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macedo - CugrulliOS • S P.
P-

ANARQUISMO A LC' CJ N STA


pui 1eyr:

• Quando eu ainda estava t tuuacclo nú ea onze anos, eu nunca tinha


ouvido falar de anarquismo. Peniva que sic :ava 'cdos'. Nas minhas aulas de história
me ens:naram que fl30 existia li(.numa C1: 1,' e e ocaLs, -'o e comunismo, palavras
que me deram idéias de Hitler, -'rau d CC- e cutíns horrores oue "nunca"
aconteceriam num pais "livre" como e..; í' •'; '•:-.do ensinada CCr;1 cutiCz.a a
engolir a poiit:cO tradiccnl estaccui:uOfl:.;. • J. co;np - ornIsO. a "opçáo" entre.
os partidos cernocrata o i cpiihcano r - co: cer-cre, muitos anos para
reconhecer o preconceito e a distorçu q ic a mir;na educação. Um pedaço
enorme da história ao munoo tu s.dc . :',:cucc tempo que der-cobri que
muitas das minhas idéias e inclinações er-pal.:. ve:cade fazem parte d'uma
estrutura comum: a tradição i:bertaria (anarqL:ca).
A minha primeira definição de anarqu:rnc veio de Ernrria Goldman:
Anarqwsrno, então. realmente significa a l,berr.cào da inene humana da dominação de
religião: a libertação do corpo humano da dominação de propriedade; a liberta çia d
correntes e repressões de governo. Anarquismo significa uma ordem social baseada na
as-socicão livre de individuos pelo fim de proouzir Wueza social real, urna ordem que
guaran rirá o acesso livre à terra e o distrato maximo das necessidades de vida de
acordo com os desejos e inclinações mndividuis de todos os seres humanos.
Logo, comecei ligando na minha mente as idéias oo anarquismo e as do feminismo
radical. Ê criticÕ que compartilhemos as nossa visões para quebrar algumas das
barreiras cnadas por mal-entendimento e falta de comunicação. Apesar de que me
chamo de anarca-feminista a definição encima podia igualmente incluir socialismo.
omuntsmo: feminismo cultural, separati&no ksoco ou uma meia dúzia de .outras
lassificaçôes políticas. Su Negrin escreve: Nenhuma guarda-chuva politica pode cobri
todas as minhas necessidades." Talvez tenhamos mais em comum que pensamos antes.
uma das minhas convic iões mais fortes é que nós do Movimento Feminista temos uma
visão em comum e que esse movimento é um movimento ant-autorit3rJo. A minha
participação nessa viso õ oferecer possibilidades para discussão que podem contribuir
• ao processo individual e Coletivo de evolução/ revolução.
• -• . ,. -

O que' é que anarquismo realmente significa?


Anarquismo tem sido difamado e malinterpretodo por tarto tempo que vou
começar com uma explicação de que não é. Provaveirnente o stereõtipo do anarquista
mais conhecido seja um homem malévolo escondendo una bomba em baixo d'uma capa
preta, pronto para destruir ou assassinar tudo ou todas no camnho dele. Essa imagem dá
medo para a maioria das pessoas independente da política delas, portanto anarquismo e
rejeitado como extremo, feio e violento. Outra irpressâo falsa e que anarquistas são
idealistas não práticas, fora da realidade concreta cujas idéias são abstrações utópicas
inúteis. O resultado é que o anarquismo é rejeitado novamente, esta vez como um
'sonho impossível".

