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Um comentário
para a nossa época
f.
,. Volume I
Capítulos 1-5
~~ria
cChamada da Me1ã·NoItet
Caixa Postal 1688 o 90000 PortoL\\egre-RS o Brasil
Tradução do original em alemão:
"Offenbarung Jesu Christi",
publicado pela
Editora "Grosse Freude",
Zurique/Suíça
Obra Missionária
Chamada da Meia·Noite
Porto Alegre-RS/Brasil
ISBN: 3858100536
Número para pedidos: 19324
'r1
•
índice página
Prefácio 7
Introdução 9
Eis que vem com as núvens (Ap1.1-7) 13
7
mento de que o arrebatamento pode acontecer a qualquer momen-
to. E quando então as vozes das testemunhas de Jesus estiverem ca-
ladas, a palavra impressa poderá - e queira! - continuar falan-
do. Nosso Senhor virá em breve!
Pfiiffikon (Zurique/Suíça),
em novembro de 1980.
8
Introdução
No Apocalipse Deus mesmo escreve a História. E porque é o
Eterno e paraele tudo - passado, presente e futuro - é eterno
presente, ele escreve a História do futuro. Assim, para Deus os
negros tempos finais, o grande drama humano, já é presente e
realizado. Joãovêo contexto eterno a partir dessaelevada pers-
pectiva. Admitimos somente condicionalmente a divisão crono-
lógica do Apocalipse. Condicionalmente porque a Eternidade
por um lado não pode serclassificada no tempo, mas por outro
ladorealiza-se no tempo. Aí o raciocínio, que querter tudo orde-
nado segundo a lógica humana, entraem conflito comdois fatos
opostos: como conselho eterno de Deus, queestá estabelecido,
e comsuarealização temporal, ou seja, nos tempos finais. A Igre-
ja de Jesus é um organismo, o corpo de Cristo. Mas também o li-
vro do Apocalipse representa um organismo. *
9
Além disso, defendemos a interpretação literal do Apocalipse,
não a simbólica ou alegórica. Mas quando no Apocalipse são uti-
lizadas alegorias, ou seja, figuras e símbolos, isso é dito clara-
mente, tal como pela palavrinha "como". Assim, por exemplo, no
capítulo 10.1: "... como o sol" ou no capítulo 9.5: "... como toro
mento de escorpião" ou também no capítulo 12.1: "Viu-se grande
sinal".
O Apocalipse é a "revelação de Jesus Cristo "(cap, 1.1). Ele revela
portanto a pessoa de Jesus Cristo, e somente ele é o conteúdo
do futuro! No grego, a língua em que foi escrito o Novo Testa-
mento, é usada a expressão "apocalipse" para "revelação de Je-
sus Cristo". Do apocalipse de Jesus Cristo lemos também em 1
Coríntios 1.7: "...aguardando vós a revelação de nosso Senhor
Jesus Cristo." Ali é usada a mesma palavra grega, como também
em 2 Tessalonicenses 1.7: "...quando do céu se manifestar o Se-
nhorJesus". O mesmo diz também 1 Pedro 1.7: "...na revelação
de Jesus Cristo". No mesmo capítulo Pedro diz no versículo 13:
"... na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus
Cristo." O Senhor Jesus também usa essa expressão em Lucas
17.30: "... no dia em que o Filho do homem se manifestar. "Todas
essas são descrições idênticas para o apocalipse, ou seja, a re-
velação de Jesus Cristo.
O último livro da Bíblia é o único livro totalmente profético do No-
vo Testamento e está muito relacionado aos profetas do Antigo
Testamento, ampliando e aprofundando sua mensagem, pois o
maior cumprimento de toda profecia bíblica está no centro do
Apocalipse. E o que é o maior cumprimento da profecia bíblica?
Não um povo ou mesmo povos e também não acontecimentos,
mas uma pessoa: Jesus Cristo! Desse modo, o Cordeiro de Deus
encontra-se no centro do Apocalipse. Por isso é também muito
necessário observar a expressão "cordeiro". O cordeiro mostra-
nos o Filho de Deus em sua obra na cruz de Gólgota. Notável e
maravilhoso ao mesmo tempo é que temos no Apocalipse um
séptuplo desdobramento do caráter e da obra do Cordeiro. Isso
não quer dizer que o Cordeiro é citado somente sete vezes. Não,
o Cordeiro é citado vinte e oito vezes no Apocalipse - isso é qua-
tro vezes sete! O séptuplo desdobramento do caráter e da obra
do Cordeiro é representado por:
1. O sangue do Cordeiro. "e quando (o Cordeiro) tomou o livro, os
quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se
diante do Cordeiro... e entoavam novo cântico, dizendo: ...foste
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morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem
de toda tribo, língua, povo e nação" (cap. 5.8,9). No capítulo 7.14
igualmente encontramos esse pensamento: "Respondi-lhe: Meu
Senhor, tu o sabes. Ele então me disse: São estes os que vêm da
grande tribulação, lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no
sangue do Cordeiro." E mais uma vez no capítulo 12.11: "Eles,
pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro".
2. O livro da vida do Cordeiro. Este é citado duas vezes no Apoca-
lipse: "e adorá-Ia-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles
cujos nomes não foram escritos no livro da vida do Cordeiro que
foi morto, desde a fundação do mundo" (cap. 13.8). "Nela nunca
jamais penetrará cousa alguma contaminada, nem o que pratica
abominação e mentira, mas somente os inscritos no livro da vida
do Cordeiro" (cap. 21.27).
3. Os apóstolos do Cordeiro. Deles lemos no capítulo 21.14: "A
muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre es-
tes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. "
4. A noiva do Cordeiro. Ela é citada em Apocalipse 21.9: "Vem,
mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro".
5. As bodas do Cordeiro. "Alegremo-nos, exultemos, e demos-lhe
a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa
a si mesma já se ataviou" (cep. 19.7).
6. O trono do Cordeiro. Em Apocalipse 22.3 está escrito: "Nunca
mais haverá qualquer maldição. Nela estará o trono do Cordeiro.
Os seus servos o servirão."
o
7. A ira do Cordeiro. "e disseram aos montes e aos rochedos: Cai
sobre nós, e escondei-nos da face daquele que se assenta no tro-
no, e da ira do Cordeiro" (cap. 6.16). Essa ira do Cordeiro será ter-
rível para todo o mundo.
Vemos, portanto: a mensagem central do livro do Apocalipse é a
revelação do Cordeiro de Deus. Pois esse é na verdade o objetivo
de toda a Bíblia. Ela foi escrita e nos foi dada, para que reconhe-
çamos Jesus Cristo, pois essa é a vida eterna. Nesse contexto fi-
ca claro também que no Apocalipse fala-se àqueles que perten-
cem ao Cordeiro: comprados pelo seu, precioso sangue. Como
destinatários são citados em primeiro lugar seus servos: "Revela-
ção de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus ser-
vos as cousas que em breve devem acontecer" (cap. 1.1). Em se-
guida as sete igrejas: "João, às sete igrejas que se encontram na
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Ásia... O que vês, escreve em livro e manda às sete igrejas" (cap.
1.4,11). Deve-se lembrar que os capítulos 2 e 3 são dirigidos a sete
igrejas locais. E no final do livro o Senhor Jesus mesmo diz: "Eu,
Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas cousas às igre-
{es" (cap. 22.16). Essa é uma das razões porque reconheci inte-
riormente a necessidade de me apresentar à Igreja com esse últt-
mo livro da Bíblia. Não devemos negligenciar o Apocalipse, pois
ele dá uma grandiosa visão geral profética sobre todo o Plano de
Salvação neotestamentário: da vinda de Jesus à terra até ao seu
maior triunfo; até ao novo céu e à nova terra. E falsa modéstia di-
zer simplesmente: "Não entendemos isso", como li recentemen-
te em um livro de 1935 sobre o Apocalipse: "Admitamos humilde-
mente que não o entendemos." Mas no Apocalipse está escrito:
"Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia" (cap.
19.10). Portanto, não se pode pregar Jesus Cristo, o crucificado,
sem ao mesmo tempo transmitir a palavra profética. Se não pre-
gamos a palavra profética, não pregamos toda a mensagem da
Bíblia.
O autor do Apocalipse é João, o discípulo "a quem Jesus amava"
(Jo 13.23). Conforme o capítulo 1.9 ele estava banido na ilha de
Patmos (uma pequena ilha no mar Egeu), por causa da palavra de
Deus. Tudo indica que João escreveu esse livro no início do seu
ministério, porque o grego é muito menos fluente do que o grego
do seu evangelho e de suas epístolas, que por conseguinte apa-
receram mais tarde.
Ouçamos, portanto, com coração humilde e em oração o que o
Senhor nos diz e vejamos o que ele nos mostra!
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Eis que vem com as nuvens
"Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus seNOS as cousas que em breve devem acontecer, e que ele,
enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo
João, o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus
Cristo, quanto a tudo o que viu. Bem-aventurados aqueles que
lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as
cousas nela escritas, pois o tempo está próximo. João, às sete
igrejas que se encontram na Asia: Graça e paz a vós outros, da
parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Es-
píritos que se acham diante do seu trono, e da parte de Jesus
.. Cristo, a fiel testemunha, o primogênito dos mortos, e o sobera-
no dos reis da terra. Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos
libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes
para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos
dos séculos. Amém. Eis que vem com as nuvens, e todo olho o ve-
rá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se la-
mentarão sobre ele. Certamente. Amém" (Ap. 1.1-7).
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mas que testificam de mim" (Jo 5.39). Se um filho de Deus nunca
leu toda a Bíblia então ele também nunca viu o Cristo todo! Em
contraste com os outros livros do Antigo e do Novo Testamento,
onde vemos revelado o Salvador, o Filho de Deus, o Rei e o Se-
nhor, o Apocalipse revela-nos o Senhor que está voltando, e por
isso ele é figuradamente a coroa da Sagrada Escritura. Ele nos
mostra o Senhor que está voltando, em sua realização final do
conselho de Deus. Por esse motivo justamente o livro do Apoca-
lipse é também o livro do consolo para a Igreja nos tempos finais,
e é o que são os crentes de hoje. Se não temos luz sobre a palavra
profética, então vemos somente um grande caos e as maquina-
ções e astúcias do inimigo que nos cercam. Pois que falsidade
procede no inferno! Mas, em meio a essas insuportáveis trevas
dos tempos finais, foi-nos dado um livro que se chama "Apoca-
lipse" = "Revelação". Os juízos terríveis que se abatem sobre
este mundo e são mostrados no Apocalipse, servem para prepa-
rar o caminho, ou seja, preparar o mundo para a revelação visível
de Jesus Cristo. Não se trata, portanto, somente do homem ga-
nhar o que merece, ou seja, juízo e que se realize a justiça de
Deus, mas de preparação do caminho.
Isso é assim também em tua vida pessoal: quando o Senhor te le-
va através de juízos como doenças, aflições psíquicas, decep-
ções, etc., então isso tem somente um objetivo: o entulho do pe-
cado deve ser retirado do teu coração, para que Jesus Cristo pos-
sa revelar-se mais clara e gloriosamente em ti e através de ti!
"Eis que vem com as nuvens..." (v. 7). Esse é o cerne, a verdadeira
mensagem do Apocalipse! João mostra-nos Jesus como o Se-
nhor real, a quem Deus deu todos os juízos e todo poder no céu e
na terra. Tudo está nas mãos de Jesus! Pois depois que ele solu-
cionou definitivamente na cruz de Gólgota a questão da culpa da
Humanidade, agora no fim dos tempos será resolvida a questão
do poder.
Para filhos de Deus é um maravilhoso fato, que pela fé ambas as
questões já estão resolvidas em princípio, isto é: o Senhor Jesus
já nos purificou e redimiu da culpa do pecado pelo seu sangue, e
ele também nos redimiu do poder do pecado. "Porque o pecado
não terá domínio sobre vós" (Rm 6.14a). Do que ainda não esta-
mos livres é da presença do pecado, do pecado em nós. "Porque
eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem ne-
nhum" (Rm 7. 18a). Através desse fato explica-se porque crentes
às vezes tornam-se verdadeiros monstros. Eles ainda não estão
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sob o domínio do Espírito de Deus. Mas a vitória existe! Paulo ex-
clama: "Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de
nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Co 15.57).
Qual é o fundamento da sua volta? Seu amor. Por causa do seu
amor ele comprou sua Igreja com o seu próprio sangue. Que
grandioso é quando em Apocalipse 1.5é dito de um só fôlego: "e
da parte de Jesus Cristo, a fiel testemunne, o primogênito dos
mortos, e o soberano dos reis da terra. Aquele que nos ama, e pe-
lo seu sangue nos libertou dos nossos pecados. " Conforme nos-
so pensamento natural deveria ser diferente: primeiro lavado e
então amado. Mas é justamente o contrário: ele nos amou pri-
meiro! Ele nos amou quando ainda estávamos em imundície e
pecado; homens do mundo, que eram seus inimigos e perse-
guiam coisas diabólicas.
O resultado desse amor inefávelmente grande é inimaginável:
depois que ele nos lavou com o seu sangue, também "nos consti-
tuiu reino, sacerdotes para o seu Deus e pai, a ele a glória e o do-
mínio pelos séculos dos séculos. Amém" (v. 6). E logo a seguir
vem a promessa: "Eis que vem..." (v. 7a).
Por que nós, depois que nos convertemos, ainda temos que ficar
aqui na terra? Não seria melhor ir logo para a glória?! A profunda
razão da nossa permanência aqui na terra é que devemos tornar
visível a vitória de Cristo até à sua revelação. Essa é nossa tarefa
temporária, até quea questão do poder seja solucionada por ele
mesmo visivelmente. Por isso temos em Hebreus 2.8 esta apa-
rente contradição: "Todas as causas sujeitaste debaixo dos
seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as causas, nada dei-
xou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas
as causas a ele sujeitas." Por que ainda não as vemos? Porque
ainda estamos na terra. Mas nós somos os portadores da vitória;
levamos o estandarte de Jesus. Neste meio tempo - entre sua
primeira e sua segundavinda - temos a responsabilidade de
aplicar a vitória de Jesus. Paulo disse isso magistralmente: "Gra-
ças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo,
e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu
conhecimento" (2 Co 2.14). Em outras palavras: antes de revelar-
se visivelmente, ele se revela através de nós. Paulo utiliza aqui
uma figura da vida dos antigos gregos. Os vencedores de tor-
neios, as "Olimpíadas" de então, eram conduzidos em triunfo pe-
la arena, sob os aplausos retumbantes de milhares de especta-
dores. Eles eram, como diz Paulo, coroados com uma coroa cor-
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ruptível. E ele continua dizendo que quem tem Jesus no coração
é sempre conduzido em triunfo, manifestando assim a fragrân-
cia do seu conhecimento. Isso quer dizer, a realidade da vitória
de Jesus é espalhada em todos os lugares. Qual é tua situação a
respeito, no teu local de trabalho? Tua profissão, se elevada ou
humilde, não- tem importância nesse caso. Interessa somente
que "sejas conduzido em triunfo", e que em todos os lugares on-
de entrares em contato com pessoas, seja manifesta a fragrân-
cia do seu conhecimento. Paulo fala também de uma experiên-
cia pessoal: "ao que... aprouve revelar seu Filho em mim" (GI
1.15,16).
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Se agora analisarmos mais uma vez o primeiro versículo do Apo-
calipse, então percebemos que João deve mostrar essa revela-
ção de Jesus Cristo segundo a vontade de Deus aos seus servos.
Quem é um servo ou uma serva de Deus? Isso é um filho de Deus
que subordinou sua vontade à vontade do senhor; que lhe é obe-
diente. O salmista pergunta: "que é o homem, que dele te lem-
bres?" (SI 8.5), mas justamente quando somos um servo ou uma
serva de Deus, temos alto significado aos olhos de Deus. Pois
nada nos separa tanto do Deus vivo como nossa maldita vontade
própria, e nada nos une tanto mais com ele do que sua amorosa
vontade salvadora em Jesus Cristo.
Principalmente nos tempos finais, servos e servas de Deus não
devem, portanto, desconhecer o que Deus fará no final do tempo
da graça: o Senhor eliminará o domínio de Satanás e todos os po-
deres satânicos e anticristãos, estabelecendo seu glorioso reino
de paz! Conseqüentemente o Apocalipse não é, como se afirma
freqüentemente, um livro fechado com sete selos, mas um livro
aberto, sendo para todos os servos e servas de Deus uma orien-
tação e um fortalecimento da fé no Senhor Jesus nas trevas dos
tempos finais. Por isso o Senhor diz a João no final do Apocalip-
se exatamente o contrário daquilo que disse a Daniel, ou seja:
"Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo
está próximo" (cap. 22.10). Em outras palavras: quero tê-lo aber-
to. A cada um que pesquisa nele, deve ser revelado. Mas ao pro-
feta Daniel, que recebeu suas profecias aproximadamente 650
anos antes, o senhor diz: "Tu, porém, Daniel, encerra as palavras
e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o
saber se multiplicará" (Dn 12.4). Nesse "tempo do fim" vivemos
hoje, motivo porque o saber se multiplica. Pela sua graça, o Se-
nhor nos transmite muito saber sobre a palavra profética. Mas
agora cumpre-se a palavra da Escritura que tanto gostamos de
ler na época do Advento: "Dispõe-te, resplandece, porque vem a
tua luz, e a glória do Senhor nasce sobre ti. Porque eis que as tre-
vas cobrem a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti aparece
resplendente o Senhor, e a sua glória se vê sobre ti" (ls 60.1-2). No
Plano de satvecão isso realiza-se primeiro com Israel e então
com a Igreja de Jesus. Encontramo-nos em meio ao advento do
Plano de Salvação! "Eis que vem com as nuvens..." A escuridão
não deve assustar-te, pois quanto mais escura a noite, tanto
mais próxima está a manhã! Assim está escrito em Isaías 21.12:
"Vem a manhã, e também a noite..."
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"Eis que vem com as nuvens", isso significa: ele vem com a Igre-
ja em glória. Mas poderíamos também dizê-lo assim: então ele
rompe tudo que é duro e escuro. Chegou a sua hora de assumir o
poder. Tudo fica luz. Quando se fala da vinda de Jesus, então as
palavras simplesmente não são suficientes. Esse "Eis que vem"
é um poderoso trovejar, que ecoa de nuvem em nuvem, enchendo
todo o céu e abalando a terra. Exatamente assim essa mensa-
gem "Eis que vem" enche toda a Bíblia. De livro em livro ela ecoa
sempre mais poderosamente em nossos ouvidos e em nossa
consciência. Daniel viu o Senhor em sua volta: l i••• e eis que vinha
com as nuvens do céu um como o Filho do homem..." (Dn 7. 13b).
E então ele diz nos versículos 14 e 27, que o reino a ser estabeleci-
do será eterno e que pertencerá ao povo dos santos, a Israel:
"Foi-lhe dado domínio e glória, e o reino, para que os povos, na-
ções e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é
domínio eterno, que não passará... O reino e o domínio, e a ma-
jestade dos reinos de baixo de todo o céu, serão dados ao povo
dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os
domínios o seNirão e lhe obedecerão."
O Senhor mesmo garante sua volta em Mateus 24.30: u... e verão
o Filho do homem vindo ..."Ele não diz "com as nuvens", mas uso-
bre as nuvens". Ele vem, envolto com grande poder e glória, para
o juízo sobre as nações. E todos o verão, gritarão e lamentarão:
l i... (aos montes): Cobri-nos! e aos outeiros: Caí sobre nós!" (Os
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cer o contato entre a capacidade de compreensão de João e os
acontecimentos eternamente válidos - o Apocalipse de Jesus
Cristo. Isso parece ser algo impossível. Mas esse é justamente o
milagre da revelação de Jesus Cristo no livro do Apocalipse: que
foi mostrado a João em Patmos o que "Nem olhos viram, nem ou-
vidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que
Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Co 2.9b), de tal
maneira que ele pudesse compreendê-lo! Sim, ele não somente
pôde compreendê-lo, mas também escrevê-lo. João mesmo con-
firma esse fato inimaginável, que também viu o Apocalipse: "o
qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo,
quanto a tudo o que viu" (v. 2). Humanamente, uma impossibili-
dade. Mas assim era também muitas vezes com os profetas da
Antiga Aliança. Por exemplo, em Miquéias 1.1: "Palavra do Se-
nhor, que em visão veio a Miquéias, morastita, nos dias de Jotão,
Acaz e Ezequias, reis de Judá, sobre Samaria e Jerusalém."
Compare também Isaías 1.1-2 e Obadias 1.1. Foge ao nosso co-
nhecimento como os profetas e João ouviram e ao mesmo tem-
po viram a Palavra, de modo que puderam captá-Ia e escrevê-Ia.
Mas se já o diabo pôde mostrar ao Senhor Jesus em um momen-
to sobre um alto monte todos os reinos do mundo e sua glória,
quanto mais esse anjo enviado por Deus pôde tornar o incom-
preensível compreensível e o invisível visível para João!
19
2. "... Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no
Senhor" (cap. 14.13).
3. "Bem-aventurado aquele que vigia..." (cap. 16.15).
4. "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bo-
das do Cordeiro" (cap. 19.9).
5. "Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira
ressurreição" (cap. 20.6).
6. "Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia
deste livro" (cap. 22.7).
7. "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no
sangue do Cordeiro" (cap. 22.14).
Surpreendente é que a primeira bem-aventurança no Apocalipse
contém uma condição: "Bem-aventurados aqueles que lêem e
aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as cousas
nela escritas". Temos que lembrar que a maioria dos crentes de
então dependia de ouvir, pois ainda não havia sido descoberta a
arte da impressão. Como tudo tinha que ser trabalhosamente co-
piado a mão, nem todos tinham um Antigo Testamento à disposi-
ção. Além disso havia também analfabetos. Por isso a Escritura
- e mais tarde também as epístolas dos apóstolos - era lida.
Em uma tradução inglêsa a primeira bem-aventurança é formula-
da daseguinte maneira: "Especialmente abençoados são aque-
les que ouvem, lêem e guardam as profecias. "O ouvir correto de
qualquer maneira é pressuposto no Apocalipse, pois sempre no-
vamente está dito: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz
às igrejas. "
Nós somos pessoas privilegiadas, pois temos uma Bíblia! Tu a
utilizas? Se não compreendes muitas coisas, ora a respeito. O
Senhor te dará maior entendimento. Lê, ouve e guarda-o no teu
coração, e serás bem-aventurado.
