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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
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(em allemão)
• '
, . Le1pz1g, s. d. . . ..
Pernambuco e ~ evolução' do Brasil para a ·indepén<tenciq~~
2 partes. - ~. Leopoldo, s. d. · /"J.
Prosa brasileira. Tráducção oom introd'ucções. 1.ª parte. ·
- s. Leopoldo, ~· d. '
Mythos, lendas e' contos de Jndzios bra.sileiros. Com uma LEITURAS
introducção. - S. Leopoldo, s. d. . · BRASILEIRAS
Historia do Brasil nos 'eculos XVI e XVII.
S. Paulo, 1921. (
O Brasil ao findar da época colonial. - S. Leopoldo, s. d.
,PREFACIO
•
Historia e Literatura do Brasil. Duas conferencias. ·Porto
Alegre, 1929 (em portuguez) .
A Noua Gazeta da Terra do Brasil. T exto, Traducção, Com-
. mentarió· h~storic.o e philologico~ Glossario. ~ Sãq"
Paulo e, Rio de Jan.~ iro. ·1~22. . . ,. ' · · -
' r ' \ili 1 t ' 1 ' 1
I .'
INDICE
•
PA.QS,
...,.. . ... ..
, . . . .. . . .' ... 9
., . .... . .. ... '
.......
'
Os nossos Indios 11
( Como a Noite appttreceu •.... ...• 24
,.
A: Origem dos Homens ... . .. . 28
;'
, O Diluvio .. .
.. . . . . . ~9
A Origem do Sete-Estrello ". 31
·Lenda do Milho .. 33
• Lenda da Mandioca ' .. . 3-4'
Ahanga e o Caçador. 36
O Corupira e o Caçador. 37
O Corupira e a Mulhet. ... 42
O Corupira e o Pobre, 45
O Yurupar1 e as Moças . . .. . . . . . . . . ..
~ . .. 48
O 1:"urupari e o Menin'o. • •. .. • • • • • • • • • r • • • • •• 62
O Comedor de Cobras . . . ,· . .
.. . . . .. . ...... .... .
~. ~ . 6~
f,.. Velha gulosa. '' . '• • •
.
~ • • •• • •. • • • • • jt • • • • • • • • 58
\
A Moça que
\
fel procurat Marido.
' 'I
...~ .,• •' .. .. . . . . . . 6't '
.
' ' '
iNblC~
t>Aoa.
,
O Jaboty. e o Caipora. ; .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...
...
O Jaboty aposta com o Gambá. . .......... . · . . ·. · · · · · 9$ Teve o autor deste livrinpo uma idéil, que elle realiza,
O J a.boty e o Gambá. . .. . .... .... . ... . ·. . ... · · · · · · · · · · · e -pela qual muito deve ser lbuvado. As obras de ethno·
O Gambá e a Onça. . ... ·· . . . . \ .·.... .. ... . · · · · · · · · · · · · · · graphia ,brasilica ainda esperam' o sàbio que lhes dê a
O Gamkai. e o Homem. . ... .. .. . ... . .. . . · . . . · · · : · · · · · · · unidáde de um tratado, que entretanto ' vem . sendo es·
o Gambá e o Ariramba. . ... . . • . . .. .. . ... . ... . . : · · · · : · · 114 1' . c·r ipto ha quatro secul9s, nas observações e. na\ m~nu·
.
'
. den cias, ·mas ainda longe da synthese doutrinaria, !'.c omo
\
'
{
' Em vão se procurará ahi o enfeite, que ·s ~ria defor- . ... ' ~· · .Q.uand·o Vasco da· .G ama voltava a Li~bôa~
mação, ou a mor~iciade, que. seria tendenicia. o atitor quiz ' ',, '
fazer obra de sábio e não de. artista; reproduz, literal-"'
com a boa nova de ter .alcançadt> a India, con-
mente, das suas fontes; conserva piedosamente a inge- tornando a .Africà, apresso~-se o rei de Portu-
nuidade original e se exime ainda ao commentario indi· gal, D. Manuel · o Venturoso, em mandar ao
recto; não fôra assim, seria uma traição e não traduc-' ;
· ção, das "lendas dos nossos Indios". O merito estã· em Oriente u~a grande esquadra, sob o comman-
tê-lo feito, realizá-lo num liwo para o vulgo, agora final- do de Pedro Alvares Cabral. Teve ·este ordem
mente capaz de, numa proveitosa leitura, saber da men- de afastar-se quanto pudesse da costa da Afri-
talidade dos primeiros brasileiros, mais ou tão bem, comó
naquelle tratado sábio ia que alludimos, e muito teremos ca para Sudoeste, já afim de evitar as calma- . ··
que esperar. . . . • rias, que tanto difficµltavam a navegação á
Deante disto, ha qµe lhe encarecer ainda o me~lto? ·•.r:
Numa bibliotheca de literatura "nacional", deve ' ser· es,te "' ·
vela, já porque pârecia·
~ . proyavel
' '
· qu.e : eneon-
·o .primleiro: volume, como que "os textos ~rcba:iÇ~s" '. .·d~.(il!. trasse uma nova terra naquella' direcção~. ~ ~!
1•• •
' ,, DOS$0 patrlmonio Jiitera,ri'O: Se 'Dão .a, .)etra, •ahi éstâl'là;' ~"
1 • ' , ' J. 1' • ' l 1
-1~-
. ·-
nome que ainda conserva. No dil immediato Deu elle á terra o nome de ilha de V cra-
:foram alguns tripulantes, em um batel, á terra, Cruz, pois ~lha se afigurava aos navegantes
os pr:irp.eiros Portug).lezes que pisaram solo bra,-. aquella terra sem animaes domesticados e com
sileiro. Chegaram á praia alguns indigena~, e rios de pequeno curso.' O nome -:- "Vera-Cruz"
os Portl1guezes, que iam no batel, tentaram en1 -- e "Santa-Cruz" - foi mais tarde substituido
vão fazer-se entender. Como o logar não fosse . por - Brasil - porque o' primei:o producto, : · ,
· 1 .•• • muito 'prop-rio par'a abrigar uma frota de doze. que d.o nosso p~iz:Je.v:aram par,a a.,Europa em . , ,
. , . , navios~ que precisava tomar·. provisões de. agua · ; ·.. v,;fl'..". \: _gr~ndes ·c.arregament,?s, foi t1ina . made:l:ra: .ve~.. ~>?:
1
1 · • {/ .• ·§
e de lenha·, resolveu ·Cabral no dia 24 de Abril .· · _'1 :~-.;;." ;~ : ~.. melha, muito procur~da .,p ara a tint:uraria' e
:r
'
procurar um lSom porto. Encontrou, a dez le- 1 . \ . :~ · • (·
' ..... j • .
tir.am que ?s P~rtugu~Zes ,visitassem a su~ ·aF· ;; ,,,:~li .;., . , o uro nem prata, nem nen~um3. cousa dl'\ .metal,.. "~ l: :, .' ,; J~ i
.de1a. No dia J..º de<hfa10, quando Cabral to:tµou '''ti . \,\·,: . · : ·, ne1n de ferro, :µem lh.'o .vimos. Porém,~ ter.ra ,. •./:·:·:· · ·
posse "da ter:ra para o rei de Pertugal, ass~s~i- ,:~~. ~::~_ . . , . ,: em si é de muito.bons .a res, ·f~ios e .temp~~ados · .1 •·, ;;
ram muitos delles á missa solemne, que na- como os de Entre Douro e lVIinho (provincia ·
quella occasião foi celebrada. Em um mofÍ.'o do Norte de Portugal) . Aguas são muitas in-
vizinpo mandou Cabral levantar grande cru· . \~ findas. E em tal maneira é graciosa que, que-'
~e madeira, com as armas do rei Dom Mau11 rendo-a aproveitar, dar-se-á nell~ tudo por
em signal dá posse. ., .· · bem das aguas que ·tem".
~ J5-.
Esta carta, e mais outras informações so- da· ilha com~ ile "lndios", o que quer .d izer ha.:.
bre o descobrimento ·foram,, no .di~ 2 de Maio, bitantes da I~a, denopiinação erronea, mas
mandadas a Lisbôa por um dos navios da Ar- que se tem cons\rvado até hoje.
mada, emquanto os outros 'seguiam viagem ~ , os aborigene\ n:esnio não usaram de de~o-
minação commum a tod~s elles, o que era muito
1
para a India.. No Brasil ficaram dous degre- it . , .
natural pois pert . ciam a' povos bastante dif,. . , 1 ~~ 1, .
1
dados .<iue deviam apre11der a língua dos indi- ). ,· '·. , •
• . ·~· '.&i . ~
genas e s.e rvi.r de,interpre~es e guias a f1'.1t~~~s m,'· ~t~;~~~·· :·. •: ferentes ·entr~ .si e" H•ª~~va:rh muit~~ ,lin~as, al- .: ..,. ~J{'' V
l ' ' ' ' ' ' 1 l ).'
