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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS

RECURSO ELEITORAL (11548) - PROCESSO Nº 0600195-90.2020.6.09.0028 -


ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS - GOIÁS

RELATOR: ALDERICO ROCHA SANTOS

RECORRENTE: MARCO TULIO PINTO DA SILVA


ADVOGADO: GUILHERME AUGUSTO DE MORAIS FARIA - OAB/GO0050696
RECORRENTE: PARTIDO RENOVADOR TRABALHISTA BRASILEIRO - PRTB
ADVOGADO: LUIS MAXIMILIANO LEAL TELESCA MOTA - OAB/DF0014848
ADVOGADO: BARBARA DE FATIMA MARRA CLAUSS - OAB/DF0044004
ADVOGADO: ANNE CAROLINE RAMOS DA SILVA - OAB/DF0046265
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
RECORRIDO: LUCAS DE CARVALHO ANTONIETTI
ADVOGADO: DIOGO ARAUJO ALVES - OAB/GO0029677
ADVOGADO: MARINA ALMEIDA MORAIS - OAB/GO0046407A

DECISÃO MONOCRÁTICA

Tratam-se de Recursos Eleitorais interpostos pelo Ministério Público Eleitoral, pelo


Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) e por Marco Túlio Pinto Silva com a finalidade de
reformar sentença que julgou improcedente as Ações de Impugnação ao Registro de Candidatura-
AIRCs, por eles propostas e deferiu o pedido de registro de candidatura de LUCAS DE
CARVALHO ANTONIETTI ao cargo de prefeito pelo Partido PODEMOS.

Na origem, diversas partes (quatro candidatos e um partido político) propuseram


Ação de Impugnação ao Registro de Candidatura – AIRC, sob o fundamento de inelegibilidade do
recorrido, em razão de ausência de desincompatibilização.

O impugnado apresentou defesa argumentando, em síntese, ser desnecessário o


afastamento, já que seu contrato, firmado com ente público, é regido por cláusulas uniformes,
situação excepcionada pela lei, inexistindo qualquer óbice ao seu registro de candidatura.

Na sentença, o juiz de primeiro grau julgou improcedentes as AIRCs e deferiu o


pedido de registro de candidatura de LUCAS DE CARVALHO ANTONIETTI.
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Em razões recursais os recorrentes sustentam, em síntese:

1- que a sentença não se coaduna com as provas dos autos, já que o impugnado
permanece como sócio administrador de empresa médica que possui contrato com o Município,
vigente inclusive em 2020, vinculando seu nome a ela e desequilibrando o pleito;

2- que os contratos são vultosos e que se prorrogam porque inexiste no Município


outras empresas que prestem o tipo de serviço médico e de diagnóstico de média e alta
complexidade que a empresa do Impugnado presta;

3- que o recorrido exerce cargo de direção em pessoa jurídica que manteve contrato
de prestação de serviços com o Poder Público e que, como candidato Prefeito, deveria ter se
desincompatibilizado nos quatro meses que antecedem a eleição, já que o contrato não era regido
por cláusulas uniformes.

Requer, ao final, o indeferimento do registro de candidatura de LUCAS DE


CARVALHO ANTONIETTI, ante sua inequívoca inelegibilidade decorrente de sua não
desincompatibilização.

Em contrarrazões, o recorrido sustenta que a sentença que deferiu seu registro deve
ser mantida pelos seguintes fundamentos:

1- embora seja desnecessária a desincompatibilização, o impugnado afastou-se, de


fato, do exercício de atividades afetas à condição de sócio diretor da pessoa jurídica Global
Health, o que, por si só, afastaria qualquer questionamento quanto à regularidade de sua
candidatura, sendo impossível fazer prova negativa, já que sequer a Junta Comercial exige
anotação de afastamento;

2- o argumento de que a manutenção do contrato possa desequilibrar o pleito, dado


o trânsito de pessoas na clínica que são encaminhadas ao SUS, não se sustenta, já que não
mantém contato com os pacientes;

