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Revista Autismo - Turma Da Mônica PDF
Revista Autismo - Turma Da Mônica PDF
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ISSN 2596 - 0539
053005
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matraquinha pág.16
introvertendo pág.20
sociedade brasileira
de pediatria pág .29
tudo o que podemos ser pág.33
trabalho no espectro
autismo severo
pág.37
pág.43
AUTISTAS NO
liga dos autistas pág.47
UNIVERSO DA
TURMA DA
SESSÕES
MÔNICA
reportagem de capa pág.10
andré e a turma da mônica pág. 07
o que é autismo? pág.08
crítica cultiral pág.21
aconTEAcimentos pág.38
comunidade na causa pág.46
espectro artista pág.50
MARIE FERNANDA
DORION QUEIROZ
relações públicas estudante
MAURÍCIO JOANA
DE SOUZA PORTOLESE
desenhista neuropsicóloga
BIA
RAPOSO
artista
WAGNER JOÃO G. FÁTIMA DE CRISTIANA
YAMUTO MOURA KWANT P. DE BRITO
jornalista ativista
empreendedor psicólogo
ALYSSON
Nossos Canais MUOTRI
neurocientista
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de qualidade, com fontes
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deixe seu comentário e interaja LOVATO BERALDO MACHADO
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RevistaAutismo RevistaAutismo RevistaAutismo
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está com a câmera! nossa, lu?
claro!
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Vem cá, Sorriam,
magali! meninas! pronto!
deixa a gente
Ver como ficou!
Às vezes,
andrééééé!! acho que o andré
é Sincero demais!
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As informações a seguir não
dispensam a consulta a um médico
O QUE É AUTISMO especialista para o diagnóstico
O QUE É AUTISMO?
Saiba a definição do Transtorno do Espectro do Autismo
CONTEÚDO
EXTRA ONLINE
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AU T I STA S N O
U N IV ER S O
DA T U R M A
DA M Ô N I C A
Mauricio de Sousa convida “Com 3 anos, a Turma da
autistas para visitarem seus Mônica era a única coisa
estúdios. Personagem André que fazia ele se acalmar”
é capa de gibi em 3 idiomas
10 R EVISTA AUTISMO
abe aquela sensa-
ção de confirmar
a impressão posi-
tiva que você tem
de algo? Assim
acontece ao co-
nhecermos por
dentro os Estúdios Mauricio
de Sousa — ou Mauricio de
Sousa Produções (MSP), seu
nome oficial. Não é só nos
gibis da Turma da Mônica
que há diversidade e aquela
inclusão desejada por todos
num mundo ideal.
Fotos: Alexandre Beraldo e Francisco Paiva Jr.
R EVISTA AUTISMO 11
en ca nt ar am ao
As cri an ça s se rto ca da pa ss o
ve re m de pe
se faz er um a
do pr oc es so de ad rin ho s ou
Participantes da
his tór ia em qu em víd eo . primeira sessão da
um ep isó dio visita fi zeram questão
de posar para foto ao
lado dos personagens.
que tem um carinho especial pessoal, físico. Em junho últi- Fãs no espectro
pelos autistas. mo, o pai da Turma da Môni- “Ele é muito visual e desde
ca — uma das marcas mais os 5 anos se interessa pelos
admiradas no país, quase um personagens da Turma da
Autismo patrimônio nacional — convi- Mônica. Já fomos, inclusive,
E essa história começou lá dou um grupo de fãs autistas quatro vezes ao Parque da
atrás… Em 2001, o Instituto para uma visita a seus estúdios, Mônica, pois ele ama ver os
Mauricio de Sousa foi convi- um dia exclusivo para eles. E personagens”, explica Regi-
dado por uma representante foi só alegria! na Santos, da cidade de São
da Universidade de Harvard, Mauricio pessoalmente rece- Paulo, sobre o filho Yago, de
para desenvolver um projeto beu os fãs e ficou conversando 12 anos, diagnosticado com
com o objetivo de alertar a com as famílias o tempo todo, autismo aos 3.
população sobre os sintomas queria saber tudo sobre cada Com 8 anos de idade, vindo
do Transtorno do Espectro do criança, cada adolescente que de Caieiras (SP), Arthur era só
Autismo (TEA). Após meses estava lá. Rapidamente passou sorriso na foto ao lado da Mô-
de estudos nasceu André, um a ser o “tio Mauricio” — hoje nica. “Com 3 anos, a Turma da
personagem autista, para fazer com 83 anos —, que respondeu Mônica era a única coisa que
parte da Turma da Mônica. Em às mais diversas perguntas fazia ele se acalmar”, conta
2003, foi publicado um gibi ins- dos fãs autistas. Pérolas como Elaine de Assis, mãe do Arthur,
titucional só do André: “Um “Por que o Cebolinha nunca foi diagnosticado com autismo aos
amiguinho diferente” — em preso por roubar o Sansão da 2 anos 4 meses. O pai, Luciano
parceria com a AMA (Asso- Mônica?” ou “Por que o Cas- de Assis, lembra que Arthur
ciação de Amigos do Autista) cão não toma banho?”. E todas começou a falar aos 5 anos.
de São Paulo. foram, com toda paciência, Pedro, de 8 anos, e seus pais,
Em 2019, o André voltou a ter respondidas, uma a uma, pelo Luciene Peçanha Fonseca e
destaque com a parceria com criador da Turminha. Claudinei Fonseca, foram outra
esta Revista Autismo, publi- família a visitar os estúdios.
cando em toda edição uma HQ Apesar de terem perdido tudo
exclusiva. Neste ano também, devido a um incêndio em sua
pela primeira vez, a Turma da casa poucos dias antes, viaja-
Mônica fez uma tirinha para ram de Mogi-Guaçu (SP) para
o Dia Mundial de Conscienti- realizar o sonho de Pedro:
zação do Autismo (2 de abril), “Por que o conhecer Mauricio de Sousa.
publicada nas redes sociais da Cebolinha nunca foi “O Pedro está desenvolvendo
Turminha, para seus milhões a leitura agora, no terceiro
preso por roubar o
de fãs, além de ter atualizado e ano, com os gibis da Turma”,
relançado seis vídeos do André Sansão da Mônica?” explicou a Luciene, que criou
sobre os sinais de autismo. em sua cidade um espaço pú-
Mas nada substitui o contato blico dedicado aos autistas, o
12 R EVISTA AUTISMO
Ga br iel via jou
de Ri be irã o
Pr eto (S P) pa ra
o ag ua rd ad o
en co ntr o.
ulo
Ya go , de Sã o Panh o
so
(S P), re ali zo u ofot o ao
de po sa r pa ra nic a.
Mô
lad o do pa i da
R EVISTA AUTISMO 13
“A participação cada vez maior
do André nas histórias da Turminha é
importante para mostrar para a
criançada, de um jeito lúdico, como
todos ganham ao conviver
com as diferenças”
os , e se us pa is,
Pe dr o, de 8 an din ei — ap es ar de
Lu cie ne e Cl au ido
tes ter em pe rd
po uc os dia s anum inc ên dio em su a
tud o de vid o a de Mo gi- Gu aç u
ca sa , via jar amza r o so nh o do filh o:
(S P) pa ra re ali ici o de So us a.
co nh ec er Ma ur
nt a:
Gi ovan i e Sa maar am
as cri an ça s fic m
ma rav ilh ad as co
te”
as “o br as de ar
do un ive rso da
Tu rm inh a.
