Atividades dos contos “Corações solitários” e “Entrevista” de Rubem Fonseca.

-Nathália Martínez-

Você foi escolhida para substituir ao Nathanael Lessa no Jornal Mulher, e recebeu a seguinte carta:

Prezado Dr. Nathanael

Tenho quarenta e um anos, sou felizmente casada há quinze, e me chamo Bárbara. Meu marido e eu formamos
um casal católico, estável, e sem filhos, pois Odontos, meu marido, fez a vasectomia antes de nos conhecer,
situação que adorei porque a maternidade nunca chamou minha atenção. Ele tem um filho na Inglaterra de seu
primeiro casamento e nunca até hoje se arrependeu da cirurgia. Vivemos numa lua de mel eterna apesar dele
ser um pouquinho ciumento. Tudo ia bem até há três meses quando...
Fiz uma viagem a trabalho, um fim de semana longe de casa e do Odontos. O mar, a praia, não conseguiam
tirar o estrese de meu corpo, tanto trabalho, tanta correria. Pela noite, um antigo colega da faculdade que há
séculos não via me reconheceu e me convidou um drinque. Aceitei. Mas não foi a única coisa que aceitei...
O que eu faço doutor? Tenho mês e meio de atraso, amo ao Odontos, mas não quero estragar nosso casal, nem
seu coração. O pai da criatura não significou nada para mim, nem sei onde ele mora. O que eu faço doutor?
Digo a verdade a meu marido?

Com desespero,
Bárbara

Resposta:

Querida Bárbara.

Acho que você é uma bárbara grega demais com o seu marido... é piada! A verdade minha estimada senhora, é
que o que você fez é mais normal do que você acredita, nos casais sempre há provas de fidelidade que fazem
cambalear a estabilidade da relação, especialmente no cenário sexual; é por isso que eu não ponho em dúvida
que você ama ao seu marido. Você simplesmente quis diversificar seu prazer, e como você não é de pau, perdeu
a prova. Eu ficaria moralmente preocupado se você soubesse que não quer ficar mais com o Odontos e ainda
estivesse com ele, mas você está certa no que sente e sabe que cometeu um erro.

Agora, frente ao verdadeiro problema: o bebezinho que vem em caminho. Você tem duas opções; a primeira,
baseada na desconfiança e o medo, é abortar secretamente e pôr em risco sua saúde e sua relação se o Odontos
se dá conta do procedimento; é então, fazer mais grande uma mentira dolorosa. A segunda, e a mais sensata, é
se encher de valor e assumir sua responsabilidade contando para o Odontos o que você fiz e que ademais está
grávida, afirmando para ele que você agiu desse jeito devido à debilidade da carne mais não por estar insegura
dos seus sentimentos por ele, e que está arrependida por isso; assim se o seu marido decide compreendê-la e
perdoá-la, ambos podem pensar o que vão fazer com a criança. No entanto, se ele decide terminar a relação,
você pode aprender da experiência e tal vez começar uma gratificante vida como madre solteira, ou como
mulher divorciada, pode ser que ao princípio se sinta triste demais, mas com a consciência tranquila... nesse
caso, o tempo curará as feridas. A escolha é sua!

Com carinho e compreensão.

Dr. Nathanael Lessa.

- Em verdade é piada doutor? Abri só meu coração para receber conselho, e não as frias gargalhadas
de sua senhoria. Me perdoa, doutor, é que é duro mesmo, você não imagina... se é tão normal como
você me fala, por que é que eu me sinto tão culpada? Ah, já me lembro... é que por vergonha ainda
não falei toda a verdade, nem pra você doutor, pois seria muito cruel pro Odontos...
A verdade, é que com esse cara da praia não foi a única vez, nem ele foi o único cara... doutor. Tive
um desabafo de um mês com muitos caras. O pai? Quem diabo sabe quem é esse, doutor? Eu não sei,
pelas datas suspeito de um ou dois sujeitos sem rosto nem camisinha com quem transei nalgum bar,
rápido, no escurinho, você sabe.
Qual verdade vou dizer doutor, toda? Não, não dá. Receio dos ciúmes do Odontos, ele vai reagir com
violência, eu sei. Ele tem um passado terrível, experiências amorosas ruins, já foi abandonado, já foi
corno, mas isto seria o pior, viu?

Eu vou fugir doutor. Eu vou embora. Vou deixar nossa cama sem nenhuma carta de despedida acima,
vou deixar a nossa casa, limpinha, pra que o Odontos não suspeite os primeiros dez minutos, deixarei,
enfim, meu trabalho, minha vida, doutor, essa que estraguei por não saber fazer meu papel de
vagabunda. Filha única, sem pai nem mãe, estou sozinha no mundo. Fujo com a barriga cheia doutor,
cheia de incertezas... talvez um dia lhe contarei como a desgraça não dá trégua... há feridas que o
tempo não cura...

Obrigada, o Odontos volta duma viagem em dois dias, e não vai encontrar ninguém...

Barbarinha.

Resposta:

Oi Barbarinha

Primeiro, eu quero te dizer que não tinha intenção de te ofender com a minha piada, foi uma forma de romper o
gelo, perdoa-me por favor. Agora, vamos falar sobre o nosso tema de interesse: debo dizer que estou muito
surpreendido, você não foi sincera desde o começo e o assunto é muito mais grave do que eu pensei, você não
tem sido honesta com o Odontos há muito tempo. Acho que se você realmente o ama como diz, tem que tomar o
risco de assumir as consequências dos seus atos; se você tem planejado fugir y deixar sozinho ao seu amor,
pode pensar primeiro na possibilidade de contar para ele que você está grávida por causa dum desafabo, acho
que não é necessário confessar as outras infidelidades, é suficiente com que ele saiba que você reconhece o seu
erro e está arrependida e espera que ele valore a sua intenção de falar com a verdade; ademais, ele não tem
por que saber quem é o pai, você tem o dereito de reservar a identidade do cara (especialmente, tendo em conta
que você não sabe quem é o padre). Ai, a decisão é do Odontos, se ele consegue perdoa-la poderão começar
novamente uma relação baseada na confiança e na sinceridade; se não, você pode se afastar com a testa no
alto, porque teve a coragem de afrontar a situação com firmeza, e então, fazer uma nova vida com o seu filho,
mas com a consciência tranquila porque realmente tentou arrumar o desastre que fez.

Tomara que as minhas palavras sejam de ajuda para você, fique tranquila e responda para mim. Finalmente, eu
quero fazer uma pregunta para você: você realmente ama ao Odontos? É somente para que pense na resposta y
possa refletir sobre o assunto.

Com carinho e compreensão.

Dr. Nathanael Lessa.

Final do conto Entrevista:

Ela acendeu a luz, e viu a um homen com uma máscara preta, mas, rapidamente logrou observar que atrás da
cadeira dele estavam umas muletas, aí, ela confirmou o que já tinha pensado mas o queria negar: o homen com
quem estava falando era o seu antigo marido, e efetivamente, ele tinha um punhal repousando nas suas mãos.
Nesse instante, ela ficou paralisada, tentou se mexer mas somente logrou sussurrar umas poucas palavras:
“meu Deus, finalmente chegou o filho da puta... que o pecado sempre o acompanhe”. Imediatamente, o homen
ficou em pé, caminhou lentamente até onde ela estava e deslizou o punhal lentamente pela cintura da mulher,
depois a mirou direito aos olhos e com a mesma força e ódio que tinha no seu olhar, cravou o punhal no peito
dela... ela, ainda imóvel chorou e colapsou no chão após dumos segundos.