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DIREITO MÉDICO: OS ASPECTOS PROCESSUAIS DA RESPONSABILIDADE

CIVIL POR ERRO MÉDICO1

Dyones Cleve Pereira2


Anderson Ferreira da Costa3

1. Trabalho apresentado a Faculdade de Rolim de Moura – FAROL, como requisito final de avaliação para
conclusão do curso de graduação em Direito, dezembro 2020.
2. Acadêmico concluinte. E-mail: dyonescleve@hotmail.com
3. Professor orientador graduado em Direito, Pós-Graduado em Direito Civil e Direito Processual Civil; Mestre
em Ciências Militares.

Resumo
O presente artigo é resultado da pesquisa realizada, tendo em vista o trabalho de conclusão de curso de Direito,
cujo tema principal é o direito médico: aspectos processuais da responsabilidade civil por erro médico. O erro
médico atualmente é um dos grandes destaques na medicina, de tal forma que se faz importante a análise da
responsabilidade civil do médico. Por esta razão, o presente estudo busca descrever o que é erro médico?
Levando-se em questão a natureza jurídica, assim como,definir a obrigação de meio e de resultado, e o vínculo
contratual.

Palavras-chave: Responsabilidade Civil, Infrações, Direito Médico.

ASBTRACT
Medical law: the procedural aspects of civil liability medical error. This article is the result of the research
carried out, with a view to concluding the graduation law course, whose has which main theme is medical law:
procedural aspects of civil liability for medical error. Medical error is nowadays one of the biggest featured in
medicine, in such a way that the analysis of the doctor's civil liability is important of been studied. For this
reason, the present study seeks to describe what is a medical error. Bring into question the legal nature, even as,
define the obligation of means and results, and the contractual bond.

Keywords: Civil Responsibility. Infractions. Medical Law.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a medicina é considerada um fato social, uma vez que social e público é o
interesse da sociedade pela saúde. A medicina possui um conhecimento acumulado, cujo,
desenvolvimento traduz-se em condutas ou procedimentos a serem analisados pela classe
médica.
A atividade médica tem o objetivo de propiciar ao paciente a saúde espiritual e física,
tanto que não mede esforços para atender à necessidade do mesmo, e muitas vezes não é a
cura que o paciente procura, mas sim o bem estar decorrente do aperfeiçoamento estético e
por conseguinte acaba se deparando com um erro médico. A responsabilidade médica é um
assunto que vem sendo recentemente debatida, seja no campo civil, penal e ético. No campo
do Direito Médico, o erro médico assume lugar de destaque, visto que na prestação de
serviços médicos há sempre vício no procedimento, e esse, por conseguinte resulta em danos
ao ofendido.
Apesar de ser um tema polêmico, a responsabilidade civil médica tem sido
2

determinante para imputação de infrações a estes profissionais, a exemplo consta o aumento