Qu ad ro
fei to “c om
de lic ad ez a”
pe la Mô nic a,
nu m do s
arr em es so s
do Sa ns ão .
14 R EVISTA AUTISMO
para ele, mas ele que escolheu André nas bancas
esse interesse restrito nos gibis Para completar a “festa au-
da Turma”, narrou a mãe, con- tista” na Turma da Mônica,
tando ainda que Gabriel sabe quem apareceu na capa do
todas as datas e números que gibi de julho nas bancas? Sim,
envolvem a história dos perso- o André! E em três idiomas:
nagens de Mauricio de Sousa. português, espanhol e inglês!
O tour pelo estúdio foi um dos É possível ler algumas páginas
pontos altos da visita, quando da HQ com o personagem
todos puderam ver cada passo André no site da Revista Au-
do processo de criação de uma tismo (RevistaAutismo.com.
história em quadrinhos e de br). A história completa está
filmes de animação da Turma na revista Turma da Mônica “Temos muitos fãs dentro
da Mônica. Mas nada supera o número 51, nas bancas.
encontro com os personagens “A participação cada vez do Transtorno do Espectro do
“reais” para fotos — o ápice do maior do André nas histórias Autismo e queremos que eles
dia. Abraços, uns mais aper- da Turminha é importante para
tados, outros mais de longe, mostrar para a criançada, de se sintam representados”
tentativas de roubar o Sansão um jeito lúdico, como todos
das mãos da Mônica, perguntas ganham ao conviver com as
para os personagens e muitas, diferenças. Além disso, temos
mas muitas, fotos e selfies. muitos fãs dentro do Transtor-
no do Espectro do Autismo e An dr é foi , pe la
ve z, ca pa do gibpr im eir a
queremos que eles se sintam o Tu rm a da Mô i de ba nc a:
(ju l.2 019), em trênic a nº 51
s idi om as .
representados”, disse o dese-
nhista Mauricio de Sousa.
É empatia que fala, né?
do s
u a bi bl io te ca m ai s
Q ua nd o ac ho ab rie l nã o sa iu e da ta s
es tú di os , G us iv
be tu do , in cl
de lá . El e sast ór ia da Tu rm in ha .
de to da a hi R EVISTA AUTISMO 15
C O L U N A
Matraquinha
em sua previsão, e o retorno foi bem boa, os amigos dele que estavam pró-
tranquilo. ximos gargalharam e nós seguimos
Em um típico domingo com um em nosso passeio de domingo, como
lindo céu de brigadeiro, resolvemos outra família qualquer.
ir ao parque andar de bicicleta. E você, já passou por alguma “saia
Limpei a bicicleta que estava toda justa”? Conte pra gente.
empoeirada, passei lubrificante na
corrente e só faltava encher os pneus
16 R EVISTA AUTISMO
MARIE DORION
Q
OBSERVAR, ,RAVRESBO
IMITAR… …RATIMI
cerebrais que estávamos fortalecendo
O caminho do aprender a eram as de seguir comandos, o que é
útil também, mas isso não trabalha
aprender com o uso do a necessidade central de aprender
ConnectorRx a aprender, o que acontece através
de observação e imitação, não de
quando Pedro foi diagnosticado ouvir um comando e executar a ação
com autismo, em 2005, o ponto proposta.
principal observado era que ele Em 2007, imersos em tratamentos
“não imitava”. Completamente leiga para autismo e com a possibilidade do
no assunto de desenvolvimento, meu segundo filho também estar no
eu não conseguia entender toda espectro — o que se confirmou meses
aquela ênfase na questão de ele depois —, fomos à clínica do PACE
não imitar. Place, nos EUA, sob recomendação
Iniciadas as várias linhas de trata- da terapeuta comportamental que
mento, o tema sobre não imitar sempre nos assessorava.
estava no centro das conversas. Pedro, No PACE Place, entre incontá-
naquela época, também não seguia veis aprendizados que direciona-
instruções simples, não se comuni- ram melhor o dia a dia da nossa
cava de forma efetiva, nem brincava. peculiar família com 2 crianças
Através da terapia comportamen- com autismo, fomos apresentados
tal aplicamos vários programas para ao ConnectorRX.
ensiná-lo a imitar: “Pedro, faz assim” O ConnectorRx é um dispositivo
— e praticávamos uma ação, ele a rea- relacional criado por Eric Hamblen
lizava, e assim ficávamos. As conexões para melhorar a coordenação social,
R EVISTA AUTISMO 17
Depositphotos
emocional e física entre as crianças e compartilhada. Quando ele estava com
seus cuidadores principais. 8 anos, iniciamos o uso do Connec-
Ele funciona pela conexãoāfísica torRx de forma mais intensa dentro
entre o adulto e a criança através de de casa, em atividades do cotidiano
um cinto com um sistema de corda. como servir o prato do jantar, usar o
Enquanto conectada, a criança microondas, colocar a mesa, colocar
percebe que é mais fácil notar as in- roupa suja na lavanderia. Pedro, como
sinuações sociais, raciocinar através muitas pessoas com autismo, usa
da experiência do adulto e integrar o movimento para autorregulação,
essa informação para manifestar uma mas não é muito bom nisso. Seu mo-
resposta apropriada ao ambiente e vimento sem propósito acabava por
aos sinais sociais (informações do não exercer essa função de regulação.
site ConnectorRX.com). Com o uso do conector nas atividades
De forma prática, o ConnectorRX dentro de casa, Pedro pôde obter a
é um par de cintos ligados por uma “experiência da correlação” através
corda. A ideia de utilizar cintos entre do meu movimento, estando ligado
o cuidador e a pessoa com autismo fisicamente a mim.
faz com que a conexão física aconteça A vida foi acontecendo e eu,
com base no quadril, o que retira a sozinha nos cuidados diários dos
impressão neurológica de o cérebro dois meninos (com Pedro numa fase
estar sendo dominado ou controlado. que escalava qualquer janela), passei
A conexão pelo quadril é mais efetiva a usar o ConnectorRx nas atividades
para proporcionar a percepção de em que ele não participava ativamente.
segurança e proteção, pois reproduz
a época (e situações) em que
Enquanto as crianças são seguradas no
colo, enquanto são apresenta-
conectada, das aos diversos estímulos do
a criança percebe ambiente.
Iniciamos o ConnectorRx em
que é mais fácil caminhadas com o objetivo
notar as principal de fazer com que o
Luís entendesse que não estava
insinuações no comando da família. Nessa
sociais época, Luís, com 2 anos e meio,
era quem decidia para onde
íamos, o que gera uma carga
de estresse e ansiedade na criança e
aumenta a busca constante por con-
trole. No início, essa conexão física
e emocional entre o adulto e o Luís
gerou nele um certo medo. Ele sentiu
a perda do controle absoluto, porém,
com o uso do conector, foi aprenden-
do a apreciar a proteção emocional
que uma criança deve sentir quando
na presença de um adulto familiar.
Assim, foi-se abrindo espaço em sua
mente para observar e estar atento
aos aspectos sociais das interações
entre pessoas.
