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B I O F Í S I C A

Os seres vivos

BIOMA
são capazes de gerar
campos magnéticos.
Embora muito fracos,
esses campos já podem
ser detectados por ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

equipamentos sofisticados,
o que abre um novo campo
de pesquisa.
Estudos recentes
Nova interface e
sobre esse fenômeno
– o biomagnetismo –
revelam que a detecção
e a análise dos campos
gerados em órgãos como
cérebro, coração, pulmões,
fígado e outros podem
facilitar o diagnóstico
de doenças e auxiliar
cirurgias e tratamentos,
entre inúmeras outras
aplicações. Para que isso No século 18, o médico vienense Franz Anton Mesmer (1734-1815)
lançou a teoria de que todos os seres vivos seriam
se torne uma realidade,
constituídos por um ‘fluido magnético’, o que per-
porém, algumas mitia que fossem influenciados por campos magné-
dificuldades ainda ticos. Com base nessas idéias, ele acreditou que
precisam ser superadas. poderia ‘curar’ doenças através do contato de partes
do corpo com ímãs e outros objetos imantados, e daí
passou à prática. Não demorou muito para que seus
procedimentos fossem desmascarados como puro
charlatanismo.
O que Mesmer não poderia saber, em sua época,
é que de fato os seres vivos geram campos magnéti-
cos. Hoje, as relações entre o magnetismo e os or-
ganismos – não só o homem, mas também animais
e plantas – compõem um campo de pesquisa pro-
missor, dividido em duas áreas básicas: magneto-
biologia e biomagnetismo.
A primeira trata dos efeitos produzidos por esses
campos nos organismos, o que inclui desde a capa-
cidade de orientação de alguns animais (como as
Dráulio Barros de Araújo aves, em seus vôos migratórios) até os controversos
Antonio Adilton Oliveira Carneiro prejuízos à saúde que decorreriam da exposição a
Eder Rezende Moraes ondas eletromagnéticas (como as geradas por tele-
Oswaldo Baffa fones celulares ou por redes de eletricidade). Já o
Departamento de Física biomagnetismo trata da medição dos campos mag-
e Matemática, néticos gerados por seres vivos, para obter infor-
Universidade de São Paulo mações que ajudem a entender sistemas biofísicos,
a realizar diagnósticos clínicos e a criar novas tera-
pias. Por exigir instrumental altamente sensível,
surgido só nos anos 70, o biomagnetismo é uma área

2244 •• CCIIÊÊNNCCIIAA HHOOJJEE •• vvooll.. 2266 •• nnºº 115533


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G NETISMO
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ntre a física e a biologia

relativamente nova, se comparada a outras áreas


interdisciplinares que envolvem a física.
Os campos magnéticos produzidos pelo corpo
humano e por outros seres são extremamente tê-
nues, situando-se na faixa de nanoteslas (10-9 T) a
femtoteslas (10-15 T). O tesla (T) é a unidade de
medida da indução magnética ou simplesmente
campo magnético, e seu nome homenageia o enge-
nheiro croata, radicado nos Estados Unidos, Nikola
Tesla (1857-1943). Como comparação, o campo
magnético da Terra é da ordem de 20 mil nT (na
região dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro).
Campos magnéticos biológicos têm origem em
correntes elétricas que percorrem algumas células
(como no sistema nervoso e no coração) ou em
materiais magnéticos acumulados em certos órgãos
(como o fígado e o pulmão). Medir tais campos
permite localizar com precisão a região que os
produz e determinar a intensidade da corrente ou a
concentração dos materiais. Essa tarefa é dificulta-
da por sua baixa intensidade e pela presença de
outros campos magnéticos (da Terra e da rede elé-
trica, por exemplo) muito mais intensos – o chama-
do ‘ruído ambiental’ (figura 1).
Nas células nervosas, a corrente elétrica respon- Figura 1. Intensidade e freqüência dos campos
sável pela propagação de um pulso elétrico ao lon- biomagnéticos registrados por magnetocardiografia (MCG),
go do corpo celular é gerada por variações na magnetoencefalografia (MEG), magnetocardiografia fetal (MDGf ),
magnetopneumografia (MPG) e magnetoenterografia (MENG),
permeabilidade da membrana. No coração, a cor-
e dos ruídos magnéticos gerados por diversos aparelhos
rente é produzida pelo mesmo mecanismo, mas de (carros, elevadores, ventiladores etc.), pelo campo magnético
forma sincronizada. Mas vários outros campos mag- 4 terrestre e pela rede elétrica (picos em 60 Hz e 120 Hz)

s e t e m b r o d e 1 9 9 9 • CCIIÊÊNNCCIIAA HHOOJJEE • 2 5
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As áreas de pesquisa nas quais é maior o poten-