expe~i~ões~.. 11
'· • f, • ~·1 ;. ,,~:~;. :, ~
• ·! ~mas tão div~rsas .· entre · ~i, ~omo o sã~.o .por.; . 1
{
1
,.;
'.(Commemoramos, erroneamente, o desCp• · :l'l'_i ( ·";"' tug'uez e.o allemão, ó' µiglez é o russo, · : "q \;
brimento do ;Htl'asil no. dia 3 de Maio, que é ria ·i, _':~'.·: " ~ .~· ~ ·"· Ei~ como Pero Vaz Camiphtt, na··sua carta ' r •,",·
[greja Catholica o dia da festa da invenção da ao rei de Portugal, sobre o descobrimento do
Vera Cruz pel~ imperatriz Helena, em J eru-. Brasil, descreve os primeiro.s. encontros com os
salem.) • indigenas e as impressões, que delles tiveram ·
* os descobridores: ''E o capitão (Pedro Alva- ~
* * res Cabral). mandou ·110 batel em terra Nico-
Os Europeus acostumaram-se a appellidar Iáo C.oelbo para ve:r aquelle rio (per~o do
de ~':{ndios" os selyagens da America. Explica- '
~ '
... ,
.,
1 Monte Pa'Sohoal); e tanto que elle começou,·
. f '
-s e este ~ppellido pelo :engano ·d e.Christovão Co- 1 {i_~ r.< ·~ · · para lá de ir,, ~cud~1ta~ pela praia ·homens,
.1 .•
)1 •
t,;,,, f ·.. lombo' sôbre a situaÇ&;o da: terra qµe descob~ira · ~~~:Ft''.1~J: .. qua~do dous, . qti.~nd.ó:,: , t,rês,'.:, 'd e :·ttlaneira qu~
'"". ·"·""l"'"'·~'' ~'.~·~ " :noi' dia 12·:de ~u,-tu?r~, ~~ 14~·2. "Partir~ elle .: d~ ·~,: , ·.~f· ·~'i ;,~. '· qua~do 'o' bafel .'ch,egoµ :. ~'.b,Ó<ia~ dói Fio~ . eram:~'il.Ii~
~. · ·, '\ ... J;respanha com o intuito de procurar '. um ca- . ' · dezóito ou ~inte homens ..J?~rdo.s t9dos ·n(1s• .Tra- ·
.'.\ · ririnho á India por mar, em direcção Oeste ; e ziam arco,s nas mãos e suas settas. 'Vinham to-
quando naquelle dia aportava â. pequen~ ilha 17-. dos rijos para o batel, e Nicoláo Coelho lhes fez
de Guanahani, estava convencido de têr ch8:-' · -~ signal qu·e puzessem os arcos, e elles os puze-
gado a uma das ilhas . da Asia. Por este motivo \
r ·raro. Alli nem pode delles haver fala nem en-
falou Colombo, ·em suas cartas, dos habitantes tendimento, que apr~veitasse, pelo mar que-
•
- lfl - /-
I
- ,, - • . '
brar na cost~ Sómente deu-lhe~um bar1·ete roque de enia.dr~z. E em tal maneira o trazem
vermelho e uma carapuça de li ho~ que levava alli encaixado· que lhes nem paixam ( incom-
na cabeça, e um soinbreiro pr o. E um dellcs modami), n em 'l~es
" torva a fala, nem comer,
lhe deu um sombreiro de p en as de aves cürn- nem beber. Os ~.abellos seus são corredios, e
pridas com uma .copezinha · quena de pennas · andavam tosquia~os de tosquia mais alta ~e
vermelhas e pardas como d, ·papagaio. E . o~- ~ ·· que sobre p ente dt} bôa gr~ndura, e raspados
tro lhe 'deu um : ;ramal gJÍande de continhas àt~ por ciyia das:·or~lhas"~ . '·
•!t . $ * ~:..
bran,ca~ meu~~s, que querem parecer de alj~
a 1
feitos . .A·n dam :nús, sem nenhuma·· cobertura:~ ~<: paiz, que a isto. se·:prest~vam, como por ·e~em-. ···
j
n e:rp estimam ·nenpuma cousa eobrl.r. · Tr.a.zianii.~ · . plo ·o. p orco do matto, 'º m~rreco,
1
a
gallinhá ,
·ambos os beiço~- de baixo furac;los, e mettidos- r
1
• fl 1
,mutum ou a pomba jurití. x Apenas··papagaios
'
",' '' . ' ha bem pouco tempo, que lutar com os Bugres
gr,~ndes grupo~ de povos, .e os 'visit~do~ pof . ,. ~ 1*~ ou Schoklengs e com os ;Kaingangs ou Kamés,
Cabral eram tr1bus do. grupo dos Tup1s. 'E stes ·, ) ,~ · que parecem ser tambem tribus Gés.
r:·" 1 ·i' Tupís .nã~. o~cupavam sóme~te grande.:parte ~.do ~.)~; ~ç:~· , Não existiam entre ,'os " Indios do Brasil
~: . · Brasil oriental, mas um ramo delles, que se cha- ~ ~ .,. ' :· ; . , grandes estados· ou reinos, màs. sómente p~qu.~.
, t am
' b ei;n reg1oes,
. - ·que h OJ'e
. per
' . ''.. ·:·.~· .,..' .t'
"" fl·k
ma.va Gu~ran1s, .
ten~em ás republicas nossas vizinhas~ ao :.Uru~ .
· ..
. .
·
~ ' · -:w··
..·wi"r.·'
11
nos agrupamentos de ,p'ou'c as faillilia:s, ,que~ eram
dirigidas· por màióres (mqrubix;al:>al?). , Q-er~l- .
·mente const~uiam cabanas; de palmitos e ta-
j ' •
1 • 1 li j ~ o
os homens que mais .têm contribuído para 0 do paiz: O imperador D: Ped:r;o II, o Magnani- ·
desbravament<;> .d o sert~o. ·, . ,. , , "'' . , mo, foi tão ·grande alnigo' e. protector dos .~n~ ..
, ' No vast.o J.11:tetío1.f·do 'nossó :p1aiz ainda: exis- . · ?í~ . . ·0'.'.." .' . , dios que apren·d eu · não·.:~9m~nte a '''.1ingua 1 ge--
·:tem centenas Ç.e ·milhares-"de Indios, esp~ci~I- ' ,.:."' 1 ~.: .··,::: : ::· :~·
:". • ral", mas ainda outras linguas indigenas, 'de
mente nos Estados ·do Norte e Oeste: ·Pará, · ·· .. modo que, quando ,deputações de ·rndios vi-
Amazonas, Territorio do Acre~ Goyaz e }1atto ),P · . nham â Capital, poude conversar com estes
Grosso. Ha tribus que vivem tão afastadas do \~ ~rasileiros no idioma delles: ·
:Contacto com· os out:r:os habitantes do paíz que · Actualmente possuimos um , Serviço Fede-
nem o uso de instrumentos e armas de ferro ) ral de Prote.cção aos Indios, que já relevan-
.. -83-
tes serviços tem prestado, pacifi~ndo muitas Evitéi o.mais possível alterar. o feitio in-
tribus ~é então hostis aos civilizados, e ini- genuo destas lendas, afim de lhes conservar o
ciando a transformação dos nomadas em uteis
'\ "-Oaracter e a simplicidade artistica, embor~_a .
membros da communidade brasileira. Deve- custo da elegancia de dicção:
mos quasi tudo que' o '" Governo F~qeral tem .
feito pelos aborig~nes, . á abnegação, cora~e.m ~
e habilidade d•e officiaes
'
do nosso exercito, 'á'.·, ; '
' 1
.
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a .manhã.' '
... , Q uando os tres cFiados ·.c hegaram, ·disse- .. .· ..:1
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lhes ; moço: - Fost~s infiéís~ abriste~" o · cá• 1·,, ~ ·,·:~1 · ~,(: ../~
1 ,, • · • ' !• ,. ) ,
.
nelle uma figura humana e o fincot1 no solo. , ·' · i .\.'.
Depoi~ cortou•uma varinha e deu pancadas aó
páu; este virou homem. Procedeu do mesmo
. .
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•. .
• • • ...
com.o rio. . . ' ~ ,.
1 ",1 • l
.. . ' .
.P~r isso, os. Pa:çnarís (1.) moram ainda .h.qj.e 1~ ; :
l
. 1
Um casal tinha sete ·: filhos~ os quaes· cho- ·
.
sobre,as·agtlas ·do rio. râvam o dia inteiro :
• • •
- Oh 1meu pai, eu quero comer t Oh! minha ·
mãi, eu quero comer f
1 •
um casal de filhos:
•
inenin<;), Zôkôôiê, e ·uma: 'l):· ~.
1 ' (
· bem não se sentiu. b.em>' Mais um'a ·vez supp1'~ ', . .~ .! ~:., ·; "· .~ ,
r \i , ' t
AHANGA E O CAÇADOR
O CORUPIRA E O CAÇADOR
'
·, ~·
~. 1,·1
'
' '
P erdeu-se no matto un1 caçador, e Ghegando
. .
. '
.· qµeni elle havi~ p erseguido., não era uma ·v~a~ :· .. - S empre bem.
- A h! m eu àvô ! Eu -p~rdi-me de cas~ . .
'
'
-19-
Eu tambem tenho fome. Nada comi - E' bem ·feito que morresse, disse o ca-
"'
ainda hoje. çador, e foi-se embora.
- Meu neto, tl1 me dás a tua mão para eu · Passado um anno, lembrou-se do Corupira.
comer~ - Vou agora vêr o Corupii"a que inorreu,
•
- Aqui está, meu avô. para lhe tirar os dentes verdes para remedio;
Cortou a inão de llID macaco, que tinha tr~-: já deve estar decom1)osto; .vo~ t~rar-ll1e os
zidq da caça, e deu-lh'a. O (J,~rupira pegou, ~~~· " . ossos p~ra bico de f rechas. , ,,
della é comeu. . .;i~J· ~.. · Chegando ao logar, ·achou os qssos jà b:ran-·
' . ' ' ' ~!;- ~·
- Meu neto, a t11a nlão é gostosa, eu que~o ·1 ". ~· , cos e foi tira-los coin o· rnachaÇlo qtie 'Ievo11.
comei• a ot1tra~> Quando bateu nos dentes, o OJrupir.a resus-
- Aqui está, meu avô. E deu-lhe a outra, citou e assentou-se. a homem assustou-se.
do macaco. - Oh! meu neto 1 Estou com sêde, quero
- Ah! meu neto! E' bem gostosa a tua agua.
n1ão. Tu me dás tambem teu pé para eu comer~ Trouxe-lhe agua o caçador.
O Corupira comeu os pés do macaco, e de- - Agora vamos, met1 neto .. Que queres que
pois pediu tambem o coração ao caçad9r. Este te dê'
tiro11 logo o coração do macaco, e de~-lh 'o, di- - Não sei.
zendo: '
- Dou-te uma frecha i)ara tu matares caça.
.,., 1 1., ,.,. 1 r· .. , , , - Aqui ·está o meu coração, me11 avô! . . Foram para o mat:to, e ahi deu ·o 9orupi:râ
, ' ~ ·., . .Antes que o Coru:Pi!a lhe pedi~Se ~ ' out~a a frecha ao oaçador. ,, ~
' cousa, disse o caçador: ' . - Agora, mel1 neto, eu ' vou me embora e te
1 ' ..,.