de 150% em açõestramitadas junto ao Superior Tribunal de Justiça - STJ nos últimos 2 anos
conforme relata Kfouri (2018, p.13).
Neto (2002, p.153) descreve ainda que “ao tratar de matéria de erro médico a uma
regra a ser respeitada, qual seja, todas as vezes que a saúde ou a integridade física do paciente
são colocadas em risco, o médico deve renunciar ao objetivo, independente da vontade do
próprio interessado”.
Diante disso, o objetivo principal é estabelecer a responsabilidade que envolve erro
médico, além de distinguir a obrigação de meio e de resultado, para compreender o processo
pelo qual se estabelece o vínculo contratual. Para tal, foi realizado, a análise doutrinária com
pesquisa bibliográfica e o levantamento de julgados de Acórdãos dos Recursos de Apelação,
através de pesquisa de jurisprudência disponível no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado
de Rondônia.
Justifica-se o presente estudo por se tratar de um tema a ser abordado onde é
juridicamente relevante, pois observa-se que a responsabilidade civil do médico vem sendo
analisada de forma mais branda pela doutrina nacional, ao longo da evolução histórica da
sociedade. Em tempos remotos, opróprio erro médico, era desprovido de responsabilidade ou
até mesmo atenuado como fatalidade em busca cura. Atualmente, não mais procede tal
entendimento, pois esta espécie de serviço médico é pratica comum, dominada pela técnica
medica.
A busca incessante pelo modelo ideal de forma física é um exemplo de procedimento
que converte a prestação de serviço médicoem objeto de consumo passivo de
responsabilidade civil, o que exige dos profissionais da medicina maior atenção à ética
médica, a fim de evitar a realização de procedimento contrários da mesma. Além disso, cabe
ressaltar que o presente trabalho não tem a finalidade de solucionar o impasse jurídico em
torno da questão e sim o de esclarecer aspectos relevantes que se torna importantes para o que
o paciente ou mesmo o médico utilizem em prol a sua defesa.
O Código Civil traz em seu bojo a responsabilidade civil, entre essa modalidade
encontra-se várias espécies, este estudo verificou a responsabilidade civil médica quando se
tratar de erro médico, analisando se a questão da obrigação é de meio ou resultado, como
também se há relação contratual incide no vínculo.
Para consolidar a teoria e a prática propõe-se uma conexão delas, pois o referencial
teórico irá fomentar a dinâmica observada. Enquanto a pesquisa bibliográfica e os dados
oficiais fundamentam a problemática levantada.
3

2. RESPONSABILIDADE CIVIL

Para um entendimento mais amplo faz-se necessário um breve embasamento do que é


a responsabilidade civil.
Rodrigues (2002, p.06), define a responsabilidade civil sendo “a obrigação que pode
incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de
pessoas ou coisas que dela dependem”.
Disso resulta concluir que a responsabilidade é a fórmula jurídica concebida para criar
um vínculo entre alguém que viola um direito e outrem a quem se cria um direito decorrente
dessa violação, independentemente de declaração de vontade dirigida a esse feito. Sobre o
tema, Diniz (2010, p.34) diz que:

“A responsabilidade civil é a aplicação de medida que obriguem alguém a reparar


dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado,
de pessoa por quem ele responde, por alguma coisa por ela pertencente ou de
simples oposição legal. Definição esta guarda, em sua estrutura, a ideia da culpa
quando se cogita da existência de ilícito (responsabilidade subjetiva), e a do risco,
ou seja, da responsabilidade sem culpa (responsabilidade objetiva).”

Se alguém intencionalmente causa-se danos ao patrimônio de outrem, o entendimento


da sociedade é que impõe a obrigação de reparar ao lesado os prejuízos causados. Como
fundamento da responsabilidade Assis Neto; Jesus; Melo (2017, p.858) aponta duas teorias: a
teoria subjetiva e a objetiva.
A teoria da responsabilidade subjetiva é fundadana culpa. Conceituada “como aquela
em que se exige a efetiva presença e demonstração de culpa (dolo, negligência ou
imprudência)”. Em suma, é aquela prevista genericamente pelo artigo 186 Código Civil.
Por outro lado, na responsabilidade objetiva,basta provar o nexo de causalidade entre o
dano e o ato principal.Conceituada “como modalidade de responsabilidade que prescinde da
demonstração da culpa para que se possa exigir a indenização do causador do prejuízo”. Neste
caso, o fundamento é o parágrafo único, doartigo 927 Código Civil.

3. RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICO

No ensinamento de Andorno (1993, p.225) a responsabilidade médica é “uma


ramificação importante da responsabilidade profissional. É uma modalidade de
responsabilidade que lança raízes em uma conduta culpável ou negligente derivada do
exercício da profissão médico”.
Observa-se que a responsabilidade do profissional liberal está baseada na culpa, o que
4

se vislumbra, inclusive, no parágrafo 04º do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor1.