Resposta visual evocada cial para futuras aplicações são o neuromagnetismo,
Resposta
neuromagnética o cardiomagnetismo, o gastromagnetismo, o pneumo-
Magneto
Encefalograma magnetismo e a biossusceptibilidade magnética.
Magneto
Resposta No neuromagnetismo, os dados obtidos sobre os
Retinograma
auditiva evocada campos magnéticos cerebrais, com os métodos já
disponíveis, permitem várias aplicações, como na
pesquisa sobre o funcionamento do órgão. Os cam-
pos podem ajudar a ‘mapear’ o processamento (feito
através de impulsos elétricos) das informações no
cérebro. Saber onde e quando certas informações
Contaminantes
são processadas é importante para a neurociência, e
Magneto os dados também podem ajudar a entender certas
Atividade Cardiograma patologias e a formular novas terapias.
muscular O alto custo ainda limita o uso clínico da mag-
Volume
sangüíneo netoencefalografia (MEG) – o registro dos campos
cardíaco magnéticos cerebrais. No entanto, a rapidez na ob-
tenção de dados, a não-invasividade e a excelente
Ferro no fígado Magneto
Gastrograma resolução temporal a tornam uma técnica de gran-
Magneto de potencial. Sua aplicação é crescente na deter-
Ferro no baço
Enterograma minação pré-cirúrgica de áreas afetadas do cérebro,
Tempo no mapeamento de regiões de atividade cerebral e
Magneto
de trânsito Cardiograma na localização de atividade ligada à epilepsia. Vá-
Fetal rios grupos pesquisam métodos mais acessíveis pa-
ra localizar regiões cerebrais através de campos
magnéticos e caracterizar suas anormalidades, em
geral ligadas a doenças.
O estudo das atividades magnéticas cerebrais é
realizado basicamente de duas maneiras: pelo regis-
tro de sinais espontâneos do cérebro (como a onda
Figura 2. néticos já foram medidos em seres humanos (figura alfa) e pelo registro de respostas a estímulos exter-
Principais fontes 2). Tais campos são pesquisados por cerca de 50 nos (campos evocados). Em ambas, o registro preci-
de campos grupos, em todo o mundo, sendo quatro no Brasil: sa ser feito em diversos pontos para que a fonte seja
biomagnéticos localizada. Os estímulos externos, porém, podem
na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janei-
localizados no
corpo humano ro, na Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto), ser alterados de modo controlado, obtendo-se a
na Universidade Estadual Paulista (Botucatu) e na informação de interesse por um processo de média
Universidade Federal do Paraná. dos sinais magnéticos vindos de regiões ativas
(figura 3). Recentemente, esse tipo de
imagem tem sido combinada às ob-
Figura 3. AS POSSÍVEIS tidas por ressonância magnética
O mapeamento APLICAÇÕES nuclear, o que gera as chama-
de fontes das ‘imagens multimodais’.
de campos As pesquisas nessa área têm Dentro das aplicações do
magnéticos
explorado diversos métodos biomagnetismo, o coração é o
evocados no córtex
cerebral permitem, – não-invasivos – de medi- segundo órgão mais impor-
CEDIDA POR RONALD WAKAI (UNIVERSIDADE DE WISCONSIN-MADISON)

de acordo com ção dos campos biomag- tante, em função da grande


sua intensidade néticos, que podem vir a incidência das doenças car-
(o azul mais forte ser usados para diagnósti- díacas e das chances de inter-
indica o máximo
cos mais precisos, auxílio a venção. A magnetocardiogra-
campo negativo,
que entra tratamentos e identificação (pré- fia (MCG) tem o mesmo potencial
na cabeça, cirúrgica) de áreas afetadas em dife- de diagnóstico da eletrocardio-
e o vermelho rentes órgãos do corpo. Outras técnicas grafia (ECG) e acredita-se que po-
mais forte indica já conseguem, em grande parte, esses resul- derá localizar fontes de atividade elétri-
o máximo campo
tados, mas são em geral invasivas. Assim, o bio- ca anormal no coração sem a fixação de disposi-
positivo, que sai),
localizar as áreas magnetismo poderá ser uma alternativa prática, tivos na pele do paciente ou no órgão (ver ‘O sinal
ativadas rápida e segura – e, em alguns casos, menos custosa. magnético do coração’, nesta edição, na página 30).