- Agora ~u tambem. quero o teu coração. "~ ..... .:·. deixo. Quando precisares de mim, já sabes
'· .- E' possível, meu neto~ Então dá-me a ,Y · onde estou. Quando quizéres vem ter comigo.
tua faca. ., í/ Desta frecha só tu sabes o geito. Não a leves
Tomou immediatamente a faca, feriu-Se, p1.ra casa, não contés o segredo a ninguem, nem .'
cahi11 e morreu . á tua mulher. Só tu sabes caçar com ella. Esta
...
,
.,
-48- -=- 41 -
:frecha é l1ma cobra suruct1cú; para matar a ~ De manhã lá foram, tiraram a frecha do
caça, não precisa de arco, basta joga-la. Bem, galho e quizeram. logo experimentá-la num
.
adeus! passaro que voava. -Mas a frecha volto11, fre-
- Adeus, meu avô. Agora, quando eu vier cbando um delles, que cahiu morto. O outro
passear vireí ter comtigo. correu para a aldêa e contou : ...
Daquelle dia.em dear1te o caçador teve sem- Morreu meu companheiro.
pre muita sorte. Quand-0 -0s outros moços vol'":· De que·' morreu~ , /
tavamcá casa com as mãos vasias, vinha elle . ''-' ]llordido peJ.a cobra. •
carregado de caça. Ninguem sabia como elle Foram-no busçar' e trouxeram o cadaver.
/
caçava. E diziàm: · Quando o dono da fre~ha foi buscá-la para '
- Como é isso 6? Nós vamos para o matto . , -
ir a caça, nao a ach9u mais; foi ella ter com
caçar, e nada matamos. Elle, porém, vae e de- o Corupira, seu dono, porque os outros a
pressa volta com muita caça, quando menos se tinham achado.
espera. \
Outros disseram:
- Que será então~ V amos mandar dous
i11eninos a vigiá-lo~ 1~ 1 '
logo, e, ~epois de buscar a farinha, assent~u,se .: 'r , , O Corupira. não viu a m11lher e voltou . .
com o filho; assentando-se tambem na esteira 1 ./ , .,. Vendo-o voltar , ella desceu, correu e entrou no
disse o Cor11pira: (
;1 · atto. Mas o Corupira tornou a procurá-la, ~
- Vamos comer. . cl1amando-a:
Comeram Juntos. Depois, disse o Corupira: V el!ia ! Velha ! Onde estás°? · ~
'
- 4'1: -
..
Correu então para um grosso tronco de
vore, que no alto tinha um grande buraco, e
delle saltou o sapo Ounauarú.
- Ah! Ounauarú, eu quero que m e l,iyres
do Oorupira. O CORUPIRA E O POBRE
' . Dizem que o S?-Pº fez da resina do se corpo
uma corda, e por ella subiu a mulher para o • • •' ") t ;<"\ 1, '
~' ..\~~ ~
1
1 ! ' ' • • ' .'•. 11/
.. buracÓ da arvor_e. Chegou,t ambem o Chrupira, - · .Nã se sabe como, passavam um liomem e . ·.··~ , '.'..'»;1 ".
chamando:
- Velha r \relha !' Onde estás~
Disse o Ounauarú:
.
uma mhlher muito pobres. Quando o homem · "
ia caçar de dia, nada achava para matar, tao -·
1
: • " ·
pouco de noite.
- Aqui está ella. / Na · caçada de uma noite ouviu barulho no
A mulher assustou-se e p ediu ao sapo para matto, e não sabendo o que era, escut ou e per~
i1ão deixar subir o Oorupira. guntou:
- Não tenhas medo. Eu que1'0 matá-lo. - Que é isto~
Dizem que o Canauarú esfregou a sua re- D e r epente, appar eceu o Corupira. Tinha
sina no tronco da arvore. Logo que o Corupira cabellos compridos, os pés volt~dos para traz e
'
se encostou á arvore, ficou grudado pelo pello, um cacete na mão.
é ahi m9rreu. - Quem .és t u Pft~ª caçar de noite: ' ~ Q1J:e .
Então desceu a mulher com o filho e correu :fazes pnr aqu~ a esta horà ·~ E's cor~joso·· par.a
para casa. andar no m et1 :Qlatto...
E levantou o cacete para o ·p obre.
- Estou procurando caça para mim., Sou
m homem pobre e casado; por isso caço .
'
Quando não acho o que matar de dia, caço de
noite, para comer com minha mulher.
•
- 4&-- -.47 ·-
- :Nieu companheiro, posso ajudar-te. Dar ar, onde o esperava, .o pobre encontrou o Co-
te-ei tudo que ql1izeres. Tens ahi fumo~ 1 upira, que lhe disse logo:
1 - ~1:el1 cunhado, agor:;t acaba-se o trato que
O pobre tirou logo fl1mo de sua capanga,
cortot1· u1n pedaço e deu-lhe. t tin amos feito ás escondidas, para que tua mu-
Como estivesse fria á noite, o Corupir .fez lhe não o soubesse. Mas; por mai~ que escon-
t1ma, fog~neira, assentou-se junto della, e cheu dess s, ella já o soube. P~nsas, . meu cunhado,
· o seu cachimbo . dei fiumo, poz-lhe t1ma . ra~a~ · que la está em · c.asa ~.. Lá está ella. Pelo. que.
' ' • '\ ' i~ 1
't'
ella ·f z, agora ~estilo acabar.á . os, seus dias:" .. ,.': ,'· i" ..... ,'
l 1 •
n· ,
~sse a mulher comsigo·:
r . .
,.
' ;.; • • 1
' C9ntam que uma v"'elha, que tinh ver a s ' a irmã mais' 'velha e encontraram só~ ' ' . '
'
Logo que ella arranjou tt1do, partiraµi. al>parecesse um grande rio que o Yurupari não
1 •
O YURUPARI E O MENINO
O COMEDOR DE COBRAS
• 1 •
' ". ' J,
• ' 1 "•~ -"
· Contam qµe dormia na sua rêde u~a mu- ,~f:i,~ ·' · ,i
lher com seu filho. ",
o·Yurupat·i tirou dos braços della o filho Eis o conto ·do cómedor de .éobras.:'
e pô-lo debaixo da rêde. ·. Era um~ vez u;m I ndio Caxinauá (1), muito .
Depois gritou com a voz do :filho: bonito, Dunu-nawa (2), que se casou com uma '
- Mãi! Mãi! Espia o Yurupari que está formosa mulher de nome Pái (3),
deitado debaixo da rêde.
A mulher pegou em um cacete e bateu o Dunu-nawa fez grande numero de frechas
filho. bem acabadas e muitos arcos e trançou muitas
Então o Yurupari saltou, rindo-se e di- cordas para os arcos. Depois afiou as pontas
zendo: das frechas e einpennou as hastes. Para isso
- Enganei! enganei ! · tomou pennas do gavião p'ega-macaco, do mu-
E foi-se embora. tum, do un1bú, do jací1· e ·do jujubim. Aparou · ·
' ' '
•i
' .
'
' as pennas, e depois ' a~arrou-as com f~os qué ' . ~·
primeiro esfregára com cera. . 1.
' ----
\ (1) Tribu do Rio Ibuaçú, affluente do Murú, no Ter-
1·itorio do Acre.
(2) Dunu-nawa = de cobra gente.
(3) Pái = do peixe o nadair. J
' •
-M- i.
• •
Quando tinha prompto as armas, disse-~ ' Depois da refeição, Pái cortou a carne, que
a mulher: ..:_ Meu' marido, não quero mais ce- sobrára em pedaços, fez um moql1em (1) e bo-
mer legumes. ~Sinto muita f orne de carne. Vai tou a c~rne a seccar. Todos os dias tinha ella
matar alguma coisa· para mim.
1
agora carne para comer.
Dunu-nawa agarrou as suas frechas, poz a - Dunu-nawa, porém, teve · sal1dade das co-
faca na cinta e respondeu: - Minha ~ulher, bras que vira na matta, .e disse· comsigo: --;. . . ', :~
cozinha aipim e bananas para · 0omermo8 com Porq'ue não ir matar coJ:>ras ~ Ten}lo fome ·ae'. - . · r.í, ',~. '·'.1
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,r.1h•1:·&:.·t i ' '
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entrou pela mata a dentro; . ., · · Um dia falou·cóm'a mulher.: - Minha mu- ,,, '
A mulher :ficou ·muito s~tisfeita e princi~ Iher, tenho muita vo~tade de c~er muçú (2),
•
piou a cozinhar o aipim e as bananas.' . Quando vou ao rio pegar um. E sahiu.
a agua estava fervendo, tirou a panella do Em vez de ir para o rio, foi para a matta,
fogo, assentou-"a no chão, para que a comida onde avistou uma jararaca nluito grande, dor-
esfriasse, e esperou a volta do marido. mindo ao sol. Morta a cobra, decapitou-a e ti-
Quando Dunu-nawa entrou na m~tta, en- rou-lhe a ponta do rábo. O resto cortou em pe··
controu muitas cobras, mas não as quiz matar. daços, que embrulhou.
Continuando cautelosamente no seu caminho, Em casa· deu o embrulho á mt1lher, e disse:
avistou uma· onça pintada que tinha pegado - Este muçú grande· peguei no rio, cozinha-o
. (
chada no .coração .matou a onça, fez um fardo. · : · ' .Pái obedec~u, ·~ Dnnl'l"'n.awa começou a ,,eu·1· .. 1 ·J'..',i tif:'.).~;
' ' .
e le:vou os dous an1maes para casa;. golir a carne com prazer. Tã.o .saboroso aehou ·.,: .\<lf.~ . t'
' ' j ' . :.t
1
Ao ver"o marido voltar com o grande fardo' r . ,,,,.\ Pái o cheiro qt1e c11:biçou um pedaço e olholl . ' . .
.
de carne, a mulher alegrol1-se muito. E Dunu- r·l para a comida.
· nawa disse-lhe: - Pái, esta onça pegou o vea- _,/.
do, e eu matei a onça. Agora, cozinha e come (1) Grade alta, em que se moqueia com fogo a carne
secca. '
depressa1 (2) Um peixe da Amazonia.
..
' - 00- -~-
' ...
Queres comer muçú commigo ~ p ergun- E ntão perguntou o marido - ~ái, porque
tot1 Dunu-nawa. , emmagreceste e amarellaste .
e que f .