Nenhuma de4as imagens é correta (apesar de que já existiram anarquistas


assassinos e idealistas - do mesmo jeito que existiram assass cs e idealistas em muitos
movimentos políticas. de ambas direita e isquercia). o que e realmente correta cepende
do seu ponto de vista. Existem muitos diferentes tipos cc anarquistas, lustarnente corno
existem diferentes tipos de socialistas. Vou falar do ariarqur-o-comunista, o que vejo
como idêntico ao socialismo libertário (não autoritário), definindo-o com três prInCÍPIOS
principais (cada um dos quais também pertencem à analise feminista radical -, vou falar
mais disso mais tarde):
1 )Creenç: :; :ho1içÉc ae autoridade. hserarqwa. governo. Anarquistas
dissol&c.io (r .i ',neis:,) cm,poder - de r "um,r,o sobre sèr rlumario de
estado schrt rcr; :iu' Euinto muitos 5r currri um oovem) da classe
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ao c:al e :'11. '" .nr1.'tc1 o equ trio ene a


.- .J através da Cração de estruturas que possibilitam
processos r, ................... v.'n todas as cessoas dum grupo comunidade OU
fábrica, não apenas 'cpresefltat,vas" ou 'lideres'. Significa a coordinação e
ação atraós duma 'i hirçuica de grupos Pequenos . comunidaes. d (Veja a
descrição dos coletivos itmarqu;sta5 espanhóis fl3 5ICÇO seguinte.) Finalmente, significa
que urna revolução bem-sucedida envolve indivíduos autónomos. manipulados, e
grupos trabalhando juntos para tomar 'controte direto e não mediado da sociedade e das
suas próprias vidas.'

(3)Creença cm ambas a espontaniedade e a organização. Anarquistas tém sido


acusados por muito tempo da defesa de caos. A maioria das pessoas de fato acham que
anarquismo é um sinônimo por desordem. m.nfusáo e vmoléncià. Isso éuma deturpação.
total do snificado vecadeiro de anru. -.Ar.arJsrac não negam 'a 'necessidade de
organização. mas apenas insistem quê ela :sn que vir de baixo e pão de cima,de
dentro e não de fora. Estruturas impostas Cii- fora ou regras rigidas que facilitam
manipulação ou passividade são as formas mais perigosas uma dita "revolução" pode
assumir. Ninguem pooe decretar a forma exata do futuro. Ação espontânea no contexto
d'uma situação especifica é necessária se formos criar ima sociedade que pode
responder ás mudando necessidades de indivíduos e grupos. Anarquistas creem em formas
fkiidas: a cemocracia participatória em pronorções pequenas junta com a cooperação e
a coordenação coletiva em proporções grandes (sem a perda da iniciativa individual).

Então anarquismo parece Ótimo. né? Mas será que funciona? Esse tipo de
romantismo e utopian:srno não temo ar no mundo real ... crreto? Falso. Na verdade
anarquistas já sucedrarn acm v.rias 'ozes (mesma que temporárias e rna(-conriectdas).
A Esparitizi e a França por exerripto, tém histórias compridas co atividade anarquista, e
foi nesses dois paises que achei as concretizações mais interessantes do anarquismo
teórica.

Além da teoria - Espanha 1936-39, França 1968


A revolução e do povo. urna cr:,ç'o pc,)uiar: a cortra --revc;fuçao e co Estado. Sempre
era assim, e as-sim sempre será. seja na Russia. Espanha ou Chjna. - Federaciori
Anarquista Ibérica (FAI), Tierra y Libcrdad. 3 de julho. lá361

A dita Guerra Civil Espanhola é geralmente conhecica como uma luta


simplesmente entre cc fascstns deFrarico e as forças de democracia e liberalismo. O
que realmente estava 3COfltccrtdo na Espanna na época é ignorado: uma grande
revolução social baseada nos princípios anarquistas estava tomando uma forma concreta
em muitos regiões do pais. É menos rnportante falar aqui da destruição dos-se movimento
hbè(târib ,que ,descrever o que muifle:eS e os homens lá re]hzararr. fesar cias
dif4cbldà'des-enormes, conseguiram fazer ariarau'ia furionar.

