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4º TRIMESTRE 2020 ANO 13 | EDIÇÃO Nº 680

A Teologia De Bildade: L IÇ ÃO

Se Há Sofrimento Há Pedado
Oculto?
A Fragilidade Humana e a Soberania Divina
07
15 NOV 20
LIÇÕES BÍBLICAS CPAD REVISTA ADULTOS - QUARTO TRIMESTRE DE 2020

Texto Áureo
“Se teus filhos pecaram contra ele, também ele os lançou na
mão da sua transgressão” (Jó 4.7,8).

Verdade Prática
A existência do sofrimento não quer dizer que haja pecado
oculto.

Leitura Bíblica em Classe


Jó 8.1-4; Jó 18.1-4; 25.1-6

INTRODUÇÃO
Nesta aula, estudaremos sobre a Teologia do segundo amigo de
Jó, Bildade. Veremos que ela apresenta o caráter justo e reto de
Deus em contraposição ao suposto pecado oculto de Jó.
Estudaremos também a defesa de Bildade por uma moralidade
rígida, fundamentada em meros preceitos religiosos, sem,
contudo, guiar-se por princípios espirituais. E, finalmente,
analisaremos a ideia de que, segundo Bildade, Deus é um ser
muito distante e que, devido a sua onipotência e grandeza, está
muito longe do mortal. Ele, portanto, é inacessível. Ao longo de
cada argumento de Bildade, veremos a contraposição de Jó.
- O segundo amigo acusador, Bildade, ofereceu a sua sabedoria a Jó. Bildade, também
absolutamente certo de que Jó havia pecado e que deveria arrepender-se, foi duro nas acusações
que fez contra o servo de Deus. Bildade acusou Jó de defender a própria inocência com um monte
de balela e argumentou que aquelas circunstâncias representavam o castigo de Deus para os seus
pecados e os de sua família. Novamente, esse é um argumento lógico, baseado no princípio de que
Deus pune o pecado, mas falhou em considerar o mistério do debate celestial entre Deus e
Satanás. Ele estava certo de que havia algo errado no relacionamento de Jó com Deus, por isso o
chamou ao arrependimento, confiante de que Jó seria abençoado quando se arrependesse.
“Também não possuímos muitas informações acerca de Bildade. Limita-se a Bíblia a informar
que este amigo de Jó era um suíta. Certamente morava ele em Canaã, ou em suas imediações,
pois:
a) falava uma língua aparentada a de Jó e a de seus amigos;
b) não demorou em encontrar-se com Elifaz e Zofar quando combinaram vir consolar o
patriarca;
c) sua visão de mundo era bem parecida com a de seus dois outros companheiros. Conclui-se
ter sido Bildade um semita que habitava no território cananeu, onde Sua, à semelhança de Temã,
era um dos muitos pequenos reinos ali estabelecidos.
No Livro de Jó, temos três discursos de Bildade, nos quais realça ele a prosperidade como a
evidência de uma vida aprovada por Deus. Eis por que, agora, despreza a Jó; neste, vê o sinal da
ira divina. N o drama do patriarca, cumpria-se o que disse Ovídio: “Enquanto o homem tem uma
vida próspera, conta sempre com um numeroso grupo de amigos; tão logo a adversidade o visita,
os pretensos amigos o abandonam””. (ANDRADE. Claudionor Corrêa de. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu
Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 146)
. Vamos pensar maduramente a nossa fé?
I – O PECADO EM CONTRASTE COM O
CARÁTERJUSTO E SANTO DE DEUS
1. Deus é justo e reto. A teologia de Bildade (Jó 8.1-22) possui
semelhanças com a de seu amigo, Elifaz. Para esse segundo
amigo, as ações de Jó não poderiam ser justificadas, pois elas
condenavam a Deus, revelando que Ele punia pessoas justas. Por
outro lado, como Deus não era injusto, então, Jó deveria
reconhecer o seu pecado, pois ele estava sendo terrivelmente
afligido. Assim, a teologia de Bildade pode ser classificada em
duas esferas: a dos maus e a dos bons. Por exemplo, Bildade
assevera que os filhos de Jó foram mortos porque eram maus
(8.4); por outro lado, como um homem que alegava ser justo e
bom, Jó poderia desfrutar novamente do favor de Deus se
reconhecesse o seu pecado (Jó 8.5).