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A localização dessas fontes de atividade anormal na síntese das hemoglobinas), que precisam de Figura 4.
ainda depende da resolução do chamado ‘problema freqüentes transfusões de sangue. Equipamento
para medir a
inverso’ (encontrar as fontes de campos magnéticos Determinar a concentração dessas partículas é,
susceptibilidade
a partir da medição dos mesmos). O avanço das portanto, indispensável. Várias técnicas conseguem magnética
pesquisas nesse sentido capacitará a MCG a definir isso, mas a grande maioria exige exames invasivos, de grandes
áreas danificadas com grande o que não ocorre com medi- amostras: um campo
precisão, orientando a cirurgia. das biomagnéticas. A con- magnético
(gerado pela
Hoje, isso é feito de modo extre- centração de partículas fer-
corrente de excitação)
mamente invasivo: um cateter romagnéticas nos pulmões é aplicado para
introduzido no coração produz (pneumomagnetismo) é obti- orientar os dipolos
descargas elétricas em vários da medindo-se a magnetiza- magnéticos
pontos do músculo cardíaco, até ção remanente (a que resta da amostra,
o que altera o campo
que a área doente seja localiza- após a aplicação do campo).
magnético original.
da. Quando se tornar operacio- No caso do acúmulo de partí- O campo resultante
nal, a MCG facilitará a locali- culas paramagnéticas em ou- é medido através
zação das áreas afetadas, redu- tros órgãos (como o fígado) da corrente sensora
zirá o trauma e apressará a recu- ou tecidos, mede-se a sus- que ele gera
no SQUID
peração dos pacientes. ceptibilidade magnética (figu-
O biomagnetismo possibilita ra 4). Nessa técnica (biossus-
ainda estudar o batimento car- ceptometria), a medição é fei-
díaco do feto, através da magne- ta durante a aplicação de um
tocardiografia fetal (MCGf). O campo pouco intenso. O cam-
bem-estar do feto está direta- po aplicado é alterado pelo
mente associado à sua atividade magnetismo induzido nas par-
cardíaca, o que torna importan- tículas paramagnéticas pre-
te acompanhá-la durante a gravidez. O batimento sentes no órgão avaliado, e o campo resultante é
cardíaco fetal pode ser registrado por eletrodos proporcional à concentração das partículas.
fixados no abdômen da mãe, por ultra-som e atual- A medida do campo magnético gerado pela ati-
mente por biogradiômetros (dispositivos que detec- vidade elétrica do estômago é chamado de magneto-
tam de modo seletivo os campos magnéticos a que gastrografia. Essa técnica tem sido desenvolvida pa- Figura 5.
são expostos). ra avaliar a freqüência dessa atividade, sua veloci- Sinal de
contração
Em geral, os sinais obtidos por eletrodos sofrem dade de propagação e seu comportamento sob dife-
do estômago,
muita interferência do coração da mãe, em especial rentes condições alimentares (e no caso de ingestão medido através
no fim da gestação, quando a pele do feto é envolvi- de drogas). As contrações do estômago também po- da técnica
da por uma camada de cera, a ‘vernix caseosa’, que dem ser estudadas através da susceptibilidade mag- susceptométrica,
atua como isolante elétrico. O ultra-som tem boa nética e da magnetização remanente. Aproximando- mostrando
a freqüência
relação sinal-ruído, mas não fornece a taxa de bati- se um biossusceptômetro do órgão, as ondas de con-
típica de
mento cardíaco instantânea, nem a forma da onda tração são registradas em um gráfico (figura 5). Tais contração
de atividade elétrica do coração. Já a magneto- ondas provocam a mistura do alimento com o suco de três ciclos
cardiografia fetal obtém boa relação sinal-ruído du- gástrico e a empurra em direção ao intestino. 4 por minuto
rante toda a gestação e ótima definição da forma de
onda, o que a torna excelente para acompanhar a
atividade cardíaca de fetos. 30

20 ~1
~ min

CONTROLE DO ACÚMULO
DE FERRO 10
Amplitude (mV)

Órgãos que armazenam partículas magnéticas, como 0

os pulmões e o fígado, são também objeto de estudos


-1 0
biomagnéticos. Em geral, pessoas expostas a am-
bientes insalubres por muito tempo acumulam par-
-20
tículas ferromagnéticas nos pulmões, o que pode
afetar a respiração. No fígado, o depósito de partí-
-30
culas paramagnéticas (na proteína ferritina) ocorre, 0 1 00 200 300 400
Tempo (s)
por exemplo, em pessoas com talassemia (distúrbio

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Figura 6. magnéticos. Pouco depois, em 1831,


