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O entre-lugar das

homoafetividades Denilson Lopes*

A
Abstract

nalysis of short stories by Caio Fernando


Abreu, Silviano Santiago and Alexandre
Ribondi through the dissemination of
a foreign condition in contemporary
times and its relationship with
affectionate and sexual experiences
among men. National and homossexual
identities are rethought as ordinary
feelings of belonging/not belonging
with the aid of post-colonial studies
and queer studies.
Key-words: Foreign Condition, Sexual
Identities, Queer Studies.

Para Angélica Madeira


e Mariza Veloso

E tua alegria tornou-se um país


estrangeiro
Felipe Nepomuceno

* Professor Adjunto da Faculdade de


Comunicação da Universidade de Brasília.
Ipotesi, revista de
estudos literários
Hoje, a condição estrangeira se dissemina e se massifica, diante
Juiz de Fora, dos cada vez mais intensos fluxos migratórios que atravessam o planeta.
v. 5, n. 1
p. 37 a 48 Nesse contexto, o que pretendo tratar não é tanto da experiência de mal-
estar do intelectual moderno exilado, devido a dificuldades políticas e/ou
pela perda de papel social no seu país. Também não se trata mais do horizonte
existencialista, pós-Segunda Guerra Mundial, em que o estrangeiro assume uma
posição universalizante, metáfora da experiência humana, em que todos somos
estrangeiros onde quer que estejamos, estranhos diante de um mundo que não
carrega mais sentidos transcendentes, como em A Náusea da Sartre. É claro que
estas duas construções ainda estão presentes neste fim de século, mas gostaria
de produzir um deslocamento culturalista. Os textos sobre que vou falar tratam
de personagens urbanos, de classe média, não marcados por perseguições políticas,
nem por uma excepcionalidade mitificadora das margens, também já distantes
dos laivos contraculturais1. Também esta experiência estrangeira se traduz em
pequenas circunstâncias cotidianas (trocadilhos não compreendidos, gestos
reprovados etc) em que o confronto e diálogo com o outro se dá de uma forma
direta. Pequenas dores, pequenas alegrias. Nada de dilaceramentos diante dos
absurdos do mundo, nem de confrontos identitários muito óbvios. O recuo
para a intimidade não implica uma alienação, mas um tom menor.
Se os estudos culturais estão nos fazendo repensar a literatura brasileira,
a partir de um fraturamento da identidade nacional, tornando esta mais
descentrada, na medida em que são colocadas em pauta noções como
hibridismos, fronteiras flutuantes, derivas gendéricas, que servem para ressituar,
reler autores canônicos da modernidade (como Clarice Lispector), resgatar
outros esquecidos (como Samuel Rawet), bem como estabelecer diálogos com
obras que têm enfatizado o olhar estrangeiro como forma de construção
artística2, gostaria de falar de um lugar bem preciso. Comentar Keith Jarret no
Blue Note de Silviano Santiago, Estranhos Estrangeiros de Caio Fernando
Abreu e Na Companhia dos Homens de Alexandre Ribondi, a partir das
relações estabelecidas entre homens diante dos fluxos interculturais.
Esta experiência homoafetiva, com especial ênfase nos frágeis limites do amor
e da amizade, se coloca numa situação permanentemente intervalar, para
além de uma identidade homossexual ou de uma sensibilidade homoerótica.
Este entre-lugar articula personagens em que sua nacionalidade e sexualidade
se apresentam entrelaçadas e em trânsito. 3
1 Um trabalho interessante de se fazer seria comparar textos que falam de um certo exílio em Londres
do fim dos anos 60 e início dos anos 70, como Verdes Vales do Fim do Mundo de Antonio Bivar,
“Lixo e Purpurina”, em Ovelhas Negras, e “London London”, em Estranhos Estrangeiros, ambos de
Caio Fernando Abreu.
2 Entre outras, cito Rastros de Verão de João Gilberto Noll, Senhorita Simpson de Sérgio Sant’A nna,
Postcards de Marilene Felinto, Ana em Veneza de João Silvério Trevisan, Relato de um Certo Oriente
de Milton Hatoum, Teatro de Bernardo Carvalho, Nur na Escuridão de Salim Miguel e O Marciano
de Felipe Nepomuceno.
3 Procuro me diferenciar da leitura deleuzeana da obra de Caio Fernando Abreu feita por Cristopher
Larkosh (19 99) em que coloca Caio como escritor multilíngüe. “Muitas das experiências pessoais se
mostram intraduzíveis dentro de uma língua, ou impossíveis de transpor para um único lugar. O narrador,
assim, tenta dar uma possível explicação para a possível incompreensão dos ultrapasses nomádicos [sic]
e multilíngües de fronteiras, dentro da série de espaços sedentários, nacionais e monolíngües”.
O viés é interessante e deveria ser mais desenvolvido, mas talvez mais fecundo para obras que
38 primaram pela inovação lingüística, como Catatau de Leminski ou Mar Paraguayo de Wilson Bueno.
A nação é uma experiência que “produz um deslizamento contínuo de O entre-lugar das
homoafetividades
categorias, como sexualidade, afiliação de classe, paranóia territorial ou
‘diferença cultural’ no ato de escrever a nação” (BHABHA, 1998, p. 200). Denilson Lopes
Como nos lembra Anne McClintock: “Todos nacionalismos são genderizados,
inventados e perigosos” (1998, p. 89), no sentido em que eles representam
relações com o poder político e com as tecnologias de poder (idem). A nação
é uma experiência de identificação compartilhada (idem) que paira sobre nós,
como sistemas que legitimam o acesso ao Estado-Nação, estabelecendo
inclusões e exclusões. Ainda que nossas sensibilidades sejam definidas cada
vez mais por fronteiras mais ou menos frágeis e fluxos culturais, é importante
lembrar que o nacionalismo deriva de uma memória, humilhação e esperança
masculinizadas (idem). E se as mulheres, no período de formação de nossa
literatura ainda entravam como símbolo, mas não como agentes (idem, p. 90);
nós homossexuais, invisíveis e/ou indesejáveis, obviamente não chegamos
sequer a ser símbolos nacionais e muito menos agentes, fomos e somos
excluídos de espaços legítimos de reprodutibilidade e socialização, marcados
pela falta de legitimidade de famílias gays com filhos e pela dificuldade de
estabelecimento de modelos sociais alternativos inter-geracionais de forma
estável. Por isso é importante repensar as culturas nacionais a partir das
minorias destituídas4, cujo efeito mais significativo não é a proliferação da
história dos excluídos, mas fortalece uma base para o estabelecimento de
conexões internacionais (BHABHA, 1998, 25). Na construção de suas múltiplas
fronteiras, a nação entendida como experiência narrada tem na escrita afetiva
uma base importante mesmo para a adesão e ação social. Trata-se não só de
“simplesmente mudar as narrativas de nossas histórias, mas transformar nossa
noção do que significa viver, do que significa ser, em outros tempos e espaços
diferentes” (idem, 352).
Mas o “que se há de fazer em um mundo onde mesmo quando você
é uma solução você é um problema” (MORRISON, Toni apud idem, p. 351)?
A solidão dos personagens de Silviano após a morte dos companheiros5 e da
pouca presença dos amigos homo ou heterossexuais dá o tom da literatura
brasileira contemporânea na quase ausência de relações amorosas estáveis
entre homens. A invisibilidade do homossexual o impediu de ter um papel
claro na cultura nacional ou resultou de uma submissão à dualidade gendérica
masculino/feminino, com sutis formas de resistência, sobrevivência e
recolhimento no espaço privado ou nos guetos. Não estou reduzindo o
discurso literário ao político, mas tentando uma leitura política do literário,
sem que uma esfera se submeta a outra. Não estou falando aqui de noções
abstratas de diferença e identidade6, mas de uma experiência que se traduz
numa alegria de pertencer e compartilhar, numa alegria ao se constituir como

