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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

NAMP
Nº 70077562056 (Nº CNJ: 0121417-80.2018.8.21.7000)
2018/CÍVEL

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. MANDADO DE


SEGURANÇA. SINDICATO DOS SERVIDORES DO
INSTITUTO GERAL DE PERÍCIAS. MOVIMENTO
GREVISTA. DESCONTO DOS DIAS PARADOS.
CONTRADIÇÃO VERIFICADA. ILEGALIDADE DO
MOVIMENTO POR SE TRATAR DE SERVIDORES
VINCULADOS À SEGURANÇA PÚBLICA.
INCIDÊNCIA DO TEMA Nº 541 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL.
1. No caso dos autos, de fato, não foi observada a
similitude da categoria dos servidores representados
pelo impetrante, ora embargado, com os demais
servidores dos quadros da segurança pública.
2. Nada obstante o julgamento da ADI nº 2.827, o
Instituto Geral de Perícias - IGP é um dos órgãos
vinculados à Secretaria de Segurança Pública, ao lado da
Brigada Militar, Polícia Civil e Susepe. Neste contexto,
não se pode deixar de considerar que os servidores a ele
vinculados estão em situação de igualdade com aqueles
integrantes dos quadros da Brigada Militar, Polícia Civil
e da Susepe. E assim, a categoria funcional representada
pelo impetrante está contemplada no julgamento do ARE
654.432, Tema nº 541.
3. A par disso, a greve dos servidores em comento é ilegal
e, assim sendo, os descontos dos dias parados se revela
possível, não havendo direito líquido e certo a ser
tutelado na espécie.
4. Efeito infringente atribuído para denegar a ordem
postulada no MS nº 70066587296.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PROVIDOS, COM
EFEITO INFRINGENTE. UNÂNIME.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ÓRGÃO ESPECIAL

Nº 70077562056 (Nº CNJ: 0121417- COMARCA DE PORTO ALEGRE


80.2018.8.21.7000)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL EMBARGANTE

SINDICATO DOS SERVIDORES DO EMBARGADO


INSITUTO GERAL DE

GOVERNADOR DO ESTADO INTERESSADO

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

NAMP
Nº 70077562056 (Nº CNJ: 0121417-80.2018.8.21.7000)
2018/CÍVEL

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes do Órgão Especial do Tribunal de


Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento aos embargos de declaração,
atribuindo-lhes efeito infringente.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores


DES. CARLOS EDUARDO ZIETLOW DURO (PRESIDENTE), DES. ARISTIDES
PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO, DES. ARMINIO JOSÉ ABREU LIMA DA
ROSA, DES. MARCELO BANDEIRA PEREIRA, DES. SYLVIO BAPTISTA NETO,
DES. RUI PORTANOVA, DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH, DES. LUIZ FELIPE
BRASIL SANTOS, DES. IRINEU MARIANI, DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES,
DES. MARCO AURÉLIO HEINZ, DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO,
DES.ª MATILDE CHABAR MAIA, DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO,
DES. LUIZ FELIPE SILVEIRA DIFINI, DES. ÉRGIO ROQUE MENINE, DES.
JOÃO BATISTA MARQUES TOVO, DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN
HEKMAN, DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY, DES.ª DENISE OLIVEIRA
CEZAR, DES. ALMIR PORTO DA ROCHA FILHO, DES. EDUARDO UHLEIN,
DES. EDUARDO KRAEMER E DES. CLÁUDIO LUÍS MARTINEWSKI.
Porto Alegre, 26 de novembro de 2018.

RELATÓRIO
Trata-se de embargos de declaração opostos pelo ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL, porquanto está inconformado com o acórdão de fls. 166-86, que
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concedeu a ordem, por maioria, no MS nº 70066587296, impetrado pelo SINDICATO DOS


SERVIDORES DO INSTITUTO GERAL DE PERÍCIAS DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL - SINDIPERÍCIAS.

Nas razões, sustentou que o acórdão contém obscuridade quanto ao limite da


aplicação da vedação do corte do ponto à paralisação das atividades relativas ao pagamento
da folha de AGO15; quanto à indenização que vem sendo paga pelo atraso nos pagamentos.
Asseverou que o dispositivo do julgado não fez referência à sua limitação. Aduziu que por
conta da Lei-RS nº 15.045, de 28NOV17, ocorreu o pagamento da indenização pelo atraso,
com recebimento em folha de pagamento. Referiu que o pagamento da indenização
compensa o ilícito, não mais se justificando a greve, destacando, inclusive, a decisão na SL
nº 883. Sustentou, diante deste contexto, a necessidade de afastamento da aplicação do tema
531 do STF. Pediu o provimento dos embargos de declaração (fls. 198-203).
Intimada (fls. 214-5), a parte embargada ofertou resposta aos embargos de
declaração, defendendo a manutenção do acórdão (fls. 220-3).
É o relatório.