"...pois o tempo está próximo", prossegue João. Conforme o ca-
lendário de Deus, a História Mundial e da Humanidade, com o
nascimento do Senhor Jesus, sua morte na cruz, ressurreição e
ascensão e com Pentecoste, entrou num estágio não somente
decisivo mas também final, de encerramento - nos tempos fi-
nais. Por isso é dito: "nestes últimos dias nos falou pelo Filho"
(Hb 1.2a). Por ocasião do derramamento do Espírito Santo, Pedro
sabia: "Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profe-
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ta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derra-
marei do meu Espírito sobre toda a carne ..." (At 2.16-17). De acor-
do com isso, a História dos tempos finais no sentido do Novo
Testamento não é somente a História do final dos últimos tem-
poso Pelo contrário, todo o Plano de Salvação neotestamentário
é progressiva realização da História dos tempos finais. Nesse re-
conhecimento viviam também os apóstolos e os primeiros cris-
tãos. Por isso - há dois milênios - eles nunca podiam dizer:
"Meu senhor demora-se", como fez o servo mau em Mateus
24.48b. Portanto, eles já viviam naquele tempo conscientemente
na última hora, nos tempos finais, e por isso estava no centro dos
seus pensamentos, palavras e ações: Jesus vem! Esse era seu
motor. Hoje, porém, não vivemos mais na última hora, mas no úl-
timo segundo! "Eis que vem com asnuvens!" Quais foram os pri-
meiros destinatários do Apocalipse de Jesus Cristo através de
João? Após a grandiosa introdução ele dirige-se diretamente a
eles. Parece quase antigo-testamentário, quando no versículo 4
ele se dirige a eles em forma epistolar: "João, às sete igrejas que
se encontram na Asia: Graça e paz a vós outros, da parte daquele
que é..."Quem é renascido pertence a essa igreja comprada pelo
sangue e ouve agora a confirmação do Espírito Santo em seu co-
ração, quando lê o primeiro louvor no Apocalipse: "e nos consti-
tuiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o do-
mínio pelos séculos dos séculos. Amém"(v. 6). Esse primeiro lou-
vor procede de João, que ainda está na terra, enquanto todos os
seguintes se elevam dos santos glorificados e dos seres celes-
tiais, que louvam a Deus e ao Cordeiro.
Qual era o segredo de João, dele ter recebido tantas revelações
do Senhor? Nenhum outro apóstolo pôde ver coisas tão grandio-
sas como ele. Se desejamos que o Senhor possa revelar-se atra-
vés da nossa vida, então deveríamos conhecer esse segredo de
João. João não era um homem especialmente erudito. Seus es-
critos mostram que tinha um vocabulário restrito. Mas João foi o
único dos doze discípulos que permaneceu junto à cruz de Gól-
gota até que Jesus morreu. Ali ele, que tinha sido chamado "filho
do trovão" pelo Senhor, morreu junto no próprio ser. Desse mo-
do, no seu Evangelho ele não ousa falar de si mesmo na primeira
pessoa, mas escreve na terceira pessoa. Ele não quer mais des-
tacar a si mesmo, mas diz: "Aquele que isto viu, testificoiJ, sendo
verdadeiro o seu testemunho; e ele sabe,que diz a verdade, para
que também vós cretets" (Jo 19.35). Desde que viu Jesus, o Cor-
deiro de Deus, ele não ousa mais destacar a si mesmo. Na medi-
21
da em que vimos Jesus e permanecemos na posição de estar
crucificados com ele, não ousamos mais colocar a nós mesmos
em primeiro plano. Todos os que buscam honra com homens
nunca ainda viram Jesus! Quem viu Jesus em seu amargo sofri-
mento e em sua morte na cruz de Gólgota, esse odeia a si mes-
mo, coloca-se em segundo plano e pede: Senhor, revela-te tu! Tal
pessoa não é um fariseu, que é orgulhoso da sua piedade. João
não pode evitar de citar algumas vezes a si mesmo, quando ele
quer testemunhar o que viu. Mas então ele faz uma grande volta
em torno de si. Assim, por exemplo, em João 13.23:HOra, ali esta-
va conchegado a Jesus, um dos seus discípulos, aquele a quem
Jesus amava." Por isso o Senhor pôde dizer através dele em Apo-
calipse 2.4: "Tenno, porém, contra ti que abandonaste o teu pri-
meiro amor. "Somente porque amava tanto assim ao Senhor, ele
podia falar da perda do primeiro amor. Não podemos levar pes-
soas interiormente mais longe - nem através de um folheto ou
de um testemunho - do que nós mesmos estamos. O ser apaga-
do de João aparece também principalmente em sua introdução.
Pois ele não diz no capítulo 1.4 algo como: "João, um apóstolo e
servo de Jesus Cristo escolhido desde o ventre materno", mas
simplesmente cita seu nome. Ele, portanto, abre mão até do títu-
lo, como por exemplo Paulo e Pedro o utilizam com razão, para
que os destinatários logo soubessem com quem estavam tratan-
do. Mas João, que tinha visto o Cristo crucificado e vê o Senhor
que está voltando, diz simplesmente: "João, às sete igrejas que
se encontram na Asia...''. Em seguida ele pronuncia a bênção do
Deus triúno sobre as sete igrejas, referindo-se primeiro a Deus, o
Pai: "Greçe e paz a vós outros da parte daquele que é, que era e
que há de vir". Então ele cita o Espírito Santo: da parte dos se-
H •••
dos mortos, e o soberano dos reis da terra ..." (v. 5a). Ele louva o
Filho - H ••• a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos.
Amém" (v. 6a) -, e logo segue a mensagem: HEis que vem com
as nuvens ..."(v. 7).
Ninguém na terra pode escapar do encontro com Jesus Cristo.
João acentua expressamente no versículo 7b: H ••• e todo olho o
verá (isto é, as nações), até quantos o traspassaram (isto é, Is-
rael)." Quando ele vier com as nuvens, aparecerá como "fiel tes-
temunha" para Israel e como "primogênito dos mortos" para a
Igreja. Para as nações ele vem como o "soberano dos reis da ter-
ra." Seus comprados pelo sangue e sua volta são como que cita-
22
dos de um s6 fôlego. Versículo 5b: "aquele que nos ama, e pelo
seu sangue nos libertou dos nossos pecados." Versículo 7 : "Eis
que vem com as nuvens." Isso significa que o renascido, com ba-
se no sangue de Jesus é um corpo com ele!
23
Jesus Cristo e a Igreja em
glória
"Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que
era e que há de vir, o Todo-poderoso. Eu, João, irmão vosso e
companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Je-
sus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de
Deus e do testemunho de Jesus. Achei-me em espírito, no dia do
Senhor, e ouvi por detrás de mim grande voz, como de trombeta,
dizendo: O que vês, escreve em livro e manda às sete igrejas: Efe-
so, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.
Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete can-
deeiros de ouro, e, no meio dos candeeiros, um semelhante a fi-
lho de homem, com vestes talares, e cingido à altura do peito
com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos
como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés
semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa forna-
lha; a voz como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete
estrelas, e da boca saia-lhe uma afiada espada de dois gumes. O
seu rosto brilhava como o sol na sua força. Quando o vi, cai a
seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direi-
ta, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que
vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos sé-
culos, e tenho as chaves da morte e do inferno. Escreve, pois, as
cousas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois
destas. Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha
mão direita, e os sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os
anjos das sete igrejas e os sete candeeiros são as sete igrejas"
(Ap 1.8-20).
24
princípio e o fim. Mas isso tem um significado ainda mais profun-
do, ou seja: Jesus Cristo é o Verbo eterno. Além dele não existe
mais nada a dizer, pois ele é a Palavra em sentido mais completo
e perfeito: nestes últimos dias nos falou pelo Filho" (Hb 1.2).
l i...
poderoso" (v. 8). A ele somente foi dado todo poder no céu e na
terra. Se estivéssemos mais imbuídos dessa verdade, seríamos
muito mais tranqüilos! Somos freqüentemente afligidos por dlfe-
rentes poderes debaixo do céu - por poderes das trevas. Mas a
ele, Jesus Cristo, foi dado todo poder e domínio e majestade. Es-
sa é a elevada pessoa do nosso abençoado Redentor!
25
vós" (Lc 17.21b). Justamente nesta geração realiza-se a transfe-
rência do reino de Deus para Israel, pois em Israel o reino de
Deus torna-se visível. Terceiro: li... e na perseverança, em Jesus".
A Edição Revista e Corrigida diz: li... e paciência de Jesus Cristo".
Esse é o segredo do poder de Gólgota: perseverar em Jesus, per-
severar na posição de estar crucificado com ele, na paciência. E
isso que mais convence nesse mundo agitado, esse é o testemu-
nho mais eficiente. Normalmente temos paciência enquanto
não necessitamos dela. Pedro diz: " e tende por salvação a longa-
nimidade de nosso Senhor" (2 Pe 3.15a). Que João aqui não diz
frases vazias é provado pelo fato dele encontrar-se em meio a
uma provação da fé. Ele, o apóstolo, que falou diante de milha-
res, está agora completamente isolado e sozinho na ilha de Pato
mos no Mediterrâneo. Por quê? João mesmo responde à pergun-
ta: ": por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus"
(v. 9b). Ele estava, portanto, banido por causa de Jesus. Nós cris-
tãos no Ocidente (atualmente ainda) livre, ainda não estamos ba-
nidos por causa de Jesus. No Oriente a situação é bem diferente.
Muitos irmãos atrás da Cortina de Ferro e em outros lugares
encontram-se em "Patmos" por causa da palavra de Deus e do
testemunho de Jesus.
No versículo 10 João fala em grande autoridade a partir dessa ex-
periência da revelação de Jesus Cristo. Pois não se pode teste-
munhar algo que não se viu. Mas ele o viu! Aqui ele já fala no tem-
po passado. Nisso ele não tagarela simplesmente, mas diz de
modo curto e preciso: "Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e
ouvi por detrás de mim grande voz, como de trombeta" (v. 10).
Que maravilhoso contraste: por um lado João (por causa da pala-
vra de Deus e do testemunho de Jesus), está solitário e abando-
nado na tribulação, na qual permanece com perseverança, mas
por outro lado ele pode testemunhar: "Achei-me em espírito, no
dia do Senhor". Ele viu Jesus em glória! Nessa contradição
encontram-se todos os verdadeiros filhos de Deus: por um lado
provados interiormente e perseguidos pelo inimigo, por outro la-
do experimentando a revelação do Senhor Jesus! Isso era assim
também com Paulo. Ele era um perseguido. Ele relaciona o que
sofreu por amor de Jesus: fome, naufrágios, açoites, fustigação
com varas. Além disso ele sofreu com falsos irmãos, etc. E tudo
isso, apesar de que ele poderia gloriar-se na "carne". Mas ele diz:
"Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa
de Cristo... e as considero como refugo, para ganhar a Cristo"(Fp
3.7,8b). Em outras palavras: Cristo está revelado em mim.
26
De que dia fala João quandodiz: "Achei-me em espírito, no dia do
Senhor"? Não se trata do domingo, como pensam alguns, mas o
grande, terrível, mas no final glorioso dia, do qual também os pro-
fetas do Antigo Testamento falaram tanto. Também eles viram
esse terrível período de juízos, que agora está para acontecer, no
final do qual o Senhor virá em grande poder e glória com sua Igre-
ja. Jeremias confessou o que sentiu com tal visão: "AM meu co-
ração! meu coração! Eu me contorço em dores. Oh! as paredes
do meu coração! Meu coração se agita!" (Jr 4.19). O grande e ter-
rível dia do Senhor é a Grande Tribulação. Por que João o vê co-
mo se fosse presente, apesar de vê-lo aproximadamente dois mi-
lênios antes da realização. Porque ele se achava no espírito do
Senhor. Quanto mais, como filhos de Deus, nos achamos no es-
pírito do Senhor, tanto mais o futuro se torna presente para nós;
tanto mais somos capazes de reconhecer a palavra profética e
ouvir o falar de Deus. "Perguntai-me as cousas futuras", diz ele
através do profeta Isaías (Cap. 45.11, Ed. Rev. e Corr.).
João afirma: "e ouvi por detrás de mim grande voz, como de trom-
beta" (v. 10b). Com isso começa realmente a visão da glória do
Senhor. João aparentemente está surpreso por ouvir essa gran-
de voz atrás de si e não à sua frente ou do lado. Por que ela se ou-
ve atrás dele? Certamente para que toda outra voz que pudésse
desviá-lo - também sua própria - seja excluída.
Tantos filhos de Deus andam em ziguezague, porque não ouvem
a voz do Senhor atrás de si. Mas temos a promessa: "... os teus
I' ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o cami-
nho, andai por ele" (ls 30.21). Por isso: Aquieta-te! Ouve e anda!
Também Noé somente recebeu a completa certeza de que ele e
sua família estavam salvos, quando o Senhor fechou a porta da
arca após eles (Gn 7.16b). Ezequiel teve a mesma experiência.
Em Ezequiel 3.12 está escrito do Espírito que o levantou e de uma
voz de grande estrondo, que ele ouviu atrás de si.
João diz agora aqui no versícu lo 10: "...grande voz, como de trom-
beta". A palavrinha "como" significa que João tenta descrever o
indescritível. Por isso a palavrinha "como" aparece aproximada-
mente setenta vezes no Apocalipse. Além disso ele utiliza tam-
bém expressões como "semelhante". Aqui trata-se, portanto, de
um som sobrenatural e assustador, que contém tudo. Trata-se
da trombeta de Deus. Na Bíblia há duas trombetas, que são sem
repetição. A primeira foi ouvida no monte Sinai, quando Deus
27
reuniu seu povo terreno, Israel (Êx 19.16). A última trombeta de
Deus será ouvida quando ele reunir seu povo celestial, quando
ele arrebatar sua Igreja. João ouve essa trombeta. Que ele conta
logo duas vezes (no v. 8 e 11)o que o Senhor lhe disse em primeiro
lugar, prova sua comoção. A voz disse: "Eu sou o Alfa e o Ômega,
o princípio e o fim" (Ap 1.8, Ed. Rev. e Corr.). Isso é um grande con-
solo para ti! Aquilo que experimentas agora - o dia-a-dia, do
qual talvez tens medo por algum motivo, seja por causa da tua si-
tuação familiar, do teu estado de saúde precário, das tuas condi-
ções de trabalho, etc. - não é o princípio e o fim. Jesus é o princí-
pio e o fim! João está abalado, porque não vê mais o Senhor Je-
sus como o Salvador, mas como o Cristo. Ele, portanto, não o vê
mais como Aquele que andou por trinta e três anos nesta terra,
curando e ajudando. Não, ele o vê como o Eterno. O que nos cha-
ma a atenção aqui também é quão claramente o Senhor dá a or-
qern a João: liaque vês, escreve em livro e manda às sete igrejas:
Efeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia"
(v. 11). O Senhor cita as coisas pelo nome, para que João saiba
exatamente o que deve fazer: escrever aquilo que o Senhor lhe or-
denou. Qualquer possibilidade de um mal-entendido estava ex-
cluída. Sua tarefa era para ele um elevado compromisso, e ele
também a executou. Suponhamos que João tivesse ficado para
sua própria edificação com tudo que lhe foi revelado de maneira
tão farta. Pois ele poderia ter dito: Estou aqui tão sozinho - que
maravilhoso que o Senhor me fortalece de maneira tão especial.
Ou ele poderia ter dito que estava cansado e queria finalmente
recuperar-se um pouco. Mas não, João escreveu!
João relata mais: "Voltei-me para ver quem falava comigo ..." (v.
12a). O Espírito Santo, que havia tomado conta de João, volta-o,
isto é, afasta-o da visão natural, presente - afasta-o do que é ter-
reno. Pois o homem natural nada entende das coisas do Espírito.
Elas lhe são loucura. Afasta-te da atual direção do teu olhar e
volta-te para Aquele que te fala.
28
o que João vê quando se volta? Elevê agora o Cristo glorificado?
Inicialmente não, mas: voltado, vi sete candeeiros de ouro" (v.
l i...
29
Ele era o centro na estrebaria de Belém. Incontáveis anjos canta-
vam. Cientistas ("magos") vieram de muito longe para adorá-lo.
Do mesmo modo também os pastores. Todos procuravam e
acharam o menino Jesus e todos falavam dele. Ele era também o
centro da ação de Deus na cruz de Gólgota. Pois "Deus estava
em Cristo, reconciliando consigo o mundo" (2 Co 5.19). Ele, o Cor-
deiro de Deus, será o centro da glória de Deus e iluminará a nova
Jerusalém. Ele somente é a fonte, a vida, o poder, o futuro, o ca-
beça da Igreja. Assim João vê que Jesus Cristo e sua Igreja 'são
inseparáveis. Ela não tem luz sem ele. Ela não tem vida sem ele.
Ela não é capaz de amar sem ele. Tudo é dele e através dele e pa-
ra ele. Não é surpreendente que João nem descreve os candeei-
ros de ouro em si? Ele simplesmente constata sua existência.
Seus olhos fixam-se imediatamente naquele que se encontra no
meio dos candeeiros, a verdadeira fonte de luz. Nunca devemos
imaginar que ele se mantém passivo no centro de nossa vida ou
da nossa igreja. Não! Em Apocalipse 2.1 está dito que ele anda:
li... que anda no meio dos sete candeeiros de ouro", isto é: ele não
li... com vestes talares " (v. 13). Chama a atenção que na descri-
30
beça e seus cabelos, que brilham como alva lã, como neve. Com
isso ele quer dizer que sobre ele repousa o indescritível fulgor da
glória celestial. A coroa de espinhos transformou-se em coroa de
honra. Os olhos de Jesus são vistos por João não mais cheios de
lágrimas, como os viu quando Jesus chorou sobre Jerusalém,
mas como chamas de fogo. Encontramos os mesmos olhos em
Apocalipse 19.12: "Os seus olhos são chama de fogo; na sua ca-
beça há muitos diademas."
Esses são os olhos do seu amor justo e santo, que tudo perscru-
tam. Também agora esses olhos nos olham da sua glória. Aí um
homem sucumbe; como Pedroquando Jesus voltou-se e olhou-o.
Os pés de Jesus são vistos por João não mais traspassados,
mas: "... semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa
fornalha" (v. 15). Os olhos como chamas de fogo e os pés como
refinados numa fornalha - isso mostra Jesus como o Juiz. Ele
não é, portanto, somente Rei e Sacerdote. Também no capítulo
2.18 nós o vemos como Juiz: "Estas causas diz o Filho de Deus,
que tem os olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao
bronze polido." Que aqui ele realmente aparece como Juiz para
as nações e como ReconciIiador e Sumo Sacerdote para Israel,é
provado pelo fato de que justamente a Tiatira ele fala também de
juízo e graça: "Eis que a prostro de cama, bem como em grande
tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam"
(cap. 2.22). Isso é juízo. Mas ele acrescenta: "Digo, todavia, a vós
• outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa dou-
r• trina e que não conheceram, como eles dizem, as causas profun-
das de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão somente
conservai o que tendes, até que eu venha. Ao vencedor, e ao que
guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade so-
bre as nações" (cap. 2.24-26). Isso é graça!
A voz que João ouve não é mais a voz suave do bom pastor, que
calou-se, como uma ovelha diante do seu tosquíador, quando foi
cuspido, injuriado e finalmente pregado na cruz. Agora a voz é
tão poderosa, que João precisa novamente usar a palavrinha
"como": "... como voz de muitas águas" (v. 15). Não é essa a voz
de juízo de Deus, que sempre novamente ouvimos na Bíblia? Je-
remias também a ouviu. Ele compara-a com a voz de leão que ru-
ge (comp.Jr 25.30-38). Também Joel descreveessa vozjulgadora:
"O Senhor brama de Sião, e se fará ouvir de Jerusalém, e os céus
e a terra tremerão; mas o Senhor será o refúgio do seu povo, e a
fortaleza dos filhos de Israel" (JI 3.16). Também esse texto mos-
31
tra claramente: sua voz significa juízo sobre as nações e graça
para Israel. Também Amós ouviu essa voz do Senhor: "Ele disse:
O Senhor rugirá de Sião, e de Jerusalém fará ouvir a sua voz; os
prados dos pastores estarão de luto, e secar-se-á o cume do Car-
melo" (Am 1.2). Da mesma forma Oséias: "Andarão após o Se-
nhor; este bramará como leão, e bramando, os filhos, tremendo,
virão do ocidente" (Os 11.10).
Agora João nos mostra em Apocalipse 1.16 o rosto do Senhor
elevado. Mas antes de descrever seu rosto, ele fala da sua mão
direita. Não se trata mais da mão na qual um soldado romano a
caminho de Gólgota colocou um caniço, para zombar da sua dig-
nidade real. Não, agora ele segura as sete estrelas em sua mão:
"Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão di-
reita ... as sete estrelas são os anjos das sete igrejas ..." (v. 20). Ele
segura, portanto, em sua mão direita, traspassada, os responsá-
veis das sete igrejas. Vemos aqui a volta de Jesus em grande po-
der e glória com a Igreja glorificada!
Então João fala da boca do Senhor. Ele não vê a boca do Senhor
na qual um soldado bateu. Não, ele vê como da sua boca sai uma
espada afiada de dois gumes (v. 16). Essa é a Palavra de Deus
que se tornou carne. "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra
até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta
para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hb
4.12). Paulo diz que ele destruirá o iníquo "com o sopro de sua bo-
ca" (2 Ts 2.8).
E então João descreve o rosto. Esse é tão magnífico para ele, que
João não pode olhá-lo. Pois novamente encontramos a palavri-
nha "como": "... brilhava como o sol na sua força" (v. 16b). A Edi-
ção Revista e Corrigida diz: ".. era como sol, quando na sua força
resplandece." Não sapode olhar para o sol. Mas a Israel está pro-
metido: "Mas para vós outros que tem eis o meu nome nascerá o
sol da justiça..." (MI4.2).