- Quero, sim, respondeu a mulher. R espondeu a mulher: - Pare.ce que 01 por
O homem deu-lhe um pedaço, e Pái comeu. ' causa da banha que trouxeste para mim 1
- Oh! como é carnudo este muçú ! exclamou Dunu-na-vva riu-se, e ella perguntou:
. d . 62
o marido. Pái, porém, respondeu: - ·Este Meu marido, porque te ris e mim .
muçú iguala á cobra, é catinguento. _ Tu adoece:st~, po:r:que com a banha de
.,
Duh1:1-na-vva riu-se: - Ora, catingu~nto ! porco tambem comeste carne de cobra.• ·
Muito saboroso é t Mas a mulher não q11iz sa-· Quando ouviu isso,, chamou Pái os seus pa-
ber mais de cluçú e tornou· a comer da caça r entes para que matassem o n!arido. Mas o ~
(
:rnoqueada, que restava da primeira caçada. E comedor de cobras fugiu, e Pái morreu sem
o marido ficou muito aborrecido por causa ser vingada.
disso.
Quando a carne moqueada se acabou, disse
' Pái ao marido:-A minha caça já se acabou.
Dunt1-nawa agarrou as st1as frechas, sahiu
e matou um porco e t1ma cobra~ Do porco tirou ' .
a banha, cortou a cobra em p edaços e embru-.
lhou-os na .·b anha.
Minha
Em casa disse á mulher: -- mulher,
matei este porco, trouxe para ti sua gordura,
come depressa. ·
Pái a~egrou-se, cozinhou a banha, e comeu-a. \
ver o que e.
pescando tambem n 'um mutá, em cima. Imme-
D esembr ulhou a rêde e viu o moço, qt1e lhe
diat am ente atir ou sobre elle á st1a rêde, mas_
não conseguiu alcançar o moço, que do seu falou : ·
logar se poz a rir. - E sconde-me, por quem és !
•
r Ella, então, gritou: A f ilha da velha achou--0 tão bo11it o, que
- D es ce d ,a h.i , meu net o.' V em ca...
' · teve pena e o escondeu. En1 seu logar , embru-
l"{,ecusou o moço, e ella r eplicou: ~ lhou na r êde um pilão todo ur1tado de cêra, e .
- Ora desce, menino! Olha que eu man- . t .
ie e1xou-o no erre1ro. ' I'
' 1,
·~~· 1 ;~:··· • • . • ·!,\~
. , .
1
1
• • . .. ,
galho' de arvorf ; .e nxotOtl-OS e m.a_t0U-OS todos. . . j1: .·'" t an.do o pilão,. derreteram a cêra; que a velha ' :' . ,i',.:';~;t,: ,.:. ". 1\
t • ' • ' ,
•
- 6)-
Assustada, a moça correu para o moço e ..
0 s macacos metteram-no dentro de um pote
mandou-o que cortasse depressa palmas de vasio; ao chegar a velha não o encontrou mais,
uaçahy e fizesse t1ns cestos e fugisse. e seguiu para deante.
Esses cestos deviam virar-se em animaes, e , Então os macacos mandaram-n 'o embora e
quando a velha chegou perto, o moço mandou elle andou andou, andou ainda muito, até que ·
' #
todos elles transformarem-se em antas, veados ouviu de novo "kan", "kan" 1 Depressa entrou
, e porc.~s. A gulosa se atirou sobré essas caças· em c~sa do surucucú ·e pediu~lhe que o occul-
todas e, emquanto as comia, o moço fugiu e foi . tasse. A velha não o achou e foi-se. •
fazer . mais lonie, no rio um cercado, onde co- A' tarde., porém, o moço ouviu que o su-
meçou a cahir muito peixe. · rucucú estava combinado com. sua mulher
para fazerem urp. moqÚem e o comerem. Quan-
Não tardou que a velha, tendo acabado de
do elles estavam faz~ndo o moquem, o moço
devorar os animaes; se mettesse pelo cercado
ouviu cantar o passaro mak:auan e gritou:
a dentro para comer os peixes. - Ah! meu avô makauan, deixe que eu fale
O moço espetou .u m páu . de marajá e fe·- ,..
com voce.
riu-a, fugindo para longe. Disse-lhe a filha da O makauan veio, ouviu e perguntou:
velha: - Que é meu neto~
· - Quando tu ouvires um passaro cantar
• • O moço respondeu: - Ha ·. dous surucucús
''kan", "kan", "k:an", "k:an", é min;ha mãi, que · , . 1
•• • que me querem comer.. ' .
está perto de te 'p egár. · - Quantos esconderijos . têm
E o moçd andou, andou., ando~ muito. 1 guntou o makauan. \ ~·
Quando ouviu "kan", ·"kan", correu mu.i to e - Um sómente. '· \
chegou a um logar onde os macacos estavam O 1nakauan comeu os dous surucucús e o
moço passou para a outra banda do campo,
fazendo mel e pediu-lhes: " ' on de se encontrou com um tuiuiú que estava
- E scondam-me, macacos! •• deitando um uaturá, ou cesto de talas de can-
• ,-~2 -
•
Narrou o moÇo ,toda a sua historia: que es-
tava elle esperando pelo peixe na margem do Disse uma moça ~ sua ma1:
. -·
f
igarapé, quando appareceu a velha gulosa, que - Eu estou padecendo muita fome. Vou
procurar um marido.
"
o apanhou na rêde, ainda menino, e o levou . ..
-para sua casa. Desde então tinha· elle andado · Foi-se e chegou a um logar aonde havia tres
por montes e valles, sempre fugitivo, e sempre caminhos.
p er seguido. Agora a sua cabeça estava toda - Qual s.e,,rá o caminho do gavião inaje ~
branca e elle já erâ mn velho 1 A mulher reco- .. pergunto11 a si mesma. . . .
· ,n hecel1 que- elle era o s~u filho q fê-lo . to!Ila~.· .: · ·i;.' .'. .
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Em ltm dos caminh.os' vju .e spalhadas
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conta,'da •sua roça. < \ ,'~!; ;..;~ 1 '; ·tas p ennas de iuhámbú. . , \· ·
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Mas· a moça não se . quiz casar com e\~~ e ,\,_' . ·: - .C aso chegass.e um·habitante de outra pa-
disse-lhe : . . , tria, como o tratarias~
- Não te quero para meu marido, porque · - Eu o chamaria para comer comnosco,
.~
• '
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Teve um chefe n'outro tempo, um filho;que · .·. - Vocês matem-na, abram-lhe a b:frriga··e ·
ficou encantado em ~ma piraiba. Esta' pira1hà · \ · .r1 : : ~~\ nella atharão um pa.ssaro, que é a. alma do filho .
·comia a gente que passava pela lagôa. Por isso, ,.";,. ·~ do chefe. Não o deixem fugir ~u voar, porque .
os Tapuyas punham diariamente uma criança si elle cantar: · "Tincuán !" nós todos morre-
á piraiba, para que a engolisse -e deixasse pas- remos.
• sar aquelles que iam pescar na lagôa. Acharam o passaro na barriga, mas deixa-
Os chefes que viam ~ariamente a gente ram-no fugir. O passaro subiu e cantoÚ: "Tin-
desapparecer na lagôa disseram, finalmente: cuán !" "Tincuán !". .
- Vamos já. cortar nambé para fazer uma O céu ficou completamente escuro, a terra
corda, afim de pescarmos a piraiba. tremeu, a lagô~ ·seccQu, a gente toda morreu,
. Fizeram a linha de pescar, e a isca delle~ e só ficou no mu,n~o .o.passaro cantando: "Tin-
foi rima criança. bem bonita que atiraram n'o. cuán !" "Tincuán t".
meio da l agÔa. À. piraiba pegou no anz'ol qUe'
1
. .
arr~ben-. "> .,_j
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elles puxaram,mas coino era valente,
tou a linha e fugiu. ·O feiticeiro chamou então / -~~ ··. ·,' .. ·
os chefes e disse-lhes : .. Y ~·. (1 '
,' ·'
' r
- Olá, eu não disse que o· teyú era meu ca.. ~. ·~~~ ' a filha da onça. Havia uma fonte onde todos os
vallo ~. venham vêr ! bichos costumavam ir beber; o jaboty lá che-
Houve muita risada, e o jaboty, victorioso, gou, botou dentro d'ella uma porção de sapi-
disse á filha da onca: ' ~ nhos e deu-lhes ordem que, quando viesse alli
- Ande, moç~; monte-se na minha garupa algum bicho beber, elles cantassem: .
e vamos casar.
Assim aconteceu, com grande vergonha "Tur1,. t ur1. .- ..
para
.
o teyú. '
Quebrar-lhes as pernas,
• 1
Fura·r -lhes os olhos ... '~ ·
' . .
Feito isto, o jaboty foi-se .e:rnbora. ,.
.• 1' + • •
•
outros. animaes,
. ,. f
e .,, assim casou com a filha da · ·· · ~· :.~ Dizem que foi u~ dia, havia no ·matto uma
onça. fruta que todos os bichos tin11am vontade de
I
comer; mas era prohioido de comer a tal fruta '
lha~a, é quando chegava ao pé da fruta:, ·. nttb' . ·: •• ;;/r '· · não via ninguem. ·. F~:çou muito espa:rfcada, ·e
1
sabia mais o nome. Co;rn o jaboty não fói assim, .. 1 pensou' que ena o seu rabo que respQndia. :;Foz-
' t ' • ' )11 1
porque elle deu de mão á sua flaut~, e poz-se se de novo a gritar, e· se~pre <1 jaboty resp<;>n-
a cantar o nome até ao logar da árvore, e ven.:. dendo: ·
ceu a todos. M~ amiga onça, que já lá estava - Oil
á sua espera, disse-lhe: E ella:
- Amigo jaboty, você como não póde tre- - Cala a boca, rabo!
par, deixe que eu trepe para tirar as frutas, E sempre a cousa para deante. Amigo ma-
e voeê em paga me dá algumas. .caco veiu passando, e ·a onça contou-lhe o caso
O jab.oty consentiu; a onça encheu o. sell da desobediencia
. .
de seu rabo e pediu-lhe que o
sa~co e largou-se sem lhe dar :µenhuma. o ja- ,'t ·1; • açoitasse. O· macaco tanto executou a obra que .