VOTOS
NELSON ANTONIO MONTEIRO PACHECO (RELATOR)

Encaminho voto pelo provimento dos embargos de declaração, atribuindo-


lhes efeito infringente.

Com efeito, a nova roupagem dos embargos de declaração conferida pelo


vigente CPC (Lei nº 13.105/15), de fato, exige manifestação concreta e objetiva do julgador
acerca dos temas tratados nos acórdãos e decisões monocráticas. É o que se depreende da
combinação do art. 1.022 com o art. 489, § 1º, do NCPC, cuja transcrição, na hipótese
concreta, se revela pertinente:
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra
qualquer decisão judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia
se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento;
III - corrigir erro material.
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:

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I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento


de casos repetitivos ou em incidente de assunção de
competência aplicável ao caso sob julgamento;
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489,
§ 1º.

Art. 489. (...):


(...).
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de
ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a
questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem
explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada
pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula,
sem identificar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência
ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.
(...).

No caso dos autos, de fato, não foi observada a similitude da categoria dos
servidores representados pelo impetrante, ora embargado, com os demais servidores dos
quadros da segurança pública. O art. 124 da CE-89 estabelece:
Art. 124. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
da ordem pública, das prerrogativas da cidadania, da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I - Brigada Militar;
II - Polícia Civil;
III - Coordenadoria-Geral de Perícias;
III - Instituto-Geral de Perícias.
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IV - Corpo de Bombeiros Militar.

Nada obstante o julgamento da ADI nº 2.827 1, o Instituto Geral de Perícias -


IGP é um dos órgãos vinculados à Secretaria de Segurança Pública, ao lado da Brigada
Militar, Polícia Civil e Susepe. Neste contexto, não se pode deixar de considerar que os
servidores a ele vinculados estão em situação de igualdade com aqueles integrantes dos
quadros da Brigada Militar, Polícia Civil e da Susepe. E assim, a categoria funcional
representada pelo impetrante está contemplada no julgamento do ARE 654.432, tema 541,
assim ementado:
CONSTITUCIONAL. GARANTIA DA SEGURANÇA
INTERNA, ORDEM PÚBLICA E PAZ SOCIAL.
INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DOS ART. 9º, §
1º, ART. 37, VII, E ART. 144, DA CF. VEDAÇÃO
ABSOLUTA AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE
GREVE AOS SERVIDORES PÚBLICOS
INTEGRANTES DAS CARREIRAS DE SEGURANÇA
PÚBLICA.
1. A atividade policial é carreira de Estado
imprescindível a manutenção da normalidade
democrática, sendo impossível sua complementação ou
substituição pela atividade privada. A carreira policial é
o braço armado do Estado, responsável pela garantia da
segurança interna, ordem pública e paz social. E o
Estado não faz greve. O Estado em greve é anárquico. A
Constituição Federal não permite.
2.Aparente colisão de direitos. Prevalência do interesse
público e social na manutenção da segurança interna, da
ordem pública e da paz social sobre o interesse individual
de determinada categoria de servidores públicos.

1
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Emenda Constitucional nº 19, de 16 de julho de 1997, à
Constituição do Estado do Rio Grande do Sul; expressão “do Instituto-Geral de Perícias” contida na
Emenda Constitucional nº 18/1997, à Constituição do Estado do Rio Grande do Sul; e Lei
Complementar nº 10.687/1996, com as alterações introduzidas pela Lei Complementar nº
10.998/1997, ambas do Estado do Rio Grande do Sul 3. Criação do Instituto-Geral de Perícias e
inserção do órgão no rol daqueles encarregados da segurança pública. 4. O requerente indicou os
dispositivos sobre os quais versa a ação, bem como os fundamentos jurídicos do pedido. Preliminar de
inépcia da inicial rejeitada. 5. Observância obrigatória, pelos Estados-membros, do disposto no art.
144 da Constituição da República. Precedentes. 6. Taxatividade do rol dos órgãos encarregados da
segurança pública, contidos no art. 144 da Constituição da República. Precedentes. 7. Impossibilidade
da criação, pelos Estados-membros, de órgão de segurança pública diverso daqueles previstos no art.
144 da Constituição. Precedentes. 8. Ao Instituto-Geral de Perícias, instituído pela norma impugnada,
são incumbidas funções atinentes à segurança pública. 9. Violação do artigo 144 c/c o art. 25 da
Constituição da República. 10. Ação direta de inconstitucionalidade parcialmente procedente.
(ADI 2827, Tribunal Pleno, rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 16SET10).
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Impossibilidade absoluta do exercício do direito de greve


às carreiras policiais. Interpretação teleológica do texto
constitucional, em especial dos artigos 9º, § 1º, 37, VII e
144.
3. Recurso provido, com afirmação de tese de
repercussão geral: “1 - O exercício do direito de greve,
sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos
policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem
diretamente na área de segurança pública. 2 - É
obrigatória a participação do Poder Público em
mediação instaurada pelos órgãos classistas das carreiras
de segurança pública, nos termos do art. 165 do Código
de Processo Civil, para vocalização dos interesses da
categoria.
(ARE 654.432, Tribunal Pleno, rel. Min. Edson Fachin,
redator p/ acórdão Min. Alexandre de Moraes, j. em
05ABR17, grifo acrescentado).