O entendimento majoritário doutrinário acolhe a responsabilidade médica sendo de
natureza contratual, visto que, os profissionais estão ligados aos seus clientes por vínculo
contratual. Neste sentido, Diniz (2010, p.319)afirma que a responsabilidade “é contratual, por
haver entre ele e seu cliente um contrato, que se apresenta como uma obrigação de meio, por
não comportar o dever de curar o paciente, mas de prestar os cuidados conscienciosos e
atentos conforme os progressos da medicina”.
Por derradeiro, o médico responde por seus erros desde as mais antigas legislações, e
as suas modalidades, responsabilidade esta elencada no artigo 951 do Código Civil e
concomitantemente no artigo 29 do Código de Ética Médica2.
Além do mais, ao praticar infrações, o médico poderá ser enquadrado como
negligente caso venha ocorrer uma falta de cuidado ou desleixo relacionado a uma situação.
imprudente quando consistir em uma ação que não foi pensada, feita sem precauções. E por
fim, imperito na falta de habilidade específica para o desenvolvimento de uma atividade
técnica ou científica.
Nesse diapasão Giotri (2004, p.43-44) esclarece que:

“Para que ocorra a responsabilidade médica se faz necessário, cinco elementos: o


agente (que é o médico); o ato profissional (ocorrido no exercício da profissão); a
culpa (imperícia, imprudência ou negligencia); o dano (que pode abranger desde o
agravamento da doença, uma lesão, até a morte) e por último, a relação de causa e
efeito entre o ato e o dano (a ação ou omissão do médico que gerou o dano).
A culpa se diz respeito aquele tipo de erro de conduta moralmente imputável, é um
equívoco que não seria cometido por outro profissional do mesmo ramo, se tivesse
na mesma circunstância. O dano é o resultado prejudicial advindo da ação ou
omissão do médico. Por imperícia, imprudência ou negligencia, o profissional pode
colocar a vida do paciente em risco, variando aquele dano desde uma pequena lesão,
uma perturbação de qualquer etiologia, até a morte. Quando a relação causal entre o
ato e o dano é o indispensável nexo, entre a causa e o efeito, que deve existir entre o
ato do médico e o prejuízo ocorrido, uma conditio sinequa non para que aquele
profissional possa a ser responsabilizado.”

Todo o profissional, independentemente da área de atuação, tem por obrigação de


possuir os conhecimentos fundamentais, para o exercício de sua profissão sejam eles práticos
e teóricos no intuito de atuar de forma cautelosa, e adequada, para minimizar qualquer tipo de
intercorrência em seus clientes.

4. ERRO MÉDICO

1
§4 - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
2
Art.29 – Praticar atos profissionais danosos a paciente, que possam ser caracterizados como imperícia,
imprudência ou negligência.
5

A responsabilidade civil dos médicos por danos causados no exercício regular da profissão é
auferida a verificação da culpa mediante a três modalidades, a imprudência, a negligência ou
imperícia, previstas no parágrafo 04º do artigo 14 Código de Defesa do Consumidor
conjugado ao artigo 951 Código Civil.
Assim, Sebastião (2003, p.89) defini o que é erro médico, senão vejamos:

O médico tem o dever de agir com diligência e cuidado no exercício da sua


profissão, exigíveis de acordo com o estado da ciência e as regras consagradas pela
pratica médica. E o que o médico deve esclarecer o seu paciente sobre a sua doença,
prescrições a seguir, riscos possíveis, cuidados com o seu tratamento,
aconselhamento, a ele e a seus familiares sobre as precauções essenciais requeridas
pelo seu estado. O descumprimento de quaisquer desses deveres, gerando prejuízo
material ou imaterial ao paciente, tem recebido a denominação de erro médico, ou
seja, erro médico é a conduta voluntária ou involuntária, direta ou indireta,
caracterizada como conduta profissional imperita, imprudente ou negligente, que
causa dano ao paciente.

Portanto, o erro médico é decorrente de uma conduta profissional inadequada que


ocasionou dano ao paciente. Ademais, a responsabilização desse profissional é auferida em
três formas diferentes de processo, o administrativo junto ao conselho de classe, o judicial
cível e o judicial criminal, onde o médico enfrentará de forma independente.