Nessa época, Pedro, com 4 anos,
passou a perceber nossa presença de
tal forma que a experiência de estar-
mos caminhando juntos tornou-se
18 R EVISTA AUTISMO
Essa proximidade física foi incenti-
vando, pela ausência de outros estí-
mulos, que Pedro observasse o que
eu estava fazendo. Sem distrações
de entretenimento, Pedro passou
a olhar como eu limpava o fogão,
as janelas, o banheiro, guardava as
roupas, e como se desenrolavam as
outras ações que uma casa requer.
Dessa forma, Pedro foi ficando
curioso e aberto a participar des-
sas atividades comigo. Aprendeu
a preparar alimentos básicos, a
organizar coisas pela casa, e muito
mais importante do que qualquer
conhecimento específico, Pedro,
através da proximidade física co-
migo, pelo uso do ConnectorRX,
aprendeu a observar o outro, a
ter interesse no que o outro faz,
a ter a curiosidade para “tentar fazer
também”. Com isso, um universo
de possibilidades de aprendizado
aconteceu para nós.
como aeroportos, lojas e multidões, o uso
do conector foi fundamental para que
Pedro se sentisse seguro, uma vez que
ele podia sentir a presença do adulto e,
consequentemente, o acesso mais fácil a
seu cuidador.
Há alguns anos já não usamos o
ConnectorRX no dia a dia com o
Pedro pois ele se “coordena” conosco
e, além de perceber nossa presença,
também se mostra disposto e atento
emocionalmente. A partir de então,
ampliamos a função do conector na
vida com o Pedro em treinos de cor-
rida para ajudá-lo a entender o que
é ritmo, cuja ausência, causada por
sua apraxia, é um grande desafio
a superar.
Nas situações cotidianas colhemos
os bons frutos desse aprendizado.
Pedro desenvolveu a capacidade de
iniciar as atividades diárias em casa,
aprendeu a observar as pessoas para
saber como as coisas funcionam,
Q
Através do uso do ConnectorRx, Pedro
pôde descobrir o que existe por trás
do medo em relação ao desconhecido,
e sua vida ficou mais flexível, com
mais possibilidades de aventuras que
o preenchem pela satisfação de
estar vivo.
ORGULHO E
FERRAMENTAS DE
COMPENSAÇÃO
Introvertendo Dezoito de junho está no calendário Ser autista, num mundo ideal, talvez
do autismo anualmente como uma deveria ser como ter um nariz. Você
data marcante. O Dia do Orgulho se orgulha de ter um nariz?
Autista é celebrado como forma de Ora, se o autismo é parte da iden-
ver a condição sob uma ótica positiva. tidade humana, como os que se po-
Mas, na nossa comunidade, não são sicionam a favor dizem, então qual a
todos os olhares que enxergam a data necessidade do orgulho? Penso que
com bons olhos. só existem discussões sobre orgulho
por Tiago Abreu As tensões com relação a esta data acerca de temas em que inegavelmente
me provocaram uma reflexão. Parti- há preconceito. Num mundo ideal,
cularmente, gosto de observar fenôme- por exemplo, não existiria orgulho
Tiago é jornalista, autista e criador nos, inicialmente, com o máximo de LGBT, porque a diferença na orien-
do podcast Introvertendo distanciamento que posso obter. Isto tação sexual não seria um fator de
é, verificando argumentos a favor e incômodo alheio.
/introvertendo contra e, a partir disso, construindo Mas não vivemos num mundo
@ introvertendo uma linha de raciocínio. ideal, e enxergo a ideia de orgulho
Introvertendo Quem foi contra geralmente se des- como uma ferramenta temporária
introvertendo.com.br dobrou em duas grandes vertentes. A de compensação. Enquanto existir
primeira destaca que características preconceito, enquanto autistas e seus
individuais de seres humanos são uma familiares forem menosprezados por
maneira de incentivar a formação de um conjunto de sinais, criaremos
“guetos”. A segunda, que autismo não um contraponto a partir da noção
é algo para se orgulhar. de orgulho até um momento em que
Dia do Orgulho Autista Quem foi a favor, por outro lado, não precisemos mais de um Dia do
também se desdobrou em algumas Orgulho Autista.
O Dia do Orgulho Autista linhas de raciocínio. A principal é de Creio que descentralizar o debate
foi criado originalmente que autismo, como condição, é uma sobre o fato de se ter ou não orgulho
em 2005 pela organização
Aspies for Freedom (AFF). característica e parte da identidade é necessário para identificar o porquê
A data é comemorada todo de uma pessoa, e por isso deve ser do preconceito e destrinchá-lo. Isso
18 de junho. Vários países já celebrado. envolve discutir o autismo e, em certa
sediaram eventos com foco medida, também colocar visões con-
no tema, como Reino Unido, Como um autista diagnosticado com
Israel, Austrália e Brasil. Síndrome de Asperger, costumo pensar trárias sobre o diagnóstico na mesa.
que ainda é estranho fazer juízo de Isso é um desafio irrecusável para
valor de uma característica pessoal. esta geração.
20 R EVISTA AUTISMO
CRÍTICA
CULTURAL
FILME
TUDO QUE QUERO
Tudo Que personalidade de Spock, de Star Trek,
Quero conta como uma moldura para apresentar a
a história de maneira de lidar com relações humanas,
Wendy, uma por pessoas do espectro autista. Algo
jovem autista que não é completamente novidade:
Ficha Técnica
que mora em Sheldon, de The Big Bang Theory,
Título original: uma casa de realiza um exemplo deste mesmo tipo
Please Stand By cuidados, onde de abordagem referencial. Porém, aqui,
Lançamento: 2017 nos
EUA — 2018 no Brasil foi colocada por tal elemento é apresentado de maneira
Duração: 1h33 sua irmã Audrey para mais séria e fundamental para o desen-
Elenco: Dakota Fanning, tentar fazer progresso por volvimento da personagem, em vez de
Alice Eve, Toni Collette para efeito cômico.
Direção: Ben Lewin terapia, podendo um dia
voltar a morar com a família. No entanto, boa parte da moldura
Wendy é apaixonada por Star da franquia de ficção científica Star
Trek, e escreve um roteiro para uma Trek, embora claramente apresenta-
competição de cinema. Quando o prazo da com carinho e amor pelo material
para envio pelo correio expira, ela resol- que está referenciando, parece ter sido
ve entregar o roteiro pessoalmente no inserida para criar um encontro com
CONTEÚDO
EXTRA ONLINE estúdio, pegando a estrada sozinha, e a um personagem mais perto do fim do
Use o QR-code que está
no índice desta edição história toma assim o formato clássico filme. Chega a ser um pouco forçado,
para ir ao site.
de um filme de viagem. mas provavelmente a intenção é poder
E como um filme de pé na estrada, o explorar a persona do ator que o in-
foco principal é nos diferentes persona- terpreta, Patton Oswalt, um ícone da
gens e situações que Wendy encontra cultura nerd norte-americana.
durante sua jornada, como ela lida com A representação do espectro autista
tudo. Porém, neste caso, com o elemen- é razoável, não mostra Wendy como
to de seu autismo influenciando cada incapaz e nem retrata seu autismo
cena. O filme procura explorar algumas como algum tipo de poder. É apenas
diferentes situações que ocorrem como parte de quem ela é, e isso molda sua
consequência da linha de raciocínio e vida e a vida daqueles à sua volta.
comportamento de Wendy, seja pela Tanto a abordagem, como o filme em
hipersensibilidade (que infelizmente geral são leves e inofensivos, mas
só é explorada em uma breve cena, possuem seu charme.
sendo ignorada pelo resto do filme),
seja pela sua inocência em interpretar
as situações em que se encontra. No
entanto, sendo uma dramédia com um
quê de filme independente, Tudo Que
Quero não chega a lugares realmente
preocupantes com tais situações, man-
tendo-se na maioria das vezes em um
território amigável e razoavelmente por Diego Lomac
inofensivo.