A par disso, a greve dos servidores em comento é ilegal e, assim sendo, os


descontos dos dias parados se revela possível, não havendo direito líquido e certo a ser
tutelado na espécie.
Nesse sentido:

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO.


SINDICATO DOS SERVIDORES DA POLÍCIA CIVIL
DO RIO GRANDE DO SUL. ILEGITIMIDADE DO
SECRETÁRIO DA FAZENDA E LEGITIMIDADE DO
SECRETÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA.
PAGAMENTO DOS VENCIMENTOS MENSAIS
PARCELADOS EM VALORES EQUIVALENTE AO
MÍNIMO REGIONAL. SUSPENSÃO DO DESCONTO
DOS DIAS NÃO TRABALHADOS. DE
INAUGURAÇÃO DE PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR EM CASO DE
GREVE DA CATEGORIA.
I. Para os efeitos da lei, a pessoa que ordena ou omite a
prática do ato impugnado é o superior que baixa normas
gerais para sua execução. No caso, o Secretário da
Fazenda apenas cumpre a determinação do ato político
determinado pelo Governador no sentido do
parcelamento das remunerações dos servidores públicos
ativos, inativos e pensionistas. Ilegitimidade do
Secretário da Fazenda e do Secretário da Segurança
Pública para figurar no pólo passivo do mandamus. Por
outro lado, não se pode imputar ao Governador do
Estado a atribuição de ter como justificadas as faltas,
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ainda que por adesão ao movimento paredista, além de


sanções administrativas, visto que tal decisão afeta à
esfera de competência dos Secretários.
II. Relativamente ao pedido de impedimento do corte do
ponto, instauração de procedimento administrativo
disciplinar e obrigação de pagamento da remuneração
em caso de greve da categoria, decorrente do não
cumprimento do piso pretendido, tenho que
manifestamente descabido o pedido. A pretensão envolve
situações hipotéticas que podem ou não acontecer,
pretendendo o sindicato impetrante uma ordem que fixe
norma de conduta aos impetrados.
III. O mandado de segurança não se presta a obtenção de
sentença preventiva genérica, aplicável a todos os casos
futuros e da mesma espécie. Precedentes do STJ. III. Em
mandados de segurança anteriores, foram suspensas as
liminares anteriormente deferidas, em razão de decisões
da egrégia Presidência do Supremo Tribunal Federal
(Medida Cautelar requerida na Suspensão de Segurança
n. 5.135/RS e na Medida Cautelar requerida na
Suspensão de Segurança n. 1082/RS), na quais
afirmaram que o Rio Grande do Sul realizou
demonstração satisfatoriamente, apresentando
documentos comprovadores da dificuldade financeira,
impediente do pagamento da gratificação natalina como
legalmente estabelecido, pelo que adotada a medida
excepcional para chegar ao adimplemento do direito dos
servidores, sem se descuidar das demais obrigações com
os cidadãos do Estado. Ainda, na ADPF n. 405-RJ, o
Plenário da Suprema Corte, deferiu parcialmente a
liminar para suspender decisões que determinaram o
sequestro/bloqueio de valores das contas administrativas
do Estado para pagamento de salários, entre outros. No
caso, o valor do parcelamento depende da
disponibilidade financeira do Estado. Preliminar de
ilegitimidade passiva do Secretário da Fazenda acolhida.
Preliminar de ilegitimidade passiva do Secretário da
Segurança desacolhida. Ordem denegada, por maioria.
(MS nº 70075443556, Tribunal Pleno, rel. Des. Marco
Aurélio Heinz, j. em 11DEZ17).

Tais as razões pelas quais voto por acolher os embargos de declaração,


atribuindo-lhes efeito infringente para denegar a ordem postulada no MS nº 70066587296.

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OS DEMAIS DESEMBARGADORES VOTARAM DE ACORDO COM O


RELATOR.

DES. CARLOS EDUARDO ZIETLOW DURO - Presidente - Embargos de Declaração nº


70077562056, Comarca de Porto Alegre: "DERAM PROVIMENTO AOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, ATRIBUINDO-LHES EFEITO INFRINGENTE. UNÂNIME."

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