Resenha do texto: Setor Terciário no Brasil: análise do emprego e da desigualdade
dos rendimentos do trabalho — 1992-01
Ao meu ver, para tratarmos desse assunto primeiramente faz-se
necessário definir o que é o setor Primário, o setor Secundário e o setor Terciário. Setor Primário é a prática econômica que integra a agropecuária e o extrativismo. Já a o setor Secundário é composto pelas indústrias e o setor Terciário fica responsável por todas as atividades do comércio, bem como de todas as atividades de prestação de serviços. Os autores percebem que apesar das reformas estruturais nos anos 90 introduzidas no Brasil e nos demais países da América Latina como: abertura comercial, liberalização financeira, privatizações e até alterações na legislação trabalhista com a intenção de dinamizar o crescimento econômico, proporcionar mais empregos e melhorar a distribuição de renda, o que ocorreu na verdade foi o aumento da taxa de desemprego, proporcionando um aumento de postos de trabalho no setor terciário predominando a informalidade. Dessa forma, faz-se objeto de análise para os autores, a distribuição das pessoas ocupadas no Setor Terciário, tendo em conta a posição na ocupação e a evolução da desigualdade dos rendimentos do trabalho, bem como a problematização das transformações na estrutura setorial do emprego, confrontando diversas interpretações; priorizando o passado do Brasil recente e procurando apreender se a inserção ocupacional no setor Terciário conduz à inclusão social; e, finalmente tratam da evolução da desigualdade dos rendimentos do trabalho, entre 1995 e 2001, nos subsetores do Terciário. O intenso crescimento relativo do Setor Terciário na estrutura de emprego é um fenômeno mundial. A análise do caso brasileiro, que o texto empreende para o período 1992-01, mostra: (a) que esse crescimento foi contrapartida do encolhimento dos Setores Primário e Secundário; (b) que os segmentos do Terciário que mais absorvem ocupados permanecem os mesmos; e (c) que a já elevada informalização se acentuou — portanto, a inserção ocupacional não trouxe inclusão nos direitos sociais do trabalho. O texto mostra também que, em alguns subsetores do Terciário, ocorreu uma redução na desigualdade dos rendimentos do trabalho em consequência de um achatamento mais acentuado das melhores remunerações. A desconcentração não resultou, portanto, de uma elevação significativa dos rendimentos das pessoas situadas nos estratos de menores remunerações.
A consolidação do conjunto de reformas de cunho liberalizante, associada
ao êxito de um programa de estabilização econômica e, em vários momentos, à valorização cambial, marcou o Brasil na década de 90. Essas transformações acarretaram um profundo ajuste produtivo na indústria de transformação, implementado em um contexto de ausência de crescimento autossustentado, o que se refletiu diretamente sobre o emprego do subsetor, que, na década de 80, já vinha perdendo parte de sua importância. Nos últimos anos, os postos de trabalho nesse integrante do Secundário não conseguiram superar a casa dos 11%, evoluindo muito mais lentamente que o total. Mesmo nos curtos períodos de retomada do crescimento econômico, não houve recuperação dos níveis relativos anteriores, pois a produção não acompanhou o ritmo de aumento da produtividade industrial. Nesse cenário, o peso do Setor Terciário na estrutura de emprego ampliou- -se, para atingir perto de 60% do total em 2001, graças à incorporação de 11,4 milhões de ocupados, um crescimento de mais de 34% desde 1992. Com o ajuste produtivo em curso, esperava-se firme expansão dos serviços vinculados à indústria, assim multiplicando postos de trabalho que exigem certa qualificação e são mais bem remunerados. Expandiram-se esses segmentos, efetivamente, porém não a ponto de ameaçar a posição dos principais absorvedores de mão- -de-obra — na verdade, durante esses anos, a estrutura intra-setorial de emprego manteve-se praticamente a mesma, constatando-se apenas alterações de pouca relevância. Dessa forma, comércio e serviços pessoais e domiciliares (12,2% e 11,2% do emprego em 1992 respectivamente) seguem como os segmentos mais importantes (14,3% e 12,8% em 2001), tendo sido responsáveis, em conjunto, por mais de 5,2 milhões de novos postos de trabalho nos nove anos considerados. Embora o comércio tenha como característica maior grau de heterogeneidade, o que prevalece em ambos é a ocupação pouco qualificada e de baixa remuneração e a informalização, acarretando um tipo de inserção ocupacional que não significa a automática inclusão nos direitos sociais do trabalho. No Brasil, como já analisado anteriormente, o Índice de Gini atinge valores acima de 0,5, o que o torna um país com um grau de extrema perversidade distributiva. Nesse contexto, como evoluiu a desigualdade dos rendimentos do