3- que a empresa da qual o recorrido é sócio não é a única do Município que possui
contratos com a Administração Pública e que seu contrato é firmado em cláusulas uniformes,
conforme estabelecido no próprio Edital a que se submeteu a empresa, o qual pressupõe
pluralidade de interessados e indeterminação de pretendentes, o que afasta qualquer
possibilidade de ingerência sobre o procedimento e demonstra a impossibilidade de negociação
pelo contratado. Ainda, sustenta que a alteração dos valores do contrato não afasta a
uniformidade das cláusulas, até porque desde 2108 o valor permanece inalterado, não tendo
havido sequer atualização monetária;

4- o fato de associar sua imagem à Clínica faz parte da rotina das campanhas, já
que é lícito a cada candidato indicar ao eleitor porque será melhor gestor. Ademais, ainda que
configurasse um abuso deveria ser aferido em AIJE e não em AIRC;

Pleiteia, ao final, a manutenção da sentença por entender inexistir óbice à sua


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candidatura.

Com vista dos autos, o Procurador Regional Eleitoral em Substituição opina pelo
conhecimento e provimento dos recursos (ID 10752440).

É o relatório.

Decido.

Os recursos devem ser conhecidos, porque atendidos os pressupostos.

A hipótese dos autos deve ser analisada sob o prisma de hipótese de inelegibilidade
prevista na alínea “i” do inciso II c/c alínea “a” do inciso IV, ambas do art. 1º da Lei Complementar
n. 64/90. Vejamos:

Art. 1º São inelegíveis:

[...]

II - para Presidente e Vice-Presidente da República:

[...]

i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, hajam exercido cargo ou


função de direção, administração ou representação em pessoa jurídica ou em
empresa que mantenha contrato de execução de obras, de prestação de serviços
ou de fornecimento de bens com órgão do Poder Público ou sob seu controle,
salvo no caso de contrato que obedeça a cláusulas uniformes;

[...]

IV - para Prefeito e Vice-Prefeito:

a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para os


cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-
Governador de Estado e do Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro)
meses para a desincompatibilização;

Pois bem.

Sobre a inelegibilidade decorrente de incompatibilidade, cito doutrina de José Jairo


Gomes:

“Destarte, nas hipóteses de desincompatibilização, o agente público pode


escolher entre manter-se no cargo, emprego ou função – e não se candidatar – ou
sair candidato, e, nesse caso, afastar-se temporária ou definitivamente, sob pena
de tornar-se inelegível, já que estará impedido de ser candidato.

A finalidade deste instituto é evitar, o quanto possível que candidatos ocupantes


de cargos públicos coloquem-nos a serviço de suas candidaturas, comprometendo
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não só os desígnios da Administração Pública, no que concerne aos serviços que
devem ser prestados com eficiência à população, como também o equilíbrio e a
legitimidade da eleição.”.

(Direito eleitoral / José Jairo Gomes – 14. ed. rev., atual.e ampl. – São Paulo: Atlas,
2018, pág. 240)

Tecidas estas considerações, analiso caso dos autos.

Fato incontroverso que o impugnado de fato possui contrato com a Administração


Pública. A controvérsia, então, limita-se à verificação de subsunção do contrato à exceção legal,
qual seja, de se tratar ou não de um contrato regido sob cláusulas uniformes.

O juízo eleitoral de piso, analisando os fatos, concluiu que sim, o contrato foi regido
por cláusulas uniformes, sendo desnecessária a desincompatibilização, deferindo o pedido de
registro do candidato impugnado. Por pertinentes, reproduzo os fundamentos da sentença
recorrida:

Cláusulas uniformes são aquelas não passíveis de alteração, os contratos com


cláusulas uniformes são aqueles cujos conteúdos são predeterminados por um
dos contratantes, sendo suas cláusulas sempre as mesmas, quaisquer que sejam
os demais contratantes, também chamada de “contrato por adesão”.

Diante do edital de chamamento para credenciamento n.° 001/2017, está claro


que:

“item 2.2, que: “A participação neste CHAMAMENTO importa ao proponente a


irrestrita aceitação das condições estabelecidas no presente Edital, e
termos da tabela de procedimentos e valores de serviços da área de saúde
aprovada pelo Conselho Municipal de Saúde”.