5. OBRIGAÇÃO DE MEIO E RESULTADO

Na lição de Neto (2002, p.148) a obrigação de meio “ocorre quando o médico, que se
obriga a envidar seus melhores esforços e usar de todos os meios indisponíveis à obtenção de
cura do doente, mas sem jamais assegurar o resultado, ou seja, a própria cura”.
Na obrigação de meio, o médico se obriga apenas a utilizar os meios apropriados à
obtenção do resultado buscado pelo paciente, não se encontram vinculadas a um resultado
certo e determinado a ser produzido por aquele, ou seja, exige-se somente a atividade
aplicada.
Neto (2002, p.148) sopesa que “na obrigação de resultado, o médico se obriga a
alcançar determinado fim sem que a qual não terá cumprido sua obrigação, ou ele consegue o
resultado avençado ou arcará com as consequências”.
Neste caso, as obrigações de resultado são aquelas com a efetiva produção de
resultado, que será sempre certo e determinado, ou seja, o médico se obriga a desempenhar
um ato predeterminado e com resultado preciso.
Ademais, as parcerias realizadas entre médicos e pessoas jurídicas, a responsabilidade
de ambos será solidária, ou seja, um responderá pelos atos do outro em igual intensidade.
6

Neste caso, a obrigação é uma espécie múltipla, onde concorre a presença de mais de um
sujeito em um ou ambos os polos da relação obrigacional e assegurando a reparação,
conforme disposto no artigo 942 Código Civil.
A doutrina e jurisprudência na atualidade classifica as especialidades cirurgia plástica,
análises clinicas, clínica médica, anestesiologia e radiologia, sendo como obrigação de
resultado3.

6. INDENIZAÇÃO PELO DANO CAUSADO

Bittar (2004, p.9) esclarece que “dano é prejuízo. É a diminuição de patrimônio ou


detrimento às afeições legitimas. Todo ato que diminua ou cause menoscabo aos bens
materiais ou imateriais pode ser considerado dano”.
A indenização mede-se pela extensão do dano, de acordo com artigo 944 do Código
Civil4, assim como, é tido como um direito fundamental, previsto artigo 05º, inciso V e X da
Constituição Federal5.
O direito brasileiro admite a indenização por danos materiais que enseja na reintegração
pecuniária, compreendem a recomposição do prejuízo correspondente aquilo que o paciente
efetivamente perdeu em razão do ato médico, e a reparação por danos morais, é aquela de
cunho psíquico, moral e intelectual da vítima, englobando também os direitos à imagem,
privacidade, ao corpo, entre outros, pois não restringe somente ao caráter psicológico, esse
dano incidi em sanção civil direta ao ofensor ou reparação da ofensa.

6.1 Perda de uma chance

Ao lado do dano emergente e do lucro cessante, têm-se falado de forma efetiva sobre a
perda de uma chance, sendo como mais uma espécie de dano na atualidade. Não se tem
admitido, em geral, a ressarcibilidade do dano eventual, pois sua verificação depende da

3
https://jus.com.br/artigos/36518/responsabilidade-civil-medica-obrigacao-de-meio-x-obrigacao-de-
resultado#:~:text=Assim%20a%20%C3%A1lea%20da%20atividade,anestesia%2C%20an%C3%A1lises%20cl
%C3%ADnicas%20e%20radiologia.
4
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização.
5
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou
à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
7