- Bildade tomou afirmações de Jó quanto à sua inocência e aplicou a elas a noção simplista do
castigo. Ele concluiu que Jó estava acusando Deus de ser injusto quando o Senhor deveria estar
aplicando a justiça à vida de seu servo. Jó tentou de todas as maneiras evitar as acusações dessa
natureza, mas as evidências levaram Bildade a essa conclusão porque ele não tinha conhecimento
dos fatos celestiais. Bildade afirma a justiça de Deus mas erra quando julga Jó de ser injusto e o
chama ao arrependimento e, em consequência, gozar outra vez dos favores divinos. De fato, esse
foi o resultado na vida de Jó, não porque ele tenha se arrependido de algum pecado específico,
mas porque se humilhou diante da soberana e inescrutável vontade de Deus.
- Russell Norman Champlin, comentando o discurso de Bildade, afirma: “Bildade feriu Jó com
sua grande faca ao relembrar-lhe como seus filhos tinham morrido miseravelmente,
“Naturalmente, eles morreram por serem pecadores. Deus os cortou desta vida. E tu, Jó, estás
sofrendo por causa de teus pecados, e em breve Deus também te cortará, se não te
arrependeres.” Bildade ignorou o mistério do sofrimento dos inocentes com uma pergunta
retórica. Em seguida, sua ira inspirou-o a mostrar-se cruel. Elifaz ainda demonstrou alguma
simpatia; mas Bildade assemelhou-se mais a um boxeador que salta quando a campainha toca.
Bildade era o campeão de Deus, enquanto Jó era o ofensor de Deus. Bildade feriu Jó com sua
adaga, “precisamente onde sabia que feriria mais fundo: no coração do pai cujos filhos tinham
morrido. Seus filhos eram pecadores, e essa era a razão pela qual morreram prematuramente”
(Samuel Terrien, in ioc.). Diz o original hebraico: “Deus os jogou fora”, como se eles fossem um
lixo inútil. Jogar fora significa a destruição e o esquecimento da morte. Eles sofreram a
inevitável consequência de seus atos tolos. “Certamente esse ataque cruel e sem coração feriu Jó
profundamente. Afinal de contas, ele tinha oferecido sacrifícios para encobrir os pecados de seus
filhos (ver Jó 1.5)” (Roy B. Zuck, in ioc.)” (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 1901)
.
2. Uma compreensão limitada da natureza de Deus. Bildade traz
consigo uma compreensão incompleta e limitada da natureza de
Deus, o que faz com que ele pense que o sofrimento de Jó seja a
consequência de um pecado oculto. Assim, outra compreensão é
evidente: Jó deve demonstrar que é realmente bom e que
merece o favor uma compreensão incompleta e limitada da
natureza de Deus, o que faz com que ele pense que o sofrimento
de Jó seja a consequência de um pecado oculto. Assim, outra
compreensão é evidente: Jó deve demonstrar que é realmente
bom e que merece o favor de Deus. E uma teologia que destaca
uma meritocracia humana no processo de justificação diante de
Deus: “Mas, se tu de madrugada buscares a Deus e ao Todo-
Poderoso pedires misericórdia se fores puro e reto, certamente,
logo despertará por ti e restaurar a morada da tua justiça”
(8.5,6). Logo, o enfoque de Bildade não é a graça que flui de
Deus, mas o esforço humano que, por mérito próprio, pretende
justificar o homem diante de Deus.