A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral reconhece que a presença de


cláusulas uniformes elimina a inelegibilidade prevista no art. 1º, II, “i” da Lei de
Inelegibilidades, vejamos:

Eleições 2014. [...]. Notícia de inelegibilidade. Deputado estadual. Improcedência.


Registro de candidatura deferido. Art. 1º, II, l, da LC nº 64/90.
Desincompatibilização. 6 (seis) meses anteriores ao pleito. Cláusulas uniformes.
Contrato com o poder público. Licitação inexigível. Poder de negociação não
configurado.[...] 2. A incompatibilidade estabelecida no art. 1º, II, i, da LC nº 64/90
incide sobre aqueles que, "[...] dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito,
hajam exercido cargo ou função de direção, administração ou representação em
pessoa jurídica ou em empresa que mantenha contrato de execução de obras, de
prestação de serviços ou de fornecimento de bens com órgão do Poder Público ou
sob seu controle, salvo no caso de contrato que obedeça a cláusulas uniformes".
3. In casu, o contrato firmado com a empresa que teve como objeto a prestação
de serviços especializados em cardiologia e radiologia foi celebrado sem prévia
licitação por se enquadrar em hipótese de inexigibilidade, nos termos do art. 25
da Lei nº 8.666/93.Não obstante, a mera inexigibilidade de licitação não indica,
4 of 7 necessariamente, a influência da empresa na elaboração das cláusulas
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contratuais que, em regra, são estipuladas unilateralmente pela administração
pública, cabendo ao impugnante produzir prova em sentido contrário, o que não
foi feito. 4. Na espécie, não há como deduzir, com juízo de certeza, a ingerência
ou o poder negocial da contratante em sua elaboração, mormente diante de
ajustes de natureza semelhante firmados entre o Estado do Maranhão e outras
empresas do ramo da saúde, nos quais se nota a padronização na fixação das
cláusulas e condições contratuais, com distinção apenas em razão do tipo de
serviço prestado. 5. Ainda que assim não fosse, verte dos autos que a
desincompatibilização, caso fosse necessária, teria ocorrido em tempo hábil, pois,
conforme se verifica da alteração do contrato social a partir do dia 31.3.2014, a
administração da sociedade empresarial passou a ser exercida por outra sócia,
sem a participação da ora recorrida. [...] (Ac. de 25.9.2018no AgR-REspe nº
86635,rel. Min. Tarcisio Vieira De Carvalho Neto.

As hipóteses de inelegibilidade, por representarem formas de limitação


aos direitos políticos, devem ser interpretadas restritivamente.

A alegação de que as sucessivas renovações constitui fator para elidir a


uniformidade das cláusulas não merece prosperar. Isso porque os
contratos estão sujeitos a reajuste de preços, decorrentes do aumento
da demanda, da inflação, dentre outros, até porque os serviços foram
prestados e atestados, não se vislumbrando neste caso concreto, motivo
suficiente que altere a natureza do contrato de cláusulas uniformes.

Embora certo da natureza de uniformidade das cláusulas, o candidato


afastou-se de fato das suas atribuições, conforme demonstra não ter
assinado o ultimo aditivo contratual, ademais, a jurisprudência do TSE não
exige a alteração contratual na Junta Comercial.

O acompanhamento e a fiscalização dos contratos compete ao Tribunal de Contas


Municipal, de modo que cabe a este órgão gerir o regular cumprimento das
cláusulas contratuais.

De fato, não foram apresentadas pelos recorrentes qualquer prova de que o contrato
que supostamente atrairia a inelegibilidade do pretenso candidato não se operou sob a égide de
cláusulas uniformes. Ele decorre de chamamento editalício, em que se explicita a adesão do
contratado às condições estabelecidas pela contratante e não há indícios de poder de influência
do contratado quando da elaboração das cláusulas.

