução de emissões de CO2 para a atmosfera. No entanto, existe uma
incerteza associada à própria natureza das energias renováveis, devido à variabilidade das
fontes e à impossibilidade de as controlar. Os programas de condicionamento da procura
permitem controlar a energia que é gasta de cada fonte, renovável e não renovável,
balanceando de forma dinâmica a quantidade de electricidade que é utilizada proveniente de
fontes renováveis e a quantidade proveniente de combustíveis fósseis, tendo em conta a
procura e a capacidade de produção; Gestão da geração distribuída – A mudança de
paradigma da actual produção de energia centralizada em larga escala para uma rede de
electricidade fornecida por sistemas de geração distribuída e renovável, levará a um aumento
significativo de eficiência global do sistema energético. O conceito de condicionamento da
procura não é novo e as tecnologias chave que possibilitem o aparecimento de medidas e
ferramentas que suportem os seus conceitos estarão já 36 desenvolvidas. No entanto, a
implementação da DSM tem vindo a ser realizada a um ritmo relativamente baixo. De seguida
apresentam-se os principais desafios que a implementação de sistemas de DSM encontra:
Falta de aplicação tecnologias de informação e comunicação – Sistemas de controlo de
consumos, contadores inteligentes e outras tecnologias de informação estão ainda
consideravelmente ausentes dos sistemas de energia. A implementação de sistemas de DSM
implica o desenvolvimento e instalação de sensores e tecnologias de controlo do lado da rede
e do lado do consumidor, aliados a sistemas de comunicação que facilitem o controlo dos
dispositivos da rede, nomeadamente geradores e pontos de carga; Fraca percepção dos
benefícios da DSM – Embora os benefícios dos sistemas de condicionamento da procura sejam
conceptualmente aceites como muito vantajosos para os sistema eléctrico, existem lacunas
relacionadas com a falta de metodologias ou planos de negócio que permitam perceber de
uma forma concreta quais os benefícios que possam advir da implementação de ferramentas
de DSM; Aumento da complexidade da operação do sistema eléctrico – A complexidade de
operação de um sistema que preveja uma manutenção correctiva é relativamente elevado.
Terá de haver um balanceamento em termos de complexidade de operação e manutenção/
redução de custos que justifique a sua implementação [Strb08].

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