Assim, no início da revelação de Jesus Cristo, João vê o essen-
cial: ele vê Jesus Cristo mesmo como Rei, Sacerdote, Profeta e
Juiz. A figura martirizada - o mais desprezado - transformou-
se agora em figura de vencedor! João fica prostrado pela santi-
dade e majestade de Jesus Cristo: "Quando o vi, caí a seus pés
como morto"(v. 17). O Senhor, porém, não o deixa caído, mas põe
sobre ele a sua mão direita, dizendo: "Não temas; eu sou o pri-
32
meiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que es-
tou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e
do inferno" (w. 17b-18). Apesar de João ser salvo, ele conti nua na
terra. Por isso ele ainda não pode ver o Senhor revelado.
34
A primeira carta do céu
"Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas cousas diz aquele
que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio
dos sete candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, assim o teu
labor como a tua perseverança, e que não podes suportar ho-
mens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se decla-
ram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perse-
verança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te
deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o
teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te,
e volta à prática das primeiras obras; e se não, venho a ti e move-
rei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. Tens,
contudo, a teu favor, que odeias as obras dos ntooteites, as quais
eu também odeio. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz
às igrejas. Ao vencedor dar-Ihe-ei que se alimente da árvore da vi-
da que se encontra no paraíso de Deus" (Ap 2.1-7).
35
nesse caso realmente de um ser angélico? É quase certo que
não. Pois a palavra "anjo" é também freqüentemente traduzida
como "mensageiro". A explicação mais razoável é que se fala
aqui dos líderes da igreja. Em volta da ilha de Patmos no Mar Me-
diterrâneo, onde o apóstolo João estava banido, encontravam-se
as sete igrejas da Asia Menor. Os sete anjos, ou seja, anciãos,
mantinham a comunicação entre João e as igrejas (cap. 1.19-20).
Eles tinham uma grande responsabilidade. Já sentimos isso na
leitura do primeiro versículo: "Ao anjo da igreja em Éfeso escre-
I(e. " Pois o que o Senhor mandou escrever ao ancião da igreja em
Efeso, era destinado a toda a igreja. Sua responsabilidade con-
sistia, portanto, em transmitir fielmente à igreja tudo o que o Se-
nhor disse a João e que João escreveu. Também nós temos essa
responsabilidade, desde que sejamos servos ou servas do Se-
nhor Jesus: transmitir aquilo que o Senhor nos diz. Ele confiou-
nos muito! Mas é também uma enorme bênção quando transmi-
timos o que recebemos! Essa, aliás, era também uma das maio-
res fontes de poder do nosso Senhor Jesus. Ele testemunha na
oração sacerdotal: "porque eu lhes tenho transmitido as pala-
vras que me deste ..." (Jo 17.8). Quão pobres e miseráveis são as
igrejas e congregações que não têm mais mensageiros que incli-
nam seus ouvidos para a Bíblia, para o coração de Deus!
E agora o Senhor elevado, o Autor, fala de si mesmo no versículo
1: "Estas cousas diz aquele que conserva na mão direita as sete
estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro." O que
significa isso não é um segredo, pois a Bíblia fornece comentário
para a Bíblia. De modo que alguns versículos antes, é dito o que
são os sete candeeiros: "Quanto ao mistério das sete estrelas
que viste na minha mão direita, e os sete candeeiros de ouro, as
sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros
são as sete igrejas" (cap. 1.20). Portanto, está claro o que o Se-
nhor quer dizer com a frase: "Estas cousas diz aquele que con-
serva na mão direita as sete estrelas ..."Que consolo: ele conser-
va seus servos em sua mão! És um servo, uma serva de Jesus?
Então isso vale também para ti! "... ninguém as arrebatará da mi-
nha mão" (Jo 10.28). E o que diz o Senhor elevado, que anda no
meio dos sete candeeiros, das sete igrejas. Quão grande é a luz
de uma igreja! No Antigo Testamento, Israel tinha somente uma
luz, a Menorá, que iluminava o tabernáculo e mais tarde o tem-
plo. As sete igrejas representam a Igreja completa. Ela tem uma
séptupla plenitude de luz. "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5.14),
disse o Senhor Jesus.
36
Quando o Senhor apresenta a si mesmo, para evitar que haja dú-
vidas sobre a autoria da carta, ele ao mesmo tempo legitima
seus servos: "... que conserva na mão direita as sete estrelas". Is-
so lembra Isaías 42.1: "Eis aqui o meu servo, a quem sustento".
Além disso o Senhor diz que anda entre os sete candeeiros, que
não está simplesmente parado. Ele está no seu meio! E: ele age
no seu meio!
Observemos o Senhor Jesus no seu caminho vitorioso do céu pa-
ra a terra: três dias após sua morte na cruz, ele ressuscitou vito-
riosamente e quarenta dias depois ele subiu ao céu em triunfo,
assentando-se à direita da Majestade de Deus. Mas através do
Espírito Santo ele anda hoje entre as sete igrejas, isto é, entre to-
da a Igreja. Ele está presente, apesar de que no Novo Testamen-
to o vemos nove vezes (das quais quatro na Epístola aos He-
breus) assentado à direita da Majestade nas alturas. Ele está
"acima de todo principado, e potestade, e poder, e aomtnto, e de
todo nome que se possa referir não só no presente século, mas
também no vinâouro" (Ef 1.21). Sua elevação nada mais é do que
o resultado da sua ressurreição. E o maravilhoso: quando Jesus
subiu ao céu, foi como com Abraão, do qual está dito que Melqui-
sedeque foi ao seu encontro e lhe trouxe pão e vinho. Quando is-
so aconteceu, Levi já se encontrava nos lombos de Abraão, isto
é: todo o Israel, o sacerdócio (Hb 7.5), já estava em Abraão. Mas
ele ainda não estava revelado. E quando Jesus subiu ao céu, to-
da a Igreja já estava nele. Nós ainda não éramos visíveis, mas es-
távamos presentes; estávamos figuradamente nos seus lombos,
pois ele é a cabeça e nós somos os membros. Nós somos o cor-
po de Jesus Cristo, e assim o triunfo de Jesus Cristo - sua as-
censão e seu assentar-se à direita da Majestade de Deus - é
também nosso triunfo! (comp. Ef 2.6).
O grande tema dessa primeira carta do céu, do Cristo elevado,
contém duas coisas: serviço e amor. "Conheço as tuas obras, as-
sim o teu labor como a tua perseverança, e que não podes supor-
tar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se
declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens
perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e
não te deixaste esmorecer" (vv. 2-3). Isso é serviço - serviço fiel
e incansável, combinado com inexistência de compromissos,
pois ele diz no versículo 6: "Tens, contudo, a teu favor, que odeias
as obras dos nicolaítas." Os nicolaítas eram cristãos que apesar
de serem convertidos e membros da Igreja de Jesus, de alguma
37
maneira estabeleciam compromissos e aprovavam pecados da
carne. Isso era rejeitado pela igreja em Éfeso. Ela rejeitava deci-
didamente toda semelhança com o mundo - portanto: serviço e
amor. Olhemos claramente esses dois conceitos básicos do dis-
cipulado de Jesus, e ouçamos aquilo que o Senhor elevado diz a
respeito à igreja em Éfeso.
Primeiro algo do amor, que aos olhos do Senhor está sempre em
primeiro lugar. Depois falaremos do serviço e finalmente mais
uma vez do amor.
O amor passa como um fio vermelho através de toda a Bíblia. O
amor é o mais elevado. Por isso Paulo louva o amor em 1 Corín-
tios 13 e constata: "... se não tiver amor, nada serei" (v. 2). No Anti-
go Testamento há duas passagens em que é exigido amor: "Ago-
ra, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti? Não é que te-
mas o Senhor teu Deus, andes em todos os seus caminhos, e o
ames, e sirvas ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de to-
da a tua alma" (Dt 10.12). E uma passagem semelhante em Mi-
quéias 6.8: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que
o Senhorpede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a mise-
ricórdia, e andes humildemente com o teu Deus." Se agora reuni-
mos essas duas passagens, temos sete exigências que o Senhor
fazia a Israel na Antiga Aliança. Como o mesmo tema é predomi-
nante também na primeira carta do céu, vamos organizar essas
exigências. Em Deuteronômio 10.12:1 - temer o Senhor; 2 - an-
dar em seus caminhos; 3 - amá-lo; 4 - serví-Io de todo o cora-
ção e de toda a alma. Em Miquéias 6.8: 5 - praticar ajustiça; 6-
amar a misericórdia e 7 - andar humildemente com Deus. Es-
clarecedor é que essas duas afirmações no Antigo Testamento
não somente contêm sete exigências de Deus, mas também que
uma delas é repetida, se bem que com uma nuance. Em Deutero-
nômio 10.12 é dito: "o ames", em Miquéias 6.8: "ames a miseri-
córdia". Isso, porém, é o cumprimento da exigência completa do
Senhor, como ele a expressou no Novo Testamento. Quando um
fariseu foi a Jesus e perguntou: "Mestre, qual é o grande mende-
mento na lei?" (Mt 22.36), está escrito: "Respondeu-lhe Jesus:
Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende
toda a lei e os profetas"(Mt 22.37-40). Se não vemos essa relação,
não podemos entender direito a carta. Aliás: não se pode enten-
38
der direito o Novo Testamento quando não se conhece o Antigo
Testamento. Claramente o Senhor descreve sua exigência nas
duas passagens antigo-testamentárias, mas a mais elevada de
forma dupla: "amá-lo" e "ama teu próximo". O último resulta do
primeiro.
Se sua pergunta a nós pessoalmente é: "Tu me amas?", então
vamos provar-nos com santa seriedade e perguntar-nos: corres-
pondemos a essa única e assim mais elevada necessidade, ou
falta-nos afinal a única condição para o serviço abençoado? Pois
a Igreja de Jesus consiste de servos do Senhor. O próprio Senhor
Jesus descreveu o que realmente é servir: "Se alguém me serve,
siga-me" (Jo 12.26). Esta é portanto a definição de servir: esse si-
ga a Jesus! Sabemos disso muito bem e também cantamos lo-
go: "Estou decidido, a seguir a Jesus..." Mas não coloquemos a
ênfase sobre o "estou", mas sobre a pessoa, sobre Jesus! A in-
disposição para servir no reino de Deus tem sua raiz no distan-
ciamento da pessoa do Senhor Jesus. Não há mais amor arden-
te, não há mais verdadeiro discipulado.
Não se pode dizer dos efésios que eles não tinham disposição
para servir. Pelo contrário, raramente existiu uma igreja que fos-
se tão zelosa e tão pronta para o trabalho, tão sem compromis-
sos e tão biblicamente fundamentada como a de Éfeso: "Conhe·
ço as tuas obras, assim o teu labor como a tua perseverança, e
que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os
I' que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste
mentirosos" (w. 2-3). Que atividade de serviço cristão tinha essa
igreja! O alto grau de conhecimento dá frutos. O Senhor sabe de
tudo que fazemos! Esse "conheço" aparece sete vezes nas car-
tas.
Se te esforças e te gastas no trabalho para o Senhor e lhe sacrifi-
cas teu tempo livre, então ele diz: "Conheço..." Mas esse conhe-
cer do Senhor elevado não significa sempre alegria para ele, por-
que freqüentemente não correspondemos à sua exigência mais
elevada.
Faz-se necessária, entretanto, uma correção, pois a palavra "exi-
gência" aparece no Antigo Testamento, mas não no Novo Testa-
mento. No Antigo Testamento está dito: "que é que o Senhor re-
quer de ti", mas no Novo Testamento temos um Senhor que pe-
de. O Antigo Testamento, a lei, diz: "Faz isso, e viverás". O Novo
Testamento, a graça diz: "Vive, e o farás". Por que o Senhor não
se alegra pelos efésios, apesar de poder enumerar tantas coisas
positivas nos versículos 2-3 da sua carta? Porque seu serviço -
e isso vale também para o nosso - era quantitativamente notá-
vel, mas qualitativamente deficiente. Por quê? Porque não era
abençoado. Por quantitativo entendemos o efeito horizontal,
aquilo que se percebe à nossa volta, o que impressiona às pes-
soas: boa pregação, canto bonito, testemunho emocionante, de-
dicação abnegada. Não se pode dizer que no reino de Deus nada
acontece nesse sentido. Mas qualitativamente...? Qualidade é
aquilo que também poderíamos chamar efeito de profundidade:
serviço abençoado, porque tem suas fontes na pessoa de Jesus
e leva a Jesus! E isso que o Senhor quer dizer aos efésios: "Co-
nheço as tuas obras, assim o teu labor como a tua perseverança,
e... e..." Mas então vem a acusação: "Tenho, porém, contra ti que
abandonaste o teu primeiro amor." Se servimos no primeiro
amor, temos ilimitados efeitos de profundidade: lançamos fun-
damentos, que permanecem para sempre e damos frutos que
têm valor eterno. Em duas palavras: somos abençoados. Mas se
não somos abençoados, o tempo nos foge.
O serviço do Senhor Jesus era da mais alta qualidade. Ele era o
servo de todos: "... o Filho do homem, que não veio para ser servi-
do, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt
20.28). Seu serviço tinha grandiosos e profundos efeitos. Cada re-
nascido é um fruto do seu serviço. Qual era o motor do seu servi-
ço, que o impeliu a entregar a sua vida? Era o seu grande, maravi-
lhoso e inestinguível amor! Um serviço sem o primeiro amor por
ele é sem efeito; é um serviço frio, degenerado para um nível frio,
social: evangelho social. Aí podemos fazer muitas coisas boas,
ou seja, "ao próximo" - tornar-nos até mesmo um segundo Pes-
taíozzí ou um segundo Albert Schweitzer -, mas se a mola pro-
pulsora não é o amor de Jesus, isso não tem efeito de profundi-
dade, mas no máximo horizontal. O Senhor Jesus diz: "Ninquém
tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em fa-
vordos seus amigos"(Jo 15.13). Por amor - aquem? Em primei-
ra linha impulsionava-o o ardente amor pelo seu Pai. A Bíblia está
cheia de provas desse maravilhoso amor do Filho pelo Pai e do
Pai pelo Filho. Assim Deus dlsse três vezes do céu: "Este é o meu
Filho amado" e "Eu já o glorifiquei, e ainda o glorificarei" (Mt
3.17; 17.5; Jo 12.28). Essa era a majestade do seu serviço. Nisso
estava sua autoridade. Seu serviço não era estéril, não se tratava
de atividade cristã ou social. Seu amor era um "propulsor" tão
forte, que ele podia suportar tudo. O amor a Jesus tem que ser a
40
mola propu Isora do nosso serviço. "... o amor de Cristo nos cons-
trange" (2 Co 5.14). Se não é esse amor que nos propulsa, nosso
serviço não é abençoado. "Serviço abençoado" no fundo não
significa nada mais do que fazer a vontade de Deus. A santa von-
tade de Deus é movida pelo seu caráter, e esse é amor! "Porque
Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigêni-
to..." (Jo 3.16). Portanto: sua vontade de dar o seu Filho foi impul-
sionada pelo seu amor. Tudo que fazemos tora da pessoa do Se-
nhor, é ponto-morto. Por mais cristãs que sejam nossas ativida-
des, vale: "... se não tiver amor, nada serei" (1 Co 13.2).
Quando falamos do primeiro amor, falamos do mais sagrado.
Com esse primeiro amor faz-se referência a duas coisas: o pri-
meiro amor e o amor em primeiro lugar. Ter perdido o primeiro
. amor significa: não realizar mais as primeiras obras. Volta à prá-
tica das primeiras obras, como as fizeste antigamente: com ora-
ção e com o motivo "por causa de Jesus". Tu não és mais com
ele como eras antes. Quantas vezes se vê isso também em matri-
mônios que foram realizados contra a vontade de Deus. Eles co-
meçam idealisticamente e cheios de confiança. Mas logo, o pri-
meiro amor começa a esfriar, sim ele chega ao ponto de congela-
mento. Os cônjuges não têm mais nada a se dizer. Assim é nas
coisas espirituais: tu talvez ainda oras, contribuis e cantas, mas
o fulgor do primeiro amor, que iluminava tudo que fazias antes,
não existe mais. Talvez fales em "línguas de anjos", tenhas uma
fé poderosa, trabalhes sem te cansares, sendo zeloso e sem
compromissos - mas sem aquilo que vivifica tudo: o primeiro
amor.
t· Com isso chegamos ao segundo significado de "Tenho, porém,
contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. "Certamente, tu o
amas, mas: que lugar ocupa esse amor a Jesus em tua vida? Em
Efeso havia tantas coisas importantes, também para os crentes.
Éfeso era, como citado, uma rica cidade comercial, um centro do
Oriente, que oferecia muitas possibilidades. Com o tempo, para
muitos crentes os negócios, o trabalho, as relações, o planeja-
mento do tempo livre, começaram a ocupar o primeiro lugar. Es-
tás também em vias de dar o primeiro lugar a algo que não seja
Jesus, abandonando assim o primeiro amor? O primeiro amor
nada mais é do que a disposição de sofrer. Sofrer é maior que tra-
balhar. O maior significado do grão de trigo não se encontra em
si mesmo, mas no fato dele morrer. "Primeiro amor" significa,
portanto: disposição para realmente morrer [unto com Cristo;
41
amor à cruz. Qual é o lugar que o amor a Jesus, o amor à cruz,
ocupa em teu coração? "Tenho, porém, contra ti que abandonas-
te o teu primeiro amor", diz o Senhor. A chamada infra-estrutura
pode engolir muitas coisas em nossa vida. Tantas coisas banais
ocupam o primeiro lugar: rádio, jornal, dinheiro, conforto. Um
exemplo claro disso são os jogos olímpicos. As poucas semanas
custam cada vez bilhões de cruzeiros. Com razão um jornalista
chamou isso de estupidez de proporções. O aparato foi e é (de
modo crescente) muito grande em proporção ao essencial. Co-
mo é a proporção entre o essencial, o primeiro amor ao Senhor, e
o aparato para tua vida diária? És absorvido completamente pela
tua vida no dia-a-dia, pelas tuas atividades diligentes, pelo teu
pensamento material? Está o amor ao Senhor Jesus em último
lugar, ou ele já desapareceu completamente? Porque tantos
abandonam o primeiro amor, não temos ainda um despertamen-
to abrangente. Milhões de pessoas vão para a perdição eterna,
porque o primeiro amor ao Senhor não arde mais, porque os fi-
lhos de Deus não estão dispostos a fazer toda a vontade de
Deus. Obediência ao Senhor e amor por ele, isso é inseparável.
Quanto a vontade de Deus está relacionada com o seu grande
amor, percebe-se pela sua própria afirmação em Oséias 14.4: "...
eu voluntariamente os amarei" (Ed. Rev. e Corr.).
Teu raio de ação é tão reduzido, porque não estás disposto a fa-
zer a vontade do Senhor, e não estás disposto a fazer a vontade
do Senhor, porque teu amor completo não lhe pertence. Ele mes-
mo disse: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda,
esse é o que me ama" (Jo 14.21).
Por que a Palavra de Deus teve tanta penetração entre os primei-
ros cristãos, na Igreja primitiva? Deus deu um despertamento es-
pecial? Não. Deus é sempre o abençoador, sempre aquele que
dá vida. Mas os primeiros cristãos não amavam a si mesmos,
aos seus bens, ou ao seu dinheiro. Pelo contrário. Eles tinham tu-
do em conjunto; eles entregaram tudo. Eles faziam a vontade de
Deus até às últimas conseqüências - e o Evangelho espalhou-
se.
Mas pela perda do primeiro amor, não é mais cumprida a vontade
de Deus sobre a terra, por cuja realização o Senhor Jesus orou:
faça-se a tua vontade, assim na terre como no céu." O Senhor
JI...
42
nho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arre-
pendas" (v. 5). Então escurece. Percebes como as luzes à tua vol-
ta estão apagando? Vês como fica escuro? Arrepende-te tu e faz
as primeiras obras!
A urgente necessidade de arrepender-se é expressa nessa pri-
meira carta e também nas seguintes com as palavras: "Quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (v. 7, 11,17,29).
Isso quer dizer: aquele que como renascido, como membro no
corpo de Jesus, tem a capacidade, ou seja, a inclinação interior
" para ouvir o que o Senhor diz, esse deve realmente ouvir. Em ou-
tras palavras: ele tem a responsabilidade de atender àquilo que
ouviu e entendeu. Imediatamente em seguida o Senhor faz a pri-
meira promessa aos vencedores: "Ao vencedor dar-Ihe-ei que se
alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus"
(v. 7). Essa primeira promessa aos vencedores nos leva de volta
ao Paraíso e à árvore da vida. Depois que Adão comeu da árvore
do conhecimento do bem e do mal, ele foi expulso do Paraíso,
para que não comesse também da árvore da vida: "Então disse o
Senhor Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, co-
nhecedor do bem e do mal; assim, para que não estenda a mão, e
tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente: o
Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de
lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou
querubins ao oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma espa-
\
da que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn
3.22-24). Através disso vemos que essa árvore da vida protegida,
ou seja, oculta, é o manancial, a fonte original da vida eterna. Os
frutos dessa árvore alimentam a vida eterna. Para que Adão,
após sua queda, não comesse deles e vivesse eternamente na
terra, Deus expu Isou-o do Paraíso, pois a morte era o salário do
pecado. Aqui é agora dito aos vencedores, que comerão da árvo-
re da vida. Em outras palavras: eles terão a vida eterna "perma-
nentemente em si" (1 Jo 3.15). A expressão "vida eterna" já não
mostra de maneira suficientemente clara que se trata de vida
sem fim? Sem dúvida! Mas é indicada a "árvore da vida". Ela é ci-
tada três vezes no Apocalipse (cap, 22.2,14,19). Se, pois, é prome-
tido aos vencedores que o Senhor lhes dará de comer da árvore
da vida, que se encontra no paraíso de Deus, e que terão então a
vida eterna permanentemente em si, temos que observar o se-
guinte: a vida eterna é chamada "eterna", porque vai da eternida-
de do passado até à eternidade do futuro; é a vida de Deus, que
foi revelada em Jesus Cristo, que é Deus (Jo 1.4; 5.26; 1 Jo 1.1-2).
43
Essa vida eterna de Deus, que foi revelada em Cristo, é dada pelo
renascimento a todo aquele que crê no Senhor Jesus Cristo. O
renascido toma posse dela pelo Espírito Santo com base na Pé3,-
lavra de Deus.
