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WimMalgo

PO-
ê

DE] ESOS
CitlSTO
Um comentário
para a nossa época
f.
,. Volume I
Capítulos 1-5

~~ria
cChamada da Me1ã·NoItet
Caixa Postal 1688 o 90000 PortoL\\egre-RS o Brasil
Tradução do original em alemão:
"Offenbarung Jesu Christi",

publicado pela
Editora "Grosse Freude",
Zurique/Suíça

Tradutor: Ingo Haake

Obra Missionária
Chamada da Meia·Noite
Porto Alegre-RS/Brasil

ISBN: 3858100536
Número para pedidos: 19324

Impresso em oficinas próprias

"Mas, à mela-nolte, ouviu-se um grito:


Eis o noivo! sai ao seu encontro" (Mt
25.6).

A "Obra Missionária Chamada da Meia-


Noite" é uma missão sem fins lucrati-
vos, que crê em todaa Bíbliacomo infalí-
vel e eterna Palavra de Deus (2 Pe 1.21).
Sua tarefa é alcançar todo o mundo com
a mensagem de salvação em Jesus Cris-
to e aprofundar os cristãos no conheci-
mento da Palavra de Deus, preparando-
os para a volta do Senhor.
Dedicado à minha querida mulher e fiel
companheira de lutas, [ohanna Maria Malgo-
Schouten.

'r1


índice página

Prefácio 7
Introdução 9
Eis que vem com as núvens (Ap1.1-7) 13

Jesus Cristo e a Igreja em glória (Ap 1.8-20) 24

As cartas às sete igrejas (Introdução) 34


A primeira carta do céu (Ap2.1-7) 35
A segunda carta do céu (Ap 2.8-11) 44
A terceira carta do céu (Ap 2.12-17) 52
A quarta carta do céu (A P 2.18-29) 63
A qui nta carta do céu (Ap3.1-6) 75
A sexta carta do céu (Ap3.7-13) 85
A sétima carta do céu (Ap3.14-22) 94
Uma magnífica visão do céu (Ap4) 105
João arrebatado ao céu em espírito 106
Os vinte e quatro anciãos 110
Os sete espíritos de Deus 111
O mar de vidro 112
Os quatro seres viventes 113
O Cordeiro e o livro selado (Ap5) 116
A adoração do Cordei ro 125
Prefácio
o Apocalipsede Jesus Cristo somente podeservisto e compreendi-
do em espírito (Ap 1.10), poiseletem sua origemem Deusmesmo.
Ele deu-o a Jesus Cristo, "Para mostrar aos seus servos as cousas
que em breve devem acontecer" (cap. 1. la). Qualquer pesquisa do
Apocalipsesomente com o raciocínio humano levaforçosamente a
desvios, sim, ela obscurece o Apocalipse (1 Co 1.21). Todo aquele
que estuda o Apocalipseem espírito e depois ouve de comentado-
res expressões como: "Isso tem origem na tradição judaica" ou
"Aqui temos uma comparação com esse ou aquele costume
pagão", etc., registra esse obscurecimento daquilo que o Senhor
quer dizer. Mas aquele que subordinaseu raciocínio ao Apocalipse
de Jesus Cristo, abrindo e lendoesse último livroda Bíblia em men-
talidade simples, humilde e em oração, esse recebe maravilhas. Seu
espírito é iluminado peloEspírito Santo, seu raciocínio é santifica-
do e seu coração e sua mente ficam cheios da profunda e alegre cer-
teza: nosso Senhor vem em breve! Essa foi e é minha experiência
pessoal no estudo do Apocalipse, sendo que a infinita plenitude do
conselho de Deus que se-nos mostra, leva ao reconhecimento hu-
milhante, que todo nosso conhecimento é em parte (1 Co 13.9), e
que por isso uma vida humananão é suficiente paraestudara Pala-
vra de Deusem geral e o Apocalipseem particular, nasua inesgotá-
vel profundezadivina (1 Co 2.10). Porisso é minha oração sincera,
que a ajudanesteprimeiro volume possa servirparaque todo leitor
crentecresça no conhecimento do amor de Cristo, que excede todo
entendimento (Ef 3.19). Assim, quando ele vier, todos nos alegra-
remos "com alegria indizível e cheia de glória" (1 Pe 1.8). Pois o
emocionante é o grandioso fato, que as coisas, juízos e aconteci-
mentos, que nos são mostrados no Apocalipse, começaram a
acontecer (Lc 21.31). Por isso publicamos estevolume com o subtí-
tulo "Um comentário para a nossa época". Estou consciente que
existem muitos comentários sobre o Apocalipse, dentre eles em
partebons e muito bons. Mas a pregação do evangelhoe também a
explicação da palavra profética deve acontecer "através de muitas
testemunhas". Induziu-nos a escrever esta obra também o pensa-

7
mento de que o arrebatamento pode acontecer a qualquer momen-
to. E quando então as vozes das testemunhas de Jesus estiverem ca-
ladas, a palavra impressa poderá - e queira! - continuar falan-
do. Nosso Senhor virá em breve!

Pfiiffikon (Zurique/Suíça),
em novembro de 1980.

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Introdução
No Apocalipse Deus mesmo escreve a História. E porque é o
Eterno e paraele tudo - passado, presente e futuro - é eterno
presente, ele escreve a História do futuro. Assim, para Deus os
negros tempos finais, o grande drama humano, já é presente e
realizado. Joãovêo contexto eterno a partir dessaelevada pers-
pectiva. Admitimos somente condicionalmente a divisão crono-
lógica do Apocalipse. Condicionalmente porque a Eternidade
por um lado não pode serclassificada no tempo, mas por outro
ladorealiza-se no tempo. Aí o raciocínio, que querter tudo orde-
nado segundo a lógica humana, entraem conflito comdois fatos
opostos: como conselho eterno de Deus, queestá estabelecido,
e comsuarealização temporal, ou seja, nos tempos finais. A Igre-
ja de Jesus é um organismo, o corpo de Cristo. Mas também o li-
vro do Apocalipse representa um organismo. *

Na estrutura do Apocalipse nãoencontramos umasimples reca-


pitulação (repetição). Em nenhum lugar é repetido algojá ditoem
qualquer capítulo. Pelo contrário, trata-se de apresentações do
fim destemundo, "ordenadas em grupos, cujos círculos nãocor-
respondem nemcoincidem exatamente, masse interseccionam
e sobrepõem. Exatamente como a qualquer tempo acontecimen-
tosse sucedem, trazendo em siosanteriores e osseguintes, pre-
parando e formando-os, de modo queos novos englobam os an-
teriores, mas são sua seqüência - até à revelação de todos os
mistérios que contêm desde o princípio" (R. Schmitz).

• Richard Schmitz observa muito apropriadamente: "Em todo organismo a unidade


desdobra-se na multiplicidade e a multiplicidade na unidade. O individual deve ser jul-
gado pelo todo, e somente quando se compreendeu o todo, tendo uma visão geral, po-
de-se determinar logicamente a relação das partes individuais com o todo. O indivi-
duai aparece colocado exatamente no lugar apropriado, de modo que não pode encon-
trar-se em outro lugar. O todo domina novamente suas partes, essas já em seus princi-
pios estão contidas em germe com todas as formações delas resultantes. Essa é a ra-
zão porque o Apocalipse prossegue do geralparao especial e já em seu início contém
tudo aquilo que explica e descreve mais exatamente nas profecias seguintes. Exata-
mente assim como o evangelho original no Paraíso, da vitória do descendente da mu-
lher, engloba as revelações seguintes e como o Novo Testamento por sua vez está
contido em germe no Antigo Testamento e somente a partir dele pode ser entendido."

9
Além disso, defendemos a interpretação literal do Apocalipse,
não a simbólica ou alegórica. Mas quando no Apocalipse são uti-
lizadas alegorias, ou seja, figuras e símbolos, isso é dito clara-
mente, tal como pela palavrinha "como". Assim, por exemplo, no
capítulo 10.1: "... como o sol" ou no capítulo 9.5: "... como toro
mento de escorpião" ou também no capítulo 12.1: "Viu-se grande
sinal".
O Apocalipse é a "revelação de Jesus Cristo "(cap, 1.1). Ele revela
portanto a pessoa de Jesus Cristo, e somente ele é o conteúdo
do futuro! No grego, a língua em que foi escrito o Novo Testa-
mento, é usada a expressão "apocalipse" para "revelação de Je-
sus Cristo". Do apocalipse de Jesus Cristo lemos também em 1
Coríntios 1.7: "...aguardando vós a revelação de nosso Senhor
Jesus Cristo." Ali é usada a mesma palavra grega, como também
em 2 Tessalonicenses 1.7: "...quando do céu se manifestar o Se-
nhorJesus". O mesmo diz também 1 Pedro 1.7: "...na revelação
de Jesus Cristo". No mesmo capítulo Pedro diz no versículo 13:
"... na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus
Cristo." O Senhor Jesus também usa essa expressão em Lucas
17.30: "... no dia em que o Filho do homem se manifestar. "Todas
essas são descrições idênticas para o apocalipse, ou seja, a re-
velação de Jesus Cristo.
O último livro da Bíblia é o único livro totalmente profético do No-
vo Testamento e está muito relacionado aos profetas do Antigo
Testamento, ampliando e aprofundando sua mensagem, pois o
maior cumprimento de toda profecia bíblica está no centro do
Apocalipse. E o que é o maior cumprimento da profecia bíblica?
Não um povo ou mesmo povos e também não acontecimentos,
mas uma pessoa: Jesus Cristo! Desse modo, o Cordeiro de Deus
encontra-se no centro do Apocalipse. Por isso é também muito
necessário observar a expressão "cordeiro". O cordeiro mostra-
nos o Filho de Deus em sua obra na cruz de Gólgota. Notável e
maravilhoso ao mesmo tempo é que temos no Apocalipse um
séptuplo desdobramento do caráter e da obra do Cordeiro. Isso
não quer dizer que o Cordeiro é citado somente sete vezes. Não,
o Cordeiro é citado vinte e oito vezes no Apocalipse - isso é qua-
tro vezes sete! O séptuplo desdobramento do caráter e da obra
do Cordeiro é representado por:
1. O sangue do Cordeiro. "e quando (o Cordeiro) tomou o livro, os
quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se
diante do Cordeiro... e entoavam novo cântico, dizendo: ...foste

10
morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem
de toda tribo, língua, povo e nação" (cap. 5.8,9). No capítulo 7.14
igualmente encontramos esse pensamento: "Respondi-lhe: Meu
Senhor, tu o sabes. Ele então me disse: São estes os que vêm da
grande tribulação, lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no
sangue do Cordeiro." E mais uma vez no capítulo 12.11: "Eles,
pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro".
2. O livro da vida do Cordeiro. Este é citado duas vezes no Apoca-
lipse: "e adorá-Ia-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles
cujos nomes não foram escritos no livro da vida do Cordeiro que
foi morto, desde a fundação do mundo" (cap. 13.8). "Nela nunca
jamais penetrará cousa alguma contaminada, nem o que pratica
abominação e mentira, mas somente os inscritos no livro da vida
do Cordeiro" (cap. 21.27).
3. Os apóstolos do Cordeiro. Deles lemos no capítulo 21.14: "A
muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre es-
tes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. "
4. A noiva do Cordeiro. Ela é citada em Apocalipse 21.9: "Vem,
mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro".
5. As bodas do Cordeiro. "Alegremo-nos, exultemos, e demos-lhe
a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa
a si mesma já se ataviou" (cep. 19.7).
6. O trono do Cordeiro. Em Apocalipse 22.3 está escrito: "Nunca
mais haverá qualquer maldição. Nela estará o trono do Cordeiro.
Os seus servos o servirão."

o
7. A ira do Cordeiro. "e disseram aos montes e aos rochedos: Cai
sobre nós, e escondei-nos da face daquele que se assenta no tro-
no, e da ira do Cordeiro" (cap. 6.16). Essa ira do Cordeiro será ter-
rível para todo o mundo.
Vemos, portanto: a mensagem central do livro do Apocalipse é a
revelação do Cordeiro de Deus. Pois esse é na verdade o objetivo
de toda a Bíblia. Ela foi escrita e nos foi dada, para que reconhe-
çamos Jesus Cristo, pois essa é a vida eterna. Nesse contexto fi-
ca claro também que no Apocalipse fala-se àqueles que perten-
cem ao Cordeiro: comprados pelo seu, precioso sangue. Como
destinatários são citados em primeiro lugar seus servos: "Revela-
ção de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus ser-
vos as cousas que em breve devem acontecer" (cap. 1.1). Em se-
guida as sete igrejas: "João, às sete igrejas que se encontram na

11
Ásia... O que vês, escreve em livro e manda às sete igrejas" (cap.
1.4,11). Deve-se lembrar que os capítulos 2 e 3 são dirigidos a sete
igrejas locais. E no final do livro o Senhor Jesus mesmo diz: "Eu,
Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas cousas às igre-
{es" (cap. 22.16). Essa é uma das razões porque reconheci inte-
riormente a necessidade de me apresentar à Igreja com esse últt-
mo livro da Bíblia. Não devemos negligenciar o Apocalipse, pois
ele dá uma grandiosa visão geral profética sobre todo o Plano de
Salvação neotestamentário: da vinda de Jesus à terra até ao seu
maior triunfo; até ao novo céu e à nova terra. E falsa modéstia di-
zer simplesmente: "Não entendemos isso", como li recentemen-
te em um livro de 1935 sobre o Apocalipse: "Admitamos humilde-
mente que não o entendemos." Mas no Apocalipse está escrito:
"Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia" (cap.
19.10). Portanto, não se pode pregar Jesus Cristo, o crucificado,
sem ao mesmo tempo transmitir a palavra profética. Se não pre-
gamos a palavra profética, não pregamos toda a mensagem da
Bíblia.
O autor do Apocalipse é João, o discípulo "a quem Jesus amava"
(Jo 13.23). Conforme o capítulo 1.9 ele estava banido na ilha de
Patmos (uma pequena ilha no mar Egeu), por causa da palavra de
Deus. Tudo indica que João escreveu esse livro no início do seu
ministério, porque o grego é muito menos fluente do que o grego
do seu evangelho e de suas epístolas, que por conseguinte apa-
receram mais tarde.
Ouçamos, portanto, com coração humilde e em oração o que o
Senhor nos diz e vejamos o que ele nos mostra!

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Eis que vem com as nuvens
"Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus seNOS as cousas que em breve devem acontecer, e que ele,
enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo
João, o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus
Cristo, quanto a tudo o que viu. Bem-aventurados aqueles que
lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as
cousas nela escritas, pois o tempo está próximo. João, às sete
igrejas que se encontram na Asia: Graça e paz a vós outros, da
parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Es-
píritos que se acham diante do seu trono, e da parte de Jesus
.. Cristo, a fiel testemunha, o primogênito dos mortos, e o sobera-
no dos reis da terra. Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos
libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes
para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos
dos séculos. Amém. Eis que vem com as nuvens, e todo olho o ve-
rá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se la-
mentarão sobre ele. Certamente. Amém" (Ap. 1.1-7).

o último livro da Bíblia é muitas vezes chamado erradamente de


"Apocalipse de João". Mas esse não é o título que o autor lhe
deu. Pelo contrário, conforme o versículo 1, o livro chama-se:
"Revelação de Jesus Cristo". Devemos lembrar isso claramente.
"Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus seNOS as cousas que em breve devem acontecer, e que ele,
enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo
João." De maneira que esse livro não está cheio de revelações
em forma de comunicações que o Senhor vivo deu a João por in-
termédio de um anjo. A tal conclusão somente pode chegar
aquele que lê superficialmente o primeiro versículo. O livro do
profeta Zacarias é tal revelação no sentido de comunicações. O
profeta Zacarias era um jovem ao qual um anjo explicou, entre
outros, quem era um homem montado num cavalo vermelho e
quem o seguia (Zc 1.9ss). Mas no Apocalipse trata-se do desta-
car-se e tornar-se visível do Senhor Jesus Cristo, passo a passo e
gradualmente, e isso em seu poder julgador e salvador e na sua
glória! Isso vale na verdade para toda a Bíblia, pois ela foi escrita
com o objetivo de revelar-nos Jesus Cristo. Foi o que o próprio
Senhor Jesus disse enquanto andou na terra: "Examinais as Es-
crituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mes-

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mas que testificam de mim" (Jo 5.39). Se um filho de Deus nunca
leu toda a Bíblia então ele também nunca viu o Cristo todo! Em
contraste com os outros livros do Antigo e do Novo Testamento,
onde vemos revelado o Salvador, o Filho de Deus, o Rei e o Se-
nhor, o Apocalipse revela-nos o Senhor que está voltando, e por
isso ele é figuradamente a coroa da Sagrada Escritura. Ele nos
mostra o Senhor que está voltando, em sua realização final do
conselho de Deus. Por esse motivo justamente o livro do Apoca-
lipse é também o livro do consolo para a Igreja nos tempos finais,
e é o que são os crentes de hoje. Se não temos luz sobre a palavra
profética, então vemos somente um grande caos e as maquina-
ções e astúcias do inimigo que nos cercam. Pois que falsidade
procede no inferno! Mas, em meio a essas insuportáveis trevas
dos tempos finais, foi-nos dado um livro que se chama "Apoca-
lipse" = "Revelação". Os juízos terríveis que se abatem sobre
este mundo e são mostrados no Apocalipse, servem para prepa-
rar o caminho, ou seja, preparar o mundo para a revelação visível
de Jesus Cristo. Não se trata, portanto, somente do homem ga-
nhar o que merece, ou seja, juízo e que se realize a justiça de
Deus, mas de preparação do caminho.
Isso é assim também em tua vida pessoal: quando o Senhor te le-
va através de juízos como doenças, aflições psíquicas, decep-
ções, etc., então isso tem somente um objetivo: o entulho do pe-
cado deve ser retirado do teu coração, para que Jesus Cristo pos-
sa revelar-se mais clara e gloriosamente em ti e através de ti!
"Eis que vem com as nuvens..." (v. 7). Esse é o cerne, a verdadeira
mensagem do Apocalipse! João mostra-nos Jesus como o Se-
nhor real, a quem Deus deu todos os juízos e todo poder no céu e
na terra. Tudo está nas mãos de Jesus! Pois depois que ele solu-
cionou definitivamente na cruz de Gólgota a questão da culpa da
Humanidade, agora no fim dos tempos será resolvida a questão
do poder.
Para filhos de Deus é um maravilhoso fato, que pela fé ambas as
questões já estão resolvidas em princípio, isto é: o Senhor Jesus
já nos purificou e redimiu da culpa do pecado pelo seu sangue, e
ele também nos redimiu do poder do pecado. "Porque o pecado
não terá domínio sobre vós" (Rm 6.14a). Do que ainda não esta-
mos livres é da presença do pecado, do pecado em nós. "Porque
eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem ne-
nhum" (Rm 7. 18a). Através desse fato explica-se porque crentes
às vezes tornam-se verdadeiros monstros. Eles ainda não estão

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sob o domínio do Espírito de Deus. Mas a vitória existe! Paulo ex-
clama: "Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de
nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Co 15.57).
Qual é o fundamento da sua volta? Seu amor. Por causa do seu
amor ele comprou sua Igreja com o seu próprio sangue. Que
grandioso é quando em Apocalipse 1.5é dito de um só fôlego: "e
da parte de Jesus Cristo, a fiel testemunne, o primogênito dos
mortos, e o soberano dos reis da terra. Aquele que nos ama, e pe-
lo seu sangue nos libertou dos nossos pecados. " Conforme nos-
so pensamento natural deveria ser diferente: primeiro lavado e
então amado. Mas é justamente o contrário: ele nos amou pri-
meiro! Ele nos amou quando ainda estávamos em imundície e
pecado; homens do mundo, que eram seus inimigos e perse-
guiam coisas diabólicas.
O resultado desse amor inefávelmente grande é inimaginável:
depois que ele nos lavou com o seu sangue, também "nos consti-
tuiu reino, sacerdotes para o seu Deus e pai, a ele a glória e o do-
mínio pelos séculos dos séculos. Amém" (v. 6). E logo a seguir
vem a promessa: "Eis que vem..." (v. 7a).
Por que nós, depois que nos convertemos, ainda temos que ficar
aqui na terra? Não seria melhor ir logo para a glória?! A profunda
razão da nossa permanência aqui na terra é que devemos tornar
visível a vitória de Cristo até à sua revelação. Essa é nossa tarefa
temporária, até quea questão do poder seja solucionada por ele
mesmo visivelmente. Por isso temos em Hebreus 2.8 esta apa-
rente contradição: "Todas as causas sujeitaste debaixo dos
seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as causas, nada dei-
xou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas
as causas a ele sujeitas." Por que ainda não as vemos? Porque
ainda estamos na terra. Mas nós somos os portadores da vitória;
levamos o estandarte de Jesus. Neste meio tempo - entre sua
primeira e sua segundavinda - temos a responsabilidade de
aplicar a vitória de Jesus. Paulo disse isso magistralmente: "Gra-
ças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo,
e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu
conhecimento" (2 Co 2.14). Em outras palavras: antes de revelar-
se visivelmente, ele se revela através de nós. Paulo utiliza aqui
uma figura da vida dos antigos gregos. Os vencedores de tor-
neios, as "Olimpíadas" de então, eram conduzidos em triunfo pe-
la arena, sob os aplausos retumbantes de milhares de especta-
dores. Eles eram, como diz Paulo, coroados com uma coroa cor-
15
ruptível. E ele continua dizendo que quem tem Jesus no coração
é sempre conduzido em triunfo, manifestando assim a fragrân-
cia do seu conhecimento. Isso quer dizer, a realidade da vitória
de Jesus é espalhada em todos os lugares. Qual é tua situação a
respeito, no teu local de trabalho? Tua profissão, se elevada ou
humilde, não- tem importância nesse caso. Interessa somente
que "sejas conduzido em triunfo", e que em todos os lugares on-
de entrares em contato com pessoas, seja manifesta a fragrân-
cia do seu conhecimento. Paulo fala também de uma experiên-
cia pessoal: "ao que... aprouve revelar seu Filho em mim" (GI
1.15,16).

Mas não está mais longe o tempo em que o Senhor se revelará


pessoalmente, e isso diante dos olhos de todo o mundo: "Eis que
vem...e todo olho o verá..."(v. 7). Essa revelação do Senhor Jesus
acontecerá em rápida seqüência. Está escrito, por exemplo, no
capítulo 1.1: "... as causas que em breve devem acontecer...", ou
no capítulo 3.11: "Venhosem demora•••" No último capítulo da Bí-
blia, em Apocalipse 22, isso é dito até quatro vezes: "...para mos-
trar aos seus servos as causas que em breve devem acontecer"
(v. 6). "Eis que venho sem demora"(v. 7). "E eis que venho sem de·
mora" (v. 12). "Certamente venho sem demora" (v. 20). Esclarece-
dor é que a palavra gregÇl. que na maioria das traduções é repro-
duzida como "em breve" ou "sem demora", significa duas coi-
sas. Primeiro, do ponto de vista do Plano de Salvação: ele vem
em breve, pois mil anos são para o Senhor como um dia e um dia
como mil anos. Ele agora já está "dois dias" longe; portanto virá
em breve! Além disso ela significa também que a revelação do
Senhor Jesus Cristo será repentina, portanto, sem interrupção,
quando o tempo do fim começar - e ele já começou! Entre os di-
versos acontecimentos dos tempos finais não há mais longos
períodos de desenvolvimentos silenciosos. É o que vemos com
os próprios olhos. Vivemos agora no período do qual a Escritura
diz que foi tirada a paz da terra. Dessa rápida seqüência da sua
volta o Senhor já falou através do profeta Isaías: "eu, o Senhor, a
seu tempo farei isso prontamente" (cap. 6O.22b). Em Romanos
9.28está escrito: "Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre
a terra, cabalmente e em breve." A Edição Revista e Corrigida diz:
"Porque o Senhor executará a sua palavra sobre a terra, comple-
tando-a e abreviando-a." O mundo não tem mais pausa para res-
pirar. É como se os acontecimentos no Oriente Médio se acele-
rassem cada vez mais.

16
Se agora analisarmos mais uma vez o primeiro versículo do Apo-
calipse, então percebemos que João deve mostrar essa revela-
ção de Jesus Cristo segundo a vontade de Deus aos seus servos.
Quem é um servo ou uma serva de Deus? Isso é um filho de Deus
que subordinou sua vontade à vontade do senhor; que lhe é obe-
diente. O salmista pergunta: "que é o homem, que dele te lem-
bres?" (SI 8.5), mas justamente quando somos um servo ou uma
serva de Deus, temos alto significado aos olhos de Deus. Pois
nada nos separa tanto do Deus vivo como nossa maldita vontade
própria, e nada nos une tanto mais com ele do que sua amorosa
vontade salvadora em Jesus Cristo.
Principalmente nos tempos finais, servos e servas de Deus não
devem, portanto, desconhecer o que Deus fará no final do tempo
da graça: o Senhor eliminará o domínio de Satanás e todos os po-
deres satânicos e anticristãos, estabelecendo seu glorioso reino
de paz! Conseqüentemente o Apocalipse não é, como se afirma
freqüentemente, um livro fechado com sete selos, mas um livro
aberto, sendo para todos os servos e servas de Deus uma orien-
tação e um fortalecimento da fé no Senhor Jesus nas trevas dos
tempos finais. Por isso o Senhor diz a João no final do Apocalip-
se exatamente o contrário daquilo que disse a Daniel, ou seja:
"Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo
está próximo" (cap. 22.10). Em outras palavras: quero tê-lo aber-
to. A cada um que pesquisa nele, deve ser revelado. Mas ao pro-
feta Daniel, que recebeu suas profecias aproximadamente 650
anos antes, o senhor diz: "Tu, porém, Daniel, encerra as palavras
e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o
saber se multiplicará" (Dn 12.4). Nesse "tempo do fim" vivemos
hoje, motivo porque o saber se multiplica. Pela sua graça, o Se-
nhor nos transmite muito saber sobre a palavra profética. Mas
agora cumpre-se a palavra da Escritura que tanto gostamos de
ler na época do Advento: "Dispõe-te, resplandece, porque vem a
tua luz, e a glória do Senhor nasce sobre ti. Porque eis que as tre-
vas cobrem a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti aparece
resplendente o Senhor, e a sua glória se vê sobre ti" (ls 60.1-2). No
Plano de satvecão isso realiza-se primeiro com Israel e então
com a Igreja de Jesus. Encontramo-nos em meio ao advento do
Plano de Salvação! "Eis que vem com as nuvens..." A escuridão
não deve assustar-te, pois quanto mais escura a noite, tanto
mais próxima está a manhã! Assim está escrito em Isaías 21.12:
"Vem a manhã, e também a noite..."

17
"Eis que vem com as nuvens", isso significa: ele vem com a Igre-
ja em glória. Mas poderíamos também dizê-lo assim: então ele
rompe tudo que é duro e escuro. Chegou a sua hora de assumir o
poder. Tudo fica luz. Quando se fala da vinda de Jesus, então as
palavras simplesmente não são suficientes. Esse "Eis que vem"
é um poderoso trovejar, que ecoa de nuvem em nuvem, enchendo
todo o céu e abalando a terra. Exatamente assim essa mensa-
gem "Eis que vem" enche toda a Bíblia. De livro em livro ela ecoa
sempre mais poderosamente em nossos ouvidos e em nossa
consciência. Daniel viu o Senhor em sua volta: l i••• e eis que vinha
com as nuvens do céu um como o Filho do homem..." (Dn 7. 13b).
E então ele diz nos versículos 14 e 27, que o reino a ser estabeleci-
do será eterno e que pertencerá ao povo dos santos, a Israel:
"Foi-lhe dado domínio e glória, e o reino, para que os povos, na-
ções e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é
domínio eterno, que não passará... O reino e o domínio, e a ma-
jestade dos reinos de baixo de todo o céu, serão dados ao povo
dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os
domínios o seNirão e lhe obedecerão."
O Senhor mesmo garante sua volta em Mateus 24.30: u... e verão
o Filho do homem vindo ..."Ele não diz "com as nuvens", mas uso-
bre as nuvens". Ele vem, envolto com grande poder e glória, para
o juízo sobre as nações. E todos o verão, gritarão e lamentarão:
l i... (aos montes): Cobri-nos! e aos outeiros: Caí sobre nós!" (Os

10.8b). Mas será em vão. Quando o Senhor Jesus subiu ao céu,


está escrito expressamente em Atos 1.9: l i... e uma nuvem o en-
cobriu dos seus olhos." Os discípulos tinham acabado de falar
com ele, quando repentinamente elevou-se e subiu ao céu! E lo-
go dois homens vestidos de branco se puseram ao lado deles e
disseram: "Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim
virá do modo como o vlstes subir" (At 1.11).
E então o poderoso trovejar uEis que vem" prossegue através
das epístolas dos apóstolos. Trata-se da raiz de sua mensagem,
a mola propulsora da sua fé e do seu trabalho. Maranata, Jesus
vem! Mas no último livro da Bíblia essa mensagem chega à reali-
zação visível!
Deus envia um anjo ao seu servo João, para lhe explicar esse
Apocalipse de Jesus Cristo, que excede em muito a nossa capa-
cidade de compreensão. No texto original é dito literalmente que
ele enviou seu anjo l i... e lhe mostrou isso através de sinais." O
serviço desse anjo foi muito difícil, pois era necessário estabele-

18
cer o contato entre a capacidade de compreensão de João e os
acontecimentos eternamente válidos - o Apocalipse de Jesus
Cristo. Isso parece ser algo impossível. Mas esse é justamente o
milagre da revelação de Jesus Cristo no livro do Apocalipse: que
foi mostrado a João em Patmos o que "Nem olhos viram, nem ou-
vidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que
Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Co 2.9b), de tal
maneira que ele pudesse compreendê-lo! Sim, ele não somente
pôde compreendê-lo, mas também escrevê-lo. João mesmo con-
firma esse fato inimaginável, que também viu o Apocalipse: "o
qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo,
quanto a tudo o que viu" (v. 2). Humanamente, uma impossibili-
dade. Mas assim era também muitas vezes com os profetas da
Antiga Aliança. Por exemplo, em Miquéias 1.1: "Palavra do Se-
nhor, que em visão veio a Miquéias, morastita, nos dias de Jotão,
Acaz e Ezequias, reis de Judá, sobre Samaria e Jerusalém."
Compare também Isaías 1.1-2 e Obadias 1.1. Foge ao nosso co-
nhecimento como os profetas e João ouviram e ao mesmo tem-
po viram a Palavra, de modo que puderam captá-Ia e escrevê-Ia.
Mas se já o diabo pôde mostrar ao Senhor Jesus em um momen-
to sobre um alto monte todos os reinos do mundo e sua glória,
quanto mais esse anjo enviado por Deus pôde tornar o incom-
preensível compreensível e o invisível visível para João!

Também nós dependemos de tais serviços de anjos. Em He-


breus 1.14 está escrito dos anjos de Deus, que eles são enviados
como espíritos ministradores "... para serviço, a favor dos que
hão de herdar a salvação." Como um rei tem sua corte, assim o
Senhor elevado tem os anjos à sua disposição. Anjos anuncla-
ram o nascimento de Jesus (Lc 2). Um anjo veio e confortou Je-
sus quando ele lutava no Getsêmani e já estava próximo da mor-
te (Lc 22.43). Na manhã da Páscoa anjos estavam junto ao sepul-
cro vazio e anunciaram sua ressurreição: "Ele não está aqui, mas
ressuscitou" (Lc 24.6a).
No encerramento da magnífica introdução do Apocalipse ouve-
se a primeira das sete bem-aventuranças. Durante sua vida terre-
na o Senhor nos deu dez bem-aventuranças, quando do monte fa-
lou ao povo de Israel. No Apocalipse, a partir do céu, ele deu sete:

1. "Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as


• palavras da profecia e guardam as cousas nela escritas, pois o
tempo está próximo" (cap. 1.3).

19
2. "... Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no
Senhor" (cap. 14.13).
3. "Bem-aventurado aquele que vigia..." (cap. 16.15).
4. "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bo-
das do Cordeiro" (cap. 19.9).
5. "Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira
ressurreição" (cap. 20.6).
6. "Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia
deste livro" (cap. 22.7).
7. "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no
sangue do Cordeiro" (cap. 22.14).
Surpreendente é que a primeira bem-aventurança no Apocalipse
contém uma condição: "Bem-aventurados aqueles que lêem e
aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as cousas
nela escritas". Temos que lembrar que a maioria dos crentes de
então dependia de ouvir, pois ainda não havia sido descoberta a
arte da impressão. Como tudo tinha que ser trabalhosamente co-
piado a mão, nem todos tinham um Antigo Testamento à disposi-
ção. Além disso havia também analfabetos. Por isso a Escritura
- e mais tarde também as epístolas dos apóstolos - era lida.
Em uma tradução inglêsa a primeira bem-aventurança é formula-
da daseguinte maneira: "Especialmente abençoados são aque-
les que ouvem, lêem e guardam as profecias. "O ouvir correto de
qualquer maneira é pressuposto no Apocalipse, pois sempre no-
vamente está dito: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz
às igrejas. "
Nós somos pessoas privilegiadas, pois temos uma Bíblia! Tu a
utilizas? Se não compreendes muitas coisas, ora a respeito. O
Senhor te dará maior entendimento. Lê, ouve e guarda-o no teu
coração, e serás bem-aventurado.
"...pois o tempo está próximo", prossegue João. Conforme o ca-
lendário de Deus, a História Mundial e da Humanidade, com o
nascimento do Senhor Jesus, sua morte na cruz, ressurreição e
ascensão e com Pentecoste, entrou num estágio não somente
decisivo mas também final, de encerramento - nos tempos fi-
nais. Por isso é dito: "nestes últimos dias nos falou pelo Filho"
(Hb 1.2a). Por ocasião do derramamento do Espírito Santo, Pedro
sabia: "Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profe-

20
ta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derra-
marei do meu Espírito sobre toda a carne ..." (At 2.16-17). De acor-
do com isso, a História dos tempos finais no sentido do Novo
Testamento não é somente a História do final dos últimos tem-
poso Pelo contrário, todo o Plano de Salvação neotestamentário
é progressiva realização da História dos tempos finais. Nesse re-
conhecimento viviam também os apóstolos e os primeiros cris-
tãos. Por isso - há dois milênios - eles nunca podiam dizer:
"Meu senhor demora-se", como fez o servo mau em Mateus
24.48b. Portanto, eles já viviam naquele tempo conscientemente
na última hora, nos tempos finais, e por isso estava no centro dos
seus pensamentos, palavras e ações: Jesus vem! Esse era seu
motor. Hoje, porém, não vivemos mais na última hora, mas no úl-
timo segundo! "Eis que vem com asnuvens!" Quais foram os pri-
meiros destinatários do Apocalipse de Jesus Cristo através de
João? Após a grandiosa introdução ele dirige-se diretamente a
eles. Parece quase antigo-testamentário, quando no versículo 4
ele se dirige a eles em forma epistolar: "João, às sete igrejas que
se encontram na Asia: Graça e paz a vós outros, da parte daquele
que é..."Quem é renascido pertence a essa igreja comprada pelo
sangue e ouve agora a confirmação do Espírito Santo em seu co-
ração, quando lê o primeiro louvor no Apocalipse: "e nos consti-
tuiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o do-
mínio pelos séculos dos séculos. Amém"(v. 6). Esse primeiro lou-
vor procede de João, que ainda está na terra, enquanto todos os
seguintes se elevam dos santos glorificados e dos seres celes-
tiais, que louvam a Deus e ao Cordeiro.
Qual era o segredo de João, dele ter recebido tantas revelações
do Senhor? Nenhum outro apóstolo pôde ver coisas tão grandio-
sas como ele. Se desejamos que o Senhor possa revelar-se atra-
vés da nossa vida, então deveríamos conhecer esse segredo de
João. João não era um homem especialmente erudito. Seus es-
critos mostram que tinha um vocabulário restrito. Mas João foi o
único dos doze discípulos que permaneceu junto à cruz de Gól-
gota até que Jesus morreu. Ali ele, que tinha sido chamado "filho
do trovão" pelo Senhor, morreu junto no próprio ser. Desse mo-
do, no seu Evangelho ele não ousa falar de si mesmo na primeira
pessoa, mas escreve na terceira pessoa. Ele não quer mais des-
tacar a si mesmo, mas diz: "Aquele que isto viu, testificoiJ, sendo
verdadeiro o seu testemunho; e ele sabe,que diz a verdade, para
que também vós cretets" (Jo 19.35). Desde que viu Jesus, o Cor-
deiro de Deus, ele não ousa mais destacar a si mesmo. Na medi-
21
da em que vimos Jesus e permanecemos na posição de estar
crucificados com ele, não ousamos mais colocar a nós mesmos
em primeiro plano. Todos os que buscam honra com homens
nunca ainda viram Jesus! Quem viu Jesus em seu amargo sofri-
mento e em sua morte na cruz de Gólgota, esse odeia a si mes-
mo, coloca-se em segundo plano e pede: Senhor, revela-te tu! Tal
pessoa não é um fariseu, que é orgulhoso da sua piedade. João
não pode evitar de citar algumas vezes a si mesmo, quando ele
quer testemunhar o que viu. Mas então ele faz uma grande volta
em torno de si. Assim, por exemplo, em João 13.23:HOra, ali esta-
va conchegado a Jesus, um dos seus discípulos, aquele a quem
Jesus amava." Por isso o Senhor pôde dizer através dele em Apo-
calipse 2.4: "Tenno, porém, contra ti que abandonaste o teu pri-
meiro amor. "Somente porque amava tanto assim ao Senhor, ele
podia falar da perda do primeiro amor. Não podemos levar pes-
soas interiormente mais longe - nem através de um folheto ou
de um testemunho - do que nós mesmos estamos. O ser apaga-
do de João aparece também principalmente em sua introdução.
Pois ele não diz no capítulo 1.4 algo como: "João, um apóstolo e
servo de Jesus Cristo escolhido desde o ventre materno", mas
simplesmente cita seu nome. Ele, portanto, abre mão até do títu-
lo, como por exemplo Paulo e Pedro o utilizam com razão, para
que os destinatários logo soubessem com quem estavam tratan-
do. Mas João, que tinha visto o Cristo crucificado e vê o Senhor
que está voltando, diz simplesmente: "João, às sete igrejas que
se encontram na Asia...''. Em seguida ele pronuncia a bênção do
Deus triúno sobre as sete igrejas, referindo-se primeiro a Deus, o
Pai: "Greçe e paz a vós outros da parte daquele que é, que era e
que há de vir". Então ele cita o Espírito Santo: da parte dos se-
H •••

te Espíritos que se acham diante do seu trono". E então cita o Fi-


lho: e da parte de Jesus Cristo, a fiel testemunha, o primogênito
H

dos mortos, e o soberano dos reis da terra ..." (v. 5a). Ele louva o
Filho - H ••• a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos.
Amém" (v. 6a) -, e logo segue a mensagem: HEis que vem com
as nuvens ..."(v. 7).
Ninguém na terra pode escapar do encontro com Jesus Cristo.
João acentua expressamente no versículo 7b: H ••• e todo olho o
verá (isto é, as nações), até quantos o traspassaram (isto é, Is-
rael)." Quando ele vier com as nuvens, aparecerá como "fiel tes-
temunha" para Israel e como "primogênito dos mortos" para a
Igreja. Para as nações ele vem como o "soberano dos reis da ter-
ra." Seus comprados pelo sangue e sua volta são como que cita-
22
dos de um s6 fôlego. Versículo 5b: "aquele que nos ama, e pelo
seu sangue nos libertou dos nossos pecados." Versículo 7 : "Eis
que vem com as nuvens." Isso significa que o renascido, com ba-
se no sangue de Jesus é um corpo com ele!