ocorrência de evento de caráter futuro e incerto. No entanto, o dano eventual, pode ser
indenizável, inclusive com acolhimento pela jurisprudência do STJ, na hipótese de perda de
uma chance por erros médicos, a qual ocorre quando, diante de uma determinada situação
jurídica em que há extrema probabilidade de êxito e ganho de vantagem, a vítima sofre a
perda dessa chance.
Como requisito para aplicação da teoria da perda de uma chance temos: a) ato ilícito
ou lícito; b) extrema probabilidade de que a vítima auferiria a vantagem decorrente da
oportunidade da qual foi privada; c) nexo de causalidade entre o ato do agente e a perda de
uma chance.
Sobre o último requisito, é importante frisar que a adoção da teoria da perda de uma
chance não atua na mitigação da causalidade direta exposta no artigo 403 do Código Civil.
Não se trata de responsabilizar o sujeito por dano que tenha decorrido indiretamente da sua
conduta, mas sim de considerar que, pela sua atuação, culminou por, de fato, privar a vítima
de ter acesso à oportunidade o que lhe causou prejuízo.
ORecurso Especial 1.291.247-RJ, proveniente informativo 549 STJ 6, a Ministra Nancy
Andrighi frisou que “tem direito a ser indenizada, com base na teoria da perda de uma chance,
a criança que, em razão do preposto da empresa contratada por seus pais para coletar o
material no momento do parto, não teve recolhidas as células-tronco embrionárias.”

6.2 Iatrogenia

Castro (2005, p.30) descreve iatrogenia sendo “vocábulo composto a partir de dois
radicais gregos. O primeiro dele significa médico e o segundo geração, o que faz a junção
deles indicar tudo o que seja causado pelo médico”.
A iatrogenia é um prejuízo inevitável, provocado por ato médico em pacientes sadios
ou doentes, cujos transtornos são irreversíveis e inesperados, de forma consciente na tentativa
de curar a patologia do paciente. Via de regra essa lesão, não gera a responsabilidade para o
médico e hospital. Barros Junior esclarece (2007, p.65)

“A lesão iatrogênica, equiparada ao caso fortuito em matéria médica, é aquela causada


pelo atua correto do esculápio, em absoluta observância das normas e dos princípios
ditados pela ciência medica. Na lesão iatrogênica, há evidente nexo causal, porem há
carência de força jurídica capaz de impor a obrigação indenizatória”.

6
vide informativo de jurisprudência n. 549 – STJ. Direito civil. aplicabilidade da teoria da perda de uma chance
no caso de descumprimento de contrato de coleta de células-tronco embrionárias. Brasília - DF, STJ
2014.disponível em:< https://scon.stj.jus.br/scon/searchbrs?b=infj&tipo=informativo&livre=@cod=
%270549%27>.acesso em: 02 set. 2020, às 10h35min.
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Deste modo, fica nítido os resultados iatrogênicos só podem ser responsabilizados


quando descumpridos o dever de informação ou quando resultar de uma omissão ou atuação
culposa.

6.3 Cláusula de não indenizar

A cláusula de não indenizar na responsabilidade contratual é válida, desde que não


haja legislação ao contrário. As partes da qual se previnem de danos e uma delas
expressamente renuncia ao direito que eventualmente pode surgir da responsabilidade civil
decorrente da falha no cumprimento da prestação pactuada.
Por obviedade, a cláusula de não indenizar não pode atingir o núcleo da prestação
contratada, isentando o devedor de cumpri-la, sob pena de se caracterizar como condição
contraditória, de acordo com artigo 122 do Código Civil 7, que priva o negócio jurídico de seus
efeitos.

7. METODOLOGIA

A pesquisa será desenvolvida com a finalidade de um estudo descritivo, de análise


transversal com abordagem qualiquantitativa, por melhor atender os objetivos propostos.
Neste sentido, será utilizado como fundamento, a apreciação pretérita dos Acórdãos dos
Recursos de Apelação, através de pesquisa de jurisprudência disponível no âmbito do
Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, no período compreendido entre 2017 a 2019.
Primeiramente, optou-se por realizar a pesquisa bibliográfica sobre o tema proposto,
onde será analisado a evolução da responsabilidade civil, bem como descrever a
responsabilidade civil médico. Para tanto, será utilizado preliminarmente revisão sobre o que
disserta as melhores doutrinas sobre o tema, com o objetivo de esclarecer seus conceitos
jurídicos em relação ao assunto.
Segundo Markoni e Lakatos (2014, p. 27) a pesquisa bibliográfica trata-se de um
levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações
avulsas e impressas escritas. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com
tudo aquilo que sobre um determinado assunto, com o objetivo de permitir ao cientista “o
reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de informações”.