ea1izaçáo dos coletivos e d.auto-gesto Qoz.as zrabalhadores!as durnça


Revolução Espanhoia dá Un CXemplo excelente de orqniZ3çàO-mais-eSront3fl4eeaaP.
Ararqusmo já era parte da COflSCIflCI3 popular em os se!o-es rurais e 1rdutrii4s
na Espanha. há muitos ancs antes ca vot -j. rm) )V( tinha uni: ira .
comunalismo: em nuitas vilas o povo com at':hava j uco da terra, uu dava terrenr;
para pessoas sem terra. Coietivismo e 000peracão prt!c3OOs nor ca das criaram a
pelo anarquismo teórico, que veio para a Er)anna cerca 11370 (atraves do rPvúw(:ofl3rO
italiano Fanefli, um amigo do [iakunin) e eventualmente produziu o anrco-s-ncIicaIcmo.
a aplicação das idéias anarq'Ji;tas ao sindicalismo ncustrial. A Co cer-c,cri Nc;na;
oe/ Trabajo, orado em 190. e a mi! 'ante FAI, deram a ristrt,'3
necessárias pela autogestão e coletivização dos/as traDaihadores'as. Minares oe Iiirn,
orntas e panfletos alcançando quase todos os cantos da Espanha contrbuiram ao
conhecimento geral das idéias anarquistas. Os principias anarquistas de cooperação não
heirãrqiica e iniciativa individual comoinadas com as táticas anarco-sindicalistas de
sabotagem. boicote e greve geral e instrução em proouçáo e econômica, deram aos/as
trasaihadores/as experiência com ambas a teoria e a prática. Isso tudo fez possivel a
apropriação esponránca das fábricas e da terra em julho de 1936.

Quando a extrema direita espanhola tentou destruir á vitoria eleitoral ca Frente


Popular com força, o povo respondeu com tanta fúria cue a tentativa talhou dentro de
24 horas, Nesse momento o sucesso da votação não t,nna importáncia porcue uma
revolução social total já tinha começado. Enquanto csias trabalhadcçe/a5 industriaiS
faziam greve ou tomaram controle das fábricas, as/os trabolhadoras/es agrtirii.
ignoravam os proprietárias e começavam a cufivar a terra das/es mesmas/os, Mais de
60%- r.-3 terra da Espanha era trabalhada por coletivos depois de pouco tempo - sem
propriezários nemdonos nem o incentivo de competição. A coletivização industrial
aconteceu na maior parte na Catalonia (o estado com 75% da indústria nacional), onde a
influencia anarco-sindicalista era a mais forte, Depois de 75 anos de preparação e luta o
povo espanhol realizou a coletivização através da ação coletiva dos indivíduos dedicados
aos princípios libertários.

Mas o que é que coletivização reálmrite significa, e como é que funcionava? Em


geral c's coletivos anarquistas funcionavam em dois niveis: (1) democracia particiPatorl3
em escala pequena e (2) coordinação em escala grande com controle vindo de baixo. Em
-cada nível de organização o interesse de maior importância era a .decentralizaçãO e a
iniciativa individual. Nas fábricas e nas vilas representantes foram escolhidos para
comités que serviam para administração eccordinação, mas as decisões sempre vieram
das reuniões gerais de todos/as os/as trabalhadoresijs. Por causa cios perigos de
representação, todos os representantes também eram rabalhadoreS/a5, que eram sob o
domínio de substituição imediata e periódica. Esses comités eram as unidades básicas da
autogestão. Eles eram ligados em federações livres soore uma indúsna ou uma área
geográfica. Desse jeito o povo distribuia e compartilhava os procures. e efetuava
programas de interesse popular, como irrigação, transoorte e comunicação. As federações
que tinham o maior sucesso mantendo o equilíbrio entre coletivismo e individualidade
foram a Federação Popular de Levant, de 900 coletivos, e a Federação Aragon de
Coletivos, ce 500 coletivos.