Sistema outro físico, o inglês Michael Faraday
para medição
(1791-1867), percebeu que a diferença
de campo
magnético de potencial (voltagem) surgida entre
remanente com os terminais de uma bobina, ao ser
magnetômetros carregada, é igual à variação do fluxo
fluxgates: um par magnético que a atravessa (o fluxo é o
de bobinas aplica
conjunto das linhas de indução de um
um pulso de
campo magnético campo magnético). Essa relação – a
na amostra, Lei de Faraday – diz que a voltagem é
através igual à variação do fluxo magnético no
da descarga tempo (V = dF / dt), o que permite de-
de um banco
terminar a variação do campo magné-
de capacitores,
e a magnetização tico em uma bobina medindo a volta-
remanente gem entre seus terminais. O primeiro
é medida por dois detector de campos biomagnéticos foi
gradiômetros construído com base nesse princípio.
que utilizam
O fluxo está vinculado à área da
magnetômetros
fluxgates bobina que o produz e à intensidade do
O mesmo processo pode ser estudado medindo- campo: aumentando a área da bobina e o campo,
se, com magnetômetros (figura 6), o decaimento da cresce o número de linhas do fluxo. Essa variação
magnetização remanente. Um alimento-teste, con- pode ser produzida, de modo engenhoso, pela mo-
tendo magnetita, é ingerido e magnetizado em uma dulação da permeabilidade magnética de um mate-
Figura 7. certa direção por bobinas, mas a magnetização in- rial ferromagnético. Em termos simplificados, a
Medida de duzida perde intensidade com o tempo (figura 7). permeabilidade é a capacidade do material de ‘ab-
campo Esse decaimento está ligado ao movimento que o sorver’ um campo magnético quando exposto a
magnético estômago impõe sobre o bolo alimentar em seu ele. Quanto mais alta a permeabilidade, mais o
remanente de
interior. Tais estudos são uma alternativa a certos campo magnético é ‘drenado’ para dentro do mate-
partículas
magnetizadas métodos invasivos atuais, que usam sondas, tubos rial (figura 8).
dentro do ou radiação ionizante (como em alimentos-teste Se o material em estudo for inserido no eixo de
estômago de um com bário e com radiofármacos). uma bobina, uma variação de fluxo vai ocorrer,
voluntário, associada à ‘absorção’ ou não do campo (modulado
observando-se
pela alteração da corrente e, portanto, do campo). A
tanto o
decaimento da A HISTÓRIA DOS DETECTORES variação de voltagem equivalente será registrada
magnetização por um voltímetro ligado aos terminais da bobina.
remanente (em O primeiro detector de campo magnético foi com Esse dispositivo permite medir campos estáticos ou
azul) quanto as certeza a bússola, utilizada por navegadores desde de baixa freqüência com grande sensibilidade, já
ondas de
o século 12. Mas só em 1820 o físico dinamarquês que o campo magnético em estudo pode ser
contração do
órgão (em Hans Oersted (1777-1851) descobriu, utilizando ‘chaveado’ (ligado-desligado ou alterado) com uma
vermelho) uma bússola, a ligação entre fenômenos elétricos e freqüência bem maior que aquela do sinal que se
quer medir (a freqüência é o número de ciclos por
segundo da onda). Esse dispositivo é chamado
500
magnetômetro de fluxo saturado ou fluxgate. O no-
me em inglês parece refletir melhor o que acontece:
400
é como se um portão (gate) abrisse e fechasse à
passagem do fluxo magnético, provocando a varia-
Magnetização (nT)

300
~1
~ min ção de fluxo magnético.
Como nos bons filmes, o melhor vem no fim. Os
200 dispositivos supercondutores de interferência quân-
tica, ou SQUIDs (de superconducting quantum in-
1 00 terference devices) são hoje os detectores de fluxo
magnético mais sensíveis (figura 9). Como o nome
0 indica, seu funcionamento baseia-se em um fenô-
meno quântico: o efeito Josephson (ver ‘O tunela-
0 50 1 00 1 50 200 250 300
Tempo (s) mento de elétrons’). Eles podem medir campos da
ordem de fT (10-15 T) e têm ampla aplicação na