Para compreender ainda melhor essa promessa aos vencedores,
temos que notar que essa vida eterna, que o crente recebe, não é
uma vida nova, sendo nova somente no sentido do homem
apropriar-se dela. Trata-se da vida que era "no princípio". E essa
vida de Deus,que o renascido recebe,é uma parte inseparável da
vida que estava em Jesus Cristo desde a Eternidade. Foi isso que
o Senhor Jesus quis dizer, quando afirmou: "Eu sou a videira, vós
os ramos" (Jo 15.5); ou através de Paulo: "Ele é a cabeça, nós os
membros" (comp. Ef 1.22-23;4.16).0 comer da árvore da vida sig-
nifica, portanto: ser completamente um com o Senhor Jesus
Cristo por toda a Eternidade. Por isso é tão importante que seja-
mos vencedores. Somente assim poderemos uma vez comer da
árvore da vida. Então viveremos de Eternidade em Eternidade
diante de Deus e do Cordeiro. A cruz de Gólgota, na qual o Senhor
Jesus derramou seu sangue, tornou-se para nós a árvore da vida!
44
Esmirna era naquela época uma bonita e rica cidade comercial
na Ásia Menor, que tinha sido fundada por Alexandre Magno. Ne-
la vivia uma igreja de crentes no Senhor Jesus Cristo pobre e per-
seguida. Significativamente Esmirna quer dizer "murteira" ou
"mirra" ou também "amargura". Os filhos de Deus experimenta-
ram ali muitas coisas amargas e difíceis. No Antigo Testamento
era justamente a mirra que tinha primeiro que ser triturada antes
que pudesse ser oferecida como aroma agradável sobre o altar
do incenso de ouro. Esse era o caminho da igreja de Esmirna, e
também nós, como os crentes de Esmirna, somos triturados, es-
migalhados e esmagados, para que nossa oração na essência
seja nosso próprio ser,tornando-nos nós mesmos um aroma agra-
dável ao Senhor. Esmirna era uma cidade de mártires. Policarpo,
o pai da igreja, foi mais tarde queimado sobre o monte Pagus em
Esmirna; no mesmo lugar o solo foi regado com o sangue de
1.500 testemunhas de Jesus, que foram executadas ao mesmo
tempo, sendo feito o mesmo depois com mais 800. O Senhor vol-
tou seus olhos para essa cidade, pois no tempo em que João se
encontrava em Patmos, ali uma de suas igrejas encontrava-se
em grande tribulação.
45
ma não te fosse dada." A Pilatos foi, portanto, entregue a ação,
para que Jesus pudesse realizar o maior. Deixa também que te
seja tirada a iniciativa, a capacidade de agir, para que o Senhor
possa agir através de ti e fazer coisas grandes através de ti! "Eu
sei as tuas obras, e tribulação ..." (Ed. Rev.e Corr.). O Senhor sabe
de tudo - também da tua tribulação e dificuldades. Mas não es-
tá justamente aí a razão porque no início dessa carta ele se apre-
senta como o "primeiro e o último, que esteve morto e tornou a vi-
ver" (v. 8)? Com isso, ele diz ao seu pequeno grupo intimidado:
"Estive em grande tribulação antes de vocês. A tribulação de vo-
cês é a minha tribulação. Mas o inimigo que te aflige nunca tem a
última palavra. Eu sou o primeiro e o último. Se tu sucumbires,
estendo meus braços e estou contigo. Morri, e eis que vivo. E tu
deves tornar-te participante da minha morte, para que possas vi-
ver."
"Eu sei as tuas obras, e tribulação ..." Quão alto o Senhor avaliou
justamente as obras invisíveis dos crentes sofredores em Esmir-
na! Ele mede os seus com padrões completamente diferentes do
que nós. Com grande seriedade ele disse à em si mararavilhosa-
mente ativa igreja em Éfeso: "... arrepende-te ... e se não, venho a
ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro" (cap. 2.5). A igreja em
Éfeso estava espiritualmente em perigo de vida, pois estava
abandonando o primeiro amor. Também nós encontramo-nos
em grande perigo quando há penetração de auto-satisfação es-
piritual. Esmirna estava em aflição, Éfeso não. Nosso problema é
que não temos problemas.
46
Oh, como estás próximo de Jesus, se sofres por amor a ele,
quando te deixas levar à comunhão dos seus sofrimentos. Então
ele se inclina para ti e diz: "Eu sei as tuas obras, e tribuleçéo" (Ed.
Rev. e Corr.). Pois quem poderia sabê-lo melhor do que ele? Para
ele foram as horas de calar-se diante dos homens e de ser prega-
do na cruz. Quando estava dependurado na cruz, ele não era
mais capaz de mover suas mãos, para impô-Ias a alguém. Mas eu
repito: justamente lá ele fez a maior obra. Adolf Pohl diz com ra-
zão: "Que ação na Paixão!" Por isso deve ter sido como bálsamo
para a igreja em Esmirna quando o ouviu dizer: "Eu sei as tuas
obras e a tua trlbuleçéo" (Ed. Rev. e Corr.). Da mesma maneira
quando disse de si mesmo: "estive morto e tornei a viver". Ele lhe
OI
diz isso desde a Glória, a qual alcançou após seu sofrimento. E
com base nesse fato ele diz à igreja em Esmirna: "Não temas as
cousas que tens que sofrer" (v. 10). Através de sofrimentos
chega-se à glória! Sim, a medida dos teus sofrimentos por amor
a Jesus determina a medida da tua futura glória. É o que Paulo
diz em 2 Coríntios 4.17-18: "Porque a nossa leve e momentânea
tribuleçêo produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
compereçêo, não atentando nós nas cousas que se vêem, mas
nas que se nao vêem; porque as que se vêem são temporais, e as
que se não vêem sso eternas." Comovente é também que o Se-
nhor mesmo determina a medida dos sofrimentos da igreja em
Esmirna, dizendo-o também a ela: "Eis que o diabo está para lan-
çar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e te-
reis trtbuteçêo de dez dias" (v. 10). Eles estão, portanto, exata-
mente delimitados. O Senhor não deixa exceder a medida (comp.
também 1 Co 10.13), mas vela para que seus filhos não desani-
mem. O mesmo quer dizer também Pedro, quando afirma em sua
primeira epístola: "Nisso exultais, embora, no presente, por bre-
ve tempo, se necessário, sejais contristados por várias prova-
ções, para que o valor da vossa fé, uma vez confirmado, muito
mais precioso do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo,
redunde em louvor, glória e honra na reveleçéo de Jesus Cristo"
(1 Pe 1.6-7).
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hoje aceita desvantagens econômicas por amor de Jesus? O
contrário é o caso. Deseja-se adaptar-se ao atual sistema social
com todas as suas exigências exageradas. Não sofremos pobre-
za; vivemos em um país cristianizado. Mas o agarrar-se em coi-
sas econômicas, terrenas, em riquezas, tem sempre pobreza es-
piritual por conseqüência. No fundo não é atestado de louvor pa-
ra nós quando nos encontramos em certo bem-estar. Não se po-
de, então, possuir nada? Paulo diz: "Tanto sei viver em abundân-
cia como em escassez" (comp. Fp 4.12). Mas logo que nos agar-
ramos a nossos bens, logo que se começa a fazer exigências,
fica-se espiritualmente pobre de maneira correspondente. Por
que não sofremos pobreza exterior? Porque a exigência de Je-
sus, de fazer nossa a sua experiência, tomando a sua cruz sobre·
nós em todos os aspectos, pressupõe disposição à renúncia. E
isso o Senhor não exige de cada um. De quem ele exige auto-
renúncia? Daqueles de quem ele sabe que estão dispostos. Es-
tás disposto? Disposição de renúncia manifesta-se em disposi-
ção ao sacrifício. Mas isso é renúncia em ação.
48
(cap. 3.17). A igreja de Laodicéia encontrava-se em profunda po-
breza espiritual, porque estava agarrada à sua riqueza. O Senhor
Jesus mesmo disse que "é mais fácil passar um camelo pelo fun-
do de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus" (Mt
19.24). Quer ele dizer com isso que não se pode ser rico? Não, cer-
tamente não. Mas o rico deve considerar-se administrador dos
seus bens. Ai daquele cujo coração está preso em suas posses!
Temos aqui, portanto, os ricos pobres de Esmirna e os pobres ri-
cos da Laodicéia.
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disse em 2 Coríntios 4.8-9: "Em tudo somos atribulados, porém,
não angustiados; perplexos, porém não desanimados; persegui-
dos, porém não desamparados; abatidos, porém não
destruídos." Ele jubilava na certeza vitoriosa de que o Senhor es-
tava com ele.
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desse testemunho vivo, porque temem os sofrimentos de Jesus.
O contrário é então, e aí se chega forçosamente: fazer exigên-
cias conforme as normas da nossa sociedade, ao invés de dar.
Está certo: o sofrimento, desligado de Cristo, sem efeito vicário,
é um poder inimigo; ele não é para o homem, pois Deus não o
destinou para ele. Por isso está escrito em Apocalipse 21.4 que
na Glória não haverá mais sofrimento. Mas somente através da
comunhão dos seus sofrimentos, que são santificados, que ele
tomou sobre si por nossa causa - sofrimentos exteriores e inte-
riores - somos, tu e eu, unidos com o ser, o caminho e a glória
de Jesus Cristo. Encontramo-nos agora numa encruzilhada. A
pergunta é: estou disposto a seguir o caminho da auto-renúncia
por amor a Jesus? Então recebemos rico consolo e maravilhosa
glória. Mas se seguimos o caminho da auto-afirmação e da cha-
mada "auto-realização", então morremos espiritualmente e vive-
remos sem consolo.
Esmirna tinha esse consolo em toda a plenitude. Os ouvidos des-
ses crentes estavam abertos para o falar do Senhor. Que a pro-
messa aos vencedores é tão reduzida justamente para Esmirna
- "O vencedor, de nenhum modo sofrerá dano da segunda mor-
te" (v. 11) - reforça o fato de que se trata de uma igreja vencedo-
ra que já possui toda a plenitude da divindade em Jesus Cristo.
51
A terceira carta do céu
"Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas cousas diz
aquele que tem a espada afiada de dois gumes: Conheço o lu-
garemque habitas, onde está o trono de Satanás, e que con-
servas o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias
de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto en-
tre vós, onde Satanás habita. Tenho, todavia, contra ti algu-
mas cousas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de
Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos
filhos de Israel para comerem cousas sacrificadas aos ídolos
e praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os
que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas.
Portanto, arrepende-te; e se não, venho a ti sem demora, e
contra eles pelejarei com a espada da minha boca. Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor,
der-the-et do maná escondido, bem como lhe darei uma pedri-
nha branca e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o
qua I ninguém conhece, exceto aquele que o recebe" (Ap 2.12-
17).
A igreja em Pérgamo, era dentre as sete igrejas a que estava
localizada mais ao norte, doze milhas ao norte de Esmirna. A
cidade de Pérgamo aqui citada pertencia uma vez à Lídia sob
o riquíssimo rei Creso, e após sua derrota passou a pertencer
ao Império Persa. Mais tarde ela passou a pertencer à Mace-
dônia e em 264 a.C. tornou-se a muito conhecida e ricamente
ornamentada capital do reino de Pérqamo, No ano de 133
a.C., pelo testamento do seu último rei, Atalo 111, ela passou a
pertencer ao Império Romano. Famosa ela era principalmen-
te devido ao templo de Esculápio e pelo gigantesco altar de
Zeus. A muito citada biblioteca com 250.000 rolos de perga-
minho (também a palavra pergaminho vem de Pérgamo), não
se encontrava mais lá há muito tempo na época do apóstolo.
Mas a ciência e a arte ainda floresciam.
Também hoje essa cidade ainda existe. Ela se chama Berga-
ma e é habitada por gregos e turcos.
Apesar das cartas do céu serem formuladas de maneira curta
e suscinta, não se trata de uma apresentação resumida. Na
leitura das cartas devemos sempre novamente lembrar que
essas são as últlrnas palavras diretas que temos de nosso Se·
52
nhor Jesus Cristo. Apesar de se falar também da restauração e
salvação de Israel, ele dirige-se principalmente à Igreja. Pois con-
forme 1 Coríntios 10.11, a Igreja de Jesus é aquela sobre a qual os
fins dos séculos têm chegado. Em outras palavras: ela é a reta-
guarda no Plano de Salvação. Nos Evangelhos o Senhor Jesus
fala aos seus discípulos e através dos seus discípulos a nós.
Mas aqui ele dirige-se da direita do Pai diretamente à sua Igreja e
assim também a nós. Essa forma direta é sublinhada porque
João, como apóstolo do Senhor e membro no corpo de Jesus re-
cebeu as mensagens. Por isso cada palavra deve ser cuidadosa-
mente observada, pensando-se a respeito, orando e indagando:
o que o Senhor quer dizer com isso? A maneira insistentemente
to direta com que o Senhor dirige-se a cada uma das sete igrejas,
também pode ser uma das razões porque essas cartas são relati-
vamente pouco comentadas. A cada igreja o Senhor revela um
outro lado do Seu ser, dependendo do que a igreja em questão
necessitava e necessita hoje. À igreja em Esmirna ele se apre-
senta como "o primeiro e o último", como o vencedor absoluto
sobre a morte. Essa igreja, que estava em grande aflição, neces-
sitava disso como consolo; ela tinha que saber quem era o seu
Senhor. A Pérgamo, entretanto, ele se revela como "aquele que
tem a espada de dois gumes" (v. 12). Nessa auto-apresentação
do Senhor vemos também com inconfundível clareza, o terna
dessa carta: nenhuma mistura! O mesmo diz também Hebreus
4.12: "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do
que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os
pensamentos e prooosttos do coração." Deus não quer mistura!
Em Apocal ipse ts.tsvemos o Senhor elevado assentado sobre o
cavalo branco: "Sai da sua boca uma espada afiada..." Com ela
ele julga as nações anticristãs, compare Apocalipse 19.21. A es-
pada afiada de dois gumes é a Palavra de Deus, sim, ele mesmo é
a Palavra de Deus: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós"
(Jo 1.14).
O Senhor não se revela somente a Pérgamo como a espada afia-
da de dois gumes, que sai da sua boca, mas através de toda a
• História da Salvação até ao dia de hoje. Com essa espada ele
também matará o anticristo.
Quando Josué em tempos antigos estava junto a Jericó e pela
primeira vez tinha a responsabilidade de conduzir o povo de Is-
rael à Terra Prometida, ele percebeu repentinamente um homem
53
diante dele, "que trazia na mão uma espada nua" (Js 5.13) - a
Palavra de Deus. A Palavra de Deus convence, ela julga e separa
e assim guarda de mistura. Por isso precisamos transmitir a Pa-
lavra de Deus!
Pérgamo significa "cidadela". A igreja em Pérgamo estava em
extremo perigo. Pérgamo era naquela época a sede do governa-
dor romano. Além disso, era também o centro do culto ao impera-
dor. Havia ali, entre outros, um grande templo dedicado a Roma,
no qual o César Augusto deveria receber adoração divina. Atra-
vés disso a pequena igreja entrou em grandes dificuldades. Com
poder romano era dada ênfase especial à lei segundo a qual o im-
perador deveria receber adoração divina. Por isso é multo escla-
recedor que aqui o Senhor não diz (como a Esmirna, a Efeso e a
outras igrejas): "Conheço as tuas obras", mas: "Conheço o lugar
em que habitas" (v. 13). Apesar da Edição Revista e Corrigida di-
zer: "Eu sei as tuas obras, e onde habitas", nos manuscritos ori-
ginais falta esse "eu sei as tuas obras". Por esse motivo isso não
foi incluído nas outras versões.
Aparentemente faltavam as obras de Cristo à igreja em Pérga-
mo. Ela deve ter feito muitas coisas inúteis, muitas obras mortas.
Justamente hoje esse também é o grande perigo. Aproveitamos
bem e completamente, tu e eu, o tempo que recebemos do Se-
nhor aqui na terra? Temos somente um prazo limitado! "Nas
tuas mãos estão os meus dias" (SI 31.16). Esse tempo tem que
ser investido para a Eternidade, pois precisamos prestar contas
sobre o que fizemos para Ele com nosso tempo aqui na terra!
Muitas pessoas têm tempo, muito tempo até, não, porém, para a
causa do Senhor, mas para si mesmas. Mas a Escritura adverte:
"... remindo o tempo" (CI4.5; Ed. Rev. e Corr.).
Se seguirmos o texto da Edição Revista e Corrigida: "Eu sei as
tuas obras" -, o Senhor não se refere aqui às obras proveitosas.
Aparentemente eles realizavam obras que não eram dignas de
citação. A essas a Bíblia chama obras mortas. Uma paralisia es-
piritual somente é vencida quando há arrependimento sobre
obras mortas. O sangue de Jesus Cristo purifica também de
obras mortas, que não trazem fruto para a Eternidade (Hb 9.14).
Apesar disso: o Senhor louva a igreja em Pérgamo. Ele é justo e
não esquece nada! Quando ele repreende, onde é necessário,
então ele também louva onde é apropriado: "Conheço o lugar em
que habitas, onde está o trono de Satanás" (v. 13). O Senhor sa-
54
bia que sua igreja em Pérgamo estava muito ameaçada, pois ela
vivia na área de poder de Satanás. Duas vezes é utilizada aqui a
palavra "habitar": "Conheço o lugar em que habitas." E quando
fala então de Antipas, sua fiel testemunha, ele diz mais uma vez:
"... onde Satanás habita" (v. 13b). Habitar junto com o diabo, isso
é algo terrível! Se está dito: "onde está o trono de Satanás", isso
quer dizer que o príncipe das trevas tinha especial plenitude de
poder em Pérgamo, quer seja pelo culto aos espíritos, através do
governador romano ou pelo panorama visível. Pois sabe-se pela
História que em Pérgamo havia um altar de 300 metros de altura
em honra a Zeus. Além disso havia naquele tempo em Pérgamo
um culto de cura com serpentes, que era conhecido e famoso.
Em um templo onde se mantinha serpentes, as pessoas procura-
vam a cura dos seus males. A serpente principal era até chama-
da de "salvador". Muitas pessoas criam nela e a adoravam - o
trono de Satanás. Isso desperta associações com o Paraíso e a
antiga má serpente. Se o Senhor diz aos seus comprados pelo
sangue: "Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de
Satanás", ele prova com isso que ele não passa ao largo nem jul-
ga sem levar em conta o poder negativo das circunstâncias e da
atmosfera. Ele também sabe exatamente onde tu habitas, em
que situação tu te encontras - em que vizinhança, em que famí-
lia, em que local de trabalho. Ele conhece os poderes satânicos
que se enfurecem à tua volta no dia-a-dia, de maneira que quase
perdes a capacidade de respirar. O que é o respirar da alma? A
oração! Um hino diz:
Jesus, ajuda a vencer quando tudo desaparece,
Quando somente minha aflição eu vejo,
Quando não encontro condições para orar
Quando preciso ser como uma corça assustada
Oh Senhor, queiras no íntimo da alma
Unir-te com os mais profundos gemidos,
Jesus sabe tudo - também tudo de ti e sobre ti. Ele nunca permi-
te que sejamos tentados além das nossas forças e afundemos
no desespero. Apesar de ter permitido, por exemplo, que Sata-
nás tocasse seu servo Jó. Não somente que os dez filhos de Jó
acidentaram-se mortalmente num só dia e todos os seus bens
foram perdidos, mas também que sua própria mulher lhe disse:
"Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre"
(Jó 2.9). Mas Jó tinha uma certeza firme como rocha - um co-
nhecimento de Deus - e respondeu: "... eu sei que o meu Reden-
55
tor vive" (Jó 19.25). Essa poderosa palavra de consolo vale para
todos nós nesta noite dos tempos finais.
Esclarecedor com respeito a Pérgamo é também o seguinte: o
Senhor não diz "Conheço o lugar onde-habitas, onde está esta-
belecido o trono de Satanás", mas: "... onde está o trono de Sata-
nás". O trono de Satanás existe, mas não está "estabelecido";
ele não tem estabilidade! Somente um trono está estabelecido, e
esse é o trono do Deus vivo e do Cordeiro! Jesus Cristo ontem e
hoje é o mesmo, e o será para sempre! Sempre novamente so-
mos confrontados com essa pergunta: quem é o mais poderoso,
quem é o vencedor? Será Satanás, que me aflige interiormente e
exteriormente, ou será Jesus Cristo. E Jesus Cristo! "Graças a
Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus
Cristo" (1 Co 15.57). Apesar de sermos ameaçados, sacudidos e
peneirados pelo poder de Satanás em milhares de maneiras, o
Senhor sabe onde habitamos! A Igreja de Jesus não é confronta-
da com homens, mas com poderes, e assim nossa luta não é
contra carne e sangue, mas contra principados e potestades das
trevas, como diz Efésios 6.12. Vemos em nossos dias como po-
vos, igrejas e organizações ficam cada vez mais debaixo do po-
der do maligno. Todas as ciências filosóficas são cada vez mais
infiltradas pelo espírito do anticristo. Como naquela época em
Pérgamo, os homens e poderes possuídos pelo espírito do inimi-
go preparam-se cada vez mais ameaçadoramente para o golpe,
física e espiritualmente. Contra quem? Espiritualmente contra a
Igreja de Jesus e fisicamente contra Israel.
Como podemos ainda resistir? Ou, como foi formulado pelos dis-
cipulos: "Sendo assim, quem pode ser salvo?"(Mt 19.25). A Bíblia
diz: "Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes fi-
car firmes contra as ciladas do diabo" (Ef 6.11).
O Senhor pode louvar a igreja em Pérgamo, porque ela conserva
o seu nome: "...que conservas o meu nome" (v. 13). Qual nome? O
maravilhoso e precioso nome de Jesus! No centro da estratégia
satânica, essa igreja não deixou obscurecer seu olhar através da
pompa pagã, da concupiscência da carne ou dos olhos. Pois isso
poderia ter acontecido facilmente, pois toda a população da ci-
dade estava entusiasmada pelo culto às serpentes e pela adora-
ção ao imperador. A palavra "conservas", aqui utilizada, na ver-
dade é muito fraca e sem expressão, pois a palavra grega diz
mais. Deveria estar dito: segurar e agarrar-se com toda a força.
