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Justiça Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

11/11/2020

Número: 0600336-19.2020.6.26.0002
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador: 002ª ZONA ELEITORAL DE SÃO PAULO SP
Última distribuição : 11/11/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Propaganda Política - Propaganda Eleitoral - Divulgação de Notícia Sabidamente Falsa
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
Pra Virar o Jogo 21-PCB / 50-PSOL / 80-UP FRANCISCO OCTAVIO DE ALMEIDA PRADO FILHO
(REPRESENTANTE) (ADVOGADO)
LAIS ROSA BERTAGNOLI LODUCA (ADVOGADO)
ELEICAO 2020 GUILHERME CASTRO BOULOS PREFEITO LAIS ROSA BERTAGNOLI LODUCA (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE)
OSWALDO EUSTAQUIO FILHO (REPRESENTADO)
GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA. (REPRESENTADO)
PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE SAO PAULO
(FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
38962 11/11/2020 18:30 Decisão Decisão
659
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO
JUÍZO DA 002ª ZONA ELEITORAL DE SÃO PAULO SP
Rua Doutor Costa Júnior, 509 – Água Branca – 05002-000
Tel: 3130 2702 – Email: ze002@tre-sp.jus.br

PROCESSO nº 0600336-19.2020.6.26.0002
CLASSE PROCESSUAL: REPRESENTAÇÃO (11541)
REPRESENTANTE: PRA VIRAR O JOGO 21-PCB / 50-PSOL / 80-UP, ELEICAO 2020 GUILHERME CASTRO
BOULOS PREFEITO
Advogados do(a) REPRESENTANTE: FRANCISCO OCTAVIO DE ALMEIDA PRADO FILHO - SP184098, LAIS ROSA
BERTAGNOLI LODUCA - SP372090
Advogado do(a) REPRESENTANTE: LAIS ROSA BERTAGNOLI LODUCA - SP372090
REPRESENTADO: OSWALDO EUSTAQUIO FILHO, GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA.

DECISÃO
Vistos.
Cuida-se de representação eleitoral com pedido de liminar ajuizada
pela COLIGAÇÃO “PRA VIRAR O JOGO” (PSOL, PCB E UP) e GUILHERME CASTRO
BOULOS, seu candidato a Prefeito no Município de São Paulo, em face do jornalista OSVALDO
EUSTÁQUIO FILHO, RG nº 65017458 SSP/PR, inscrito no CPF/MF sob o nº 024.572.289-05,
impugnado vídeo na plataforma do YouTube do ora representado Oswaldo Eustáquio, intitulado “
O laranjal de Boulos: PSOL utiliza empresas fantasmas para lavar dinheiro na corrida eleitoral em
SP”, por meio do qual são feitas imputações ao representante Guilherme Boulos, que nunca
sequer foi investigado pelas práticas delituosas mencionadas. O referido representado afirma que
o o ora representante lavou dinheiro praticando crime referido na Lei federal nº 9.613/1998, por
meio da contratação de empresa falsa, que afirma inexistir. Imputa-lhe, ainda, a prática do crime
de falsidade ideológica eleitoral, previsto no artigo 350 do Código Eleitoral, afirmando que duas
das empresas contratadas pela campanha do candidato Boulos não existem, e que o dinheiro a
elas destinado, oriundo de recursos públicos, teria sido apropriado pelo mencionado candidato;
além disso o representado falseia uma reportagem jornalística; conversa com moradores,
disseminando, também aos residentes, mentiras e falsas acusações a respeito de Guilherme
Boulos, com clara afronta à legislação eleitoral. O vídeo, como se verifica pelos trechos
degravados, apresentados com a inicial, é integralmente dedicado à propagação de mentiras
sobre o representante, pode ser acessado por meio da URL:
https://www.youtube.com/watch?v=P1j31JifbM&ab_channel=OswaldoEust%C3%A1quio, e foi
publicado estrategicamente, justamente no momento em que Guilherme Boulos participava de
debate eleitoral pela Folha/UOL; e simultaneamente, no instante em que o também candidato à
Prefeitura, Celso Russomanno, mencionou o fato, que não foi noticiado por nenhum veículo de
mídia profissional, como bem apontado pela jornalista Vera Magalhães em sua conta no Twitter; o
ora representado é figura conhecida no mundo da política, por trabalhar com a “destruição de
reputações” por encomenda; já foi preso em razão da disseminação de “Fake News”, por
determinação do Supremo Tribunal Federal no Inquérito nº 4828. Sustentando o representante a
irregularidade da veiculação das acusações falsas com claro propósito de prejudicar a imagem do
candidato adversário às vésperas das eleições, em evidente infração aos disposto no artigo 243,
IX, e § 1º, do Código Eleitoral; art. 57-D, § 3º, da Lei nº 9.504/97; e artigos 27, § 1º, e, 30, § 2º, da
Resolução TSE Nº 23.610/2019; e a necessidade da apuração das condutas ora relatadas para