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SQUIDC-DC Is
Ip

Is
B1

Is
B2

física, desde pesquisas com ondas gravitacionais percondutores cerâmicos (ligas de ítrio, bário, co- Figura 8.
até a construção de voltímetros altamente sensíveis. bre e oxigênio), com temperatura de transição mais Variação do fluxo
A elevada sensibilidade dos SQUIDs tem alto pre- alta. A supercondutividade, nesses materiais, ocor- de campo
re em torno de 35 K (-238oC). Poucos anos depois, magnético
ço. Os utilizados hoje na área de biomagnetismo são em função da
à base de nióbio (metal com extensas reservas no foram descobertos materiais supercondutores a cer-
permeabilidade:
Brasil) com titânio. Tais materiais só adquirem su- ca de 95 K (-178oC), o que já permite usar nitrogênio se esta é alta
percondutividade em temperaturas muito baixas, líquido (mais barato) para o resfriamento. A busca (m ¹ 0), as linhas
por isso têm que ser resfriados através da imersão em de supercondutores com temperaturas de transição de fluxo são
mais altas continua, visando reduzir o custo da fa- ‘atraídas’
hélio líquido. O hélio líquido, porém, além do alto para dentro
custo de produção, precisa passar, para preservar es- bricação de SQUIDs.
do material,
se gás raro, por uma reciclagem também dispendiosa. Todos esses novos dispositivos permitem uma e se é baixa
A esperança de redução de custos nessa área série de aplicações não-invasivas promissoras, tan- (m » 0),
aumentou com a descoberta, nos anos 80, de su- to na identificação de estruturas quanto no planeja- não há atração
mento de terapias, envolvendo regiões muito deli-
cadas e pouco compreendidas do corpo humano.
Em conjunto com outros métodos também recentes,
O TUNELAMENTO DE ELÉTRONS como a imagem funcional por ressonância magné-
Figura 9.
tica (que permite visualizar órgãos durante seu
Esquema de um
Em uma corrente elétrica que percorre um con- funcionamento), as técnicas biomagnéticas tornam- SQUID, com um anel
dutor separado de outro por uma fina camada se cada vez mais importantes e eficazes. supercondutor
de material isolante, os elétrons podem, em (em azul)
condições especiais, atravessar essa barreira. apresentando duas
barreiras, as junções
O fenômeno, explicado pela mecânica quânti- COMO ISOLAR Josephson (setas),
ca, é chamado de tunelamento. Isso também O RUÍDO AMBIENTAL e com um sensor
ocorre em materiais supercondutores (que não biogradiômetro
oferecem resistência à passagem de uma cor- Quando se consegue construir um dispositivo para (a bobina maior,
rente elétrica), mas nesse caso os elétrons es- medir campos magnéticos tão pouco intensos, sur- à direita). A bobina
menor (ao centro)
tão unidos em pares (os ‘pares de Cooper’). ge um sério problema: o ruído magnético ambiental
transfere o fluxo entre
O tunelamento dos pares de Cooper, em é, em alguns casos, dezenas de milhões de vezes o sensor e o SQUID, e
supercondutores, é o efeito Josephson. Sua mais intenso que os campos que se pretende detec- os fluxos magnéticos
descoberta, em 1962, deu ao inglês Brian Jo- tar. Como superar esse problema? A solução mais produzidos pelos
sephson o Nobel de Física em 1973 (junto com simplista é a construção de uma câmara magnetica- campos B1 e B2
são detectados
outros pesquisadores). Nesse tunelamento, o mente blindada. Elas, de fato, existem, e são inevi-
cada um por uma
supercondutor separado por uma barreira iso- táveis em certos casos, mas têm como grande in- espira (os dois ‘aros’
lante (chamada de junção Josephson) mantém conveniente o custo elevado. do gradiômetro,
suas propriedades, mas a corrente supercon- Outra solução engenhosa são os gradiômetros, nos quais a corrente
dutora é alterada na presença de um campo dispositivos capazes de detectar as linhas de cam- tem sentidos
opostos). A corrente
magnético – os SQUIDs registram tal alteração pos magnéticos que atravessam o interior de suas bo-
resultante equivale
e isso permite determinar o fluxo magnético. binas. Dependendo de sua construção, os gradiô- à subtração
metros podem registrar de forma seletiva esses cam- 4 dos dois fluxos

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Figura 10.