23
Jesus Cristo e a Igreja em
glória
"Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que
era e que há de vir, o Todo-poderoso. Eu, João, irmão vosso e
companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Je-
sus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de
Deus e do testemunho de Jesus. Achei-me em espírito, no dia do
Senhor, e ouvi por detrás de mim grande voz, como de trombeta,
dizendo: O que vês, escreve em livro e manda às sete igrejas: Efe-
so, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.
Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete can-
deeiros de ouro, e, no meio dos candeeiros, um semelhante a fi-
lho de homem, com vestes talares, e cingido à altura do peito
com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos
como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés
semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa forna-
lha; a voz como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete
estrelas, e da boca saia-lhe uma afiada espada de dois gumes. O
seu rosto brilhava como o sol na sua força. Quando o vi, cai a
seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direi-
ta, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que
vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos sé-
culos, e tenho as chaves da morte e do inferno. Escreve, pois, as
cousas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois
destas. Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha
mão direita, e os sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os
anjos das sete igrejas e os sete candeeiros são as sete igrejas"
(Ap 1.8-20).

Vemos aqui o quê e quem é Jesus Cristo, e saber isso é a coisa


mais elevada. Paulo diz em Efésios 3.19 que conhecer o amor de
Cristo excede todo entendimento. João ouve aqui a voz do Se-
nhor, que diz Que ele, o Senhor, é o Eterno: "Eu sou o Alfa e o
Õmeqe". O alfa é a primeira letra e o ômega a última letra do alfa-
beto grego. O que significa isso? Muitos tradutores pensaram
Que os homens simples da rua não o entenderiam. Por isso eles
acrescentaram - como consta, por exemplo, na Edição Revista
e Corrigida: "o princípio e o fim". Isso não está escrito no texto
original, mas quanto ao conteúdo está certo, pois o Senhor é o

24
princípio e o fim. Mas isso tem um significado ainda mais profun-
do, ou seja: Jesus Cristo é o Verbo eterno. Além dele não existe
mais nada a dizer, pois ele é a Palavra em sentido mais completo
e perfeito: nestes últimos dias nos falou pelo Filho" (Hb 1.2).
l i...

Tudo o que passa além de Jesus é ponto morto. Essa é a razão do


acréscimo: aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-
l i...

poderoso" (v. 8). A ele somente foi dado todo poder no céu e na
terra. Se estivéssemos mais imbuídos dessa verdade, seríamos
muito mais tranqüilos! Somos freqüentemente afligidos por dlfe-
rentes poderes debaixo do céu - por poderes das trevas. Mas a
ele, Jesus Cristo, foi dado todo poder e domínio e majestade. Es-
sa é a elevada pessoa do nosso abençoado Redentor!

Mas agora aproximamo-nos da verdadeira revelação. Até agora


analisamos somente o título desse livro e sua introdução. Mas
agora entramos em contato com o próprio Revelado. Que cada
leitor deste livro possa chegar até ao cerne, de maneira que entre
em contato com Jesus mesmo!
A primeira parte do Apocalipse revela-nos Jesus Cristo em seu
relacionamento com sua Igreja na terra, compare as cartas. Na
segunda parte do Apocalipse temos a revelação do Cristo com
relação à sua Igreja no céu. Aí vemos os anciãos glorificados e
tudo o que acontece na glória após o arrebatamento. A terceira
parte do Apocalipse revela o Cristo em relação ao mundo e mos-
tra como ele julga os povos. E assim continua gradualmente, até
que enxergamos a glória completa: o novo céu e a nova terra, nos
quais habita justiça.
Mas aqui trata-se do essencial, da revelação de Jesus Cristo.
Quando vemos Jesus, então vemos tudo! Não deveríamos fazer
essencialmente muito mais, como muitos pensam, mas fazer
mais coisas essenciais, isto é: procurar muito mais a revelação
do Senhor Jesus Cristo!
O primeiro efeito maravilhoso é que o apóstolo e discípulo João,
que certamente estava mais intimamente ligado com o Senhor,
equipara-se aos seus irmãos e irmãs no Senhor: "Eu João, irmão
vosso e companheiro" (v. 9). Ele é irmão e companheiro em três
aspectos. Primeiro: "...na tribulação" (v. 9). Todo filho de Deus
tem que entrar no reino de Deus através de muitas tribulações.
Segundo: no reino". Renascidos são portadores do reino de
l i...

Deus, pois como reis e sacerdotes levamos o reino em nós. O Se-


nhor Jesus formulou-o assim: o reino de Deus está dentro em
l i...

25
vós" (Lc 17.21b). Justamente nesta geração realiza-se a transfe-
rência do reino de Deus para Israel, pois em Israel o reino de
Deus torna-se visível. Terceiro: li... e na perseverança, em Jesus".
A Edição Revista e Corrigida diz: li... e paciência de Jesus Cristo".
Esse é o segredo do poder de Gólgota: perseverar em Jesus, per-
severar na posição de estar crucificado com ele, na paciência. E
isso que mais convence nesse mundo agitado, esse é o testemu-
nho mais eficiente. Normalmente temos paciência enquanto
não necessitamos dela. Pedro diz: " e tende por salvação a longa-
nimidade de nosso Senhor" (2 Pe 3.15a). Que João aqui não diz
frases vazias é provado pelo fato dele encontrar-se em meio a
uma provação da fé. Ele, o apóstolo, que falou diante de milha-
res, está agora completamente isolado e sozinho na ilha de Pato
mos no Mediterrâneo. Por quê? João mesmo responde à pergun-
ta: ": por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus"
(v. 9b). Ele estava, portanto, banido por causa de Jesus. Nós cris-
tãos no Ocidente (atualmente ainda) livre, ainda não estamos ba-
nidos por causa de Jesus. No Oriente a situação é bem diferente.
Muitos irmãos atrás da Cortina de Ferro e em outros lugares
encontram-se em "Patmos" por causa da palavra de Deus e do
testemunho de Jesus.
No versículo 10 João fala em grande autoridade a partir dessa ex-
periência da revelação de Jesus Cristo. Pois não se pode teste-
munhar algo que não se viu. Mas ele o viu! Aqui ele já fala no tem-
po passado. Nisso ele não tagarela simplesmente, mas diz de
modo curto e preciso: "Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e
ouvi por detrás de mim grande voz, como de trombeta" (v. 10).
Que maravilhoso contraste: por um lado João (por causa da pala-
vra de Deus e do testemunho de Jesus), está solitário e abando-
nado na tribulação, na qual permanece com perseverança, mas
por outro lado ele pode testemunhar: "Achei-me em espírito, no
dia do Senhor". Ele viu Jesus em glória! Nessa contradição
encontram-se todos os verdadeiros filhos de Deus: por um lado
provados interiormente e perseguidos pelo inimigo, por outro la-
do experimentando a revelação do Senhor Jesus! Isso era assim
também com Paulo. Ele era um perseguido. Ele relaciona o que
sofreu por amor de Jesus: fome, naufrágios, açoites, fustigação
com varas. Além disso ele sofreu com falsos irmãos, etc. E tudo
isso, apesar de que ele poderia gloriar-se na "carne". Mas ele diz:
"Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa
de Cristo... e as considero como refugo, para ganhar a Cristo"(Fp
3.7,8b). Em outras palavras: Cristo está revelado em mim.
26
De que dia fala João quandodiz: "Achei-me em espírito, no dia do
Senhor"? Não se trata do domingo, como pensam alguns, mas o
grande, terrível, mas no final glorioso dia, do qual também os pro-
fetas do Antigo Testamento falaram tanto. Também eles viram
esse terrível período de juízos, que agora está para acontecer, no
final do qual o Senhor virá em grande poder e glória com sua Igre-
ja. Jeremias confessou o que sentiu com tal visão: "AM meu co-
ração! meu coração! Eu me contorço em dores. Oh! as paredes
do meu coração! Meu coração se agita!" (Jr 4.19). O grande e ter-
rível dia do Senhor é a Grande Tribulação. Por que João o vê co-
mo se fosse presente, apesar de vê-lo aproximadamente dois mi-
lênios antes da realização. Porque ele se achava no espírito do
Senhor. Quanto mais, como filhos de Deus, nos achamos no es-
pírito do Senhor, tanto mais o futuro se torna presente para nós;
tanto mais somos capazes de reconhecer a palavra profética e
ouvir o falar de Deus. "Perguntai-me as cousas futuras", diz ele
através do profeta Isaías (Cap. 45.11, Ed. Rev. e Corr.).
João afirma: "e ouvi por detrás de mim grande voz, como de trom-
beta" (v. 10b). Com isso começa realmente a visão da glória do
Senhor. João aparentemente está surpreso por ouvir essa gran-
de voz atrás de si e não à sua frente ou do lado. Por que ela se ou-
ve atrás dele? Certamente para que toda outra voz que pudésse
desviá-lo - também sua própria - seja excluída.
Tantos filhos de Deus andam em ziguezague, porque não ouvem
a voz do Senhor atrás de si. Mas temos a promessa: "... os teus
I' ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o cami-
nho, andai por ele" (ls 30.21). Por isso: Aquieta-te! Ouve e anda!
Também Noé somente recebeu a completa certeza de que ele e
sua família estavam salvos, quando o Senhor fechou a porta da
arca após eles (Gn 7.16b). Ezequiel teve a mesma experiência.
Em Ezequiel 3.12 está escrito do Espírito que o levantou e de uma
voz de grande estrondo, que ele ouviu atrás de si.

João diz agora aqui no versícu lo 10: "...grande voz, como de trom-
beta". A palavrinha "como" significa que João tenta descrever o
indescritível. Por isso a palavrinha "como" aparece aproximada-
mente setenta vezes no Apocalipse. Além disso ele utiliza tam-
bém expressões como "semelhante". Aqui trata-se, portanto, de
um som sobrenatural e assustador, que contém tudo. Trata-se
da trombeta de Deus. Na Bíblia há duas trombetas, que são sem
repetição. A primeira foi ouvida no monte Sinai, quando Deus
27
reuniu seu povo terreno, Israel (Êx 19.16). A última trombeta de
Deus será ouvida quando ele reunir seu povo celestial, quando
ele arrebatar sua Igreja. João ouve essa trombeta. Que ele conta
logo duas vezes (no v. 8 e 11)o que o Senhor lhe disse em primeiro
lugar, prova sua comoção. A voz disse: "Eu sou o Alfa e o Ômega,
o princípio e o fim" (Ap 1.8, Ed. Rev. e Corr.). Isso é um grande con-
solo para ti! Aquilo que experimentas agora - o dia-a-dia, do
qual talvez tens medo por algum motivo, seja por causa da tua si-
tuação familiar, do teu estado de saúde precário, das tuas condi-
ções de trabalho, etc. - não é o princípio e o fim. Jesus é o princí-
pio e o fim! João está abalado, porque não vê mais o Senhor Je-
sus como o Salvador, mas como o Cristo. Ele, portanto, não o vê
mais como Aquele que andou por trinta e três anos nesta terra,
curando e ajudando. Não, ele o vê como o Eterno. O que nos cha-
ma a atenção aqui também é quão claramente o Senhor dá a or-
qern a João: liaque vês, escreve em livro e manda às sete igrejas:
Efeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia"
(v. 11). O Senhor cita as coisas pelo nome, para que João saiba
exatamente o que deve fazer: escrever aquilo que o Senhor lhe or-
denou. Qualquer possibilidade de um mal-entendido estava ex-
cluída. Sua tarefa era para ele um elevado compromisso, e ele
também a executou. Suponhamos que João tivesse ficado para
sua própria edificação com tudo que lhe foi revelado de maneira
tão farta. Pois ele poderia ter dito: Estou aqui tão sozinho - que
maravilhoso que o Senhor me fortalece de maneira tão especial.
Ou ele poderia ter dito que estava cansado e queria finalmente
recuperar-se um pouco. Mas não, João escreveu!

O Senhor nos dá tarefas bem concretas. Conhecemos esses en-


cargos: "Ide, por todo o mundo e pregai o evangelho a toda cria-
tura"(Mc 16.15b). li... sereis minhas testemunhas"(At 1.8). "Vinde
após mim" (Mt 4. 19a). Trata-se de diferentes incumbências com
o mesmo alvo: Ele deve ser revelado! Já executaste a tua incum-
bência? Se não, então negaste a outros a revelação de Jesus
Cristo! Apressa-te, porque o tempo da graça está quase no fim.

João relata mais: "Voltei-me para ver quem falava comigo ..." (v.
12a). O Espírito Santo, que havia tomado conta de João, volta-o,
isto é, afasta-o da visão natural, presente - afasta-o do que é ter-
reno. Pois o homem natural nada entende das coisas do Espírito.
Elas lhe são loucura. Afasta-te da atual direção do teu olhar e
volta-te para Aquele que te fala.
28
o que João vê quando se volta? Elevê agora o Cristo glorificado?
Inicialmente não, mas: voltado, vi sete candeeiros de ouro" (v.
l i...

12b). O que são esses candeeiros de ouro? É o que diz o versículo


20b: ~/... os sete candeeiros são as sete igrejas". O que logo cha-
ma a atenção aqui é que João, antes de ver a glória da pessoa de
Jesus Cristo, vê primeiro a Igreja! Isso quer dizer: ninguém é ca-
paz de ver Jesus em glória, a não ser através da verdadeira Igreja!
Que responsabilidade temos! "Vós sois a luz do mundo", disse o
Senhor (Mt 5.14). Quando um homem, decepcionado por todo o
engano do mundo, finalmente se volta, então ele vê primeiro a
Igreja. Aí está nossa elevada missão, pois a glória da Igreja é a
glória de Jesus Cristo. Por isso deve-se dizer com toda a serieda-
de e bem radicalmente: a Igreja de Jesus perde seu direito de
existência quando não é mais o início da revelação de Jesus
Cristo! Essa é a grande vergonha do nosso tempo, que o mundo
ri sobre a igreja, sobre os crentes, dizendo: "O que eles querem?
Eles não são nada diferentes de nós!" Isso era completamente
diferente na primeira igreja. Ali pecadores, inclusive sacerdotes,
tremiam e oravam quando iam à igreja, porque na igreja viam a
glória de Jesus.

sete candeeiros de ouro." Sete é o número da plenitude divi-


l i...

na. Ouro é purificado e limpo, ele é valioso e estável. Na Antiga


Aliança o ouro era santificado a Deus. Pensemos no preço eleva-
, do do ouro. Isso é a Igreja, que foi adquirida por preço elevado,
pelo sangue de Jesus! Mas ainda mais: no fato de João ver a Igre-
ja como candeeiro de sete braços, vemos com ele a vocação de
Israel. Pois o símbolo de Israel nos tempos modernos é a Meno-
rá, o candeeiro dourado de sete braços. Como Igreja de Jesus re-
cebemos por tempo limitado - até ao arrebatamento - a voca-
ção de Israel, de ser portador de luz. Que João agora vê primeiro a
Igreja, prova a maravilhosa unidade orgânica com o Senhor Je-
sus, a quem vê agora. Quão claramente é dito: " e no meio dos
candeeiros, um semelhante a filho de homem" (v. 13). Na Edição
Revista e Corrigida está escrito mais claramente: "E no meiodos
sete castiçais um semelhante ao Filho do homem." Isso signifi-
ca: a Igreja de Jesus é perfeita, porque Jesus está em seu meio.
Tudo fica confuso e obscuro, quando ele não é mais o centro da
tua vida. Está ele no centro da tua vida, como Paulo afirma em Fi-
lipenses 1.21: para mim o viver é Cristo"? Esse é o problema
l i...

de tantos, que Jesus Cristo foi empurrado para a margem, que


tantas outras coisas e pessoas são mais importantes do que ele.

29
Ele era o centro na estrebaria de Belém. Incontáveis anjos canta-
vam. Cientistas ("magos") vieram de muito longe para adorá-lo.
Do mesmo modo também os pastores. Todos procuravam e
acharam o menino Jesus e todos falavam dele. Ele era também o
centro da ação de Deus na cruz de Gólgota. Pois "Deus estava
em Cristo, reconciliando consigo o mundo" (2 Co 5.19). Ele, o Cor-
deiro de Deus, será o centro da glória de Deus e iluminará a nova
Jerusalém. Ele somente é a fonte, a vida, o poder, o futuro, o ca-
beça da Igreja. Assim João vê que Jesus Cristo e sua Igreja 'são
inseparáveis. Ela não tem luz sem ele. Ela não tem vida sem ele.
Ela não é capaz de amar sem ele. Tudo é dele e através dele e pa-
ra ele. Não é surpreendente que João nem descreve os candeei-
ros de ouro em si? Ele simplesmente constata sua existência.
Seus olhos fixam-se imediatamente naquele que se encontra no
meio dos candeeiros, a verdadeira fonte de luz. Nunca devemos
imaginar que ele se mantém passivo no centro de nossa vida ou
da nossa igreja. Não! Em Apocalipse 2.1 está dito que ele anda:
li... que anda no meio dos sete candeeiros de ouro", isto é: ele não

fica parado. Ele prova e analisa cada um dos seus portadores de


luz! Deixa tua luz brilhar! Ele limpa o pavio, acrescenta óleo do
Espiríto Santo, para que ilumines.

li... com vestes talares " (v. 13). Chama a atenção que na descri-

ção do Cristo elevado João demonstra uma certa reserva. Mas


justamente essa reserva sublinha a majestade do Senhor eleva-
do. "... um semelhante a filho de homem, com vestes talares". Es-
se não é mais o Filho do homem em humildade, não, não, pois ele
está cingido com uma cinta de ouro à altura do peito. As vestes
compridas indicam a dignidade sumo-sacerdotal, a cinta de ouro
sua dignidade real. No fundo João vê aqui o Sumo Sacerdote e
Rei que está voltando, ou seja, o Messias de Israel. Pois a Igreja à
sua volta (os sete candeeiros) é sua glória. Ele é o Redentor e So-
berano do seu reino. E então João vê a cabeça do seu Senhor: "A
sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os
olhos, como chama de fogo" (v. 14). Não é mais a cabeça cheia
de sangue e ferimentos, coberta com a coroa de espinhos, desfi-
gurada pela humilhação e tortura. Pelo contrário, João descreve
aqui com expressões simples a maior glória. O Espírito Santo
sempre age assim. No profeta Daniel, por exemplo, o Espírito
Santo, utiliza a fig,ura da "pedra cortada sem auxílio de mãos",
que encheu toda a terra e esmiuçou a estátua das nações, para
descrever a glória do Filho de Deus (cornp. Dn 2).João vê sua ca-

30
beça e seus cabelos, que brilham como alva lã, como neve. Com
isso ele quer dizer que sobre ele repousa o indescritível fulgor da
glória celestial. A coroa de espinhos transformou-se em coroa de
honra. Os olhos de Jesus são vistos por João não mais cheios de
lágrimas, como os viu quando Jesus chorou sobre Jerusalém,
mas como chamas de fogo. Encontramos os mesmos olhos em
Apocalipse 19.12: "Os seus olhos são chama de fogo; na sua ca-
beça há muitos diademas."
Esses são os olhos do seu amor justo e santo, que tudo perscru-
tam. Também agora esses olhos nos olham da sua glória. Aí um
homem sucumbe; como Pedroquando Jesus voltou-se e olhou-o.
Os pés de Jesus são vistos por João não mais traspassados,
mas: "... semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa
fornalha" (v. 15). Os olhos como chamas de fogo e os pés como
refinados numa fornalha - isso mostra Jesus como o Juiz. Ele
não é, portanto, somente Rei e Sacerdote. Também no capítulo
2.18 nós o vemos como Juiz: "Estas causas diz o Filho de Deus,
que tem os olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao
bronze polido." Que aqui ele realmente aparece como Juiz para
as nações e como ReconciIiador e Sumo Sacerdote para Israel,é
provado pelo fato de que justamente a Tiatira ele fala também de
juízo e graça: "Eis que a prostro de cama, bem como em grande
tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam"
(cap. 2.22). Isso é juízo. Mas ele acrescenta: "Digo, todavia, a vós
• outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa dou-
r• trina e que não conheceram, como eles dizem, as causas profun-
das de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão somente
conservai o que tendes, até que eu venha. Ao vencedor, e ao que
guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade so-
bre as nações" (cap. 2.24-26). Isso é graça!
A voz que João ouve não é mais a voz suave do bom pastor, que
calou-se, como uma ovelha diante do seu tosquíador, quando foi
cuspido, injuriado e finalmente pregado na cruz. Agora a voz é
tão poderosa, que João precisa novamente usar a palavrinha
"como": "... como voz de muitas águas" (v. 15). Não é essa a voz
de juízo de Deus, que sempre novamente ouvimos na Bíblia? Je-
remias também a ouviu. Ele compara-a com a voz de leão que ru-
ge (comp.Jr 25.30-38). Também Joel descreveessa vozjulgadora:
"O Senhor brama de Sião, e se fará ouvir de Jerusalém, e os céus
e a terra tremerão; mas o Senhor será o refúgio do seu povo, e a
fortaleza dos filhos de Israel" (JI 3.16). Também esse texto mos-

31
tra claramente: sua voz significa juízo sobre as nações e graça
para Israel. Também Amós ouviu essa voz do Senhor: "Ele disse:
O Senhor rugirá de Sião, e de Jerusalém fará ouvir a sua voz; os
prados dos pastores estarão de luto, e secar-se-á o cume do Car-
melo" (Am 1.2). Da mesma forma Oséias: "Andarão após o Se-
nhor; este bramará como leão, e bramando, os filhos, tremendo,
virão do ocidente" (Os 11.10).
Agora João nos mostra em Apocalipse 1.16 o rosto do Senhor
elevado. Mas antes de descrever seu rosto, ele fala da sua mão
direita. Não se trata mais da mão na qual um soldado romano a
caminho de Gólgota colocou um caniço, para zombar da sua dig-
nidade real. Não, agora ele segura as sete estrelas em sua mão:
"Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão di-
reita ... as sete estrelas são os anjos das sete igrejas ..." (v. 20). Ele
segura, portanto, em sua mão direita, traspassada, os responsá-
veis das sete igrejas. Vemos aqui a volta de Jesus em grande po-
der e glória com a Igreja glorificada!
Então João fala da boca do Senhor. Ele não vê a boca do Senhor
na qual um soldado bateu. Não, ele vê como da sua boca sai uma
espada afiada de dois gumes (v. 16). Essa é a Palavra de Deus
que se tornou carne. "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra
até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta
para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hb
4.12). Paulo diz que ele destruirá o iníquo "com o sopro de sua bo-
ca" (2 Ts 2.8).
E então João descreve o rosto. Esse é tão magnífico para ele, que
João não pode olhá-lo. Pois novamente encontramos a palavri-
nha "como": "... brilhava como o sol na sua força" (v. 16b). A Edi-
ção Revista e Corrigida diz: ".. era como sol, quando na sua força
resplandece." Não sapode olhar para o sol. Mas a Israel está pro-
metido: "Mas para vós outros que tem eis o meu nome nascerá o
sol da justiça..." (MI4.2).
Assim, no início da revelação de Jesus Cristo, João vê o essen-
cial: ele vê Jesus Cristo mesmo como Rei, Sacerdote, Profeta e
Juiz. A figura martirizada - o mais desprezado - transformou-
se agora em figura de vencedor! João fica prostrado pela santi-
dade e majestade de Jesus Cristo: "Quando o vi, caí a seus pés
como morto"(v. 17). O Senhor, porém, não o deixa caído, mas põe
sobre ele a sua mão direita, dizendo: "Não temas; eu sou o pri-

32
meiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que es-
tou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e
do inferno" (w. 17b-18). Apesar de João ser salvo, ele conti nua na
terra. Por isso ele ainda não pode ver o Senhor revelado.

Daniel, um dos maiores homens de Deus da Bíblia, experimentou


exatamente o mesmo. Ele o descreve em Daniel 10.5-9: "... e eis
um homem vestido de linho, cujos ombros estavam cingidos de
ouro puro de Ufaz; o seu corpo era como o bento, o seu rosto co-
mo um relâmpago, os seus olhos como tochas de fogo, os seus
braços e os seus pés brilhavam como bronze polido, e a voz das
suas palavras como o estrondo de muita gente. Só eu, Daniel, ti-
ve aquela visão; os homens que estavam comigo nada viram, não
obstante, caiu sobre eles grande temor, e fugiram e se esconde-
ram. Fiquei, pois, eu só, e contemplei esta grande visão, e não
restou força em mim; o meu rosto mudou de cor e se desfigurou,
e não retive força alguma. Contudo, ouvi a voz das suas palavras;
e ouvindo-a, caí sem sentido, rosto em terra." E então Daniel ex-
perimentou o mesmo que João: "Eis que certa mão me tocou,
sacudiu-me e me pôs sobre os meus joelhos e as palmas das mi-
nhas mãos. Ele me disse: Daniel, homem muito amado..." (w. 10-
11a). O Senhor mesmo queria revelar-se a ele, para que pudesse
transmiti r a revelação. O Senhor quer transmitir a sua glória a nós,
para levarmos adiante a sua imagem.

Que contraste há entre a experiência de Daniel e de João e toda a


Humanidade não-convertida! Quando ela (todas as tribos) o vir,
começará uma grande lamentação (v. 7). Mas então ele estará
"cingido à altura do peito com uma cinta de ouro" (v. 13), e então
cumprir-se-á Provérbios 1.28: "Então me invocarão, mas eu não
responderei; procurer-me-êo, porém não me hão de achar. " Após
essa comovente e magnífica revelação do Senhor Jesus Cristo,
João não teve uma pausa, mas a ordem imediata: "Escreve,
pois, as causas que viste ..., e as que hão de acontecer depois
destas" (v. 19). A revelação de Jesus Cristo a João não foi dada
em seu próprio proveito, mas impunha-lhe a sagrada obrigação
de transmitir essa revelação às igrejas. E para que esteja excluí-
da qualquer dúvida, o Senhor esclarece no versículo 20 o mistério
das sete estrelas e dos sete candeeiros de ouro. O objetivo da re-
velação de Jesus Cristo a João é, portanto, a Igreja, que como
seu corpo está intimamente incluída nas coisas "que hão de
acontecer depois destas".
33
As cartas às sete igrejas
No segundo e terceiro capítulos do Apocalipse encontramos
uma parte muito importante da Sagrada Escritura: as cartas. O
piedoso Or. Bengel costumava aconselhar o estudo dessas car-
tas principalmente aos pregadores jovens. Como as parábolas,
essas cartas consistem exclusivamente das palavras do próprio
Cristo. Trata-se das últimas que temos diretamente dele. Talvez
sejam também as únicas que nos são dadas integralmente. Com
suas introduções solenes: "Estas cousas diz aquele ...". e alocu-
ções diretas: "conheço ...". elas transmitem a impressão de ex-
traordinária majestade. Essa impressão resulta não por último
também devido à ordem sete vezes repetida: "Quem tem ouvi-
dos, ouça o que o Espírito diz às igrejas."

Não há indicações de que as sete cartas seriam dirigidas somen-


te às sete igrejas locais, pois essas igrejas representam toda a
Igreja de Jesus. O número sete representa a plenitude e perfei-
ção divina da era da Igreja. Isto é: a mensagem do Cristo elevado
às sete igrejas na Ásia Menor vale da mesma forma para toda a
Igreja hoje, como teve validade para a Igreja já glorificada de ge-
rações passadas. Mas as sete cartas não são proféticas no sen-
tido de cada uma representar uma época determinada na Histó-
ria Eclesiástica. Essa espécie de interpretação levou a muitas
exegeses, suposições e hipóteses arbitrárias. Apesar de não se
poder negar que - como na estátua das nações de Nabucodo-
nosor, onde a redução da qualidade exterior das potências mun-
diais foi representada nos diversos metais (ouro, prata, bronze,
ferro, barro) - o poder espiritual da Igreja de Jesus diminuiu
constantemente no decorrer dos séculos por causa de compro-
missos e mundanização, de modo que a Igreja dos tempos finais
hoje é em grande parte idêntica a Laodicéia. Mas não estão to-
dos os aspectos positivos e negativos mostrados pelo Senhor
julgador e elevado nas sete igrejas, presentes na Igreja toda? Ou-
çamos, portanto, o que o Espírito diz hoje à Igreja através das se-
te cartas!

34
A primeira carta do céu
"Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas cousas diz aquele
que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio
dos sete candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, assim o teu
labor como a tua perseverança, e que não podes suportar ho-
mens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se decla-
ram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perse-
verança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te
deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o
teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te,
e volta à prática das primeiras obras; e se não, venho a ti e move-
rei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. Tens,
contudo, a teu favor, que odeias as obras dos ntooteites, as quais
eu também odeio. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz
às igrejas. Ao vencedor dar-Ihe-ei que se alimente da árvore da vi-
da que se encontra no paraíso de Deus" (Ap 2.1-7).