- A essa altura da intervenção de Bildade, está claro que este amigo de Jó entende que o
assunto está nas mãos de Jó, não está com Deus; Jó deveria ser mais humilde, menos arrogante,
para que resgate o favor de Deus. Champlin, em obra já citada, afirma: “O segundo crítico de Jó,
portanto, perdeu completamente de vista que a Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura (ver
a respeito no Dicionário) não explica todo o sofrimento que há no mundo. Os inocentes podem
sofrer e realmente sofrem. O problema do mal está repleto de enigmas. A lei do carma é
poderosa, e a retribuição é necessária e útil, porquanto cura, e não meramente castiga. Mas não
podemos explicar todas as coisas e condições más apelando a essa lei. Jó havia apelado a Deus
(ver Jó 7.20,21), mas seus críticos supunham que seu apelo carecesse de sinceridade moral. Deus
havia arrebatado as propriedades de Jó. Mas, se ele se arrependesse, obteria novas
propriedades, “restauração da justiça de tua morada”, onde Deus entraria em comunhão com o
seu proprietário. Suas antigas propriedades eram cenário de segredos e pecados graves, ou não
teriam sido destruídas pelas forças da natureza. Alguns estudiosos espiritualizam “morada”
neste versículo, pensando significar a alma. Jó prosperaria espiritualmente, mas essa é uma
explicação anacrônica” (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag.
1901)
.
3. A imperfeição humana. Diante da defesa teológica feita por
Bildade, Jó pergunta: ”Como Se justificaria o homem para com
Deus?” (Jó 9.2). Ora, Deus é infinitamente sábio e justo. Jó está
consciente de que nenhuma perfeição humana o habilitou a
aproximar-se de Deus. Dessa forma a autopurificação não
passava de presunção: “Ainda que me lave com água de neve, e
purifique as minhas mãos com sabão, mesmo assim me
submergirás no fosso, e as minhas próprias vestes me
abominarão” (Jó 9.30,31). A linguagem é poética, mas ela afirma
objetivamente a doutrina da santidade de Deus e a
pecaminosidade humana. Deus é santo e Jó, um pecador.
Entretanto, essa não era a questão para Jó. O grande
questionamento dele poderia ser feito da seguinte forma: ” É
verdade que onde há sofrimento há pecado?” Seus amigos
responderiam: sim; Jó, um retumbante não. Deus já havia
testemunhado acerca da integridade e da justiça de Jó. Isso deixa
claro que nem sempre o sofrimento é fruto de uma imperfeição
moral ou resultado de um pecado pessoal. Esse era o caso de Jó.
- Jó, num estado de profundo desespero, respondeu às acusações com argumentos acerca da
natureza de Deus fornecidos selo próprio Bildade, e começou a racionalizar sobre algo que mais
tarde admitiria saber perigosamente muito pouco. Jó concluiu que Deus é santo, sábio e poderoso
(9.4-10), mas se perguntava se ele era justo e por que não se fazia conhecer. Diante do Deus
Poderoso, Jó sentiu apenas angústia. Se Deus não é justo, tudo é inútil, pensou. No livro “Jó -
Introdução e Comentário” de Francis I. Andersen, publicado pela editora Vida Nova, encontramos
o seguinte sobre essa fala de Bildade: “Em contraste com os amigos, que constantemente
recomendarão remédios religiosos para conservar o relacionamento entre Jó e Deus, ele vê, a
despeito da sua piedade destacada, que a autopurificação é impossível, e, realmente, é uma
presunção. Embora a lavagem das mãos (30) possa ser cerimonial, sem dúvida Jó pretende aqui
representar uma total purificação moral. Tudo em vão. Jó diz de modo horrível que Deus o
submergirá no lodo. Alguns comentaristas veem nesta declaração repugnante o pessimismo de Jó
no seu mais baixo ponto. Visto que Deus faz tudo, é Ele quem toma sujos os homens. Mas as
palavras seguintes corrigem esta impressão unilateral” (Francis I. Andersen. Jó Introdução e Comentário. Editora
Mundo Cristão. pag. 147)
.