7
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes;
entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro
arbítrio de uma das partes.
9

Posteriormente, em um segundo momento, será analisado os Acórdãos dos Recursos


de Apelação decorrente de erros médicos para uma construção estatística, a qual será
organizada em uma planilha idealizada para essa finalidade e os resultados expressos pela
estatística descritiva em frequência absoluta e relativa, e sendo apresentados por meio de
tabela e gráfico.
Segundo Richardson (1999, p.124), a pesquisa quantitativa é caracterizada pelo
emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no
tratamento delas por meio de técnicas estatísticas.
Neste sentindo, nos ensina Gil (2017, p.39), que pesquisas do tipo documental são
aquelas cujas informações, são documentos internos de uma determinada instituição ou base
de dados.
Na pesquisa, a palavra-chave usada para a busca foi “responsabilidade civil por erro
médico”, ao qual foi obtido resultado de 449 julgados. Após a leitura, foram excluídos agravo
de instrumento, embargos de declaração, recurso inominado, ações previdenciárias, demandas
por medicamentos.
Ao final, o resultado das mesmas, consolidou-se em 98 julgados, que será
apresentado por ano e por conseguinte, a identificação das especialidades com maiores
frequências por erro médico, classificar os tipos de atendimentos com maiores reiterações por
erro médico e por fim, relatar quais os tipos de infrações denunciadas.

8. RESULTADOS

O resultado da pesquisa é a análise de Acórdãos dos Recursos de Apelação


relacionados à responsabilidade civil por erro médico, no âmbito do Tribunal de Justiça do
Estado de Rondônia, no lapso temporal compreendido entre 2017 a 2019. Assim, os processos
foram fragmentados por períodos de ano: 17 pertencem ao ano 2017; 11 pertencem ao ano
2018; e 70 pertencem ao ano 2019; totalizando 98 Acórdãos (Gráfico 1).
10

Acórdãos dos recursos de apelação - TJRO

17%

11%

71%

2017 (n = 17) 2018 (n = 11) 2019 (n = 70)


Gráfico 1 – Distribuição de processos judiciais tramitados entre 2017 a 2019
Fonte: Próprio autor (2020)

O (Quadro 1) mostra a identificação das especialidades com maiores frequências por


erro médico encontradas nos Acórdãos analisados entre os períodos compreendidos de 2017 a
2019. Os processos foram sedimentados em pôr especialidades em ordem decrescente: 32
Ginecologia e Obstetrícia; 21 Cirurgia Geral; 18 Pediatria; 15 Ortopedia; 8 Cirurgia Plástica;
4 Outras.

Quadro 1 – Distribuição de especialidades médicas por erro médico


Acórdãos dos recursos de apelação – TJRO
Especialidades Frequência – n (%)
Ginecologia e Obstetrícia 32 (32,65%)
Cirurgia Geral 21 (21,42%)
Pediatria 18 (18,37%)
Ortopedia 15 (15,30%)
Cirurgia Plástica 8 (8,17%)
Outras 4 (4,09%)
Fonte: Próprio autor (2020)

Os tipos de atendimentos médicos relacionados as especialidades foram classificadas


em três grupos (A, B e C), cada um com as suas características de ingresso em ordem
decrescente: o Gráfico 2 A 67 usuários do atendimento público e 31 usuários de atendimento
em redes particulares. Gráfico 2 B 70 usuários buscaram socorro em unidades de urgência, 20
em emergência e 8 em atendimentos eletivos. Gráfico 2 C 49 usuários foram submetidos a
intervenção cirúrgica, 32 a tratamentos clínicos e 17 a tratamentos eletivos.
11

A B C

8% 17%

33% 20%
50%

71% 33%
67%

Eletivo (n = 8) Cirúrgico (n = 49)


