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FRADE, Isabela.

A pedagogia do artesanato

com o Programa de Desenvolvimento do não está totalmente subjugado pela men-


Artesanato – PNDA, como passível de te, ou melhor, de outra mente, mais li-
“evolução”, especialmente com o apoio gada ao corpo. Na verdade, é um corpo
de maquinário e de estrutura adminis- que fala. Esse é um modelo de aprendi-
trativa, e progressivo desenvolvimento zagem que prepara o corpo para um sa-
em microempresa, considerada tipo ide- ber, um saber que é do próprio corpo. O
al de modelo produtivo para a geração conhecimento que o artesão realiza em
de divisas em áreas críticas.5 seu trabalho traduz uma sabedoria do
É a separação do meio que aliena um corpo que não pode ser reduzida à raci-
(o artista) do outro (o artesão). Em ou- onalização. Ela precisa ser incorpora-
tras culturas, teremos a eleição de um da.
artista que se fortalece a partir do seu Não defendo um único modelo de ar-
meio, o artesanal. Agora, na tecnocivi- tesanato nem de arte. O tocar essa dico-
lização, as artesanias adquiriram esta- tomia como eixo de uma es tratégia
tuto simbólico de alto poder. A própria argumentativa, que trata a arte e o arte-
indústria foi superada. Hoje o artesana- sanato qual dois objetos fechados em si
to é tratado prioritariamente como pro- mesmos, se fez meramente como modo
duto de valor cultural. Sua significação de atingir o cerne de uma questão pri-
para o consumo se baseia num campo mordial na diferenciação entre uma ca-
fortemente afetivo. Baudrillard (2000) tegoria e outra. Campear a fresta ditada
vai dizer que “o artesanato é o animal pela dicotomia presente nos discursos
doméstico preferido”, ao pensar o siste- que os identificam em isolamento. En-
ma dos objetos na sociedade contempo- tre um e outro fenômeno existem múlti-
rânea. As políticas públicas voltam a plos graus de diferença, mas também de
atenção para seu potencial estímulo à afinidade: o artesanato é parte do uni-
indústria do Turismo, setor econômico verso da arte, uma forma de arte.7
de maior crescimento, ou procuram tra- Foco um modelo artesanal específi-
balhar sua preservação como patrimônio co: o processo tradicional da cestaria
nacional. guarani – trabalho que acompanhei em
Mas por que e como a Pedagogia do uma das oficinas da VIII Semana de Cul-
Artesanato se deve exercer? É claro que tura Popular, promovida anualmente
ela importa sobretudo porque fala de pelo Núcleo de Cultura Popular do Ins-
uma forma de ensino-aprendizagem di- tituto de Artes da Uerj.
versa daquela exercida nas academias de No ato de trançar, o gesto é unifor-
Arte:6 fala de uma arte popular, cujo me, repetitivo. É a regência do corpo em
consumo estético é um valor a ser depu- sua precisão e força – fechando ponto
rado, pensado e qualificado como expe- por ponto, trama por trama, aprisionan-
riência humana. do cada talo em um desenho em cadeia,
Ela pode apresentar um modelo de cuja beleza se faz pela regularidade. Seu
ação construtiva em que o corpo ainda princípio é o da presença absoluta desse

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