..
.f ;
. bóty, muito zangado, l~:r--gou-se ~traz; 'Cl1ega11~ · ,~·!'~.:~ · ~ ~.:~~i . 1~im·.: a matou. Del}.-sé ·e ntão ,o "jaboty por satisf~ito.'·
1
O jaboty bebeu sua agua e pôz-se a tocar a O rapaz de lá ouvi~ ' mal, e dizia:
flauta; então, o jacaré disse: - O que, meu pai .... ·. a ,carmsa 6li
A . ·~ . •
·para experimentâ-la. . , 1 l •
(' " 1, •
· Respondeu o jaboty: ~ Oi !
• 1 ' ' ;
.. il· 1- .>··,
1
- Tu estás bem cançado, jaboty 1 . · - · Agora vou sahir, não vão vocês soltar
• O jaboty respondeu - Não r não suei nada! . ~· h , o jaboty. ' · 'i
Disse então o Caipora: ' - Agora, com cer- . J • • O jaboty estava dentro da caixa,. tocando
. feza, jaboty, sei que tu és mais valente do que a sua flauta.
eu! Vou-me embora. Os meninos ouviram e vieram para escutar.
Calou-se o jaboty.
' ..
..
-8'- . - 8' -
Então os meninos disseram: - Toca mais, : De tarde chegou o pai· d'elles. - Ponhall)
jaboty. a panella no fogo, para tirarmos o casco do
O jaboty respon~eu: - Vocês acham muito jaboty.
I '
bonito <t Como não seria se vocês me vissem Elles disseram: -:-- Já está no fogo.
dançar!
'
o pai deitou a pedra pintada na panella
Os· meninos abriram a caixa para vere~. 0 ·1 ' pensando que era o jaboty. . · . . .. '{·,. ·1·r. ,·~/I ;
jaboty dançar. Depois disse-lhes: - . Trag~m vocês ~s pra- · :. "~1 :,:.~Jl(~~'.. 1 ···$ :;r.:;'. •
L e, , l"e, l'e .. .
, •re, O pai tirou o jaboty da panella, e quando o , , . ·., .··.~ ;;
'l
Lé, ré, lé ré . . . deitou no prato, quebrou-o! . ,
•
Disse o pai• aos' menmos
•
: Vocês dei-
Depois pediu aos .meninos para o deixarem xaram o jaboty fugir~
ir um momento lá :fóra. Elles responderam: - Não, senhor.
Os meninos disseram-lh~: - Vae, jaboty, Quando estavam dizendo isto, o jaboty to-
mas não fujas. cou a sua flauta.
O jaboty foi para traz da casa, correu e Quando o homem ~uviu, , disse:-Eu vou
escondeu-se no meio do matto. . apanhá-lo outra ve~! .
Então, os me,ninos . disse;ranl: - O jaboty 1
• • Foi e chamou~ - Oh, jabotyt
fugiu 1 ,. · ,. • . · , ·" · ' i •. -~
o jaboty r~spondeu:. ~. O~t .
Um d 'ell~ disse: ~ Agora como ha de ser~ ·::.:"' \~ O homem foi pelo_.m atto. afóra, ·á pr9cura
Como é que · ha~emos de dar conta a nosso pai . --:~·>,~ ~.· d'elle. Chamou:
quando elle chegar~ Vamos pintar uma pedra ' ·1 ~' ~ V em, jaboty !
da côr do casco do jaboty, senão, quando elle ' Elle chamava de uma banda, e o jaboty
chegar nos dá pancada. respondia-lhe sempre de traz. O homem abor-
•
Assim :fizer.aro. receu-se, voltou para casa, e deixou-o. ,.
l
. . - fi9 --
..
/
Quando as chuvas vieram, sahiu o jaboty
do barro e foi atraz da anta. Encontrou o rasto
, da anta e perguntou-lhe:
,.
- Quanto tempo teu· senhor já te deixou~
' ,
Respondeu o rasto: 7 ' lia muito já me . '
O JABOTY E A ANTA DO MATTO·
I'
deixou.
Um mez depois , enqontrou outro rasto e
'
perguntou: •
~ ' " · O jaboty· é pom rapaz, não é malvado. · - Teu senpor ·e~tâ ainda longe~
Ú m dia es~ava elle em baixo de um de pé '
Respond'eu-lhe o rasto: - ~e andares dous
taperebá, ajuntando as frutas . Como a ·a nta dias, encontra-lo-has.
do '.matto tambem, gosta da fruta do taperebá, - Estou cansado de procurá-lo; talvez te-
disse ao jaboty: .' nha elle abandonado a terra de uma vez .
O rasto perguntou: - Por que razão será
- Retira-te, jaboty; se não, eu te piso!
qu~ agora procuras tanto o meu senhor~
Respondeu o jaboty: - Eu daqui não me
- Por nada. Preciso conversar com elle.
retiro, porque estou em baixo da minha , ar-
- Então · vae . ao rió pequeno; lá acharás
' vore de fruta. • l
meu pai . gr..ande.
- R·e tira-te, jaboty"; se não e1u te piso! . '
•• Qu~n:do 1 o . ~~botY: chegou ao pequeno rio,
1
enterrando-o no bar1"0. 'Depois foi-se emb'o ra. , O que importa isso · a você~ respondeu
Disse o .jaboty.: - Deixa estar, diabo! o rio.
'
Quando ~ôr o tempo da chu:va, eu saio e vou - Porque falas a .mim desta maneira~
em teu encalço, até te encontrar. Então dar- - Porque eu soube o que meu pai grande
te-hei o troco. fez a você!
,
- Deixa estar; eu hei de achá-lo. Vou-me
embora, rio. Quando tornares a me avistar,
mostrar-te-hei o cadaver de teu pai.
-Não bulas com meu pai! Deixe-o dormir~
- Muito agradecido! replicou o jaboty.
Agora s~i onde encontrar teu pa,i.
A
·: , , ·: , " - P .elo bom '.l'tupan, .Jaboty, larga! ·:" ·. ~1 , 1 1 • 't • :-('f ' \
1 '' 'l'I: ji j
' • 1 :...'1 ~ ' ~ t ( t' ~ _ Eu ,j~ me Vbu; aqui mesmo q~e~o. e~pe- ... · . ··' , \ ~ :. f: 1~;.d,
' n,,· ,: .:, '<\ :". N·ã o largo, porque quero ver a . ua va.. . L,':~ ·~ /~:~ ,
11
1 l ,,, • . •
i -
• • • · , ,, rar que a ·anta apedreça e tirar-lhe ·o osso para. > ; : ·:'..;
rio. Mas no fim de dous dias morreu~ - Você matou a anta; agora queria eu
- Eu te matei, ou não~ falou então o ja- t
•
- E spere por mim aqui ; vou ver por onde O veado estava seguro da victoria, con..
'
hei de correr. fiado n as suas p ernas .
Replicou o veado: O p ar ente do jaboty gritou pelo veado. O
- Correndo você p elo outro lado,
, deve res- veado r espondeu para quem lhe ficava atraz,
ponder, quando eu gritar. '. f ala11do assim:
.Disse então_o jaboty: - Eis-me que aqui vou, tartaruga Q.o
- Já vou indo. r~
matto.! · ·
O ~eado falou:
'
'
, !
' . '
".
•
.
O veado correu, correu, cerreu, depois gr1- ·
- Nada de demoras. . . Quero ver a sua
tou : - J"aboty ~
valentia. • '
" 1
~
No segundo dia encontrou-se com o macaco, .A onça, que estava com f orne replicou: -
•
porque estou cansado. · .. ~· ·.~,.~~~ ~.·';~· . .'~ .. : Qu~:çd,? 'tinha morto a onça, o jaboty.'espe-
- O unicp .favor qµe lhe posso fazer, .é ir , rou ate, q.u e o cadaver apodrecesse. Então· ti~
buscá-lo lá em bai~o e carregá~lo para ·cimã.' ~.. ··. · , .rou a canella para della fazer uma flaut~, e
- Pois então venha me buscar, disse o ja-1'.. , andou pelo matto, tocando a sua flauta e can-
boty. - .. · '~Jr tando :'
O :r;nacàco desceu e carregou-o para cima, 1
- Ih ! Ih ! O osso da onça é a minha flauta!
mas depois o abandonou. Isto ouviu outra onça. V eiu ter com 0 ja-
,, boty e perguntou-lhe:
Lenda dos Nossos Indioa
,
• <
~98 - .. •
- Como tocas tão bem na tua flauta! (
O jaboty riu~se outra vez e disse: ' O gambá respondeu: - Dois annos.
-_ De facto era a minha propria perna. Então o gambá fechou o jaboty no fundo do
A grande ,tola da onça esperou alli, ta:p.to buraco; depois que acabou de o fechar, disse:
esperou, até que morreu. - Adeus, jaboty ! eu vou-me e~bora.
\
-100 -
- 1'01 -
Passado um anno, o gambá voltou . e
·_ Oh, gambál .
chamou:
E ste respondeu :
- Oh, jaboty 1
- Já estão amarellos os ananazes, jaboty 1
O jaboty respondeu: - Oh, gambá ! já es-
Replicou o jaboty: . . ·
tarão amarellas as frutas do taperebá ~ ,
- Ora! ainda não estão, gambá. Ainda an-
O gambá ~eplicou: - Ainda não, ja~ot!.; . '
dam agora a roçar. Eu vou-me embora! Adeus, . " ·~ •
agora os taperebazeiros estã? apenas em . flor. ·~ b, ' . '
, 1 ''.i''f t~ -r. p,f.i. •
'
1
1
··~
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amigo gam a. · • · 1··" ·)1:" · ,:1.,.., ·..
11 t .. ' • \f•, .,, ' '
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.mou: · .
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1 j
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~ 1.
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• l
jaboty. ..
- Como .ês tão formoso com a tua flauta, . · O outro -respondeu:
jaboty. Emp~esta-m'a um bocadinho. - Que! o rabinho do jaboty ! Como é que
o jaboty respondeu: ' isso não é mel~ !