4 Se relação entre cultura nacional e identidade feminina vem sendo bastante desenvolvida, o mesmo
não pode ser dito de sua relação com a homossexualidade; consultar Lauren Berlant e Elizabeth
Freeman (1994), Lee Edelman (1994) e Arnaldo Cruz-Malavé (1998).
5 “Amizade construída duma maneira adulta e egoísta como só dois solteirões podem construí-la
sem os entraves da esposa, dos filhos e das constantes reuniões familiares” (p. 123).
6 Para uma valorização da noção de identidade, após a crítica pós-estruturalista, e para sua articulação
com a noção de diferença, ver Kathryn Woodward (2000) e Stuart Hall (2000). 39
Ipotesi, revista de
estudos literários
intelectual particular 7, anverso da construção do intelectual moderno, seja
Juiz de Fora, isolado, exilado, seja revolucionário, engajado, porta-voz. É este espaço modesto
v. 5, n. 1
p. 37 a 48 o meu lugar possível de fala agora.
somos todos estrangeiros
nesta cidade
neste corpo que acorda
(Guilherme Zarvos)

No entanto, começo com o mal-estar de “Days of Wine and Roses” de


Silviano Santiago8. Acordando em uma madrugada de domingo, o protagonista
nomeado como você (recurso que se repete no livro inteiro), parece estar
num limbo temporal e espacial, não só por causa deste estado intermediário
entre o sonho e a vigília, mas por não se sentir pertencente, nem na própria
casa, que lhe parece um quarto de hotel, em que os próprios móveis parecem
indicar uma recusa. “A poltrona é velha e pouco cômoda. Está encardida
pelo uso. Ela não combina com você. Você não combina com ela” 9 (KJ, p. 53).
A situação que poderia favorecer o devaneio ou um encontro consigo mesmo,
apenas marca a solidão diante da imagem da rua vista pela janela, diante dos
compromissos para o fim de semana desmarcados na secretária eletrônica.
A secura da paisagem sob a neve encontra, ecoa e amplia o desamparo.
“Você imaginou que não havia casas na cidade. Não há casas. Só ruas.
Você imaginou que não havia famílias na cidade. Não há famílias” (KJ, p. 55).
Casa e cidade são espaços físicos e afetivos de desolação. Estrangeiro numa
cidade desconhecida, solitário em casa, insatisfeito com o que passa na
televisão, eu aceitando o convite começo a me ver na narrativa, aspirado,
seduzido por este você. Dois eus frágeis se encontram, o do leitor lançado à
narrativa e o do narrador que recusa a primeira pessoa, com dificuldade em
se enunciar, em se confessar. Narrador que pode ser o mesmo durante todo
o livro, ou pelo menos, nos três contos escolhidos para ser analisado. Como
se a liberdade possibilitada pelo improviso do subtítulo se contrapusesse ao
uso do você, marcado por um certo pudor da autobiografia, não fosse o
autor já de longa data hábil em transitar pelas fronteiras entre a ficção e a
realidade. Silviano se permite uma afetividade, pouco comum na sua obra.
Mesmo a citação de Keith Jarrett tem menos um papel metalingüístico do que
afetivo. Ela constitui uma memória pessoal, recurso de identificação com o
leitor, não um exercício de pastiche. Mesmo o distanciamento de voyeur que
poderia haver ao colocar um discurso tão íntimo em segunda pessoa só se
desloca em relação ao crescente confessionalismo da contemporaneidade, a