56
Em Pérgamo tratava-se de vida ou morte, pois aos crentes seria
arrancado algo. Esse é sempre o objetivo do inimigo: ele quer
arrancar-nos aquilo que temos. Por isso nas cartas há repetida-
mente uma exortação a respeito, por exemplo, no capítulo 2.25:
"tão somente conservai o que tendes, até que eu venha." Ou, no
capítulo 3.11: "Venho sem demora. Conserva o que tens, para
que ninguém tome a tua coroa". Trata-se de conservar! Em Pér-
gamo era exigido largar o nome de Jesus, porque ali habitava
Satanás ", Mas Satanás não suporta a confrontação com o nome
de Jesus. Essa é a grande luta em que nos encontramos!
• Nesse contexto algo permanece inesquecível para mim. Há trinta anos pregamos o
Evangelho na parte católica da Irlanda e realizamos também reuniões ao ar livre. De
um lugar - Límeríck - tol-nos dito que nos últimos cem anos o nome de Jesus não
havia mais sido citado ali publicamente em reuniões ao ar livre. Lá havia muitas trevas
e superstição. Tínhamos esperado até tarde da noite, até que 'dois cinemas no centro
da cidade terminassem sua programação, e agora encontrava-se ali uma grande multi-
dão. Como introdução, minha mulher e eu cantamos em inglês o hino "Que amigo é
nosso Jesus", e então comecei a pregar. No momento em que citei o nome de Jesus,
passou um uivo pela multidão - como do inferno. Fui ouvido até que citei o nome de
Jesus, dizendo que somente ele era a salvação. Então fomos arrancados do estrado e
ainda vejo como quatro policiais eram quase incapazes de afastar a multidão - so-
mente por causa do nome de Jesus!
57
quem crê no Filho tem a vida eterna." Esse é o primeiro pas-
so. Crê em Jesus Cristo como teu Salvador pessoal! Mas não
fica parado nesse primeiro passo. Quem faz isso, permanece
espiritualmente na infância. Tal pessoa crê no Senhor Jesus,
mas não tem a fé do Senhor Jesus! E justamente esse é o se-
gredo! "... e não negaste a minha fé", diz o Senhor. Paulo
compreendeu isso. Ele diz em Gálatas 2.19-20: "Estou crucifi-
cado com Cristo; logo, já não sou eu quem vivo, mas Cristo vi-
ve em mim; e esse viver que agora tenho na carne (com isso ele
quer dizer: ainda vivo na minha carne pecaminosa, e sei que em
mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum), vivo pela
fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por
mim." Em outras palavras: "Vivo e creio exatamente como Jesus
viveu e creu, e digo continuamente "não" às exigências da carne,
como teimosia, impureza e todas as manifestações pecamino-
sas. Entrego-me completamente como fez meu Salvador. Sigo
exatamente o caminho seguido pelo meu Salvador. Permaneço
na cruz, como meu Salvador ficou na cruz." Viver na fé do Filho
de Deus, esse é um passo bem além de crer em Jesus.
58
povo de Deus, mas não teve sucesso. Ele percebeu que Balaque
nada podia fazer com seu exército, pois Israel era invencível. Por
isso impediu que ele combatesse Israel. Mas também ele queria
aniquilar o povo de Israel, e conseguiu isso, induzindo Israel à
participaçãd na idolatria e na prostituição relacionada. Não um
grande exército, mas mulheres, moças fracas, deveriam aniqui-
lar Israel. Essa "insignificância" era, portanto, um perigo mortal
para Pérgamo, como o "inocente" diálogo entre Eva e a serpente
no Paraíso foi uma armadilha que teve conseqüências terríveis. E
essa liberalidade sexual foi elevada a doutrina em Pérgamo, pro- ~
ção do nome de Jesus para fora (v. 13), e por outro lado agarrar-se
obstinadamente na doutrina de Balaão (v. 14). Deve-se lembrar
que nem todos participavam. O Senhor diz expressamente: "...
tens aí os que", tens alguns, que cederam ao inimigo interior!
Mas apesar dos outros seguirem ao Senhor com toda a decisão,
surgiu uma mistura na estrutura da igreja, porque eles toleraram
as coisas carnais. Aí acabou a autoridade. Isso repetiu-se milha-
res de vezes até ao dia de hoje: em uma igreja há filhos de Deus
de orientação espiritual e que seguem ao Senhor Jesus, mas en-
tão repentinamente vem uma série de mulheres em roupas de
homens ou moda de prostitutas. Se isso é tolerado, acontece a
derrota interior e a autoridade acaba. Através da sua espada afia-
da, da sua Palavra, o Senhor quer separar, pois ele não deseja a Ii- \
beralidade da carne, mas que a carne seja crucificada com Cris-
to. Em Pérgamo aconteceu prostituição carnal, porque já tinha
havido prostituição espiritual. E essa prostituição espiritual ~
revelava-se naposição neutra da igreja diante desses desviados.
Da igreja em Efeso o Senhor diz: "tu o odeias" (cap. 2.6). Ela to-
mou uma posição clara contra qualquer falsa doutrina e concu-
piscência da carne. Mas da igreja em Tiatira está dito: "tu o tole-
ras" (cap. 2.20). Em Pérgamo esses dois grupos e essas duas
doutrinas - discipulado decidido de Jesus e compromissos
com a carne - andavam simplesmente lado a lado. E essa neu-
tralidade comunitária interior é a mais duramente condenada pe-
~
lo Senhor. Pois a infidelidade encontra com os fiéis o seu melhor
esconderijo.
60
em nossos dias; eles resignam e deixam de realizar o bom com-
bate da fé. Mas fora estarão os covardes, aqueles que cedem às
exigências da carne, em qualquer que seja a forma, ou de uma
pessoa. Pedro quis levar o Senhor Jesus a negar, ou seja, rejeitar
a cruz. Mas o Senhor lhe disse: "Arreda! Satanás" (Mc 8.33).
Não é comovente que o Senhor elevado dá a Antipas o mesmo tí-
tulo que ele tem? Pois assim o próprio Senhor é chamado em
Apocalipse 1.5: "e da parte de Jesus Cristo, a fiel testemunha."
Testemunhas fiéis são aquelas que resistem até à morte.
Depois do louvor do Senhor segue uma séria repreensão: "Te-
nho, todavia, contra ti algumas cousas, pois que tens aí os que
sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a ar-
mar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem cousas sa-
crificadas aos ídolos e praticarem a prostituição. Outrossim,
também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina
dos nicolaítas. Portanto, arrepende-te; e se não, venho a ti sem
demora, e contra eles pelejarei com a espada da minha boca" (vv.
14-16). As tribulações causadas por parte do poder estatal e pe-
los judeus eram dificílimas para os crentes em Pérgamo. Mas
eles puderam resistir, porque estavam revestidos de toda a ar-
madura de Deus, conservaram o seu nome e não negaram a sua
fé. Pois é o próprio Senhor que tem a espada que traspassa todas
as couraças do inimigo. E quem tem esse Senhor no seu cora-
ção, esse é invencível. Em Cristo Jesus ele eleva-se sobre o trono
de Satanás e é mais que vencedor em todas as tribulações. Mas
mesmo assim o Senhor tem contra eles "algumas cousas",
"umas poucas coisas", como dizem as diferentes edições. De
acordo com isso, parece que se trataria de uma ninharia, apesar
de ser tão sério; uma suavização, como os crentes gostam tanto
de aplicá-Ia para diminuir sua derrota e suas falhas. Mas aí está o
abaladoramente sério: enquanto os filhos de Deus em Pérgamo
resistiram vitoriosamente ao inimigo exterior, cederam ao inimi-
go interior! E aí já temos a mistura mortal de vitória e derrota; de
seguir Jesus até à morte mas mesmo assim capitular diante das
exigências interiores da carne. Nessa luz temos que ver os versí-
culos 14 e 15. Assim os crentes em Pérgamo resistiram ao inimi-
go de fora em vitoriosa união de confissão, mas não levaram a
sério o inimigo de dentro. Trata-se, portanto, de uma insignificân-
cia, mas de alcance abalador. A doutrina de Balaão tinha tomado
pé em Pérgamo. Ela consistia do conselho que Balaão deu ao rei
Balaque (Nm 31.16 e Nm capo 22-25). Balaão queria amaldiçoar o
59
tas sustentavam a doutrina de Balaão (nicolaítas = denomina-
ção grega dos discípulos da doutrina de Balaão). Eles o imitavam
e ganhavam outros na igreja em Pérgamo para sua posição des-
viada. Que por nicolaítas e balaonitas deve-se entender o mes-
mo, como, por exemplo, por anti-sionismo e anti-semitismo,
revela-se principalmente nos versículos 14e 15,onde a acusação
do Senhor é juntada numa só. Lá está dito: "Tenho, todavia, con-
tra ti algumas cousas, pois que tens aí os que sustentam a dou-
trina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante
dos filhos de Israel para comerem cousas sacrificadas aos ído-
los e praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os
que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicotettes." Não
é essa a séria situação da Igreja de Jesus hoje? Para fora sem
compromissos, mas por dentro podre e corrompida? Essa terrí-
vel mistura tomou conta de muitos. Para fora de orientação bíbli-
ca, mas por dentro está tudo deteriorado, motivo porque o Se-
nhor elevado, que julga os inimigos da Igreja, com sua espada
afiada de dois gumes, volta a mesma espada com severidade
inexorável contra os filhos de Deus individualmente, para
separá-tos, ou seja, isolá-los. venho a ti sem demora, e contra
H ...
61
tal. "Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do
que foi posto, oqualé Cristo Jesus "(1 Co 3.11). Aqui no Apocalip-
se ele é chamado pedrinha branca, uma figura do Cristo glorifica-
do. Terceiro: "... e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o
qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe." "... e sobre
essa pedrinha" significa: gravado na pedra. Não é isso que o Se-
nhor já prometeu a Isaías: "Eis que nas palmas das minhas mãos
te gravei" (Is 49.16)?
Mas a pedra lembra também o sumo sacerdote Arão, que sobre
seu peito trazia pedras preciosas diante do Senhor. Pois o Se-
nhor tinha ordenado: "Farás também o peitoral do juízo de obra
esmerada, conforme a obra da estola sacerdotal o farás: de ouro,
estofo azul, púrpura, carmesim e linho fino retorcido o farás.
Quadrado e duplo será de um palmo o seu comprimento, e de um
palmo a sua largura. Colocarás nele engaste de pedras, com
quatro ordens de pedras: a ordem de sérdio, topázio e carbúncu-
lo será a primeira ordem; a segunda ordem será de esmeralda,
safira e diamante; a terceira ordem será de jacinto, ágata e ame-
tista; a quarta ordem será de berilo, ônix e jaspe: elas serão guar-
necidas de ouro nos seus engastes. As pedras serão conforme
os nomes dos filhos de Israel, doze segundo os seus nomes: se-
rão esculpidas como sinetes, cada uma com o seu nome, para as
doze tribos... Assim Arão levará os nomes dos filhos de Israel no
peitoral do juízo sobre o seu coração, quando entrar no santuá-
rio, para memória diante do Senhor continuamente" (Êx
28.15-21,29). Agora entendemos muito melhor a promessa aos
vencedores em Apocalipse 2.17: "der-the-ei do maná escondido,
bem como lhe darei uma pedrinha branca e sobre essa pedrinha
escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele
que o recebe". Essa promessa para vencedores contém a mais
íntima comunhão com Deus através do nosso Sumo Sacerdote
Jesus Cristo, que leva nosso nome para diante do Pai. Ele está
assentado à direita da Majestade nas alturas e intercede por
nós. E o vencedor, que assim se tornou um com ele, experimenta
que através do Sumo Sacerdote Jesus Cristo é incl uído em Deus.
E o que Paulo diz em Colossenses 3.3: "porque morrestes, e a
vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus."
Estás firmado sobre a pedra fundamental e gravado na preciosa
pedra branca, ou sua espada tem que julgar-te? Lembra: o Espíri-
to de Deus não permite mais mistura!
62
A quarta carta do céu
"Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas cousas diz o Fi-
lho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo, e os pés
semelhantes ao bronze polido: Conheço as tuas obras, o teu
amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últi-
mas obras, mais numerosas do que as primeiras. Tenho, po-
rém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si
mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda
seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a come-
rem cousas sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que
se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua
prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em grande
tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrepen-
dam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e todas
as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mente e
corações, e vos darei a cada um, segundo as vossas obras.
Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos
quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como
eles dizem, as cousas profundas de Satanás: Outra carga
não jogarei sobre vós; tão-somente conservai o que tendes,
até que eu venha. Ao vencedor, e ao que guardar até ao fim as
minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com
cetro de ferro as regerá, e as reduzirá a pedaços como se fos-
sem objetos de barro; assim como também eu recebi de meu
Pai, dar-Ihe-ei ainda a estrela da manhã. Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 2.18-29).
A carta a Tiatira é a mais extensa. Tiatira era uma pequena ci-
dade na Ásia Menor, na atual Turquia. O nome é freqüente-
mente traduzido por "oferta de incenso", mas é também in-
terpretado como "cheiro desagradável", o que indica o paga-
nismo ali dominante. A cidade era localizada numa região en-
cantadora, em um vale. Mas Tiatira abrigava também uma
guarnição da milícia romana, e era conhecida como cidade
comercial, tal como as outras. Além disso essa cidade era fa-
mosa por causa dos seus excelentes artífices. Também Tiati-
ra permaneceu até ao presente. Ela chama-se Akhisar, "a ci-
dade branca", devido às muitas pedreiras de mármore, que
brilham das montanhas próximas. Na década de 30, Akhisar
era mal-afamada por causa do seu comércio de ópio. Até ao
século 20 havia ali uma pequena igreja cristã de boa fama.
63
Em Tiatira deve ter surgido uma igreja bem viva e saudável,
que ao final do primeiro século tinha importância na cidade.
Já antes da formação da igreja de Jesus em Tiatira, havia ali
uma mulher piedosa, a vendedora de púrpura Lídia. Quando
na sua segunda viagem missionária Paulo chegou à cidade de
Filipos e pregou o evangelho, ela se encontrava ali. O Senhor
abriu seu coração e ela converteu-se: "Certa mulher chamada Lí-
dia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus,
nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às cou-
sas que Paulo dizia" (At 16.14). Ela e sua casa se tornaram cren-
tes e foram batizados. Essa descrição causa um certo alívio em
todos que pregam a Palavra de Deus ou tentam de outra maneira
ganhar almas para o Senhor Jesus: não nós podemos abrir os co-
rações das pessoas, mas somente o Senhor! E em todos os luga-
res ele tem pessoas às quais quer abri-lo. Por isso precisamos
transmitir-lhes a palavra da cruz. O Senhor quer, quando nós que-
remos!
64
"...e os pés semelhantes ao bronze polido" (v. 18). Os pés que na
cruz de Gólgota foram traspassados por causa do nosso pecado,
agora são como bronze polido. Essa é a realização de Hebreus
2.8 e Efésios 1.21: 'Todas as causas sujeitaste debaixo dos seus
pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as causas, nada deixou fo-
ra do seu domínio...acima de todo principado, e potestade, e po-
der, e dom lnio, e de todo nome que se possa referir não so no pre-
sente século, mas também no vindouro." Seus pés como bronze
polido - isso significa que o vencedor sobre o pecado não admi-
te mais vitórias do mal e poderes do pecado sobre seus compra-
dos pelo sangue. Ao seu olhar de chamas nada escapa; suas pi-
sadas de bronze esmiuçam todo mal. Nada entristece e ofende
mais ao Senhor, que lutou na cruz e nos comprou por preço tão
elevado, do que quando o pecado continua tendo poder em nos-
sa vida, apesar da sua vitória. Por isso Paulo diz em Romanos
6.12: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal."
65
má doutrina. Quatro vezes aparece no Apocalipse uma mulher
como tal representação simbólica-profética, e isso no sentido
positivo e negativo. No sentido positivo: "a esposa, a noiva do
Cordeiro" (cap. 19.7;21.9). Esse é o organismo completo da Igreja
de Jesus. "Uma mulher vestida do sol" (cap. 12.1), é Israel em seu
significado no Plano de Salvação; o remanescente, que é salvo
através da Tribulação. Uma representação simbolicamente ne-
gativa é "a mulher montada numa besta escarlate, a grande me-
retriz" (cap. 17.1,4). A grande meretriz é uma figura da apóstata
igreja dos tempos finais, que prostitui-se politicamente com os
poderosos deste mundo. E aqui em Apocalipse 2 temos a mulher
Jezabel, que se diz profetisa. Um falso mestre sempre tenta des-
tacar a si mesmo e fala muito de si mesmo. E o que faz também
Satanás, pois o Senhor Jesus diz dele: "Ele foi homicida desde o
princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há ver-
dade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, por-
que é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44).
O Senhor reclama da igreja em Tiatira: "Tenho, porém, contra ti o
tolerares que essa mulher, Jezabel ..." Com outras palavras: "que
permites essa doutrina na tua igreja". Trata-se da desastrosa to-
lerância, da qual o Senhor fala aqui!
Já do Antigo Testamento conhecemos a mulher Jezabel. Ela ti-
nha crescido em Tiro, a cidade portuária fenícia. Seu pai, rei Et-
baal, era também sacerdote de Astarote e sacrificava a Baal. Os
fenícios, um povo de navegadores, negociavam com madeiras no-
bres, ouro e pedras preciosas. Eles habitavam em diversas cida-
des florescentes em volta do Mar Mediterrâneo. Através do seu
casamento com a fenícia Jezabel, o rei israelense Acabe espera-
va ter assegurado a amizade da maior potência comercial. Mas
Jezabel tornou-se fatídica para ele. Ela somente trouxe desgra-
ça, confusão e aflição para o reino de Israel. Ela introduziu a ido-
latria e transformou-se em assassina de profetas. Com isso foi
calada a palavra profética em Israel: "Tenho, porém, contra ti o
tolerares que essa mulher ...", diz o Senhor a Tiatira. A falsa pro-
fetisa Jezabel sufoca a palavra profética. Certamente é por isso
que o Senhor aqui fala pouco da sua vinda. Somente àqueles em
Tiatira que "não têm essa doutrina", ele diz: tão somente con-
l i•••
servai o que tendes, até que eu venha" (v. 25). Quando a palavra
profética, que incita à santificação, é desalojada de uma igreja,
penetra um outro espírito. Então vem o espírito da mistura e da
prostituição. Esse espírito espalha-se em nossos dias de uma
66
maneira terrível. O salmista diz acertadamente: "Pode acaso
associar-se contigo o trono da iniqüidade, o qual forja o mal. ten-
do uma lei por pretexto" (SI 94.20). O caráter de Jezabel está em
nosso meio. De perversidade mundana é feita uma lei "espiri-
tual". Ensina-se e induz-se a
a) orar e mentir. Pois pode-se mentir na oração, dizendo-se, por
exemplo: "Senhor, retira esse pecado de mim", não estando dis-
posto a deixar esse pecado.
b) falar da causa do Senhor e caluniar.
c) falar de mais santificação e viver em adultério.
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Na Igreja de Jesus de hoje não são as abominações de excessos
sexuais com as quais a profetisa Jezabel suja a Igreja, mas gra-
ves enganos na área do discipulado de Jesus: em solo cristão
são permitidos abusos pagãos. Assim vemos Jezabel no movi-
mento dos chamados "evangelicals"*. Esse é um movimento de
tolerância dentro da Igreja de Jesus. Podemos chamá-lo de se-
gundo ecumenismo. O primeiro, o próprio ecumenismo, desmas-
carou a si mesmo, quando o Conselho Mundial de Igrejas falou
da presença de Cristo em todas as religiões (budismo, islamis-
mo, judaísmo, e cristianismo). Aí finalmente deve ter ficado claro
para cada um que conhece a Escritura, que o ecumenismo pre-
tende a religião única, ou seja, mundial (cornp, Ap 17)! Além dis-
so, o CMI financia os carrascos da Igreja de Jesus, sustentando
os chamados "Movimentos de Libertação".
69
do espírito". Esse era o mal em Tiatira, e esse é o mal que se
espalha hoje. Pois a grande mudança já se poderia ter deli-
neado em Tiatira, mas nada aconteceu: "Dei-lhe tempo (pra-
zo) para que se arrependesse; ela, todavia, não quer
arrepender-se da sua prostituição" (v. 21). Como era na Anti-
ga Aliança: quando se suspeitava que alguém estivesse leproso,
então o sacerdote observava bem essa pessoa e ela era isolada
por sete dias. Ela figuradamente recebia sete dias de prazo. Se o
quadro mórbido após sete dias continuava incerto, ela era "en-
cerrada" por mais sete dias (Lv 13.1ss). Se então fosse lepra, a
pessoa era imunda e era expulsa da comunidade. Aplicado a Je-
zabel, isso significa: ela recebeu um prazo para arrepender-se,
mas não o fez. Por isso a sentença: "Eis que a prostro de cama,
bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso
não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus fi-
lhos ..." (v. 22.23a). Palavras abaladoramente sérias! Observa
bem que o Deus vivo ameaça com uma sentença e a executará!
Hoje ouve-se muitas vezes lamentar: "Sou tão atribulado; certa-
mente há poderes demoníacos por trás disso." Freqüentemente
essa constatação é apressada e falsa. Pois justamente aqui em
Apocalipse 2.22-23 temos diante de nós uma intervenção, um juí-
zo do Senhor Jesus Cristo! O que igualmente se torna claro aqui:
os seduzidos de Tiatira não são julgados por causa do seu peca-
do; apesar dele ser muito grave, mas por sua impenitência: "...
caso não se arrependam das obras". Sempre desejamos uma
mudança para o bem - uma mudança espiritual em nossa famí-
lia, no nosso local de trabalho, em nossa igreja - e também ora-
mos por isso. Mas não fazemos a única coisa que cria as condi-
ções para isso: arrependimento. E então vem juízo. O Senhor
prostra de cama a Jezabel e seus seguidores, que se firmam in-
sistentemente no comportamento diabólico e dúbio, que pregam
a prostituição com relação ao Senhor como "liberdade do espíri-
to". Em outras palavras: ele a lança numa situação de impotên-
cia. Um acamado é desamparado. "... em grande tribulação", diz
o Senhor. Muitos já se encontram nessa tribulação. Com uns o
casamento está arruinado, com outros a saúde abalada e outros
ainda estão diante da ruína financeira, etc. O Senhor "prostrou-te
de cama". Por quê? Porque ele te ama e quer que finalmente che-
gues ao arrependimento. É significativo que aqui está escrito no
versículo 23: "Matarei os teus filhos". O "cristianismo de Tiatira",
essa mistura diabólica, essa tolerância diante do mundo, gerou
filhos. Uma geração de uma miscigenação sempre produz mesti·
ços. Já no tempo de Noé havia mestiços. Quando os anjos caí-
70
dos foram às filhas dos homens e viram que eram formosas, to-
maram para si como mulheres as que mais lhes agradaram (Gn
6). O resultado foi que nasceram gigantes. Os filhos de Tiatira
também eram gigantes - gigantes na desobediência, no desre-
gramento; gigantes que já em sua infância sucumbiam à prosti-
tuição.