- Pega lá! Agora não vae fugir com a mi- Com a muita sêde com que estava metteu a
nha flauta; se fugires, atiro-te com esta cêra lingua nelle. O jaboty apertou as casças, e o
.
em crma. gambá gritou:
104-
•
- Deixa a minha língua, jaboty t
Disse o outro gambá.
- E' o que eu te disse. E' o rabinho do ja-
boty; tu disseste: .Como é que·não é mel~ O GAMBA'· E A ONQA
Disse então o jaboty: '
r ' ..
- Han 1 han 1foi o que eu te 4isse, ou não~ · ·. ·l
. \ ·· ·.f. · .
)
1
+' /
•'.
•
o gambá respondeu~ 1
r !. ~:.:
' '
• •
- Não está aqui, não, jaboty 1 Um dia o gambá estava passeando, quando
O jaboty insistiu:
ouviu um ronco: - U. . . U. . . U . ..
- Tu bem que a tens ahi, dá-me já, senão I
- O que será aquillo ~ Eu vou vêr. .
te aperto mais.
O gambá não teve remedio senão restituir E chegou-se a uma cova,, na qual se achava
a flauta. uma onça.
A onça enxergou-o e disse-lhe :
- . Nasci dentro deste buraco, e agora não
' . .pos.so sahi~. ~-Tu me ajudas a tirar a pedra~
..:. O gamb᪠aju4uu, a onç~ sahiu, e, o ga,mbá ·
perguntou.:.l he: - · Quanto ·me pagas' ,
A onça, que estava com fome, respondeu !
i - Agor.a eu vou te comer.
Agarrou. o gambá, e perguntou-lhe:
" - Com o que· ~ que se paga um beneficio~
O gambá
.. ~
respondeu ;
t
- 10~ - -~7-
, - O bem paga-se com o bem. Alli perto ha "xáu", "xáu", "xáu" ! Olhqu; era o gambá que
um homem que sabe todas as cousas; vamos estava tirando cipó.
lá perguntá-lo. Quando o gambá a viu, disse: - Estou per-
Atravessaram para uma ilha; o gambá ,. dido ; a onça agora, quem sabe, me vae comer!
contou ao homem que tinha· tirado a onça do Mas assim falou á onça: - Ahi vem um
buraco e que ella, em paga disso, o queria vento muito forte; ajude-me a tirar cipó para
comer. me amarrar n 'uma arvore, se não o vento me
Diss~ a onça : carrega.
••
- Eu quero comê-lo, porque o bem se paga A onça ajudou a. tirar cipó, e disse ao
com o mal.
1 '
\
gambá: -Amarra-me primeir~; eu sou maior,
O homem reflectiu. o vento póde me levar anteis.
- Está bom; vamos vêr: a tua cova. Disse o gambá á onça que se abraçasse com
Elles tres foram, e o homem disse á onça:
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um pau grosso; amarrou os pes e as maos e
-
- Entra, que eu quero vêr como estavas. disse : - Agora fica ahi, diaba; que eu já me
'
A onça entrou, o homem e o gambá rolaram vou!
a pedra, e a onça não pôde mais sahir. O ho-
mem disse então: '
-- Agor~, sim, tu fie.a~ sabendo que não se III
faz 9 bem sem saber a quem.
' 1 1
('
dou-o e. passou. Então o gam-eá correu pelo
'
Com medo, o gambá, só andava de noite. A cerrado, sahiu adeante no caminho, e fingiu-se
onça armou um laço, limpou o caminho, e, outra vez de morto. A mulher arredou-o, e
quando o gambá chegou, ·ella disse-lhe: - Eu
passou adeante. Mais adeante, a mesma cousa.
limpei nosso caminho por causa dos espinho~.
O gambá desconfiou e disse : :._ Passa A mulher chegou e diss~e: - Se eu tivesse apa-
adeante: nhado os outros, já teria tres.
Quando a o.n ça passou, desarmou-se o laço. Arreou o pote de mel no chão, pôz o gambá
'
inimigo f i~er algum(}) cousa e disser que f di ·. · trazer os outros. Então. o ga.mbá lar.ubuz.o-µ-~e
par,a ~eu. bf3neficio, 'nã~ confies! · ., ·, i\, . .. \ ,.' &. de mel, diitou-se por .cima das folhas · sec~as,;" , ·, 1• ·
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Disse a onça: - Eu vou fingir-me de mor- ' ,~ ~~·· . : 1~
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ta, os bichos vêm vêr se é certo ; o ga~bá : "".·: Â.·-.·· , ·,: · "
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o homem tinha de passar, e fingiu-se de morto. 1 f j
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Veiu o homem e disse: - Coitado do gambá !·
Fez um buraco, ent~rrou-o, e foi-se embora.
Correu -o gambá pelo matto, passou adeante
do homem, deitou-se no caminho, e fl.ngiu-se
de morto.
Quando o homem· chegou, disse: - Outro
gambá· morto! Coitado! \
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Arredou-o do caminho, cobriu-o com fol~as,
e seguiu' adeante. · . .
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avô já enguliu t~u pai.
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;, · Disse a filha a .seu 'm arido:
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O gambá tinha uma filha ca~ada co.m o ar1- · ,,' :: ':
ramb.a (Martim pescador), que, ia ao !io .e ao .. ·~~
ae ver meu pai que o peixe enguliu. . .:.__ ·v
' O ariramba subiu no páu~ e sem demora '
lago frechar peixe. A' margem do rio havia '
um páu inclinado, de éima do qual esperava ·o .
appareceu avô do peixe. O passaro frecl1ou-o; o
puxou-o para t€rra e disse á .mulher:
peixe para frechar. Voltava sempre muito de-
. - Traz e a faca.
pressa, quando J?lenos a sogra esperava. Um
Pegou na faca e abriu a barriga do peixe.
dia, o gambá ohamou .a filha.
Achou nesta o sogro gambá, já quasi a n1orrer.
-Minha filha, como é que tet1 marido p:iata Dizem que, por isso, o gambá ficou com o
peixe~ ,. rabo feio, e de .máu cheiro: rabo feio, porque
- Como lJ.a de .ser, meu pai~ Sobe no 'p áu · 0 peixe o pellou, e'. de máu cheiro, devido ao
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que está inclinado sobre o l"io. . , . ·..,,., ·~ .;. ;/~ · . ,, .calor da barriga do peixe~
. ' .\ ' '". 'i y1 ifi)·\ t~ i. ·, <
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'A' on,· ~:a· fez ais Iningáo e espalhou nn~a · ·,: "~·· '~ '~..'.!L
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bá para aeu cempanheiro, ' e o u'rubú convidou ~ 1,/ í :pedra, 'e' 'ª raposa tornou a lamb.e r ~ Depois o' ' '' I~ ·~ :. ! '
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urubu disse : ;1.w"""'
ra~ no meio dos montes, veiu a noite, e foram · · - Comadre onça, eu não acho . boa esta
pe.d ir rancho na ·casa da amiga onça. A onça mo<Ia: quem lambe come, quem penica com
andava por fóra, atraz dé um rebanho de car- fome fica?
neiros, e chegou á casa muito tarde, trazendo · Foram todos dormir. O Úrubú disse para
um grande carneiro morto. Os hospedes, que . o .caracara:
, .
se achavam em casa, ficaram com medo. - Nós havemos de ficar com fome.
N
Disse a raposa: - Compadre urubÜ, as
1
Quando a. ~nça pegou no somno, o urubú 1
cousas nao· estão boas. ,, agarrou nos filhos da op.ça e os devo~ou com · ' 1
/. _
tJisse o caracará : - Ora, esta. é bôa, nos, ., ' .:' 'Q bíQO, ~ 'c aracará fez. o mesmo. Safaram~se, ' ,..: ' :"}. ·.: "'." .~ ~7
',~1 .i:-,11.·" :· cl.eixan.do a 4raposa e ·o g~mb~ dormiµdo. ': Quan~ ·: ~ '.• ·'·<)$ ·r·, ·.~·,.:~ ]·:·.
~ 'Í
!;.~~,. f}: '., "'; ·,. ~~o. ten:ios de. que· temer,; mas você, comádre'." §
' 1 •
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do a onça acordou, pi:~curou os filhos e so ·viu (1t .~· ' · ,:, 1, · •• · 1
i ;J1. r~ ,· se metta ! os ossos, e investiu para a rapos~, que escapou ·
4- raposa deu uma gargalhada e disse: · e foi ·á procura de seus companheiros de via-
- Serei eu peor do que compadre cachorro' gem, que encontroU: -na ,casa do m~caco.
O caracará! - Commigo niriguem póde ; nã9 :A raposa: ...-- Agora é occasião de vingar-·
corro por terra, porque ~ão córto bem o -chão; me do que vocês me fizerftm. ·
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-.11s -
'
Mas como era hora de jantar, ella esperou.
No fim da janta viu um cachorro, teve medo
e despediu-se. Foram o urubú e o caracará ·
para casa do gallo, e a raposa já lá estava, es-
perando pela ceia.
A ()NÇA, O VEADO E O MACACO
Chegada a hora, foram todo$ .c ear. O gallo
.~spalhou milho p or toda a casa e disse : '\
' ' •
"V·e nham de bico ' '
Que m.~ despico : Uma vez, amiga onça convido~ amigo veado
Quem tem focinho para ir tomar' leite em easa de um compadre;
'
i11imigos. Deram cabo de todos, mas deixar~iÚ; . · '.__ Am~go ve,ado~· vamos . comer bananas;
o gan1bá, por ·ser de muito mau cheiro.
1 '
"·. ·; ·~. ' você suba, coma as ver·a es, que são as. me-
' lhores, e me atire as mad.u ras.
'
Assim fez am1go veado e não pôde comer
nenhuma, e a onça encheu a pança. Segt1iram ;
adeante encontraram uns trabalhadores capi-
nando uma roça. Disse a onça ao veado :
•
- 120 --
•
Amigo veado, quem passa por aquelles
aparou o sangue numa cuia, comeu a carne,
trabàlhadores, de~e dizer: "Diabo leve a quem ·,
voltou para casa, largou a cuia de sangue ~m
trabalha" ! ·
cima do veado para o sujar, e foi-se deitar.
Assim foi; qu~ndo o veado passou Quando o compadre foi ao curral, achou uma
homen~, gritou:
ovelha de menos. Foi vêr se tinha sido a onça,
- D~abo leve a· quem 'trabal4a ! •
e ella lhes, respo:rideu : --, .