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https://pje1g.tse.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20111118302826200000036872974
Número do documento: 20111118302826200000036872974
fins de imputação penal previstas nos artigos 323, 324 e 325 do Código Eleitoral, requereu em
sede de liminar, sob pena de cominação de multa diária e da prática do crime do art. 347 do
Código Eleitoral (desobediência), diante da violação aos art. 243, IX e §1º do Código Eleitoral, art.
57-d, §3º da Lei nº 9.504/97 e arts. 27, §1º e 30, §2º da Res. TSE nº 23.610/2019, e do perigo de
dano, a concessão de tutela genérica de urgência do art. 300 do CPC, com a intimação do
GOOGLE BRASIL INTERNET para que proceda à imediata suspensão do vídeo publicado na
URL https://www.youtube.com/watch?v=P1j31JifbM&ab_channel=OswaldoEust%C3%A1quio do
ar.
É o relatório do essencial.
Sabido é que os profissionais de imprensa, a partir da liberdade de expressão
assegurado a todos cidadãos, sem exceções, pela vigente Constituição da República, gozam do
direito de expender críticas, mesmo que revestidas de acidez, jocosidade oi contundência.
Pois, o interesse social que alicerça o direito de criticar sobrepõe-se aos receios,
desconfortos e suscetibilidades que possam revelar aqueles que se propõem a assumir um
mandato político no âmbito municipal, principalmente pelo fato de que é na cidade onde todos
convivem socialmente e trabalham.
A circulação de opiniões e críticas revela-se essencial para a configuração de
um espaço de debate e, consequentemente, ao Estado Democrática de Direito.
E, por mais ácidas que possam parecer àquele que figura como seu objetivo, as
críticas de caráter político estão compreendidas, prima facie, no campo da liberdade de
expressão, passando para o domínio da ilicitude quando inegavelmente violadoras da legislação
atinente à propaganda eleitoral.
No caso dos autos, a inicial discorre sobre fatos considerados flagrantemente
delituosos, de modo a produzir matérias jornalísticas consideradas caluniosas e difamatórias,
imputando ao candidato Guilherme Boulos as práticas de crimes, para na sequência
serem veiculadas na campanha do candidato adversário, Celso Russomanno, tudo a exigir a
pronta intervenção da Justiça Eleitoral.
Os autos revelam sem sombra de dúvidas, numa cognição sumária nesta fase
processual, um estratagema altamente reprovável no atual momento em que passa nosso país.
O cenário delineado pela matéria produzida pelo representado não encontra lastro
nem sequer em indícios, como demonstrado de forma contundente na sua inicial pelo ora
representante, sendo refutado pontualmente, permitindo-se, sem temor, de ser adjetivado de
sabidamente inverídico, extravasando o debate político-eleitoral.
Presentes os requisitos legais para a concessão da almejada tutela de urgência
genericamente prevista no artigo 300 do CPC de 2015, para fins de determinar a imediata
retirada da página do ar.
A probabilidade do direito foi suficientemente demonstrada pelo representante ao
discorrer sobre os fatos considerados ilegais praticados pelo representado. E, o perigo do dano,
para o candidato representante, decorre da proximidade do pleito eleitoral, pois sua imagem
irremediavelmente prejudicada em razão da não suspensão do vídeo veiculado.
Posto isso, concede-se a medida liminar para, sob pena de cominação de multa
diária e da prática do crime do art. 347 do Código Eleitoral (desobediência), determinar a
intimação da plataforma digital Google Brasil para que proceda à imediata suspensão do vídeo
p u b l i c a d o n a U R L
https://www.youtube.com/watch?v=P1j31JifbM&ab_channel=OswaldoEust%C3%A1quio do ar;
até ulterior deliberação judicial.
Concomitantemente, cite-se o representado OSVALDO EUSTÁQUIO FILHO, RG
nº 65017458 SSP/PR, inscrito no CPF/MF sob o nº 024.572.289-05, para, em querendo,
apresentar defesa no prazo legal.
Após colha-se a manifestação do representante do Ministério Público Eleitoral.
Oportunamente, retornem conclusos para as deliberações necessárias.
A presente decisão servirá de mandados de citação e intimação a serem enviados
por meio eletrônico aos destinatários, em razão do estado de pandemia.

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Número do documento: 20111118302826200000036872974
Int.
São Paulo, 11 de novembro de 2020.

EMÍLIO MIGLIANO NETO


Juiz Eleitoral

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