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Introdução:
Contestações Possíveis
Também não vou ocupar muitas linhas nesse ponto. Não creio que seja uma
dificuldade tão grande ao compararmos ontologicamente sobre aquilo que deve se
proceder.
A voz da multidão progressista invade a alma dos universitários da UFRJ e
USP com jargões do tipo: “direito da mulher” e “lugar de fala”. Quero comentar os
dois e relacioná-los com os terríveis casos de abuso sexual.
Na legislação brasileira é previsto que o aborto é legal em caso de estupro
contra a mulher. Uma vez alguém veio debater comigo citando leis inseridas na
constituição. O sujeito era um advogado. O problema com esse tipo de profissionais
é que pensam que ao segurar o grosso livro de direito constitucional estão levando
a bíblia debaixo do braço, ou todos os 3 livros das religiões monoteístas, e ali está a
verdade de todos os mistérios do mundo. Mas o que diabo são essas “leis”? Eles
são a Verdade do nosso Senhor Jesus Cristo, Maomé e Abraão, ou são aquilo que
constitui certas regras para fins específicos de ordem social? Qualquer um
concordaria que é sobre o segundo e não sobre problemas metaéticos do universo
e suas divindades. Se é para um fim de ordem social é porque alguém o constituiu,
ou seja, há algo que é anterior às leis que é a própria noção social de “ordem
moral”. Ou seja, a lei indica aquilo que não se deve fazer em relações
intersubjetivas. Nada mais que isso. Ela não diz se algo é objetivamente moral ou
não. Na Alemanha nazista existiam leis em que alemãs deveriam entregar os judeus
às autoridades do país. Isso era uma lei, mas podemos questionar o propósito ético
dela baseado no nosso entendimento moral, como entes civilizados. Isso quer dizer
que: iniciar um argumento invocando a legislação brasileira é no mínimo
descuidado; isso para ser um pouco respeitoso com o meu interlocutor.
Vamos direto ao assunto. A alegação dos que defendem o direito da mulher
em relação estupro e o aborto é: “em caso de abuso sexual, a mãe pode colocar
uma faca no coração do filho e assassiná-lo”. O motivo é psicossocial. Para que a
mãe não seja obrigada a cuidar de um filho de um estuprador, ela tem o direito de
fuzilá-lo. Na verdade tem procedimento pior que é triturar o pobre indivíduo inocente
como se fosse uma carne moída.
Se a mentalidade social tivesse ao menos um pouco congruente com a
realidade, o entendimento seria: mas o que diabos o bebezinho tem a ver com isso?
Não seria mais lógico matar o estuprador em vez do indivíduo inocente? A resposta,
óbvia dos professores progressistas da USP seria que nenhuma mulher é obrigada
a carregar um trauma tão profundo dentro da barriga. Por outro lado, a fraternidade
e afetividade com o abusador é tamanha que se falarmos em executá-lo ou
proceder a um método bem eficaz de castração química, os arautos da bondade
dirão que isso é de uma crueldade desnecessária e que o estuprador mereceria
uma chance de restabelecer-se na sociedade.
Mas a mulher esclarecida com a realidade (como são muitas) pensaria que:
ao matar alguém inocente estaria aumentando esse trauma em vez de diminuir.
Esse é o motivo do porque a maioria das mulheres que engravidam tendem a não
abortar. Em vez disso, entregam a criança para adoção, ou criam a mesma,
estabelecendo um laço afetivo incompreensível para a mentalidade do homem
moderno.
O pensamento dessas mães é que há uma incompatibilidade moral entre
matar um inocente no objetivo de aliviar um trauma ou não aumentar o trauma. O
dito: “não posso carregar o filho de um estuprador”, para a maioria das mães
abusadas, a solução é, sim, cuidar do filho ou doá-lo, mas nunca matá-lo.
O movimento feminista mais radical usa o termo “lugar de fala”, onde apenas
a mulher pode falar de assuntos relacionados à mulher. Isso é uma analogia
possível, pois se trata de assuntos sobre certos eventos que ocorrem com
mulheres, e a mulher está em uma posição apropriada para falar daquilo, já que
somente elas compreendem umas às outras. Há algo de muito estranho nisso tudo.
O homem não pode falar sobre a mulher abusada devido às condições que ela se
encontra. Como o homem não pode ser abusado, então ele não pode falar dela com
tanta propriedade. Mas se é por fator condicional, como pode a mulher ter a
propriedade de falar em nome das mulheres que estão em uma condição diferente
da dela? Uma mulher que não foi abusada não pode falar de uma que foi, pelo
mesmo critério que elas argumentam que o homem não pode. Então, apenas a
mulher abusada sexualmente pode falar sobre mulheres abusadas sexualmente?
Mas temos um outro problema também. Homens são abusados sexualmente em
prisões. Quem seria mais conveniente a tratar sobre questões de abusos sexuais
em mulheres, mulheres que nunca sofreram o fato citado ou o homem que já
sofreu? Quem é o objeto de assunto para que possa habilitar alguém a ter um lugar
de fala? O violado sexualmente ou a mulher?
Se for a combinação dos dois, temos um outro problema. Qual é o parâmetro
ou a medida a qual o objeto de assunto dá aval ao lugar de fala? Se uma mulher
abusada sexualmente for falar de outra mulher abusada sexualmente, qual foi a
gravidade do abuso? Qual o peso entre um caso e outro? O ocorrido dos dois foi no
mesmo lugar? O estuprador era o mesmo? Quando foi? O quão traumático foi um e
outro para o psicológico de uma e de outra?
O ponto aqui é que “lugar de fala” é um termo reducionista que não faz o
mínimo sentido. Como diria o professor Olavo de Carvalho: é empulhação. Ninguém
sofre a totalidade do sentimento do outro para ser digno de um lugar de fala. Por
isso é tão “sem noção”, pois os critérios são ilusórios e exigiria que uma pessoa
fosse exatamente igual a outra e o incidente fosse idêntico, o que é obviamente
impossível.
A necessidade de alguém falar sobre determinados assuntos é simplesmente
porque eles devem ser resolvidos, e vários entendimentos, ideias e discursos sobre
o mesmo, enriquece o debate na busca de uma verdadeira solução. Isso é o que
chamamos de liberdade de expressão.
Todo o pressuposto metafísico já discutido é a prerrogativa do desequilíbrio
entre matar um inocente para “salvar” sua própria condição psicológica sem a
garantia de que esta mesma será salva.
Tudo ficou claro, e não acho que seja fácil refutar o que foi dito sobre o
problema mal discutido nos dias de hoje e o genocídio silencioso que vem
ocorrendo durante décadas pelo mundo. No fim das contas eu nem acho que é um
genocídio silencioso. A situação está gritando na nossa cara. O problema é que
estamos surdos.
A omissão e a falta de um debate sincero sobre o assunto faz parte da crise
do mundo moderno, de um amor deturpado e abstrato do ser humano
contemporâneo e aquela falsa relatividade sem pé nem cabeça, a qual se apoia
num pensamento volátil e instável de um devir numa sociedade egoísta, hipócrita e
fria. Pelo menos, eu não faço e nem quero fazer parte do homem niilista de
Nietzsche confirmado por Camus e Sartre onde nos reduz ao absurdo. Minha vida
tem muito sentido, pois está baseada numa realidade que estrutura o tempo e
espaço, o próprio Deus que me sustenta, dá cor e forma a uma tela onde a pintura
tende a ser tão abstrata.
Assassinar pessoas inocentes que nem tiveram o direito de ter consciência
de sua história é a mais cruel de todas as realizações malígnas da humanidade e
espero que você esteja comigo nessa.