Igualmente, a meu sentir, a questão do valor do contrato não é suficiente também


para demonstrar alteração da uniformidade da cláusula, constituindo mero reajuste ou atualização,
mormente quando demonstrado pela parte que não houve alteração recente de valores. Ademais,
o fato de o contrato envolver valores vultosos decorre da natureza dos serviços de saúde
envolvidos e não constitui ponto desfavorável à tese do recorrido, cujas argumentações possuem
provas robustas presentes nos autos.

5 of 7 O contrato administrativo de cláusulas uniformes é aquele cujo 11/8/20,


conteúdo é PM
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previamente estabelecido pela Administração Pública, limitando e submetendo o administrado


contratado às cláusulas que lhe convém, obstando discussões sobre as condições. A única opção
do contrato é aderir, ou não, às cláusulas postas.

Não há como extrair, com certeza, que o candidato impugnado tivesse poder de
negociação. Logo, entendo correta a conclusão do juízo sentenciante.

Em igual sentido:

ELEIÇÕES 2014. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO. NOTÍCIA DE


INELEGIBILIDADE. DEPUTADO ESTADUAL. IMPROCEDÊNCIA. REGISTRO DE
CANDIDATURA DEFERIDO. ART. 1º, II, I, DA LC Nº 64/90.
DESINCOMPATIBILIZAÇÃO. 6 (SEIS) MESES ANTERIORES AO PLEITO.
CLÁUSULAS UNIFORMES. CONTRATO COM O PODER PÚBLICO. LICITAÇÃO
INEXIGÍVEL. PODER DE NEGOCIAÇÃO NÃO CONFIGURADO. FUNDAMENTOS
NÃO INFIRMADOS. DESPROVIMENTO.

[...]

2. A incompatibilidade estabelecida no art. 1º, II, i, da LC nº 64/90 incide sobre


aqueles que, "[...] dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, hajam exercido
cargo ou função de direção, administração ou representação em pessoa jurídica
ou em empresa que mantenha contrato de execução de obras, de prestação de
serviços ou de fornecimento de bens com órgão do Poder Público ou sob seu
controle, salvo no caso de contrato que obedeça a cláusulas uniformes".

3. In casu, o contrato firmado com a empresa que teve como objeto a prestação
de serviços especializados em cardiologia e radiologia foi celebrado sem prévia
licitação por se enquadrar em hipótese de inexigibilidade, nos termos do art. 25
da Lei nº8.666/93. Não obstante, a mera inexigibilidade de licitação não
indica, necessariamente, a influência da empresa na elaboração das
cláusulas contratuais que, em regra, são estipuladas unilateralmente
pela administração pública, cabendo ao impugnante produzir prova em
sentido contrário, o que não foi feito.

4. Na espécie, não há como deduzir, com juízo de certeza, a ingerência


ou o poder negocial da contratante em sua elaboração, mormente diante
de ajustes de natureza semelhante firmados entre o Estado do Maranhão e
outras empresas do ramo da saúde, nos quais se nota a padronização na fixação
das cláusulas e condições contratuais, com distinção apenas em razão do
tipo de serviço prestado.

[...]

(Recurso Ordinário nº 86635, Acórdão, Relator(a) Min. Tarcisio Vieira De Carvalho


Neto, Publicação:  DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 206, Data 16/10/2018,
Página 47/48)

A análise das causas de inelegibilidade, porquanto impeçam o pleno exercício da


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capacidade eleitoral, impondo restrições à esfera jurídica do cidadão em seu status político,
atribuindo-lhe a condição de inelegível e, consequentemente, impedindo a pessoa de ser eleita,
deve ser feita sob crivo rígido e interpretação restritiva da norma, e aplicada somente ante a
certeza inabalável de sua configuração, o que não se verifica nos autos.

Por todo o exposto, conheço do recurso e lhe nego provimento para manter a
sentença que deferiu o registro de candidatura de LUCAS DE CARVALHO ANTONIETTI.

Publique-se no mural eletrônico e notifique-se o Ministério Público por expediente no


PJe.

Goiânia, 8 de novembro de 2020.

JUIZ ALDERICO ROCHA SANTOS

Relator

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