7 Sonho com o intelectual destruidor das evidências e das universalidades, que localiza e indica nas
inércias e coações do presente os pontos fracos, as brechas, as linhas de força; que sem cessar se
desloca, não sabe exatamente onde estará ou o que pensará amanhã, por estar muito atento ao
presente...” (FOUCAULT, M.: 1989, 242).
8 Para uma outra leitura da questão gay na obra de Silviano Santiago, ver Ana Maria Bulhões de
Carvalho (1997).
9 Para não sobrecarregar o texto de referências, mencionarei no corpo do trabalho apenas as páginas
das citações tiradas das três obras literárias analisadas (de Santiago, Ribondi e Abreu), acompanhadas
pelas abreviaturas correspondentes (KJ para Keith Jarret no Blue Note, CH para Na Companhia de
40 homens e EE para Estranhos estrangeiros).
obsessão pela auto-revelação. A música é uma metáfora para uma narrativa O entre-lugar das
homoafetividades
caudal, que se desdobra pela memória, pelas impressões, e rompe as amarras
do olhar vigilante de si mesmo e do outro. Denilson Lopes
Começa também a lembrança. Da madrugada de domingo vamos ao
início do fim de semana, sexta-feira. A solidão do presente remete a uma
procura na memória, ou melhor, a uma disponibilidade para o passado.
Até chegar na quinta-feira, um calendário invertido. Como não sabia porque
estava naquela cidade, também não sabia porque ligara a Roy, de quem fora
amante por seis anos, vivendo em “apartamentos separados e [na] mesma
cama” (KJ, p. 63). O sexo criou a intimidade, não o contrário. Reencontro
pelo telefone, sem corpo, sem olhos nos olhos, só voz, depois do
desaparecimento após anos. Não o pedido humilhado de uma mulher
apaixonada ao homem que não a ama mais de “A Voz Humana” de Cocteau.
“Você pensa agora que o telefone é uma forma de encontrar uma pessoa sem
verdadeiramente encontrá-la” (KJ, p. 57). Há todo um ritual cotidiano que
antecede. A sopa. O corpo quase nu, que se sabe depois envelhecido.
A sobremesa. O uísque. Novamente o uísque.
Começam a conversar, a jogar. É o outro, ele, Roy, que pede. O número
do telefone. Você quer dominar, achar razões para ligar. Você até acha.
Você quer controlar. Começa o streaptease. Primeiro, as roupas descritas, depois
o passado compartilhado aflora. Ironias e ciúmes. Os amigos perdidos no
mundo. Os amigos sobre quem se silencia não por pudor diante da morte, da
AIDS, mas para não ser redundante, talvez. Não há o que falar, nada para
esconder. Resta a constatação da mudança nos bares que fecharam, do corpo
que muda. De uma identidade gay transitamos para o horizonte da experiência
cotidiana. Aflora a mágoa. E você conduz a fala para que a “ternura ressentida
e silenciosa” (KJ, p. 64) não invada a conversa, para que não perca o controle
sobre a afetividade. Esta perda só vai acontecer no último conto, “When I fall
in love”, diante do amigo, amante morto. Ao outro, a voz é cedida, ao permitir
que dê a versão de sua estória, de seu primeiro encontro, mas só quando o
outro não está mais lá. Tarde demais. Não só as lembranças irrompem mas os
afetos. Mas nem tudo acaba com a morte. As pequenas brincadeiras fazem o
protagonista, envelhecendo, retornar à infância. Pelas memórias o corpo volta
a ser criança, sem passado, sem dor, sem ressentimentos, ainda que por um
momento: tapar e destapar o ouvido para não congelar em “Days of Wine and
Rose” e o chicotinho queimado no fim de “Autumn Leaves”. Em “When I Fall
in Love”, o fim é sério, sem a brincadeira infantil de “Autumn Leaves” que nos
resgata da auto-complacência, da auto-piedade, mas o jogo ainda não acabou.
“Se você nunca soube quando tudo começou, como vai poder adivinhar como
tudo vai terminar? é o que você se pergunta” (KJ, p. 147). É o que me pergunto,
nesta estória de amor entre leitor e autor, também plenamente assumida, a
única que se passa no Brasil, no Rio de Janeiro, como também no conto fora
desta coletânea, ainda inédito em livro, “Uma Casa no Campo”. Voltando a
“Days of Wine and Roses”, também é tarde demais para que o protagonista
assuma, nomeie seu passado, sua “longa relação sexual e amorosa”
(KJ, p. 65), nos seus limites, mas sem subestimá-la pela ironia. “Você sabe que
não foi um caso. Pode não ter sido paixão mas classificar o relacionamento 41
Ipotesi, revista de
estudos literários
de caso é minimizar experiências que te constituíram e te transformam no que
Juiz de Fora, você é hoje” (KJ, p. 66). Há uma luta entre a explicação, os porquês e o que
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p. 37 a 48 as coisas simplesmente são. Não há palavras suficientes. Com a idade, não
vem a sabedoria do velho narrador tradicional, o que nos chega desse romance
de contos mistura a constatação da perda e uma frágil sobrevivência num
cotidiano hostil, estrangeiro, que resiste a ser afetivizado, mas no entanto o é.
A lembrança final do gozo físico é como se instaurasse uma ética do desejo,
na constatação mesma do desamor, em que estes pares se nutrem um do
outro, não se opõem.
O pertencimento está num encontro passado. Amor entre estrangeiros.
Um, brasileiro, que sempre viaja, agora em pequena cidade do interior dos
EUA (poderia ser a mesma de “Autumn Leaves”). Outro, norte-americano em
NY, que nunca viaja, nunca muda de lugar, telefone. No final, vem a resposta,
Roy dá o troco. Muda de telefone e não permite que a companhia telefônica
avise o novo número. Os personagens estão num entre-lugar, que não é um
não-lugar, para usar o conhecido termo de Marc Augé. Não se trata de um
espaço de passagem impessoal. Apesar do incômodo, este espaço de trânsito
é um lugar afetivizado, que se situa também num entre-tempo, como aparece
em “Autumn Leaves”: “Você estava (e ainda está) convencido de que nada do
que se está passando nessa temporada de neve, frio e chuva está sendo feito
para durar” (p. 32). Não se trata de falar de um tempo atrasado, como de um
lugar reificadamente à margem, nem de um fluxo constante que tudo nivela,
nadifica, indiferencia. A melancolia existe não como idealização de um passado
morto mas trata-se de um “entre-tempo” (BHABHA, 1998, p. 338) que emoldura
e constitui um entre-lugar, na frágil possibIlidade de uma alegria minoritária
e não tanto de mal-estar de intelectuais à sombra de Adorno, que se recolhem
E não conseguem enxergar para além do dilema revolução ou um caos que
abra para autoritarismos. Aqui existe um certo cansaço, mas não ressentimento.
Não mais o tom empenhado, quase engajado, de “O Entre-Lugar do Discurso
Latino Americano”10, mas uma certa deriva entre fronteiras e barreiras que se
multiplicam e se deslocam. Silviano Santiago, trinta anos depois de seu ensaio
clássico, se recolhe, se afasta cada vez mais da figura de um intelectual maior.
Tempo de projetos menores, pensamentos débeis, sensibilidades frágeis para
o presente. O narrar, a experiência substituem as polêmicas de uma universidade
que cada vez mais se profissionaliza e se auto-legitima. A cada vez maior
visibilidade do escritor diante do ensaísta parece reafirmar esta escolha por
uma política do afetivo
Se para Silviano tudo parece estar tarde demais, o afeto revelado como
transitoriedade, lembrança e perda, há mesmo uma recusa da condição
estrangeira (“você passou a ter ódio de ser reconhecido como estrangeiro”,
KJ, p. 26) pela sua estigmatização em favor de um pertencimento no
passado ou em lugares públicos, o tom muda um pouco na procura do
encontro em Caio Fernando Abreu e Alexandre Ribondi, no sentido de
uma ética da deriva, valorizadora dos encontros momentâneos e de
uma felicidade estrangeira.