Éfeso era a antiga capital da Ásia Menor, com aproximadamente


meio milhão de habitantes; uma orgulhosa metrópole e ao mes-
mo tempo um destacado centro mercantil e o centro do culto a
Diana, como Atos 19 nos mostra claramente. Havia ali numerosa
comunidade judaica, que Paulo conheceu em sua segunda via-
gem (At 18.19-21). Também Apolo pregou lá (At 18.24-28). Mais tar-
de Paulo morou por três anos em Éfeso (At 20.31). Através do seu
trabalho o Senhor fundou a Sua Igreja dentre judeus e gentios.
Foi dos anciãos dessa igreja que Paulo despediu-se de forma tão
comovente em sua terceira viagem missionária (At 20.17-38). A
essa igreja Paulo escreveu sua grandiosa carta, na qual nos é da-
do certamente o mais profundo entendimento sobre o mistério
da Igreja, do corpo de Jesus Cristo. A tradição diz também que
Éfeso foi o local de residência do apóstolo João, e que ele traba-
lhou e morreu ali. De lá, após a morte de Paulo, ele teria supervi-
sionado as igrejas da Ásia Menor. Entre 630 e 640 d. C. Éfeso caiu
nas mãos dos turcos. A cidade mesmo foi destruída em 1402d.C.
por Timur-Lenk. As ruínas restantes chamam-se hoje Adscha So-
r: luk, surgido de Hagios Theologos, que quer dizer "santo
teólogo", lembrando o apóstolo João, "o teólogo", que teria sido
sepultado lá.
"Ao anjo da igreja em Éfeso escreve" (v. 1). Uma igreja local rece-
be uma carta pessoal do Senhor! "Ao anjo da igreja ..." Trata-se

35
nesse caso realmente de um ser angélico? É quase certo que
não. Pois a palavra "anjo" é também freqüentemente traduzida
como "mensageiro". A explicação mais razoável é que se fala
aqui dos líderes da igreja. Em volta da ilha de Patmos no Mar Me-
diterrâneo, onde o apóstolo João estava banido, encontravam-se
as sete igrejas da Asia Menor. Os sete anjos, ou seja, anciãos,
mantinham a comunicação entre João e as igrejas (cap. 1.19-20).
Eles tinham uma grande responsabilidade. Já sentimos isso na
leitura do primeiro versículo: "Ao anjo da igreja em Éfeso escre-
I(e. " Pois o que o Senhor mandou escrever ao ancião da igreja em
Efeso, era destinado a toda a igreja. Sua responsabilidade con-
sistia, portanto, em transmitir fielmente à igreja tudo o que o Se-
nhor disse a João e que João escreveu. Também nós temos essa
responsabilidade, desde que sejamos servos ou servas do Se-
nhor Jesus: transmitir aquilo que o Senhor nos diz. Ele confiou-
nos muito! Mas é também uma enorme bênção quando transmi-
timos o que recebemos! Essa, aliás, era também uma das maio-
res fontes de poder do nosso Senhor Jesus. Ele testemunha na
oração sacerdotal: "porque eu lhes tenho transmitido as pala-
vras que me deste ..." (Jo 17.8). Quão pobres e miseráveis são as
igrejas e congregações que não têm mais mensageiros que incli-
nam seus ouvidos para a Bíblia, para o coração de Deus!
E agora o Senhor elevado, o Autor, fala de si mesmo no versículo
1: "Estas cousas diz aquele que conserva na mão direita as sete
estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro." O que
significa isso não é um segredo, pois a Bíblia fornece comentário
para a Bíblia. De modo que alguns versículos antes, é dito o que
são os sete candeeiros: "Quanto ao mistério das sete estrelas
que viste na minha mão direita, e os sete candeeiros de ouro, as
sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros
são as sete igrejas" (cap. 1.20). Portanto, está claro o que o Se-
nhor quer dizer com a frase: "Estas cousas diz aquele que con-
serva na mão direita as sete estrelas ..."Que consolo: ele conser-
va seus servos em sua mão! És um servo, uma serva de Jesus?
Então isso vale também para ti! "... ninguém as arrebatará da mi-
nha mão" (Jo 10.28). E o que diz o Senhor elevado, que anda no
meio dos sete candeeiros, das sete igrejas. Quão grande é a luz
de uma igreja! No Antigo Testamento, Israel tinha somente uma
luz, a Menorá, que iluminava o tabernáculo e mais tarde o tem-
plo. As sete igrejas representam a Igreja completa. Ela tem uma
séptupla plenitude de luz. "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5.14),
disse o Senhor Jesus.
36
Quando o Senhor apresenta a si mesmo, para evitar que haja dú-
vidas sobre a autoria da carta, ele ao mesmo tempo legitima
seus servos: "... que conserva na mão direita as sete estrelas". Is-
so lembra Isaías 42.1: "Eis aqui o meu servo, a quem sustento".
Além disso o Senhor diz que anda entre os sete candeeiros, que
não está simplesmente parado. Ele está no seu meio! E: ele age
no seu meio!
Observemos o Senhor Jesus no seu caminho vitorioso do céu pa-
ra a terra: três dias após sua morte na cruz, ele ressuscitou vito-
riosamente e quarenta dias depois ele subiu ao céu em triunfo,
assentando-se à direita da Majestade de Deus. Mas através do
Espírito Santo ele anda hoje entre as sete igrejas, isto é, entre to-
da a Igreja. Ele está presente, apesar de que no Novo Testamen-
to o vemos nove vezes (das quais quatro na Epístola aos He-
breus) assentado à direita da Majestade nas alturas. Ele está
"acima de todo principado, e potestade, e poder, e aomtnto, e de
todo nome que se possa referir não só no presente século, mas
também no vinâouro" (Ef 1.21). Sua elevação nada mais é do que
o resultado da sua ressurreição. E o maravilhoso: quando Jesus
subiu ao céu, foi como com Abraão, do qual está dito que Melqui-
sedeque foi ao seu encontro e lhe trouxe pão e vinho. Quando is-
so aconteceu, Levi já se encontrava nos lombos de Abraão, isto
é: todo o Israel, o sacerdócio (Hb 7.5), já estava em Abraão. Mas
ele ainda não estava revelado. E quando Jesus subiu ao céu, to-
da a Igreja já estava nele. Nós ainda não éramos visíveis, mas es-
távamos presentes; estávamos figuradamente nos seus lombos,
pois ele é a cabeça e nós somos os membros. Nós somos o cor-
po de Jesus Cristo, e assim o triunfo de Jesus Cristo - sua as-
censão e seu assentar-se à direita da Majestade de Deus - é
também nosso triunfo! (comp. Ef 2.6).
O grande tema dessa primeira carta do céu, do Cristo elevado,
contém duas coisas: serviço e amor. "Conheço as tuas obras, as-
sim o teu labor como a tua perseverança, e que não podes supor-
tar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se
declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens
perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e
não te deixaste esmorecer" (vv. 2-3). Isso é serviço - serviço fiel
e incansável, combinado com inexistência de compromissos,
pois ele diz no versículo 6: "Tens, contudo, a teu favor, que odeias
as obras dos nicolaítas." Os nicolaítas eram cristãos que apesar
de serem convertidos e membros da Igreja de Jesus, de alguma

37
maneira estabeleciam compromissos e aprovavam pecados da
carne. Isso era rejeitado pela igreja em Éfeso. Ela rejeitava deci-
didamente toda semelhança com o mundo - portanto: serviço e
amor. Olhemos claramente esses dois conceitos básicos do dis-
cipulado de Jesus, e ouçamos aquilo que o Senhor elevado diz a
respeito à igreja em Éfeso.
Primeiro algo do amor, que aos olhos do Senhor está sempre em
primeiro lugar. Depois falaremos do serviço e finalmente mais
uma vez do amor.
O amor passa como um fio vermelho através de toda a Bíblia. O
amor é o mais elevado. Por isso Paulo louva o amor em 1 Corín-
tios 13 e constata: "... se não tiver amor, nada serei" (v. 2). No Anti-
go Testamento há duas passagens em que é exigido amor: "Ago-
ra, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti? Não é que te-
mas o Senhor teu Deus, andes em todos os seus caminhos, e o
ames, e sirvas ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de to-
da a tua alma" (Dt 10.12). E uma passagem semelhante em Mi-
quéias 6.8: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que
o Senhorpede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a mise-
ricórdia, e andes humildemente com o teu Deus." Se agora reuni-
mos essas duas passagens, temos sete exigências que o Senhor
fazia a Israel na Antiga Aliança. Como o mesmo tema é predomi-
nante também na primeira carta do céu, vamos organizar essas
exigências. Em Deuteronômio 10.12:1 - temer o Senhor; 2 - an-
dar em seus caminhos; 3 - amá-lo; 4 - serví-Io de todo o cora-
ção e de toda a alma. Em Miquéias 6.8: 5 - praticar ajustiça; 6-
amar a misericórdia e 7 - andar humildemente com Deus. Es-
clarecedor é que essas duas afirmações no Antigo Testamento
não somente contêm sete exigências de Deus, mas também que
uma delas é repetida, se bem que com uma nuance. Em Deutero-
nômio 10.12 é dito: "o ames", em Miquéias 6.8: "ames a miseri-
córdia". Isso, porém, é o cumprimento da exigência completa do
Senhor, como ele a expressou no Novo Testamento. Quando um
fariseu foi a Jesus e perguntou: "Mestre, qual é o grande mende-
mento na lei?" (Mt 22.36), está escrito: "Respondeu-lhe Jesus:
Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende
toda a lei e os profetas"(Mt 22.37-40). Se não vemos essa relação,
não podemos entender direito a carta. Aliás: não se pode enten-

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der direito o Novo Testamento quando não se conhece o Antigo
Testamento. Claramente o Senhor descreve sua exigência nas
duas passagens antigo-testamentárias, mas a mais elevada de
forma dupla: "amá-lo" e "ama teu próximo". O último resulta do
primeiro.
Se sua pergunta a nós pessoalmente é: "Tu me amas?", então
vamos provar-nos com santa seriedade e perguntar-nos: corres-
pondemos a essa única e assim mais elevada necessidade, ou
falta-nos afinal a única condição para o serviço abençoado? Pois
a Igreja de Jesus consiste de servos do Senhor. O próprio Senhor
Jesus descreveu o que realmente é servir: "Se alguém me serve,
siga-me" (Jo 12.26). Esta é portanto a definição de servir: esse si-
ga a Jesus! Sabemos disso muito bem e também cantamos lo-
go: "Estou decidido, a seguir a Jesus..." Mas não coloquemos a
ênfase sobre o "estou", mas sobre a pessoa, sobre Jesus! A in-
disposição para servir no reino de Deus tem sua raiz no distan-
ciamento da pessoa do Senhor Jesus. Não há mais amor arden-
te, não há mais verdadeiro discipulado.
Não se pode dizer dos efésios que eles não tinham disposição
para servir. Pelo contrário, raramente existiu uma igreja que fos-
se tão zelosa e tão pronta para o trabalho, tão sem compromis-
sos e tão biblicamente fundamentada como a de Éfeso: "Conhe·
ço as tuas obras, assim o teu labor como a tua perseverança, e
que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os
I' que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste
mentirosos" (w. 2-3). Que atividade de serviço cristão tinha essa
igreja! O alto grau de conhecimento dá frutos. O Senhor sabe de
tudo que fazemos! Esse "conheço" aparece sete vezes nas car-
tas.
Se te esforças e te gastas no trabalho para o Senhor e lhe sacrifi-
cas teu tempo livre, então ele diz: "Conheço..." Mas esse conhe-
cer do Senhor elevado não significa sempre alegria para ele, por-
que freqüentemente não correspondemos à sua exigência mais
elevada.
Faz-se necessária, entretanto, uma correção, pois a palavra "exi-
gência" aparece no Antigo Testamento, mas não no Novo Testa-
mento. No Antigo Testamento está dito: "que é que o Senhor re-
quer de ti", mas no Novo Testamento temos um Senhor que pe-
de. O Antigo Testamento, a lei, diz: "Faz isso, e viverás". O Novo
Testamento, a graça diz: "Vive, e o farás". Por que o Senhor não
se alegra pelos efésios, apesar de poder enumerar tantas coisas
positivas nos versículos 2-3 da sua carta? Porque seu serviço -
e isso vale também para o nosso - era quantitativamente notá-
vel, mas qualitativamente deficiente. Por quê? Porque não era
abençoado. Por quantitativo entendemos o efeito horizontal,
aquilo que se percebe à nossa volta, o que impressiona às pes-
soas: boa pregação, canto bonito, testemunho emocionante, de-
dicação abnegada. Não se pode dizer que no reino de Deus nada
acontece nesse sentido. Mas qualitativamente...? Qualidade é
aquilo que também poderíamos chamar efeito de profundidade:
serviço abençoado, porque tem suas fontes na pessoa de Jesus
e leva a Jesus! E isso que o Senhor quer dizer aos efésios: "Co-
nheço as tuas obras, assim o teu labor como a tua perseverança,
e... e..." Mas então vem a acusação: "Tenho, porém, contra ti que
abandonaste o teu primeiro amor." Se servimos no primeiro
amor, temos ilimitados efeitos de profundidade: lançamos fun-
damentos, que permanecem para sempre e damos frutos que
têm valor eterno. Em duas palavras: somos abençoados. Mas se
não somos abençoados, o tempo nos foge.
O serviço do Senhor Jesus era da mais alta qualidade. Ele era o
servo de todos: "... o Filho do homem, que não veio para ser servi-
do, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt
20.28). Seu serviço tinha grandiosos e profundos efeitos. Cada re-
nascido é um fruto do seu serviço. Qual era o motor do seu servi-
ço, que o impeliu a entregar a sua vida? Era o seu grande, maravi-
lhoso e inestinguível amor! Um serviço sem o primeiro amor por
ele é sem efeito; é um serviço frio, degenerado para um nível frio,
social: evangelho social. Aí podemos fazer muitas coisas boas,
ou seja, "ao próximo" - tornar-nos até mesmo um segundo Pes-
taíozzí ou um segundo Albert Schweitzer -, mas se a mola pro-
pulsora não é o amor de Jesus, isso não tem efeito de profundi-
dade, mas no máximo horizontal. O Senhor Jesus diz: "Ninquém
tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em fa-
vordos seus amigos"(Jo 15.13). Por amor - aquem? Em primei-
ra linha impulsionava-o o ardente amor pelo seu Pai. A Bíblia está
cheia de provas desse maravilhoso amor do Filho pelo Pai e do
Pai pelo Filho. Assim Deus dlsse três vezes do céu: "Este é o meu
Filho amado" e "Eu já o glorifiquei, e ainda o glorificarei" (Mt
3.17; 17.5; Jo 12.28). Essa era a majestade do seu serviço. Nisso
estava sua autoridade. Seu serviço não era estéril, não se tratava
de atividade cristã ou social. Seu amor era um "propulsor" tão
forte, que ele podia suportar tudo. O amor a Jesus tem que ser a
40
mola propu Isora do nosso serviço. "... o amor de Cristo nos cons-
trange" (2 Co 5.14). Se não é esse amor que nos propulsa, nosso
serviço não é abençoado. "Serviço abençoado" no fundo não
significa nada mais do que fazer a vontade de Deus. A santa von-
tade de Deus é movida pelo seu caráter, e esse é amor! "Porque
Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigêni-
to..." (Jo 3.16). Portanto: sua vontade de dar o seu Filho foi impul-
sionada pelo seu amor. Tudo que fazemos tora da pessoa do Se-
nhor, é ponto-morto. Por mais cristãs que sejam nossas ativida-
des, vale: "... se não tiver amor, nada serei" (1 Co 13.2).
Quando falamos do primeiro amor, falamos do mais sagrado.
Com esse primeiro amor faz-se referência a duas coisas: o pri-
meiro amor e o amor em primeiro lugar. Ter perdido o primeiro
. amor significa: não realizar mais as primeiras obras. Volta à prá-
tica das primeiras obras, como as fizeste antigamente: com ora-
ção e com o motivo "por causa de Jesus". Tu não és mais com
ele como eras antes. Quantas vezes se vê isso também em matri-
mônios que foram realizados contra a vontade de Deus. Eles co-
meçam idealisticamente e cheios de confiança. Mas logo, o pri-
meiro amor começa a esfriar, sim ele chega ao ponto de congela-
mento. Os cônjuges não têm mais nada a se dizer. Assim é nas
coisas espirituais: tu talvez ainda oras, contribuis e cantas, mas
o fulgor do primeiro amor, que iluminava tudo que fazias antes,
não existe mais. Talvez fales em "línguas de anjos", tenhas uma
fé poderosa, trabalhes sem te cansares, sendo zeloso e sem
compromissos - mas sem aquilo que vivifica tudo: o primeiro
amor.
t· Com isso chegamos ao segundo significado de "Tenho, porém,
contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. "Certamente, tu o
amas, mas: que lugar ocupa esse amor a Jesus em tua vida? Em
Efeso havia tantas coisas importantes, também para os crentes.
Éfeso era, como citado, uma rica cidade comercial, um centro do
Oriente, que oferecia muitas possibilidades. Com o tempo, para
muitos crentes os negócios, o trabalho, as relações, o planeja-
mento do tempo livre, começaram a ocupar o primeiro lugar. Es-
tás também em vias de dar o primeiro lugar a algo que não seja
Jesus, abandonando assim o primeiro amor? O primeiro amor
nada mais é do que a disposição de sofrer. Sofrer é maior que tra-
balhar. O maior significado do grão de trigo não se encontra em
si mesmo, mas no fato dele morrer. "Primeiro amor" significa,
portanto: disposição para realmente morrer [unto com Cristo;

41
amor à cruz. Qual é o lugar que o amor a Jesus, o amor à cruz,
ocupa em teu coração? "Tenho, porém, contra ti que abandonas-
te o teu primeiro amor", diz o Senhor. A chamada infra-estrutura
pode engolir muitas coisas em nossa vida. Tantas coisas banais
ocupam o primeiro lugar: rádio, jornal, dinheiro, conforto. Um
exemplo claro disso são os jogos olímpicos. As poucas semanas
custam cada vez bilhões de cruzeiros. Com razão um jornalista
chamou isso de estupidez de proporções. O aparato foi e é (de
modo crescente) muito grande em proporção ao essencial. Co-
mo é a proporção entre o essencial, o primeiro amor ao Senhor, e
o aparato para tua vida diária? És absorvido completamente pela
tua vida no dia-a-dia, pelas tuas atividades diligentes, pelo teu
pensamento material? Está o amor ao Senhor Jesus em último
lugar, ou ele já desapareceu completamente? Porque tantos
abandonam o primeiro amor, não temos ainda um despertamen-
to abrangente. Milhões de pessoas vão para a perdição eterna,
porque o primeiro amor ao Senhor não arde mais, porque os fi-
lhos de Deus não estão dispostos a fazer toda a vontade de
Deus. Obediência ao Senhor e amor por ele, isso é inseparável.
Quanto a vontade de Deus está relacionada com o seu grande
amor, percebe-se pela sua própria afirmação em Oséias 14.4: "...
eu voluntariamente os amarei" (Ed. Rev. e Corr.).

Teu raio de ação é tão reduzido, porque não estás disposto a fa-
zer a vontade do Senhor, e não estás disposto a fazer a vontade
do Senhor, porque teu amor completo não lhe pertence. Ele mes-
mo disse: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda,
esse é o que me ama" (Jo 14.21).
Por que a Palavra de Deus teve tanta penetração entre os primei-
ros cristãos, na Igreja primitiva? Deus deu um despertamento es-
pecial? Não. Deus é sempre o abençoador, sempre aquele que
dá vida. Mas os primeiros cristãos não amavam a si mesmos,
aos seus bens, ou ao seu dinheiro. Pelo contrário. Eles tinham tu-
do em conjunto; eles entregaram tudo. Eles faziam a vontade de
Deus até às últimas conseqüências - e o Evangelho espalhou-
se.
Mas pela perda do primeiro amor, não é mais cumprida a vontade
de Deus sobre a terra, por cuja realização o Senhor Jesus orou:
faça-se a tua vontade, assim na terre como no céu." O Senhor
JI...

Jesus procura-nos e nos diz: "Lembra-te, pois, de onde caíste,


arrepende-te, e volta à prática das primeíras obras, e se não, ve-

42
nho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arre-
pendas" (v. 5). Então escurece. Percebes como as luzes à tua vol-
ta estão apagando? Vês como fica escuro? Arrepende-te tu e faz
as primeiras obras!
A urgente necessidade de arrepender-se é expressa nessa pri-
meira carta e também nas seguintes com as palavras: "Quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (v. 7, 11,17,29).
Isso quer dizer: aquele que como renascido, como membro no
corpo de Jesus, tem a capacidade, ou seja, a inclinação interior
" para ouvir o que o Senhor diz, esse deve realmente ouvir. Em ou-
tras palavras: ele tem a responsabilidade de atender àquilo que
ouviu e entendeu. Imediatamente em seguida o Senhor faz a pri-
meira promessa aos vencedores: "Ao vencedor dar-Ihe-ei que se
alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus"
(v. 7). Essa primeira promessa aos vencedores nos leva de volta
ao Paraíso e à árvore da vida. Depois que Adão comeu da árvore
do conhecimento do bem e do mal, ele foi expulso do Paraíso,
para que não comesse também da árvore da vida: "Então disse o
Senhor Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, co-
nhecedor do bem e do mal; assim, para que não estenda a mão, e
tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente: o
Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de
lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou
querubins ao oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma espa-
\
da que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn
3.22-24). Através disso vemos que essa árvore da vida protegida,
ou seja, oculta, é o manancial, a fonte original da vida eterna. Os
frutos dessa árvore alimentam a vida eterna. Para que Adão,
após sua queda, não comesse deles e vivesse eternamente na
terra, Deus expu Isou-o do Paraíso, pois a morte era o salário do
pecado. Aqui é agora dito aos vencedores, que comerão da árvo-
re da vida. Em outras palavras: eles terão a vida eterna "perma-
nentemente em si" (1 Jo 3.15). A expressão "vida eterna" já não
mostra de maneira suficientemente clara que se trata de vida
sem fim? Sem dúvida! Mas é indicada a "árvore da vida". Ela é ci-
tada três vezes no Apocalipse (cap, 22.2,14,19). Se, pois, é prome-
tido aos vencedores que o Senhor lhes dará de comer da árvore
da vida, que se encontra no paraíso de Deus, e que terão então a
vida eterna permanentemente em si, temos que observar o se-
guinte: a vida eterna é chamada "eterna", porque vai da eternida-
de do passado até à eternidade do futuro; é a vida de Deus, que
foi revelada em Jesus Cristo, que é Deus (Jo 1.4; 5.26; 1 Jo 1.1-2).
43
Essa vida eterna de Deus, que foi revelada em Cristo, é dada pelo
renascimento a todo aquele que crê no Senhor Jesus Cristo. O
renascido toma posse dela pelo Espírito Santo com base na Pé3,-
lavra de Deus.
Para compreender ainda melhor essa promessa aos vencedores,
temos que notar que essa vida eterna, que o crente recebe, não é
uma vida nova, sendo nova somente no sentido do homem
apropriar-se dela. Trata-se da vida que era "no princípio". E essa
vida de Deus,que o renascido recebe,é uma parte inseparável da
vida que estava em Jesus Cristo desde a Eternidade. Foi isso que
o Senhor Jesus quis dizer, quando afirmou: "Eu sou a videira, vós
os ramos" (Jo 15.5); ou através de Paulo: "Ele é a cabeça, nós os
membros" (comp. Ef 1.22-23;4.16).0 comer da árvore da vida sig-
nifica, portanto: ser completamente um com o Senhor Jesus
Cristo por toda a Eternidade. Por isso é tão importante que seja-
mos vencedores. Somente assim poderemos uma vez comer da
árvore da vida. Então viveremos de Eternidade em Eternidade
diante de Deus e do Cordeiro. A cruz de Gólgota, na qual o Senhor
Jesus derramou seu sangue, tornou-se para nós a árvore da vida!

A segunda carta do céu

"Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas cousas diz o pri-


meiro e o último, que esteve morto e tornou a viver; Conheço a
tua tribulação, a tua pobreza, mas tu és rico, e a blasfêmia dos
que a si mesmos se declaram judeus, e não são, sendo antes si-
nagoga de Satanás. Não temas as cousas que tens de sofrer. Eis
que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para
serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à
morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que
o Espírito diz às igrejas. O vencedor, de nenhum modo sofrerá da-
no da segunda morte" (Ap 2.8-11).

44
Esmirna era naquela época uma bonita e rica cidade comercial
na Ásia Menor, que tinha sido fundada por Alexandre Magno. Ne-
la vivia uma igreja de crentes no Senhor Jesus Cristo pobre e per-
seguida. Significativamente Esmirna quer dizer "murteira" ou
"mirra" ou também "amargura". Os filhos de Deus experimenta-
ram ali muitas coisas amargas e difíceis. No Antigo Testamento
era justamente a mirra que tinha primeiro que ser triturada antes
que pudesse ser oferecida como aroma agradável sobre o altar
do incenso de ouro. Esse era o caminho da igreja de Esmirna, e
também nós, como os crentes de Esmirna, somos triturados, es-
migalhados e esmagados, para que nossa oração na essência
seja nosso próprio ser,tornando-nos nós mesmos um aroma agra-
dável ao Senhor. Esmirna era uma cidade de mártires. Policarpo,
o pai da igreja, foi mais tarde queimado sobre o monte Pagus em
Esmirna; no mesmo lugar o solo foi regado com o sangue de
1.500 testemunhas de Jesus, que foram executadas ao mesmo
tempo, sendo feito o mesmo depois com mais 800. O Senhor vol-
tou seus olhos para essa cidade, pois no tempo em que João se
encontrava em Patmos, ali uma de suas igrejas encontrava-se
em grande tribulação.

Em primeiro lugar o Senhor faz saber a essa igreja: "Eu sei as


tuas obras..." (Ap 2.9, Ed. Rev. e Corr.). Notavel mente, ele não des-
creve essas obras. Isso em contraste com a carta aos efésios,
aos quais mandou escrever: "Conheço as tuas obras, assim o
teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar ho-
mens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se decla-
ram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perse-
verença, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te
deixaste esmorecer" (cap. 2.2-3). Mas em meio às realizações
quantitativas, nosso Senhor vê o essencial. Apesar do Senhor di-
zer a Esmirna: "Eu sei as tuas obras", aparentemente ela não faz
nada. A ação está completamente nas mãos dos adversários da
igreja em Esmirna, e ela suporta o que lhe é feito. Mas justamen-
te nisso encontra-se sua maior atividade! Ela consiste da seme-
lhança com o Senhor Jesus, que realizou a maior obra, deixando
a ação por conta dos inimigos. Quando o Senhor Jesus começou
sua maior obra, ele confirmou aos que foram prendê-lo, em Lu-
cas 22.53b: "Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas."
Ele estendeu suas mãos e deixou-se prender. A Pilatos ele disse
em João 19.11: "Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de ci-

45
ma não te fosse dada." A Pilatos foi, portanto, entregue a ação,
para que Jesus pudesse realizar o maior. Deixa também que te
seja tirada a iniciativa, a capacidade de agir, para que o Senhor
possa agir através de ti e fazer coisas grandes através de ti! "Eu
sei as tuas obras, e tribulação ..." (Ed. Rev.e Corr.). O Senhor sabe
de tudo - também da tua tribulação e dificuldades. Mas não es-
tá justamente aí a razão porque no início dessa carta ele se apre-
senta como o "primeiro e o último, que esteve morto e tornou a vi-
ver" (v. 8)? Com isso, ele diz ao seu pequeno grupo intimidado:
"Estive em grande tribulação antes de vocês. A tribulação de vo-
cês é a minha tribulação. Mas o inimigo que te aflige nunca tem a
última palavra. Eu sou o primeiro e o último. Se tu sucumbires,
estendo meus braços e estou contigo. Morri, e eis que vivo. E tu
deves tornar-te participante da minha morte, para que possas vi-
ver."

"Eu sei as tuas obras, e tribulação ..." Quão alto o Senhor avaliou
justamente as obras invisíveis dos crentes sofredores em Esmir-
na! Ele mede os seus com padrões completamente diferentes do
que nós. Com grande seriedade ele disse à em si mararavilhosa-
mente ativa igreja em Éfeso: "... arrepende-te ... e se não, venho a
ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro" (cap. 2.5). A igreja em
Éfeso estava espiritualmente em perigo de vida, pois estava
abandonando o primeiro amor. Também nós encontramo-nos
em grande perigo quando há penetração de auto-satisfação es-
piritual. Esmirna estava em aflição, Éfeso não. Nosso problema é
que não temos problemas.

O Senhor não estava preocupado com a pobre e sofredora igreja


em Esmirna, apesar dela provavelmente ser composta somente
de pessoas de nível inferior da rica cidade industrial. Os crentes
eram amendrontados e sofriam zombaria. Eles tinham duras tri-
bulações através de falsas doutrinas, e sua vida era ameaçada
pelas autoridades. Eles olhavam para os acontecimentos vin-
douros com grande temor. Justamente por ser assim, porque a
igreja estava quase sucumbindo, o Senhor não a censurou, mas
tinha promessas e maravilhoso consolo preparado para ela! Não
é realmente comovente que o Senhor elevado no versículo 9
refere-se com delicado cuidado a cada aflição, sim, que ele não
deixa de perceber nada, nem esquece nada? "Eu sei as tuas
obras, e tribulação" (Ed. Rev. e Corr.). As obras eram a tribulação
por amor de Jesus! Suas almas trabalhavam por amor a Jesus.

46
Oh, como estás próximo de Jesus, se sofres por amor a ele,
quando te deixas levar à comunhão dos seus sofrimentos. Então
ele se inclina para ti e diz: "Eu sei as tuas obras, e tribuleçéo" (Ed.
Rev. e Corr.). Pois quem poderia sabê-lo melhor do que ele? Para
ele foram as horas de calar-se diante dos homens e de ser prega-
do na cruz. Quando estava dependurado na cruz, ele não era
mais capaz de mover suas mãos, para impô-Ias a alguém. Mas eu
repito: justamente lá ele fez a maior obra. Adolf Pohl diz com ra-
zão: "Que ação na Paixão!" Por isso deve ter sido como bálsamo
para a igreja em Esmirna quando o ouviu dizer: "Eu sei as tuas
obras e a tua trlbuleçéo" (Ed. Rev. e Corr.). Da mesma maneira
quando disse de si mesmo: "estive morto e tornei a viver". Ele lhe
OI
diz isso desde a Glória, a qual alcançou após seu sofrimento. E
com base nesse fato ele diz à igreja em Esmirna: "Não temas as
cousas que tens que sofrer" (v. 10). Através de sofrimentos
chega-se à glória! Sim, a medida dos teus sofrimentos por amor
a Jesus determina a medida da tua futura glória. É o que Paulo
diz em 2 Coríntios 4.17-18: "Porque a nossa leve e momentânea
tribuleçêo produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
compereçêo, não atentando nós nas cousas que se vêem, mas
nas que se nao vêem; porque as que se vêem são temporais, e as
que se não vêem sso eternas." Comovente é também que o Se-
nhor mesmo determina a medida dos sofrimentos da igreja em
Esmirna, dizendo-o também a ela: "Eis que o diabo está para lan-
çar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e te-
reis trtbuteçêo de dez dias" (v. 10). Eles estão, portanto, exata-
mente delimitados. O Senhor não deixa exceder a medida (comp.
também 1 Co 10.13), mas vela para que seus filhos não desani-
mem. O mesmo quer dizer também Pedro, quando afirma em sua
primeira epístola: "Nisso exultais, embora, no presente, por bre-
ve tempo, se necessário, sejais contristados por várias prova-
ções, para que o valor da vossa fé, uma vez confirmado, muito
mais precioso do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo,
redunde em louvor, glória e honra na reveleçéo de Jesus Cristo"
(1 Pe 1.6-7).

A razão da pobreza da igreja em Esmirna deve ter sido seu teste-


munho de Jesus, pois na grande cidade comercial, certamente
os crentes poderiam ter conseguido uma boa existência. Mas
eles aceitaram as desvantagens sociais; tratava-se da conse-
qüência do seu discipulado. Mas isso presupunha completa dis-
posição de renúncia. Esse é um ponto importante. Quem ainda

47
hoje aceita desvantagens econômicas por amor de Jesus? O
contrário é o caso. Deseja-se adaptar-se ao atual sistema social
com todas as suas exigências exageradas. Não sofremos pobre-
za; vivemos em um país cristianizado. Mas o agarrar-se em coi-
sas econômicas, terrenas, em riquezas, tem sempre pobreza es-
piritual por conseqüência. No fundo não é atestado de louvor pa-
ra nós quando nos encontramos em certo bem-estar. Não se po-
de, então, possuir nada? Paulo diz: "Tanto sei viver em abundân-
cia como em escassez" (comp. Fp 4.12). Mas logo que nos agar-
ramos a nossos bens, logo que se começa a fazer exigências,
fica-se espiritualmente pobre de maneira correspondente. Por
que não sofremos pobreza exterior? Porque a exigência de Je-
sus, de fazer nossa a sua experiência, tomando a sua cruz sobre·
nós em todos os aspectos, pressupõe disposição à renúncia. E
isso o Senhor não exige de cada um. De quem ele exige auto-
renúncia? Daqueles de quem ele sabe que estão dispostos. Es-
tás disposto? Disposição de renúncia manifesta-se em disposi-
ção ao sacrifício. Mas isso é renúncia em ação.

Se o Senhor diz à igreja em Esmirna: "Conheço a tua tribulação, a


tua pobreza", então isso significa que ela tomou sobre si a pobre-
za de Jesus. Da pobreza de Jesus fala-se em 2 Coríntios 8.9: "pois
conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo ri-
co, se fez pobre por amor de vós, para que pela sua pobreza vos
tornásseis ricos". Isso significa que devemos todos ficar po-
bres? Não, pois não se trata de justiça pelas obras. Mas significa
desligar-nos interiormente das nossas propriedades. Podemos
usufruir com ações de graça de tudo que recebemos, mas deve-
mos ao mesmo tempo colocar tudo sobre o altar! Em outras pa-
lavras: estar a qualquer momento dispostos a renunciar a tudo. A
igreja em Esmirna não precisaria ter seguido esse caminho da
pobreza e tribulação. Mas ela aceitou voluntariamente qualquer
desvantagem, qualquer preterição. Sua pobreza deve ter sido
grande, pois a palavra grega aqui usada para pobreza é "pto-
cheia". Ela era sempre utilizada quando se imaginava uma figura
encurvada de mendigo. Em situação tão miserável estavam, por-
tanto, os crentes de Esmirna. Mas por causa da sua disposição
de renúncia o Senhor acrescenta imediatamente: "... mas tu és ri-
co". Isso em contraste com aquilo que ele diz aos cristãos em
Laodicéia, que não eram frios nem quentes, mas mornos: "pois
dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de cousa alguma, e
nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu"

48
(cap. 3.17). A igreja de Laodicéia encontrava-se em profunda po-
breza espiritual, porque estava agarrada à sua riqueza. O Senhor
Jesus mesmo disse que "é mais fácil passar um camelo pelo fun-
do de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus" (Mt
19.24). Quer ele dizer com isso que não se pode ser rico? Não, cer-
tamente não. Mas o rico deve considerar-se administrador dos
seus bens. Ai daquele cujo coração está preso em suas posses!
Temos aqui, portanto, os ricos pobres de Esmirna e os pobres ri-
cos da Laodicéia.

Surge então a pergunta: como está a tua disposição de renúncia


por amor de Jesus? Até que ponto estás disposto de maneira
bem prática a te aproximares da mentalidade de Jesus? Ele diz:
"Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo
quanto tem, não pode ser meu discípulo" (Lc 14,33). Será talvez
que ele passa de ti com sua exigência total, porque toges do es-
sencial e amas tua própria vida acima de tudo? Pois ele não obri-
ga ninguém a entregar sua vida. O princípio divino é, porém:
"Quem ama a sua vida, perde-a; mas aquele que odeia a sua vida
neste mundo (entrega-se por amor de Jesus), preservá-Ia-á para a
vida eterna" (Jo 12.25). Isso não é uma ordem, mas a comunica-
ção de um princípio de Deus. A igreja em Esmirna tomou sobre si
voluntariamente a tribulação e renúncia, porque amava Jesus
acima de tudo. Esmirna é uma de duas igrejas que o Senhor não
teve que repreender e conclamar ao arrependimento, como a
--, Éfeso, por exemplo, a quem diz: "Tenho, porém, contra ti que
abandonaste o teu primeiro amor" (Ap 2.4). Eu gostaria de dizer
mais uma vez com ênfase: o Senhor não nos ordena que o ame-
mos, pois o amor sempre está baseado em espontaneidade. A
igreja'de Esmirna amava-o e por isso ele animou-a tanto também
com vistas às coisas difíceis que ainda estavam diante dela:
"Não temas as causas que tens de sofrer. Eis que o diabo está
para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à
prova, e tereis tribulação de dez dias" (v. 10a). E então vem o estí-
mulo: "Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida." (v. 10b). E
aqui os crentes de Esmirna encontram-se no campo de força de
sua maravilhosa plenitude de promessas! Isso os fazia felizes -
em meio à sua tribulação e pobreza, em suas provações e temo-
res, em seu tremor e medo. A promessa do Senhor sobrepujava
todas as coisas duras em sua vida. Oh, deixa que também em tua
vida todas as dificuldades sejam sobrepujadas pela promessa
do Senhor. Também Paulo queria esclarecer o mesmo, quando

49
disse em 2 Coríntios 4.8-9: "Em tudo somos atribulados, porém,
não angustiados; perplexos, porém não desanimados; persegui-
dos, porém não desamparados; abatidos, porém não
destruídos." Ele jubilava na certeza vitoriosa de que o Senhor es-
tava com ele.

Porque a posição e mentalidade da igreja em Esmirna corres-


pondia à posição do Senhor Jesus, é claro que ela tinha também
exatamente os mesmos inimigos e tinha que suportar a mesma
resistência como ele, e isso exatamente do mesmo tipo de pes-
soas: "... e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus,
e não são, sendo antes sinagoga de Satanás" (v. 9). Esses judeus
aparentemente crentes diziam, portanto, aos cristãos em Esmir-
na: "Nós temos a religião certa, não vocês." Não se trata aqui
dos judeus em geral, mas de uma determinada sinagoga judaica,
em uma determinada atitude diante de uma determinada igreja
cristã. Por isso é fundamentalmente errado condenar o judaísmo
em geral, pois assim perseguidos se tornariam perseguidores.
Os judeus aqui, que dizem ser os verdadeiros judeus - mas dos
quais o Senhor diz que não o são - são protótipos dos reiigiosos
sem Cristo. Tais crentes aparentes existiram em todos os tem-
pos, e nós os vemos também em nosso tempo. Isso é religião
contra discipulado de Jesus! A perseguição por parte do mundo
não é tão intensa como a perseguição de pessoas religiosas, que
dizem estar certas, mas não o são; que ridicularizam os filhos de
Deus e dizem: "Nós temos a igreja certa". apesar de se tratar de
uma "sinagoga de Satanás", na qual a infalibilidade da Bíblia é
colocada em dúvida. Essas pessoas, das quais Paulo diz: "tendo
forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder" (2 Tm 3.5),
reunem-se sob a bandeira do anticristo. Observa bem o que diz 2
Timóteo 3.12: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente
em Cristo Jesus serão perseguidos." Não existe outro caminho a
não ser aquele que foi seguido por Jesus. Mas se tu andas nele,
aguarda-te a coroa da vida; então o próprio Senhor Jesus espera-
te na outra margem. Ele diz agora a ti, seu filho aflito: "Não temas
as causas que tens de sofrer... Sê fiel até à morte, e der-te-e! a co-
roa da vida. " Ser fiel até à morte, essa é a fidelidade do testemu-
nho de Jesus. Pois no capítulo 1.5ele é chamado "a fiel testemu-
nha". Fiel não somente é aquele que permanece crente até à ho-
ra da sua morte; mas aquele que permanece também uma teste-
munha em palavras e no seu ser; aquele que firma-se constante-
mente na vitória de Jesus. Em nossos dias muitos afastam-se

50
desse testemunho vivo, porque temem os sofrimentos de Jesus.
O contrário é então, e aí se chega forçosamente: fazer exigên-
cias conforme as normas da nossa sociedade, ao invés de dar.
Está certo: o sofrimento, desligado de Cristo, sem efeito vicário,
é um poder inimigo; ele não é para o homem, pois Deus não o
destinou para ele. Por isso está escrito em Apocalipse 21.4 que
na Glória não haverá mais sofrimento. Mas somente através da
comunhão dos seus sofrimentos, que são santificados, que ele
tomou sobre si por nossa causa - sofrimentos exteriores e inte-
riores - somos, tu e eu, unidos com o ser, o caminho e a glória
de Jesus Cristo. Encontramo-nos agora numa encruzilhada. A
pergunta é: estou disposto a seguir o caminho da auto-renúncia
por amor a Jesus? Então recebemos rico consolo e maravilhosa
glória. Mas se seguimos o caminho da auto-afirmação e da cha-
mada "auto-realização", então morremos espiritualmente e vive-
remos sem consolo.
Esmirna tinha esse consolo em toda a plenitude. Os ouvidos des-
ses crentes estavam abertos para o falar do Senhor. Que a pro-
messa aos vencedores é tão reduzida justamente para Esmirna
- "O vencedor, de nenhum modo sofrerá dano da segunda mor-
te" (v. 11) - reforça o fato de que se trata de uma igreja vencedo-
ra que já possui toda a plenitude da divindade em Jesus Cristo.

Um grande perigo do sofrimento consiste na atrofia da alma. As-


sim é também em outras áreas: pobreza facilmente torna miserá-
vel, ser odiado torna hostil e ser espancado torna ardiloso - a
não ser que sejamos vencedores! Como é importante que tenha-
mos vitória e vençamos na tribulação, pois então não sofrere-
mos dano da segunda morte. Pois existem dois tipos de morte: a
morte física e a "segunda" morte, a morte espiritual. Quem nas-
ce uma vez, tem que morrer duas vezes; quem nasce duas vezes,
morre uma vez. Aquele que recebe somente a vida física de sua
mãe, que nasce, portanto, somente uma vez,esse morre duas ve-
zes: a morte física e depois ainda a "segunda" morte, ou seja, a
morte que não mata. Tal pessoa fica separada do Deus vivo por
toda a Eternidade. Mas quem nasce duas vezes - fisicamente e
então espiritualmente pela fé em Jesus Cristo (renascido) - re-
cebe a vida eterna e por isso morre somente uma vez. E essa mor-
te única no fundo não é mais morrer, mas retornar à casa. A "se-
gunda" morte não pode mais fazer mal a um vencedor, pois ela
foi vencida por Jesus Cristo.