II – O PECADO VISTO COMO QUEBRA
DAMORALIDADE TRADICIONAL
1. Moralismo por tradição. Bildade (Jó 18.1-21) também está
comprometido na defesa da moralidade que ele acredita ser a
correta. Para ele não havia nada errado quando fez a defesa da
justiça divina, da mesma forma que acreditou estar correto
quando defendera a moralidade dos seus dias. Todavia, não
podemos falar de uma ética ou teologia moral de Bildade, mas
simplesmente de um moralismo fundamentado na tradição
(18.1-21).
- No seu segundo discurso, Bildade, como seu predecessor, Elifaz, atacou Jó de maneira
implacável no capítulo 8, dizendo que ele deveria parar de reclamar e tornar-se sensível. A seguir,
partiu para o desprezo (18.3-4). Então, começou outro longo relato sobre o final trágico que o
perverso experimenta 18.5-21). Jó estava numa busca desesperada para encontrar alguma razão
para o seu sofrimento, além da razão óbvia: a lei da colheita segundo a semeadura. Fica evidente
que Jó entendia que não estava pagando por seus pecados, embora, como seja óbvio, ele tivesse
pecados. Novamente, faço uma citação de Francis I Andersen, em obra já referenciada: “O
segundo discurso de Bildade é menos complexo. Não é mais do que uma longa e severa crítica
sobre o destino dos perversos (5-21), introduzida por poucas repreensões dirigidas a Jó (2-4).
Embora pise o mesmo terreno do discurso anterior de Elifaz (15.17-35), as diferenças refletem os
temperamentos contrastantes dos dois homens. Elifaz é manso, e um bom pastor dentro da sua
maneira de entender as coisas. Bildade, um tradicionalista, está satisfeito com as velhas ideias, e
obviamente deixou de dar valor aos pensamentos de Jó, porque não concordam com os seus. Ao
passo que Elifaz enfatiza as preocupações mentais dos perversos, Bildade focaliza suas aflições
externas.” (Andersen. pag. 185-186).
2. A subversão da ordem moral. Na verdade, Bildade
simplesmente repete o que já vem sendo defendido por
gerações passadas, todavia, acrescentando alguns contornos aos
seus pressupostos teológicos. Para ele as desgraças sofridas por
Jó ocorreram por causa da quebra da moralidade estabelecida.
Como o entendimento de Bildade era o de que o universo é
controlado por leis morais inflexíveis, ao quebrá-las Jó sofreu as
consequências da mesma forma que sofre quem quebra a lei da
gravidade. Nesse aspecto, praticar a justiça é se ajustar à
dinâmica dessas leis morais. Bildade acreditava que de nada
adiantava Jó achar que os maus prosperavam, pois isso era
apenas ilusão. No seu entendimento, a prosperidade dos maus
assemelhava-se as raízes de uma árvore que foram cortadas,
cujos ramos, embora mantenham a aparência de verdor por
algum tempo, todavia, necessariamente murcharão (18.12-16).
Ao não reconhecer isso, Jó estaria tentando subverter a ordem
moral aceita.