' · Os, traball;lado~es largaram-lhe· os caÇhó.r- ,e, k,_ - Eu·não, meu compàdre, só ·se foi amigo
( . .
' '
. · . / ~· Quem manda ,você ser tolo~ ~' ·.· · · ' v r .t;::~;·~ ··.1 •
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1
• •· Afinal éhegaram á casa do compadre, p.a ·,; 1,;~ ~':"
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! ~· ' 1. i
. :p asse' adiant~' e 'por ·~anr: ~' "./_ .· ' . ·.'
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pontinha dos pés, abriu a porta, foi ao curral senão ·eu volto ...
A onça, que viu isto, passou adeante. Quan-
das ovelhas; sangrou uma das mais gordas~ .'
do chegaram nas bananeiras, ella disse:
1
~ Amigo macaco, vamos comer banana~ ; - E não quiz o macaco pegar. Afinal chega-
voce coma as verdes, que são as melhores, e · ram á casa do compadre da. onça e foram-se
me atire as maduras. deitar porque já era tarde. O macaco de sabido
- V amos, disse o macaco, e .foi logo tre- armou sua r êde bem alto, deitot1..:se e fingiu
pando na bananeira. Comeu as maduras e ati...: · que estava dormindo.
,
A onça, bem tarde, sa-
1
rou as verdes p~ra a onça. Elia .ficou desespe.,-. · · hiu na ·pontinha dos pés, foi ao chiqt1eiro das
ràda ,e disse: · · ., ' "··1i: ovelhas, sangrou a ~ais bonita; comeu a carne, '
..- Amigo macaco, .amigo 1nacac0 ! e foi com ·ª cuia· dei s.â ngue para derrarltar no
boto a unha! macaco. Elle estava ~·e~do tudo, deu-lhe com o
'
- Eu vou-me embora, se você péga com pé, e o sangue cahiu todo · em êíma da onça.
historias. .. Quando foi de manhã, o d.Pno da casa foi ao
'
Assim respondia o macaco e foram se- curral, e achou uma ovelha de menos, e disse:
guindo. Quando passaram pelos trabalhadores - Sempre que a malvada desta comadre
a onça disse:
. .' dorme aqui, falta-me uma criação!
1L . ' encont rou o ma-
, - Amigo macaco, quem passa por aquelle~ argou-se para casa, e Jª
homens, deve dizer: "Diabo leve a quem tra- caco de pé e apontando para a onça, que fin-
balha'.' ; porque alli elles estão obrigados. .. ,· gia estar dormindo. O homem vendo-a toda
1
·~''!:'·
' t' t j •;. , ! '1, '
, <l.l'l.i '\ r . , , , ,
O veado foi ·. caçai" no outro dia, encontrou-
,
.~. J·'.:. ..· , '. , '. me ,está ajudando. Fincou as forquilha~,, ar:.- " . · se com outra onç~ grande e depois com um ta-
.
mou. a casa. . . ~anduá; disse ao t3:manduá: ...._ A onça está
J '
V eiu no outro
. dia o ve~do e disse: -Tupan '
alli falando mal d_e você.
· me está ajudando . .Cobriu. a aasà e fez dous O tamanduá veiu, achou a onça a~ranhando
commodos: um para ·s i, outro pa,r a Tupan. um páu, chegou por detraz de vagar, deu-lhe
'
..
' •
um abraço, metteu-lhe a unha, e a onça
morreu.
O veado levou-a para casa, e disse á sua
companh€ira: - Aqui ~está, . aprompte I>ara /
nós jantarmos.
A onça apromptou, mas não jantóu, porque A ONÇA .E O CACHORRO DO MATTO
ficou triste.
, Quàndo chegou a noite, os dous não ; \
•
.,
miam, a onça espiando o vea~o, o. veado es~ •
7
. a
piando a onça. . O veado foi morar em ccfmpanhia do ca- .
A' meia noite estavam elles com muito chorro do matto.
somno · a cabeça de um delles esbarrou no 1gi- Passado muito tempo, a onça tambem foi
ráu, :f~z: tá! Á onça pensando que era o veado morar lá, porque o veado já se tinha esquecido
.. que já ia matá-la, deu um pulo. d 'ella.
O veado tambem asst1stou-se e ambos fu- No ot1tro dia foram caçar. A onça queria
giram, um correndo para um lado, outro cor- pegar o cachorro, mas não o encontrou. O ca-
rendo para o outro. chorro,. quando voltou de tarde, ~rouxe caça
pequena1 coti~; paca, tatú e inambú~ Jan-
,taram, e depoís· de jantar foram jogar. A onça,
·jogava e .dizia',: ;~ o·qúe eu caçav·a nao pudé
1\ 1
l' • ''. ·,
tem perna cu,r ta não deve caçar. . Assim jo- . ."' l.,, «~ ~ '.~ ·r~; '.
garam até que a onça saltou no cachorro. O , · '
cachorro e o veado fugiram, a onça seguiu
atraz e, quando pegou o veado, este virou
pedra. ·
I •
O cachorro atravessou um rio, e disse para ·,
a onça:-Agora se me queres pegar, só se me
jogares uma pédra. A onça ágarrou na pedra-:-
veado e jogou. Quando a pedra cahiu na .o utra
banda, grit.ou: "mé.", e virou outra vez. em
. vea~o. Foi d'al1i.. que se gerou a raiva do ca:.
' O MACACO E A COTIA.
~horr? ~ontra a onça. · ~
,'
• •
I
• 'I
• •
(
..
• •
O macaco foi dançar em casa da eotia; a
cotia, de sabida, maindou o macaco tocar, dan-
do-lhe uma viola. Começou a cotia a dançar, e,
no virar á roda, deu uma embigada na parede
e partiu o rabo. Todos os que tinham rabo fi-
caram, vendo isto, com medo de dançar. Então
o preá disse:
'
- O~a, vocês estão com medo de dançar!
,, · mandem ·tocar, e ,vão ver obra'
J , . ,,. ' ... . . •
J •
O macaco .ficou ·logo' desconfiado, trepou
n-gm banco e pôz-se a tocar para o pr.eá dançar.
""'- O preá deu u~as ~oltas e :foi dar sua embigada
\~no mestre macaco, que não teve outro geito se-
não entrar tambem na dança das cotias e dos
outros animaes, e todos lhe pisaram no rabo.
, Disse elle então :
Lenda dos Nossos Indios ·
5
.
__.._ 140
Ou~rqs r~spotideni:
1
'.
.,,,,.:
1
··, ~, ·1
Nós "ta·;;nbel'Y\
' l "'µ ., .p..a..•.
:fa.!;·.
'
de·
zer· a éasa. Quando volta a ·chuva, e que estão ,
dormindQ; então se lembram e dizem:
--:-r Havemos de fazer a nossa casa.
Algum dia, talvez, farã.o casa.
~ '
Assim faz
tambem muita gente.
• -13i-
... ·u~a onça tinha uma roça, mas como esta .~·~i, :: 1 .•· dssim .. ~ e 'ahi .se: coçava a ·-vaier. •
estivesse toda coberta eo,m ·e ansanção e ell:a 1 1' '. .*'\ . O menino ·muito 'tolo i•esp.o ndia: - E'. ·
não a pudess·e roçar, reuniu diversos animaies A cotia continuava o seu traiaiho, e q11a:ndo
e disse: o cansanção lhe passava pelas pernas, orelhas,
- Aquelle qu-e me limpa1· esta r.oça s~m se ou qualquer parte do corpo, ella aproveitava..
coçar, ganhará de recompensa um boi. . se e perguntava ao menino se o boi tinha uma
O macaco foi o primeiro que se offereceu ·malha naquelle log·a r, ássim, assim, e nisto co:"'
para fazer o trabalho. ~ava-se muito; Deste modo acabou de limpa:r
Principiou a roçar, mas a onça teve de des- toda a roça e ganhou o boi. Então disse-lha
pedi-lo logo, porque elle se coçou. Veiu o veado ." a onça:
que tambem não :f~z nada. S·e guiu-se o bo~e '\,/. -. ;·'.1 · ~ Comadre· cotia, você ha de matar este.
que por sua vez tamb~m não pôde <'.On~inua1\ ·~ ;<:,;;~;,~ . . . boi . aonde :n~o p~u,7er. moscas nem mosquitos, ,; .1 h:" .'~ J.
'A final .a ppareceU tlma CO~Ía_,,diizerido que'qUe~iat· ., ;: rJ·.;,. .~~~ ' ,€ onde não CfU}tar gallo ri.em gallinha.
1
. o gallo cantar, matou ahi o boi e principiou a cipiov. a amarrá-la. Quando a onça já não põ-
esfolá-lo, ql1ando appareceu a onça dizendo: dia mais se bulir, disse _q ue afrouxasse mais
- O.o madre cotia, por f avor me dê um pe- s cipós, mas ella continuou a apertá-la, di-
daço d'este boi, que et1 estou doente. ndo que só assim ella resistiria. ao ve11to e.