O sinal
O gradiômetro
de ordem zero (A),
com apenas uma
espira, detecta
todas as linhas
de campo
magnético que
o atravessam,
enquanto
gradiômetros
de primeira (B)
ou segunda (C ) As pesquisas sobre os campos
ordem, com mais magnéticos gerados pelo
espiras, podem A B C
cancelar de modo coração podem ajudar
seletivo certos a diagnosticar doenças
tipos de campo pos (figura 10) e conter apenas um detector (monocanal) ou
magnético vários (multicanal). Já existem biogradiômetros (gra- e a entender melhor como
– quanto mais diômetros conectados a SQUIDs) com 122 canais, capazes o órgão funciona. Esses campos,
complexo o ruído
ambiental, de cobrir toda a cabeça e realizar uma imagem instantânea no entanto, estão misturados
maior a ordem dos campos magnéticos produzidos pela atividade cerebral.
a muitos outros, milhões
do gradiômetro
usado para seu de vezes mais intensos,
cancelamento FALTA RESOLVER O PROBLEMA INVERSO como o da Terra. Por isso,
para medir e estudar o sinal
A atividade elétrica presente em uma área limitada do cé-
magnético do coração
rebro pode ser vista como um segmento isolado de corren-
te. Essa corrente é a produzida pelos potenciais elétricos é preciso antes isolá-lo,
gerados nas sinapses dos neurônios. É possível calcular o o que já é conseguido,
campo magnético gerado por um dado segmento através da de modo engenhoso,
Sugestões lei de Biot-Savart, segundo a qual o campo é diretamente
por técnicas sofisticadas.
para leitura proporcional à intensidade da corrente. Esse é o chamado
problema direto (a partir da fonte, determinar o campo).
ANDRÄ, W. & NOWAK,
H. (Eds.). Logo, localizar uma região cerebral que está sendo ativada
Magnetism in é semelhante a achar um fio que gera um campo magnéti-
medicine:
a handbook,
co. Para isso, é preciso medir o campo magnético (ou um de
Wiley-VCH, 1998. seus componentes) e resolver o chamado problema inver-
HÄMÄLÄINEN, so (a partir do campo, determinar a fonte).
M. e outros.
‘Magnetoence- Mas por que usar medidas magnéticas e não elétricas?
phalography A resposta está em uma grande vantagem das primeiras: o
– Theory,
instrumentation,
tecido biológico não afeta os campos magnéticos, enquan-
and applications to os campos elétricos ou potenciais medidos na pele so-
to noninvasive frem interferências de diferenças de condutividade elétri-
studies of the
working human ca nos tecidos. Infelizmente, ainda não é possível determi-
brain’, in Review nar de modo preciso as fontes de corrente através da medi-
of Modern Physics,
v. 65, p. 413 (1993). ção dos campos magnéticos que elas produzem (o proble-
ROMANI, G.L., ma inverso) – um mesmo campo pode ser o resultado de
WILLIAMSON, S.J.
várias distribuições de corrente.
& KAUFMAN, L.
‘Biomagnetic A resolução do problema inverso exige a simulação teó-
instrumentation’, rica das fontes que geram os campos, através de um mode-
in Review of
Scientific lo computacional ao qual são agregadas informações ana-
Instruments, v. 53, tômicas e comparações com medidas experimentais diretas
p. 1.815 (1982).
LOUNASMAA, O. &
desses campos. A cada ano modelos mais realistas são de-
HARI, R. ‘Le senvolvidos. O aumento da precisão dessas simulações
magnétisme du possibilitará determinar, sem interferências nem exames Paulo Costa Ribeiro
cerveau’, in La
Recherche nº 223, invasivos, áreas eletricamente ativas ou que acumularam Departamento de Física,
p. 874 (julho- partículas magnéticas, abrindo uma nova era para os diag- Pontifícia Universidade
agosto de 1990).
nósticos clínicos e para inúmeras outras aplicações. n Católica do Rio de Janeiro

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magnético do coração
Figura 1. O eletrocardiógrafo original
de Einthoven incluía três tinas,
que continham uma solução
condutora, para estabelecer
o contato elétrico com os dois pulsos
e uma das pernas do paciente

campo gerado é um milhão de


vezes menor que o da Terra. Como
identificar um sinal tão fraco? O
problema não está só na sensibi-
lidade do sensor, mas na necessi-
dade de fazer a medição na pre-
sença de outro sinal (o do campo
magnético terrestre), muito mais
forte.

VENDO ESTRELAS
AO MEIO-DIA

Para dar uma idéia dessa dificul-


dade, basta comparar essa detec-
O magnetismo, embora já tenha sido muito estudado, ainda é uma pro- ção com a de outro tipo de sinal – o da luz. Para
missora área de pesquisa, em especial no caso de cam- fotografar as estrelas é preciso usar um filme muito
pos magnéticos extremamente fracos. Esses campos mais sensível do que o normalmente usado para
só puderam ser estudados após a construção de apa- fotografar à luz do dia. Isso porque a intensidade da
relhos – os SQUIDs – capazes de detectar sinais mag- luz que vem das estrelas (e incide no filme dentro da
néticos até 10 bilhões de vezes menores que o do câmera) também é cerca de um milhão de vezes
campo da Terra, que orienta a agulha das bússolas. menor do que a proveniente do céu claro durante o
Tais aparelhos baseiam-se na supercondutividade dia. O olho humano é sensível o bastante para
– a ausência de resistência à passagem de correntes observar as estrelas à noite, mas é incapaz de vê-las
elétricas, propriedade exibida por alguns materiais de dia, pois em condições de grande luminosidade
quando resfriados a temperaturas muito baixas. Os ele não detecta pequenas variações de intensidade
SQUIDs permitiram medir e estudar campos magné- de luz um milhão de vezes menores.
ticos tão fracos que nunca tinham sido detectados, Ao contrário do que ocorre com a luz do Sol, o
como aqueles gerados por correntes elétricas muito campo magnético terrestre está sempre presente. Só
fracas presentes no corpo humano. pode ser excluído se for usada uma blindagem
As correntes elétricas do corpo já eram conheci- magnética, que exige uma liga especial de ferro,
das há muito tempo. O primeiro eletrocardiógrafo, extremamente cara e pouco prática. Por isso, só em
capaz de detectar as correntes produzidas pela ati- 1963 Gerhard Baule e Richard McFee, da Universi-
vidade elétrica do coração (figura 1), foi construído dade de Siracusa (Nova York, Estados Unidos),
em 1903 pelo fisiologista alemão Willem Einthoven detectaram o primeiro sinal magnético cardíaco,
(1860-1927). Essa atividade está diretamente ligada usando um complexo sistema de bobinas capaz de
ao comportamento muscular do coração e seu regis- anular o campo magnético terrestre.
tro é hoje importante para os diagnósticos cardíacos. Detectar o sinal magnético do coração, sem anu-
Se o corpo tem correntes elétricas, elas geram lar o campo terrestre, equivale a ver estrelas ao
campos magnéticos. Isso ocorre no coração, mas o meio-dia. Como conseguir isso? A maneira encon- 4