51
A terceira carta do céu
"Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas cousas diz
aquele que tem a espada afiada de dois gumes: Conheço o lu-
garemque habitas, onde está o trono de Satanás, e que con-
servas o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias
de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto en-
tre vós, onde Satanás habita. Tenho, todavia, contra ti algu-
mas cousas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de
Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos
filhos de Israel para comerem cousas sacrificadas aos ídolos
e praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os
que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas.
Portanto, arrepende-te; e se não, venho a ti sem demora, e
contra eles pelejarei com a espada da minha boca. Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor,
der-the-et do maná escondido, bem como lhe darei uma pedri-
nha branca e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o
qua I ninguém conhece, exceto aquele que o recebe" (Ap 2.12-
17).
A igreja em Pérgamo, era dentre as sete igrejas a que estava
localizada mais ao norte, doze milhas ao norte de Esmirna. A
cidade de Pérgamo aqui citada pertencia uma vez à Lídia sob
o riquíssimo rei Creso, e após sua derrota passou a pertencer
ao Império Persa. Mais tarde ela passou a pertencer à Mace-
dônia e em 264 a.C. tornou-se a muito conhecida e ricamente
ornamentada capital do reino de Pérqamo, No ano de 133
a.C., pelo testamento do seu último rei, Atalo 111, ela passou a
pertencer ao Império Romano. Famosa ela era principalmen-
te devido ao templo de Esculápio e pelo gigantesco altar de
Zeus. A muito citada biblioteca com 250.000 rolos de perga-
minho (também a palavra pergaminho vem de Pérgamo), não
se encontrava mais lá há muito tempo na época do apóstolo.
Mas a ciência e a arte ainda floresciam.
Também hoje essa cidade ainda existe. Ela se chama Berga-
ma e é habitada por gregos e turcos.
Apesar das cartas do céu serem formuladas de maneira curta
e suscinta, não se trata de uma apresentação resumida. Na
leitura das cartas devemos sempre novamente lembrar que
essas são as últlrnas palavras diretas que temos de nosso Se·

52
nhor Jesus Cristo. Apesar de se falar também da restauração e
salvação de Israel, ele dirige-se principalmente à Igreja. Pois con-
forme 1 Coríntios 10.11, a Igreja de Jesus é aquela sobre a qual os
fins dos séculos têm chegado. Em outras palavras: ela é a reta-
guarda no Plano de Salvação. Nos Evangelhos o Senhor Jesus
fala aos seus discípulos e através dos seus discípulos a nós.
Mas aqui ele dirige-se da direita do Pai diretamente à sua Igreja e
assim também a nós. Essa forma direta é sublinhada porque
João, como apóstolo do Senhor e membro no corpo de Jesus re-
cebeu as mensagens. Por isso cada palavra deve ser cuidadosa-
mente observada, pensando-se a respeito, orando e indagando:
o que o Senhor quer dizer com isso? A maneira insistentemente
to direta com que o Senhor dirige-se a cada uma das sete igrejas,
também pode ser uma das razões porque essas cartas são relati-
vamente pouco comentadas. A cada igreja o Senhor revela um
outro lado do Seu ser, dependendo do que a igreja em questão
necessitava e necessita hoje. À igreja em Esmirna ele se apre-
senta como "o primeiro e o último", como o vencedor absoluto
sobre a morte. Essa igreja, que estava em grande aflição, neces-
sitava disso como consolo; ela tinha que saber quem era o seu
Senhor. A Pérgamo, entretanto, ele se revela como "aquele que
tem a espada de dois gumes" (v. 12). Nessa auto-apresentação
do Senhor vemos também com inconfundível clareza, o terna
dessa carta: nenhuma mistura! O mesmo diz também Hebreus
4.12: "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do
que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os
pensamentos e prooosttos do coração." Deus não quer mistura!
Em Apocal ipse ts.tsvemos o Senhor elevado assentado sobre o
cavalo branco: "Sai da sua boca uma espada afiada..." Com ela
ele julga as nações anticristãs, compare Apocalipse 19.21. A es-
pada afiada de dois gumes é a Palavra de Deus, sim, ele mesmo é
a Palavra de Deus: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós"
(Jo 1.14).
O Senhor não se revela somente a Pérgamo como a espada afia-
da de dois gumes, que sai da sua boca, mas através de toda a
• História da Salvação até ao dia de hoje. Com essa espada ele
também matará o anticristo.
Quando Josué em tempos antigos estava junto a Jericó e pela
primeira vez tinha a responsabilidade de conduzir o povo de Is-
rael à Terra Prometida, ele percebeu repentinamente um homem

53
diante dele, "que trazia na mão uma espada nua" (Js 5.13) - a
Palavra de Deus. A Palavra de Deus convence, ela julga e separa
e assim guarda de mistura. Por isso precisamos transmitir a Pa-
lavra de Deus!
Pérgamo significa "cidadela". A igreja em Pérgamo estava em
extremo perigo. Pérgamo era naquela época a sede do governa-
dor romano. Além disso, era também o centro do culto ao impera-
dor. Havia ali, entre outros, um grande templo dedicado a Roma,
no qual o César Augusto deveria receber adoração divina. Atra-
vés disso a pequena igreja entrou em grandes dificuldades. Com
poder romano era dada ênfase especial à lei segundo a qual o im-
perador deveria receber adoração divina. Por isso é multo escla-
recedor que aqui o Senhor não diz (como a Esmirna, a Efeso e a
outras igrejas): "Conheço as tuas obras", mas: "Conheço o lugar
em que habitas" (v. 13). Apesar da Edição Revista e Corrigida di-
zer: "Eu sei as tuas obras, e onde habitas", nos manuscritos ori-
ginais falta esse "eu sei as tuas obras". Por esse motivo isso não
foi incluído nas outras versões.
Aparentemente faltavam as obras de Cristo à igreja em Pérga-
mo. Ela deve ter feito muitas coisas inúteis, muitas obras mortas.
Justamente hoje esse também é o grande perigo. Aproveitamos
bem e completamente, tu e eu, o tempo que recebemos do Se-
nhor aqui na terra? Temos somente um prazo limitado! "Nas
tuas mãos estão os meus dias" (SI 31.16). Esse tempo tem que
ser investido para a Eternidade, pois precisamos prestar contas
sobre o que fizemos para Ele com nosso tempo aqui na terra!
Muitas pessoas têm tempo, muito tempo até, não, porém, para a
causa do Senhor, mas para si mesmas. Mas a Escritura adverte:
"... remindo o tempo" (CI4.5; Ed. Rev. e Corr.).
Se seguirmos o texto da Edição Revista e Corrigida: "Eu sei as
tuas obras" -, o Senhor não se refere aqui às obras proveitosas.
Aparentemente eles realizavam obras que não eram dignas de
citação. A essas a Bíblia chama obras mortas. Uma paralisia es-
piritual somente é vencida quando há arrependimento sobre
obras mortas. O sangue de Jesus Cristo purifica também de
obras mortas, que não trazem fruto para a Eternidade (Hb 9.14).
Apesar disso: o Senhor louva a igreja em Pérgamo. Ele é justo e
não esquece nada! Quando ele repreende, onde é necessário,
então ele também louva onde é apropriado: "Conheço o lugar em
que habitas, onde está o trono de Satanás" (v. 13). O Senhor sa-

54
bia que sua igreja em Pérgamo estava muito ameaçada, pois ela
vivia na área de poder de Satanás. Duas vezes é utilizada aqui a
palavra "habitar": "Conheço o lugar em que habitas." E quando
fala então de Antipas, sua fiel testemunha, ele diz mais uma vez:
"... onde Satanás habita" (v. 13b). Habitar junto com o diabo, isso
é algo terrível! Se está dito: "onde está o trono de Satanás", isso
quer dizer que o príncipe das trevas tinha especial plenitude de
poder em Pérgamo, quer seja pelo culto aos espíritos, através do
governador romano ou pelo panorama visível. Pois sabe-se pela
História que em Pérgamo havia um altar de 300 metros de altura
em honra a Zeus. Além disso havia naquele tempo em Pérgamo
um culto de cura com serpentes, que era conhecido e famoso.
Em um templo onde se mantinha serpentes, as pessoas procura-
vam a cura dos seus males. A serpente principal era até chama-
da de "salvador". Muitas pessoas criam nela e a adoravam - o
trono de Satanás. Isso desperta associações com o Paraíso e a
antiga má serpente. Se o Senhor diz aos seus comprados pelo
sangue: "Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de
Satanás", ele prova com isso que ele não passa ao largo nem jul-
ga sem levar em conta o poder negativo das circunstâncias e da
atmosfera. Ele também sabe exatamente onde tu habitas, em
que situação tu te encontras - em que vizinhança, em que famí-
lia, em que local de trabalho. Ele conhece os poderes satânicos
que se enfurecem à tua volta no dia-a-dia, de maneira que quase
perdes a capacidade de respirar. O que é o respirar da alma? A
oração! Um hino diz:
Jesus, ajuda a vencer quando tudo desaparece,
Quando somente minha aflição eu vejo,
Quando não encontro condições para orar
Quando preciso ser como uma corça assustada
Oh Senhor, queiras no íntimo da alma
Unir-te com os mais profundos gemidos,

Jesus sabe tudo - também tudo de ti e sobre ti. Ele nunca permi-
te que sejamos tentados além das nossas forças e afundemos
no desespero. Apesar de ter permitido, por exemplo, que Sata-
nás tocasse seu servo Jó. Não somente que os dez filhos de Jó
acidentaram-se mortalmente num só dia e todos os seus bens
foram perdidos, mas também que sua própria mulher lhe disse:
"Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre"
(Jó 2.9). Mas Jó tinha uma certeza firme como rocha - um co-
nhecimento de Deus - e respondeu: "... eu sei que o meu Reden-

55
tor vive" (Jó 19.25). Essa poderosa palavra de consolo vale para
todos nós nesta noite dos tempos finais.
Esclarecedor com respeito a Pérgamo é também o seguinte: o
Senhor não diz "Conheço o lugar onde-habitas, onde está esta-
belecido o trono de Satanás", mas: "... onde está o trono de Sata-
nás". O trono de Satanás existe, mas não está "estabelecido";
ele não tem estabilidade! Somente um trono está estabelecido, e
esse é o trono do Deus vivo e do Cordeiro! Jesus Cristo ontem e
hoje é o mesmo, e o será para sempre! Sempre novamente so-
mos confrontados com essa pergunta: quem é o mais poderoso,
quem é o vencedor? Será Satanás, que me aflige interiormente e
exteriormente, ou será Jesus Cristo. E Jesus Cristo! "Graças a
Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus
Cristo" (1 Co 15.57). Apesar de sermos ameaçados, sacudidos e
peneirados pelo poder de Satanás em milhares de maneiras, o
Senhor sabe onde habitamos! A Igreja de Jesus não é confronta-
da com homens, mas com poderes, e assim nossa luta não é
contra carne e sangue, mas contra principados e potestades das
trevas, como diz Efésios 6.12. Vemos em nossos dias como po-
vos, igrejas e organizações ficam cada vez mais debaixo do po-
der do maligno. Todas as ciências filosóficas são cada vez mais
infiltradas pelo espírito do anticristo. Como naquela época em
Pérgamo, os homens e poderes possuídos pelo espírito do inimi-
go preparam-se cada vez mais ameaçadoramente para o golpe,
física e espiritualmente. Contra quem? Espiritualmente contra a
Igreja de Jesus e fisicamente contra Israel.

Como podemos ainda resistir? Ou, como foi formulado pelos dis-
cipulos: "Sendo assim, quem pode ser salvo?"(Mt 19.25). A Bíblia
diz: "Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes fi-
car firmes contra as ciladas do diabo" (Ef 6.11).
O Senhor pode louvar a igreja em Pérgamo, porque ela conserva
o seu nome: "...que conservas o meu nome" (v. 13). Qual nome? O
maravilhoso e precioso nome de Jesus! No centro da estratégia
satânica, essa igreja não deixou obscurecer seu olhar através da
pompa pagã, da concupiscência da carne ou dos olhos. Pois isso
poderia ter acontecido facilmente, pois toda a população da ci-
dade estava entusiasmada pelo culto às serpentes e pela adora-
ção ao imperador. A palavra "conservas", aqui utilizada, na ver-
dade é muito fraca e sem expressão, pois a palavra grega diz
mais. Deveria estar dito: segurar e agarrar-se com toda a força.

56
Em Pérgamo tratava-se de vida ou morte, pois aos crentes seria
arrancado algo. Esse é sempre o objetivo do inimigo: ele quer
arrancar-nos aquilo que temos. Por isso nas cartas há repetida-
mente uma exortação a respeito, por exemplo, no capítulo 2.25:
"tão somente conservai o que tendes, até que eu venha." Ou, no
capítulo 3.11: "Venho sem demora. Conserva o que tens, para
que ninguém tome a tua coroa". Trata-se de conservar! Em Pér-
gamo era exigido largar o nome de Jesus, porque ali habitava
Satanás ", Mas Satanás não suporta a confrontação com o nome
de Jesus. Essa é a grande luta em que nos encontramos!

"Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (At


2.21b), diz a Escritura. Tão logo o nome de Jesus é citado na
fé, as trevas diabólicas são rompidas. A quem firma-se, sim,
agarra-se nesse nome, nada pode fazer mal. Então somos
vencedores e exclamamos: "tudo posso naquele que me for-
talece (Cristo)" (Fp 4.13). Oh, que utilizásses mais o nome de
Jesus!
Com Antipas, a luta levou até à morte. O próprio Senhor diz is-
so: "... nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o
qual foi morto entre vós" (v. 13). Conosco os ataques de Sata-
nás não são tão intensos. Tudo acontece mais civilizadamen-
te e "eclesiasticamente". Seus métodos são mais sutis, mas
seu objetivo permanece o mesmo. Ele quer que no dia-a-dia
neguemos o nome de Jesus, impondo-nos, sendo egoístas,
invejosos e difamadores. Ele quer que calemos quando deve-
mos falar, de modo que nossa posição corresponda à de Pe-
dro: "Não conheço esse homem" (Mc 14.71b). O Senhor pros-
segue louvando sua igreja em Pérgamo, pois ele nunca esque-
ce algo. Ele diz no versículo 13b: "... e não negaste a minha
fé". Isso é significativo. Pois existe fé e fé! João 3.36 diz: "...

• Nesse contexto algo permanece inesquecível para mim. Há trinta anos pregamos o
Evangelho na parte católica da Irlanda e realizamos também reuniões ao ar livre. De
um lugar - Límeríck - tol-nos dito que nos últimos cem anos o nome de Jesus não
havia mais sido citado ali publicamente em reuniões ao ar livre. Lá havia muitas trevas
e superstição. Tínhamos esperado até tarde da noite, até que 'dois cinemas no centro
da cidade terminassem sua programação, e agora encontrava-se ali uma grande multi-
dão. Como introdução, minha mulher e eu cantamos em inglês o hino "Que amigo é
nosso Jesus", e então comecei a pregar. No momento em que citei o nome de Jesus,
passou um uivo pela multidão - como do inferno. Fui ouvido até que citei o nome de
Jesus, dizendo que somente ele era a salvação. Então fomos arrancados do estrado e
ainda vejo como quatro policiais eram quase incapazes de afastar a multidão - so-
mente por causa do nome de Jesus!

57
quem crê no Filho tem a vida eterna." Esse é o primeiro pas-
so. Crê em Jesus Cristo como teu Salvador pessoal! Mas não
fica parado nesse primeiro passo. Quem faz isso, permanece
espiritualmente na infância. Tal pessoa crê no Senhor Jesus,
mas não tem a fé do Senhor Jesus! E justamente esse é o se-
gredo! "... e não negaste a minha fé", diz o Senhor. Paulo
compreendeu isso. Ele diz em Gálatas 2.19-20: "Estou crucifi-
cado com Cristo; logo, já não sou eu quem vivo, mas Cristo vi-
ve em mim; e esse viver que agora tenho na carne (com isso ele
quer dizer: ainda vivo na minha carne pecaminosa, e sei que em
mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum), vivo pela
fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por
mim." Em outras palavras: "Vivo e creio exatamente como Jesus
viveu e creu, e digo continuamente "não" às exigências da carne,
como teimosia, impureza e todas as manifestações pecamino-
sas. Entrego-me completamente como fez meu Salvador. Sigo
exatamente o caminho seguido pelo meu Salvador. Permaneço
na cruz, como meu Salvador ficou na cruz." Viver na fé do Filho
de Deus, esse é um passo bem além de crer em Jesus.

Os crentes em Pérgamo entenderam isso, e não negaram essa


fé. A fé do Senhor Jesus resiste, mesmo quando tudo desmoro-
na, quando o corpo e a alma definham e aparentemente tudo é
contra ti. Negar significa, responder negativamente quando és
desafiado a confessá-lo, como fez Pedro. Negar sua fé significa
conservar-se a si mesmo - às custas da confissão de pertencer
ao Senhor Jesus. Pode o Senhor dizer de ti: não negaste a minha
fé? Ou negaste a sua fé? Para Pérgamo é um maravilhoso teste-
munho, quando ele ainda acrescenta: "... e não negaste a minha
fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual
foi morto entre vós, onde Satanás habita "(v. 13). O nome Antipas
tem diferentes significados. Um deles é: "semelhante ao seu
pai". Como fiel testemunha ele deixou sua vida por Jesus. Ainda
não temos que pagar com a vida como mártires pelo nosso teste-
munho. Mas já existe um martírio espiritual, que consiste em não
retroceder por causa do testemunho de Jesus no dia-a-dia, mas
morrer no homem interior. Paulo afirma: "Dia após dia morro" (1
Co 15.31). Talvez teu martírio consiste em que no teu matrimônio,
na tua família ou no teu local de trabalho tens que conviver com
alguém em cujo coração está o trono de Satanás. Oh, que todos
tenhamos a mentalidade de Antipas e não neguemos a sua fé -
a fé de Jesus. Tantos, também na Igreja de Jesus, desanimam

58
povo de Deus, mas não teve sucesso. Ele percebeu que Balaque
nada podia fazer com seu exército, pois Israel era invencível. Por
isso impediu que ele combatesse Israel. Mas também ele queria
aniquilar o povo de Israel, e conseguiu isso, induzindo Israel à
participaçãd na idolatria e na prostituição relacionada. Não um
grande exército, mas mulheres, moças fracas, deveriam aniqui-
lar Israel. Essa "insignificância" era, portanto, um perigo mortal
para Pérgamo, como o "inocente" diálogo entre Eva e a serpente
no Paraíso foi uma armadilha que teve conseqüências terríveis. E
essa liberalidade sexual foi elevada a doutrina em Pérgamo, pro- ~

vavelmente por membros da igreja muito respeitados: "... os que


sustentam a doutrina de Balaão (v. 14). Por isso chegou-se a essa
terrível mistura em Pérgamo: por um lado a decidida conserva- Q

ção do nome de Jesus para fora (v. 13), e por outro lado agarrar-se
obstinadamente na doutrina de Balaão (v. 14). Deve-se lembrar
que nem todos participavam. O Senhor diz expressamente: "...
tens aí os que", tens alguns, que cederam ao inimigo interior!
Mas apesar dos outros seguirem ao Senhor com toda a decisão,
surgiu uma mistura na estrutura da igreja, porque eles toleraram
as coisas carnais. Aí acabou a autoridade. Isso repetiu-se milha-
res de vezes até ao dia de hoje: em uma igreja há filhos de Deus
de orientação espiritual e que seguem ao Senhor Jesus, mas en-
tão repentinamente vem uma série de mulheres em roupas de
homens ou moda de prostitutas. Se isso é tolerado, acontece a
derrota interior e a autoridade acaba. Através da sua espada afia-
da, da sua Palavra, o Senhor quer separar, pois ele não deseja a Ii- \
beralidade da carne, mas que a carne seja crucificada com Cris-
to. Em Pérgamo aconteceu prostituição carnal, porque já tinha
havido prostituição espiritual. E essa prostituição espiritual ~
revelava-se naposição neutra da igreja diante desses desviados.
Da igreja em Efeso o Senhor diz: "tu o odeias" (cap. 2.6). Ela to-
mou uma posição clara contra qualquer falsa doutrina e concu-
piscência da carne. Mas da igreja em Tiatira está dito: "tu o tole-
ras" (cap. 2.20). Em Pérgamo esses dois grupos e essas duas
doutrinas - discipulado decidido de Jesus e compromissos
com a carne - andavam simplesmente lado a lado. E essa neu-
tralidade comunitária interior é a mais duramente condenada pe-
~
lo Senhor. Pois a infidelidade encontra com os fiéis o seu melhor
esconderijo.

Aliás, os nicolaítas e os discípulos de Balaão, dos quais se fala


aqui, não eram dois grupos distintos. Pelo contrário, os nicolaí-

60
em nossos dias; eles resignam e deixam de realizar o bom com-
bate da fé. Mas fora estarão os covardes, aqueles que cedem às
exigências da carne, em qualquer que seja a forma, ou de uma
pessoa. Pedro quis levar o Senhor Jesus a negar, ou seja, rejeitar
a cruz. Mas o Senhor lhe disse: "Arreda! Satanás" (Mc 8.33).
Não é comovente que o Senhor elevado dá a Antipas o mesmo tí-
tulo que ele tem? Pois assim o próprio Senhor é chamado em
Apocalipse 1.5: "e da parte de Jesus Cristo, a fiel testemunha."
Testemunhas fiéis são aquelas que resistem até à morte.
Depois do louvor do Senhor segue uma séria repreensão: "Te-
nho, todavia, contra ti algumas cousas, pois que tens aí os que
sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a ar-
mar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem cousas sa-
crificadas aos ídolos e praticarem a prostituição. Outrossim,
também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina
dos nicolaítas. Portanto, arrepende-te; e se não, venho a ti sem
demora, e contra eles pelejarei com a espada da minha boca" (vv.
14-16). As tribulações causadas por parte do poder estatal e pe-
los judeus eram dificílimas para os crentes em Pérgamo. Mas
eles puderam resistir, porque estavam revestidos de toda a ar-
madura de Deus, conservaram o seu nome e não negaram a sua
fé. Pois é o próprio Senhor que tem a espada que traspassa todas
as couraças do inimigo. E quem tem esse Senhor no seu cora-
ção, esse é invencível. Em Cristo Jesus ele eleva-se sobre o trono
de Satanás e é mais que vencedor em todas as tribulações. Mas
mesmo assim o Senhor tem contra eles "algumas cousas",
"umas poucas coisas", como dizem as diferentes edições. De
acordo com isso, parece que se trataria de uma ninharia, apesar
de ser tão sério; uma suavização, como os crentes gostam tanto
de aplicá-Ia para diminuir sua derrota e suas falhas. Mas aí está o
abaladoramente sério: enquanto os filhos de Deus em Pérgamo
resistiram vitoriosamente ao inimigo exterior, cederam ao inimi-
go interior! E aí já temos a mistura mortal de vitória e derrota; de
seguir Jesus até à morte mas mesmo assim capitular diante das
exigências interiores da carne. Nessa luz temos que ver os versí-
culos 14 e 15. Assim os crentes em Pérgamo resistiram ao inimi-
go de fora em vitoriosa união de confissão, mas não levaram a
sério o inimigo de dentro. Trata-se, portanto, de uma insignificân-
cia, mas de alcance abalador. A doutrina de Balaão tinha tomado
pé em Pérgamo. Ela consistia do conselho que Balaão deu ao rei
Balaque (Nm 31.16 e Nm capo 22-25). Balaão queria amaldiçoar o

59
tas sustentavam a doutrina de Balaão (nicolaítas = denomina-
ção grega dos discípulos da doutrina de Balaão). Eles o imitavam
e ganhavam outros na igreja em Pérgamo para sua posição des-
viada. Que por nicolaítas e balaonitas deve-se entender o mes-
mo, como, por exemplo, por anti-sionismo e anti-semitismo,
revela-se principalmente nos versículos 14e 15,onde a acusação
do Senhor é juntada numa só. Lá está dito: "Tenho, todavia, con-
tra ti algumas cousas, pois que tens aí os que sustentam a dou-
trina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante
dos filhos de Israel para comerem cousas sacrificadas aos ído-
los e praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os
que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicotettes." Não
é essa a séria situação da Igreja de Jesus hoje? Para fora sem
compromissos, mas por dentro podre e corrompida? Essa terrí-
vel mistura tomou conta de muitos. Para fora de orientação bíbli-
ca, mas por dentro está tudo deteriorado, motivo porque o Se-
nhor elevado, que julga os inimigos da Igreja, com sua espada
afiada de dois gumes, volta a mesma espada com severidade
inexorável contra os filhos de Deus individualmente, para
separá-tos, ou seja, isolá-los. venho a ti sem demora, e contra
H ...

eles pelejarei". Eu repito: quando Satanás não consegue derru-


bar um filho de Deus exteriormente, ele faz tudo para conseguí-Io
interiormente. O Senhor Jesus coloca a igreja em Pérgamo, e as-
sim também a nós, diante da alternativa: "Portanto, arrepende-
te; e se não venho a ti sem demora, e contra eles (os desviados)
') pelejarei com a espada da minha boca" (v. 16). A peleja, o julga-
mento de separação, já aconteceu em muitos corações. Em uma
igreja viva o Senhor afasta desviados, se não se arrependem! O
juízo sabe atingir exatamente os responsáveis, mas toda a igreja
é humilhada através disso. Mas a maldição em tua vida pode ser
removida pelo julgamento de Gólgota, pelo teu arrependimento.
Pois se nos julgamos a nós mesmos, não somos julgados.

Para quem se arrepende, vale a promessa aos vencedores no ver-


sículo 17: "Ao vencedor, dar-Ihe-ei ..." Primeiro:
H ...do maná es-
condido", isto é, do pão da vida, que é ele mesmo. O Senhor aqui
lembra Israel, a quem durante quarenta anos deu diariamente
rnaná no deserto. O Senhor Jesus diz: HEu sou o pão vivo que des-
ceu do céu; se ,alguém dele comer, viverá eternamente" (Jo 6.51).
Segundo: u... bem como lhe derei uma pedrinha branca" (v. 17). O
que é essa pedrinha branca? E Jesus, a pedra cortada sem mãos
(Dn 2.34), a preciosa pedra angular (1 Pe 2.6), a pedra fundamen-

61
tal. "Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do
que foi posto, oqualé Cristo Jesus "(1 Co 3.11). Aqui no Apocalip-
se ele é chamado pedrinha branca, uma figura do Cristo glorifica-
do. Terceiro: "... e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o
qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe." "... e sobre
essa pedrinha" significa: gravado na pedra. Não é isso que o Se-
nhor já prometeu a Isaías: "Eis que nas palmas das minhas mãos
te gravei" (Is 49.16)?
Mas a pedra lembra também o sumo sacerdote Arão, que sobre
seu peito trazia pedras preciosas diante do Senhor. Pois o Se-
nhor tinha ordenado: "Farás também o peitoral do juízo de obra
esmerada, conforme a obra da estola sacerdotal o farás: de ouro,
estofo azul, púrpura, carmesim e linho fino retorcido o farás.
Quadrado e duplo será de um palmo o seu comprimento, e de um
palmo a sua largura. Colocarás nele engaste de pedras, com
quatro ordens de pedras: a ordem de sérdio, topázio e carbúncu-
lo será a primeira ordem; a segunda ordem será de esmeralda,
safira e diamante; a terceira ordem será de jacinto, ágata e ame-
tista; a quarta ordem será de berilo, ônix e jaspe: elas serão guar-
necidas de ouro nos seus engastes. As pedras serão conforme
os nomes dos filhos de Israel, doze segundo os seus nomes: se-
rão esculpidas como sinetes, cada uma com o seu nome, para as
doze tribos... Assim Arão levará os nomes dos filhos de Israel no
peitoral do juízo sobre o seu coração, quando entrar no santuá-
rio, para memória diante do Senhor continuamente" (Êx
28.15-21,29). Agora entendemos muito melhor a promessa aos
vencedores em Apocalipse 2.17: "der-the-ei do maná escondido,
bem como lhe darei uma pedrinha branca e sobre essa pedrinha
escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele
que o recebe". Essa promessa para vencedores contém a mais
íntima comunhão com Deus através do nosso Sumo Sacerdote
Jesus Cristo, que leva nosso nome para diante do Pai. Ele está
assentado à direita da Majestade nas alturas e intercede por
nós. E o vencedor, que assim se tornou um com ele, experimenta
que através do Sumo Sacerdote Jesus Cristo é incl uído em Deus.
E o que Paulo diz em Colossenses 3.3: "porque morrestes, e a
vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus."
Estás firmado sobre a pedra fundamental e gravado na preciosa
pedra branca, ou sua espada tem que julgar-te? Lembra: o Espíri-
to de Deus não permite mais mistura!

62
A quarta carta do céu
"Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas cousas diz o Fi-
lho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo, e os pés
semelhantes ao bronze polido: Conheço as tuas obras, o teu
amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últi-
mas obras, mais numerosas do que as primeiras. Tenho, po-
rém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si
mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda
seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a come-
rem cousas sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que
se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua
prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em grande
tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrepen-
dam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e todas
as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mente e
corações, e vos darei a cada um, segundo as vossas obras.
Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos
quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como
eles dizem, as cousas profundas de Satanás: Outra carga
não jogarei sobre vós; tão-somente conservai o que tendes,
até que eu venha. Ao vencedor, e ao que guardar até ao fim as
minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com
cetro de ferro as regerá, e as reduzirá a pedaços como se fos-
sem objetos de barro; assim como também eu recebi de meu
Pai, dar-Ihe-ei ainda a estrela da manhã. Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 2.18-29).
A carta a Tiatira é a mais extensa. Tiatira era uma pequena ci-
dade na Ásia Menor, na atual Turquia. O nome é freqüente-
mente traduzido por "oferta de incenso", mas é também in-
terpretado como "cheiro desagradável", o que indica o paga-
nismo ali dominante. A cidade era localizada numa região en-
cantadora, em um vale. Mas Tiatira abrigava também uma
guarnição da milícia romana, e era conhecida como cidade
comercial, tal como as outras. Além disso essa cidade era fa-
mosa por causa dos seus excelentes artífices. Também Tiati-
ra permaneceu até ao presente. Ela chama-se Akhisar, "a ci-
dade branca", devido às muitas pedreiras de mármore, que
brilham das montanhas próximas. Na década de 30, Akhisar
era mal-afamada por causa do seu comércio de ópio. Até ao
século 20 havia ali uma pequena igreja cristã de boa fama.

63
Em Tiatira deve ter surgido uma igreja bem viva e saudável,
que ao final do primeiro século tinha importância na cidade.
Já antes da formação da igreja de Jesus em Tiatira, havia ali
uma mulher piedosa, a vendedora de púrpura Lídia. Quando
na sua segunda viagem missionária Paulo chegou à cidade de
Filipos e pregou o evangelho, ela se encontrava ali. O Senhor
abriu seu coração e ela converteu-se: "Certa mulher chamada Lí-
dia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus,
nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às cou-
sas que Paulo dizia" (At 16.14). Ela e sua casa se tornaram cren-
tes e foram batizados. Essa descrição causa um certo alívio em
todos que pregam a Palavra de Deus ou tentam de outra maneira
ganhar almas para o Senhor Jesus: não nós podemos abrir os co-
rações das pessoas, mas somente o Senhor! E em todos os luga-
res ele tem pessoas às quais quer abri-lo. Por isso precisamos
transmitir-lhes a palavra da cruz. O Senhor quer, quando nós que-
remos!

A forma como o Senhor se revela nessa carta é de profundo e sé-


rio significado. Lemos no versículo 18: "Estas cousas diz o Filho
de Deus que tem os olhos como chama de fogo, e os pés seme-
lhantes ao bronze polido." Lembra, que não é qualquer um que
diz isso! Não, aqui fala o Filho de Deus, que é a Palavra ele mes-
mo! Ele não é um Senhor ausente, mas o Juiz presente - tam-
bém agora. "Estas cousas diz o Filho de Deus..." Ele não somen-
te falou, mas fala. Ele percebe a bem camuflada e oculta deterio-
ração na igreja em Tiatira. "... que tem os olhos como chama de
fogo." Se ele se apresenta não somente como o Filho de Deus,
que fala, mas também como Aquele que tem olhos como chama
de fogo, então ele acentua com isso que está decidido a revelar
coisas ocultas. Lemos isso também em Hebreus 4.13: "E não há
criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário,
todas as cousas estão descobertas e patentes aos olhos daque-
le a quem temos de prestar contas. "Também tu estás descober-
to e patente diante dos olhos do Filho de Deus, que são como
chamas de fogo. Seus olhos percorrem toda a terra: "Porque,
quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda' a terra, para
mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente de-
le" (2 Cr 16.9). Seus olhos descansam sobre ti, eles vêem teu co-
ração. Por isso não continua comportando-te tão tolamente, co'
mo se o Senhor não visse tudo em tua vida.

64
"...e os pés semelhantes ao bronze polido" (v. 18). Os pés que na
cruz de Gólgota foram traspassados por causa do nosso pecado,
agora são como bronze polido. Essa é a realização de Hebreus
2.8 e Efésios 1.21: 'Todas as causas sujeitaste debaixo dos seus
pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as causas, nada deixou fo-
ra do seu domínio...acima de todo principado, e potestade, e po-
der, e dom lnio, e de todo nome que se possa referir não so no pre-
sente século, mas também no vindouro." Seus pés como bronze
polido - isso significa que o vencedor sobre o pecado não admi-
te mais vitórias do mal e poderes do pecado sobre seus compra-
dos pelo sangue. Ao seu olhar de chamas nada escapa; suas pi-
sadas de bronze esmiuçam todo mal. Nada entristece e ofende
mais ao Senhor, que lutou na cruz e nos comprou por preço tão
elevado, do que quando o pecado continua tendo poder em nos-
sa vida, apesar da sua vitória. Por isso Paulo diz em Romanos
6.12: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal."

Depois de ter-se revelado como Filho de Deus, ele diz no versícu-


lo 19: "Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço,
a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do
que as primeiras." Apesar do Senhor ter coisas graves a censu-
rar em Tiatira, ele lhe concede antes um bonito elogio. Assim é
nosso Deus! Ele é justo e não deixa nada despercebido do que fi-
zeste por amor do seu nome. Ele sabe exatamente qual o efeito
do seu amor em ti. Ele prova a medida da tua fé, ele registra tua
)
paciência. Para fora Tiatira era uma igreja maravilhosa. O Senhor
atesta mesmo que sua atividade aumenta quantitativamente,
pois está escrito: "... e as tuas últimas obras, mais numerosas do
que as primeiras" (v. 19). Em contraste com a igreja de Esmirna,
que tinha que sofrer tribulação passivamente, essa igreja era ati-
va no trabalho do Senhor. Mas justamente aqui mostra-se que
atividade aumentada pode esconder grave pecado. Pois logo em
seguida o Senhor continua: "Tenho, porém, contra ti o tolerares
que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa,
não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a prati-
carem a prostituição e a comerem causas sacrificadas aos ído-
los" (v. 20). O que o Senhor elevado tem contra Tiatira é tanto
mais grave, porque é um mal oculto, que faz empalidecer toda a
entrega ao Senhor existente. "Um pouco de fermento leveda to-
da a massa", está dito em Gálatas 5.9.
Com a mulher Jezabel não se faz referência simplesmente a uma
pessoa. Pelo contrário, essa mulher representa um sistema, uma

65
má doutrina. Quatro vezes aparece no Apocalipse uma mulher
como tal representação simbólica-profética, e isso no sentido
positivo e negativo. No sentido positivo: "a esposa, a noiva do
Cordeiro" (cap. 19.7;21.9). Esse é o organismo completo da Igreja
de Jesus. "Uma mulher vestida do sol" (cap. 12.1), é Israel em seu
significado no Plano de Salvação; o remanescente, que é salvo
através da Tribulação. Uma representação simbolicamente ne-
gativa é "a mulher montada numa besta escarlate, a grande me-
retriz" (cap. 17.1,4). A grande meretriz é uma figura da apóstata
igreja dos tempos finais, que prostitui-se politicamente com os
poderosos deste mundo. E aqui em Apocalipse 2 temos a mulher
Jezabel, que se diz profetisa. Um falso mestre sempre tenta des-
tacar a si mesmo e fala muito de si mesmo. E o que faz também
Satanás, pois o Senhor Jesus diz dele: "Ele foi homicida desde o
princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há ver-
dade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, por-
que é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44).
O Senhor reclama da igreja em Tiatira: "Tenho, porém, contra ti o
tolerares que essa mulher, Jezabel ..." Com outras palavras: "que
permites essa doutrina na tua igreja". Trata-se da desastrosa to-
lerância, da qual o Senhor fala aqui!
Já do Antigo Testamento conhecemos a mulher Jezabel. Ela ti-
nha crescido em Tiro, a cidade portuária fenícia. Seu pai, rei Et-
baal, era também sacerdote de Astarote e sacrificava a Baal. Os
fenícios, um povo de navegadores, negociavam com madeiras no-
bres, ouro e pedras preciosas. Eles habitavam em diversas cida-
des florescentes em volta do Mar Mediterrâneo. Através do seu
casamento com a fenícia Jezabel, o rei israelense Acabe espera-
va ter assegurado a amizade da maior potência comercial. Mas
Jezabel tornou-se fatídica para ele. Ela somente trouxe desgra-
ça, confusão e aflição para o reino de Israel. Ela introduziu a ido-
latria e transformou-se em assassina de profetas. Com isso foi
calada a palavra profética em Israel: "Tenho, porém, contra ti o
tolerares que essa mulher ...", diz o Senhor a Tiatira. A falsa pro-
fetisa Jezabel sufoca a palavra profética. Certamente é por isso
que o Senhor aqui fala pouco da sua vinda. Somente àqueles em
Tiatira que "não têm essa doutrina", ele diz: tão somente con-
l i•••

servai o que tendes, até que eu venha" (v. 25). Quando a palavra
profética, que incita à santificação, é desalojada de uma igreja,
penetra um outro espírito. Então vem o espírito da mistura e da
prostituição. Esse espírito espalha-se em nossos dias de uma

66
maneira terrível. O salmista diz acertadamente: "Pode acaso
associar-se contigo o trono da iniqüidade, o qual forja o mal. ten-
do uma lei por pretexto" (SI 94.20). O caráter de Jezabel está em
nosso meio. De perversidade mundana é feita uma lei "espiri-
tual". Ensina-se e induz-se a
a) orar e mentir. Pois pode-se mentir na oração, dizendo-se, por
exemplo: "Senhor, retira esse pecado de mim", não estando dis-
posto a deixar esse pecado.
b) falar da causa do Senhor e caluniar.
c) falar de mais santificação e viver em adultério.