42 10 “Falar, escrever, significa: falar contra, escrever contra” (SANTIAGO, 1978, p. 19).
Afinal, por que estamos separados se sentimos tanta saudade? Afinal O entre-lugar das
homoafetividades
percorremos – você vindo e eu indo a mesmíssima avenida que percorre
idêntica em todos os detalhes sua cidade e a minha
Denilson Lopes
(Marilene Felinto)

As fronteiras parecem quase não haver nos contos de Ribondi. Transita-se


do interior de Goiás ao Iraque, da Alemanha ao Sul da França e Brasília.
O deslocamento não recupera a noção iluminista da viagem como formação,
enfatiza apenas a transitividade que está inclusive na passagem de personagens
de um conto para o outro, como se dissessem ao leitor: nós sobrevivemos à
estória que você acabou de ler. Os personagens deslizam pela escrita na
mesma medida em que transitam por espaços diferentes. Não se trata de
identidades, mas de posições marcadas. O desejo é uma forma de
pertencimento, de encontro, mesmo quando não de inclusão. O encontro
entre homens se dá sutil e inesperadamente. As palavras não são pronunciadas
não por se recusar a dizer, mas para aprender com o corpo. Os olhares são
físicos, não de voyeur (CH, p. 28). Olhares não se desviam, falam (CH, p. 32).
Em “A Descoberta do Fogo”, a atração do jornalista brasileiro, casado,
com filhos, por um outro homem, um fotógrafo alemão, ambos cobrindo a
Guerra do Iraque ocorre sem culpas, sem dissimulações: “pela primeira vez,
como uma surpresa adiada mas presente todos os dias da minha vida, estava
frente a frente com outro corpo masculino” (CH, p. 33). O sexo acontece, mas
longe da fixação no ato, se distende pelo corpo. Quando o fotógrafo chama
o protagonista de amigo (CH, p. 35), não se trata de eufemismo, mas de uma
amizade sexual, não o encontro idealizado e platônico entre amizades
masculinas ou de relações entre homens, caracterizadas por homofobia, medo
e ódio à homossexualidade, para usar os termos de Eve Sedgwick, ao estudar
formas do “desejo homossocial”, ou de homossociabilidades homofóbicas
(1985, p.1) até o século XIX, no mundo anglo-saxão.
Não pretendo apenas cunhar mais um termo, mas penso que falar em
homoafetividade é mais amplo do que falar em homossexualidade11 ou
homoerotismo12, vai além do sexo-rei foucaultiano, bem como é um termo
mais sensível para apreender as fronteiras frágeis e ambíguas entre
homossexualidades e heterossexualidades. Uma política da homoafetividade
busca cunhar alianças, que descontrói espaços de homossociabilidade
homofóbicos ou heterofóbicos, implica pensar num contínuo nas diversas relações
entre homens (entre pai e filho, entre irmãos, entre amigos, entre amantes).
“A novidade do outro corpo masculino não era o que me fascinava.
Axel não me salvava de nada, porque não havia perdição anterior que pedisse

