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Resumo: O presente trabalho questiona pontos acerca dos efeitos dos contratos perante terceiros, além da
obrigação dos terceiros em respeitar os liames contratados, trazendo para discussão “cases” emblemáticos
que ilustram os conceitos abordados através de uma visão critica.
Palavras-Chave: Contratos – Partes – Terceiros – Cases
Abstract: The present paper questions points about the effects of the contracts before third parties, besides
the obligation of third parties to respect the contracted issues, bringing to the discussion emblematic cases
that illustrate the concepts addressed through a critical vision.
Key-words: Contracts – Parts – Thirds - Case
1 INTRODUÇÃO
O estudo dos contratos no Direito Brasileiro prescinde de conhecimento da definição
ampla de contrato. Trata-se de um acordo entre as partes o qual para que possa atingir sua
função social, delineada no artigo 422 do Código Civil Brasileiro, não deverá extrapolar a
esfera intersubjetiva dos contratantes.
A sociedade brasileira moderna em que vivemos revela-se plural, complexa, multifacetária
e dinâmica, onde convivem, lado a lado, minorias com maiorias, hipersuficientes com
hipossuficientes, homossexuais com heterossexuais, consumidores com fornecedores, de
modo que a dogmática e a principiologia contratuais devem ser relidas com novo olhar,
apto a regular as relações jurídicas atuais de maneira justa e equilibrada, guiado, sempre
que necessário, por mandamentos soberanos e valores maiores e superiores, previstos
constitucionalmente ou consagrados em princípios gerais de direito, quando conflitantes
interesses contrapostos entre si, direcionado e orientado ao interesse coletivo, ao bem
comum e à plena e à integral satisfação da Justiça no Direito Privado.
2 CONTRATOS
O ordenamento civil inicia o estudo dos contratos, com um dos princípios mais importantes
para a realização das avenças, a boa-fé.
A ideia central da boa-fé contratual é que as partes ingressantes na avença estejam desde a
formação do contrato, com intuito de cumpri-lo, cada qual com a sua obrigação, de
maneira que a extinção do contrato se dê pelo seu cumprimento fiel, e não atinja direitos de
terceiros. A não observância desta cláusula geral causa uma patologia contratual, não
permitindo que o contrato seja cumprindo na sua integralidade gerando efeitos para
sociedade3. A boa-fé objetiva, parte do comportamento do homem médio, comum, que
pratica condutas levando em consideração padrões de aspectos sociais estabelecidos e
reconhecidos na sociedade contemporânea.
A relevância e a pertinência do enfoque do princípio da proteção ao terceiro de boa-fé
confirmam-se na medida em que, contrato firmado entre as partes contratantes, em regra,
não opera efeitos em relação ao terceiro, seja por este ostentar a qualidade de alheio e de
estranho ao pacto negocial, seja por conta do atributo de sua boa-fé.
Constituindo-se tal princípio em embasamento jurídico para oponibilidade dos efeitos do
contrato perante o terceiro. O princípio da proteção ao terceiro de boa-fé, não pairam
dúvidas, consiste em princípio geral de direito. Da mesma maneira, o princípio da proteção
ao terceiro da boa-fé, versa em viga mestra de sustentação, de harmonia e de coerência de
toda estrutura legal e jurídico do Direito Civil.
3 CASE
O caso trazido para esse trabalho demonstra nitidamente a evolução dos entendimentos dos
tribunais, fazendo com que a evolução doutrinária seja acatada pelo raciocínio jurídico
levado para aplicação dos casos reais.
Em breve relato, o caso ocorreu nos seguintes termos: O cantor Zeca Pagodinho,
conhecido nacionalmente, como costume sempre fez seus shows bebendo cerveja. Então
um publicitário ávido por carimbar sua marca, contratou o referido cantor para ser garoto
propaganda de sua marca (NOVA SCHIN), a Nova Schin ganhou espaço, virou a terceira
marca do ranking nacional e reduziu pela metade a diferença em relação à Brahma. Na
Bovespa, as ações da Ambev, fabricante da Brahma, Antarctica e Skol, caíram em
preocupação dos analistas com a perda de mercado da empresa.
Ocorre que o cantor, em seus shows bebia a cerveja concorrente (BRAMA-AMBEV),
dessa forma, sem respeitar o contrato avençado originariamente, a AMBEV, simplesmente
arcou com as despesas de rescisão contratual, ofereceu um vultoso valor, e trouxe o cantor
para sua marca, sendo seu novo garoto propaganda, interferindo diretamente na prestação
de serviços anterior.
Em novembro de 2003, a Justiça ordena tirar do ar a campanha da “Nova Schin”, a pedido
da Ambev, dona das marcas Brahma, Antarctica e Skol. No filme, um consumidor aparece
em cena experimentando diversas cervejas com os olhos vendados.