Diego é videomaker, fotógrafo e
A meta-narrativa consiste em o editor formado em Cinema, Rádio e
roteiro que Wendy escreveu narrar TV pela Universidade de São Paulo e
partes do filme usando a dinâmica da irmão de Rafael, autista de 22 anos.
R EVISTA AUTISMO 21
FRANCISCO PAIVA JUNIOR
CONTEÚDO
EXTRA ONLINE
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A ‘SEGUNDA
CAMADA’ DO
DIAGNÓSTICO
Diagnóstico genético de
síndromes associadas ao
autismo dá um rumo a
famílias e ajuda a ciência
na busca por respostas
Sinais e sintomas
• atrasos no desenvolvimento;
• atrasos intelectuais;
• atrasos motores e dificuldade de planeja-
mento motor;
• atraso ou ausência de fala;
• Transtorno do Espectro do Autismo ou
características autísticas;
• hipotonia/tônus muscular baixo ou fraco;
• dificuldades de alimentação;
Dentição
A erupção precoce dos dentes de leite é um BIOMAR-
CADOR ÚNICO da síndrome de ADNP. Os dentes
podem ser pequenos, irregulares e descoloridos.
Características Físicas
• testa proeminente;
• pálpebras caídas;
• lábio superior fino;
• orelhas mal formadas;
• olhos distantes ou cruzados;
• dedos malformados ou curvados.
Mais informações
/adnpbrasil
Os indivíduos afetados podem não adnpbrasil@gmail.com
apresentar todos os sintomas acima. Fonte: informações da ADNP Kids Research Foundation (EUA).
26 R EVISTA AUTISMO
Toda informação
médica ou genética
neste texto tem propósito
unicamente informativo,
não devendo ser usada
como aconselhamento,
diagnóstico ou
tratamento.
Um médico deve
SÍNDROME DE
ser consultado.
PHELAN-MCDERMID
A síndrome de Phelan-McDermid
(PMS, na sigla em inglês) é causada Frequência
Característica
por alterações (deleção, transloca- (% dos casos)
ção, mutação) no cromossomo 22,
envolvendo a região 22q13. É uma
Hipotonia 85%
síndrome multigênica, envolvendo Fala ausente ou
mais de 100 genes, entre eles, um severamente comprometi- 84%
dos mais importantes é o SHANK3. da (só balbucia)
A pessoa apresenta um transtorno
global do neurodesenvolvimento nas Transtorno do Espectro
áreas motora, cognitiva, social, de lin- do Autismo 73,5%
guagem e da fala.. De acordo com um
recente estudo do Centro de Pesquisa Infecções respiratórias
sobre o Genoma Humano da USP (A recorrentes 61%
Brazilian cohort of individuals with
Phelan-McDermid syndrome, publi-
cado na revista Journal of Neurode- Dificuldades na
mastigação
58%
velopmental Disorders), as principais
características associadas à síndrome
podem ser vistas na tabela ao lado, Refluxo gastroesofágico 57%
bem como sua frequência. Além
dessas características é importante Constipação ou diarreia 42%
notar também um grande atraso na
marcha, que só acontece, em média, Distúrbios do sono 39%
após os 2 anos. Cerca de 25% das
pessoas afetadas não chegam a andar. Anormalidades renais 30%
Anormalidades cardíacas 6%
Perdas auditivas 3%
Referência
Samogy-Costa et al. (2019) A Brazilian cohort of individuals
with Phelan-McDermid syndrome: genotypephenotype
correlation and identification of an atypical case Journal of
Neurodevelopmental Disorders, 11:13 https://doi.org/10.1186/
s11689-019-9273-1
Fonte: informações de Claudia Spadoni. R EVISTA AUTISMO 27
Toda informação
médica ou genética
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unicamente informativo,
não devendo ser usada
como aconselhamento,
diagnóstico ou
tratamento.
Um médico deve
ser consultado.
SYNGAP1
A síndrome do Syngap1 é causada por uma mu-
tação no gene de mesmo nome. O gene Syngap1
produz a proteína SynGAP, importante para as
sinapses, onde acontece a comunicação entre as
células do cérebro, os neurônios. Normalmente
pessoas com esta síndrome tem graves compro-
metimentos.
Características
• epilepsia (em 84% dos casos) iniciando entre
os 6 meses de idade, aos 7 anos; metade deles
não responde a medicamentos para epilepsia;
• Transtorno do Espectro do Autismo (em mais
de 50% dos casos);
• atraso no desenvolvimento;
• deficiência intelectual (DI);
• hipotonia;
• começa a andar, em média, aos 2 anos e 2
meses (dos 14 aos 30 meses, podendo chegar
até os 5 anos);
• prejuízos no desenvolvimento da linguagem;
• um terço dos indivíduos permanecem não
verbais até os 5 anos; os verbais formam frases
de uma a cinco palavras somente;
• dispraxia (disfunção motora oral);
• pé plano (chato);
• anormalidade nos olhos, incluindo estrabis-
mo; problemas gastrointestinais, inclusive
constipação que requer intervenção com
medicamento.
Mais informações
bridgesyngap.org.
kelimello@hotmail.com
28 R EVISTA AUTISMO
C O L U N A
INDICAÇÕES DO USO
DE MEDICAMENTOS
Sociedade EM PACIENTES
Brasileira de
Pediatria COM TEA
Recentes pesquisas têm demonstra- ou de diagnósticos associados, me-
do que no Transtorno do Espectro do lhorando as respostas ao programa
Autismo (TEA) há uma base genética de estimulação.
que é moldada pelo ambiente resultando Um exemplo de indicação formal
em uma variedade de manifestações de prescrição é aquela destinada para
clínicas e até o presente momento o tratamento de crises epilépticas. A
Liubiana Arantes não há disponível um tratamento prevalência de epilepsia é maior no
de Araújo medicamentoso para sua cura. autismo que na população em geral e
Não existem drogas que possam esses pacientes necessitam do uso de
Liubiana é neurologista pediátrica, pre- tratar os déficits na interação e na medicações para o controle das crises.
sidente do departamento científico de
desenvolvimento e comportamento da comunicação e os comportamentos Outra situação é quando o Transtorno
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), atípicos e interesses restritos, ou de Déficit de Atenção e Hiperativi-
com título em terapia intensiva pediátrica seja, não há um remédio para que a dade acompanha o TEA. Nesse caso,
e Neonatal M.D., Ph.D., fellow at Harvard criança ou adulto com TEA aperfeiçoe
Medical School 2011-2012, teaching assis- o uso de medicações que atuem nos
tant of principles and practice in clinical a fala, a interação através do olhar circuitos cerebrais deficitários — a
research Harvard Medical School 2013, ou que cure as estereotipias. fim de aumentar a atenção e reduzir
professora adjunta da faculdade de me- Cada indivíduo que apresenta a hiperatividade — pode ser indicado.