trabalho entre as pessoas dos diversos subsetores do Terciário? Os diversos índices de desigualdade dos rendimentos utilizados apontam uma redução, de 1995 para 2001, da desigualdade nos subsetores serviços sociais e serviços pessoais e uma elevação nas instituições de crédito e de Setor Terciário no Brasil: análise do emprego e da desigualdade...administração de imóveis. Para os serviços de produção, o Índice de Gini, o Índice de Theil-L e a parcela apropriada de renda registram praticamente o mesmo grau de desigualdade, enquanto o Índice de Theil-T aponta uma elevação. O Índice de Gini e a parcela apropriada da renda calculados para os serviços de distribuição e comunicações apontaram praticamente uma estabilidade do diferencial de rendimentos, mas os demais índices revelaram uma pequena redução nessa desigualdade. Nos serviços sociais e nos serviços pessoais, a desconcentração dos rendimentos do trabalho é explicada pela redução mais intensa dos melhores rendimentos, enquanto, nas instituições de crédito e de administração de imóveis, a concentração origina-se da menor perda nesse estrato. Assim, a redução das desigualdades dos rendimentos do trabalho em alguns subsetores do Terciário é proveniente de um achatamento mais acentuado dos melhores salários. A desconcentração não resultou de uma elevação significativa dos rendimentos das pessoas situadas nos estratos de menores remunerações. a área da economia que integra as atividades do comércio e da prestação de serviços. Esse segmento está relacionado com a perspectiva que divide as práticas econômicas em três grandes áreas, das quais o setor primário é composto pela agropecuária e extrativismo, e o secundário é formado pela atuação das indústrias. Em algumas perspectivas, costuma-se dividir o setor terciário, considerando-o apenas com o comércio e categorizando os serviços em um suposto setor quaternário da economia. No entanto, essa divisão não é aceita e nem empregada pelos órgãos nacionais e internacionais de estudos econômicos, a exemplo do IBGE e do Ipea. O setor de serviços, no entanto, é muito amplo, pois envolve todos os bens “imateriais”, ou seja, tudo aquilo que é oferecido ao consumidor na forma de atividades, como consertos mecânicos e domésticos, auxílios para aparelhos e tecnologias, atividades educacionais, auxílio jurídico, telemarketing, lazer, turismo, segurança, transporte, entretenimento, entre outras. Alguns exemplos de trabalhos no Setor Terciário são: professores, advogados, mecânicos, garçons, guias turísticos, atendentes comerciais, porteiros, seguranças particulares, vendedores, administradores, programadores, web designers, entre inúmeros outros. Todos esses profissionais exercem sua força de trabalho não para oferecer um produto material, mas por um serviço considerado útil ao consumidor. O setor do comércio também acaba por incluir uma grande quantidade de trabalhadores informalizados, ou seja, que não são burocraticamente registrados e que não contribuem com impostos. Esse tipo de ocorrência é bastante comum em países subdesenvolvidos e emergentes, como o Brasil, e ilustra a categoria dos camelôs, dos vendedores ambulantes, entre outros. Atualmente, está em curso no Brasil e também em todo o mundo o processo de terciarização da economia, que nada mais é do que o crescimento da oferta proporcional de empregos no setor terciário em relação aos demais setores da economia. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 80% dos empregos encontram-se nos serviços e no comércio, com índices semelhantes nos países do bloco europeu. No caso da economia brasileira, é possível notar essa evolução: na década de 1950, cerca de 26% dos trabalhadores eram desse setor, número que se elevou para 39% na década de 1970 e para mais de 60% nos últimos anos, muito embora a sua participação no PIB tenha se mantido em torno dos 50%. O processo de terciarização da economia deve-se a alguns fatores principais, tais como: a) inclusão da mulher no mercado de trabalho, elevando a demanda de escolas, creches, asilos, serviços de enfermagem, entre outros; b) especialização das empresas, que destinam ações de limpeza, segurança e demais trabalhos para outras companhias; c) aumento dos incrementos tecnológicos na sociedade, o que eleva a demanda por serviços relacionados com os meios eletrônicos; d) elevação no número de empregos oferecidos nas áreas de recursos humanos, gerência, supervisão, administração e afins; e) aumento da substituição do homem pela máquina nos setores primário e secundário. Salvo algumas exceções, a tendência atual do sistema capitalista globalizado é a concentração de mão de obra no setor terciário nos países desenvolvidos, um avanço dessa característica nos países emergentes e um menor desempenho em países subdesenvolvidos, que são predominantemente agrários.