Provavelmente o aspecto mais improtante da autogesto fosse a igualdade dos


salários. Geralmente usado foi o sistema do "salário familiar', pago ao/à trabalhador/a
segundo as necessidades da família dele/a. Produtos abundantes eram distribuidos
livremente, enquanto outros podiam ser obtidos com "dinheiro".
Os ber ticios de ter salários iguais err.i flUiC, Depois CtJt?
foram t'rs das rnos de POUCaS pessoas. dinheiro em exvsco foi
a, indústria (comprar m:cu:nas novas. melhorar as COr çi ze
;terra(irrigaçao.. represas. comprar tratores. etc.; Pro dutos melhores tora'L
mais eticiéncia e o preço de consumo baixou tamem O acor.tecii c;'..'
indtistrias, incluindo tecidos.. mcta:.5. petrôleo, agua eletncidad, :E»1.
transporte, ferrovia. c'rviçcs teletcr.icos, produtn- oprcc, servrcos
trabalhadoras/es tambér1 ncfiçwram de uma jornada de abain. r,•r
condições de traoaltin. p;anc.i de saúde de graça, bnfic:; para m:
novo orgulho no seu traban0. (juam mostrar q'je o .ncia'smo ir ':
competição e os mct;vrJs cqa r ncia fluO 5O
nível de vida melhoroucr-ri, D- 1 O(% enim. ,-rp:' r Fp3nn

As realizações dos an3rqu: 1,as espanrois ão a:cm 03 qulalicic


nível de vida melhor: tamem rF'aIIzarant oz ideais basicos riumanos ce Ice r;,vJ,
creatividade indivic:ival e cooperação coletiva. O coletivos anarquistas ½o
brim destruidos dv. fora é11,atie ljin, ' ''- r- da rjuvira e 1 1,3
titado forte ttao,j ,irat. ,. -

OLi frltno; li iiiillii)n; de ,Ii':irtli.t,i '''.piidiøi'. (':,t.i,'i'r() • i) js)i.0 i'èi

C'est pour foi que tu tais 1c., rei,o!ijt,on - Daniel e (jbreg Cot1n-Befidit

Os eventos de maio e junho de 1968 na França também são irinortanus porque


,ovaram que mesmo num pais moderno,.,. capitalista e consurnista, os.'as tratahadoresa
podam tomar posse das faoricas a.../o... suantcs podiam tomar as universidaes e que
uma greve geral um comporr indica sal rr revolução, era possível. Também, a
q4estões que as/os estudante e uabI oras/es ievanraram foram alem das barreirasd
casse (como autodeterminação e qual :-Je de vida) e sugerem grandes possbilidades
ormudança revolucionária numa socicate onde já não existe escassez.

No dia 22 de maio. 1968, os/as estudantes da Universidade de Nanterre. (junto


com o anarquista DanielCohn-Bendit) ocuparam os prédios administrativas, exigindo o
fim à guerra do Vietnã e à sua própria opressão como estudantes. Fecharam a
universidade e as manifestações estenderam até a Sorbonne. O SNESUP (o sindicjto
dàsfas ptofessors/as dos colegial,--, e 'das uniVersidades) chamou uma greve e o Stndicatc
dos/as estudantes. UNEF, organizou urna manifestação pelo dia 6 de maio. Nesse dia
as/os estudantes brigaram com ã policja .em Paris, construram barricadas nas ruas e
muitas/os apanharam brutalmente dos policiais. No dia seguinte as manifestações tinham
crescidas até entre 20 e 50 milhares de pessoas, indo na direção do Etoile e cantando a
Internacional. Durante os próximos dias as brigas entre os/as estudantes e a policia
chegaram as ser mais frequentes e mais violentas, e o público ficou injuriado vendo a
repressão policial. Os sindicatos dos/as trabalhadores/as, estudantes e professores/as
começaram a fazer conferências entre si, e o UNEF chamou pela continuação da greve €
das manifestações sem limites. No 13 de maio aproximadamente 600 milhares ce
pessoas fizeram uma Daszcaia de ptesto cr-ri Paris.