- Bildade professa uma teologia torta, mesclada com verdades e erros. Ele acusou o homem
errado pelos motivos errados, mas, aquilo que disse sobre a morte (rei dos terrores - Jó 18.14, a
morte personificada com todos os seus terrores para o perverso), deve ser levado a sério. A morte
é um inimigo temido por todos os que não estão preparados para enfrentá-lo (1Co 15.26), e a
única forma de se preparar é crer em Jesus Cristo (Jo 5.24). O crente firmado nas Escrituras
entende que, morrer significa ir para o lar e estar junto do Pai no céu (Jo 14.1-6), adormecer na
terra e despertar no céu (At 7.60; Fp 1.21-23), entrar no descanso (Ap 14.13) e numa luz mais
fulgurante (Pv 4.18). Nenhuma das figuras apresentadas por Bildade aplica-se àqueles que são
salvos em Cristo! “O verso 21 termina, dizendo: Tais são, na verdade, as moradas do perverso, e
este é o paradeiro dos queridos conhecem a Deus. E nós acrescentamos que esta foi a consolação
que Bildade trouxe ao seu amigo, uma descrição digna do pior elemento humano, do mais
degradado, do mais iníquo, do mais diabólico. Mesmo sabendo que se trata de poesia, ainda
assim, tirando o que se pode tirar deste famoso discurso, uma lição fica: o pecado é, a ruína do
homem e da sociedade” (Mesquita. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP) .
3. Contemplando a cruz. O capítulo 19 é dedicado à defesa de Jó.
É inegável que Jó sabia que Deus atua em um universo moral e
que tudo o que acontece está sob seu controle. O homem de Uz
estava convicto deque não havia quebrado nenhuma lei moral,
sendo, portanto, inocente e que o seu sofrimento não teria razão
aparente. Mas diante das acusações dos amigos, ele está
disposto a abandonar toda tentativa de se auto justificar (Jó 19.
21-24). Ele quer abandonar toda instância humana e apelar para
um mediador (redentor) que defenderá sua causa. Ele não quer
mais se defender; ao invés disso, apela para alguém totalmente
justo, que vai ficar entre ele e Deus. E aí que ele contempla a
cruz: “Eu sei que meu redentor vive” (v.25). Apalavra “redentor”
traduz o hebraico goel e significa alguém que defendia um
familiar quando este não podia fazer sua própria defesa. Os
primeiros líderes da Igreja entendiam que Jó predisse a
ressurreição que será efetuada por Cristo no final dos tempos e
da qual ele participará. O patriarca queria a intercessão desse
justo, imparcial e eficiente mediador.
- No capítulo 19.1-29 temos a resposta desesperada de Jó ao segundo discurso de Bildade. Jó
começou com o grito angustiado de que seus amigos haviam se tornado recalcitrantes e
intransigentes como mentores (vs. 2-3), e que não conseguiam causar nenhum efeito na maneira
como ele lidava com o pecado que julgavam existir. Jó deixou claro que se Deus lhe havia
enviado amigos como Bildade, quem precisava de inimigos? Ele temia que não houvesse justiça.
Deus o havia cercado, destituído, arruinado e se virado contra ele. Seus familiares e amigos o
desampararam, por isso todos deveriam compadecer-se dele porque: Deus havia causado tudo isso
(vs. 21-22). Sobre a esperança que Jó nutria em um Redentor, CHAMPLIN escreve: “Por que eu
sei que o meu Redentor vive. A palavra hebraica goel é assim traduzida. A palavra admite ambas
as ideias de vindicador e de redentor. Existe aquele parente redentor que vai buscar as
propriedades que um homem vendera. E existe aquele vingador do sangue, que vinga a morte de
um parente e, assim sendo, recebe as honras de um remidor. Isso posto, o goel podia ser um
redentor, um vingador ou um defensor dos oprimidos. Nesse ofício, ele seria um mediador. Deus,
como goel, redimiu Israel do Egito (ver Êxo. 6.6; 15.13; Sal. 74.2). Ele também redime do exílio
(ver Isa. 41.14) da morte (ver Sal. 69.18; 2.14; Lam. 3.58; Osé. 13.14). Resta saber qual desses
sentidos possíveis está no texto à nossa frente. Jó buscava vindicação (vss. 23 e 24), de modo que
é provável que ele estivesse pensando em Deus como o divino vindicador, o qual finalmente
defenderia o seu caso e diria “Jó era inocente, embora tenha sofrido”. Dessa maneira a honra de
Jó seria restaurada, e seu nome seria limpo. Deus se levantaria para vindicar Jó e corrigir os
seus atormentadores” (CHAMPLIN. pag. 1942).