Em janeiro de 2004, a Ambev contrata a agência África para cuidar da conta da Brahma,
no lugar da F/Nazac. Dois meses depois, é declarada a guerra com a estreia de surpresa de
comercial da Brahma com Zeca Pagodinho como principal estrela. No filme, ele canta uma
música cujo refrão ironiza sua passagem pela Nova Schin: “Fui provar outro sabor, eu sei,
mas não largo meu amor, voltei”.
Infere-se diante da situação exposta, a perfeita aplicação do artigo 608 do Código Civil,
onde um terceiro que não subscreveu a avença originária, não exerceu o dever de
abstenção, sua obrigação de não fazer, de modo que aliciou o prestador de serviços de
outro tomador.
Veja, não haveria problemas se eventualmente o prestador de serviços não fosse figura
notadamente conhecida, e devesse prestar seus serviços de forma exclusiva.
Segue abaixo a ementa do acórdão que decidiu acerca da aplicabilidade ou não do dano
moral e ressarcimento em perdas e danos.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E À IMAGEM -
Empresa-autora que foi prejudicada pelo aliciamento do principal artista de sua
campanha publicitária por parte da empresa-ré - Improcedência da demanda
Inconformismo - Acolhimento parcial - Requerida que cooptou o cantor, na
vigência do contrato existente entre este e a autora - Veiculação de posterior
campanha publicitária pela ré com clara referência ao produto fabricado pela
autora - Não observância do princípio da função social do contrato previsto no
art. 421 do Código Civil Concorrência desleal caracterizada - Inteligência do art.
209 da Lei n° 9.279/96 - Danos materiais devidos - Abrangência de todos os
gastos com materiais publicitários inutilizados (encartes e folders) e com espaços
publicitários comprovadamente adquiridos e não utilizados pela recorrente, tudo
a ser apurado em liquidação Dano moral - Possibilidade de a pessoa jurídica
sofrer dano moral - Súmula 227 do Colendo Superior Tribunal de Justiça - Ato
ilícito da requerida que gerou patente dano moral e à imagem da requerente -
Sentença reformada Ação procedente em parte - Recurso parcialmente provido.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por todo o exposto, infere-se que o os princípios contratuais devem ser analisados,
conforme a doutrina moderna, de maneira mais abrangente, englobando assim como parte
do contrato, não somente os subscritores, e sim a sociedade como um todo.
O princípio da boa-fé objetiva é uma regra de comportamento, que impõe ao contratante
agir com lealdade, e que corrija eventuais vícios do contrato, inclusive perante terceiros.
Já em relação ao princípio da função social do contrato, é instituído um contrato pela
expectativa social, ou seja, pelo solidarismo, onde devem ser levados em conta o princípio
da dignidade humana e da justiça social.
Oferece este princípio, uma observância dos interesses da coletividade, onde os
contratantes não tem total liberdade de contratar como outrora, representando assim, uma
flexibilização do principio da autonomia das vontades.
Desta mesma forma, este princípio passou a atingir terceiros, por consequência gerando a
mitigação do princípio da relatividade dos efeitos dos contratos, onde os efeitos contratuais
prenderiam apenas as partes contratantes, não tendo reflexos em terceiros.
O ato das vontades dos contratantes recebe tutela jurídica, desde que atenda aos princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana, e do solidarismo social, e recebe limites
pela apliação da função social do contrato.
Oferece também, este princípio, a função de promoção de valores básicos do ordenamento.
Desta forma, a proteção do Estado não se limita às partes contratantes. Além da proteção
das pessoas envolvidas, para que seus interesses não sejam “devorados”, diante da
inferioridade social, é exigindo dos contratantes um comportamento transparente, digno,
em vista da dignidade da pessoa humana.
Além desta função, o princípio atua no sentido de criar relações equilibradas socialmente,
sem que gere efeitos negativos à toda coletividade, traduzindo-se em segurança de
aplicação dos direitos sociais, e em um ideal de justiça social.
Revisitando a função social, concluímos duas formas de produção de efeitos, se referindo
aos próprios contratantes, fundado na boa-fé, e outro efeito, conectado a coletividade
anônima, devendo esta ultima se portar, tanto de maneira ativa como passiva. Sendo de
maneira passiva, não sendo atingida pelos contratos alheios, e de outro modo devendo se
abster de interferir nos contratos alheios.
REFERÊNCIAS
AGUIAR JUNIOR, Ruy Rosado de. Projeto do Código Civil: as obrigações e os contratos.
COSTA, Judith Martins. Notas sobre o princípio da função social dos contratos.
Disponível em: http://www.realeadvogados.com.br/pdf/judith.pdf.
REALE, Miguel, O projeto de código civil: situação atual e seus problemas fundamentais.
São Paulo: Saraiva, 1986.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: parte geral.12.ed.- São Paulo: Atlas, 2012.
______. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13.ed.- São
Paulo: Atlas, 2013.
______. Direito Civil: contratos em espécie. 13.ed.- São Paulo: Atlas, 2013.