No mesmo dia. os/as trabalhadores/as da firma SuC-Avsation 'm Nantes (uma


cidade com tendênc;as anarquistas fortes) entraram em vreve e loi essa ação que
começou a greve geral, a maior greve conhecica pela hstmi, co'i cez milhões de
trabalhadoras/es - protisionais e operários, intelectuais e juadorcs de lutetOi".
Fecharam os bancos, eorme'os, postos de gasolina, os shoppinr.c: pararam o metrô e OS
ónibus e o :o acumulou enquanto os lixeiros se juntaram a greve. A Sorbonne (uma
universidade) foi ocupada pelos/as estudantes, professores/as e qualquer outra pessoa
que queria participar nas discussões. Diálogos Políticos duraram das questionando os
fundamentos básicos da sociedade capitalista francês. Cartazes e grafiti apareceram em
todo canto de Paris É proibido proibir Vida se.'n , - 'rtes Toda poder a
imaginação. Quanto mais consome. quanto menos '.c e j'iriho de 1968cbeqrm
a-ser um "assalto na ordem estabelecida" e unia "- '- - nas ruas". As vcas cvrõe
entre as classes média e trabalhadora perderam se"o enquznto cs/s tra:-;r:a,ore/as
e estudantes faziam exigências similares: libertoç'o cum s'stema aurontn ps.vo (ou
universidade ou fábrica) e o direito de fazer decisões sobre as próprias vigasceiasies.

O povo da França estava na beira d'uma revolução total. Urna greve gera tinha
paratizada o país, os estudantes tinham ocupado as universidades e os trabahdores
,tinham ocupado as fábricas. Só faltava os trabalhadores tomar ação dreta e come:,ar
trabalhar nas fábricas usando os princípios da autogestào. sem fazer corces.s3es.
Infelizmente isso não aconteceu. É dfcil acabar com urna política autoritária e métodos
burocráticos, e a maioria dos sindicatos franceses continha os dois. Corno aconteceu na
Espanha. o Partido Comunista lutou contra as ações espontâneas do povo nas ruas: a
Revolução tinha que ser dirigida de cima. Os lideres do CGT (o sindicato comunista)
tentaram frustrar a comunicaçâo entre estudantes e trabalhadores, e ficou impossível
fazer urna isquerda unida. As forças da polícia mobilizaram, e confrontados com mais
violência, muitos trabalhadores/as aceitaram reformas limitadas (salários melhores, uma
jornada menor, etc.) Os/as estudantes continuaram as suas brigas sangrentas com a
polícia mas o momento já tinha passado. No fim de .unho França já tinha voltada à
'normalidade. -

-- Nesses dois casos, a Revolução Espanhola de 1938 e os acontecimentos na França


- de 1968 ,os, princípios anarquistas foram nâoó discutidos mas realmente usados. Apesar
de que c.i.'s trabalhadores/as francéses/as não chegaram até a autogestão (talvez por
causa de falta de preparação anarquista e muitas outras razões) a coisa importante é
que aconteceu; fizeram uma revolução num pais capitalista avançado. Os/as filhos/as das
--
classes média e trabalhadora na França que tinham sido ensinados/as a engolir a
passividade, o consumismo cego e o trabalho alienado estavam rejeitando muito mais
que o-simples capitalismo: estavam questionando a idéia de autoridade em si -e exigindo
o direito a uma existência livre e significativa. Revolução na sociedade industrial
- moderna não é importante apenas para acabar com a fome. mas paalibertar os seres
-. humanos de todas as formas de dominação, uma mudança radical na qualidade da vida
cotidiana. Supomos a necessidade duma sociedade tit'ertaria.