dicina da Universidade Federal de Minas autismo tem indicação de um plano
Gerais (UFMG). Aqueles pacientes que apresentam
individualizado de tratamento que leve depressão também podem se benefi-
em consideração as áreas cerebrais que ciar do uso de antidepressivos como
estão mais prejudicadas, bem como coadjuvante ao tratamento psicológico
suas habilidades e os diagnósticos as- e adequação ambiental.
sociados. Em cada situação é preciso
discutir em equipe interdisciplinar e
com a família se há ou não a indica-
ção da prescrição de drogas, pois há
casos em que os pacientes podem se
beneficiar do uso de medicações para
tratamento de sintomas específicos,
29
JOANA PORTOLESE
AUTISMO NA
VIDA ADULTA
A transição para a idade
adulta aponta incerteza acesso de aprendizagem, avaliar
a alteração sensorial, motora, ge-
sobre o futuro, falta de nética, regulação das emoções e
serviços abrangentes ou temperamento.
integrados e necessidade Na fase adulta, são relatadas
dificuldades para:
da tutoria de adaptação
no ambiente de trabalho Demandas não acadêmicas da vida
universitária;
Administração do tempo;
o longo das úl-
timas duas dé- Organização, tarefas da vida
cadas, com o diária e demandas sociais, com
aumento do nú- embaraço na habilidade de ras-
mero de bebês e trear múltiplos alvos ao mesmo
crianças diagnos- tempo e na destreza para esportes
ticadas com TEA, em grupo.
há uma enorme
necessidade de intervenções eficazes O padrão dos resultados de
e adequadas para os indivíduos e avaliações em adultos e idosos
suas famílias. com TEA são falhas da atenção
Nesse sentido, convém lembrar sustentada, memória de trabalho,
que nenhuma pessoa com TEA fluência verbal, capacidade dimi-
apresenta os mesmos comporta- nuída da atenção visual seletiva e
mentos ou conjunto de sintomas. atenção dividida, com dificuldade
Diante da heterogeneidade clínica no entendimento de situações
e da evolução do TEA o primei- sociais complexas e interações
Ilustração: BERA
SOCIAL E
SENSORIAL
Ilustração: Bernardo França
R EVISTA AUTISMO 33
EDUARDO RIBEIRO
INCLUSÃO ESCOLAR
EM PORTUGAL -
MEDIDAS E
CONSTRANGIMENTOS
Em 2019, centenas de
autistas sairão da rede
escolar sem que tenham
alguma alternativa
34 R EVISTA AUTISMO
aplicação de medidas de suporte à
Pretende assim dar mais autonomia “mais autonomia aprendizagem;
às escolas e aos seus profissionais, e,
deste modo, criar condições para que às escolas e aos seus - Prestar aconselhamento aos do-
centes na implementação de práticas
estes definam o processo de identifi- profissionais” pedagógicas inclusivas;
cação das barreiras à aprendizagem
com que o aluno se confronta, apos- - Elaborar o relatório técnico-pe-
tando na “diversidade de estratégias dificuldades acentuadas e persistentes dagógico, o programa educativo
para as ultrapassar”. O objetivo final ao nível da comunicação, interação, individual e o plano individual de
é assegurar que cada aluno tenha cognição ou aprendizagem, então transição previstos;
acesso a um currículo e a uma apren- podem ser tomadas medidas adicio- - Acompanhar o funcionamento
dizagem que o leve ao limite das suas nais. São elas: do centro de apoio à aprendizagem.
potencialidades. - A frequência do ano de escolari- 2. O “Centro de apoio à aprendi-
Para tal, consagra-se uma aborda- dade por disciplinas; zagem” (CAA), que será sediado nas
gem baseada em “modelos curricu- - As adaptações curriculares sig- escolas que já possuem as unidades
lares flexíveis, no acompanhamento e nificativas; de apoio especializado, tem como:
monitorização sistemáticas da eficácia - O plano individual de transição; a) Objetivos gerais:
do contínuo das intervenções imple- - O desenvolvimento de metodologias - Apoiar a inclusão das crianças e
mentadas, no diálogo dos docentes e estratégias de ensino estruturado, e; jovens no grupo/turma e nas rotinas e
com os pais ou encarregados de - O desenvolvimento de competên- atividades da escola, designadamente
educação e na opção por medidas de cias de autonomia pessoal e social. através da diversificação de estratégias
apoio à aprendizagem, organizadas Este novo diploma da “educação de acesso ao currículo;
em diferentes níveis de intervenção”. inclusiva”, vem criar duas estruturas - Promover e apoiar o acesso à
Assim, são estabelecidas medidas de no organograma das Escolas: formação, ao ensino superior e à in-
suporte à aprendizagem e à inclusão 1. A “Equipa multidisciplinar de tegração na vida pós-escolar;
em três níveis de intervenção: univer- apoio à educação inclusiva”, que tem - Promover e apoiar o acesso ao
sais, seletivas e adicionais. como competências: lazer, à participação social e à vida
As medidas universais – respostas - Sensibilizar a comunidade educa- autónoma.
educativas que a escola tem disponíveis tiva para a educação inclusiva; b) Objetivos específicos:
para TODOS os alunos com objetivo - Propor as medidas de suporte à - Promover a qualidade da partici-
de promover a participação e a me- aprendizagem a mobilizar; pação dos alunos nas atividades da
lhoria das aprendizagens – que são: - Acompanhar e monitorizar a turma a que pertencem e nos demais
- A diferenciação pedagógica;
- As acomodações curriculares;
- O enriquecimento curricular;
- A promoção do comportamento
pró-social, e;
- A intervenção com foco académi-
co ou comportamental em pequenos
grupos.
As medidas seletivas são “ativadas”
quando as medidas universais não
colmatam as necessidades de suporte
à aprendizagem do aluno. São elas:
- Os percursos curriculares dife-
renciados;
- As adaptações curriculares não
significativas;
- O apoio psicopedagógico;
- A antecipação e o reforço das
aprendizagens, e;
- O apoio tutorial.
Quando as medidas universais e
seletivas são insuficientes para col-
matar as necessidades de suporte à
aprendizagem do aluno, nomeadamente
R EVISTA AUTISMO 35
A autonomia
escolar não
era, e não é
contextos de aprendizagem; real, pois teria “medidas adicionais”.
- Apoiar os docentes do Existiram logo à par-
grupo ou turma a que os de ser acom- tida muitos constrangi-
alunos pertencem; panhada por mentos à implementação
- Apoiar a criação de re- deste diploma, e, para
cursos de aprendizagem e mais recursos os casos mais severos,
instrumentos de avaliação humanos e as respostas continuam
para as diversas componen- a não ser adequadas ou
tes do currículo; fi nanceiros não existem mesmo.