11 Como se sabe o termo foi cunhado no século passado, anterior mesmo à emergência do termo
heterossexual. Não gostaria de entrar no debate se o termo é marcado por valores negativos,
decorrentes da sua medicalização e criminalização tão intensos que devesse ser substituído ou que
deva ser mantido por um esforço militante de explicitar e ressignificá-lo, defendido entre nós por
Luiz Mott. O que me interessa aqui é que o termo parece reificar um processo dual de constituição
da orientação sexual que encontra resistências não só entre intelectuais, mas na vida cotidiana.
12 O termo foi colocado em pauta no Brasil por Jurandir Freire Costa, no sentido de buscar expressões
mais ambíguas entre pessoas do mesmo sexo e menos essencialistas. Minha única ressalva é que
erotismo ainda remete a toda uma grande tradição de práticas e prazeres associados à sexualidade,
quando, por exemplo, falamos em literatura erótica. 43
Ipotesi, revista de
estudos literários
salvação” (CH, p. 34). Entre o suave desencanto, acertos de conta com o
Juiz de Fora, passado de Silviano e o arrebatamento quase místico de Caio, os contos de
v. 5, n. 1
p. 37 a 48 Ribondi são suaves, delicados, mas nunca apontam para a transcendência.
A dor nunca tira a beleza do momento. A procura modesta não se encerra
com o fim da estória porque há uma outra estória. O momento não sacia mas
é o que temos. “É uma lástima o breve prazo de uma vida. Porque é sempre
longo o encontro entre dois corpos” (CH, p. 39). A felicidade não está nas
palavras, nem em redenções, mas em pequenos gestos como o colocar a mão
no ombro do outro, durante a caminhada, antes da despedida (CH, p. 41).
Em “A Saudade do Ar”, o tom é o de reencontro de ex-amantes. Aqueles
que ficam na lembrança, mortos ou esquecidos, do outro lado do telefone,
retornam. Encontro marcado, no sul da França, depois de longa ausência.
“Quando nos encontramos, ele teve vontade apenas de me desejar uma boa
noite e entregou as flores amarelas. Eu lhe entreguei as mangas-de-cheiro”
(CH, p. 44). Estórias são contadas, compartilhadas. Deitam juntos. “Quis me
beijar mas, no caminho entre a boca de Manuel e minha boca, ele deixou
exalar o primeiro suspiro do seu outono” (CH, p. 46). As lágrimas de Manuel
falam de partidas, de perdas, de solidão, tudo que pode ficar demasiado
pesado, piegas ao ser falado, algo que não consegue ser expresso. A intimidade
vem do observar um ao outro. A relação não coloca o sexo como central, mas
esta intimidade, que mesmo quando não há mais sexo, permanece. O tempo
não volta atrás, não houve reencontro, o que houve foi um encontro. Apenas.
Nada de irremediável, duradouro, nem a dor.
Em “O Derretimento da Neve”, o protagonista cai, o instrutor de esqui
ri. Convite para bebida mais tarde. Tudo muito rápido, nas primeiras linhas.
Sem recusa, negaceios, ironias, diferente dos contos de Silviano. Encontro em
meio a viagens. A cidade estrangeira se torna uma casa, um mundo enorme,
sempre à espera, para ser descoberta. E a casa do amante, Günther, onde
viveu por dois meses, é espaço de encontro, mesmo que haja uma despedida.
“A despedida foi feliz. Ou quase feliz. Um pouco feliz. Houve traços de
felicidade. Disfarcei os olhos, senão chorariam. Fiquei com Veronete para
vasculharmos a cidade até o fim” (CH, p. 93).
Quando as estrelas começarem a cair
Me diz, me diz o que que a gente faz aqui
(Renato Russo)