É muitas vezes dito que os anarquistas vivem num mundo de sonhos e não véem as
coisas que acontecem hoje. Na verdade vemos bom essas coisas, nas suas cores
verdadeiras, e é isso que nos faz levantar o machad:nho na floresta dos preconceitos
que nos tormentam. Kropotkin -

São duas as razões que - a revolução falhou na França: (1) a preparação teórica e
prática do anarquismo foi inadequada e (2) o poder -acto do Estado e o autoritarismo e
burocracia dos outros grupos da isquerda. Na Espanca a revolução era mais ampla e
persistente por causa da preparação extensa. É importante considerar esses fatores
quando vemos a situação nos Estados Unidos (ou qualquer outro pais) hoje. Enfrentamos
não apenas um Estado poderoso com forças armadas, policia e armas nucleares, mas
também um respeito perverso pela autoridade e as fcrrnas hierárquicas do cotidiano
criado na família, - nas escotas, na Igreja e na televisão. Num país grande corno os EUA,
que tem uma história pequena de anarquismo, podia parecer quase impossivel alcançar o
nível de preparação necessário. Mas aefinir o lnimio ccrno um gigante invencível flàO
aluda ninguem. .,. -
s 1~
4
Se nào rios deixamos ca ir no fatalismo ou na dep-. ,ssãr p rtjt»1n,r

'0

revolução para incluir a anarca-femrnicmo. São as mulheres cue ar'c ti a


as novas com---Ps es da revolução, as muhctcs que sabem qe ;. iu psde
siftcar a conquista do pcdcr nem a dominação de u •;'s.c:• -

dorninaço em s que zen ue scr destruida. A obrevv;'nc,a -per


Política lhertána já se tornou flCc.?ssaria, rijo apenas um tonnt. ur:o c ' s
adquiriras condiçôes de vtda para Sohre'vrr.

incluir o anarca-feminismo flo é negar a


admitir que precisamos de riova táticas e detiniçõ, a'i e:r
revoluções abortadas tacho que essa parte em
das "revoluçãeo' cornunsast. NOS Como r.u:heis.s 'ro' t'
de redefinição. Tenrio que cr as sccnacJs p sc:'j.os, apre 'r-:5 sr
astutas. sitentas, 7'rsistenes, Severamente senes e exportas r comu';cço Paço
nossa própria sobrevivência aprendemos fazer te,as de rebelião ifl'isveis ao oro co
dominador.
Conhecemos a aparência c'uma bota
vista do baixo,
conhecemos a filosofia das botar,...

Logo invadiremos corno as ervas daninhas


em todo lugar mas devagar:
as plantas cativas fazerào revolta
conosco, os muros cairâo

não e'xistirâo mais as botas.


No entretanto romrnos terra
e dormimos: estamos esperando
cm baixo Ci' p'S.
Quardá dizemos Ataque
você não ouv:rá nda
rio começo.

A preparação anarquista já existe neste pais: existe nas mentes e nas ações das
Mulheres que estão se preparando (multas vezes sem saber) para urna revokJço que vai
fragmentar os próprios processos de história.

Anarquismo e o Movimento Feminista


o desevo!vimerito duma irmandade feminina e urna atneaca sem igual, pois é apontada
diretamente contra os modelos básicos 5001315 e psiquicos cc hierarquia e dorninacão... -

Mary Daly

Em todo lugar no pais grupos independentes de mulheres começaram a funcionar sem a


estrutura e sem os !deres da isquerda masculina, criando organizações similares àqueles
de anarquistas de muitas épocas e lugares. E não foi por acaso. Cathy Levtne
-

Não falei da posição da mulher na Espanna u na França porque basta Quer apenas duas
palavras: sem mudança. Os homens anarquistas ttun sido souco meihor na sua opressão
das mulheres que homens ruo munco inteiro, portanto a necessidade absoluta d'uma
revolução anarquista feminista. Senão os princip:oz anarçusstas se tornam hupocracia "..
tstal.

