Você está na página 1de 3

LAUDO Nº 01/2012

LAUDO DO TRIBUNAL PERMANENTE DE REVISÃO PARA EMITIR UM


PARECER EM RELAÇÃO À SUSPENSÃO DA REPÚBLICA BOLIVARIANA
DA VENEZUELA CONDIÇÃO DE ESTADO PARTE DO MERCADO COMUM
DO SUL (MERCOSUL)

O Tribunal Permanente de Revisão se reúne na cidade de Assunção, República do


Paraguai, nos dias 4, 5 e 6 do mês de janeiro de 2017, para emitir um laudo referente à
“Informação para a Imprensa N: 419/16” publicada no dia 02 de dezembro de 2016 que
foi elaborada em conjunto pelos Ministros das Relações Exteriores da Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai notificando a senhora Ministra do Poder Popular para Relações
Exteriores da República Bolivariana da Venezuela, Delcy Rodríguez Gómez, cessando
os exercícios dos direitos inerentes a condição de Estado Parte do MERCOSUL à
República Bolivariana da Venezuela.
Colocar um parágrafo relativo ao teor do pedido.

No Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) vigora o sistema de intergovernabilidade,


nesse tipo de sistema os procedimentos de funcionamento do bloco são regidos pelos
princípios do Direito Internacional Público, carecendo de mecanismos e institutos
jurídicos próprios capazes de garantir a aplicabilidade direta das normas produzidas por
suas instituições se faz necessário a recepção dessas normas no ordenamento jurídico
interno de cada Estado Parte respeitando a sua soberania. A falta de internalização no
ordenamento jurídico venezuelano de normas do bloco foi o que acabou motivando a
notificação em análise que determina a cessação de direitos inerentes a condição de
Estado Parte do MERCOSUL para a República Bolivariana da Venezuela.
Os representantes dos demais membros do bloco ressaltaram que já haviam dado um
prazo adicional além dos quatro anos que teria sido disposto inicialmente para que a
Venezuela pudesse honrar suas obrigações e incorporar as normas vigentes no
MERCOSUL e uma vez que esse prazo adicional se finalizou no dia 01 de dezembro de
2016 o país deve ser afastado do bloco até o momento em que os demais países acordem
com a República Bolivariana da Venezuela o restabelecimento do país como Estado
Parte do bloco.

ANÁLISE QUANTO FORMA


O primeiro ponto a ser analisado por esse tribunal se refere a forma pela qual foi feita a
comunicação da decisão dos demais membros do bloco de suspender a República
Bolivariana da Venezuela. Conforme o artigo 39 do Protocolo de Ouro Preto as
Decisões do Conselho do Mercado Comum deverão ser publicadas no Boletim Oficial
do MERCOSUL em sua integra, em espanhol e português. Uma vez que foi emanado
apenas um comunicado a Ministra do Relações Exteriores da República Bolivariana da
Venezuela, sem seguir o rito necessário para essa publicação esse ato já se torna nulo em
decorrência do vício de forma.
Cabe ressaltar que a decisão tomou por base a Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados. Entretanto, esse documento dispõe que deve-se primar pela mediação e
negociação dos conflitos entre as partes e no, caso em análise, foi tomada uma decisão
sumária de suspensão da Venezuela sem que houvesse uma tentativa de negociação
prévia entre as partes. O Artigo 2º do Protocolo de Brasília (documento emanado para
nortear a solução de controvérsias dentro do MERCOSUL), também prevê que os
Estados Partes devam buscar a solução de uma controvérsia mediante negociações
diretas antes de se submeterem ao procedimento arbitral.

ANÁLISE QUANTO AO MÉRITO


Além dos vícios formais assinalados cabe esse tribunal julgar quanto ao mérito da
suspensão da República Bolivariana da Venezuela, uma vez que de nada adianta sanar
os vícios formais se, além desses, existirem vícios quanto ao conteúdo do ato.
Para análise do mérito da decisão partiremos como fonte de consulta o Tratado de
Assunção, documento elaborado para constituir o MERCOSUL, o documento dispõe
em seu Artigo 2º que: O Mercado Comum estará fundado na reciprocidade de direitos
e obrigações entre os Estados Partes.
Esse artigo toma como base o princípio da reciprocidade e busca a harmonização dos
direitos e deveres assumidos pelos países integrantes do bloco, ou seja, aquilo que é
imposto para um Estado Parte deverá ser cumprido pelos demais Estados signatários do
instrumento.
Outro documento basilar do Direito Internacional é a Carta das Nações Unidas, a qual
prevê em seu capítulo 1 Artigo 1º que as relações entre as nações deverão ocorrer
baseadas no respeito aos princípios da igualdade de direitos e autodeterminação dos
povos. Significa dizer que todos os países devem ser tratados de forma igual perante a
lei, esse tratamento equânime é essencial para garantir a estabilidade das relações
internacionais não cabendo um tratamento divergente em decorrência da diferença de
poder ou influência entre os Estados.
Os países que proferiram a decisão para expulsar a Republica Bolivariana da Venezuela
usam como argumento o fato do país não ter incorporado as normas mercosulinas em
seu ordenamento interno, dentre elas está o Acordo de Complementação Econômica
(ACE) 18, o qual prevê a adoção de uma tarifa externa comum (TEC) e a eliminação de
barreiras tarifárias entre os países do bloco.
Analisando a decisão proferida quanto ao mérito o Tribunal Permanente de Revisão
enfoca que a falta de incorporação da totalidade das normas do MERCOSUL em seu
ordenamento interno não é uma exclusividade da Venezuela, muito antes pelo contrário,
os demais Estados Partes do bloco (apesar de já o comporem há mais de 25 anos)
também não o fizeram em sua plenitude. Quanto ao AC18, o membro do bloco com o
maior poderio econômico, o Brasil, não incorporou cinco padrões.
Tendo em vista que o MERCOSUL é regido pelas regras, princípios e procedimentos
peculiares do Direito Internacional Público. Em respeito ao princípio da reciprocidade;
da igualdade entre direitos e autodeterminação dos povos decidimos que a decisão de
suspensão da República Bolivariana da Venezuela tomada sob o pretexto de que a
Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados prevê em seu artigo 60 a possibilidade
das partes, na hipótese de violação substancial às normas de um tratado multilateral, a
sua suspensão ou a extinção dos seus efeitos em relação ao Estado infrator não se
justifica, uma vez que os demais Estados Partes também não estão com todas as normas
do bloco internalizadas em seus ordenamentos internos.
Por atentar contra os Princípios de Direito Internacional supracitados que regem os
países em suas relações exteriores o Tribunal Permanente de Revisão julga que a
decisão de suspender a República Bolivariana da Venezuela contém vício de mérito, que
só deixará de existir caso os demais Estados Partes venham internalizar todas as
normativas do MERCOSUL em seus respectivos ordenamentos.

DECISÃO
Devido tanto aos vícios de forma, quanto por infringir os princípios de Direito
Internacional Público, por unanimidade, o Tribunal Permanente de Revisão reconhece
como ilegítima a DECISÃO Nº: 419/16

http://www.analitica.com/actualidad/actualidad-internacional/mercosur-comunica-
a-venezuela-que-cesa-de-ejercer-sus-derechos-inherentes/
http://www.mercosur.int/innovaportal/v/7835/2/innova.front/2016

Você também pode gostar