- Desenvolver metodolo- A autonomia escolar
gias de intervenção interdisciplinares consagrada no diploma não era,
que facilitem os processos de aprendi- e não é real, pois em muitos casos
zagem, de autonomia e de adaptação teria de ser acompanhada por mais
ao contexto escolar; recursos humanos e fi nanceiros. A
- Promover a criação de ambientes título de exemplo, estão estabelecidos
estruturados, ricos em comunicação rácios (indicadores sobre desempe-
e interação, fomentadores da apren- nho) de pessoal não docente afetos
dizagem; ao “ensino especial” assente numa
- Apoiar a organização do processo lógica matemática que não discri-
de transição para a vida pós-escolar. mina de forma positiva a existência
Tal como no anterior diploma, é de casos severos que necessitam de
prevista, para os alunos que tenham uma relação de trabalho unitária. Por
um Programa Educativo Individual, outro lado, fazem falta atividades fora
a complementação deste com um da escola de inclusão social.
Plano Individual de Transição, a ter Mas o maior problema será para os
início nos “três anos antes da idade casos mais severos com o término da
limite da escolaridade obrigatória” escola pós 18 anos.
(18 anos) e que promova a transição O Plano Individual de Transição,
para o pós-escola, sempre que possí- com raríssimas exceções, já não era
vel para o desenvolvimento de uma executado no anterior diploma, e o
atividade profissional. mais certo é continuar a não funcionar
neste diploma, o que vai implicar que
Conclusões neste ano de 2019 algumas centenas
Este diploma estabelece uma de jovens com autismo vão sair da
nova abordagem da problemática rede escolar sem que tenham alguma
das dificuldades de aprendizagem resposta alternativa.
das crianças e dos alunos, mais Por outro lado, a grande maioria
exigente para as escolas e para os das famílias acomodam-se à resposta
seus profissionais, docentes e não escolar e não trabalham dentro do
docentes, uma vez que será privile- tempo necessário para um futuro
giada a implementação das medidas, para os seus filhos.
nomeadamente as “adicionais”, em Assim, todo o trabalho e esforço
contexto de sala de aula. de uma inclusão escolar não vai ser
A maior crítica ao diploma é a consequente. Após o término esco-
não previsão de um dispositivo ou lar poderá resultar numa exclusão
plano de formação para o pessoal social, com a restrição dos jovens a
docente e não docente que acom- suas próprias casas.
panhará a aplicação, sobretudo das
C O L U N A
Trabalho no
Espectro VANTAGENS DA
NEURODIVERSIDADE
E DIREITOS HUMANOS
As pessoas com autismo representam para as pessoas com deficiência.
por Marcelo Vitoriano hoje cerca de 1,5 % da população mun- A lei de cotas é um marco legal que
dial, o que configura uma prevalência proporcionou a inclusão de mais de 400
de 1 para cada 59 pessoas (segundo mil profissionais com deficiência no
Marcelo é psicólogo, especialista em estatísticas dos Estados Unidos). Brasil, de forma a contribuir fortemente
terapia comportamental cognitiva Apesar de bons e qualificados exem- para os objetivos de desenvolvimento
em saúde mental, mestre em psicologia plos de sucesso na contratação, ainda sustentável da ONU, objetivo núme-
da saúde. Há 4 anos faz parte do grupo
de trabalho sobre Direitos Humanos nas poucas empresas têm aberto oportu- ro 8, trabalho decente e crescimento
Empresas da rede brasileira do Pacto nidades para pessoas com autismo. econômico, meta 8.5. Apesar da no-
Global da ONU e é diretor geral da Esta percepção sobre as dificuldades, vidade do tema Neurodiversidade, já
Specialisterne no Brasil, organização por parte do mercado, em incluir existem muitas histórias de sucesso
social de origem dinamarquesa presente de pessoas que, mesmo com diversas
profissionais com autismo, também
em 20 países, que atua na formação
e inclusão de pessoas com autismo no foi indicada pelo secretário-geral das habilidades e talentos, não conseguiam
mercado de trabalho. Nações Unidas em 2016, Ban Ki-moon, entrar no mercado de trabalho e hoje,
no Dia Mundial de Conscientização com os devidos apoios, demonstram
sobre o Autismo. Para ele, “a rejeição seu potencial, sentindo-se respeitadas,
das pessoas que apresentam essa con- felizes e, claro, contribuindo para os
dição neurológica é uma violação dos resultados das empresas.
direitos humanos e um desperdício de O tema da inclusão profissional das
potencial humano”. pessoas com autismo deve fazer parte
Atualmente, temos falado bastante da agenda corporativa de valorização
sobre diversidade e inclusão como da diversidade, seja pelo respeito às
diferencial para as pessoas e conse- singularidades humanas, seja pela
quentemente para os resultados das valorização da diversidade de talentos
empresas. Tal fato se deve principal- e potencialidades.
mente a uma saudável pressão das
multinacionais que possuem pro-
gramas globais de D.I. (Diversidade
e Inclusão), e fizeram com que suas
unidades no Brasil passassem a olhar
para o tema, impulsionadas também
pela obrigatoriedade legal das cotas
R EVISTA AUTISMO 37
ACONTEA CIMENTOS
ão
É uma grande satiaçsfãaço!
Desenho realizado po
r Rubens Martins, se
filho de Ruth Martins
porte Agente da
, Su
Filial Vitória-ES.
is anos,
Jam ef, fazer parte dessa
a do que eu podia
ns é um pre sente de Deus. Muito acim
“O Ru be eligência
rinhoso e com uma int
imaginar! Amoroso, ca . No mundo do
surpreende a cada dia
extraordinária. Ele me o um asp erg er de altas
seria considerad
espectro autista, ele ncipe!”
u Anjo Azul... Meu prí
habilidades. Ele é o me JAMEF ENCOMENDAS URGENTES
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FRANCISCO PAIVA JUNIOR
PESQUISA CONTEÚDO
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AUTISMO
É 97%
GENÉTICO;
81% HEREDITÁRIO
Trabalho com 2 milhões de pessoas em
5 países diferentes foi um dos mais abrangentes
Um estudo publicado pelo JAMA Psychiatry,
em julho (17) último, confirmou que 97% a
99% dos casos de autismo têm causa genética
— e 81% é hereditário. O trabalho científi-
co, com 2 milhões de indivíduos, de cinco
países diferentes, sugere ainda que apenas
entre 1% a 3% devem ter causas ambientais
— provavelmente pela exposição materna a
agentes com impacto intrauterino, como dro-
gas, infecções ou trauma durante a gestação.
“O estudo valida as estimativas prévias
feitas com gêmeos. Só iremos entender o
autismo e ajudar os autistas através dos
estudos genéticos”, diz o neurocientista
Alysson Muotri, diretor do programa de
células-tronco da Universidade da Cali-
fórnia em San Diego (EUA) e cofundador
da Tismoo — startup de biotecnologia que
desde sua fundação, há 3 anos, percebeu a
importância da genética para o autismo e
aposta na medicina personalizada.
As descobertas confirmam os resul-
tados de um grande estudo de 2017 com
irmãos gêmeos e não gêmeos na Suécia,
que sugeriu que cerca de 83% do risco de autismo
é herdado. Um outro estudo de 2010, também
na Suécia e também com gêmeos, relatou que
esses fatores contribuem para cerca de 80% do
risco de autismo.