71
o Senhor, que tem olhos como chama de fogo, diz no versículo
23b: "e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda
mente e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas
obras." Chama a atenção que agora não somente a igreja em
Tiatira deve reconhecer que o Senhor sonda mente e coração,
mas todas as igrejas. Aí estamos incluídos! Como Igreja de Je-
susdevemos finalmente reconhecer que os seus olhos são como
chamas de fogo e sondam nossas mentes e corações, de modo
que ele conhece os mais profundos motivos do nosso coração.
Mas é também um grande consolo que o Senhor não perde de
vista os fiéis. A Edição Revista e Corrigida diz: "Mas eu vos digo a
vós, e aos restantes, que estão em Tiatira ..." Esse remanescente
de fiéis em Tiatira não tinha aceitado a doutrina de Jezabel. Por
isso lhes é dito: "Outra carga não jogarei sobre vós; tão somente
conservai o que tendes, até que eu venha" (vv. 24-25). Quem se
mantém no primeiro amor ao Senhor e na sagrada unilateralida-
de no discipulado de Jesus - quem, portanto, não tolera mistura
- sobre esse o Senhor não impõe outra carga. Mas ele adverte
muito seriamente: conservem o que têm, não se deixem roubar
nada do que têm. Por quanto tempo? Até que Jesus venha: "... ao
que guardar até o fim as minhas obras" (v. 26). Portanto, não so-
mente passageira e fugazmente, mas até ao fim. Mas o que im-
pede esse guardar até ao fim? Novamente a resposta tem que
ser: a impenitência! Mas existe a possibilidade de uma mudança
radical para o bem! O primeiro passo para o verdadeiro arrepen-
dimento e para o afastamento do juízo é que não tentes ocultar o
pecado que o Senhor te mostrou, mas lhe dês razão e o confes-
ses a ele.
Também na carta a Tiatira segue no final a insistente advertên-
cia do Senhor elevado: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às igrejas" (v. 29). Entretanto, essa exortação vem somente
após a promessa aos vencedores, em contraste com a seqüên-
cia com as outras igrejas.
A promessa aos vencedores dirigida a Tiatira é: li••• eu lhe darei
eutotidede sobre as nações, e com cetro de ferro as regerá, e as
reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; assim co-
mo também eu recebi de meu Pai, dar-Ihe-ei ainda a estrela da
manhã" (w. 26-28). "... com cetro de ferro as regerá ", isso nos faz
lembrar do menino que é arrebatado ao seu Deus e regerá as na-
ções com cetro de ferro (Ap 12). Esse poder sobre as nações foi
representado profeticamente nas vitórias de Josué, Davi e Salo-
72
mão. Quando Israel entrou na terra de Canaã, através de Josué
recebeu poder sobre as nações. Com outras palavras: seus inimi-
gos lhe foram submetidos. Pois o Senhor tinha prometido: "Todo
lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso" (Dt 11.24). Aos
vencedores é prometido no futuro do Senhor: "... se persevera-
mos, também com ele reinaremos" (2 Tm 2.12). Esse poder julga-
dor sobre os povos já é recebido hoje pelos vencedores: eles já
hoje têm autoridade sobre o poder do inimigo, pois Jesus é ven-
cedor! O Senhor prometeu em Lucas 10.19: "Eis aí vos dei auto-
ridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o po-
der do inimigo ..." Isso vale para vencedores!
Chama a atenção que nas primeiras quatro promessas aos ven-
cedores temos quatro níveis, ou seja:
- árvore da vida
- vida eterna, nenhum dano da segunda morte
- maná escondido
-- exercício do poder judicial e autoridade de governo através da
vitória de Jesus.
Isso tudo em Jesus, através de Jesus e com Jesus Cristo! En·
quanto agora está concluída a série de tipos proféticos do Anti-
go Testamento, as três promessas aos vencedores das outras
três igrejas falam de coisas que ainda são futuras. Elas indicam
acontecimentos solenes na História Mundial, que ainda estão
para ocorrer.
Mas todas as promessas aos vencedores apontam de maneira
singular para o indescritivelmente glorioso futuro de que partici-
pará aquele que, através de Jesus Cristo, foi um verdadeiro ven-
cedor. Essa glória em sua plenitude não pode ser expressa em
palavras. Paulo diz em 1 Coríntios 2.9: "Nem olhos viram, nem ou-
vidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que
Deus tem preparado para aqueles que o amam". Seria, portanto,
um atrevimento querer analisar até ao fundo essa promessa da
glória futura. Encontramo-nos aqui na periferia de uma glória ine-
fável.
Cada uma das sete cartas contém uma promessa para um deter-
minado vencedor, mas mesmo assim todas essas promessas va-
lem para todos osruhos de Deus que vencem. Toda área obscura
em tua vldá, sobre a qual manténs até ao fim a vitória de Jesus,
será preenchida na Eternidade com uma indescritível porção de
glória. Quem realiza vitoriosamente o bom combate da fé e vence
73
também no sofrimento, esse é recompensado correspondente-
mente com a glória de Deus. "Porque a nossa leve e momentâ-
nea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de
toda comparação, não atentando nós nas cousas que se vêem,
mas nas que se não vêem" (2 Co 4.17-18).
Quando falamos de vencer, trata-se no fundo da ponte entre nos-
sa posição diante de Deus e nossa situação no dia-a-dia (compa-
re também mais uma vez as explanações na página 67).João diz
em sua primeira epístola: "Todo aquele que é nascido de Deus
não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divi-
na semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido
de Deus" (1 Jo 3.9). O novo homem em ti, o espírito renascido, não
pode pecar; ele é sem mancha. Assim diz Romanos 8.1: "Portan-
to, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito"
(Ed. Rev..e Corr.). Essa é nossa posição básica diante de Deus.
Essa posição tem que ser situação em nosso dia-a-dia. Em ou-
tras palavras: temos que vencer nossa carne e sangue, o eu, pelo
poder da morte de Jesus, e podemos isso quando nos considera-
mos "crucificados com ele" (GI2.19-20; Rm 6.6-8). Pois com rela-
ção à nossa situação está escrito em 1 João 5.4: "porque tudo o
que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que ven-
ce o mundo, a nossa fé". Nós fomos (eu repito) renovados na po-
sição pela morte na cruz e pela ressurreição de Jesus Cristo, e
assim também nossa situação precisa ser renovada. Toda área
em nossa vida - caráter, pensamentos, palavras, ações - tem
que ser dominada por aquilo que foi renovado em nossa vida (2
Co 5.17). Mas se o abismo entre posição e situação em tua vida
não foi desfeito, se existe uma contradição entre aquilo que di-
zes crer e aquilo que és no dia-a-dia, então te encontras fora das
promessas aos vencedores. Então terás que experimentar que
receberás a vida eterna, mas que sofrerás dano, quando estive-
res diante do trono do galardão de Jesus Cristo. "se a obra de al-
guém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo,
todavia, como que através do fogo" (1 Co 3.15). Em outras pala-
vras: quem não vence, escapa unicamente com a vida - e isso é
muito, muito sério. Pois então não atinges o objetivo de Deus,
que ele estabeleceu para ti antes da fundação do mundo. Esse
objetivo nos é mostrado em Efésios 1.4: "assim como nos esco-
lheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e ir-
repreensíveis perante ele e em amor."
74
A quinta carta do céu
"Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas cousas diz aquele
que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as
tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto. Sê vigilan-
te, e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho
achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus.
Lembra-te, pois, de como tens recebido e ouvido; guarda-o, e
arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não
conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti. Tens,
contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contamina-
ram as suas vestiduras, e andarão de branco junto comigo, pois
são dignas. O vencedor será assim vestido de vestiduras bran-
cas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pe-
lo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante
dos seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas" (Ap 3.1-6).
O nome Sardes é derivado do hebraico "sarid" e significa "o que
escapou" ou "remanescente". Historicamente, Sardes era a an-
tiga sede real da Lídia, e tinha um passado cheio de glórias. No
tempo dos romanos, entretanto, na época de João, portanto,
apesar do seu bem-estar Sardes era uma cidade provinciana des-
tituída de brilho. Então ela ganhou na era cristã novamente uma
certa fama, e isso através do bispo Melito de Sardes, falecido no
) ano de 170 d.C. Na nossa época não resta dessa notável cidade
nada mais que um monte de ruínas espalhadas numa ampla
área, e entre elas miseráveis casebres turcos, que juntos formam
uma pequena vila com o nome Sarte. Há muitas décadas Gotthilf
Heinrich Schubert encontrou em suas viagens ainda dois cris-
tãos nesses casebres. Tão completamente a igreja sucumbiu ao
juízo de Deus. Mas mesmo que uma manifestação visível do cor-
po de Jesus Cristo na igreja local desaparece, como aqui em Sar-
des - a própria Igreja de Jesus permanece. As portas do inferno
não prevalecerão contra ela! O Senhor dirige-se agora à Igreja de
Jesus nessa cidade. É algo maravilhoso fazer parte da Igreja de
Jesus e ser membro no seu corpo! A Igreja de Jesus sobrevive ao
tempo - ela existia há dois milênios e existe hoje. E é o mesmo
Senhor, o mesmo Salvador, que lhe falou e fala a ela hoje.
75
consolo para todos que estão no final das suas forças. Ele co-
nhece teus esforços e sabe das tuas realizações menospreza-
das, de tudo que fazes em segredo por amor a Jesus. Mas essas
palavras do Senhor a Sardes não significam consolo e não de-
vem ser avaliadas como louvor, mas em primeiro lugar como
prosseguimento da sua auto-revelação.
À igreja em Tiatira ele revelou-se como o Filho de Deus, que tem
olhos como chama de fogo e pés semelhantes ao bronze polido.
Mas aqui ele diz: "Estas causas diz aquele que tem os sete espiri-
tos de Deus, e as sete estrelas" (v. 1).Ossete espíritos de Deus
significam toda a plenitude do Espírito Santo. O Senhor revelou
por boca do profeta Isaías essa plenitude do Seu Espírito, pois
em Isaías 11.2 está escrito que repousará sobre ele:
1. O Espírito do Senhor
2. O Espírito de sabedoria
3. O Espírito de entendimento
4. O Espírito de conselho
5. O Espírito de fortaleza
6. O Espírito de conhecimento
7. O Espírito de temor do Senhor
Nosso Senhor Jesus tem tudo isso! Ele tem os sete espíritos de
Deus, pois nele habita corporalmente toda a plenitude da Divin-
dade (CI 2.9). Muitos falam que precisamos ter a "plenitude" do
Espírito Santo, mas isso não existe, pois nenhum homem pode-
ria suportar a "plenitude" do Espírito Santo. Essa, aliás, é uma
expressão que não aparece em nenhum lugar na Bíblia. A "pleni-
tude" do Espírito Santo seria o Espírito Santo em toda a sua pes-
soa divina. Houve homens de Deus, e os há, aos quais Deus -
devido ao seu encargo especialmente elevado - deu tal medida
do seu Espírito, que exclamaram subjugados: "Não mais, Se-
nhor, não mais!" O que o Senhor quer é que fiquemos "cheios"
do Espírito Santo!
Já vimos no capítulo 1.20quem são as sete estrelas: sete anjos,
ou seja, dirigentes das diferentes igrejas, que representam a
Igreja de Jesus completa. O Senhor, que tem os sete espíritos de
Deus, fala de um lado como a fonte de toda vida em Sardes, e por
outro [ado ele tem as estrelas - a Igreja de Jesus - em sua
mão. E como se o Senhor quisesse dizer aqui com os sete espíri-
tos de Deus, com toda a plenitude do Espírito Santo e com as se-
76
te estrelas: toda plenitude de poder renovador está à disposição
de toda a Igreja. Com isso reconhecemos repentinamente que
"Conheço as tuas obras" dessa vez não contém nem consolo
nem louvor. Pelo contrário, a palavrinha "que" revela a enorme
seriedade dessa mensagem do Senhor à sua igreja. Leiamos no-
vamente no contexto: "Estas cousas diz aquele que tem os sete
espfritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que
tens nome de que vives, e estás morto" (v. 1). O Senhor fala aqui
de maneira muito direta, não como com outras igrejas, por exem-
plo com Pérgamo, onde diz primeiro: "Tenho, todavia, contra ti al-
gumas couses" (cap. 2.14), ou como para Tiatira (cap. 2.20)e Éfe-
so (cap. 2.4): "que tens nome de que vives e estás morto." Isso
prova que aqui o Senhor fala de obras mortas, que vimos tam-
bém com Tiatira. A definição mais curta de obras mortas prova-
velmente é: parecer sem ser! Parece existir algo, mas na realida-
de não há nada. A igreja em Sardes tem um Salvador histórico,
mas não um Salvador presente, senão a situação estaria bem dl-
ferente. Após um início cheio de vida, houve enrijecimento. Cha-
ma a atenção que essa igreja, em contraste com outras igrejas, é
deixada em paz pelo diabo. Satanás nem é citado aqui. Em Sar-
des não há falsas doutrinas, não há entusiastas, não há falsos
profetas; também não há sofrimentos nem tribu lações. Por quê?
Justamente: porque a igreja está morta! "... tens nome de que vi-
ves e estás morto." Bem entendido, ela está morta somente aos
olhos do Senhor, pois para fora ela tem o nome de ser uma igreja
viva. Tudo parece estar na melhor ordem. Que essa igreja tem o
nome de ser viva, significa duas coisas: não somente que lhe tal-
ta algo, mas também que pretende ter algo que não existe.
79
rente, frio e orgulhoso. Trata-se de uma quíntupla ordem categó-
rica:
A primeira ordem é: "Se vigilante" (v. 2). Aquele a quem Jesus
acorda do sono de morte é capaz de levantar! O poderoso cha-
mado "Volta à vida" já foi ouvido com Lázaro, que já se encontra-
va quatro dias na sepultura e já estava cheirando mal. Quando a
pedra foi finalmente tirada, o Senhor Jesus clamou em alta voz
depois de ter agradecido ao Pai: "Lázaro, vem para fora" (Jo
11.43). E o morto levantou-se, tendo os pés e as mãos ligados
com ataduras, e o rosto envolto num lenço (Jo 11.44). O Senhor
diz também a ti com esta mensagem: "Desperta!" Não é uma ter-
rível ofensa para ele, que derramou sua vida em seu sangue na
cruz de Gólgota para nos despertar do sono de morte, quando
dormimos novamente? E isso em uma hora do Plano de Salva-
ção na qual ele pode voltar a qualquer momento! Os discípulos
de Jesus dormiram naquela outra hora importante do Plano de
Salvação, quando o Senhor suou sangue no Getsêmani e lutou
com a morte, antes de ir para Gólgota. Então ele encontrou seus
discípulos dormindo e perguntou-lhes lamentando: "Então, nem
uma hora pudestes vós vigiar comigo?" (Mt 26.40). Sê vigilante!
80
ele, porque a igreja dorme. Dela saem efeitos de morte, ao invés
de rios de vida. Ouve o penetrante chamado do Senhor: "Sê vigi-
lante, e consolida o resto que estava para morrer. " Pára a morte
espiritual em ti e à tua volta!
"Porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença
do meu Deus" (v. 2). As obras de Cristo sempre são as obras do
Pai. O Senhor Jesus fala sempre a partir da sua unidade com o
Pai. Ele tem os sete espíritos, o Espírito Santo, e fala as palavras
e faz as obras do Pai, do Deus triúno. Se o Senhor diz a Sardes:
"as tuas obras são incompletas", então isso significa que as
obras mortas predominam. Hebreus 9 ensina-nos que pelo san-
gue de Jesus somos purificados das obras mortas. O que são,
afinal, obras mortas? É tudo aquilo que é de orientação terrena,
por exemplo auto-promoção, diversos vícios e ser escravizado a
cobiça, avareza, orgulho, falatório vazfo, como também o desper-
dício de tempo precioso, concretamente: tudo aquilo que não é
dirigido para o Senhor. "...não tenho achado íntegras as tuas
obras na presença do meu Deus." O servo preguiçoso enterrou
seu talento, e muitos entre nós também o fazem. Vocês, jovens
amigos, teriam chances tão grandes para serem algo maravilho-
so para o Senhor! Vocês, mais idosos, o que poderiam fazer pela
oração, pelas ofertas e pelo testemunho! Mas o que vocês ta-
zem, irmãos jovens e mais velhos? O culto devocês consiste em
grande parte de freqüentar o culto dominical, ouvir devotamente,
sair novamente e voltar à ordem do dia. Tudo gira mais ou menos
em torno de vocês mesmos e do próprio bem-estar: "...não tenho
achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus." Flcas-
te devendo a parte decisiva do teu trabalho, ou seja, o trabalho de
salvador e atalaia em meio a uma Humanidade que desespera e
também procura desesperadamente. Talvez te defendas dlzen-
do: mas eu dou testemunho e distribuo literatura e folhetos. A
questão é: teu testemunho tem autoridade? Ou será que aquilo
que fazes para o Senhor - as obras de Cristo através de ti - é
sobrepujado e enfraquecid.o por muitas coisas inúteis que te fas-
cinam? "... não tenho achado íntegras as tuas obras na presença
do meu Deus."
A terceira ordem do Senhor é: "Lembra-te, pois, de como tens re-
cebido e ouvido" (v. 3). O homem despertado pode novamente
pensar de maneira espiritualmente normal. De uma pessoa que
dorme não se pode esperar que pense e discirna claramente,
pois é incapaz de ver as realidades. Mas tão logo está acordada,
81
ela tem a capacidade de pensar. "Lembra-te, pois", diz o Senhor,
"de como tens recebido e ouvido", As palavras de Deus "desapa-
recidas" precisam agora ser novamente tiradas dos cantos es-
curos do teu coração. Quem faz isso sinceramente e ocupa-se
novamente com a preciosa Palavra de Deus em seu coração, ou-
vindo o que ela diz, tem o coração levado ao arrependimento sal-
vador e libertador. Muitos não são capazes de arrepender-se, por-
que não estão dispostos a aceitar aquilo que ouviram. Mas onde
isso acontece, fica livre o caminho para a verdadeira mudança
de mentalidade. Esse foi também o caso com Pedro. Ele era tal
piedoso, cheio de si mesmo e que sempre queria ter razão. Ele
estava também muito consciente de tudo que realizava no reino
de Deus. Ele era sempre o primeiro e mais zeloso diante do Se-
nhor. Mas então ficou revelado que tudo era somente aparência.
Quando foi posto à prova, ele negou o Senhor. Quando ele
tornou-se capaz de arrepender-se? Quando se lembrou das pala-
vras do Senhor, depois de tê-lo negado friamente e até assegura-
do com juramento que não o conhecia. Lucas 22.61 descreve is-
so de forma tão comovente: "Então, voltando-se o Senhor, fixou
os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, co-
mo lhe dissera ". Ele lembrou-se como o Senhor havia dito: "Hoje
três vezes me negarás, antes de cantar o galo" (Lc 22.61). Então
Pedro saiu e chorou amargamente (Lc 22.62). Isso é arrependi-
mento verdadeiro! A Palavra de Deus é como um martelo que es-
miuça a penha (Jr 23.29). A igreja em Sardes negava o Senhor e
seu maravilhoso poder salvador, mantendo somente o nome. E
tu? Lembra a Palavra, que já ouviste tantas vezes. Não continua
mantendo o nome, a aparência, mas torna-te uma carta legível
de Cristo. Lembra o que Paulo diz a respeito dos tempos finais:
"... tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder" (2
Tm 3.5).
A quarta ordem: "... guarda-o" (v. 3). O que Sardes, o que nós deve-
mos guardar? A Palavra! Deixa de ser apressado e superficial e
aprofunda-te! Não deixa que o Senhor continue lamentando so-
bre ti, como teve que fazê-lo através de Jeremias: "Porventura
deixar-se-á a neve do Líbano por uma rocha do campo? ou deixar-
se-êo as águas estranhas, frias e correntes? Contudo o meu po-
vo se tem esquecido de mim" (Jr 18. 14-15a, Ed. Rev. e Corr.). Por
isso, mais uma vez: guarda a Palavra!
82
mado ao arrependimento não é feito imediatamente como no ca-
so de outras igrejas, mas somente após as diversas ordens. Isso
porque ninguém tem condições de arrepender-se enquanto dor-
me, ou seja, está espiritualmente morto. Jesus Cristo somente
ilumina-te para o arrependimento libertador, quando queres obe-
decer ao seu chamado. Nesse contexto lembremos mais uma
vez Efésios 5.14: "Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre
os mortos, e Cristo te iluminará". Se despertares e te levantares,
Cristo te levará para sua luz. Então ele iluminará teu ser, até às
profundezas mais escondidas e escuras da tua alma, de modo
que estarás então em condições de arrepender-te de todo o cora-
ção sobre toda a aparência - arrependimento sobre o fato de
r- Jesus Cristo ser experiência passada em tua vida, mas não pre-
sença viva. Arrepender-se, por isso, significa também humilhar-
se sob a sua poderosa mão, porque após início promissor, enrije-
ceste interiormente.
Finalmente o Senhor faz ainda uma ameaça, dizendo no versícu-
lo 3b: "Porquanto se não vigiares, virei..." Interessante é que ele
não diz "se não te arrependeres", como fez com as outras igre-
jas, mas: se não vigiares". Ele sabe: se eles despertarem, tam-
l i...