0 movimento feminista atual e a análise ferninsta racical da sociedade já


cor.trubuiram muito ao pensamento libertário. Na verdade. creioque as femtnste tt1
sido anarquistas inconScintCs na teoria e na prãt:ca faz muitos anos. Agora preciTO.
nos tornar ccnscentes das hgaçóes entre anarqusmo e feminismo e ucr esa ra
as nossas ideias e ações. Temos que poder ver clarmcr.te aone quererr:c; e
chegaremos ate lá.

A perspectiva feminista é quase ar,arquisrn o puro: sLa teora n


a:.. :a
núcleo da família tradicional é a base de todos co sistemas
aprende, do pai ao professor ao patrão, e até Deus. é OBEDECER a vc.
Autoridade. Chegar a ser adulto significa a automatização total co
incapaz de questionar, nem pensar claramente. Acreditamos em uo çu nos zern e
aceitamos paralisadas/os a destruição de vida que nos cerca.

A política masculina tradicional reduz os seres humanos a cb1etcs Ccois


° dominá-los e manipulá-los pelos seus "objetivos" abstratos. Nós mulheres acriamcs que
relações entre pessoas, com toda a sua individualidade, são desejáveis e necesrtzs.
(Muitas de nós escolhemos trabalhar com o amar só mulheres por exatamente essa razão
- porque esses upos de relações são ma:s possíveis). Estamos trabalhando juntas para
expandir a nossa empatia o o nosso respeito pelos outros seres vivos em vez de torna-
los em objetos e manipulá-los. Neste momento o respeito por todas as formas de vida é
um requisito indispensável pela nossa própria sobreviyéncia.

A teoria feminista radical também critica os padrões do pensamento hiérárquico


masculino onde q racional domina a sensualidade, a mente dornir.a a intuição e as
polaridades (ativo/passivo, criança/adulto, sano/insano, trabalho/dversão,
espontaneidade/organização) nos alienam da' nossa experiência como seres Completos.
Nós mulheres estamos tentando jogar fora essas polaridades e divisões para viver em
harmonia ccm o universo como seres humanos inteiros, dedicados a curar coletivamente
as nossas te:idas individuais.

Na prática atual do Movimento Feminista, conhecemos ambos sucesso e carência


na nossa tentação de ,abolir hierarquia e dominação. Creio que as mulheres muitas vezes
falam e atuam como anarquistas "intuitivas', quer dizer, chegamos perto da beira da
negação total do pensamento e organização. patriarcais. Mas essa aproximação é
obstruidapeta5»1orrnspbderosas do patrtarcadd nas mentes e nas nossas
relaçes umas com as outras. O fato de viver numa sociedade autcritria frustra a nossa
capacidade de fazer as ligações importantes entre feminismo e anarqusrno. Quando
dizemos que estamos lutando contra o patriarcado. não fica serre claro para todas nós
que isso significa que estamos lutando contra roda hierarquia, todos Iiore, todo
governo e a própria idéia de autoridade. Os nossos tmpuftos de trabalhar coletivamente
em grupos pequenos sem lideres são impulsos anarquistas, mas na rnaoria das vezes não
os chamamos por esse nome. Isso é importante porque .o entendimento do feminismo
como anarquismo podia lançar as mulheres fora do reformismo para um confronto com a
política autoritária. -

Se quisermos destruir o patriarcado temos que falar do anarquismo para entender


o que exatamente significa e usá-lo para transformar nós mesmas/es e a estrutura do
nosso cotidiano. Feminismo não significa mulheres em controle dos muitinacionais, nem
urna mulher , presidente: mas sim um mundo sem multinacionais e em presidentes. Não
queremos inserir a mulher numa economia hierárquica. Confrontar o machismo significa
confrontar toda hierarquia - econômica, política e o'ssoal. E isso ig'tica urna revolução
anarca-f cmi n ist a.