Se o Senhor diz a respeito da doutrina de Balaão e dos nicolaítas:


"o que eu aborreço" (cap. 2.15, Ed. Rev. e Corr.), quanto mais ele
deve odiar quando uma igreja inteira - com poucas excessões
(v.24) - tolera o espírito e a doutrina de Jezabel! Jezabel signifi-
ca "a pura", mas ela é pura somente aparentemente. Pois essa é
justamente a doutrina de Jezabel: ela produz um abismo entre a
posição em Cristo e a situação real. O que se quer dizer com a
"posição em Cristo"? Em Cristo somos perfeitos, justos, santifi-
cados (Rm 8.1; 1 Co 6.11, etc.). Quem aceitou Jesus como seu
Salvador, quem nasceu de novo, tem sua posição diante de Deus
santa e sem mancha. "E assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura: as causas antigas já passaram; eis que se fizeram no-
vas" (2 Co 5.17). Mas nossa situação, isto é, nossa vida pessoal,
então também precisa ser santificada de maneira corresponden-
te (1 Ts 4.3). Quando fazemos um abismo entre posição e situa-
ção, quando dizemos que cremos em Jesus Cristo mas ao mes-
mo tempo seguimos o espírito deste mundo - quer seja no terre-
no da música, da moda, na moral ou nas finanças - então o es-
pírito de Jezabel age corrompendo, e temos isso hoje na Igreja. A
doutrina de Jezabel é praticada. Apaga-se as fronteiras. Isso po-
de até ir tão longe, que se diz como desculpa: não é o novo ho-
mem em mim que peca, mas o velho homem. "Tenho, porém,
contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se
declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os
meus servos a praticarem a prostituição e a comerem causas sa-
crificadas aos ídolos." Ela seduz os servos obedientes para co-
merem cousas sacrificadas aos ídolos, isto é, ter comunhão com
aqueles que são dúbios. O amor do Senhor é profundamente en-
tristecido pelas ações e procedimentos da igreja e sua santidade
é ofendida. A falta da igreja não consiste de um ato ativo contra o
67
Senhor, mas na tolerância passiva do inimigo. Mas tolerar no
fundo significa concordar, e essa é uma grande culpa da Igreja
do nosso tempo. Isso já começa na educação das crianças.
Tolera-se tudo. Deixa-se que elas fiquem à vontade: elas podem
fazer e deixar de fazer o que querem. E isso passa para a igreja. O
que é tudo tolerado! Quase ninguém ousa combater falsas dou-
trinas e comportamento impiedoso. E quando alguém tem essa
coragem, ele é acusado de fanatismo, de perturbação da tranqüi-
lidade, sim, até mesmo de sabotagem contra a unidade da Igreja
de Jesus.

"Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel ...


seduza os meus servos a praticarem a prostituição." O que se
quer dizer com isso? Desde Oséias o matrimônio era e é a figura
do relacionamento íntimo e fiel entre o Senhor e os seus (cornp.
Os 3.21-22). Mas também em Isaías 54.5-8 lemos de maneira co-
movente: "Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos
Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é
chamado o Deus de toda a terra. Porque o Senhor te chamou co-
mo a mulher desamparada e de espírito abatido; como a mulher
da mocidade, que fora repudiada, diz o teu Deus. Por breve mo-
mento te deixei, mas com grandes misericórdias torno a acolher-
te; num ímpeto de indignação escondi de ti a minha face por um
momento; mas com misericórdia eterna me compadeço de ti, diz
o Senhor, o teu Redentor." O matrimônio é, portanto, sem dúvida
uma sombra da maravilhosa relação entre o Senhor e os seus.
Ou pensemos em Ezequiel 16.8: "Passando eu por junto de ti, vi-
te, e eis que o teu tempo era tempo de amores." No Novo Testa-
mento, Paulo diz de modo tão tocante: "Porque zelo por vós com
zelo de Deus, visto que vos tenho preparado para vos apresentar
como virgem pura a um só esposo, que é Cristo" (2 Co 11.2). Em
Efésios 5.32 ele esclarece: "Grande é este mistério, mas eu me
refiro a Cristo e à igreja." Por isso infidelidade com o Senhor -
sob qualquer forma - é prostituição, idolatria e feitiçaria. Esse é
o caráter de Jezabel. Jeú respondeu à pergunta de Jorão, "Há
paz?", com: "Que paz, enquanto perduram as prostituições de
tua mãe Jezabel e as suas muitas feitiçarias?" (2 Rs 9.22). Para
compreender ainda melhor essa prostituição espiritual, é impor-
tante captar bem o que diz Jeremias 3.6: "Disse mais o Senhor
nos dias do rei Josias: Viste o que fez a pérfida Israel? Foi a todo
monte alto, e debaixo de toda árvore frondosa, e se deu ali a toda
prostituição." (comp. tbém. Ez 16.15; Mc 8.38; Tg 4.4).

68
Na Igreja de Jesus de hoje não são as abominações de excessos
sexuais com as quais a profetisa Jezabel suja a Igreja, mas gra-
ves enganos na área do discipulado de Jesus: em solo cristão
são permitidos abusos pagãos. Assim vemos Jezabel no movi-
mento dos chamados "evangelicals"*. Esse é um movimento de
tolerância dentro da Igreja de Jesus. Podemos chamá-lo de se-
gundo ecumenismo. O primeiro, o próprio ecumenismo, desmas-
carou a si mesmo, quando o Conselho Mundial de Igrejas falou
da presença de Cristo em todas as religiões (budismo, islamis-
mo, judaísmo, e cristianismo). Aí finalmente deve ter ficado claro
para cada um que conhece a Escritura, que o ecumenismo pre-
tende a religião única, ou seja, mundial (cornp, Ap 17)! Além dis-
so, o CMI financia os carrascos da Igreja de Jesus, sustentando
os chamados "Movimentos de Libertação".

Onde havia antigamente uma divisão bem clara entre as fal-


sas doutrinas romanas e entusiastas, realiza-se atualmente
uma fusão. Ao invés de romper com o culto pagão de Roma e
os costumes do seu meio e o entusiasmo religioso, os cris-
tãos de então e os cristãos de hoje incluiram muitas dessas
coisas em sua vida de fé. Eles sacrificam a obediência abso-
luta à exigência total de Jesus no discipulado à adaptação a
este mundo. Esse é o fermento entre nós, que fermenta tudo.
Ele começa com a tolerância consigo mesmo.
Observamos hoje um abrandamento sem escrúpulos da lei
de Cristo, uma adaptação leviana a formas de pensar e viver
mundanos - e isso sob invocação da chamada "liberdade

o nome "evangelicals" é ouvido com freqüência sempre maior. Trata-se de um nome


coletivo, e ajuntam-se realmente várias orientações, sim, até mesmo falsas doutri-
nas são toleradas. O pastor Kurt Heimbucher (de Wetzlar/RFA) disse num dia infor-
mativo da Conferência de Publicistas Evangelicals, sobre o tema "Evangelicals Ho-
je": "Os evangelicals não são uma igreja própria nem querem fundar igreja própria.
Eles são um movimento reformador em muitas igrejas do mundo." Sua abrangência
estende-se desde a Igreja Católica Romana até grupos pentecostais. Diante de
aproximadamente cinqüenta representantes da imprensa, rádio e televisão, o diri-
gente "evangelical" explicou o que os "evangelicals" pensam sobre sua própria
missão e objetivo. Segundo Heimbucher, distingue-se três grupos principais: os
"evangelicals" confessionais, que acentuam a autoridade da confissão eclesiásti-
ca e se ajuntaram em grupos eclesiásticos em torno da Bíblia e da confissão. Depois
os "evangelicals" pentecostais dentre alguns grupos carismáticos e pentecostais
de orientação moderada. E finalmente os "evangelicals" da Aliança, aos quais se
contam os cristãos pertencentes à Aliança Evangélica Alemã, dentre igrejas inde-
pendentes e grupos pietistas das igrejas oficiais. O movimento dos "evangelicals"
ganha em força porque é um movimento de tolerância.

69
do espírito". Esse era o mal em Tiatira, e esse é o mal que se
espalha hoje. Pois a grande mudança já se poderia ter deli-
neado em Tiatira, mas nada aconteceu: "Dei-lhe tempo (pra-
zo) para que se arrependesse; ela, todavia, não quer
arrepender-se da sua prostituição" (v. 21). Como era na Anti-
ga Aliança: quando se suspeitava que alguém estivesse leproso,
então o sacerdote observava bem essa pessoa e ela era isolada
por sete dias. Ela figuradamente recebia sete dias de prazo. Se o
quadro mórbido após sete dias continuava incerto, ela era "en-
cerrada" por mais sete dias (Lv 13.1ss). Se então fosse lepra, a
pessoa era imunda e era expulsa da comunidade. Aplicado a Je-
zabel, isso significa: ela recebeu um prazo para arrepender-se,
mas não o fez. Por isso a sentença: "Eis que a prostro de cama,
bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso
não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus fi-
lhos ..." (v. 22.23a). Palavras abaladoramente sérias! Observa
bem que o Deus vivo ameaça com uma sentença e a executará!
Hoje ouve-se muitas vezes lamentar: "Sou tão atribulado; certa-
mente há poderes demoníacos por trás disso." Freqüentemente
essa constatação é apressada e falsa. Pois justamente aqui em
Apocalipse 2.22-23 temos diante de nós uma intervenção, um juí-
zo do Senhor Jesus Cristo! O que igualmente se torna claro aqui:
os seduzidos de Tiatira não são julgados por causa do seu peca-
do; apesar dele ser muito grave, mas por sua impenitência: "...
caso não se arrependam das obras". Sempre desejamos uma
mudança para o bem - uma mudança espiritual em nossa famí-
lia, no nosso local de trabalho, em nossa igreja - e também ora-
mos por isso. Mas não fazemos a única coisa que cria as condi-
ções para isso: arrependimento. E então vem juízo. O Senhor
prostra de cama a Jezabel e seus seguidores, que se firmam in-
sistentemente no comportamento diabólico e dúbio, que pregam
a prostituição com relação ao Senhor como "liberdade do espíri-
to". Em outras palavras: ele a lança numa situação de impotên-
cia. Um acamado é desamparado. "... em grande tribulação", diz
o Senhor. Muitos já se encontram nessa tribulação. Com uns o
casamento está arruinado, com outros a saúde abalada e outros
ainda estão diante da ruína financeira, etc. O Senhor "prostrou-te
de cama". Por quê? Porque ele te ama e quer que finalmente che-
gues ao arrependimento. É significativo que aqui está escrito no
versículo 23: "Matarei os teus filhos". O "cristianismo de Tiatira",
essa mistura diabólica, essa tolerância diante do mundo, gerou
filhos. Uma geração de uma miscigenação sempre produz mesti·
ços. Já no tempo de Noé havia mestiços. Quando os anjos caí-
70
dos foram às filhas dos homens e viram que eram formosas, to-
maram para si como mulheres as que mais lhes agradaram (Gn
6). O resultado foi que nasceram gigantes. Os filhos de Tiatira
também eram gigantes - gigantes na desobediência, no desre-
gramento; gigantes que já em sua infância sucumbiam à prosti-
tuição.

Devemos ficar conscientes que com a restauração de Israel e a


apressada preparação da Igreja de Jesus para o arrebatamento,
começou o juízo de Deus sobre a "ideologia de Jezabel" na igreja
atual. E tempo de acordar e reconhecer que nossas desgraças
não são tribulações do diabo. Pois está escrito que o maligno
não nos tocará (1 Jo 5.18). Essas desgraças são juízos de Cristo:
"Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os
que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que
ela incita." Na Edição, Revista e Corrigida está dito: "E ferirei de
morte a seus filhos". E o que vemos hoje diante de nós. Quantos
pais reclamam: "Meus filhos ficaram grandes, não querem, po-
rém, seguir Jesus, mas vão para o mundo." A esterilidade espiri-
tual da juventude em desenvolvimento, que não quer converter-
se, é um pesado juízo do Senhor elevado, por causa da impeni-
tência dos pais. Além disso, fica claro pelo versículo 24, que essa
doutrina de mistura de Jezabel aparentemente queria conhecer
as coisas profundas de Satanás: "Digo, todavia, a vós outros, os
demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que
não conheceram, como eles dizem, as cousas profundas de Sa-
.senés: Outra carga não jogarei sobre vós;" O que significa conhe-
cer as "coisas profundas de Satanás"? E o mesmo que Paulo diz
em Romanos 6.15: "E daí? Havemos de pecar porque não esta-
mos debaixo da lei, e, sim, da graça? De modo nenhum. "Com ou-
tras palavras: havemos de fazer o que é do diabo, para que expe-
rimentemos tanto mais a salvação? Haveríamos de penetrar nas
coisas profundas de Satanás, para que atingíssemos as profun-
dezas de Cristo? Nunca! Mas existe ainda outro aspecto de reco-
nhecer as coisas profundas de Satanás. Com isso voltamos ao
ponto da falsa identificação da razão de tribulações, em que to-
da tribulação é avaliada como ataque demoníaco. Tantos
ocupam-se com Satanás e ligações demoníacas. Eles querem fi-
guradamente conhecer as coisas profundas de Satanás, mas
através disso não têm mais forças para ocupar-se com a vitória
de Jesus. Mas Jesus é vencedor, e a ele foi dado todo o poder no
céu e na terra!

71
o Senhor, que tem olhos como chama de fogo, diz no versículo
23b: "e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda
mente e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas
obras." Chama a atenção que agora não somente a igreja em
Tiatira deve reconhecer que o Senhor sonda mente e coração,
mas todas as igrejas. Aí estamos incluídos! Como Igreja de Je-
susdevemos finalmente reconhecer que os seus olhos são como
chamas de fogo e sondam nossas mentes e corações, de modo
que ele conhece os mais profundos motivos do nosso coração.
Mas é também um grande consolo que o Senhor não perde de
vista os fiéis. A Edição Revista e Corrigida diz: "Mas eu vos digo a
vós, e aos restantes, que estão em Tiatira ..." Esse remanescente
de fiéis em Tiatira não tinha aceitado a doutrina de Jezabel. Por
isso lhes é dito: "Outra carga não jogarei sobre vós; tão somente
conservai o que tendes, até que eu venha" (vv. 24-25). Quem se
mantém no primeiro amor ao Senhor e na sagrada unilateralida-
de no discipulado de Jesus - quem, portanto, não tolera mistura
- sobre esse o Senhor não impõe outra carga. Mas ele adverte
muito seriamente: conservem o que têm, não se deixem roubar
nada do que têm. Por quanto tempo? Até que Jesus venha: "... ao
que guardar até o fim as minhas obras" (v. 26). Portanto, não so-
mente passageira e fugazmente, mas até ao fim. Mas o que im-
pede esse guardar até ao fim? Novamente a resposta tem que
ser: a impenitência! Mas existe a possibilidade de uma mudança
radical para o bem! O primeiro passo para o verdadeiro arrepen-
dimento e para o afastamento do juízo é que não tentes ocultar o
pecado que o Senhor te mostrou, mas lhe dês razão e o confes-
ses a ele.
Também na carta a Tiatira segue no final a insistente advertên-
cia do Senhor elevado: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às igrejas" (v. 29). Entretanto, essa exortação vem somente
após a promessa aos vencedores, em contraste com a seqüên-
cia com as outras igrejas.
A promessa aos vencedores dirigida a Tiatira é: li••• eu lhe darei
eutotidede sobre as nações, e com cetro de ferro as regerá, e as
reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; assim co-
mo também eu recebi de meu Pai, dar-Ihe-ei ainda a estrela da
manhã" (w. 26-28). "... com cetro de ferro as regerá ", isso nos faz
lembrar do menino que é arrebatado ao seu Deus e regerá as na-
ções com cetro de ferro (Ap 12). Esse poder sobre as nações foi
representado profeticamente nas vitórias de Josué, Davi e Salo-
72
mão. Quando Israel entrou na terra de Canaã, através de Josué
recebeu poder sobre as nações. Com outras palavras: seus inimi-
gos lhe foram submetidos. Pois o Senhor tinha prometido: "Todo
lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso" (Dt 11.24). Aos
vencedores é prometido no futuro do Senhor: "... se persevera-
mos, também com ele reinaremos" (2 Tm 2.12). Esse poder julga-
dor sobre os povos já é recebido hoje pelos vencedores: eles já
hoje têm autoridade sobre o poder do inimigo, pois Jesus é ven-
cedor! O Senhor prometeu em Lucas 10.19: "Eis aí vos dei auto-
ridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o po-
der do inimigo ..." Isso vale para vencedores!
Chama a atenção que nas primeiras quatro promessas aos ven-
cedores temos quatro níveis, ou seja:
- árvore da vida
- vida eterna, nenhum dano da segunda morte
- maná escondido
-- exercício do poder judicial e autoridade de governo através da
vitória de Jesus.
Isso tudo em Jesus, através de Jesus e com Jesus Cristo! En·
quanto agora está concluída a série de tipos proféticos do Anti-
go Testamento, as três promessas aos vencedores das outras
três igrejas falam de coisas que ainda são futuras. Elas indicam
acontecimentos solenes na História Mundial, que ainda estão
para ocorrer.
Mas todas as promessas aos vencedores apontam de maneira
singular para o indescritivelmente glorioso futuro de que partici-
pará aquele que, através de Jesus Cristo, foi um verdadeiro ven-
cedor. Essa glória em sua plenitude não pode ser expressa em
palavras. Paulo diz em 1 Coríntios 2.9: "Nem olhos viram, nem ou-
vidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que
Deus tem preparado para aqueles que o amam". Seria, portanto,
um atrevimento querer analisar até ao fundo essa promessa da
glória futura. Encontramo-nos aqui na periferia de uma glória ine-
fável.
Cada uma das sete cartas contém uma promessa para um deter-
minado vencedor, mas mesmo assim todas essas promessas va-
lem para todos osruhos de Deus que vencem. Toda área obscura
em tua vldá, sobre a qual manténs até ao fim a vitória de Jesus,
será preenchida na Eternidade com uma indescritível porção de
glória. Quem realiza vitoriosamente o bom combate da fé e vence

73
também no sofrimento, esse é recompensado correspondente-
mente com a glória de Deus. "Porque a nossa leve e momentâ-
nea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de
toda comparação, não atentando nós nas cousas que se vêem,
mas nas que se não vêem" (2 Co 4.17-18).
Quando falamos de vencer, trata-se no fundo da ponte entre nos-
sa posição diante de Deus e nossa situação no dia-a-dia (compa-
re também mais uma vez as explanações na página 67).João diz
em sua primeira epístola: "Todo aquele que é nascido de Deus
não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divi-
na semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido
de Deus" (1 Jo 3.9). O novo homem em ti, o espírito renascido, não
pode pecar; ele é sem mancha. Assim diz Romanos 8.1: "Portan-
to, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito"
(Ed. Rev..e Corr.). Essa é nossa posição básica diante de Deus.
Essa posição tem que ser situação em nosso dia-a-dia. Em ou-
tras palavras: temos que vencer nossa carne e sangue, o eu, pelo
poder da morte de Jesus, e podemos isso quando nos considera-
mos "crucificados com ele" (GI2.19-20; Rm 6.6-8). Pois com rela-
ção à nossa situação está escrito em 1 João 5.4: "porque tudo o
que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que ven-
ce o mundo, a nossa fé". Nós fomos (eu repito) renovados na po-
sição pela morte na cruz e pela ressurreição de Jesus Cristo, e
assim também nossa situação precisa ser renovada. Toda área
em nossa vida - caráter, pensamentos, palavras, ações - tem
que ser dominada por aquilo que foi renovado em nossa vida (2
Co 5.17). Mas se o abismo entre posição e situação em tua vida
não foi desfeito, se existe uma contradição entre aquilo que di-
zes crer e aquilo que és no dia-a-dia, então te encontras fora das
promessas aos vencedores. Então terás que experimentar que
receberás a vida eterna, mas que sofrerás dano, quando estive-
res diante do trono do galardão de Jesus Cristo. "se a obra de al-
guém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo,
todavia, como que através do fogo" (1 Co 3.15). Em outras pala-
vras: quem não vence, escapa unicamente com a vida - e isso é
muito, muito sério. Pois então não atinges o objetivo de Deus,
que ele estabeleceu para ti antes da fundação do mundo. Esse
objetivo nos é mostrado em Efésios 1.4: "assim como nos esco-
lheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e ir-
repreensíveis perante ele e em amor."

74
A quinta carta do céu
"Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas cousas diz aquele
que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as
tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto. Sê vigilan-
te, e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho
achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus.
Lembra-te, pois, de como tens recebido e ouvido; guarda-o, e
arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não
conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti. Tens,
contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contamina-
ram as suas vestiduras, e andarão de branco junto comigo, pois
são dignas. O vencedor será assim vestido de vestiduras bran-
cas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pe-
lo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante
dos seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas" (Ap 3.1-6).
O nome Sardes é derivado do hebraico "sarid" e significa "o que
escapou" ou "remanescente". Historicamente, Sardes era a an-
tiga sede real da Lídia, e tinha um passado cheio de glórias. No
tempo dos romanos, entretanto, na época de João, portanto,
apesar do seu bem-estar Sardes era uma cidade provinciana des-
tituída de brilho. Então ela ganhou na era cristã novamente uma
certa fama, e isso através do bispo Melito de Sardes, falecido no
) ano de 170 d.C. Na nossa época não resta dessa notável cidade
nada mais que um monte de ruínas espalhadas numa ampla
área, e entre elas miseráveis casebres turcos, que juntos formam
uma pequena vila com o nome Sarte. Há muitas décadas Gotthilf
Heinrich Schubert encontrou em suas viagens ainda dois cris-
tãos nesses casebres. Tão completamente a igreja sucumbiu ao
juízo de Deus. Mas mesmo que uma manifestação visível do cor-
po de Jesus Cristo na igreja local desaparece, como aqui em Sar-
des - a própria Igreja de Jesus permanece. As portas do inferno
não prevalecerão contra ela! O Senhor dirige-se agora à Igreja de
Jesus nessa cidade. É algo maravilhoso fazer parte da Igreja de
Jesus e ser membro no seu corpo! A Igreja de Jesus sobrevive ao
tempo - ela existia há dois milênios e existe hoje. E é o mesmo
Senhor, o mesmo Salvador, que lhe falou e fala a ela hoje.

Será um elogio quando também aqui o Senhor diz a Sardes: "Co-


nheço as tuas obras"? O fato dele conhecer tudo é um grande

75
consolo para todos que estão no final das suas forças. Ele co-
nhece teus esforços e sabe das tuas realizações menospreza-
das, de tudo que fazes em segredo por amor a Jesus. Mas essas
palavras do Senhor a Sardes não significam consolo e não de-
vem ser avaliadas como louvor, mas em primeiro lugar como
prosseguimento da sua auto-revelação.
À igreja em Tiatira ele revelou-se como o Filho de Deus, que tem
olhos como chama de fogo e pés semelhantes ao bronze polido.
Mas aqui ele diz: "Estas causas diz aquele que tem os sete espiri-
tos de Deus, e as sete estrelas" (v. 1).Ossete espíritos de Deus
significam toda a plenitude do Espírito Santo. O Senhor revelou
por boca do profeta Isaías essa plenitude do Seu Espírito, pois
em Isaías 11.2 está escrito que repousará sobre ele:

1. O Espírito do Senhor
2. O Espírito de sabedoria
3. O Espírito de entendimento
4. O Espírito de conselho
5. O Espírito de fortaleza
6. O Espírito de conhecimento
7. O Espírito de temor do Senhor

Nosso Senhor Jesus tem tudo isso! Ele tem os sete espíritos de
Deus, pois nele habita corporalmente toda a plenitude da Divin-
dade (CI 2.9). Muitos falam que precisamos ter a "plenitude" do
Espírito Santo, mas isso não existe, pois nenhum homem pode-
ria suportar a "plenitude" do Espírito Santo. Essa, aliás, é uma
expressão que não aparece em nenhum lugar na Bíblia. A "pleni-
tude" do Espírito Santo seria o Espírito Santo em toda a sua pes-
soa divina. Houve homens de Deus, e os há, aos quais Deus -
devido ao seu encargo especialmente elevado - deu tal medida
do seu Espírito, que exclamaram subjugados: "Não mais, Se-
nhor, não mais!" O que o Senhor quer é que fiquemos "cheios"
do Espírito Santo!
Já vimos no capítulo 1.20quem são as sete estrelas: sete anjos,
ou seja, dirigentes das diferentes igrejas, que representam a
Igreja de Jesus completa. O Senhor, que tem os sete espíritos de
Deus, fala de um lado como a fonte de toda vida em Sardes, e por
outro [ado ele tem as estrelas - a Igreja de Jesus - em sua
mão. E como se o Senhor quisesse dizer aqui com os sete espíri-
tos de Deus, com toda a plenitude do Espírito Santo e com as se-

76
te estrelas: toda plenitude de poder renovador está à disposição
de toda a Igreja. Com isso reconhecemos repentinamente que
"Conheço as tuas obras" dessa vez não contém nem consolo
nem louvor. Pelo contrário, a palavrinha "que" revela a enorme
seriedade dessa mensagem do Senhor à sua igreja. Leiamos no-
vamente no contexto: "Estas cousas diz aquele que tem os sete
espfritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que
tens nome de que vives, e estás morto" (v. 1). O Senhor fala aqui
de maneira muito direta, não como com outras igrejas, por exem-
plo com Pérgamo, onde diz primeiro: "Tenho, todavia, contra ti al-
gumas couses" (cap. 2.14), ou como para Tiatira (cap. 2.20)e Éfe-
so (cap. 2.4): "que tens nome de que vives e estás morto." Isso
prova que aqui o Senhor fala de obras mortas, que vimos tam-
bém com Tiatira. A definição mais curta de obras mortas prova-
velmente é: parecer sem ser! Parece existir algo, mas na realida-
de não há nada. A igreja em Sardes tem um Salvador histórico,
mas não um Salvador presente, senão a situação estaria bem dl-
ferente. Após um início cheio de vida, houve enrijecimento. Cha-
ma a atenção que essa igreja, em contraste com outras igrejas, é
deixada em paz pelo diabo. Satanás nem é citado aqui. Em Sar-
des não há falsas doutrinas, não há entusiastas, não há falsos
profetas; também não há sofrimentos nem tribu lações. Por quê?
Justamente: porque a igreja está morta! "... tens nome de que vi-
ves e estás morto." Bem entendido, ela está morta somente aos
olhos do Senhor, pois para fora ela tem o nome de ser uma igreja
viva. Tudo parece estar na melhor ordem. Que essa igreja tem o
nome de ser viva, significa duas coisas: não somente que lhe tal-
ta algo, mas também que pretende ter algo que não existe.

Exatamente isso é feito por muitos em nosso Ocidente cristiani-


zado, que têm o nome de serem cristãos. Daí pode ter-se deriva-
da a expressão: "cristão de nome" Quando perguntamos a al-
guém: "Você é um filho de Deus?", então recebemos diferentes
respostas: "Espero que sim", "Vou à igreja, sou batizado e confir-
mado" ou "Eu vivo direito e também oro; Deus também já me ou-
viu". Mas todas essas respostas mostram afinal que a pessoa
em questão somente é cristã de nome. Mas o essencial falta: a
vida proveniente de Deus. A afirmação do Senhor: "... tens nome
de que vives, e estás morto", mostra que Sardes era uma igreja
que tinha um bom nome. Mas esse bom nome enganava, assim
como em sentido oposto a fama de Esmirna enganava. O Senhor
diz da igreja em Esmirna, que ela era considerada pobre, mas
77
que na verdade era rica. Portanto, a fama de pobre engana, pois
ela era rica em seu Senhor. Aqui, porém, em Sardes, acontece
exatamente o contrário.

No Antigo Testamento era assim, que as pessoas recebiam seu


nome de acordo com seu ser, seu caráter ou sua tarefa: Israel =
príncipe de Deus; Eva = mãe dos viventes, etc. O nome Sardes,
"o que escapou", indica uma igreja viva, que escapou do mundo,
mas ela só o é aparentemente. Se pertencemos à Igreja de Je-
sus, então dizemos com nosso nome, com a designação
"igreja", "congregação" ou "comunidade", e quaisquer que se-
jam os outros nomes, que somos uma fonte de água viva e ao
mesmo tempo uma barreira espiritual contra todos os poderes
satânicos. A igreja de Sardes dava a impressão de ser isso mas
estava morta. Terrível! Mas essa é também a aflição em nossos
dias. A grande mentira envolveu muitos "cristãos de Sardes".
Pois quando se aparenta uma coisa por muito tempo ou se repe-
te uma mentira sempre novamente, no fim se crê mesmo que é a
verdade. E então não se reage mais à pregação ou a uma corre-
ção espiritual, mas pensa-se: "Isso não me diz respeito, comigo
está tudo na mais perfeita ordem." Tal pessoa está muito con-
vencida de estar certa, assim como um morto não reage quando
se toca ou mesmo bate nele. "... tens nome de que vives e estás
morto." Mas tanto mais comovente é o fato que o Senhor Jesus
Cristo, que é a vida, apresenta-se justamente a essa igreja como
o Senhor, que tem a plenitude do Espírito e assim também a ple-
nitude do espírito criador. Assim ele se apresenta também a ti.
Da mesma maneira ele se apresenta também a Israel, pois na
verdade Israel, ainda está morto. Em Ezequiel 37.9 lemos: "Vem
dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para
que vivam." Essa é a intenção e o objetivo do Senhor elevado
com Israel e contigo: o que é morto deve despertar para nova vi-
da! A esse respeito temos uma maravilhosa passagem paralela
em Efésios 5.14, onde o Senhor diz através da boca de Paulo:
"Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cris-
to te iluminará." O objetivo dessa carta a Sardes é, portanto, que
os mortos fiquem novamente vivos; "Sê vigilante, e consolida o
resto que estava para morrer"(v. 2). Eclaro que o Senhor se refere
com isso ao sono de morte espiritual.
Cada um que é renascido para uma esperança viva e pertence à
igreja de Jesus, é chamado a revelar vida. Mas com muitos de
nós o verdadeiro estado está em oposição com o ser real, que é
78
vida. Freqüentemente somos luzes enganosas ao invés de luzes
orientadoras, de modo que pessoas se despedaçam nos recifes,
ao invés de encontrar o porto seguro da salvação. Existem pes-
soas que ficam desnorteadas pelo nosso ser, porque não é visí-
vel a mansidão, humildade e clareza do Senhor Jesus, mas o eu
teimoso, ambicioso e orgulhoso.

Aparentemente a igreja em Sardes nada sabe da grande mentira


em que vive, assim como muitos também não sabem quantas
coisas na vida de fé são aparência, e assim mentira. Aí Israel es-
tá um passo à nossa frente em seu conhecimento próprio, pois
lemos em Ezequiel 37.11: "Eis que dizem (Israel !): Os nossos os-
sos se secaram, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo
exterminados." Esse é conhecimento próprio salvador, pois isso
quer dizer com outras palavras: "Nós, que fomos salvos do Egito
pelo sangue do cordeiro, estamos perdidos; tudo acabou conos-
co." O Senhor aproveita esse conhecimento próprio e começa a
revivificar Israel novamente, pelo Espírito de vida do alto. En-
quanto não chegamos a esse ponto profundo do conhecimento
próprio, o Senhor não pode dar vida. Mas quem confessa: tenho o
nome de que vivo, mas estou morto, e se humilha e procura pas-
sar pela porta estreita, esse recebe a vida eterna. Talvez tens um
bom nome de família, e por isso ainda não reconheceste até hoje
teu estado de morte espiritual? Um bom nome pode ser um gran-
de perigo tanto para um indivíduo como para toda uma igreja. Do
Exército da Salvação procedia um grande poder há aproximada-
mente cinqüenta anos, quando ainda era desprezado aqui na
Suíça, quando tinha um mau nome. Aos poucos ele tornou-se
apresentável e assim entrou em grave perigo. Se nós na Chama-
da da Meia-Noite por causa das obras que realizamos, aos pou-
cos passarmos a ter um bom nome, mas ao mesmo tempo nos
afastarmos interiormente do Senhor por impenitência, então ele
diz: "Vocês têm o nome de que vivem, mas estão mortos." Quan-
do uma igreja é tão bem considerada, que até é subvenoionada
pelo Estado com dinheiro público, então a morte com seus efei-
tos deterioradores já é um fato.

O Senhor não pára nesse julgamento aniquilador: "Conheço as


tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto." Não, ele
quer salvar, pois diz: "porque eu vivo, vós também viverels." (Jo
14.19). Ele quer transm it ir também a ti, que estás espíritual mente
morto, sua vida eterna. O seu Espírito fala ao teu coração indife-

79
rente, frio e orgulhoso. Trata-se de uma quíntupla ordem categó-
rica:
A primeira ordem é: "Se vigilante" (v. 2). Aquele a quem Jesus
acorda do sono de morte é capaz de levantar! O poderoso cha-
mado "Volta à vida" já foi ouvido com Lázaro, que já se encontra-
va quatro dias na sepultura e já estava cheirando mal. Quando a
pedra foi finalmente tirada, o Senhor Jesus clamou em alta voz
depois de ter agradecido ao Pai: "Lázaro, vem para fora" (Jo
11.43). E o morto levantou-se, tendo os pés e as mãos ligados
com ataduras, e o rosto envolto num lenço (Jo 11.44). O Senhor
diz também a ti com esta mensagem: "Desperta!" Não é uma ter-
rível ofensa para ele, que derramou sua vida em seu sangue na
cruz de Gólgota para nos despertar do sono de morte, quando
dormimos novamente? E isso em uma hora do Plano de Salva-
ção na qual ele pode voltar a qualquer momento! Os discípulos
de Jesus dormiram naquela outra hora importante do Plano de
Salvação, quando o Senhor suou sangue no Getsêmani e lutou
com a morte, antes de ir para Gólgota. Então ele encontrou seus
discípulos dormindo e perguntou-lhes lamentando: "Então, nem
uma hora pudestes vós vigiar comigo?" (Mt 26.40). Sê vigilante!