40
Para a cientista Graciela Pignatari,
“apesar de vários questionamentos
acerca da importância dos exames
genéticos no autismo, o que estamos
cada dia observando mais é que a
genética é um fator muito relevante
e que a herdabilidade é prevalente,
embora os exames genéticos dos
pais ainda sejam pouco realizados”,
disse a cofundadora da Tismoo,
que ainda completou: “Além disso,
saber se a alteração foi herdada ou
não pode nos nortear em relação
ao prognóstico deste transtorno”.
“É o estudo com maior número de
participantes e que confirma a im-
portância da genética envolvida
no autismo, entretanto, este estudo
não evidenciou de forma clara quais
fatores ambientais poderiam ser
importantes para contribuir com
o fenótipo do autismo, bem como
não levou em consideração fatores
como infecções na gestação”, explica
Patrícia Beltrão Braga, professora do
departamento de microbiologia do
Instituto de Ciências Biomédicas da
Universidade de São Paulo.
Mais de 2 milhões
Foram avaliados registros nacionais
de saúde, de 1998 a 2007, de crianças
nascidas na Dinamarca, Finlândia,
Suécia e Austrália, além de nascidos
de 2000 a 2011, em Israel.
O estudo, ao todo, abrangeu 2.001.631
indivíduos, incluindo 22.156 com
diagnóstico de autismo. A maioria
das crianças da análise principal
vive na Dinamarca, na Finlândia
ou na Suécia. Os pesquisadores
incluíram as da Austrália e Israel
separadamente.
O estudo completo, que reforça
ainda mais a importância de exa-
mes genéticos para autistas, pode
ser acessado na nossa versão online.
(Veja QR-Code no índice desta edição)
CONTEÚDO
MUOTRI ENVIA
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MINICÉREBROS PARA O
ESPAÇO EM PESQUISA
DE AUTISMO
Inédita, a missão espacial envolve a Nasa e a SpaceX nos
experimentos com organoides do cientista brasileiro
No fim de julho (25. carga com organoides o desenvolvimento as células-tronco que
jul.2019), a SpaceX, cerebrais foi lançada do cérebro huma- podem aparecer quan-
em missão conjunta para a ISS”. no?”, questiona o do você tem um bebê
com a Nasa (agência neurocientista. lá”, disse ao Spectrum
espacial dos EUA), Objetivos O último e mais am- News, Ferid Nassor,
lançou mais um fo- O projeto tem, em bicioso objetivo é professor assistente
guete rumo à Estação resumo, três grandes entender os impactos de células-tronco e
Espacial Internacio- objetivos, segundo da microgravidade engenharia genética
nal (ISS Internatio- o próprio Alysson numa futura colo- no Institut Sup’Biotech
nal Space Station). explica. O primeiro nização do espaço de Paris (França).
Nesta oportunida- é desenvolver uma pelos seres huma- A missão é a primei-
de, porém, há algo plataforma autônoma nos. “Entendendo ra de dez outras que
muito valioso para a para manter esses um possível impacto estão planejadas para,
pesquisa científica a organoides de cére- negativo, podemos juntas, poderem aju-
respeito de autismo bro crescendo sem trabalhar isso aqui dar os cientistas a
e outras condições intervenção humana, em Terra e preparar responder questões
neurológicas: um o que ajudará muito o cérebro humano fundamentais sobre
experimento com no trabalhos de testes para nascer e viver o desenvolvimento do Ilustração: Bera
minicérebros huma- para descoberta de no espaço”, resume cérebro e, em última
nos do laboratório novos medicamentos Alysson Muotri. Os análise, descobrir se
do neurocientista para várias condi- detalhes do expe- as pessoas podem se
brasileiro Alysson ções, como o autismo. rimento também reproduzir com segu-
Muotri, professor da A segunda meta é podem ser vistos rança fora da Terra.
faculdade de medici- descobrir se os mi- no site da Nasa.
na da Universidade nicérebros resistem Tentar cultivar or-
da Califórnia em à microgravidade. ganoides no espaço
San Diego (UCSD). “No espaço, sabemos é, na verdade, um
Segundo Patrick que eles crescerão grande avanço. Os
O’Neill responsável de uma forma dife- organoides do cére-
pela comunicação da rente. Seria isso uma bro podem realmente
ISS, “esta foi a pri- vantagem ou uma fornecer informa-
meira vez que uma desvantagem para ções valiosas sobre
42 R EVISTA AUTISMO
C O L U N A
JANELA DE
OPORTUNIDADE
Não se discute que elas existem, são podemos usar jogos, brincadeiras, se
Autismo bem documentadas. A questão, aqui, possível engajando os outros irmãos
Severo é que quando temos o diagnóstico de (se houver). Mas, primeiramente, pre-
nossos filhos (quanto mais cedo melhor) cisamos saber o que buscamos e como
e entramos em contato com essa tal proceder, logo, estudar e aprender é
janela, ficamos (sobretudo as mães) fundamental!
ligeiramente frenéticas(os). Tantas Por outro lado, devemos ter em mente
terapias! Tão pouco tempo! Tão caras! que essas janelas de oportunidade, ainda
Mas, noblesse oblige, temos que que existam e tenham importância, não
por Haydée Freire Jacques fazer o nosso melhor, já que também querem, absolutamente, dizer que fora
é de conhecimento geral que “a culpa delas não há mais nada! Longe disso!
Haydée é casada e mãe de dois filhos, sempre é da mãe”, portanto não há al- Nada no Universo é estático. Por que
sendo o mais moço autista severo. Formou- ternativa senão sermos simplesmente os neurônios de nossos filhos seriam?
se em odontologia, exerceu a profissão perfeitas (e essa já é outra história). “Ah……passou a janela de oportuni-
até 2006, quando decidiu dedicar-se Então, saímos a campo, horas de salas dade! O que aprendeu, aprendeu, o que
integralmente ao filho.
de espera (por incrível que pareça pais não aprendeu…que pena!“ Bobagem!
e/ou cuidadores não podem assistir às Aprendizado ocorre ao longo de toda
terapias!), rios de dinheiro investidos, a vida, novas habilidades podem ser
terapias miraculosas, cansaço, muito desenvolvidas ao longo de qualquer
cansaço. Nosso e de nossos filhos! fase. Novas conexões neuronais podem
E então? É isso mesmo que deve ser ser formadas na idade adulta. A velo-
feito? Nem sempre, e sempre com muito cidade em que tal ocorre é diferente,
discernimento. Vamos por partes: em claro! Mas, vamos combinar, quem
princípio devemos pensar como um está apostando corrida? Queremos
grupo, logo não devemos sacrificar as proporcionar aos nossos filhos todos
finanças da família em nome de terapias os estímulos e aprendizados possíveis
a, b ou c. Bom senso é fundamental. para tornar a sua vida mais fácil e
Também devemos levar em conta prazerosa, dentro de suas potenciali-
que nossos filhos passam algumas dades, não é isso? Então, para começo
horas semanais com os terapeutas, de conversa, é bom saber que ninguém,
mas passam muito mais horas co- como pessoa, sabe até onde vai chegar.