Público (n = 67) Emergência (n = 20) Clínico (n = 32)
Privado (n = 31) Urgência (n = 70) Eletivo (n = 17)
Gráfico 2 – Distribuição dos tipos de atendimentos médicos relacionados com as especialidades denunciadas
Fonte: Próprio autor (2020)

Dos Acórdãos analisados, a causa de pedir fundam-se em tipos de infrações que ao


qual os profissionais estavam sendo denunciados e que serão relatadas em ordem decrescente
no Quadro 3: 39 denúncias relacionadas negligência; 27 imperícias; 18 imprudências; 10
erros de diagnóstico e 4 iatrogenias.

Quadro 3 – Distribuição dos tipos de infrações médicas denunciadas


Acórdãos dos recursos de apelação – TJRO
Especialidades Frequência – n (%)
Negligência 39 (39,8%)
Imperícia 27 (27,5%)
Imprudência 18 (18,4%)
Erro de Diagnóstico 10 (10,2%)
Iatrogenia 4 (4,0%)
Fonte: Próprio autor (2020)

9. DISCUSSÃO

Na atualidade, o tema erro médico é tendência de nos processos de judicialização,


tendo como maior expoente os resultados encontrados na pesquisa, onde observa-se que o a
falta de condições de trabalho, principalmente no setor público influência na dimensão da
atuação médica.
Há uma tendência destes profissionais no sentido de preocupar-se com as implicações
jurídicas no âmbito laboral, uma vez que, o conflito da temática de erro médico para classe
médica, muitas vezes, se vê acuada ao exercício profissional.
12

Ademais, Kfouri (2018, p.12), descreve que não se pode omitir que o exercício da
medicina, não está alheio a infortúnios. É necessário questionar não só a quem, como também
as condições em que será imputada a respectiva responsabilidade.
Tendo em vista a maior conscientização da população acerca de seus direitos, tem
deteriorado a relação médico-paciente, e em consequência as demandas relacionadas
negligência, imprudência ou imperícia, tem mostrado elevado índice de denúncias.
Em outras palavras, manter a boa relação médico-paciente é a melhor maneira de
prevenir denúncias.
Conforme descreve o artigo 5º do Código de Ética Médica: são princípios
fundamentais do médico “aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do
progresso científico em benefício do paciente”.
Ou seja, como descreve Kfouri (2018, p.12), apenas ponderando a real causa, ou todas
as causas que colaboraram para a ocorrência do dano, é que poderão ser imputadas as devidas
responsabilidades.

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise dos aspectos que abrangem a responsabilidade civil do profissional


médico, podemos analisar a falha na prestação dos serviços que acarreta erro médico, assim
como apreendemos que no direito tudo sempre dependerá da apreciação do caso concreto.
Na responsabilidade civil, a obrigação assumida pelo profissional é meio, pois não terá
como garantir o resultado, pois para que o sucesso seja obtido, o profissional dependerá de
como o paciente irá reagir aos medicamentos, repouso etc.
A relação entre médico e paciente poderá nascer de uma emergência, o que distingue
uma relação extracontratual ou poderá ocasionar em um consultório, sendo neste caso uma
relação contratual podendo ser (explicita ou implícita).
Embora haja diversas atividades médicas, o Código de Ética Médica, institui que ao
médico que atuar com negligência, imprudência ou imperícia deverá reparar o dano, deste
modo o médico deverá agir com toda competência, lembrando sempre seus deveres e direitos,
jamais se esquecendo de respeitar o direito e deveres dos seus pacientes.

REFERÊNCIAS

ASSIS NETO, Sebastião; JESUS, Marcelo de; MELO, Maria Izabel de.Manual de direito
civil: volume único. 6. ed. – rev. amp. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2017.
13

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília - DF,


Senado, 1988. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>Acesso em:18 set.
2020,às 16h37min.

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Lei nº 8.078/1990. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm> Acesso em:18 set. 2020,às 16h37min.