A segunda ordem: "...e consolida o resto que estava para morrer,


porque não tenho ecneao íntegras as tuas obras na presença do
meu Deus"(v. 2b). E angustiante ver quantos em nossos dias des-
lizam vagarosamente para a apostasia. Ezequiel recebeu do Se-
nhor a tarefa de ser atalaia sobre toda a casa de Israel (comp. Ez
3.17-19; 33.7-9). A Igrejade Jesus tem exatamente o mesmo en-
cargo, pois conforme Apocalipse 1.1 foi-lhe confiada a palavra
profética, para advertir o mundo e os cristãos de nome sobre o
juízo próximo: "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para
mostrar aos seus servos as cousas que em breve devem aconte-
cer." Temos um encargo de atalaia! A Igreja em Sardes dorme e
nós também dormimos. Naturalmente sustentamos missioná-
rios, naturalmente trabalhamos de alguma forma, mas mesmo
assim dormimos. Sardes dorme e deixa dormir, deixa morrer. Es-
sa é a razão da exortação do Senhor: "... consolida o resto que es-
tava para morrer". Em outras palavras: Quando acordas das
obras mortas, de todo trabalho inútil, do cristianismo aparente,
então começa imediatamente a consolidar o resto que estava
para morrer. Continuamente pessoas morrem à nossa volta. Mui-
tas vão para a maldição eterna, que gostariam de ter ouvido de
Jesus e gostariam de tê-lo aceitado, mas nada escutaram sobre

80
ele, porque a igreja dorme. Dela saem efeitos de morte, ao invés
de rios de vida. Ouve o penetrante chamado do Senhor: "Sê vigi-
lante, e consolida o resto que estava para morrer. " Pára a morte
espiritual em ti e à tua volta!
"Porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença
do meu Deus" (v. 2). As obras de Cristo sempre são as obras do
Pai. O Senhor Jesus fala sempre a partir da sua unidade com o
Pai. Ele tem os sete espíritos, o Espírito Santo, e fala as palavras
e faz as obras do Pai, do Deus triúno. Se o Senhor diz a Sardes:
"as tuas obras são incompletas", então isso significa que as
obras mortas predominam. Hebreus 9 ensina-nos que pelo san-
gue de Jesus somos purificados das obras mortas. O que são,
afinal, obras mortas? É tudo aquilo que é de orientação terrena,
por exemplo auto-promoção, diversos vícios e ser escravizado a
cobiça, avareza, orgulho, falatório vazfo, como também o desper-
dício de tempo precioso, concretamente: tudo aquilo que não é
dirigido para o Senhor. "...não tenho achado íntegras as tuas
obras na presença do meu Deus." O servo preguiçoso enterrou
seu talento, e muitos entre nós também o fazem. Vocês, jovens
amigos, teriam chances tão grandes para serem algo maravilho-
so para o Senhor! Vocês, mais idosos, o que poderiam fazer pela
oração, pelas ofertas e pelo testemunho! Mas o que vocês ta-
zem, irmãos jovens e mais velhos? O culto devocês consiste em
grande parte de freqüentar o culto dominical, ouvir devotamente,
sair novamente e voltar à ordem do dia. Tudo gira mais ou menos
em torno de vocês mesmos e do próprio bem-estar: "...não tenho
achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus." Flcas-
te devendo a parte decisiva do teu trabalho, ou seja, o trabalho de
salvador e atalaia em meio a uma Humanidade que desespera e
também procura desesperadamente. Talvez te defendas dlzen-
do: mas eu dou testemunho e distribuo literatura e folhetos. A
questão é: teu testemunho tem autoridade? Ou será que aquilo
que fazes para o Senhor - as obras de Cristo através de ti - é
sobrepujado e enfraquecid.o por muitas coisas inúteis que te fas-
cinam? "... não tenho achado íntegras as tuas obras na presença
do meu Deus."
A terceira ordem do Senhor é: "Lembra-te, pois, de como tens re-
cebido e ouvido" (v. 3). O homem despertado pode novamente
pensar de maneira espiritualmente normal. De uma pessoa que
dorme não se pode esperar que pense e discirna claramente,
pois é incapaz de ver as realidades. Mas tão logo está acordada,

81
ela tem a capacidade de pensar. "Lembra-te, pois", diz o Senhor,
"de como tens recebido e ouvido", As palavras de Deus "desapa-
recidas" precisam agora ser novamente tiradas dos cantos es-
curos do teu coração. Quem faz isso sinceramente e ocupa-se
novamente com a preciosa Palavra de Deus em seu coração, ou-
vindo o que ela diz, tem o coração levado ao arrependimento sal-
vador e libertador. Muitos não são capazes de arrepender-se, por-
que não estão dispostos a aceitar aquilo que ouviram. Mas onde
isso acontece, fica livre o caminho para a verdadeira mudança
de mentalidade. Esse foi também o caso com Pedro. Ele era tal
piedoso, cheio de si mesmo e que sempre queria ter razão. Ele
estava também muito consciente de tudo que realizava no reino
de Deus. Ele era sempre o primeiro e mais zeloso diante do Se-
nhor. Mas então ficou revelado que tudo era somente aparência.
Quando foi posto à prova, ele negou o Senhor. Quando ele
tornou-se capaz de arrepender-se? Quando se lembrou das pala-
vras do Senhor, depois de tê-lo negado friamente e até assegura-
do com juramento que não o conhecia. Lucas 22.61 descreve is-
so de forma tão comovente: "Então, voltando-se o Senhor, fixou
os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, co-
mo lhe dissera ". Ele lembrou-se como o Senhor havia dito: "Hoje
três vezes me negarás, antes de cantar o galo" (Lc 22.61). Então
Pedro saiu e chorou amargamente (Lc 22.62). Isso é arrependi-
mento verdadeiro! A Palavra de Deus é como um martelo que es-
miuça a penha (Jr 23.29). A igreja em Sardes negava o Senhor e
seu maravilhoso poder salvador, mantendo somente o nome. E
tu? Lembra a Palavra, que já ouviste tantas vezes. Não continua
mantendo o nome, a aparência, mas torna-te uma carta legível
de Cristo. Lembra o que Paulo diz a respeito dos tempos finais:
"... tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder" (2
Tm 3.5).
A quarta ordem: "... guarda-o" (v. 3). O que Sardes, o que nós deve-
mos guardar? A Palavra! Deixa de ser apressado e superficial e
aprofunda-te! Não deixa que o Senhor continue lamentando so-
bre ti, como teve que fazê-lo através de Jeremias: "Porventura
deixar-se-á a neve do Líbano por uma rocha do campo? ou deixar-
se-êo as águas estranhas, frias e correntes? Contudo o meu po-
vo se tem esquecido de mim" (Jr 18. 14-15a, Ed. Rev. e Corr.). Por
isso, mais uma vez: guarda a Palavra!

E finalmente a quinta ordem: e arrepende-te" (v. 3). Na leitura


l i...

atenta e em oração da Bíblia, chama a atenção que aqui o cha-

82
mado ao arrependimento não é feito imediatamente como no ca-
so de outras igrejas, mas somente após as diversas ordens. Isso
porque ninguém tem condições de arrepender-se enquanto dor-
me, ou seja, está espiritualmente morto. Jesus Cristo somente
ilumina-te para o arrependimento libertador, quando queres obe-
decer ao seu chamado. Nesse contexto lembremos mais uma
vez Efésios 5.14: "Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre
os mortos, e Cristo te iluminará". Se despertares e te levantares,
Cristo te levará para sua luz. Então ele iluminará teu ser, até às
profundezas mais escondidas e escuras da tua alma, de modo
que estarás então em condições de arrepender-te de todo o cora-
ção sobre toda a aparência - arrependimento sobre o fato de
r- Jesus Cristo ser experiência passada em tua vida, mas não pre-
sença viva. Arrepender-se, por isso, significa também humilhar-
se sob a sua poderosa mão, porque após início promissor, enrije-
ceste interiormente.
Finalmente o Senhor faz ainda uma ameaça, dizendo no versícu-
lo 3b: "Porquanto se não vigiares, virei..." Interessante é que ele
não diz "se não te arrependeres", como fez com as outras igre-
jas, mas: se não vigiares". Ele sabe: se eles despertarem, tam-
l i...

bém se arrependerão. "... se não vigiares, virei como ladrão, e não


conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti". O Se-
nhor quer advertir: se não vigiares, serás surpreendido pela mi-
nha vinda. Então, quando repentinamente chegar o grande mo-
mento, serás semelhante às cinco virgens néscias, que não ti-
nham azeite consigo. Elas não estavam preparadas e não pude-
ram ir com o noivo para participar das suas bodas. Nesse contex-
to o Senhor fala de um ladrão, que só é percebido quando já foi
novamente embora. Então, a oportunidade de preparar-te desa-
pareceu como furtada por um ladrão. Quando Jesus vem, tudo já
está decidido: quem não está preparado será envergonhado. En-
tão não conhecerás a hora da sua vinda, porque o Espírito Santo
estará calado, enquanto diz "vem!" nos corações preparados:
"O Espirito e a noiva dizem: Vem" (cap. 22.17).

Não é por acaso que Sardes também significa "remanescente",


pois o Senhor Jesus ainda manda escrever a Sardes: "Tens, con-
tudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram
as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são
dignas" (v. 4). Esses "poucos" vivem completa e totalmente na
santificação. Isso significa que na igreja em Sardes há uma se-
paração radical entre morte e vida, entre luz e trevas, entre sagra-
83
do e profano. Não é dito que as vestes desses poucos estavam
um pouquinho sujas, mas - e isso foi um louvor de Deus - que
não contaminaram suas vestes. A mesma figura foi vista por Je-
remias com relação a Judá e Israel em Jeremias 24.2-8. Ali Israel
é comparado com dois cestos de fi,gos. Desses figos está dito
que uns eram muito bons e os outros muitos ruins; tão ruins, que
não se podia comê-los. Também nesse caso não é dito "bons e
pouco bons", mas: havia figos muito bons - esses eram aque-
les prisioneiros de Judá que se arrependeram, foram guardados
pelo Senhor e trazidos de volta para Israel. E havia figos muito
ruins, que não podiam ser comidos - essa era a casa real de Ju-
dá, que foi rejeitada; e esses eram aqueles em Jerusalém que
não se humilharam sob a poderosa mão de Deus, e por isso so-
freram o juízo. Com o Senhor não há tolerância diante das trevas.
Aqueles que não contaminaram suas vestiduras, o pequeno re-
manescente, andarão com Jesus vestidos de branco. As vestidu-
ras brancas não são as vestes da justiça, mas as vestes dos vsn-
cedores, pois o Senhor diz deles: "... pois são dignas". Eles ven-
ceram. E então segue a promessa para os vencedores: "O vence-
dor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo ne-
nhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, con-
fessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos"
(v. 5). Esses poucos acompanharão o Filho de Deus em cortejo
triunfal pelo céu, em vestes resplandescentes, apresentados co-
mo vencedores! Isso será após a primeira ressurreição, após a
abertura dos livros, e após a revelação daqueles que estão ano-
tados no registro dos fiéis. Se és um vencedor, então o Senhor
confessará teu nome diante do seu Pai e diante dos seus anjos.
Serás chamado por um nome novo, que valerá então por toda a
Eternidade.

84
A sexta carta do céu
"Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas cousas diz o san-
to, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre e nin-
guém fechará, e que fecha e ninguém abre: Conheço as tuas
obras - eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual
ninguém pode fechar - que tens pouca força, entretanto guar-
daste a minha palavra, e não negaste o meu nome. Eis que farei
alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si
mesmos se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os
farei vir e prostrar-se aos teus pés, e conhecer que eu te amei.
Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu
• te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo in-
teiro, para experimentar os que habitam sobre a terra. Venho
sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua
coroa. Ao vencedor, tê-to-e! coluna no santuário do meu Deus, e
daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu
Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que des-
ce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 3.7-
13).
Já nas cartas anteriores fomos tocados pelo fato de o Senhor
elevado falar tão direta e insistentemente e ao mesmo tempo fa-
lar também diretamente ao nosso coração. Naverdadetoda a Bí-
blia é o falar direto de Deus: "Havendo Deus, outrora, falado mui-
tas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes
últimos dias nos falou pelo Filho" (Hb 1.1~2).

Na carta a Filadélfia logo chama a atenção que essa igreja não é


repreendida. Pelo contrário, trata-se da única igreja que recebe
grandes elogios. Como se sabe, Filadélfia significa "amor frater-
naJ". Filadélfia existe ainda hoje sob o nome turco Alaseir. A co-
munidade Filadélfia localizava-se aproximadamente a treze mi-
lhas a sudeste de Sardes, nas proximidades, portanto, da igr-eja
de que o Senhor diz: "... tens nome de que vives, e estás morto"
(cap. 3.1). O perigo de contaminação para a igreja de Filadélfia
não podia ser desprezado, pois nada é rnals contagioso do que a
sorrateira morte espiritual. Se somente quatro ou cinco numa
igreja têm o nome de que vivem, mas estão espiritualmente mor-
tos, então logo a morte espiritual se espalha. Isso já foi assim na

85
Antiga Aliança. Em Josué 7 lemos como um homem, Acã, pecou,
agindo dolosamente e assim arrastou todo o povo de Israel a
uma derrota.
Mas o belo e significativo nome Filadélfia não é de origem cristã,
pois essa cidade já foi fundada no ano de 154 a.C. pelo rei de Pér-
gamo, Ataío 11. Ele usava o cognome Filadelfo e chamou então
essa cidade pelo seu nome. Apesar dela ter sido várias vezes
destruída por terremotos, foi sempre novamente reconstruída e
atingiu nova prosperidade.
Qual é o motivo pelo qual o Senhor elevado nessa carta - em
contraste com as outras - revela-se tão detalhadamente, tão
amplamente, ao anjo dessa igreja? A revelação própria especial
do Senhor consiste dele falar do que é e do que tem: "Estas cou-
sas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi"
(v. 7). Ele é o santo, e a igreja de Filadélfia não é santificada so-
mente conforme a posição, mas vive na santificação também no
dia-a-dia. Isso se conclui do testemunho que o Senhor dá dela:
"Porque guardaste a palavra da minha perseverança" (v. 10). Em
outras palavras: "Em todas as situações, tu te firmaste em mi-
nha palavra." Isso tem íntima relação com a santificação pes-
soal, pois quem guarda a Palavra, vive em santificação. E vice-
versa: quem vive na santificação, esse tem que guardar a Pala-
vra. Uma coisa não é possível sem a outra. O próprio Senhor Je-
sus orou: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo
17.17). Levar sua Palavra a sério significa, portanto, ser obedien-
te à sua Palavra, e isso significa, por sua vez, ser santificado na
sua verdade. Esse é também o motivo da segunda revelação pró-
pria do Senhor: "Estas cousas diz o santo, o verdadeiro" (v. 7). Ele
não somente diz a verdade, mas é a verdade em pessoa. Desse
modo, ele é a revelação única, absolutamente verdadeira e com-
pleta daquilo que Deus é. "Quem me vê a mim, vê o Pai"(Jo 14.9).
Ele é verdadeiro em sua Palavra, em suas promessas, de modo
que a qualquer tempo e em quaisquer circunstâncias podes con-
fiar nele completamente! A designação "o verdadeiro" sublinha
a afirmação anterior de que ele é o Santo.
Não é por acaso que o Senhor, após sua revelação própria, fala
também da vida santificada da igreja de Filadélfia. "Porque guar-
daste a palavra da minha perseverança" (v. 10). Pois ainda antes
que o mundo fosse criado, o Senhor já escolheu os crentes nes-
sa igreja e também a nós, para "sermos santos e irrepreensíveis
perante ele; e em amor"(Ef 1.4). Esse "em amor" mostra o vínculo

86
singular entre o Senhor e os seus comprados pelo sangue. O ob-
jetivo supremo de Deus, que ele já tinha antes da fundação do
mundo com cada um de nós e com os muitos milhões de ho-
mens, não era somente que nos convertêssemos e tornássemos
felizes filhos de Deus, mas sim, que fôssemos santos e irrepreen-
síveis perante ele. Essa é também a razão da sua apresentação
na carta: "Estas causas diz o santo, o verdadeiro". A igreja de Fi-
ladélfia correspondia ao objetivo de Deus.

Com relação a todos os poderes inimigos que ameaçam Filadél-


fia, o Senhor anuncia que "os farei vir e prostrar-se aos teus pés,
e conhecer que eu te amei" (v. 9). Filadélfia está abrigada no índi-
... zivelmente poderoso amor de Cristo. Que maravilhosa circula-
ção, na qual ele nos inclui. Nós nele e ele em nós! Em poucos
versículos nos são mostradas três características de Deus, com
as quais ele nos quer envolver: sua santidade, sua veracidade e
seu amor. Essas três características foram desdobradas por
Deus em Jesus Cristo na cruz de Gólgota. Se Deus, o Senhor, fos-
se somente santo, justo e verdadeiro, estaríamos todos perdidos
e condenados. Nenhum ímpio pode subsistir diante dele. Mas
ele é também amor! Tanto ele amou ao mundo "que deu o seu Fi-
lho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas te-
nha a vida eterna" (Jo 3.16). Jesus Cristo satisfez plenamente na
cruz de Gólgota à justiça e à santidade de Deus, através do que
abriu para o amor de Deus o caminho aos nossos corações.
É comovente como o Senhor elevado é condescendente, revelan-
do sua onipotência à igreja em Filadélfia: "Estas causas diz...
aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e
que fecha e ninguém abre" (v. 7). Isso parece antigo-
testamentário, mas cumpriu-se em Jesus Cristo. Essa é a pleni-
tude de poder do Cristo elevado, que Deus lhe deu; a ele, o grande
Filho de Davi! Ele tem a chave de Davi, isto é, a chave do Rei dos
reis. Somente ele pode abrir a porta do reino eterno, e ninguém
pode fechar, e vice-versa: "... que fecha e ninguém abre." Ele tem
o poder sobre vida, morte e inferno. Assim lemos no capítulo 1.17
e 18: "... eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive
morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho
as chaves da morte e do inferno". Ele tem a chave para qualquer
porta, para tudo! Ele é o Vencedor único e sem restrições! Por is-
so não é por acaso, que justamente essas palavras da revelação
de Cristo à igreja em Filadélfia já foram preditas e vistas há sécu-
los pelo profeta Isaías. Em Isaías 22.22 está dito: "Porei sobre o

87
seu ombro a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém fecha-
rá, fechará e ninguém abrirá". Aqui, na carta a Filadélfia, o Se-
nhor elevado, o cumprimento visível dessa profecia, vem ao en-
contro da sua igreja fraca e afligida e declara: "Conheço as tuas
obras" (v. 8). Como com Esmirna, também aqui o Senhor não enu-
mera as obras quantitativas, como foi o caso, por exemplo, com
os efésios: "Conheço as tuas obras, assim o teu labor como a tua
perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que pu-
seste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não
são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste
provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer"
(cap. 2.2-3). O que ele cita é a dupla luta de fé de Filadélfia, pois
essa igreja, como Esmirna, teve que sofrer por amor a Jesus:

Em primeiro lugar, ela tinha a vencer uma luta de fé contra o pa-


ganismo repleto de ódio, pelo qual estava cercada. Quem guarda
a palavra da sua perseverança está em confronto radical com
seu meio, com o mundo ímpio. Ai quando desaparece o inevitá-
vel contraste entre a Igreja de Jesus e o espírito do mundo! Então
ela - então nós - perdemos a batalha de fé: "... não compreen-
deis que a amizade do mundo é inimiga de Deus?" (Tg 4.4). Ai se
nadamos junto com a corrente deste mundo, se nos adaptamos
ao espírito deste mundo. A conseqüência então é que o Senhor
fecha a porta do evangelho para o mundo. Concretamente: tua
mensagem e teu testemunho tornam-se ridículos. Não é sempre
culpado mundose elezombaquandofalasdeJesus. Prova-te, se
não é porque não tens autoridade, porque na tua própria vida
aconteceu uma mistura.

Quando Sodoma estava diante da ruína, Ló tentou por insistên-


cia dos anjos, transmitir a mensagem da salvação aos seus futu-
ros genros. Mas então está dito: "Acharam, porém, que ele gra-
cejava com eles" (Gn 19.14). Como queres ter uma "porta aberta"
para o mundo, se como crente estás preso em nicotina, álcool,
televisão e outras coisas mais?

A igreja em Filadélfia firmou-se em Jesus, em cujo nome há po-


der e redenção, e não o negou. Por isso ele lhe prometeu a "porta
aberta": "...eis que tenho posto, diante de ti uma porta aberta, a
qual ninguém pode fechar" (v. 8). Com certeza o Senhor refere-se
aqui a uma "porta dupla". Em primeiro lugar a porta aberta parao
alto: "Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos
88
Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele
nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne... aproximemo-
nos, com sincero coração" (Hb 10.19-20, 22). E então também
uma porta aberta para o mundo pação, que está repleto de rejei-
ção e ódio. Mas os crentes em Filadélfia tinham autoridade, por-
que tinham acesso ao trono de Deus no santuário interior. Ape-
sar da rejeição fantástica por parte do mundo, seu testemunho
. era irresistível: "ninguém pode fechar (a porta ao mundo)". Isso,
aliás, é dito também por Paulo: "porque uma porta grande e opor-
tuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários" (1 Co
16.9). Ninguém podia vencer o apóstolo Paulo, porque seu teste-
munho era completo.

O Senhor apresenta também uma dupla razão porquê dá à igreja


de Filadélfia essa maravilhosa porta aberta: "Conheço as tuas
obras - eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual
ninguém pode fechar - que tens pouca força" (v. 8). Essa é uma
mensagem animadora para todos que são desesperadamente
fracos! Apropria-te da autoridade do Espírito para o testemunho
irresistível! E a maneira de Deus, revelar sua glória na fraqueza.
"Ele me abateu a força no caminho", está escrito no Salmo
102.24. Por quê? Paulo deu a resposta: Deus escolheu "as cou-
sas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus esco-
Iheu as cousas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas
que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que nin-
guém se vanglorie na presença de Deus" (1 Co 1.27-28). Mais tar-
de ele acrescenta: "Porque quando sou fraco, então é que sou
forte" (2 Co 12.10), pois o Senhor lhe tinha dito: "A minha graça te
basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Co 12.9).
;; E assim ele também podia testemunhar em 1 Coríntios 2.4: "A
minha palavra e a minha pregação não consistiram em lingua-
gem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito
e de poder. "
Para a segunda razão da porta aberta, que o Senhor dá, temos
que voltar ao versículo 8: "...entretanto, guardaste a minha pala-
vra, e não negaste omeu nome." A igreja de Filadélfia tinha, por-
tanto, a coragem de fé, para o sagrado radicalismo por Jesus; ela
- isso seja mais uma vez frisado - levou toda a Palavra a sério.
Os crentes dessa igreja não se deixaram moderar com o argu-
mento insípido "não se deve levar isso tão a sério, não ser tão
obstinado", nem se deixaram intimidar. Eles guardaram a pala-

89
vra da sua perseverança -a despeito de todas as correntes da-
quela época.
Percebes quê, pelo fato de teres cedido aos incrédulos, foste
transformado em uma inofensiva bomba que não deflagrou, que
estás sem o "combustível" do evangelho? Teu testemunho está
completamente sem nitidez, porque pela tua posição dúbia ne-
gaste o precioso nome de Jesus. Esse é o grande problema! Mui-
tos querem ambas as coisas, o Senhor e o mundo - e não têm
nada. Eles são como moscas, que alternadamente pousam so-
bre um monte de estrume e depois novamente sobre um pão com
mel. Mas o Senhor disse: "...todo aquele que dentre vós não re-
nuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo" (Lc
14.33). Todos os teus problemas não devem ser atribuídos a cir-
cunstâncias desfavoráveis, mas ao fato de não teres um "sim"
completo e decidido para o Senhor, dizendo um "não" igualmen-
te decidido para o mundo e o pecado.

A segunda luta de fé de Filadélfia era travada contra o mundo re-


ligioso: "Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Sata-
nás, desses que a si mesmos se declaram judeus, e não são, mas
mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés, e conhe-
cer que eu te amei" (v. 9). Pérgamo enfrentava o trono de Satanás,
isto é, seu domínio cruel (cap. 2.13). Já Esmirna (cap. 2.9) e Fila-
délfia eram confrontadas com a "sinagoga" de Satanás - com
a religião sem Jesus Cristo. Isso significa renhida inimizade con-
tra a verdadeira Igreja de Jesus. Essa luta cheia de confrontos
continua até aos nossos dias. Sim, ela aumenta, pois religião
sem Cristo como centro - se judaica, como aqui, ou mesmo
cristã - sempre acabam em anticristianismo. Enquanto para fi-
lhos de Deus verdadeiramente santificados, as fronteiras com o
mundo estão claramente definidas - "Mas longe esteja de mim
gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela
qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo", diz
Paulo em Gálatas 6.14 -, a "sinagoga de Satanás" é a personifi-
cação do engano religioso-satânico. Sobre isso lemos em 2 Co-
ríntios 11.14: "... o próprio Satanás se transforma em anjo de luz."
Se alguém se deixa enganar religiosamente, aceitando religião
cristã sem cruz e sem entrega do coração ao Senhor Jesus Cris-
to, então ele se encontra nas garras de Satanás.
Naquele tempo eram os judeus, que negavam com veemência
aos crentes em Filadélfia a salvação em Jesus Cristo e afirma-

90
vam: "Nós temos a única coisa certa, nós temos a justiça diante
de Deus." Mas eles mentiam, diz o Senhor: H ••• a si mesmos se de-
claram judeus, e não são" (v. 9). Hoje são os cristãos sem Cristo,
que são tratados pelos seus I íderes como "prezada
comunidade", que desprezam e zombam da atual igreja de Fila-
délfia. Cada um que segue a Jesus Cristo de todo o coração, co-
nhece essa terrível luta com o mundo religioso, com cristãos
sem Cristo, que argumentam: "Somos batizados e confirmados,
fazemos o bem e não tememos a ninguém, conseqüentemente
I". está tudo na melhor ordem." Mas aí o Senhor Jesus dá à igreja
em Filadélfia a maravilhosa promessa: HEis que farei que alguns
dos que são da sinagoga de Satanás ... eis que os farei vir e
prostrar-se aos teus pés, e conhecer que eu te amei" (v. 9). Isso
significa: pelo vosso testemunho fiel e com autoridade, pessoas
sairão apressadamente da "sinagoga de Satanás", do cristianis-
mo aparente, e darão razão a vocês, aceitando Jesus Cristo co-
mo seu Salvador. Eles reconheceram que ao invés de uma fé for-
mai morta, existe uma comunhão viva entre o senhor e os seus.
H ... e conhecer que eu te amei" (v. 9). É mais fácil levar a Cristo

uma prostituta, um assassino, um ladrão ou qualquer criminoso,


do que um cristão sem Cristo. Mas o Senhor promete que tam-
bém isso acontecerá. E aconteceu. Inúmeras vezes, até ao dia de
hoje, aconteceu o milagre que "tembém muitíssimos sacerdotes
obedeciam à fé" (At 6.7).

A igreja em Filadélfia deve ter sido uma igreja rnaravtlnosa. En-


quanto que o Senhor teve que repreender a igreja em Efeso rica
em conhecimento - "Tenho, porém, contra ti que abandonaste
o teu primeiro amor" - em Filadélfia revela-se o ardente primei-
ro amor. Sua fidelidade à Palavra, seu firmar-se no precioso no-
me de Jesus é tal, que o Senhor pode,envolvê-Ia no seu valioso
amor. l i... e conhecer que eu te amei". E maravilhoso que esse fa-
to é reconhecido por pessoas até então religiosas e presunço-
sas. Teus adversários reconhecem que és amado pelo Senhor,
porque tu o amas? N~nhum homem pode reconhecer isso se és
de coração dividido. E Romanos 5.5 realidade visível e perceptí-
vel em tua vida? Lá está escrito: li... porque o amor de Deus é der-
ramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi ou-
torgado." A igreja em Filadélfia, por menor e fraca que tenha si-
do, deve ter sido uma igreja vitoriosa, porque o Senhor lhe deu
uma porta aberta. Ela se encontrava na ofensiva, no ataque con-
tra o mundo. Forçosamente deve-se chegar a essa conclusão,

91
quando se vê que o Senhor por um lado lhe garante uma porta
aberta e por outro lado lhe dá duas vezes o testemunho de que
guardou sua Palavra e não negou seu nome. Além disso, ele a
exorta no versículo 11 a conservar o que tem: "Conserva o que
tens, para que ninguém tome a tua coroa. " Ela já tem a coroa dos
vencedores, isto é, ela lutou vitoriosamente! Pois ninguém é co-
roado, a não ser que tenha combatido corretamente o bom com-
bate da fé. Por isso a visão do futuro, que o senhor dá a Filadélfia,
é tão cheia de promessas e profecia extremamente atual. Essa
profecia cumpre-se em nossos dias. Quando se lê tudo no con-
texto, então se sabe com certeza que a Igreja será arrebatada an-
tes da Grande Tribulação e não no meio ou até depois: "Porque
guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guar-
darei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, pa-
ra experimentar os que habitam sobre a terra" (v. 10). A "hora da
provação" é a Grande Tribulação anticristã, que é descrita nos
capítulos seguintes do Apocalipse. Se alguma vez uma Palavra
foi atual em nossa época, então esta: "... também eu te guardarei
da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para ex-
perimentar os que habitam sobre a terra. Venho sem demora".
Da época de sua vinda - bem entendido, não da hora, mas da
época - ele diz em Mateus 24.32-34: "Aprendei, pois, a parábola
da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas bro-
tam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quan-
do virdes todas estas cousas, sabeique está próximo, às portas.
Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tu-
do isto aconteça." Isso ele disse em meio à sua profecia sobre os
sinais dos tempos finais, sobre Sua vinda em grande poder e gló-
ria, sobre a Grande Tribulação anterior. 14... não passará esta ge·
ração sem que tudo isto aconteça." Quanto dura uma geração?
No máximo quarenta anos. Lembremos que em 1948começou o
Estado de Israel e que em 1967 Jerusalém tornou-se novamente
a capital - a figueira ganhou folhas -, e agora começou a déca-
da de 80. Uma geração está quase no fim. Quão próximo deve es-
tar então o arrebatamento! Por isso é decisivo para ti e para mim:
ou, como indivíduos e como igreja, somos vitoriosos no ataque
ao mundo, ao mundo religioso, ou, levados por compromissos,
somos empurrados para uma guerra de defesa. Mas quem está
na defensiva é cercado por Satanás e aniquilado sem compai-
xão. Ou escolhes o sagrado radicalismo por Jesus, ou em tua di-
visão do coração serás vítima do anticristo. Jesus vem em breve!
Por isso, aceita o sagrado radicalismo, a entrega total a ele, para
92
que não sejas envergonhado na sua vinda! Pois a promessa aos
vencedores de Filadélfia é: "Ao vencedor, fá-Io-ei coluna no san-
tuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre
ele o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce
do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome" (v. 12).
Essa recompensa dos vencedores tem seu ponto de partida num
novo reino fundado, numa nova cidade, numa nova cidadania
glorificada. O vencedor será feito coluna em um templo não feito
por mãos humanas. Dessa cidadania fala o profeta Isaías: "Será
que os restantes de Sião e os que ficarem em Jerusalém serão
chamados santos; todos os que estão inscritos em Jerusalém
para a vida" (ls 4.3). Os vencedores de Filadélfia recebem indes-
critíveis glórias, que apesar de serem aludidas com palavras, não
podem ser racionalmente explicadas em sua essência (comp. 2
Co 12.4; 1 Pe 1.8).

93
A sétima carta do céu
"Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas cousas diz o
Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de
Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem
dera fosses frio, ou quente! Assim, porque és morno, e nem és
quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois
dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de cousa alguma, e
nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.
Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para
te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que
não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungi-
res os teus olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a
quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à
porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei
em sua casa, e cearei com ele e ele comigo. Ao vencedor, der-lhe-
ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci,
e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça
o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 3.14-22).
Laodicéia estava localizada a sudeste de Filadélfia, nas proximi-
dades de Colossos. Tratava-se de uma velha cidade frígia, que
originalmente se chamava Dióspolis, e depois Rheos. Somente
mais tarde ela recebeu o nome Laodicéia, em honra a Laodice, a
terrível esposa do rei sírio Antíoco 11. Ao tempo dos apóstolos,
Laodicéia era uma cidade extremamente próspera. Paulo faz re-
ferência a ela em Colossenses 2.1; 4.13,15,16. O historiador ro-
mano Tácito conta-a às cidades mais destacadas da Ásia e lou-
va sua grande riqueza. No ano 62 d. C. ela foi, juntamente com
Hierápolis e Colossos, destruída por um terremoto. Por causa da
sua grande riqueza, entretanto, ela pôde ser reconstruída tão rá-
pida e completamente, que ao tempo em que João recebeu o
Apocalipse em Patmos (aprox. 85 d. C.)essa terrível catástrofe já
havia sido esquecida há multo, No ano 1402 d. C. também essa
cidade, juntamente com Efeso, foi totalmente destruída pelas
hordas de Timur-Lenk. Hoje encontram-se no seu lugar somente
muitas ruínas que chamam a atenção e têm o nome de Eski-His-
sar, o que significa "castelo antigo". Elas são testemunhas me-
lancólicas de glória terrena passada.
Essa é a última carta do Senhor elevado às suas igrejas. No sen-
tido profético ela é especialmente dirigida à Igreja dos tempos fi-

94
nais e assim aos crentes de hoje. Por isso justamente a mensa-
gem do Senhor contida nessa carta é de grandiosa atualidade.

Inicialmente algumas observações preliminares sobre o caráter


dessa igreja. Laodicéia é traduzido por: "os justos do povo"; lá
moravam, portanto, "pessoas direitas". Laodicéia é aquela entre
as sete igrejas que por um lado afastou-se completamente do
seu Senhor, e por outro lado, em sua justiça própria, é a única
que retruca ao Senhor. A igreja está presumida de si mesma. O
Senhor cita sua afirmação: "pois dizes: Estou rico e abastado, e
não preciso de causa alguma" (v. 17). Esse é o testemunho que
Laodicéia dá de si mesma; auto-exaltação, com a qual ela adula
a si mesma. Disso vemos que a Igreja dos tempos finais está pe-
rigosamente contaminada pelo espírito de Babilônia. Babilônia
louva a si mesma. Já Nabucodonosor fez isso em seu orgulho:
"Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real,
com o meu grandioso poder, e para glória da minha majestade?"
(Dn 4.27). A grande Babilônia será restabelecida nos tempos fi-
nais, sob a forma do império mundial romano. Na sua liderança
estará o anticristo, que vai exaltar a si mesmo e apresentar-se co-
mo Deus (2Ts 2.4). Também no Apocalipse ouvimos Babilônia di-
zer: "Estou sentada como rainha. Viúva não sou. Pranto nunca
hei de ver" (cap 18.7). Louvor próprio e engano próprio são uma
característica de Babilônia.

Entre a igreja em Laodicéia e a de Filadélfia há uma diferença


muito maior do que, por exemplo, entre Tiatira e Sardes. Em Tiati-
ra e Sardes o Senhor ainda acha um remanescente fiel, que é
consolado, animado e fortalecido por ele. E enquanto toda a igre-
ja de Filadélfia não é repreendida pelo Senhor com nenhuma pa-
lavra, mas louvada, ele acusa Laodicéia por causa da apostasia.
Isso imediatamente depois que ele se apresentou: "Estas cau-
sas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da
criação de Deus" (v. 14). E então segue aquilo que ocupa o seu
coração: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente.
Quem dera fosses frio, ou quente!" (v. 15). Essas palavras são
uma acusação e uma lamentação. A acusação: "... que nem és
frio nem quente." A lamentação: "Quem dera fosses frio, ou
quente". Em outras palavras: "Quem dera que fosses completa-
mente incrédulo ou então ardentemente crente! Ou uma coisa
ou outra. Quem dera que a fronteira estivesse claramente esta-
belecida!"
95
o pior nessa igreja de presunçosos é que o Senhor não se encon-
tra em seu meio- como com os efésios - mas está fora! Com
ênfase ele diz no versículo 20: "Eis que estou à porta e bato". Que
terrível, Jesus está fora de uma igreja cristã! Quando se vê hoje a
Igreja Cristã em sua totalidade, então se tem que verificar angus-
tiado: o Senhor Jesus encontra-se fora, diante da porta! Apesar
de existir tudo: Bíblia, confirmação, batismo, culto, tudo que faz
parte no sentido usual. Somente ele, o Senhor da Igreja, não está
mais presente. Mas eles não o sabem. É como no caso de San-
são, esse servo de Deus, do qual está escrito: "... porque ele não
sabia ainda que já o Senhor se tinha retirado dele" (Jz 16.20).