Em “Bem Longe de Marienbad” de Caio Fernando Abreu, a procura se


faz mais ativa, decisiva. O narrador em primeira pessoa chega a Saint Nazaire,
pequena cidade do norte da França, à procura de um misterioso K. O desejo
de encontro que começa como fantasia, pouco a pouco, através de um
ritmo de quase suspense, se traduz numa valorização da experiência da
espera, uma experiência para ser contada a alguém (EE, p. 22), presente
nos próprios titubeios em iniciar a narrativa. Narrativa que conjugada à
memória aparece como salvação, termo ausente nos contos de Silviano.
Salvação pela ação (p. 30), pela viagem (EE, p. 33), por ser estrangeiro,
que se traduz na possibilidade do encontro, para além da palavra, para
44 além da sua realização. O personagem de Caio se expõe mais. A delicadeza
é a marca do seu olhar, não a sátira e cinismo demolidores, nem a contenção O entre-lugar das
homoafetividades
afetiva, nem o silenciamento. Silviano está mais para Graciliano Ramos, como
Caio está mais para uma “linhagem dos meninos delicados de nossa literatura Denilson Lopes
que se queimam num romantismo exaltado” (CHIARA, 2000), que vai de
Álvares de Azevedo a Cazuza e Renato Russo, linhagem marcada pela entrega,
pela confusão entre vida e arte, pela teatralização da dor, pela crença no
amor, por uma doce afetividade, que se aproxima de Manuel Bandeira pela
“compaixão que se forja na solidariedade dos que se acostumaram a ser
irremediavelmente solitários, porque compreenderam que todos são sós mesmo
quando não estão sós”. Ana Chiara acaba por sugerir todo um programa
para uma arte afetiva contemporânea: “sem muito desespero, que é inútil, sem
pieguice, que é meio de mau gosto, sem cinismo, porque já basta a desrazão,
mas com suave ironia para poder suportar o peso”.
Tudo parece improvável nesta procura de K. É a delicadeza, a
hipersensibilidade que é ao mesmo tempo causa de mal-estar e possibilidade
de felicidade. Das delicadezas inúteis (EE, p. 24 e 30) é que nasce a modesta
alegria. Pensamos que K poderia ser o duplo, o próprio protagonista. Mas na
passagem da cidade inóspita para o apartamento de K, a memória vai dando
espessura e concretude ao personagem procurado, singularidade ao lugar.
O encontro é uma necessidade (EE, p. 28), um ato de vontade, não mero
acaso, ainda que muito dele dependa, uma deriva marcada não pelo tédio,
mas pela crença conquistada. “Meu coração bate louco, tenho as palmas das
mãos molhadas quando abro devagar a porta deste apartamento onde K com
certeza estará” (EE, p. 27). E mesmo que não esteja, seus vestígios registram
menos uma perda do que uma aproximação. “Posso sentir perfeitamente nesse
espaço o cheiro do corpo vivo de K” (EE, p. 27). Há uma esperança: “Histórias
como esta costumam acabar bem e, mesmo que não se viva feliz para
sempre – afinal, não se pode ter tudo –, deve haver pelo menos algum lugar
quente e seco para abrigar o final da noite” (EE, p. 25). A casa, mesmo como
lugar de passagem, provisória, é um abrigo. Dentro da casa, em meios a vestígios,
o outro deixa uma nota, também K saiu à procura, à procura do protagonista
(EE, p. 39 e 41). Escrever seria “recolher vestígios do impossível” (EE, p. 39),
mas a vida está alem da escritura, o encontro está além da palavra.
“Aos caminhos, eu entrego o nosso encontro” (EE, p. 41).
A deriva é uma felicidade (poderia quase dizer uma utopia no presente,
uma salvação), não por esquecer ou não ter objetivo, mas por ser “o espaço
de um infinito prometido” (KRISTEVA, 1994, p. 12). Ela tem objetivo, embora
este possa mudar. Não é mais necessário fugir do passado, do peso das
lembranças. O olhar não torna o protagonista simplesmente espectador,
liberta-o das prisões interiores. “Desvio o rosto, não devo me deter tempo