84
A sexta carta do céu
"Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas cousas diz o san-
to, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre e nin-
guém fechará, e que fecha e ninguém abre: Conheço as tuas
obras - eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual
ninguém pode fechar - que tens pouca força, entretanto guar-
daste a minha palavra, e não negaste o meu nome. Eis que farei
alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si
mesmos se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os
farei vir e prostrar-se aos teus pés, e conhecer que eu te amei.
Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu
• te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo in-
teiro, para experimentar os que habitam sobre a terra. Venho
sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua
coroa. Ao vencedor, tê-to-e! coluna no santuário do meu Deus, e
daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu
Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que des-
ce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 3.7-
13).
Já nas cartas anteriores fomos tocados pelo fato de o Senhor
elevado falar tão direta e insistentemente e ao mesmo tempo fa-
lar também diretamente ao nosso coração. Naverdadetoda a Bí-
blia é o falar direto de Deus: "Havendo Deus, outrora, falado mui-
tas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes
últimos dias nos falou pelo Filho" (Hb 1.1~2).
85
Antiga Aliança. Em Josué 7 lemos como um homem, Acã, pecou,
agindo dolosamente e assim arrastou todo o povo de Israel a
uma derrota.
Mas o belo e significativo nome Filadélfia não é de origem cristã,
pois essa cidade já foi fundada no ano de 154 a.C. pelo rei de Pér-
gamo, Ataío 11. Ele usava o cognome Filadelfo e chamou então
essa cidade pelo seu nome. Apesar dela ter sido várias vezes
destruída por terremotos, foi sempre novamente reconstruída e
atingiu nova prosperidade.
Qual é o motivo pelo qual o Senhor elevado nessa carta - em
contraste com as outras - revela-se tão detalhadamente, tão
amplamente, ao anjo dessa igreja? A revelação própria especial
do Senhor consiste dele falar do que é e do que tem: "Estas cou-
sas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi"
(v. 7). Ele é o santo, e a igreja de Filadélfia não é santificada so-
mente conforme a posição, mas vive na santificação também no
dia-a-dia. Isso se conclui do testemunho que o Senhor dá dela:
"Porque guardaste a palavra da minha perseverança" (v. 10). Em
outras palavras: "Em todas as situações, tu te firmaste em mi-
nha palavra." Isso tem íntima relação com a santificação pes-
soal, pois quem guarda a Palavra, vive em santificação. E vice-
versa: quem vive na santificação, esse tem que guardar a Pala-
vra. Uma coisa não é possível sem a outra. O próprio Senhor Je-
sus orou: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo
17.17). Levar sua Palavra a sério significa, portanto, ser obedien-
te à sua Palavra, e isso significa, por sua vez, ser santificado na
sua verdade. Esse é também o motivo da segunda revelação pró-
pria do Senhor: "Estas cousas diz o santo, o verdadeiro" (v. 7). Ele
não somente diz a verdade, mas é a verdade em pessoa. Desse
modo, ele é a revelação única, absolutamente verdadeira e com-
pleta daquilo que Deus é. "Quem me vê a mim, vê o Pai"(Jo 14.9).
Ele é verdadeiro em sua Palavra, em suas promessas, de modo
que a qualquer tempo e em quaisquer circunstâncias podes con-
fiar nele completamente! A designação "o verdadeiro" sublinha
a afirmação anterior de que ele é o Santo.
Não é por acaso que o Senhor, após sua revelação própria, fala
também da vida santificada da igreja de Filadélfia. "Porque guar-
daste a palavra da minha perseverança" (v. 10). Pois ainda antes
que o mundo fosse criado, o Senhor já escolheu os crentes nes-
sa igreja e também a nós, para "sermos santos e irrepreensíveis
perante ele; e em amor"(Ef 1.4). Esse "em amor" mostra o vínculo
86
singular entre o Senhor e os seus comprados pelo sangue. O ob-
jetivo supremo de Deus, que ele já tinha antes da fundação do
mundo com cada um de nós e com os muitos milhões de ho-
mens, não era somente que nos convertêssemos e tornássemos
felizes filhos de Deus, mas sim, que fôssemos santos e irrepreen-
síveis perante ele. Essa é também a razão da sua apresentação
na carta: "Estas causas diz o santo, o verdadeiro". A igreja de Fi-
ladélfia correspondia ao objetivo de Deus.
87
seu ombro a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém fecha-
rá, fechará e ninguém abrirá". Aqui, na carta a Filadélfia, o Se-
nhor elevado, o cumprimento visível dessa profecia, vem ao en-
contro da sua igreja fraca e afligida e declara: "Conheço as tuas
obras" (v. 8). Como com Esmirna, também aqui o Senhor não enu-
mera as obras quantitativas, como foi o caso, por exemplo, com
os efésios: "Conheço as tuas obras, assim o teu labor como a tua
perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que pu-
seste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não
são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste
provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer"
(cap. 2.2-3). O que ele cita é a dupla luta de fé de Filadélfia, pois
essa igreja, como Esmirna, teve que sofrer por amor a Jesus:
89
vra da sua perseverança -a despeito de todas as correntes da-
quela época.
Percebes quê, pelo fato de teres cedido aos incrédulos, foste
transformado em uma inofensiva bomba que não deflagrou, que
estás sem o "combustível" do evangelho? Teu testemunho está
completamente sem nitidez, porque pela tua posição dúbia ne-
gaste o precioso nome de Jesus. Esse é o grande problema! Mui-
tos querem ambas as coisas, o Senhor e o mundo - e não têm
nada. Eles são como moscas, que alternadamente pousam so-
bre um monte de estrume e depois novamente sobre um pão com
mel. Mas o Senhor disse: "...todo aquele que dentre vós não re-
nuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo" (Lc
14.33). Todos os teus problemas não devem ser atribuídos a cir-
cunstâncias desfavoráveis, mas ao fato de não teres um "sim"
completo e decidido para o Senhor, dizendo um "não" igualmen-
te decidido para o mundo e o pecado.
90
vam: "Nós temos a única coisa certa, nós temos a justiça diante
de Deus." Mas eles mentiam, diz o Senhor: H ••• a si mesmos se de-
claram judeus, e não são" (v. 9). Hoje são os cristãos sem Cristo,
que são tratados pelos seus I íderes como "prezada
comunidade", que desprezam e zombam da atual igreja de Fila-
délfia. Cada um que segue a Jesus Cristo de todo o coração, co-
nhece essa terrível luta com o mundo religioso, com cristãos
sem Cristo, que argumentam: "Somos batizados e confirmados,
fazemos o bem e não tememos a ninguém, conseqüentemente
I". está tudo na melhor ordem." Mas aí o Senhor Jesus dá à igreja
em Filadélfia a maravilhosa promessa: HEis que farei que alguns
dos que são da sinagoga de Satanás ... eis que os farei vir e
prostrar-se aos teus pés, e conhecer que eu te amei" (v. 9). Isso
significa: pelo vosso testemunho fiel e com autoridade, pessoas
sairão apressadamente da "sinagoga de Satanás", do cristianis-
mo aparente, e darão razão a vocês, aceitando Jesus Cristo co-
mo seu Salvador. Eles reconheceram que ao invés de uma fé for-
mai morta, existe uma comunhão viva entre o senhor e os seus.
H ... e conhecer que eu te amei" (v. 9). É mais fácil levar a Cristo
91
quando se vê que o Senhor por um lado lhe garante uma porta
aberta e por outro lado lhe dá duas vezes o testemunho de que
guardou sua Palavra e não negou seu nome. Além disso, ele a
exorta no versículo 11 a conservar o que tem: "Conserva o que
tens, para que ninguém tome a tua coroa. " Ela já tem a coroa dos
vencedores, isto é, ela lutou vitoriosamente! Pois ninguém é co-
roado, a não ser que tenha combatido corretamente o bom com-
bate da fé. Por isso a visão do futuro, que o senhor dá a Filadélfia,
é tão cheia de promessas e profecia extremamente atual. Essa
profecia cumpre-se em nossos dias. Quando se lê tudo no con-
texto, então se sabe com certeza que a Igreja será arrebatada an-
tes da Grande Tribulação e não no meio ou até depois: "Porque
guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guar-
darei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, pa-
ra experimentar os que habitam sobre a terra" (v. 10). A "hora da
provação" é a Grande Tribulação anticristã, que é descrita nos
capítulos seguintes do Apocalipse. Se alguma vez uma Palavra
foi atual em nossa época, então esta: "... também eu te guardarei
da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para ex-
perimentar os que habitam sobre a terra. Venho sem demora".
Da época de sua vinda - bem entendido, não da hora, mas da
época - ele diz em Mateus 24.32-34: "Aprendei, pois, a parábola
da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas bro-
tam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quan-
do virdes todas estas cousas, sabeique está próximo, às portas.
Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tu-
do isto aconteça." Isso ele disse em meio à sua profecia sobre os
sinais dos tempos finais, sobre Sua vinda em grande poder e gló-
ria, sobre a Grande Tribulação anterior. 14... não passará esta ge·
ração sem que tudo isto aconteça." Quanto dura uma geração?
No máximo quarenta anos. Lembremos que em 1948começou o
Estado de Israel e que em 1967 Jerusalém tornou-se novamente
a capital - a figueira ganhou folhas -, e agora começou a déca-
da de 80. Uma geração está quase no fim. Quão próximo deve es-
tar então o arrebatamento! Por isso é decisivo para ti e para mim:
ou, como indivíduos e como igreja, somos vitoriosos no ataque
ao mundo, ao mundo religioso, ou, levados por compromissos,
somos empurrados para uma guerra de defesa. Mas quem está
na defensiva é cercado por Satanás e aniquilado sem compai-
xão. Ou escolhes o sagrado radicalismo por Jesus, ou em tua di-
visão do coração serás vítima do anticristo. Jesus vem em breve!
Por isso, aceita o sagrado radicalismo, a entrega total a ele, para
92
que não sejas envergonhado na sua vinda! Pois a promessa aos
vencedores de Filadélfia é: "Ao vencedor, fá-Io-ei coluna no san-
tuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre
ele o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce
do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome" (v. 12).
Essa recompensa dos vencedores tem seu ponto de partida num
novo reino fundado, numa nova cidade, numa nova cidadania
glorificada. O vencedor será feito coluna em um templo não feito
por mãos humanas. Dessa cidadania fala o profeta Isaías: "Será
que os restantes de Sião e os que ficarem em Jerusalém serão
chamados santos; todos os que estão inscritos em Jerusalém
para a vida" (ls 4.3). Os vencedores de Filadélfia recebem indes-
critíveis glórias, que apesar de serem aludidas com palavras, não
podem ser racionalmente explicadas em sua essência (comp. 2
Co 12.4; 1 Pe 1.8).
93
A sétima carta do céu
"Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas cousas diz o
Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de
Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem
dera fosses frio, ou quente! Assim, porque és morno, e nem és
quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois
dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de cousa alguma, e
nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.
Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para
te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que
não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungi-
res os teus olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a
quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à
porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei
em sua casa, e cearei com ele e ele comigo. Ao vencedor, der-lhe-
ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci,
e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça
o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 3.14-22).
Laodicéia estava localizada a sudeste de Filadélfia, nas proximi-
dades de Colossos. Tratava-se de uma velha cidade frígia, que
originalmente se chamava Dióspolis, e depois Rheos. Somente
mais tarde ela recebeu o nome Laodicéia, em honra a Laodice, a
terrível esposa do rei sírio Antíoco 11. Ao tempo dos apóstolos,
Laodicéia era uma cidade extremamente próspera. Paulo faz re-
ferência a ela em Colossenses 2.1; 4.13,15,16. O historiador ro-
mano Tácito conta-a às cidades mais destacadas da Ásia e lou-
va sua grande riqueza. No ano 62 d. C. ela foi, juntamente com
Hierápolis e Colossos, destruída por um terremoto. Por causa da
sua grande riqueza, entretanto, ela pôde ser reconstruída tão rá-
pida e completamente, que ao tempo em que João recebeu o
Apocalipse em Patmos (aprox. 85 d. C.)essa terrível catástrofe já
havia sido esquecida há multo, No ano 1402 d. C. também essa
cidade, juntamente com Efeso, foi totalmente destruída pelas
hordas de Timur-Lenk. Hoje encontram-se no seu lugar somente
muitas ruínas que chamam a atenção e têm o nome de Eski-His-
sar, o que significa "castelo antigo". Elas são testemunhas me-
lancólicas de glória terrena passada.
Essa é a última carta do Senhor elevado às suas igrejas. No sen-
tido profético ela é especialmente dirigida à Igreja dos tempos fi-
94
nais e assim aos crentes de hoje. Por isso justamente a mensa-
gem do Senhor contida nessa carta é de grandiosa atualidade.
97
convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o
mistério de Deus, Cristo" (CI2.1-2). Ele sabia: os crentes em Lao-
dicéia estão afastando-se do primeiro amor; eles não têm mais
uma relação viva com o Senhor. Como isso lhe deve ter doído!
Pois tratava-se da situação do coração dos crentes. Colossos e
Laodicéia eram cidades vizinhas e por isso ele queria de qual-
quer modo que também os crentes em Laodicéia lessem a carta
aos colossenses: "E, uma vez lida esta epístola perante vós, pro-
videnciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a
dos de Laodicéia lede-a igualmente perante vós" (CI 4.16). Apa-
rentemente Paulo tinha escrito uma carta a Laodicéia, que, en-
tretanto, não consta em nossa Bíblia.
98
nais, é como que paralisada. Através de quê? Pelo elevado bem-
estar, no qual vive sem investi-lo na causa de Jesus. Esse era
realmente o caso com Laodicéia? Naturalmente, pois de outro
modo o Senhor não citaria suas próprias palavras: "pois dizes:
Estou rico e abastado." Esse louvor próprio prova dupla avareza:
eles ganhavam muito e eram avarentos quando se tratava da
causa do Senhor. Por outro lado: eles eram aproveitadores reli-
giosos; ricos em conhecimento, mas avarentos na transmissão
da mensagem; eles não tinham zelo missionário. Devemos ver is-
so claramente: o Senhor fala aqui a uma igreja que vivia em meio
a uma cidade de comércio, de bancos e de indústrias... como
nós. Laodicéia era conhecida principalmente pela sua escola
farmacêutica e pela sua indústria de lãs. Trata-se de uma igreja
que aceitou o estilo de vida dos banqueiros e industriais não so-
mente na vida exterior, mas também na vida interior, devido à sua
riqueza em bens espirituais, conhecimento bíblico e costumes
sólidos, levando uma espécie de vida de patrícios em burguesia
cristã. E isso em meio a um mundo pagão igualmente rico e ele-
gante, que não era fanático, mas ao lado de cem outras associa-
ções para a satisfação da necessidade religiosa aceitava tam-
bém a igreja cristã e talvez até lhe dispensasse atenção. Não
existem mais contrastes, pois a igreja por seu lado compartilha
do espírito do capitalismo com o seu meio: "pois dizes: Estou ri-
co e abastado, e não preciso de couse alguma." Espantados
constatamos: essa é a igreja de hoje! As outras igrejas o Senhor
diz: "Tenho contra ti", mas a Laodicéia ele diz: "Causas-me
nojo". Deve abalar-nos profundamente que o Senhor é tão inexo-
ravelmente rigoroso justamente com a igreja de Laodicéia, que
está tão segura de pertencer-lhe e é tão orgulhosa da sua situa-
ção. Nosso Senhor assume aqui a atitude de profunda rejeição e
de decidida disposição para o juízo: ele faz o gesto de alguém
cheio de nojo e a ponto de vomitar. O estado de Laodicéia é tão
repugnante para ele como água insossa, morna, que provoca vô-
mitos. A mesma veemente rejeição já o move hoje em oculto, e
com tal veemênoia ele vai renegar na sua volta tais "cristãos de
Laodicéia", satisfeitos consigo mesmos e impenitentes. "Co-
nheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fos-
ses frio, ou quente! Assim, porque és morno, e nem és quente
nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca." Já encon-
tramos no último livro do Antigo Testamento a contradição da
igreja em Laodicéia - "Estou rico e abastado". O profeta Mala-
quias descreve o diálogo do Senhor com Israel: "Eu vos tenho
99
amado, diz o Senhor, mas vós dizets: Em que nos tem amado? ...
E se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? diz o Se-
nhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes, que desprezais o
meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome? ...
Enfadais o Senhor com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o
enfadamos? ... tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós ou-
tros, diz o Senhor dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos
de tornar?"(MI1.2; 1.6;2.17;3.7). Uma réplica após outra! A igreja
dos tempos finais é tal igreja de rebelião, de contradição. O anti-
cristo é o grande retrucador. Onde o temor de Deus desaparece,
aparece o espírito de rebelião, de contradição e de discórdia com
o Senhor. Ao mesmo tempo toma conta também a cegueira so-
bre a própria situação miserável, que o Senhor desmascara aqui:
"pois dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de cousa algu-
ma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e
nu" (v. 17).Esse fatal desconhecimento da situação real é abala-
dor. Mas hoje não é diferente: os cristãos não vêem em que situa-
ção se encontram; eles não vêem que apesar do seu bem-estar
material e seu saber religioso, no fundo são miseráveis, pobres,
cegos e nús. É a primeira vez que o Senhor fala dessa maneira re-
preensora a uma igreja. O desconhecimento da própria situação
é proveniente da indiferença diante da Palavra de Deus e a con-
seqüência é mornidão. Davi orou no Salmo 119.5: "Oxalá sejam
firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos."
Desconhecimento em si é julgado muito brandamente pelo Se-
nhor. Pois existem muitos que andam confusos, mas o Senhor
ama-os e procura-os. Ele vai atrás da ovelha perdida, que não co-
nhece o caminho certo. "Todos nós andávamos desgarrados co-
mo ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor
fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos" (ls 53.6). Mas ele não
admite que a falta de conhecimento próprio seja proveniente da
mornidão, quando se deixa de ler e pesquisar a Palavra em ora-
ção. Romanos 11.21-22 continua tendo completa validade: "Por-
que se Deus não poupou os ramos naturais (Israel), também não
te poupará. Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus:
para com os que caíram, severidade; mas para contigo, a bonda-
de de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte também tu serás
cortado." Paulo dirige-se à igreja de Jesus em Roma e lhe diz in-
sistentemente: Deus não poupou Israel, seu povo escolhido, ao
qual ele disse: "Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-
te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em mise-
rícórdias" (Os 2.19); "Com amor eterno eu te amei, por isso com
100
benignidade te atraí" (Jr 31.3); "Dar-te-ei e à tua descendência a
terra" (Gn 17.8). Não, ele não poupou o povo rebelde, mas
expulsou-o da terra prometida e espalhou-o por todo o mundo. Vi-
mos o que Israel passou nos milênios passados. E se o Deus vivo
não poupou o Israel rebelde, ele também não poupará os crentes
mornos. Assim temos em Romanos 11.21-22 um paralelo com
Apocalipse 3.16: "Assim, porque és morno, e nem és quente nem
frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca." Sabemos to-
dos, quando se vomitou algo não se toma-o novamente. Mas, ó
105
1. "Escreve, pois, as cousas que viste" (cap. 1.19). O que João ha-
via visto? O Senhor glorificado e que estava voltando! (cap. 1.1-
20). Essa visão foi tão indescritivelmente magnífica e majestosa,
que João caiu como morto a seus pés.
2. "Escreve ... as que são" (cap. 1.19b). O que era isso? As sete
igrejas (cap. 2.1-3.22).
3. "Escreve... as que hão de acontecer depois destas" (cap.
1.19c). Ele devia, portanto, escrever também o que aconteceria
na terra após a época da Igreja de Jesus, isto é, após o arrebata-
mento.
"Depois destas cousas olhei, e eis não somente uma porta aber-
ta no céu" (v. 1). João vê primeiro o essencial: o Evangelho. Mais
exatamente: o maravilhoso resultado da redenção. Esta é a rnen-
sagem que temos a anunciar por todo o mundo: o véu está rompi-
do, o céu está aberto! Cada um que quiser, pode encontrar o ca-
minho ao céu. O Senhor Jesus diz: "Eu sou o caminho, e a verda-
de, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6). Em ou-
tro lugar ele diz: "Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será
salvo" (Jo 10.9). Em Hebreus 10.19 está o convite: "Tendo, pois, ir-
mãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue
de Jesus..."
João não somente vê, ele também ouve: " ... como também a pri-
meira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo:
Sobe para aqui, e te, mostrarei o que deve acontecer depois des-
tas cousas" (v. 1b). E interessante que João imediatamente reco-
nheceu a voz, que já havia ouvido uma vez na terra (cap. 1.10). Foi
também João que em seu Evangelho transmitiu as palavras de
Jesus: as ovelhas ouvem a sua voz ... mas de modo nenhum
l i...
seguirão o estranho" (Jo 10.3,5). Se João diz aqui: " ...a primeira
voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo ...", ele
quer salientar: é o meu Senhor, que me chama! Como ele o cha-
mou? Com uma trombeta. Então João é figuradamente arrebata-
do da terra em espírito. O seu arrebatamento realiza-se analoga-
mente ao futuro arrebatamento da Igreja. Quando ele acontece-
rá? " num momento ... ao ressoar da última trombeta" (1 Co
15.52), quando o Senhor aparecer com " sua palavra de ordem" (1
106
Ts 4.16). Agora, portanto, João é chamado ao céu com a trombe-
ta de Deus. Ele ouve, como ouvirá a Igreja, uma palavra de ordem:
"Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois des-
tas causas". Portanto: em espírito João é figuradamente arreba-
tado antecipadamente e vê a Igreja glorificada no céu após o seu
arrebatamento. Assim ele vê também a nós na glória.
João chega muito rápido ao céu, pois diz: "Imediatamente" (v. 2).
Essa palavra na verdade não faz parte do seu vocabulário usual.
"Imediatamente" ou "logo" são expressões típicas de Marcos.
No seu Evangelho ele as usa aproximadamente quarenta e duas
vezes. Que agora o calmo e pensativo João utiliza essa palavra,
significa que ele foi arrebatado muito rapidamente. "Imediata-
mente eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono."