III – O PECADO EM CONTRASTE COM A
MAJESTADEDE DEUS
1. A grandeza de Deus. O terceiro discurso de Bildade é feito para
exaltar Deus e rebaixar Jó (Jó 25.1-6). Não há como negar que o
longo debate entre Jó e seu amigo, esgotou o poder
argumentativo de Bildade, o que fez com que ele repetisse várias
vezes o que já havia dito. Na verdade, o seu último discurso não
traz nada de novo. No capítulo 25 ele destaca a onipotência
divina. Deus é grande e poderoso (v.2). Por isso nada há de
errado quando Bildade defende a majestade do Altíssimo.
Todavia, como alguns autores destacam, Bildade acaba por criar
um abismo que não existe entre a criatura e o Criador. O Deus
defendido por ele não é o revelado na Bíblia. As ideias de Bildade
se antecipam àquela defendida a milênios depois pelo deísmo do
final do século XVIIl. Segundo os deístas, Deus criou o mundo,
mas ausentou-se dele.
- Bildade proferiu seu terceiro discurso (o último discurso dos três amigos), e reafirmou a
mesma teoria que Deus era majestoso e exaltado, e o homem era pecador, principalmente Jó. Ele
queria contrastar Deus com o humilde e pecaminoso homem, entre os quais ele contava Jó.
Comentando este último discurso de Bildade, CHAMPLIN argumenta: “Deus é soberano, o Rei
do universo, e todos O temem, exceto Jó, aquele pecador que continuava propagando sua própria
inocência. As hostes do céu temem a Deus; homens sensatos O temem; justos O temem; mas não
aquele verme, Jó. Deus, que habita nos altos céus, aplaca toda a oposição e estabelece a paz, até
mesmo nas habitações mais elevadas de todas as criaturas, incluindo os santos anjos. No entanto,
Deus não teria conseguido estabelecer a paz com o rebelde, Jó. Cf. a paz trazida por Cristo na
escala universal, em Col. 1.20 e Efé. 1.10. No céu, Deus mantém a harmonia, mas, na terra, é
forçado a tolerar homens como Jó, que estão sempre semeando o caos. Seja como for, a profunda
admiração nem sempre se transmuda em amor, sendo certo que a rebeldia de Jó não o fazia.
Deus governa inúmeras forças, mas o minúsculo e miserável Jó resistia ao governo de Deus,
sendo esse o motivo pelo qual ele sofria tão grandes dores” (CHAMPLIN. pag. 1985).
2. Onipotente, mas não ausente. Jó responde a Bildade com
ironia: “Como Ajudaste aquele que não tinha força e sustentaste
o braço que não tinha vigor!” (Jó 26.2). Aqui, Jó não questiona a
onipotência divina, mas a aplicação que Bildade faz desse
conceito. O conceito de um Deus grandioso, que é soberano em
suas ações, não deveria vir acompanhado também do conceito
de um ser compassivo e amoroso? Deus não deve ser visto
apenas em sua força, mas, sobretudo, por seu amor. Ele nunca
exaltou seu poder e grandeza acima do seu amor. Ele não
disciplina simplesmente porque é grande, forte e soberano, mas
porque ama. Diferentemente do conceito apresentado por
Bildade, o Deus que a Bíblia apresenta é poderoso e glorioso,
mas, principalmente, misericordioso e gracioso. Temos de cuidar
para que no momento do sofrimento não manchemos a imagem
de um Deus que não é só força, mas igualmente amor
- Jó proferiu seu último discurso em refutação a Elifaz, Bildade e Zofar, respondendo à falta de
preocupação de Bildade para com ele, mostrando que todas as palavras teológicas e racionais de
seus amigos haviam perdido totalmente o foco de sua necessidade e em nada ajudaram. Jó faz uso
de uma linguagem irônica nessa refutação à Bildade, procurando repreender à sua fútil tentativa
de fazê-lo confessar seus pecados para que pudesse receber alívio. Warren W. Wiersbe, em seu
“Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. III” (Central Gospel), escreve: “Antes de engrandecer
o poder Deus no Universo, Jó repreendeu Bildade por não lhe dar ajuda alguma (Jó 26:1-4). Jó
não tinha poder algum, mas Bildade não o fortaleceu. De acordo com seus amigos, Jó não tinha
sabedoria e, no entanto, Bildade não compartilhou com ele uma só migalha de sabedoria ou
discernimento. “Com a ajuda de quem proferes tais palavras? E de quem é o espírito que fala em
ti?” (v. 4). Se as palavras de Bildade tivessem vindo de Deus, teriam edificado Jó, pois ele havia
clamado a Deus pedindo que lhe respondesse. A conclusão é que as palavras de Bildade vinham
apenas dele próprio e, por isso, não fizeram bem algum a Jó” (WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico
Expositivo. A.T. Vol. III. Editora Central Gospel. pag. 55)
.