s e t e m b r o d e 1 9 9 9 • C I Ê N C IIAA HHOOJJEE • 3 1
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Figura 2. A B C
O efeito
estereoscópico,
na visão,
permite explicar
a discriminação
espacial usada, na
magnetocardiografia,
para separar o sinal
magnético do coração As imagens de peças de um jogo de xadrez (próximas e distantes) recebidas pelo olho esquerdo (A)
(próximo) do ruído e pelo direito (B) são superpostas para compor a imagem final (C ). Nesta, as imagens das peças distantes
magnético ambiental se confundem e as das peças próximas ficam ligeiramente deslocadas (o que dá ao cérebro a noção da distância)
(de fontes distantes)
B D E

Superpondo-se a imagem normal recebida no olho direito (B) e o negativo da imagem recebida no esquerdo (D),
é possível ‘subtrair’ essas imagens, obtendo a diferença entre uma e outra (E). Aplicando-se um processo análogo
aos sinais magnéticos captados, é possível ‘separar’ e reconhecer o sinal específico do coração

trada baseou-se em uma diferença essencial entre garmos (subtrairmos) tudo o que está superposto,
os sinais: enquanto as fontes dos campos magnéti- restarão apenas as partes deslocadas das imagens.
cos da Terra e de outros campos urbanos (como os Foi esse método de subtração dos sinais vindos de
de carros, 10 mil vezes maiores que o cardíaco) dois sítios separados no espaço que permitiu obter
ficam longe do detector, este pode ser colocado bem a ‘discriminação espacial’ entre o sinal magnético
perto do coração. Se fosse possível uma ‘discrimi- próximo, do coração, e os demais sinais espúrios
nação espacial’, distinguindo a fonte próxima da afastados, sem blindagem magnética.
afastada, o sinal do coração seria detectado sem
blindagem magnética.
Na natureza, a informação sobre a distância da UM DISPOSITIVO ENGENHOSO
Figura 3.
fonte (de luz ou de som) é obtida pelo uso de dois
Representação detectores idênticos. A visão e a audição utilizam Para diferenciar, e assim detectar, o sinal do cora-
das correntes dois sistemas de detecção espacialmente distancia- ção usa-se um sistema com duas bobinas sensoras
primárias dos: os dois olhos e os dois ouvidos. Na visão, um enroladas em oposição. Os campos magnéticos, que
(que aparecem mesmo objeto dá origem a duas imagens, uma em variam no tempo, geram na primeira bobina uma
no coração)
e das secundárias
cada olho. Objetos próximos geram imagens dife- corrente com sentido oposto ao gerado na segunda.
(geradas rentes nas retinas, enquanto os longínquos produ- Se a fonte de um campo está distante, a amplitude de
no resto do corpo) zem imagens idênticas. É o efeito estereoscópico variação do campo com o tempo é idêntica nas duas
que produz a visão tridi- bobinas e as correntes induzidas anulam-se. Se a
mensional (figura 2). fonte está próxima, a variação do campo com o
Esse efeito depende da tempo é maior na bobina mais próxima da fonte.
superposição das duas Com isso, as correntes induzidas não se anulam.
imagens. As geradas por Há uma corrente resultante que pode ser detectada
objetos distantes, por se- pelo SQUID.
rem idênticas, confun- As bobinas sensoras são feitas, como o SQUID,
dem-se ao serem super- de um material supercondutor, e precisam ser man-
postas. Já as de objetos tidas a uma temperatura muito baixa. O conjunto
próximos, ligeiramente (bobinas e SQUID) fica, por isso, dentro de um
diferentes, ficam deslo- recipiente térmico (vaso Dewar) com hélio líquido,
cadas uma da outra. Se que mantém os dois componentes à temperatura de
tomarmos uma imagem cerca de -270ºC. Assim como o complexo aparelho
final (com imagens su- original de Einthoven evoluiu até o atual eletrocar-
perpostas de objetos dis- diógrafo, é possível prever que o sofisticado mag-
tantes e próximos) e apa- netocardiógrafo (detector do sinal magnético car-