Também isso combina com o que experimentaremos no arreba-
tamento que está diante de nós: seremos arrebatados num ins-
tante, tão rápido que quase não poderemos compreendê-lo. En-
tão estaremos com o Senhor! A primeira coisa que João vê no
palácio celestial é um trono, no qual está assentado alguém a
quem cabe esse mais elevado lugar de honra: "e eis armado no
céu um trono, e no trono alguém sentado" (v. 2). Que João refere-
se primeiro ao trono e não àquele que está assentado nele, deve
ter sua razão no sagrado respeito de que ele está tomado ao ver a
Majestade de Deus. Não foi em vão que Deus disse a Moisés:
"homem nenhum verá a minha face, e viverá" (Êx 33.20). Com
Isaías foi semelhante a João. Quando foi chamado e viu a glória
do senhor, ele começou a gritar de pavor: "Ai de mim! Estou per-
dido! ... os meus olhos viram o Rei, o Senhor das Exércitos ..." (ls
6.5). Não foi diferente com o profeta Ezequiel: "Esta era a aparên-
cia da glória do Senhor; vendo isto caí com o rosto em terra" (Ez
1.28). Nenhum homem pode olhar a santa Majestade de Deus, a
não ser que esteja abrigado em Jesus Cristo. Daniel, que é des-
crito como "muito amado" (Dn 9.23), testemunha o que experi-
mentou vendo a glória do Senhor: "... não restou força em mim; o
meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força algu-
ma. Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo-a, caí sem
sentido, rosto em terra" (Dn 10.8-9). Por isso não precisa admirar-
nos que também João somente alude à grandiosa cena que vê
após seu arrebatamento. Ele não chega a dizer que viu Deus,
mas somente fala sobre o trono e sobre alguém assentado nele.
Ele descreve o que havia ao redor do trono, sobre o trono e o que
saía do trono, mas parece temer falar o nome de Deus e descre-
107
ver sua aparência. Ao invés disso ele diz surpreendido: lie no tro-
no alguém sentado" (v. 2). É como se ele emudecesse diante da
visão da glória de luz divina. Pois isso também não pode ser dife-
rente. Pelo contrário. Quem é confrontado com o poder origina-
dor da vida, esse emudece em sagrada reverência. Que grandio-
sos momentos, quando um homem encontra Deus! Também o
profeta Elias cobriu seu rosto quando soube que encontraria a
Deus. Do mesmo modo também Moisés, ao qual o senhor falava
como um homem fala ao seu amigo. Mas na verdade não foi sem-
pre assim, que Deus, antes de revelar seu conselho aos seus ser-
vos, primeiro revelou a si mesmo a eles? Que é assim, vemos por
exemplo também com Abraão. Do mesmo modo no chamamen-
to do profeta Isaías, esse grande profeta, que descreveu de ma-
neira singular o Cordeiro de Deus e profetizou sobre ele. Mas pri-
meiro ele teve que encontrar o Senhor e ser purificado. a mesmo
foi experimentado pelo profeta Ezequiel, que predisse de manei-
ra singular o futuro de Israel - até à época presente e ao Milênio.
Mas primeiro ele teve que encontrar o Senhor. Igualmente Da-
niel, que profetizou coisas grandiosas sobre os acontecimentos
futuros. Mas primeiro também ele teve Queencontrar o Senhor, e
assim também João. Somente então eram capazes de ouvir a Pa-
lavra do Senhor.
a Senhor quer instruir-nos e confiar-nos o que fará em breve, mas
primeiro quer encontrar-nos. Pois reconhecê-lo, essa é a condi-
ção para a compreensão dos acontecimentos dos tempos finais.
Somente podes entender e compreender a palavra profética, se
estás disposto primeiro a encontrar o Senhor.
a Senhor exclusivamente é que está por detrás da História Mun-
dial e do Plano de Salvação. E o que se vê aqui no início da revela-
ção sobre as coisas futuras. Quando lemos os versículos 2 e se-
guintes, então vemos que o Inexprimível, que está assentado em
silenciosa Majestade sobre o trono, somente pode ser visto na
plenitude de luz que dele procedê. João não pode descrever a
pessoa de Deus, mas ele conta o que vê: lie esse que se acha as-
sentado é semelhante no aspecto a pedra de jaspe e de sardônio,
e ao redor do trono há um arco-íris semelhante no aspecto a es-
meralda" (v. 3). A abundância de luz que procede dele, reflete o
caráter de Deus, e isso coloca João em condições de descrevê-
lo, e lhe permite também ver a homenagem dos seus servos. Nos
versículos 8-9 lemos como os seres viventes prostram-se e come-
çam a louvar a Deus, e os vinte e quatro anciãos os seguem: l i•••
108
os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se
encontra sentado no trono, adorarão ao que vive pelos séculos
dos séculos, e depositarão as suas coroas diante do trono, pro-
clamando: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória,
a honra e o poder, porque todas as causas tu criaste, sim, por
causa da tua vontade vieram a existire foram criadas"(w. 10-11).
Essa é, no fundo, nossa tarefa com relação ao mundo: refletir a
luz! Pois exceto pela Palavra, por meio do Espírito Santo, o mun-
do pode reconhecer o caráter do Senhor e assim o Cordeiro de
Deus, somente quando somos uma luz (Mt 5.14). Ele, e com isso
Deus o Pai, somente é reconhecido pelo teu ambiente através do
louvor e das graças que lhe dás. Aqui o vemos como Deus cria-
dor: "Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a
honra, e o poder, porque todas as causas tu criaste." Nossa fun-
ção aqui na terra é que sejamos algo para louvor da glória de sua
graça (comp. Ef 1.6,12). Nada obscurece tanto a glória do Senhor
como nossa própria glória. E nada diminui tanto a honra de Deus
do que nossa ambição.
Além disso, chama nossa atenção na descrição de João, que
aquele que está assentado no trono é claramente o meio, o cen-
tro. Ele é o centro da glória do céu. Encontramos isso também no
penúltimo capítulo da Bíblia: "A cidade não precisa nem do sol...
pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada"
(cap. 21.23).
Oh, que o Senhor se torne ainda muito mais o centro em tua e em
minha vida! Pois esse é o segredo para ser uma testemunha po-
derosa de Jesus Cristo nesses tempos finais. Paulo podia dizer:
"para mim o viver é Cristo" (Fp 1.21).
Daquele que está assentado no trono, João sabe dizer duas coi-
sas: "e esse que se acha assentado é semelhante no aspecto a
pedra de jaspe e de sardônio, e ao redor do trono há um arco-íris
semelhante no aspecto a esmeralda." Ele resplandece em rico e
límpido esplendor de cores. O Salmo 104.2descreve o Senhor as-
sim: "coberto de luz como de um manto." Com a abundância de
brilho, ou seja, com o esplendor de cores das pedras preciosas,
João tenta descrever aquilo que vê em pureza, glória e santidade
divinas, mas isso é indescritível. Além disso, João vê um arco-íris
ao redor do trono. Interessante: é um outro do que aquele que
nós vemos: um arco-íris glorificado, de aspecto semelhante a es-
meralda. Esmeraldas são de um verde claro suave - nenhuma
109
outra pedra preciosa verde lhes é aproximadamente comparável
em beleza - e transparentes: uma representação da misericór-
dia de Deus. Por isso, em Tiago 1.17,a Escritura chama a Deus de
"Pai das luzes". Falar desse Deus, significa entrar na penetrante
luz da Eternidade, que revela todas as nossas trevas, mas tam-
bém retira todas as trevas. Deus, que está cheio de luz resplan-
decente e verdade, é também cheio de graça.
Pois o mais profundo do coração de Deus é amor. É o que mostra
o arco-íris. Depois do dilúvio, Deus falou a Noé: "então me lem-
brarei da minha aliança ... O arco estará nas nuvens" (Gn 9.15,16).
111
te espíritos de Deus." Esse versículo mostra que o trono de Deus
não é algo passivo. Não, João observa que dele parte atividade
contínua. O próprio Apocalipse nos interpreta a figura dos raios,
trovões e vozes e das sete tochas, pois está dito: "... que são os
sete espíritos de Deus". Os sete espíritos já foram citados nos
capítulos 1.4 e 3.1, e no capítulo 5.6 encontramo-los mais uma
vez. Eles, aliás, encontram-se também no Antigo Testamento,
nas sete lâmpadas da Menorá (Zc 4.2). Que realmente procede do
trono de Deus uma atividade grandiosa e ininterrupta, vemos
também quando nesse contexto lemos no capítulo 5.6 sobre os
sete espíritos de Deus: "... os sete espíritos de Deus enviados por
toda a terra." Desde o trono central, o Espírito de Deus em toda a
sua plenitude convence, ouve, salva, julga, humilha, exalta e go-
verna. O Senhor Jesus Cristo disse tão magistralmente do seu
Pai: "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" (Jo
5.17). Ele está agindo! O número sete não somente descreve a
plenitude da terceira pessoa da divindade, do Espírito Santo. Ele
é também um sinal da glória completa de Deus, pois sete é o nú-
mero da plenitude divino. Isso mostra a perfeita e ilimitada Oni-
potência, à qual nenhuma reação do mundo pode resistir. Por is-
so há também sete igrejas, sete anjos, sete selos, sete trornbe-
tas, etc. Deus o Pai e o Espírito Santo estão inseparavelmente li-
gados.
o mar de vidro
"Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante ao
cristal, e também no meío do trono, e à volta do trono, quatro se-
res viventes cheios de olhos por diante e por detrás" (v. 6). O mar
de vidro aqui nada mais é do que o mar dos povos, que se agita
de um lado para outro na terra. Justamente em nossos dias ele
está muito agitado, pois em todos os lugares há guerras e rumo-
, res de guerras. Mas diante do trono de Deus os catastróficos
envolvimentos e complicações bélicas não são um problema,
um empecilho. Diante dos olhos do Soberano mundial desde a
Eternidade, o mar dos povos é transparente como cristal. Ele é o
que está assentado sobre a redondeza da terra (ls 40.22), isto é:
Ele, o Todo-Poderoso, é o que "põe termo à guerra até aos con-
fins do mundo" (8146.10), e que diz: "Até aqui virás, e não mais
adiante, e aqui se quebrará o orgulho das tuas ondas"(Jó 38. 11).
Diante da sua face o que é móvel permanece imóvel. Ele realiza
seu conselho soberanamente através de todas as ondas da His-
112
torta Mundial. É o que diz Hebreus 12.26-27: "... aquele cuja voz
abalou, então, a terra; agora, porém, ele promete, dizendo: Ain-
da uma vezpor todas farei abalar não só a terra, mas também o
céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas, significa a re-
moção dessas causas abaladas, como tinham sido feitas, para
que as causas que não são abaladas permaneçam." O Senhor
já exclamou através do profeta Isaías - e aí igualmente vemos
imóvel o mar de vidro diante do trono, em contraste com a situa-
ção do mar dos povos sobre a terra -: "Calai-vos perante mim,
ó ilhas, e os povos renovem as suas forças, cheguem-se..." (Is
41.1). Ou pensemos em duas outras passagens nos profetas:
"Cale-se, toda a carne, diante do Senhor, porque ele se levantou
da sua santa morada" (Zc 2.13). "O Senhor, porém, está no seu
santo templo; cale-se diante dele toda a terra" (Hb 2.20).
113
o terceiro ser vivente tem "o rosto como de homem". Isso é uma
figura da humilhação e renúncia à sua glória, e assim, da vinda
da sua glória para este mundo. Isso aconteceu em Jesus Cristo.
Em Filipenses 2.7 está escrito: "... tornando-se em semelhança
de homens; e, reconhecido em figura humana. "
E em quarto lugar a figura da águia. Ela significa que apesar da
sua auto-renúncia e auto-limitação quando tornou-se homem,
ele continuou tendo claramente em vista o objetivo da sua cria-
ção e continua prosseguindo resolutamente para o final.
115
o Cordeiro e o livro
selado
"Vi na mão direita daquele que estava sentado no trono um livro
escrito por dentro e por fora, de todo selado com sete selos. Vi
também um anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é
digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos? Ora, nem no céu,
nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o
livro, nem mesmo olharpara ele: e eu chorava muito, porque nin-
guém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar pa-
ra ele. Todavia um dos anciãos me disse: Não chores: eis que o
Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e
os seus sete selos. Então vi, no meio do trono e dos quatro seres
viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tinha sido
morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos que são os
sete espíritos de Deus enviados por toda a terra. Veio, pois, e
tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no tro-
no; e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e
quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada
um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são
as orações dos santos; e entoavam novo cântico, dizendo: Dig-
no és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto
e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de
toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os consti-
tutste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. Vi, e ouvi uma
voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e das
anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de
milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro, que
foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e
honra, e glória, e louvor. Então ouvi que toda criatura que há no
céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que
neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono, e
ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos
séculos dos séculos. E os quatro seres viventes respondiam:
Amém; também os anciãos prostraram-se e adoraram" (Ap 5).
.
Temos aqui a continuação da visão de Apocalipse 4 sobre a
santidade e glória de Deus no trono. Também a visão da sua gló-
ria não muda, porque ele mesmo é imutável. Em Deus "não po-
116
de existir variação, ou sombra de mudança" (Tg 1.17). Ele é eter-
namente o mesmo. Que grande consolo em um tempo no qual
tudo oscila e rui!
120
"Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra" (Mt 28.18), tl-
nham sido ouvidas por ele. Também em Patmos, a partir da
perspectiva eterna, ele já tinha visto coisas grandiosas.
Suas esperanças na abertura do testamento devem ter sido,
portanto, correspondentemente grandes. Mas agora ele experi·
menta o terrível, de que a princípio ninguém é digno de abrir o tl-
vro e desatar seus selos. E como se o prosseguimento do Plano
de Salvação estivesse bloqueado, pois ninguém no céu, nem
sobre a terra, nem debaixo da terra é digno de abrir o testamen-
to e de dar valor legal à maravilhosa herança de Deus e do Cor-
deiro. Ninguém? Ninguém além do próprio Cordeiro! Pois agora
vem um ancião - um representante da Igreja glorificada - e
diz a João: "Não chores: eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz
de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete se/os" (v. 5).
Por que esse ancião tem que consolar a João, que sabia que Je-
sus havia vencido? Porque João fez aquilo que fazemos tão fa-
cilmente. Ele tinha afastado o olhar da vitória do Cordeiro. As
conseqüências são sempre desolação e lágrimas. Quantas ve-
zes envergonhamos ao nosso Senhor, chorando, estando abati-
dos e resignados, enquanto que ele obteve tão maravilhosa vi-
tória! "Não chores"! Em outras palavras: "Não tens motivos".
Chama a atenção que esse ancião não faz referência à pessoa
de João e à sua relação com o Senhor Jesus.fazendo admoes-
tações do tipo: "Tu tinhas visto, deverías sabê-lo que ele ven-
ceu." Não, ele somente fala do Senhor: "Não chores: eis que o
Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e
os seus sete se/os" (v. 5). Ele começa com: "eis que ...venceu ..."
Pelo bloqueio, pelo fato de ninguém ser digno de abrir o livro,
João havia perdido a visão do Vencedor..
Estás desanimado e abatido? Então o Senhor te diz através da
sua Palavra: "Não chores"! "Fica tranqüilo, eu venci!"
Que o ancião diz: "eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Da-
vi, venceu", não é tão estranho como parece à primeira vista. O
leão é o rei - Jesus Cristo é o Rei dos reis e da tribo de Judá.
Nesse contexto é extremamente esclarecedor que já milênios
antes, Jacó (Israel), quando estava morrendo, descreve Judá
como "leãozinho". Quando se encontrava no leito de morte, fez
vir todos os seus filhos, para abençoá-los e profetizar a seu res-
peito. Quando chegou a vez do seu quarto filho, Judá, Jacó com
seus olhos quase cegos olha para o futuro e diz: "Judá é /eãozi-
121
nno, da presa subiste, filho meu. Encurva-se, e deita-se como
leão, e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará
de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Si/Ó;e a
ele obedecerão os povos" (Gn 49.9-10). O herói da tribo de Judá
é o nosso Senhor Jesus Cristo!
122
Mas o que são os sete selos com os quais o livro está selado? O
livro do Apocalipse contém muitos mistérios, para que não o
leiamos levianamente, mas pesquisando e orando que o Se-
nhor o ilumine e revele. No meu entendimento, os sete selos
que fecham o livro e tornam impossível que ele tenha força de
lei até serem desatados, são os terríveis juízos de Deus, que por
causa da maldade dos homens ainda têm que passar sobre es-
ta terra, para que no céu e na terra, por força da herança, tudo
possa ser renovado: "Nós, porém, segundo a sua promessa, es-
peramos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça", es-
creve Pedro na sua segunda epístola (cap. 3.13). Esses juízos
estão para acontecer. Já ouvimos o seu trovejar. Enquanto eles
não se realizarem, a herança não pode ter força de lei. Mas nino
guém podia desatar esses selos, a não ser o Cordeiro.
Agora João vê o Vencedor, o forte Vencedor: "Então vi, no meio
do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé,
um Cordeiro como tinha sido morto. Ele tinha sete chifres, bem
como sete olhos que são os sete espíritos de Deus enviados por
toda a terra. Veio, pois, e tomou o livro ..." (vv. 6-7a). Aqui João
não vê o Leão, mas o Cordeiro. Que contraste há entre o Leão e
o Cordeiro! Um leão é real, um cordeiro é desamparado e fraco.
O enorme paradoxo, no qual está baseada a redenção, sim, to-
da a Igreja - tudo aqui lo que o Novo Testamento descreve com
a palavra "cruz" - é aqui revelado de maneira nova e mais pro-
funda ao apóstolo João: o Cordeiro como o Leão; o Rei dos reis,
o Príncipe da Vida, como o sacrifício. Pois onde se encontra o
Cordeiro? Bem no centro. Deve-se prestar atenção à expressão
"no meio": "... no meio do trono e dos quatro seres viventes e en-
tre os anciãos". Jesus Cristo é o centro. Vimos em Apocalipse
4, que a glória de Deus é o centro, e essa glória de Deus é o Cor-
deiro.
Mas se João vê o Cordeiro "como tinha sido morto", apesar da
Igreja já ter sido arrebatada a ele, isso indica a validade eterna
da redenção. O sangue derramado de Jesus tem efeitos que
nunca acabam, compare Hebreus 9.12. Porque nele foi executa-
do o juízo sobre o pecado de todo o mundo, somente ele é digno
de julgar este mundo inimigo da cruz, que colocou-se fora da
sua obra. O Pai entregou o julgamento ao Filho, pois somente
ele é digno de abrir os se/os do testamento. Assim vemos aqui,
através dos olhos de João, o Cordeiro como tinha sido morto,
mas mesmo assim em poder e glória, pois está dito no versículo
123
6b: "tinha sete chifres ... sete espíritos de Deus enviados por to-
da a terra." Os sete chifres significam poder, um poder que ven-
ce tudo. Na Escritura, chifre ou chifres significam poder (Dt
33.17) ou também soberba arrogante. Estranhamente aqui é
usada a palavra grega "arnios" para Cordeiro. Isso significa
suavidade e mansidão; em contraste com isso há a palavra
"amnos", usada normalmente no Novo Testamento para cor·
deiro. Os sete chifres mostram o caráter do Cordeiro em força e
poder divinos. Sete é o número da plenitude divino. Paulo diz:
"Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus" (1 Co 1.24). Portan-
to, não poder mecânico, mas divino. No versículo 6c continua-
mos lendo: "... bem como sete olhos que são os sete espíritos
de Deus enviados por toda a terra." Quão maravilhosamente
revela-se aqui a plenitude da divindade! Assim Isaías viu Deus
800 anos antes. A profecia dos sete Espíritos está escrita em
Isaías 11.1-2: "Do trono de Jessé sairá um rebento, e das suas
raízes um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o
Espírito de Sabedoria e de entendimento, o Espírito de conse-
lho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Se-
nhor." Esses sete Espíritos repousam sobre o rebento, que vem
do tronco de Davi. Os sete olhos de Deus, que são os sete espíri-
tos de Deus, são "enviados por toda a terra". O Cordeiro pene-
tra por toda a terra. Resumamos: os sete chifres e os sete Espí-
ritos significam que ele tem poder espiritual perfeito. Em Zaca-
rias 3.8-9 também profetiza-se nesse sentido do Cordeiro. Se
em Apocalipse 4 vimos a posição central daquele que está sen-
tado no trono, aqui nos é revelado o Cordeiro como centro da
glória de Deus. Leiamos mais uma vez o capítulo 5.6a: "Então vi,
no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos,
de pé, um Cordeiro." Não podemos deixar de observar: o Cordei-
ro está de pé! Apesar de morto, por causa dos nossos pecados,
o Cordeiro vive. Ele ressuscitou! Jesus vive e com ele também
eu.
124
ça desse ato do Cordeiro de Deus, o mundo é vencido: Babilônia
é julgada, o anticristo destruído, o dragão derrubado, a morte
tragada, a maldição desfeita, a terra renovada. Quando o Cor-
deiro se aproxima e toma o livro da mão direita daquele que está
sentado no trono, há um silêncio mortal no céu. Aí o Cordeiro
exerce sua vitória alcançada na cruz de Gólgota! Que maravi-
lhoso, pois o que Jesus faz aqui é a recuperação da herança
desviada de seu objetivo, a reclamação com força de lei de tudo
aquilo que Adão perdeu. Para isso o Filho de Deus derramou
OI seu sangue e suas lágrimas. "Veio, pois, e tomou o livro da mão
direita daquele que estava sentado no trono." Percebe-se lite-
ralmente como todo o céu assiste em silêncio respeitoso. O
Universo é testemunha desse fato, em tremor e com a respira-
ção suspensa.
A adoração do Cordeiro
126
foi feita bilhões de vezes e tem sua origem no Cordeiro, pois: ne-
le, por meio dele e para ele foram criadas todas as coisas
(comp. Ap 4.11 e CI1.16).
127
Embuscade uma leituraconstrutiva? Apresentamos-lhe umavariedade de publi·
cações:
- o jornalmensal"Chamada da Mela·Noite"- contendo mensagens de santifi-
cação e artigos sobre as profecias e seu cumprimento em nossos dias além de
análises bíblicas sobre os acontecimentos atuais e respostas às mais diver-
sas perguntas formuladas pelos leitores. .
- Livros e IIvretes