nosco, portanto o principal estímulo Isso também é verdade para nossos fi-
deve vir do convívio familiar, que é lhos dentro do TEA. Proporcionamos
grátis. É importante que saibamos as ferramentas, damos os estímulos,
como estimular nossos pequenos, mas ajudamos na caminhada, para que
jamais poderemos nos transformar eles se desenvolvam de acordo com
em profissionais. Nossa relação deve suas potencialidades. O tempo que o
ser sempre mãe/filho, ou pai/filho, os processo irá demandar é uma incóg-
estímulos devem vir embrulhados em nita, até onde eles chegarão é outra. O
atividades diárias. Não é difícil, mas importante é não esmorecer, persistir
devemos saber o que queremos e o que sempre — com bom senso, por favor!
fazer, não é? Daí percebemos que os
pais/cuidadores são os que devem ser
ensinados, que devem estudar, buscar
e aprender. E insistir com as terapeu-
tas para assistir às terapias. Também R EVISTA AUTISMO 43
FRANCISCO PAIVA JUNIOR
CONTEÚDO
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R EVISTA AUTISMO 45
COMUNIDADE NA CAUSA
ARPTA
Rondonópolis (MT)
46 R EVISTA AUTISMO
C O L U N A
Liga dos
Autistas
O PODER DO
HIPERFOCO
Nós, autistas, geralmente tendemos Portanto, ver o hiperfoco como algo
a nos centrar num assunto ou obje- patológico, passível de cura, é dizer-nos
por Fernanda Queiroz to com tal dedicação que podemos que ninguém se importa com isso.
esquecer de todo o resto - é o chamado Nossos interesses significam muito
Fernanda é estudante de arquitetura hiperfoco. para nós - temos uma forte conexão
e atualmente mora em Portugal. É Mais do que um hobby, muitas vezes emocional com eles. O ideal seria
apaixonada por arte, astronomia, esses interesses nos são uma forma de buscar um equilíbrio, ensinando o
rock n roll e poesia — tendo ganhado recarga; uma zona de conforto orga- autista a decifrar se a outra pessoa
diversos prêmios e publicações literárias nizada e fluida onde podemos imergir está interessada ou não na conversa
na adolescência. Atualmente trabalha
e desfocar do caos sensorial que é o e alternando o conteúdo da conversa
na produção de seu primeiro livro e, na
universidade, pesquisa sobre ambientes mundo. Estudar astronomia, pintar para trabalhar a reciprocidade.
sensorialmente inclusivos para autistas. ou treinar no piano por horas a fio Quem dera meus pais tivessem
no meu caso, por exemplo, é o maior descoberto ainda na infância que eu
refúgio para as minhas sobrecargas. tenho ouvido absoluto , e tivessem
O problema é que algumas vezes tais então investido em aulas de piano
hiperfocos podem nos consumir por para mim! Talvez hoje eu estivesse
completo, o que leva muitas pessoas a trabalhando de forma profissional
se ligar nos aspectos negativos dessa com aquilo que mais amo e me de-
nossa característica: a dificuldade em dico: a música.
mudar de assunto e de perceber até que É por isso que encorajo pais e pro-
ponto isso é aceito, fazer/falar sobre fissionais a não só nunca desistir do
coisas cotidianas (o “small talk”) e hiperfoco, como também a fomentar
a tendência ao isolamento, tudo isso as áreas de habilidades das mais
a ponto de interferir ainda mais em variadas formas, como através de
nossa socialização. livros e brinquedos, falando sobre o
@liga.dos.autistas Mas há muitos aspectos positivos assunto eventualmente ou realizando
em se ter um hiperfoco: é uma forma atividades educativas direcionadas
de diversão, aumenta nossa autoesti- para a área.
ma (saber que somos bons em algo é E não se preocupem quanto à inten-
muito encorajador!) e, como já disse, sidade de nossos interesses: quando
um refúgio durante o stress. E, no estamos imersos neles, sem dúvida
caso de crianças e adolescentes, pode nos sentimos felizes, confortáveis
vir a ser a área de trabalho no futuro! e motivados a dar o nosso melhor!
R EVISTA AUTISMO 47
FATIMA DE KWANT, DA HOLANDA
AUTISMO, onversar
com o
ADOLESCÊNCIA
adolescente
sobre seu
autismo
Um adolescente
BANDA TIMEOUT
Uma banda de rock em Brasília
Cinco dos sete “rock stars” da
(DF). Quer coisa mais clichê? banda: Thiago Carneiro, Ivan
Madeira, Matheus Winkler,
Mas não é o caso da Timeout, João Daniel Coutinho,
João Henrique Lopes.
nem de longe!
Formada por Ivan (vocal), João
Daniel (vocal), João Gabriel (vo-
cal), João Henrique (bateria), Ma-
theus (vocal e teclados), Marcelo
(baixo) e Thiago (guitarra), o que
esses jovens entre 13 e 22 anos
Fotos de Divulgação
têm em comum, além da paixão
pela música? Todos representam
a neurodiversidade, sendo seis
deles, autistas! Sim, seis músicos
estão no espectro do autismo.
“A banda me deu a oportunidade
de fazer o que eu amo. A música com autismo serem subesti- sobre diversidade, criada exclusi-
em si, não só a banda, me dá mo- madas, infantilizadas e excluí- vamente para as redes sociais. Em
tivo para viver. Outros autistas das, diferenciadas das pessoas sua página no Facebook, a Netflix
devem se sentir inspirados. Se nós consideradas ‘normais’. Nesse elogiou: “Apenas apaixonada por
podemos, eles também podem”, sentido, cremos que a banda é essa banda que usa o rock como
declarou João Henrique, baterista. uma verdadeira transgressão forma de expressão para lidar com
Para Ivan, vocalista da Timeout, a social”, argumenta o psicólogo o autismo. Conheça a Timeout,
vida mudou após a banda. “Ape- Paolo Rietveld, idealizador da no terceiro episódio da websérie
sar de ser cansativo, eu gosto de banda. Os Originais, exibida com exclu-
ensaiar todo sábado. E acho muito O nome sugere um “tempo sividade aqui nas minhas redes
legal ser um rock star na minha fora” de todos os termos e técni- sociais”.
escola”, relatou ele. cas da terapia tradicional. Aquele Então “corre ouvir” o som desses
A banda surgiu, em setembro momento em que os meninos se meninos no canal da Timeout no
de 2017, dentro do projeto “Nós” preocupam apenas em se divertir. Youtube!
— uma empresa com iniciati- Desde que começaram os ensaios
vas de transformação social e as apresentações, Paolo percebeu /TimeoutRockBand
através da inclusão e mudanças no comportamento dos
TimeOutRockBand
neurodiversidade, garotos e de seus pais.
coordenada A Timeout interpreta músicas TimeOutRockBandBrasilia
por Carolina autorais, como “I need a time Episódio da Netflix:
Passos, João out”, e clássicos do rock nacional www.youtube.com/watch?v=AUKUR
Guilherme e internacional, que passam por 1VIh6Q
Moura, Pao- Pink Floyd, Legião Urbana, Oasis,
lo Rietveld e Mamonas Assassinas, AC/DC e
Raisa Saijo. Capital Inicial.
“É comum A banda virou até mesmo um
pessoas episódio (o 3º) de uma websérie da
Netflix, chamada “Os Originais”
— série de minidocumentários
Matheus
Winkler:
50 R EVISTA AUTISMO curtindo
o som.