1 ••
Partiu a cotia um pedaço que a' onça devo-,· ,~ 1 . 1 · ~pois sahiu correndo., . .
rou de llIDa só vez. Ái11da não satisfeita torti.o u . ', \~ 't·· .i 1 . • ··'· • t Pas$ÚU por alli 'º maca.co, e a onça pediu " · :~ . ~
t • 1,
· • '11 ' · 1 ' . R d eu-lbe. P,, in.a ·· ·· ,".'.,• . "':) ,i'1" ,i·t
anieaÇaJ;ld,~" ·!; ,.. :.;: i f' , ; .1· .. pa.:r a ,~tl~ des.amarra:-la. •• · ~
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1,
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.mais um pedaço, e isto já 1 i '
• l)l!i ' . ' I' '
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.<, ·á,.cotia qe m.atá-la. Esta, como tiv~~se '.mti.i.t~ )'~ ···~,~l1itJ ,-.. ~/·. ·i·1 \ 1oa,co:.*, . ·: .. , .> • .. "~, 11
"i1 • ,. medo a :ella, foi-lhe dando a carne todas · as .,..~ '·· '· ~·~;(.~"). : , ~._:__ '.'.Deus . aj~1de a quem ahi t e botou r E 'foi , ·:...... "
• vezes ~ue pediu, acabando a. ' onça por comer- " ~1i}~ ..r ' ';y.' :.passando. ~· •
lhe todo o boi. Veiu' o ·veado_e ~ onça pediu-lhe a n1es1na
Depois voltot1 a cotia para. casa sóment~ cousa, e elle dell a mesma resposta do macaco.
com o facão nas costas, muito triste, mas pro- Com o bode acontecet1 o mesmo.
mettendo vingar-se da. onça. Prestou attenção Lembrou-se ·a cotia da onça e foi ver se ella
ao logar por 011de ella m.ais passava ~ para lá ainda e.stava viva. E sta assim que a viu, pediu
foi cortar uns cipós. · que a desamarrasse. A cotia fingiu não ser ella
Nisto appareceu a onça e p~rguntou-lhe o a autora da obra e fingindo estar muito pe.nali-
que est.a va ella alli fazendo. Ella ·;respondeu~ zada, principiou 'ª des~tar os cipós, para ver se
"'"'l~e. ~ue J!eu~ ia castigar o mundo .mandap.dç.·-,"' ·"· . , ~ . ,,, .::a ~J;;lÇ~. 1 ~ssÍin~nãQ a: Çomia. A onça, a~siffi; que se,···:
:·úp1à Y~t~~ia,.e que .e lla estava ti~ahqo ·aqu~ll~s· '/~, ,, ;\<;!· ..· ~·:,.· )~iu. ~·~attm8:;rtada, "avançou para~. doti~ e .3:. qu}·~ .·.·,
· · cípó's pal"a "se am~.rrar . A onça instou mQ.tto,) · ~- · 'f . · • ,., ~ t PEtgar;,' mas esta correu e metteu-se nu:tn buracol · 1
··'
P.~r~ qu~_ella a amar~asse primei~o, ao qU:e eilâ? : ' · •.. ·~- con&eguindo a o~ç~ ain~a pegá-la :numa per~
f1ng1u nao querer, dizendo que ainda tinha. d~f v . 1
na.1.Qt1ando a cot1a se viu com a perna p1"e.sa,
1:
.,
• • \, f • .-
vem para a porta do buraco,, arregalando ben1 i·: ' . - ' Quando eu ando de noite, os espinhos .
• I
os olhos.
es.p etam meus pés ; empr esta-me t eus cascos
A garça desceu e veiu para a porta do bu- para eu andar.
raco, arregalando bem os olhos. A cotia atiro.u-
- Aqui est~ó, leva-os; mas quando quizer
lhe de dentro uma porção de areia nos olhos e
amanhecer, traze-m'os outra vez, porque o ca-
sahiu sem que ella risse. Quando a onça che- lor do sol queima meus pés.
gou, principiou a cavar, mas nada de encon- .
Por isso dizem que a onça, quando anda
trar a cotia.. Perguntou então á garça :
Çle, nóite, faz "bulha ei a anta não, porque está
- Comad.r e garça,, aonde está comadre, co- ··
· ~ .. descalça; e de dia acontece o contrario.
' tiai. ~; d '
O VEADO E O SAPO
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', .'' ' 1:0 "vead<'.> fic~V,a desesp erado e la1:gava-se na ·
'!
'
carreira, diz'endo ': •' " •
direm a questão pegaram llma .aposta. Havia ( ~;·;; · '.Y •, !
- Agora eil~ não -ouve.
duas estradas ; então o veado disse que aquelle · Tornava a cantar a mesma cot1sa e o sapo
qt1e chegasse primeiro ao fim d 'ellas, "este se respondia. Quando o veado chegou no· f im da
casaria com a moça, e que quando elle cantasse estrada já encontro11 o sapo e foi este que se
o sapo respondesse : Fico11 tudo combinado e . casou COD1 a moça. o·veado ficou desesp erado
cada qual seguiu por sl1a estrada. O -yeado es'-. ' ·1 ~\.~· e disse :
tava muito alegre julgando ·ser elle· quem ga- ··~; X:. ~ Aquelle ·sapo me paga.
' ,
;nliava a . aposta, mas o sapo Çle s~bido re~niu ~ . · . : E . quando foi na noite do .casamento, encheu
. ' '
' 1 1
todos os sapos, ·u m atraz . do· .011tro, .~m .t9da .~ ~
' i 1 .. 1 , .. '
1
'
. um ppço<lql)é ti~h~ n9. quintal do sapo, de a~t1a
\ .,,.. tt ' •
'1~~ < ' ~tensão. ~o . caminh.o. e, orqe119~1 qu~t . ·a~u,e~L~:( · ~ :fe,rvendo; .Qu;a•t ndo• ' 'f oi
~ ' ''
de .madt-qgada e o · sapo
1 'il .1\1 1
1
. ·que ouvisse .·o veado cantar e estivesse · n,tais'' :viü. que a moça estava dormindo,.s ahip. ·a a cama
• ' 1 • ' ' ~ • , 'I '
,, 1 · 1 ' ·
p erto d 'elle respondesse; e foi-se collocai, lá \DO ,
' .
1
• . 1
. ,. " · devagarinho e ·pulou. para de11tro·' do poço. ·
'.f im da estrada. Os sapos todos ficarant ale;r:t~· ·<-~ ·~~~~ \ ·Quando foi cahindo dentro, não Q.isse n em mais
e quando o veado ca11tava : "Lac11lê'~, "laculê'' ·:efl _ ·~ 1
• · Ai J e~us.! ... e morreu logo. O veado ficou muito
.. J •' •
"lacµlê", o sapo qtie estava n1ais. p erto respon- ~ :\ alegre e casou-se co1n a mesma moça.
dia: "Gulµgubángo";'~bango lê".
"1 • •
•
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• ' < r t,
r ·, ! ' 1
'To~ó$ s~· ad:µiiraram ·de ver o sap~ naquellas
· bem,, mandando-o entrar para vêr sua coma.d re .. ·( · ' . :, :~
. ?'·· ' ~~~ alturas. Entrar~m a ·d ançar e brincar. Acabado
., Jl : o samba, foram todos se retirando, e. o sapo,
vendo o urubú distrahido, entrou-lhe outra vez
(1) Tambem esta lenda, colligida pelo Snr. Sylvio
dentro da viola. Despediu-se o urubú e largou-
Roméro em Pernambuco, não conserva inai~ a sua feição
original. . /
se para terra. Chegando a certa altura, o sapo
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mexeu-se dentro ·da viola e o urubú virou-a de
boca para baixo, e o sapo despenhou-se lá de
ci~a, e vinh~ gritando: ·
Arreda pedra, senão .t e quebras t. . . · '
O ~rubú: - Qual ~,.! qual ~ ! compadre sapo
bem sabe voar!. . . ,
O sap o cahiu e r alou-se t odo, })Or isso
qiie ·ell<!. é· meio f ouveíro. , t ,.
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flor.
e ,.~~ "os animaes 'zârigám-se. corri a .preguiça, quando
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• A. Í '\..
· a encontram.
Um dia o coatí mandou a preguiça fazer
.. um serviço. Mas a preguiça não quiz trabalhar,
quiz ~ó comer : Então espancou-a, e ella, que
não poude fugir, ch~rou.
, Vem a jurití e pergunta: - Oh preguiça,
porque est~ chorando~
,_,... O coatí. m,andou-me fazer um serviço, eu
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ella.
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perguntou : . ' . : . ., . .
_ Oh coatí ! porque estás chorand~ ~ . " , · 1 .J ; ,r:)1~
- ~u choro porque a pr.e guiça ~~ meio .ªº ·-. 41
~: ).;-:~
rrieu caminho fez u1na armadilha. e. quasi me · :t~,~.{,_· ·, ·' .
•
. ·oo'Iltam 'qt1e, ·nos -tempos f ri~1itivos, t1ma
matou. · '* , · tartaruga matpll uin gavião, que deixot1 n1u-
- Ella te fez isto, porque tu a espancaste. ~r e um fllho pequeno. Sempre que o fjlho ia
- ~ Quem t 'o disse ~ i)ergu11tou o co~tí. . / caçar cameleões, achava pennas de passaros.
- Eti mesmo vi. Tll fingias ser valente. C-h egando em casa perguntou á st1a mãi:
agora apanhaste. · · · . .,.., -De quen1 são as pe11nas q11e et1 acho sen1-
E foi-se embora, para dizê-lo á preguiça. ~.\. 1)re no matto, quando vou caçar~
pl~eguiça riu-se muito e disse: . - Meu fill10, são de tet1 pai, que morrell.
- Se elle vier para cá, espanquémo'-lo ou- · Calou-se elle e concentrou-se. Cresceu e es-
tra vez! tava quasi moço.,
·. ·un:i dia f,o i caçar e encontrou tu:µas tarta~
' 1\ ' '
:rancar.(J Ex;peri~mentou, pux,011 .,e , n~9 o. ·~rr~~-/ 1 ";, .L saFap1r:i a os, u ros , içaJ;:arn
cou. Disse, então·!. , · · ~;,- .,,.
~ .rnr,,11~ " I'h ' A , ·n· . . b i· · •
::":;·;~~~·. ·:i; ~erx,ne ," os. ·.: , 9~µ~ "·~~/que. e 1scaram o casco i.i- · . ' .
.e..: ,· r·'l·
/ ·~1 ·•'it~ ..-~. c~ra;m ~óm o 'b~çol preto·; outros que beliscar an1 ,
' '
- Não t enho ainda forças~
Foi outra ~ez experimentá-las. Então t ~ ar- ·. .. W' .",~ ·O . ti.gàdo fiéaram, ve.r des,
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ran cou o grelo e disse: . , · .· · >.;·~~~ ~/ . Assim 'a cabaram .as t arta.r ugas assassir1as ; ·
- Agora já tenho força. Agora vou d eve;ras · · 1j, assim se acabaram.
vingar m eu d efunto pai. Esperarei a sabida D esd e então 'os passaros ficaram pintados.
da avó das tartarugas.
Dizem ql1e um dia aquella espalhou paricá
em cima de uma est eira. V eiu depois chuva
com vento, e ella disse ás netas :
__:. V ocês vão ajuntar par~ recolher da chu-
~
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va o par1ca. . 1 '.l }