A Esmirna é prometida a coroa da vida (cap. 2.10); Tiatira é exor-


tada a conservar o que tem até que o Senhor venha (cap. 2.25); os
crentes em Sardes são advertidos que devem vigiar, se não qui-
serem ser surpreendidos pela vinda do Senhor (cap 3.3); e a igreja
em Filadélfia recebe a maravilhosa promessa que será guardada
da Grande Tribulação e que ele virá sem demora (cap, 3.10-11). A
igreja em Laodicéia, pelo contrário, é ameaçada de que o Senhor
a vomitará da sua boca: "Assim, porque és môrno, e nem és
quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca" (v.
16). De modo que, enquanto os verdadeiros crentes serão arreba-
tados pelo Senhor, os "cristãos de Laodicéia", que não se con-
vertem e não se arrependem, ficarão para trás.
Após essas observações preliminares sobre o caráter da igreja
em Laodicéia, vemos agora no versículo 14, como o Senhor ele-
vado se revela a Laodicéia de forma tríplice.
Primeiro: "Estas cousas diz o Amém"(v. 14). Aqui é a primeira vez
que ele se revela como "Amém" personificado. Em 2 Coríntios
1.20 está escrito: "Porque quantas são as promessas de Deus,
tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para
glória de Deus, por nosso intermédio." Ele é o Amém. Entre ele e
a sua palavra não há um abismo: "Porventura, tendo ele prometi-
do, não o fará? ou tendo falado, não o cumprirá?" (Nm 23.19). Ele
é o Amém em pessoa, o "assim seja" (significado literal de
amém). Ai daquele que tira algo daquilo que ele diz! Esse fere a
sua pessoa. Toda crítica da Palavra de Deus é duvidar da pessoa
do Senhor Jesus Cristo.
Em segundo lugar, ele diz que é "a testemunha fiel e verdadeira"
(v. 14). Enquanto como o Amém em pessoa ele é a promessa da-
da, ele até ainda confirmou sua promessa com um juramento.
96
Pois "amém" também significa juramento. Ele jurou por si mes-
mo. Isso está escrito em Hebreus 6.13: "... visto que não tinha nin-
guém superior por quem jurar, jurou por si mesmo." E em He-
breus 6.17: "Por isso Deus, quando quis mostrar mais firmemen-
te aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se
interpôs com juramento." Assim ele é "a testemunha fiel e verda-
deira", que ele mesmo cumpriu seu juramento na cruz de Gólgo-
ta. Oh, que Deus fiel! Ele mesmo entregou-se por nós! O Amém
que ele personifica, o juramento, que ele mesmo cumpriu na cruz
de Gólgota pelo derramamento do seu sangue, deve despertar a
Laodicéia morna. Ele quer alcançar e comover os corações!

Em terceiro lugar, ele se revela como "o princípio da criação de


Deus". Em Colossenses 1.15 Jesus Cristo é chamado o "primo-
gênito de toda a criação." Isso refere-se à primeira criação. Ele é
a origem e o princípio de todas as criações de Deus, como está
descrito tão magistralmente em João 1.3: "Todas as cousas fo-
ram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se
fez." Mas isso refere-se também à sua ressurreição. Ele é o pri-
mogênito da nova criação, da nova vida. Que enorme contraste
há entre o seu ser e a igreja à qual fala agora! A descrição da si-
tuação da última igreja e o chamado ao arrependimento verda-
deiro é um resumo dos anteriores apelos ao arrependimento.
Pois a mensagem do Cristo elevado a Laodicéia revela a raiz
mais profunda da culpa e dos problemas da igreja, aos quais ela
sucumbirá, se permanecer na impenitência: segurança própria,
justiça própria, satisfação própria. O versículo 17 descreve o es-
tado interior em que se encontra a igreja: "pois dizes: Estou rico e
abastado, e não preciso de cousa alguma." Do ponto de vista
material isso era verdade. Os crentes em Laodicéia eram pes-
soas de posses, eles viviam no bem-estar. Laodicéia era uma ci-
dade localizada bem próximo a Colossos, onde se encontravam
três importantes estradas. Laodicéia era um entroncamento co-
merciaI. Os habitantes de Laodicéia, como observamos no iní-
cio, eram tão ricos que foram capazes de reconstruir com meles
próprios a cidade que havia sido destruída por um terremoto. E o
que conta a História profana. Paulo travou uma luta especial pe-
los crentes de Laodicéia. Sobre isso ele escreve na Epístola aos
Colossenses: "Gostaria, pois, que seibeis quão grande luta ve-
nho mantendo por vós, pelos laodicenses e por quantos não me
viram face a face; para que os seus corações sejam confortados,
vinculados juntamente em amor, e tenham toda riqueza da forte

97
convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o
mistério de Deus, Cristo" (CI2.1-2). Ele sabia: os crentes em Lao-
dicéia estão afastando-se do primeiro amor; eles não têm mais
uma relação viva com o Senhor. Como isso lhe deve ter doído!
Pois tratava-se da situação do coração dos crentes. Colossos e
Laodicéia eram cidades vizinhas e por isso ele queria de qual-
quer modo que também os crentes em Laodicéia lessem a carta
aos colossenses: "E, uma vez lida esta epístola perante vós, pro-
videnciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a
dos de Laodicéia lede-a igualmente perante vós" (CI 4.16). Apa-
rentemente Paulo tinha escrito uma carta a Laodicéia, que, en-
tretanto, não consta em nossa Bíblia.

A Igreja de Jesus encontra-se hoje em uma situação decisiva,


pois vivemos no meio dos tempos finais, no tempo em que Babi-
lônla renasce, no tempo da justiça própria, no tempo do materia-
lismo, no tempo do bem-estar. Somos ricos e não precisamos de
cousa alguma. Quando lemos os versículos 15-16aqui em Apo-
calipse 3, então reconhecemos como o Senhor detesta justa-
mente essa indiferença segura de si, sim, como ela o enoja: "Co-
nheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fos-
ses frio, ou quente! Assim, porque és morno, e nem és quente
nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca." A igreja em
Laodicéia não vive em grave pecado, como a igreja em Tiatira (o
Senhor não cita nenhum), mas em um estado negativo. Ela é mor-
na. Isso é difícil de compreender; não se pode definí-Io concreta-
mente. "Nem frio" significa não estar na incredulidade. "Nem
quente" significa não ser ardente no primeiro amor a ele, o Se-
nhor. Em contraste com outras igrejas, Laodicéia não tem falsas
doutrinas, nem tribulações causadas por Satanás, como por
exemplo a igreja em Esmirna. Mas aos olhos do Senhor, o estado
de mornidão é terrível, porque a mornidão diante do Senhor não
leva mais nada a sério, nem mesmo o pecado. Mornidão é o esta-
do de "tanto sim como não". Diz-se "sim" a Jesus, mas ao mes-
mo tempo também "sim" às coisas deste mundo e ao pecado.
Mas metade do Senhor e metade do mundo significa completa-
mente do diabo. O Senhor detesta o capengar de ambos os la-
dos: "Quem dera fosses frio, ou quente!" Em outras palavras:
"Quem dera que vocês fossem ateus, frios, incrédulos, ou se en-
contrassem no ardente primeiro amor por mim." "Assim, porque
és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te
da minha boca." A igreja morna, também a igreja dos tempos fi·

98
nais, é como que paralisada. Através de quê? Pelo elevado bem-
estar, no qual vive sem investi-lo na causa de Jesus. Esse era
realmente o caso com Laodicéia? Naturalmente, pois de outro
modo o Senhor não citaria suas próprias palavras: "pois dizes:
Estou rico e abastado." Esse louvor próprio prova dupla avareza:
eles ganhavam muito e eram avarentos quando se tratava da
causa do Senhor. Por outro lado: eles eram aproveitadores reli-
giosos; ricos em conhecimento, mas avarentos na transmissão
da mensagem; eles não tinham zelo missionário. Devemos ver is-
so claramente: o Senhor fala aqui a uma igreja que vivia em meio
a uma cidade de comércio, de bancos e de indústrias... como
nós. Laodicéia era conhecida principalmente pela sua escola
farmacêutica e pela sua indústria de lãs. Trata-se de uma igreja
que aceitou o estilo de vida dos banqueiros e industriais não so-
mente na vida exterior, mas também na vida interior, devido à sua
riqueza em bens espirituais, conhecimento bíblico e costumes
sólidos, levando uma espécie de vida de patrícios em burguesia
cristã. E isso em meio a um mundo pagão igualmente rico e ele-
gante, que não era fanático, mas ao lado de cem outras associa-
ções para a satisfação da necessidade religiosa aceitava tam-
bém a igreja cristã e talvez até lhe dispensasse atenção. Não
existem mais contrastes, pois a igreja por seu lado compartilha
do espírito do capitalismo com o seu meio: "pois dizes: Estou ri-
co e abastado, e não preciso de couse alguma." Espantados
constatamos: essa é a igreja de hoje! As outras igrejas o Senhor
diz: "Tenho contra ti", mas a Laodicéia ele diz: "Causas-me
nojo". Deve abalar-nos profundamente que o Senhor é tão inexo-
ravelmente rigoroso justamente com a igreja de Laodicéia, que
está tão segura de pertencer-lhe e é tão orgulhosa da sua situa-
ção. Nosso Senhor assume aqui a atitude de profunda rejeição e
de decidida disposição para o juízo: ele faz o gesto de alguém
cheio de nojo e a ponto de vomitar. O estado de Laodicéia é tão
repugnante para ele como água insossa, morna, que provoca vô-
mitos. A mesma veemente rejeição já o move hoje em oculto, e
com tal veemênoia ele vai renegar na sua volta tais "cristãos de
Laodicéia", satisfeitos consigo mesmos e impenitentes. "Co-
nheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fos-
ses frio, ou quente! Assim, porque és morno, e nem és quente
nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca." Já encon-
tramos no último livro do Antigo Testamento a contradição da
igreja em Laodicéia - "Estou rico e abastado". O profeta Mala-
quias descreve o diálogo do Senhor com Israel: "Eu vos tenho
99
amado, diz o Senhor, mas vós dizets: Em que nos tem amado? ...
E se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? diz o Se-
nhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes, que desprezais o
meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome? ...
Enfadais o Senhor com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o
enfadamos? ... tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós ou-
tros, diz o Senhor dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos
de tornar?"(MI1.2; 1.6;2.17;3.7). Uma réplica após outra! A igreja
dos tempos finais é tal igreja de rebelião, de contradição. O anti-
cristo é o grande retrucador. Onde o temor de Deus desaparece,
aparece o espírito de rebelião, de contradição e de discórdia com
o Senhor. Ao mesmo tempo toma conta também a cegueira so-
bre a própria situação miserável, que o Senhor desmascara aqui:
"pois dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de cousa algu-
ma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e
nu" (v. 17).Esse fatal desconhecimento da situação real é abala-
dor. Mas hoje não é diferente: os cristãos não vêem em que situa-
ção se encontram; eles não vêem que apesar do seu bem-estar
material e seu saber religioso, no fundo são miseráveis, pobres,
cegos e nús. É a primeira vez que o Senhor fala dessa maneira re-
preensora a uma igreja. O desconhecimento da própria situação
é proveniente da indiferença diante da Palavra de Deus e a con-
seqüência é mornidão. Davi orou no Salmo 119.5: "Oxalá sejam
firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos."
Desconhecimento em si é julgado muito brandamente pelo Se-
nhor. Pois existem muitos que andam confusos, mas o Senhor
ama-os e procura-os. Ele vai atrás da ovelha perdida, que não co-
nhece o caminho certo. "Todos nós andávamos desgarrados co-
mo ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor
fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos" (ls 53.6). Mas ele não
admite que a falta de conhecimento próprio seja proveniente da
mornidão, quando se deixa de ler e pesquisar a Palavra em ora-
ção. Romanos 11.21-22 continua tendo completa validade: "Por-
que se Deus não poupou os ramos naturais (Israel), também não
te poupará. Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus:
para com os que caíram, severidade; mas para contigo, a bonda-
de de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte também tu serás
cortado." Paulo dirige-se à igreja de Jesus em Roma e lhe diz in-
sistentemente: Deus não poupou Israel, seu povo escolhido, ao
qual ele disse: "Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-
te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em mise-
rícórdias" (Os 2.19); "Com amor eterno eu te amei, por isso com
100
benignidade te atraí" (Jr 31.3); "Dar-te-ei e à tua descendência a
terra" (Gn 17.8). Não, ele não poupou o povo rebelde, mas
expulsou-o da terra prometida e espalhou-o por todo o mundo. Vi-
mos o que Israel passou nos milênios passados. E se o Deus vivo
não poupou o Israel rebelde, ele também não poupará os crentes
mornos. Assim temos em Romanos 11.21-22 um paralelo com
Apocalipse 3.16: "Assim, porque és morno, e nem és quente nem
frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca." Sabemos to-
dos, quando se vomitou algo não se toma-o novamente. Mas, ó

milagre da graça de Jesus, que é maior do que nossa culpa! Mes-


mo assim o Senhor inclina-se para essa igreja desviada! Como
ele lhe fala atraindo-a e amorosamente, depois de tê-Ia atingido
como com chibatadas através das suas palavras: "Aconselho-te
que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriquece-
res" (v. 18). Na igreja em Laodicéia era como no tempo de Noé:
eles compravam e vendiam. Agora o Senhor colocou-se entre
eles e o ouro terreno e disse a essa igreja tão rica mas tão pobre,
que devia comprar ouro refinado dele, para se enriquecer. O que é
esse ouro refinado pelo fogo? A resposta é simples e maravilho-
sa ao mesmo tempo. Não é nada mais do que a glória de Deus.
Vimos a sua glória em Jesus Cristo, purificado no fogo dos sofri-
mentos de Gólgota. Em Apocalipse 21.23 está escrito: "A cidade
não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade,
pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada."
Jesus Cristo, que comprou também essa igreja com o seu san-
gue, não ordena, mas aconselha! Ele atrai sua igreja que se afas-
tou do caminho do Cordeiro, que está tomada pela febre do ouro
terreno.
"Aconselho-te que de mim compres ouro refinado." A que preço?
A isso a Bíblia dá uma resposta contraditória, mas que é tão divi-
namente harmoniosa: "... vinde e comprai, sem dinheiro e sem
preço" (ls 55.1). Quem quiser comprar esse ouro refinado, quem
quiser revestir-se da glória do Cordeiro e tomar posse dela, para
esse já se pagou! Mas isso custa a velha vida, a desistência do
primeiro lugar - custa tudo! Se Jesus aconselha a ti, tu laodi-
cense, que compres ouro divino dele, então isso é para que fi-
ques rico e ganhes vestiduras brancas, para cobrires a vergonha
e nudez da tua ligação ao que é terreno. Do negociante que pro-
curava boas pérolas, ele disse em Mateus 13.45-46: "O reino dos
céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pé-
rolas; e tendo achado uma pérola de grande valor, vendeu tudo o
que possuía, e a comprou." Esse é o conselho de Jesus para a
101
entrega total pelo ouro refinado no fogo de Gólgota. Essa foi pa-
ra a igreja em Laodicéia naquela época, e é para os cristãos lao-
dicenses de hoje, a última oportunidade de se salvarem de serem
vomitados. Não hesita em revestir-te da sua glória.
E como é realizada essa troca divina, essa compra pelo preço da
entrega completa, na qual o Senhor até acrescenta colírio, para
que teus olhos finalmente se abram para os valores eternos, para
os quais ainda és cego? O Senhor Jesus responde essa pergunta
no versículo 19: "Sê, pois, zeloso e arrepende-te." Talvez te sin-
tas atingido e penses: por que o Senhor fala tão severamente, tão
duro, comigo? Resposta: porque ele te ama profundamente! Até
ao dia de hoje eras cego para teu verdadeiro estado. Por isso ele
fala quase no final da carta: "Eu repreendo e disciplino a quentes
amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te". Em nenhuma carta ele diz
"sê zeloso". Nas outras cartas sempre está dito: "arrepende-te".
Se aqui está escrito: "Sê, pois, zeloso, e arrepende-te", então por-
que isso tem grande urgência, porque são tempos finais! Não so-
mos cristãos primitivos, mas cristãos dos tempos finais.
Apressa-te, sê zeloso, pois ao morno o Senhor tem que vomitar e
vomitará certamente. Mas porque te ama, ele nada mais deseja
do que comunhão íntima contigo: "Eis que estou à porta, e bato;
se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa,
e cearei com ele e ele comigo" (v. 20). Que grandiosa conclusão
tem essa carta! A oferta do Senhor entristecido sobre ti não é co-
movente e tocante? Não queres agora abrir a porta do teu cora-
ção e deixar Jesus entrar, humilhando-te por todo laodiceanis-
mo? Feliz daquele que abre a porta! Laodicéia, se vencer, ganha
uma medida de domínio e glória que excede tudo: "Ao vencedor,
der-lhe-e! sentar-se comigo no meu trono" (v. 21).

Com razão verttícou-se que as sete promessas aos vencedores


são a descrição completa daquilo que Deus tem preparado para
aqueles que o amam. E reéónhecemos claramente quão profun-
damente importante é que como filhos de Deus nos tornemos
verdadeiros vencedores. Senão erramos o alvo supremo de Deus
conosco. Esse alvo mais elevado é apontado em Romanos 8.29:
"Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predesti-
nou para serem conformes à imagem de seu Filho." Esse tornar-
se semelhante refere-se a tudo que Jesus é e que ele fez. Refere-
se também ao nosso destino após nossa existência terrena:
"Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifes-
tou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifes-
102
ter, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como
ele é" (1 Jo 3.2). Poderíamos descrever essa semelhança da se·
guinte maneira: ser igual no andar, nas obras, no caráter e nas
palavras. Podes objetar: "Mas não posso isso, sou muito fraco.
Esse é um alvo inatingível para mim." Mas não é importante o
que podes, mas o que ele pode! Em Efésios 3.20 está escrito:
"Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do
que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder
que opera em nós. " Esse poder que opera em nós é uma pessoa:
Jesus Cristo em nós. Hebreus 2.17 diz: "Por isso mesmo convi-
nha que, em todas as cousas, se tornasse semelhante aos ir-
mãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas cousas
referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do po-
vo." O eterno Filho de Deus tornou-se igual a nós, para que nos
tornássemos semelhantes a ele! Quem não se torna semelhante
a Jesus Cristo, esse revoga a graça manifestada em Jesus Cris-
to. Em outras palavras: se tua posição diante de Deus não se
transforma em tua situação, então no fundo recusas a unifica-
ção com Jesus Cristo. Então contornas a cruz e tornas sem efei-
to a identificação com Jesus Cristo, da qual fala também He-
breus 2.14. Da sua parte aconteceu tudo, mas agora a completa
identificação do Senhor Jesus conosco, com tudo que nós so-
mos - até à nossa natureza corrompida - está realizada. Na
cruz de Gólgota ele uniu-se tanto conosco, que não sabendo de
pecado nenhum, foi feito pecado. Ele, portanto, não morreu so-
mente por nós, mas figuradamente também em nós, tornando-se
semelhante à nossa natureza. Ele morreu por causa do pecado
que é inato a ti e a mim. Esse fato grandioso, dele ter descido tão
profundamente - até à nossa verdadeira situação: preso, escra-
vizado ao temor da morte, eternamente perdido nas trevas -,
nunca pode ser compreendido completamente em seu alcance
salvador. Mas foi ele que permitiu que fôssemos colocados nu-
ma situação bem nova diante de Deus. Por isso o Senhor não pe-
de de nós que vençamos desligados da sua pessoa, mas que
vençamos nele, através dele e com ele. E isso que Romanos 8.37
afirma: "Em todas estas cousas, porém, somos mais que vence-
dores, por meio daquele que nos amou." Paulo quer acentuar
com isso: o Senhor Jesus Cristo arrancou-te dessa situação e
quer unir-se contigo. Em 1 Coríntios 6.17ele escreve: "Mas aque-
le que se une ao Senhor é um Espírito com ele." Por isso a Bíblia
não pede uma vitória solitária, mas como diz o Senhor elevado
em Apocalipse 3.21: "Ao vencedor ... assim como também eu
103
venci ..." Não te é exigido, portanto, que realizes esforços impos-
síveis, algo que não podes realizar mesmo. Mas como podes fi-
car livre do teu egoísmo, dos teus pensamentos presos em insig-
nificâncias, das tuas acusações míopes, dos teus lamentos de
que recebes pouco amor (enquanto nem percebes que reclamam
mais da falta de amor ao próximo aqueles que menos o
praticam), em resumo: como podes vencer teu caráter destruti-
vo? Dizendo com Paulo: "Estou crucificado com Cristo" (GI2.19).
Por parte do Senhor a unificação já foi realizada há muito, mas
do teu lado ainda não. Essa é a discrepância em tua vida de fé.
Todo ímpeto desagradável do teu ser, avareza, indisposição ao
sofrimento, etc., provam tua vontade de auto-afirmação com re-
lação ao Cordeiro. O Senhor espera silenciosamente que final-
mente te entregues completamente. Então - somente então! -
pertences à categoria de pessoas da qual está escrito em Apoca-
lipse 12.11: "Eles, pois, o venceram (a Satanás) por causa do san-
gue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que de-
ram, e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida."
Esta é a unificação com Jesus: não amar a própria vida em face
da morte! O próprio Senhor Jesus disse: "Quem ama a sua vida,
perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo, preservá-
la-á para a vida eterna" (Jo 12.25). Somente na morte de Jesus na
cruz tornas-te um poderoso vencedor sobre teu caráter corrompi-
do, e somente assim podes tornar-te um homem cheio do Espíri-
to Santo, que se encontra na completa liberdade: "Se, pois, o Fi-
lho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8.36). Foi o ini-
migo que nos roubou a glória e nos impede de termos comunhão
com Deus. Ele, o homicida desde o princípio, procura sufocar a
vida eterna em nós e devorar os atributos da herança de Deus e
de Jesus Cristo. Mas Jesus Cristo venceu-o completamente, e
por isso também podemos ser mais que vencedores sobre ele.
Vimos agora sete (sete = número da plenitude divino) promes-
sas aos vencedores, mas em sua fidelidade o Senhor acrescen-
tou mais uma (oito = número do nome de Jesus). Essa oitava
promessa aos vencedores é o coroamento de todas as promes-
sas anteriores: "O vencedor herdará estas causas, e eu lhe serei
Deus e ele me será filho" (Ap 21. 7). Não é possível dizer algo mais
elevado, pois essa é a completa identificação com o Filho de
Deus em glória!! Por isso não hesita mais tempo para pagar o
preço, a fim de te tornares um vencedor e~,atos e na verdade!
Então herdarás tudo; serás um filho, uma filha de Deus e ele será
teu Pai por toda a Eternidade.
104
Uma magnífica visão
do céu
"Depois destas cousas olhei, e eis não somente uma porta aber-
ta no céu, como também a primeira voz que ouvi, como de trom-
beta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o
que deve acontecer depois destas cousas.lmediatamente eu me
achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e no trono al-
guém sentado; e esse que se acha assentado é semelhante no
aspecto a pedra de jaspe e de sardônio, e ao redor do trono há um
arco-íris semelhante no aspecto a esmeralda. Ao redor do trono
há também vinte e quatro tronos e assentados neles vinte e qua-
tro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas
de ouro. Do trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e diante do
trono ardem sete tochas de fogo, que são os sete espíritos de
Deus. Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante
ao cristal, e também no meio do trono, e à volta do trono, quatro
seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. O primeiro
ser vivente é semelhante a leão, o segundo semelhante a novilho,
o terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto ser vivente é se-
melhante a águia quando está voando. E os quatro seres viventes,
tendo cada um deles respectivamente seis asas, estão cheios de
olhos, ao redor e pordentro; não têm descanso nem de dia nem de
noite, proclamando: Santo, Santo, SantoéoSenhorDeus, o Todo-
poderoso, aquele que era, que é e que há de vir. Quando esses se-
res viventes derem glória, honra e ações de graça ao que se en-
contra sentado no trono, aoque vivepelos séculos dos séculos, os
vínte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se en-
contra sentado no trono, adorarão ao que vive pelos séculos dos
séculos, e depositarão as suas coroas diante do trono, procla-
mando: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a
honra e o poder, porque todas as cousas tu criaste, sim, por causa
da tua vontade vieram a existir e foram criadas" (Ap 4).

O quarto capitulo começa com "Depois destas cousas olnei.:" O


que significa esse "Depois"? Para entender isso, precisamos re-
capitular: os primeiros três capitulos do Apocalipse tratam da
Igreja de Jesus; eles contêm a mensagem do Senhor 'elevado às
'. sete igrejas. Além disso temos que lembrar qual ordem o Senhor
deu a João: ~

105
1. "Escreve, pois, as cousas que viste" (cap. 1.19). O que João ha-
via visto? O Senhor glorificado e que estava voltando! (cap. 1.1-
20). Essa visão foi tão indescritivelmente magnífica e majestosa,
que João caiu como morto a seus pés.
2. "Escreve ... as que são" (cap. 1.19b). O que era isso? As sete
igrejas (cap. 2.1-3.22).
3. "Escreve... as que hão de acontecer depois destas" (cap.
1.19c). Ele devia, portanto, escrever também o que aconteceria
na terra após a época da Igreja de Jesus, isto é, após o arrebata-
mento.
"Depois destas cousas olhei, e eis não somente uma porta aber-
ta no céu" (v. 1). João vê primeiro o essencial: o Evangelho. Mais
exatamente: o maravilhoso resultado da redenção. Esta é a rnen-
sagem que temos a anunciar por todo o mundo: o véu está rompi-
do, o céu está aberto! Cada um que quiser, pode encontrar o ca-
minho ao céu. O Senhor Jesus diz: "Eu sou o caminho, e a verda-
de, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6). Em ou-
tro lugar ele diz: "Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será
salvo" (Jo 10.9). Em Hebreus 10.19 está o convite: "Tendo, pois, ir-
mãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue
de Jesus..."

João arrebatado ao céu em espírito

João não somente vê, ele também ouve: " ... como também a pri-
meira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo:
Sobe para aqui, e te, mostrarei o que deve acontecer depois des-
tas cousas" (v. 1b). E interessante que João imediatamente reco-
nheceu a voz, que já havia ouvido uma vez na terra (cap. 1.10). Foi
também João que em seu Evangelho transmitiu as palavras de
Jesus: as ovelhas ouvem a sua voz ... mas de modo nenhum
l i...

seguirão o estranho" (Jo 10.3,5). Se João diz aqui: " ...a primeira
voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo ...", ele
quer salientar: é o meu Senhor, que me chama! Como ele o cha-
mou? Com uma trombeta. Então João é figuradamente arrebata-
do da terra em espírito. O seu arrebatamento realiza-se analoga-
mente ao futuro arrebatamento da Igreja. Quando ele acontece-
rá? " num momento ... ao ressoar da última trombeta" (1 Co
15.52), quando o Senhor aparecer com " sua palavra de ordem" (1

106
Ts 4.16). Agora, portanto, João é chamado ao céu com a trombe-
ta de Deus. Ele ouve, como ouvirá a Igreja, uma palavra de ordem:
"Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois des-
tas causas". Portanto: em espírito João é figuradamente arreba-
tado antecipadamente e vê a Igreja glorificada no céu após o seu
arrebatamento. Assim ele vê também a nós na glória.

João chega muito rápido ao céu, pois diz: "Imediatamente" (v. 2).
Essa palavra na verdade não faz parte do seu vocabulário usual.
"Imediatamente" ou "logo" são expressões típicas de Marcos.
No seu Evangelho ele as usa aproximadamente quarenta e duas
vezes. Que agora o calmo e pensativo João utiliza essa palavra,
significa que ele foi arrebatado muito rapidamente. "Imediata-
mente eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono."
Também isso combina com o que experimentaremos no arreba-
tamento que está diante de nós: seremos arrebatados num ins-
tante, tão rápido que quase não poderemos compreendê-lo. En-
tão estaremos com o Senhor! A primeira coisa que João vê no
palácio celestial é um trono, no qual está assentado alguém a
quem cabe esse mais elevado lugar de honra: "e eis armado no
céu um trono, e no trono alguém sentado" (v. 2). Que João refere-
se primeiro ao trono e não àquele que está assentado nele, deve
ter sua razão no sagrado respeito de que ele está tomado ao ver a
Majestade de Deus. Não foi em vão que Deus disse a Moisés:
"homem nenhum verá a minha face, e viverá" (Êx 33.20). Com
Isaías foi semelhante a João. Quando foi chamado e viu a glória
do senhor, ele começou a gritar de pavor: "Ai de mim! Estou per-
dido! ... os meus olhos viram o Rei, o Senhor das Exércitos ..." (ls
6.5). Não foi diferente com o profeta Ezequiel: "Esta era a aparên-
cia da glória do Senhor; vendo isto caí com o rosto em terra" (Ez
1.28). Nenhum homem pode olhar a santa Majestade de Deus, a
não ser que esteja abrigado em Jesus Cristo. Daniel, que é des-
crito como "muito amado" (Dn 9.23), testemunha o que experi-
mentou vendo a glória do Senhor: "... não restou força em mim; o
meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força algu-
ma. Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo-a, caí sem
sentido, rosto em terra" (Dn 10.8-9). Por isso não precisa admirar-
nos que também João somente alude à grandiosa cena que vê
após seu arrebatamento. Ele não chega a dizer que viu Deus,
mas somente fala sobre o trono e sobre alguém assentado nele.
Ele descreve o que havia ao redor do trono, sobre o trono e o que
saía do trono, mas parece temer falar o nome de Deus e descre-

107
ver sua aparência. Ao invés disso ele diz surpreendido: lie no tro-
no alguém sentado" (v. 2). É como se ele emudecesse diante da
visão da glória de luz divina. Pois isso também não pode ser dife-
rente. Pelo contrário. Quem é confrontado com o poder origina-
dor da vida, esse emudece em sagrada reverência. Que grandio-
sos momentos, quando um homem encontra Deus! Também o
profeta Elias cobriu seu rosto quando soube que encontraria a
Deus. Do mesmo modo também Moisés, ao qual o senhor falava
como um homem fala ao seu amigo. Mas na verdade não foi sem-
pre assim, que Deus, antes de revelar seu conselho aos seus ser-
vos, primeiro revelou a si mesmo a eles? Que é assim, vemos por
exemplo também com Abraão. Do mesmo modo no chamamen-
to do profeta Isaías, esse grande profeta, que descreveu de ma-
neira singular o Cordeiro de Deus e profetizou sobre ele. Mas pri-
meiro ele teve que encontrar o Senhor e ser purificado. a mesmo
foi experimentado pelo profeta Ezequiel, que predisse de manei-
ra singular o futuro de Israel - até à época presente e ao Milênio.
Mas primeiro ele teve que encontrar o Senhor. Igualmente Da-
niel, que profetizou coisas grandiosas sobre os acontecimentos
futuros. Mas primeiro também ele teve Queencontrar o Senhor, e
assim também João. Somente então eram capazes de ouvir a Pa-
lavra do Senhor.
a Senhor quer instruir-nos e confiar-nos o que fará em breve, mas
primeiro quer encontrar-nos. Pois reconhecê-lo, essa é a condi-
ção para a compreensão dos acontecimentos dos tempos finais.
Somente podes entender e compreender a palavra profética, se
estás disposto primeiro a encontrar o Senhor.
a Senhor exclusivamente é que está por detrás da História Mun-
dial e do Plano de Salvação. E o que se vê aqui no início da revela-
ção sobre as coisas futuras. Quando lemos os versículos 2 e se-
guintes, então vemos que o Inexprimível, que está assentado em
silenciosa Majestade sobre o trono, somente pode ser visto na
plenitude de luz que dele procedê. João não pode descrever a
pessoa de Deus, mas ele conta o que vê: lie esse que se acha as-
sentado é semelhante no aspecto a pedra de jaspe e de sardônio,
e ao redor do trono há um arco-íris semelhante no aspecto a es-
meralda" (v. 3). A abundância de luz que procede dele, reflete o
caráter de Deus, e isso coloca João em condições de descrevê-
lo, e lhe permite também ver a homenagem dos seus servos. Nos
versículos 8-9 lemos como os seres viventes prostram-se e come-
çam a louvar a Deus, e os vinte e quatro anciãos os seguem: l i•••

108
os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se
encontra sentado no trono, adorarão ao que vive pelos séculos
dos séculos, e depositarão as suas coroas diante do trono, pro-
clamando: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória,
a honra e o poder, porque todas as causas tu criaste, sim, por
causa da tua vontade vieram a existire foram criadas"(w. 10-11).
Essa é, no fundo, nossa tarefa com relação ao mundo: refletir a
luz! Pois exceto pela Palavra, por meio do Espírito Santo, o mun-
do pode reconhecer o caráter do Senhor e assim o Cordeiro de
Deus, somente quando somos uma luz (Mt 5.14). Ele, e com isso
Deus o Pai, somente é reconhecido pelo teu ambiente através do
louvor e das graças que lhe dás. Aqui o vemos como Deus cria-
dor: "Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a
honra, e o poder, porque todas as causas tu criaste." Nossa fun-
ção aqui na terra é que sejamos algo para louvor da glória de sua
graça (comp. Ef 1.6,12). Nada obscurece tanto a glória do Senhor
como nossa própria glória. E nada diminui tanto a honra de Deus
do que nossa ambição.
Além disso, chama nossa atenção na descrição de João, que
aquele que está assentado no trono é claramente o meio, o cen-
tro. Ele é o centro da glória do céu. Encontramos isso também no
penúltimo capítulo da Bíblia: "A cidade não precisa nem do sol...
pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada"
(cap. 21.23).
Oh, que o Senhor se torne ainda muito mais o centro em tua e em
minha vida! Pois esse é o segredo para ser uma testemunha po-
derosa de Jesus Cristo nesses tempos finais. Paulo podia dizer:
"para mim o viver é Cristo" (Fp 1.21).

Daquele que está assentado no trono, João sabe dizer duas coi-
sas: "e esse que se acha assentado é semelhante no aspecto a
pedra de jaspe e de sardônio, e ao redor do trono há um arco-íris
semelhante no aspecto a esmeralda." Ele resplandece em rico e
límpido esplendor de cores. O Salmo 104.2descreve o Senhor as-
sim: "coberto de luz como de um manto." Com a abundância de
brilho, ou seja, com o esplendor de cores das pedras preciosas,
João tenta descrever aquilo que vê em pureza, glória e santidade
divinas, mas isso é indescritível. Além disso, João vê um arco-íris
ao redor do trono. Interessante: é um outro do que aquele que
nós vemos: um arco-íris glorificado, de aspecto semelhante a es-
meralda. Esmeraldas são de um verde claro suave - nenhuma

109
outra pedra preciosa verde lhes é aproximadamente comparável
em beleza - e transparentes: uma representação da misericór-
dia de Deus. Por isso, em Tiago 1.17,a Escritura chama a Deus de
"Pai das luzes". Falar desse Deus, significa entrar na penetrante
luz da Eternidade, que revela todas as nossas trevas, mas tam-
bém retira todas as trevas. Deus, que está cheio de luz resplan-
decente e verdade, é também cheio de graça.
Pois o mais profundo do coração de Deus é amor. É o que mostra
o arco-íris. Depois do dilúvio, Deus falou a Noé: "então me lem-
brarei da minha aliança ... O arco estará nas nuvens" (Gn 9.15,16).

Os vinte e quatro anciãos

É maravilhoso que pelo livro do Apocalipse somos colocados em


posição de olhar através do véu aberto para dentro do céu, e de
ver como no futuro estaremos diante do trono do Senhor. Disso
lemos no capítulo 4.4: "Ao redor do trono há também vinte e qua-
tro tronos e assentados neles vinte e quatro anciãos vestidos de
branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro." Os vinte e qua-
tro anciãos não são anjos, não, eles representam os crentes glo-
rificados, isto é - até onde entendo - os vencedores do Antigo
e do Novo Testamento. Pois também os crentes da Antiga Alian-
ça são redimidos pelo sangue de Jesus. Pois após sua morte o
Senhor Jesus Cristo desceu ao reino dos mortos e pregou o evan-
gelho aos mortos (1 Pe 3.19); isto é, para aqueles no reino dos
mortos que esperavam pelo dia da redenção, ele proclamou:
"Agora chegou a hora; está consumado!"
Por que são justamente vinte e quatro os anciãos vestidos de
branco, com coroas na cabeça, assentados em tronos e que rei-
nam com ele? De 1 Crônicas 24 conclui-se que havia 24 turnos sa-
cerdotais. Vinte e quatro - isso são três vezes oito. Oito é o nú-
mero do nome do Senhor Jesus Cristo. Das vestimentas do sumo
sacerdote lemos em Levítico 8.8: "Depois lhe colocou o peitoral,
pondo no peitoral o Urim e o Tumim (as luzes e as perfeições)".
Vinte e quatro - isso são também duas vezes doze. Vemos aqui
os crentes do Antigo e do Novo Testamento, que são "edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e profetas" (Ef 2.20). Os vinte
e quatro anciões representam, portanto, as doze tribos de Israel
e os doze apóstolos. Os vinte e quatro nos tronos são chamados
de "anciãos". Conhecemos os anciãos da Igreja. Paulo descre-
110
ve-os em 1 Timóteo 3. Eles devem ser irrepreensíveis, esposos de
uma só mulher, ter filhos crentes, tendo sido aprovados no disci-
pulado de Jesus. Assim, os vinte e quatro anciãos são também
os crentes aperfeiçoados. Aqui vê-se ainda mais algo especial.
Os vinte e quatro anciãos estão vestidos de branco. Isso indica a
justiça dos santos, que eles obtiveram através do sangue do
Cordeiro.
Os vinte e quatro anciãos são vencedores. Como sabemos dis-
. so? Porque eles usam coroas de ouro: "em cujas cabeças estão
coroas de ouro" (v. 4). Quem está coroado é um rei. Repetidamen-
te o Senhor prometeu coroas, por exemplo no capítulo 2.10: "Sê
fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida." Paulo exclama em 2
Timóteo 4.8, inspirado pelo Espírito Santo: "Já agora a coroa da
justiça me está guardada." E Pedro fala de uma "imarcescível
coroa da glória" (1 Pe 5.4).