demais em meus próprios olhos. Aumento o som da canção, olho para fora
enquanto o trem dispara sobre os trilhos. Preciso ficar sempre atento” (EE,
p. 42). Atenção para perceber o mundo, a felicidade. Ela está passando,
chegando. K está entre nós.
Para Caio, a passagem é do tarde demais para o cedo demais, como no
encontro dos dois amantes em “Depois de Agosto”. Dois HIV positivos que se
encontram pelas redes afetivas montadas pelos amigos. Amor e amizade 45
Ipotesi, revista de
estudos literários
compõem uma família sem lugar único, mutante, uma irmandade que ampara
Juiz de Fora, na leveza e possibilita a solidão ser mais rica, ser disponibilidade. Mesmo
v. 5, n. 1
p. 37 a 48 quando o encontro termina, ele não acaba, vira ritual profano. A ausência se
povoa de presenças. A doença que poderia estigmatizar ainda mais possibilita
o pertencimento. A revelação feita naquele agosto soa como negação. “Nunca
mais o amor era o que mais doía, e de todas as tantas dores, essa a única
que jamais confessaria” (ABREU, 1995, p. 247). A viagem aparece como
decisão de afirmação da vida, o olhar é uma presença, um presente. O Outro
chega anunciado. O encontro é marcado. Há resistência. Temor da recusa, de
precisar do outro O encantamento se faz. Na fugacidade do encontro, a
intimidade se faz, como não se faria com tantos outros em anos de convivência.
Caio não teme o ridículo da confissão, o arrebatamento, o exagero do afeto,
acredita na transcendência. Sim, todo amor é sagrado. Não há promessas de
juras eternas, só possibilidades. E são estas possibilidades da deriva cotidiana
que o renascimento final traz. “Porque era cedo demais e nunca tarde.
Era recém no início da não-morte dos dois” (ABREU, 1995, p. 257).
“Ao mapear os possíveis inícios da ‘não-morte’, Caio sinaliza para o que está
em questão, não somente na literatura, mas também na transferência inter-
cultural, na contínua disseminação de possibilidades preciosas demais para
serem perdidas ou obscurecidas” (LARKOSH, 2000). Este encontro se repete,
mesmo na distância. Ao som de um bolero, eles fazem amor, na mesma hora,
cada um no seu quarto, na sua cidade. Em camas separadas, mas no mesmo diferente
afeto. “E assim por todos os séculos e séculos porque é assim que é e sempre foi
e será, se Deus quiser e os anjos disserem Amém” (ABREU, 1995, p. 258).
Em nenhum desses contos há um tom panfletário, militante, antes sutil
em que se fala do que acontece entre homens maduros. Nada de histórias
adolescentes de assumir uma identidade, com suas dores e alegrias. Nada de
culpas ou dramas marcados pela não-aceitação do mundo, mesmo quando
solitários. Talvez a própria ausência de relações estáveis seja não limitação
mas uma possibilidade para que surja outro tipo de relação para além da
família. Desta não se fala. Pai, mãe, irmãos. É algo de que se escapa ou sobre
que se silencia. Apenas sentimentos lançados na corrente dos acontecimentos
e das memórias. Todos carregam nos seus corpos lembranças, não podem
evitar. Todos marcados por encontros, desencontros, estórias, fins de estórias.
O entre-lugar das homoafetividades está entre identidades, entre homo
e heterossexualidades, implica repensar as masculinidades para além de uma
homossociabilidade homofóbica. O que é estar entre homens, quando não
se sabe o que pode acontecer, a violência ou o beijo inesperado. A fragilidade
onde se esperaria força. Lembro de Roberto Sifuentes no papel de Cyber Vado
numa performance com Guillermo Gomes Peña13. Cyber Vado é uma espécie
de encarnação chicana de Rambo nas pequenas cidades norte-americanos,
como nossos garotos do jiu-jitsu. Ele permite, se oferece. Pinto seu peito e
braços de verde. Depois, ele me pega pela mão. Me convida. Se deita no meu
colo. Eu que sou? Mãe? Pai? Amante? Irmão? Rasgo sua camisa com uma faca