BRASIL. Código de Ética Médica. Resolução do CFM nº 1.931/2009. Disponível em:


<http://www.portalmedico.org.br/novocodigo/integra_preambulo.asp> Acesso em: 18 jun.
2020, às 16h37min.

DA ROSA, Amanda Borges. Responsabilidade civil do médico por iatrogenia. Rio Grande
do Sul: PUC, 2016. Disponível em: <http://www.pucrs.br/direito/wp-
content/uploads/sites/11/2017/03/amanda_rosa_2016_2.pdf> Acesso em: 18 set. 2020, às
16h37min.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 26. Ed.
São Paulo: Saraiva, 2012

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

KFOURI NETO, Miguel. Culpa Médica e Ônus da Prova. São Paulo: Revista dos
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KFOURI NM. Responsabilidade civil do médico. 9 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
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MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho


científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações
e trabalhos científicos. 7. ed. – 6. reimpr. São Paulo: Atlas: 2011.

MELO, Nehemias Domingos de. Responsabilidade Civil por Erro Médico: Doutrina e
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MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 2. Ed. Rio de
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RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.


APÊNDICE

Relatório de processos Recursos de Apelação pesquisados no âmbito do Tribunal de


Justiça do Estado de Rondônia, no período compreendido entre os anos de 2017 a 2019:
14

Ano 2017 Ano 2018 Ano 2019


1 0011381-96.2012.8.22.0001 0000794-17.2014.8.22.0010 7001401-40.2016.8.22.0009
2 0182960-64.2002.8.22.0001 0000620-11-2010.8.22.0022 7009997-34.2016.8.22.0002
3 0006129-31.2011.8.22.0007 0015499-52.2011.8.22.0001 7001613-46.2016.8.22.0014
4 0014000-93.2012.8.22.0002 0013209-59.2014.8.22.0001 7007333-30.2016.8.22.0002
5 0245479-31.2009.8.22.0001 0009053-59.2013.8.22.0002 0001828-02.2015.8.22.0007
6 0001667-31.2011.8.22.0007 0044176-63.2009.8.22.0001 0003333-39.2012.8.22.0005
7 0005650-56.2011.8.22.0001 0000600-11.2010.8.22.0022 0004079-14.2015.8.22.0000
8 0002563-88.2013.8.22.0012 0009519-90.2018.8.22.0014 0001112-90.2015.8.22.0001
9 0129197-04.2009.8.22.0002 0030050-76.2003.8.22.0014 0008149-30.2013.8.22.0005
10 0002713-98.2010.8.22.0004 0002821-65.2012.8.22.0002 7004327-06.2016.8.22.0005
11 0012190-52.2013.8.22.0001 0009709-53.2012.8.22.0001 0003108-54.2014.8.22.0003
12 0003964-81.2015.8.22.0003 7011790-11.2016.8.22.0001
13 0005761-17.2014.8.22.0007 0014571-84.2014.8.22.0005
14 0019771-21.2013.8.22.0001 0001694-34.2013.8.22.0010
15 0007528-45.2013.8.22.0001 7035694-26.2017.8.22.0001
16 0006652-22.2015.8.22.0001 0017480-11.2014.8.22.0002
17 0147092-03.2008.8.22.0005 7003192-29.2016.8.22.0014
18 7002844-26.2016.8.22.0009
19 7011790-11.2016.8.22.0001
20 0001694-34.2013.8.22.0010
21 7035694-26.2017.8.22.0001
22 0012445-32.2012.8.22.0005
23 0016856-59.2014.8.22.0002
24 7005222-73.2016.8.22.0002
25 0014571-81.2014.8.22.0005
26 7001294-20.2016.8.22.0001
27 0012806-32.2010.8.22.0001
28 0004639-32.2015.8.22.0007
29 7027363-26.2015.8.22.0001
30 7002328-51.2017.8.22.0015
31 0003642-92.2014.8.22.0004
32 7005328-14.2016.8.22.0009

Pareceres:
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