A prova mais convincente de que os vinte e quatro anciãos repre-


sentam os crentes do Antigo e do Novo Testamento é, na minha
opinião, o fato de que eles adoram o Cordeiro: "e, quando tomou
o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma har-
pa e taças de ouro ...e entoavamnovo cântico, dizendo: Digno és
de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com
o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tri-
bo, língua, povo e nação" (cap. 5.8a,9). Agora talvez alguém pode
objetar: "Se a Igreja de Jesus está arrebatada, por que vemos
aqui somente vinte e quatro anciãos em tronos? Pois se formos
vencedores, todos estaremos na glória e todos teremos uma co-
roa, vestes brancas e um trono!" Certo! Mas da mesma maneira
como na Antiga Aliança havia vinte e quatro turnos sacerdotais,
e os sacerdotes eram representantes de todo o povo diante de
Deus, assim aqui os vinte e quatro anciãos coroados são repre-
sentantes de toda a Igreja diante de Deus. Devemos ter isso cla-
ramente diante dos olhos, para aprofundar-nos no Apocalipse e
reconhecermos pelo Espírito da profecia o que deve acontecer
em breve.

Os sete espíritos de Deus

No versículo 5 lemos: "Do trono saem relâmpagos, vozes e tro-


vões, e diante do trono ardem sete tochas de fogo, que são os se-

111
te espíritos de Deus." Esse versículo mostra que o trono de Deus
não é algo passivo. Não, João observa que dele parte atividade
contínua. O próprio Apocalipse nos interpreta a figura dos raios,
trovões e vozes e das sete tochas, pois está dito: "... que são os
sete espíritos de Deus". Os sete espíritos já foram citados nos
capítulos 1.4 e 3.1, e no capítulo 5.6 encontramo-los mais uma
vez. Eles, aliás, encontram-se também no Antigo Testamento,
nas sete lâmpadas da Menorá (Zc 4.2). Que realmente procede do
trono de Deus uma atividade grandiosa e ininterrupta, vemos
também quando nesse contexto lemos no capítulo 5.6 sobre os
sete espíritos de Deus: "... os sete espíritos de Deus enviados por
toda a terra." Desde o trono central, o Espírito de Deus em toda a
sua plenitude convence, ouve, salva, julga, humilha, exalta e go-
verna. O Senhor Jesus Cristo disse tão magistralmente do seu
Pai: "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" (Jo
5.17). Ele está agindo! O número sete não somente descreve a
plenitude da terceira pessoa da divindade, do Espírito Santo. Ele
é também um sinal da glória completa de Deus, pois sete é o nú-
mero da plenitude divino. Isso mostra a perfeita e ilimitada Oni-
potência, à qual nenhuma reação do mundo pode resistir. Por is-
so há também sete igrejas, sete anjos, sete selos, sete trornbe-
tas, etc. Deus o Pai e o Espírito Santo estão inseparavelmente li-
gados.

o mar de vidro
"Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante ao
cristal, e também no meío do trono, e à volta do trono, quatro se-
res viventes cheios de olhos por diante e por detrás" (v. 6). O mar
de vidro aqui nada mais é do que o mar dos povos, que se agita
de um lado para outro na terra. Justamente em nossos dias ele
está muito agitado, pois em todos os lugares há guerras e rumo-
, res de guerras. Mas diante do trono de Deus os catastróficos
envolvimentos e complicações bélicas não são um problema,
um empecilho. Diante dos olhos do Soberano mundial desde a
Eternidade, o mar dos povos é transparente como cristal. Ele é o
que está assentado sobre a redondeza da terra (ls 40.22), isto é:
Ele, o Todo-Poderoso, é o que "põe termo à guerra até aos con-
fins do mundo" (8146.10), e que diz: "Até aqui virás, e não mais
adiante, e aqui se quebrará o orgulho das tuas ondas"(Jó 38. 11).
Diante da sua face o que é móvel permanece imóvel. Ele realiza
seu conselho soberanamente através de todas as ondas da His-

112
torta Mundial. É o que diz Hebreus 12.26-27: "... aquele cuja voz
abalou, então, a terra; agora, porém, ele promete, dizendo: Ain-
da uma vezpor todas farei abalar não só a terra, mas também o
céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas, significa a re-
moção dessas causas abaladas, como tinham sido feitas, para
que as causas que não são abaladas permaneçam." O Senhor
já exclamou através do profeta Isaías - e aí igualmente vemos
imóvel o mar de vidro diante do trono, em contraste com a situa-
ção do mar dos povos sobre a terra -: "Calai-vos perante mim,
ó ilhas, e os povos renovem as suas forças, cheguem-se..." (Is
41.1). Ou pensemos em duas outras passagens nos profetas:
"Cale-se, toda a carne, diante do Senhor, porque ele se levantou
da sua santa morada" (Zc 2.13). "O Senhor, porém, está no seu
santo templo; cale-se diante dele toda a terra" (Hb 2.20).

Os quatro seres viventes

No meio do trono e à volta do trono há quatro seres viventes.


Não se trata de anjos, pois senão estaria escrito "anjos": "...
quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. O
primeiro ser vivente é semelhante a leão, o segundo semelhan-
te a novilho, o terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto
ser vivente é semelhante a águia quando está voando. E os qua-
tro seres viventes, tendo cada um deles respectivamente seis
asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm des-
canso nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo,
Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é
e que há de vir" (vv. 6b-8). Os quatro seres viventes estão "no
meio do trono e à volta do trono". Eles estão bem próximos de
Deus, sim, eles fazem parte de Deus - são quatro característi-
cas do Eterno.
O primeiro ser vivente é "semelhante a leão", O leãoé uma figu-
ra da Majestade, Força e Poder Criador de Deus. Ele é o Rei dos
reis e Senhor dos senhores. Dele e por meio dele e para ele são
todas as cousas (Rm 11.36),e ele sustenta todas as cousas pela
palavra do seu poder (Hb 1.3).
O segundo ser vivente é descrito como "semelhante a novilho".
A figura do novilho significa que Deus entrega sua força e poder
em sacrifício, sendo que ele mesmo deixou-se sacrificar em Je-
sus Cristo.

113
o terceiro ser vivente tem "o rosto como de homem". Isso é uma
figura da humilhação e renúncia à sua glória, e assim, da vinda
da sua glória para este mundo. Isso aconteceu em Jesus Cristo.
Em Filipenses 2.7 está escrito: "... tornando-se em semelhança
de homens; e, reconhecido em figura humana. "
E em quarto lugar a figura da águia. Ela significa que apesar da
sua auto-renúncia e auto-limitação quando tornou-se homem,
ele continuou tendo claramente em vista o objetivo da sua cria-
ção e continua prosseguindo resolutamente para o final.

Assim expressa-se nos quatro seres viventes como Deus


inclina-se para o mundo, fala ao mundo e entrega-se para o
mundo. Esses seres viventes, como características do Eterno,
manifestam-se aqui como querubins. Eles têm asas, através do
que se expressa que Deus age em todos os lugares e ininterrup-
tamente. Também Ezequiel os viu com asas andando em todas
as direções. Não existe lugar neste mundo, por mais profundo
que seja, também nenhum coração, por mais escuro que seja,
onde a mão misericordiosa de Deus seja incapaz de agir. Essas
asas estão cheias de olhos, ao redor e por dentro. Isso significa:
ele é o Onisciente; ele vê tudo. O autor do segundo livro das Crô-
nicas sabia desse fato: "... quanto ao Senhor, seus olhos pas-
sam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cu-
jo coração é totalmente dele" (2 Cr 16.9).
Dos quatro seres viventes ainda está escrita uma coisa fasci-
nante: "... não têm descanso nem de dia nem de noite, procla-
mando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso,
aquele que era, que é e que há de vir" (v. 8). Em outras palavras:
ininterruptamente, dia e noite, eles bendizem e louvam o Se-
nhor dos senhores e Rei dos reis e o adoram. Eles não têm ne-
cessidade de descanso. Os quatro seres são Deus mesmo, que
não dorme nem dormita. Oh, que nos tornássemos mais seme-
lhantes à sua ação contínua! Ele está constantemente ativo por
nós. A respeito lembrei-me de uma tradução inglesa do Salmo
139.17-18: "How precious is it Lord to realize that Vou are thin-
king about me constantly" ("Quão precioso é para mim, Senhor,
compreender que pensas em mim constantemente"). "I can't
even count how many times a day Your thoughts turn towards
me" ("Nem mesmo posso contar quantas vezes por dia teus
pensamentos se voltam para mim"). "And when I wake in the
morning, Vou are still thinking of me" ("E quando acordo pela
114
manhã, tu ainda continuas pensando em mim"}. A Edição Re-
vista e Corrigida diz: "E quão preciosos me são, ó Deus, os teus
pensamentos! Quão grandes são as somas deles! Se os con-
tasse, seriam em maior número do que a areia; quando acordo
ainda estou contigo."
Os quatro seres viventes disseram: "Santo, Santo, Santo é o Se-
nhor Deus, o Todo-poderoso, aquele que era, que é e que há de
vir." O Deus vivo é ativo por ti ininterruptamente, para que tam-
bém tu te tornes um louvor do seu nome, pois esse é seu objeti-
vo divino para ti. Falar do mistério de Deus, significa adorar
Deus. É o que vemos também aqui com os quatro seres viven-
tes: quando eles começam a louvar e a bendizer a Deus, tam-
bém os vinte e quatro anciãos, a Igreja completa, prostram-se.
,Figuradamente, eles são estimulados por essas quatro carac-
terísticas de Deus: "Quando esses seres viventes derem glória,
honra e ações de graça ao que se encontra sentado no trono, ao
que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos
prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no tro-
no, adorarão ao que vive pelos séculos dos séculos, e deposita-
rão as suas coroas diante do trono, proclamando: Tu és digno,
Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra, e o poder,
porque todas as cousas tu criaste, sim, por causa da tua vonta-
de vieram a existire foram criadas"(vv. 9-11). Assim a Igreja glo-
rificada, à qual também pertencemos se vencermos, adora o
Eterno como a origem e o fim de todas as coisas. Essa adora-
ção suprirá a nova vida dos seus de Eternidade em Eternidade.
Assim passa a haver movimento na cena sublime que João po-
de ver: os anciãos, que por causa do louvor dos seres viventes

levantam-se dos seus tronos, prostram-se e, enquanto adoram
a Deus, depositam suas coroas aos pés daquele que está as-
sentado no trono. E também eles participam do poderoso lou-
vor: "Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a
honra e o poder, porque todas as cousas tu criaste, sim, por
causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas."

115
o Cordeiro e o livro
selado
"Vi na mão direita daquele que estava sentado no trono um livro
escrito por dentro e por fora, de todo selado com sete selos. Vi
também um anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é
digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos? Ora, nem no céu,
nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o
livro, nem mesmo olharpara ele: e eu chorava muito, porque nin-
guém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar pa-
ra ele. Todavia um dos anciãos me disse: Não chores: eis que o
Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e
os seus sete selos. Então vi, no meio do trono e dos quatro seres
viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tinha sido
morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos que são os
sete espíritos de Deus enviados por toda a terra. Veio, pois, e
tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no tro-
no; e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e
quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada
um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são
as orações dos santos; e entoavam novo cântico, dizendo: Dig-
no és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto
e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de
toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os consti-
tutste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. Vi, e ouvi uma
voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e das
anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de
milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro, que
foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e
honra, e glória, e louvor. Então ouvi que toda criatura que há no
céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que
neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono, e
ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos
séculos dos séculos. E os quatro seres viventes respondiam:
Amém; também os anciãos prostraram-se e adoraram" (Ap 5).
.
Temos aqui a continuação da visão de Apocalipse 4 sobre a
santidade e glória de Deus no trono. Também a visão da sua gló-
ria não muda, porque ele mesmo é imutável. Em Deus "não po-

116
de existir variação, ou sombra de mudança" (Tg 1.17). Ele é eter-
namente o mesmo. Que grande consolo em um tempo no qual
tudo oscila e rui!

Aqui no capítulo 5 agora, a visão de João é muito ampliada. A


"luz dos holofotes" é agora apontada para um livro, ou seja, pa-
ra um rolo. Naquela época ainda não se tinha livros como nós
os temos hoje, mas rolos de papiro. João vê esse rolo na mão di-
reita daquele que está assentado no trono.
Tudo que está à direita de Deus é relacionado com redenção e
salvação. Ele uma vez separará os cabritos das ovelhas e dirá
àqueles à sua direita: "Vinde, benditos de meu Pai! entrai na
posse do reino." E àqueles à sua esquerda: "Apartai-vos de
mim, malditos, para o fogo eterno" (comp. Mt 25.34,41). Jesus
Cristo mesmo está assentado à direita da Majestade de Deus,
pois na mão direita está a força.
O livro que João vê está, portanto, na mão direita de Deus. A tra-
dução correta seria na verdade, "sobre" a mão direita de Deus.
Esse já era o caso no capítu lo 4, mas os 01 hos de João ai nda não
o consideraram essencial. Mas o Senhor quer continuamente
revelar-nos mais da sua glória. O rolo está selado "... com sete
selos" e "escrito por dentro e por fora"(v. 1).·Quandose lê todo o
capítulo, então se percebe que esse rolo selado na mão direita
daquele que está sentado no trono, deve ser de extrema impor-
tância. Esse rolo é tão extraordinariamente importante, que o
Cordeiro de Deus é levado a agir, e isso por sua vez tem por con-
seqüência que é entoado o cântico do Cordeiro (v. 9). Pois no
momento em que o Cordeiro estende sua mão traspassada, pa-
ra tomar o livro da mão direita daquele que está sentado no tro-
no, os vinte e quatro anciãos junto com os quatro seres viven-
tes, começam a entoar o cântico do Cordeiro. Esse rolo é tão im-
portante e especial, que nenhum outro é digno de abri-lo: "... nin-
guém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar pa-
ra ele" (v. 3). Somente esse fato já nos faz perguntar: o que está
escrito nesse livro, que se encontra na mão direita daquele que
está assentado no trono. Será que ele trata da História da cria-
ção? Não, pois então não haveria ordem na seqüência divina de
toda a visão, pois no capítulo 4.11 vimos que Deus é adorado co-
mo o Criador de todas as coisas: "Tu és digno, Senhor e Deus
nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as
cousas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir
117
e foram criadas." Se o livro trata da criação, não seria apropria-
do para apresentar-nos o Cordeiro. Mas é disso que trata, pois o
próprio Cordeiro é a revelação de Deus. "Ninguém jamais viu a
Deus: o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o reve-
lou" (Jo 1.18). Jesus mesmo diz: "Quem me vê a mim vê o Pai"
(Jo 14.9). Se imaginamos que esse livro refere-se à redenção,
não se trata, entretanto, da redenção realizada na cruz de Gól-
gota, portanto, não a experiência subjetiva (pessoal) de um
crente da Nova Aliança. Essa baseia-se no ato singular, eterna-
mente válido, do Senhor Jesus Cristo, que como Cordeiro de
Deus derramou seu sangue na cruz de Gólgota. Mas disso não
trata esse rolo, mas sim do dia da redenção adiante de nós.
Pois a redenção acontecida na cruz de Gólgota não tem efeitos
somente para nossa situação atual. Paulo diz: "Se a nossa es-
perança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais
intetizes dos homens"(1 Co 15.19). Não, ela também tem efeitos
para a Eternidade, e isso tanto para nós como para todo o Uni-
verso.
Aliás, os filhos de Deus até receberam de Deus um penhor para
esse dia: "em quem também vós, depois que ouvistes a palavra
da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também
crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual
é o penhor da nossa herança até ao resga te da sua propriedade
(ou: até ao dia da redenção), em louvor da sua glória" (Ef
1.13-14). Essa é a redenção futura. A redenção através de Jesus
Cristo é uma força viva e que dá vida e estende-se a todo o futu-
ro adiante de nós, sobre o qual estão ditas as palavras: "Eis que
faço novas todas as couses" (cap 21.5). Ela tem suas raízes no
passado, na cruz de Gólgota, e todos os que crêem são salvos.
Mas esse resultado da redenção é pequeno em comparação
com aquilo que se torna visível na revelação da redenção con-
sumada! Pois ele, como diz o autor da Epístola aos Hebreus, ob-
teve "eterna redenção" (Hb 9.12).
Quando no seu sermão profético em Lucas 21, o Senhor Jesus
dirige-se primeiro a Israel, repentinamente ele fala a todos os
que crêem nele, dizendo: "Ora, ao começarem estas cousas a
suceder, exultai e erguei as vossas cabeças; porque a vossa re-
denção se aproxima" (Lc 21.28). Aí ele fala da redenção futura e
assim da maravilhosa redenção sobre a qual está escrito nesse
rolo, que somente o Cordeiro é digno de abrir. Esse rolo não é o
livro da vida, do qual fala o Apocalipse e também outros livros
118
da Bíblia, tão pouco quanto o livro da vida é o livro da vida do
Cordeiro. O rolo, esse documento, que se encontra na mão di-
reita daquele que está sentado no trono, é o testamento de
Deus e doCordeiro. Testamento significa "vontade final"; trata-
se da expressão da última vontade. Mas com Deus não se trata
da última vontade nesse sentido, porque ele não morre, mas é
eterno. Trata-se, entretanto, da sua vontade para toda a Eterni-
dade. Como podemos saber que é o testamento de Deus e do
Cordeiro?
1. O conteúdo do rolo selado com sete selos não permanece
oculto, pois ele está escrito por dentro e por fora.
2. Os sete selos, com os quais o documento está selado, indi-
cam claramente que se trata de um testamento. Essa figura,
aliás, era muito usual para João, pois naquele tempo a lei para
aplicação no Império Romano também era selada com sete se-
Ios. Deus lhe mostrou, portanto, figuras que ele entendia.
3. Ao se desatar os selos e abrir o livro, conforme a lei, não foi re-
velado algo de novo. É o que pensam muitos comentadores,
mas não posso compartilhar dessa opinião. O que estava esta-
belecido no testamento, tornou-se válido quando foram desata-
dos os sete selos.
Mas agora vemos aqui em Apocalipse 5, que ninguém podia
abrir o livro, ou seja, o Testamento. Ninguém era capaz, para
dizê-lo com Colossenses 1.12,de conhecer a "herança dos san-
tos", quanto menos de distribuí-Ia, de dar-lhe valor legal. Quan-
do ouvimos o que diz esse capítulo, então sentimos uma ten-
são. Aparece um anjo forte e proclama em alta voz: "Quem é
digno de abrir o livro e de lhe desataros selos ?" (v. 2b). Chegou o
momento em que Deus quer executar seu testamento, sua von-
tade de salvação. Aqui vamos olhar para trás por um momento:

Deus já revelou sua vontade de salvação ao primeiro Adão no


Paraíso. Lemos em Gênesis 1.27: "Criou Deus, pois, o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou." Qual era, portanto,
sua vontade salvadora? Leia a história da criação, leia o que
Deus disse aos primeiros homens, leia que majestade e autori-
dade ele deu ao homem! O Deus vivo estabeleceu o homem aci-
ma de tudo que tinha feito e de que tinha dito que era "muito
bom". O homem tinha sido colocado como cabeça sobre sua
gloriosa herança, sobre uma herança incorruptível, sem mácu-
119
la, imarcescível, como Pedro diz mais tarde (1 Pe 1.4). Mas ela
perdeu-se pelo pecado. O homem perdeu a comunhão com
Deus e assim a vida eterna. Ele perdeu até mesmo a capacida-
de, ou seja, o direito de comer da árvore da vida. Ele foi expulso
do paraíso de Deus, e assim tornou-se errante: "Todos nós ano
dávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo
caminho" (Is 53.6). Tudo isso aconteceu pela atividade do homi-
cida desde o princípio, de Satanás.

A abertura de um testamento está sempre ligada com tensão.


Mas aqui, no âmbito celestial, ela é muito justificada. O anjo for-
te, que pergunta com "grande" voz: "Quem é digno de abrir o li-
vro e de lhe desatar os selos?", deve ter tido uma boca extraor-
dinária, pois aparentemente sua voz podia ser ouvida em todos
os lugares. Mas não houve resposta: "Ora, nem no céu, nem so-
bre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro,
nem mesmo olhar para ele" (v. 3). Isso significa concretamente:
ninguém no céu - nenhum anjo; ninguém na terra - nenhum
homem; ninguém debaixo da terra - nenhum demônio; nin-
guém mesmo, era digno de abrir o livro e de olhar para ele! Tam-
bém os poderosos do mundo e o ditador mundial que então es-
tará reinando, calam-se. Há muito silêncio na terra e no céu.
Ouve-se somente uma coisa, e isso é muito comovente: o pran-
to, e os soluços de um homem. João não se envergonha das
suas lágrimas, mas confessa francamente: "e eu chorava mui-
to" (v. 4).
João já tinha experimentado muitas coisas: ele tinha andado
com o Senhor Jesus, tinha ouvido suas palavras e visto seus
atos. Mais tarde ele, que também afirma várias vezes que o Se-
nhor o amava, foi o único discípulo a perseverar junto à cruz,
tendo visto o Salvador, a quem amava, morrer na cruz como Cor-
deiro de Deus. Com insistência ele diz em João 19.35: "Aquele
que isto viu, testificou, sendo verdadeiro o seu testemunho; e
ele sabe que diz a verdade." João havia visto como Jesus recon-
ciliou o mundo com Deus; ele havia visto os sinais que abala-
ram a terra e não tinha fugido quando o sol perdeu o seu brilho.
E ele tinha ouvido o grito de Jesus na cruz: "Está consumado!"
Mas ele também tinha sido testemunha do fato de que Jesus
havia ressuscitado dentre os mortos, e estava junto quando Je-
sus, quarenta dias depois da sua ressurreição, subiu ao céu do
Monte das Oliveiras. Também as palavras do Ressuscitado:

120
"Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra" (Mt 28.18), tl-
nham sido ouvidas por ele. Também em Patmos, a partir da
perspectiva eterna, ele já tinha visto coisas grandiosas.
Suas esperanças na abertura do testamento devem ter sido,
portanto, correspondentemente grandes. Mas agora ele experi·
menta o terrível, de que a princípio ninguém é digno de abrir o tl-
vro e desatar seus selos. E como se o prosseguimento do Plano
de Salvação estivesse bloqueado, pois ninguém no céu, nem
sobre a terra, nem debaixo da terra é digno de abrir o testamen-
to e de dar valor legal à maravilhosa herança de Deus e do Cor-
deiro. Ninguém? Ninguém além do próprio Cordeiro! Pois agora
vem um ancião - um representante da Igreja glorificada - e
diz a João: "Não chores: eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz
de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete se/os" (v. 5).
Por que esse ancião tem que consolar a João, que sabia que Je-
sus havia vencido? Porque João fez aquilo que fazemos tão fa-
cilmente. Ele tinha afastado o olhar da vitória do Cordeiro. As
conseqüências são sempre desolação e lágrimas. Quantas ve-
zes envergonhamos ao nosso Senhor, chorando, estando abati-
dos e resignados, enquanto que ele obteve tão maravilhosa vi-
tória! "Não chores"! Em outras palavras: "Não tens motivos".
Chama a atenção que esse ancião não faz referência à pessoa
de João e à sua relação com o Senhor Jesus.fazendo admoes-
tações do tipo: "Tu tinhas visto, deverías sabê-lo que ele ven-
ceu." Não, ele somente fala do Senhor: "Não chores: eis que o
Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e
os seus sete se/os" (v. 5). Ele começa com: "eis que ...venceu ..."
Pelo bloqueio, pelo fato de ninguém ser digno de abrir o livro,
João havia perdido a visão do Vencedor..
Estás desanimado e abatido? Então o Senhor te diz através da
sua Palavra: "Não chores"! "Fica tranqüilo, eu venci!"
Que o ancião diz: "eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Da-
vi, venceu", não é tão estranho como parece à primeira vista. O
leão é o rei - Jesus Cristo é o Rei dos reis e da tribo de Judá.
Nesse contexto é extremamente esclarecedor que já milênios
antes, Jacó (Israel), quando estava morrendo, descreve Judá
como "leãozinho". Quando se encontrava no leito de morte, fez
vir todos os seus filhos, para abençoá-los e profetizar a seu res-
peito. Quando chegou a vez do seu quarto filho, Judá, Jacó com
seus olhos quase cegos olha para o futuro e diz: "Judá é /eãozi-
121
nno, da presa subiste, filho meu. Encurva-se, e deita-se como
leão, e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará
de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Si/Ó;e a
ele obedecerão os povos" (Gn 49.9-10). O herói da tribo de Judá
é o nosso Senhor Jesus Cristo!

O ancião prossegue: " ... e Raiz de Davi". A Raiz do reino eterno


de Davi venceu. Isso significa bem concretamente: tudo aquilo
que o primeiro Adão perdeu pela sua desobediência - a vida
eterna, a comunhão com Deus, o Paraíso - o último Adão, Je-
sus Cristo, recuperou pela sua obediência. Ele foi obediente até
à morte, e morte de cruz. Com isso tornou-se livre uma herança
para aqueles que o aguardam: "Por isso mesmo, ele é o Media-
dor da nova aliança a fim de que, intervindo a morte para remis-
são das transgressões que havia sob a primeira aliança (o Anti-
go Testamento), recebam a promessa da eterna herança aque-
les que têm sido chamados. Porque onde há testamento é ne-
cessário que intervenha a morte do testador; pois um testamen-
to só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira ne-
nhuma tem força de lei enquanto vive o testador. Pelo que nem
a primeira aliança foi sancionada sem sangue" (Hb 9.15-18).
Mais uma vez: um testamento somente passa a ter força de lei,
quando ocorreu a morte daquele que o fez. O Filho de Deus veio
ao mundo e tirou o motivo que levou à perda da herança eterna
- o pecado. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mun-
do" (Jo 1.29). Jesus morreu na cruz de Gólgota. Ele inclinou a
sua cabeça e expirou. Não está escrito: "ele expirou e inclinou a
sua cabeça", pois ele entregou sua vida voluntariamente. Nin-
guém a tomou dele. Agora a herança está disponível, pois o tes-
tador está morto. E eis que: Jesus não permanece na morte! Ele
ressuscitou e vive! Conseqüentemente ele é o único herdeiro le-
gai, e por isso ninguém além dele é digno de abrir o livro, o testa-
mento! Que maravilhoso: por causa do nosso pecado ele sofreu
a morte, e com isso ficou livre a herança para a sua descendên-
cia. Mas então ele ressuscitou da morte, e aí aconteceu o ex-
traordinário: ele mesmo era e é o herdeiro de todas as coisas!
Romanos 8.17 diz: "Ora, se somos filhos, somos também her-
deiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo." Também
em Hebreus 1.2 está escrito que Deus constituiu seu Filho her-
deiro de todas as coisas. E nós que o seguimos e somos vence-
dores, somos co-herdeiros!

122
Mas o que são os sete selos com os quais o livro está selado? O
livro do Apocalipse contém muitos mistérios, para que não o
leiamos levianamente, mas pesquisando e orando que o Se-
nhor o ilumine e revele. No meu entendimento, os sete selos
que fecham o livro e tornam impossível que ele tenha força de
lei até serem desatados, são os terríveis juízos de Deus, que por
causa da maldade dos homens ainda têm que passar sobre es-
ta terra, para que no céu e na terra, por força da herança, tudo
possa ser renovado: "Nós, porém, segundo a sua promessa, es-
peramos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça", es-
creve Pedro na sua segunda epístola (cap. 3.13). Esses juízos
estão para acontecer. Já ouvimos o seu trovejar. Enquanto eles
não se realizarem, a herança não pode ter força de lei. Mas nino
guém podia desatar esses selos, a não ser o Cordeiro.
Agora João vê o Vencedor, o forte Vencedor: "Então vi, no meio
do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé,
um Cordeiro como tinha sido morto. Ele tinha sete chifres, bem
como sete olhos que são os sete espíritos de Deus enviados por
toda a terra. Veio, pois, e tomou o livro ..." (vv. 6-7a). Aqui João
não vê o Leão, mas o Cordeiro. Que contraste há entre o Leão e
o Cordeiro! Um leão é real, um cordeiro é desamparado e fraco.
O enorme paradoxo, no qual está baseada a redenção, sim, to-
da a Igreja - tudo aqui lo que o Novo Testamento descreve com
a palavra "cruz" - é aqui revelado de maneira nova e mais pro-
funda ao apóstolo João: o Cordeiro como o Leão; o Rei dos reis,
o Príncipe da Vida, como o sacrifício. Pois onde se encontra o
Cordeiro? Bem no centro. Deve-se prestar atenção à expressão
"no meio": "... no meio do trono e dos quatro seres viventes e en-
tre os anciãos". Jesus Cristo é o centro. Vimos em Apocalipse
4, que a glória de Deus é o centro, e essa glória de Deus é o Cor-
deiro.
Mas se João vê o Cordeiro "como tinha sido morto", apesar da
Igreja já ter sido arrebatada a ele, isso indica a validade eterna
da redenção. O sangue derramado de Jesus tem efeitos que
nunca acabam, compare Hebreus 9.12. Porque nele foi executa-
do o juízo sobre o pecado de todo o mundo, somente ele é digno
de julgar este mundo inimigo da cruz, que colocou-se fora da
sua obra. O Pai entregou o julgamento ao Filho, pois somente
ele é digno de abrir os se/os do testamento. Assim vemos aqui,
através dos olhos de João, o Cordeiro como tinha sido morto,
mas mesmo assim em poder e glória, pois está dito no versículo
123
6b: "tinha sete chifres ... sete espíritos de Deus enviados por to-
da a terra." Os sete chifres significam poder, um poder que ven-
ce tudo. Na Escritura, chifre ou chifres significam poder (Dt
33.17) ou também soberba arrogante. Estranhamente aqui é
usada a palavra grega "arnios" para Cordeiro. Isso significa
suavidade e mansidão; em contraste com isso há a palavra
"amnos", usada normalmente no Novo Testamento para cor·
deiro. Os sete chifres mostram o caráter do Cordeiro em força e
poder divinos. Sete é o número da plenitude divino. Paulo diz:
"Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus" (1 Co 1.24). Portan-
to, não poder mecânico, mas divino. No versículo 6c continua-
mos lendo: "... bem como sete olhos que são os sete espíritos
de Deus enviados por toda a terra." Quão maravilhosamente
revela-se aqui a plenitude da divindade! Assim Isaías viu Deus
800 anos antes. A profecia dos sete Espíritos está escrita em
Isaías 11.1-2: "Do trono de Jessé sairá um rebento, e das suas
raízes um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o
Espírito de Sabedoria e de entendimento, o Espírito de conse-
lho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Se-
nhor." Esses sete Espíritos repousam sobre o rebento, que vem
do tronco de Davi. Os sete olhos de Deus, que são os sete espíri-
tos de Deus, são "enviados por toda a terra". O Cordeiro pene-
tra por toda a terra. Resumamos: os sete chifres e os sete Espí-
ritos significam que ele tem poder espiritual perfeito. Em Zaca-
rias 3.8-9 também profetiza-se nesse sentido do Cordeiro. Se
em Apocalipse 4 vimos a posição central daquele que está sen-
tado no trono, aqui nos é revelado o Cordeiro como centro da
glória de Deus. Leiamos mais uma vez o capítulo 5.6a: "Então vi,
no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos,
de pé, um Cordeiro." Não podemos deixar de observar: o Cordei-
ro está de pé! Apesar de morto, por causa dos nossos pecados,
o Cordeiro vive. Ele ressuscitou! Jesus vive e com ele também
eu.

No versículo 7 vemos agora o ato pessoal mais majestoso do


Cordeiro que nos é revelado no Apocalipse. Por isso esse quinto
capítulo é tão importante. "Veio, pois, e tomou o livro da mão di-
reita daquele que estava sentado no trono. " Então foi desfeito o
impasse. Por esse ato toda a criação aguardou ansiosa durante
seis milênios; por isso esperam os crentes da Antiga e da Nova
AIiança, e por isso também sofreram. Pois nesse ato de tomar o
livro, está incluído tudo que ainda será revelado na glória. Por for-

124
ça desse ato do Cordeiro de Deus, o mundo é vencido: Babilônia
é julgada, o anticristo destruído, o dragão derrubado, a morte
tragada, a maldição desfeita, a terra renovada. Quando o Cor-
deiro se aproxima e toma o livro da mão direita daquele que está
sentado no trono, há um silêncio mortal no céu. Aí o Cordeiro
exerce sua vitória alcançada na cruz de Gólgota! Que maravi-
lhoso, pois o que Jesus faz aqui é a recuperação da herança
desviada de seu objetivo, a reclamação com força de lei de tudo
aquilo que Adão perdeu. Para isso o Filho de Deus derramou
OI seu sangue e suas lágrimas. "Veio, pois, e tomou o livro da mão
direita daquele que estava sentado no trono." Percebe-se lite-
ralmente como todo o céu assiste em silêncio respeitoso. O
Universo é testemunha desse fato, em tremor e com a respira-
ção suspensa.

A adoração do Cordeiro

"e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e


quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro" (v. 8). Já vi-
mos que os quatro seres viventes representam as quatro carac-
terísticas de Deus. Esses quatro seres viventes e os vinte e qua-
tro anciãos prostram-se diante do Cordeiro e entoam um cânti-
co, que nunca antes foi ouvido: "Digno és de tomar o livro e de
abrir-lhe os selos, porque foste morto e com teu sangue com-
.. praste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e
nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes;
e reinarão sobre a terra" (vv. 9-10). O fato do Cordeiro tomar o li-
vro da mão direita daquele que está sentado no trono, produz
um louvor grandioso, que abrange todo o Universo. Ele come-
ça com os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos que
se prostram, O adoram e exclamam: "Digno és de tomar ..." E
nos versículos 11 e 12 lemos como os.muitos milhões de anjos,
que se encontram em volta do trono olham, participam: "Vi, e
ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres víven-
tes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e mi-
lhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cor-
deiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e
"'. força, honra, e glória e louvor." E então o círculo dos que en-
toam o louvor abre-se ainda mais: "Então ouvi que toda criatura
que há no céu e sobre a terra, debaixo ,da terra e sobre o mar, e
tudo o que neles há, estava dizendo: Aquele que está sentado
125
no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o do-
mínio pelos séculos dos séculos" (v. 13). Ele é concluído com o
magistral "amém" dos quatro seres viventes: "E os quatro se-
res viventes respondiam: Amém "(v. 14a).A Igreja glorificada, re-
presentada pelos vinte e quatro anciãos, fecha o grandioso cír-
culo dos adoradores: "também os anciãos prostraram-se e ado-
raram aquele que vive pelos séculos dos séculos" (v. 14b). Em
nenhum lugar da Bíblia temos tal grandioso e abrangente lou-
vor ao Cordeiro de Deus. Pois aqui aconteceu aquilo que Daniel
havia visto em esboço: "Eu estava olhando nas minhas visões
da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho
do homem, e dirigiu-se ao Ancião de dias (isto é: ao Eterno), e o
fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio e glória, e o reino,
para que os povos, nações e homens de todas as línguas o ser-
vissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o
seu reino jamais será destruído" (Dn 7.13-14). João viu isso mui-
to mais claramente, porque havia conhecido e visto o Senhor
Jesus em sua encarnação, sofrimento e morte. Deve-se obser-
var, que no grande louvor que João vê e ouve, sempre novamen-
te mostra-se a unidade do Pai e do Filho. Eles louvam ao Pai e ao
Filho, ambos são adorados. No capítulo 4 é dito ao Criador: "Tu
és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o
poder, porque todas as cousas tu criaste, sim, por causa da tua
vontade vierem a existir e foram criadas" (v. 11). Mas no capítulo
5 eles se prostram diante do Cordeiro e exclamam: "Digno és de
tomar o livro e abrir-lhe os selos, porque foste morto e com teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo,
língua, povo e nação" (v. 9).

Até que ponto estamos incluídos aqui como crentes? Já vimos


que os vinte e quatro anciãos representamos crentes do Antigo
e do Novo Testamento, e aí estamos incluídos. Vimos igual-
mente que eles prostram-se diante do Cordeiro e o adoram. Eles
não vieram de mãos vazias: "... tendo cada um deles uma harpa
e taças cheias de incenso, que são as orações dos santos" (v.
8). No início da adoração do Cordeiro estão, portanto, incluídas
as orações de todos os santos. Pois aqui começa o tempo em
que as orações de todos os santos, que oraram durante os sé-
culos, desde que Jesus ensinou essa oração, são ouvidas.
Quais orações? As orações pela vinda do seu reino e pela reali-
zação da sua vontade. "Venha o teu reino, faça-se a tua vonta-
de, assim na terra como no céu" (Mt 6.10). Essa é a oração que

126
foi feita bilhões de vezes e tem sua origem no Cordeiro, pois: ne-
le, por meio dele e para ele foram criadas todas as coisas
(comp. Ap 4.11 e CI1.16).

Esperamos que a leitura deste livro


tenha sido de real valor para sua vida espiritual.

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127
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