13 Selvagens Artificiais e Mexicanos Construídos Geneticamente (Museu Interativo de Etnografia


46 Experimental e Cultura Apocalíptica), Rio de Janeiro, 8/7/2000.
falsa. Ele me pergunta: que queres? Ofereço uma arma de brinquedo. O entre-lugar das
homoafetividades
Ele nada faz. Pego a arma e caminho com ela pelo seu corpo, pelo seu peito
nu. Estamos frente a frente, ele de joelhos, em cima de uma plataforma, no Denilson Lopes
palco. Ficamos nos olhando. Mais de uma voz feminina pede, grita. Obedeço
a meu desejo. Beijo mas ele não retribui. Depois pega a minha mão e pede
que desça como antes me pedira para subir.
Saio inseguro. Não foi simplesmente teatro. Guardo os vestígios deste
encontro, como daqueles nas filas de cinema, na porta dos teatros, nas ruas,
nas estações de metrô, nas conversas da internet. Espero acontecimentos e
eles não têm me tem faltado. O entre-lugar é também um espaço político de
confronto de imagens de culturas, espaço da frátria, não simplesmente da
fraternidade masculina. O que fazer depois da morte do pai no dia a dia?
O entre-lugar não é só um espaço frágil do intelectual e das produções
periféricas, mas a base de uma política e estética da amizade, de uma ética
particularista da deriva, do desejo e do encontro.
Mas eu não fui educado
para amar um outro homem
(Cláudio Bull)

É tempo de terminar, não concluir. Conto a minha estória estrangeira.


É o que posso fazer. Há momentos de saudades que afloram quando menos
se espera. Conheci Patrice numa sala de espera do aeroporto de Brasília.
Como de hábito, dei uma olhada no lugar em que chego para saber onde me
sentar. Ele estava lendo sozinho. A conversa não foi difícil de começar. Ele ia
para Recife. Eu, para Natal. Dei o nome e telefone da minha pousada.
Ele ligou dias depois. Dividimos o quarto. Saí com ele. Trocamos endereço.
Ele se foi. Ficaram os cabelos louros, o corpo de menino dormindo ao meu
lado. Numa outra cidade, que uma vez foi minha, onde nasci, agora estrangeiro,
passo de ônibus ouvindo Bossa Nova. Sem querer me lembro de você, dele,
de outro. Quero amanhecer ao seu redor. Preciso tanto saber como vai você.
As lágrimas escorriam, quase escorrem de novo. O céu azul de tanta luz.
É a música, a outra cidade que me trazem você, mesmo quando nada me
lembra. Mudo de cidade. Revejo outra também muito amada. Chego com frio
e dia limpo. Neva por toda a manhã seguinte. Começo cedo a andar. A neve
bate nos olhos, nos óculos. Não consigo parar. Quero olhar, rever, pertencer,
possuir. A neve vira lama no asfalto. De tarde ainda caminho. Pessoas, lojas,
ruas. Pessoas. Não distingo, não lembro mais, lembro pouco, o suficiente para
não me perder. Continuei a andar. Lembro os dias misturados. O garoto de
cabelos verdes e unhas sujas no metrô. Não parava de arrepiar ainda mais os
cabelos. Conversas rápidas. Olhares cruzados. De bar em bar. Rever a
rua de restaurantes indianos em que ia comer porque era mais barato.
Comia devorando o presente e o passado. Emocionado com uma simples
sopa ou olhando recados dos estudantes no banheiro. A dona conversa
comigo. Veio de Bombaim ou de algum lugar do Paquistão. Sorriso bonito.
Não me lembro mais. Os traços e paisagens se confundem. Esqueço tanto que
é sempre ver, nunca rever. Só a saudade muda menos. As lágrimas aparecem
quando menos espero. Agora, no ônibus atravessando a cidade à beira-mar. 47
Ipotesi, revista de
estudos literários
Agora, no dia seguinte, quando escrevo. As lágrimas escorrem também na
Juiz de Fora, sala de cinema. Meus olhos cansados de olhar se calam. Imagens difusas
v. 5, n. 1
p. 37 a 48 flutuam perdidas no mar da madrugada. Nada posso fazer a não ser esperar.
Hoje é dia de voltar. Até quando? Até quando. Quero anoitecer.

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