Mas quais são as partes anarquistas do feminismo, e quais as carõncias? No fim


--
P

/
das anos 50 o ferninsmo se espalhou nos EUA
que eram trequentemente libertárias nas estruturas
'grupos de ccnscier'tizaçâo" pequenos, sem !,,'deres, - pssc do
dotdicno. revoltando contra os jogos de
organização de massa, todos inerentes à poft:ca
entender os razes da nassa opressão. falando ca: '.
coisas desvalorizadas artes disso. Aprendei—r---,. .,.
"lá fora', mas nos nossos corpos e mentes . . .. ,
que as relações pessoais opimem nós mul:--. ..:..- .-.
miséria e o nosso ^ódio de nós mesmas eram e . CUTj O
na rua, no emprego e nas or iaões poícz

Em muitos lugares diferentes esses :'.. ....,


uma reação direta e espontânea ao patriarcaciu. Ni3 COfl()
a unidade básica de organização, nos aspetos poh:cos cia vica resuol, r;a rec'içaO Co
autoritarismo e na ação direta espontãnea era anáru'n ria ua es.!ència. Mi aonde
estavam os anos dC preparaçu uo fizeram
espanholas? A estrutura dos grupos de mulheres pareciam muito com os grupos cc
afinidade dos sindicatos anarquistas na Espanha, na França e em muitos outros países—
Não nos chamamos deanarqwstas mas 'ios organizamos conscen:emente com os
princípios anarquistas as,ar de que, nessa época, pem tínr)arnos uma rede de
informação para comunicar as nossas iM as o experiôncraz. Antes do movimento
feminista existiam alguns poucos grupos isolados procurando respostas no escuro com O
ideal de anarquismo não especificado nas nossas Pr—, s.

Creio que isso significa que as mulheres tem .n anarquis iiituiur.


articulada e concretizada, pod.r nos levar mais adiante na luta
pe1a 1 revoluçâo .que qualquer outro grupo anterior. A tira feminista radical aclama o
feminismo como a Última Revolução. Isso é verdade se (e somente se) reconhecermos os
nosso raizes anarquistas. Quando não vemos as lija,ões feministas com o anarquismo,
não alcançamos revolução mas caimos na velha. politica masculina autoritária.

Os sucessos dos projetos de ação pequenos feministas (como os Centros pela


Prevenção cia Violéncia e os Coletivos Feministas de Saúde) em se espalhar pelo pais te
pelo mundoj inteiro e em evitar o desenvolvimento do lideresi°estreltas°, faz com que
seja muito difícil apontar apenas uma pessoa ou grupo corno representante do movimento
feminista. Feminismo é um mcstro de muitas caoeças diferentes çae não se pode matar
com uma decapitação só. As r.aneiras que crescemos e nos cifundimos são fora da
compreensão da mentalidade hierárquica.

Mas ao mesmo tempo não podemos subestimar o poder do lnirn!gO. A pior forma
desse poder é a cooptação, que destrói o anarquismo no feminismo dizendo que é
apenas 'mudança social". Dizer que o machismo podia ser cestruido através da
parti c:paço feminina no iste'i CXTente é rr n cantinuaçà da dmnação e
oppressào. Capitalismo 'feminista" á uma contradição. Quando estabelecemos livrarias,
uniões de crédito e restaurantes feministas, ternos que lembrar que estamos fazendo
essas coisas para a nossa sobrevivéncia, para criar um "contra-sistema" cu;os métodos
(;ofltradiZem e disputam a competição pelo lucro e todas as outras formas da cprc-io
econômica. Ternos que adotar valores anti-capitalista e não consumistas, e viver nas
margens do sistema. Não queremos riem a integração nem a zranscncia de raer.
Queremos nada menos que uma rc''oiuçáo total para um futuro sem esiguadode nem
aominação nem desrespeito pea iaredadc iridvduaI. Creio que as rnuheres jã saoem do
caminho pela libertação humana: apenas precsamos rios livrar das formas políticas
machistas e enfocar nariossa própria análise temninista anárquica.

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