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B I O F Í S I C A

díaco) evoluirá para um sistema mais simples. Mas


essa evolução só ocorrerá se houver interesse, ou MCGf
seja, se o magnetocardiograma puder fornecer infor-
mações que não aparecem no eletrocardiograma.
Quais as chances de isso acontecer?
Como o corpo humano é condutor de eletrici-
dade, as correntes (primárias) que ocorrem no mús-
culo cardíaco geram correntes secundárias em ou-
tros tecidos (figura 3). O que o eletrocardiograma
detecta, por eletrodos fixados na pele, são as corren-
ECGf
tes secundárias, mas é óbvio que seria mais impor-
tante medir e conhecer as primárias, diretamente
ligadas à atividade muscular do coração. Portanto, tifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Figura 4.
a magnetocardiografia seria capaz de acompanhar, (PUC-Rio). Os pesquisadores, chefiados por Cân- Magnetocardiograma
mais fielmente que a eletrocardiografia, o que se dido de Pinto Melo, buscaram durante cinco anos, e eletrocardiograma
de um feto:
passa no coração, pois existem evidências de que o em conjunto com a equipe do Serviço de Informáti- no primeiro
sinal magnético é produzido sobretudo pelas cor- ca Médica do Incor, aprimorar o uso clínico da téc- só aparece o sinal
rentes primárias e pouco influenciado pelas se- nica, mas o projeto foi interrompido por falta de fi- do feto, e no outro
cundárias. nanciamento. também estão
Isso fica claro se compararmos o eletrocardio- Enquanto sua importância para a medicina con- presentes os sinais
da atividade elétrica
grama e o magnetocardiograma de um feto (figura tinua a ser avaliada, a medida do sinal magnéti- do coração da mãe
4). O primeiro, obtido por eletrodos colocados so- co produzido pela atividade elétrica do coração já (picos mais altos)
bre o ventre da mãe, mostra, além do sinal elétrico pode ser considerada um trunfo importante em
do coração do feto, outro (de maior amplitude) pesquisa fundamental. O método científico carac-
vindo da atividade do coração da mãe, a quase meio teriza-se por uma interação constante entre o mo-
metro de distância dos eletrodos. Já no magne- delo que traduz a nossa percepção da natureza e
tocardiograma só aparece o sinal magnético do co- a própria natureza. Toda vez que se desenvolve um
ração do feto: o gerado pelas correntes secundárias novo instrumento de medida, mais sensível que os
produzidas pelo coração da mãe não é detectado. anteriores, é possível prever novas mudanças nos
Outros aspectos tornam a magnetocardiografia modelos e teorias sobre os fenômenos da natureza.
uma técnica interessante do ponto de vista clínico. No caso da magnetocardiografia, as teorias envolvi-
Na eletrocardiografia, limitações técnicas impe- das não se limitam às da eletrofisiologia cardíaca.
dem a medição de correntes que variam no tempo. Grandes avanços foram obtidos pelo grupo do
Isso dificulta a detecção de um tipo de corrente autor na técnica de discriminação espacial dos si-
constante denominado cor- nais magnéticos e no estudo
rente de lesão, que aparece de arritmias cardíacas. Uma
nos processos de sofrimento A medida pioneira obtida por
cardíaco, em isquemias e in- esse grupo foi a localização
fartos. A magnetocardiogra- precisa, por magnetocardio-
fia, porém, pode registrar es- grafia, da trajetória circular de
sa corrente, já que o SQUID correntes elétricas nos átrios,
é capaz de detectar correntes chamadas correntes de reen-
contínuas. trada (figura 5). Tais correntes
Os indícios são muito ani- perturbam o ritmo de contra-
madores, quanto ao futuro da ção dos átrios – câmaras que
B
magnetocardiografia. Mas formam (com os ventrículos)
uma resposta definitiva so- o coração. Esse distúrbio é
bre seu interesse clínico só conhecido como flutter atrial.
virá após estudos sistemáti- A pesquisa permitiu identi-
cos, como o realizado, por ficar de forma clara essa arrit-
tempo limitado, no Instituto mia cardíaca, e o próximo pas-
do Coração (Incor), da Uni- so é tentar, usando um cateter
versidade de São Paulo, com de radiofreqüência, cauterizar
um protótipo de magnetocar- o tecido cardíaco e interrom-
Figura 5. Eletrocardiograma (A)
diógrafo construído no De- e magnetocardiograma (B) de um coelho per a trajetória anômala das
partamento de Física da Pon- com flutter atrial correntes. n

setembro de 1999 • CIÊNCIA HOJE • 33

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