CONCLUSÃO
Nesta lição vimos que o debate entre Bildade e Jó assume alguns
contornos teológicos muito relevantes. Bildade faz três discursos
teológicos e em cada um deles põe em destaque a sua crença.
Ele não crê na inocência de Jó e, por isso, atribui o seu
sofrimento à existência do pecado. Assim, ele orienta Jó a viver
segundo os ditames da tradição e, como consequência, o
empurra para um moralismo de natureza apenas religiosa. Por
último, quando quer exaltar a grandeza de Deus a qualquer
custo, acaba por criar um abismo intransponível entre o Criador
e a criatura.
- Poderíamos certamente elogiar Bildade nesse seu discurso em busca da resposta ao
sofrimento humano, principalmente, quando ele afirma acertadamente que “A Deus pertence o
domínio e o poder; ele faz reinar a paz nas alturas celestes” (Jó 25.2). No desenrolar da conversa,
parece haver um começo de pensar que Jó estava certo, e cessa de argumentar teologicamente os
motivos de tanto sofrimento. As teologias debatidas, tanto dos três amigos quanto a de Jó, de fato,
divergem pouco, e talvez essa tenha sido a razão do término dos debates; concluíram não
divergiam tanto em opinião como pensavam. “Se tivéssemos os nossos corações cheios de
pensamentos respeitosos e reverentes sobre Deus e pensamentos humildes sobre nós mesmos, não
seríamos tão propensos como somos a contender por questões de duvidosa controvérsia, que são
assuntos intrincados ou insignificantes”(HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.125)
.
PARA REFLETIR
A respeito de “A Teologia de Bildade: Se Há Sofrimento, Há
pecado oculto?”, responda:
• Como a teologia de Bildade pode ser classificada?
R: A teologia de Bildade pode ser classificada em duas esferas: a
dos maus e a dos bons.
• O que Deus já havia testemunhado de Jó?
R: Deus já havia testemunhado acerca da integridade e da justiça
de Jó.
• Para Bildade, por que desgraças se abateram sobre Jó?
R: Para ele as desgraças sofridas por Jó ocorreram por causa da
quebra da moralidade estabelecida.
• Segundo a lição, qual o significado da palavra “redentor”?
R: A palavra “redentor” traduz o hebraico goel e significa alguém
que defendia um familiar quando este não podia fazer sua
própria defesa.
• Como Deus deve ser visto conforme as Escrituras?
R: Deus não deve ser visto apenas em sua força, mas, sobretudo,
por seu amor. Ele nunca exaltou seu poder e grandeza acima do
seu amor. Ele não disciplina simplesmente porque é grande,
forte e soberano, mas porque ama.

4 Tri 20 | Lição 7: A Teologia De Bildade: Se Há Sofrimento Há Pedado Oculto? | Pb Francisco Barbosa

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