Você está na página 1de 78

Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai

www.etnolinguistica.org
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org

Do Instituto Hiatorico Brasileiro

(em allemão)
• '

Problemas de vias de communicações


~
Halle, 1905.
',. Historia Polaca• .._ L~ipzig, 1907 (2.ª ed .• 1927).
Ostbank l1iir H(lilde-l und Geu)erbe. 1857~1907., - ',Posen,"·:/'
· ~; 1907 , ' ''' · · • · ' ri' · · '" .~ •
1
' J ... •
J •
'•'
'. ' • ' • )' J
. •
'' . ,·
,, . ,.( ' ' '

.A:s i: p'"otsias de· Angehis Silesius .. ., ~Com, uma íntrod\J,~ãq,•.,


'• " ., 1 ' ' 1 ' 1' 1 i._ 11rttt'\ ~
, . ·~ 1 .~.
t (

, . Le1pz1g, s. d. . . ..
Pernambuco e ~ evolução' do Brasil para a ·indepén<tenciq~~
2 partes. - ~. Leopoldo, s. d. · /"J.
Prosa brasileira. Tráducção oom introd'ucções. 1.ª parte. ·
- s. Leopoldo, ~· d. '
Mythos, lendas e' contos de Jndzios bra.sileiros. Com uma LEITURAS
introducção. - S. Leopoldo, s. d. . · BRASILEIRAS
Historia do Brasil nos 'eculos XVI e XVII.
S. Paulo, 1921. (
O Brasil ao findar da época colonial. - S. Leopoldo, s. d.
,PREFACIO

Historia e Literatura do Brasil. Duas conferencias. ·Porto
Alegre, 1929 (em portuguez) .
A Noua Gazeta da Terra do Brasil. T exto, Traducção, Com-
. mentarió· h~storic.o e philologico~ Glossario. ~ Sãq"
Paulo e, Rio de Jan.~ iro. ·1~22. . . ,. ' · · -
' r ' \ili 1 t ' 1 ' 1

(N,est~ .QhrE.h b.e.m. como · n.a . autecedente, encontra-se uma


, '·lista .de '"ç,titro~. trap~lho~.· ido ,autor, 'publicadqs 1~m "re1:
vistas1: e jo.rna,es.) ,
• ; 1 · . , ·· , ,,
~. 1t• ••. ·'' 1•fl~ 1 ~ 1

A f3()tfca. "Alo Selvagem" . C-9rito' allemã(), . por Wilhelm ·


Raabe. ·T raducção. Com introducÇão e annotação. São
Paulo e Rio de Janeiro, 1923. "
'
Chronólogia Brl1Sileira. (Até 1630). Revista de -!> ' \
Sciencia. Rio de Janeiro, 1923-26. LIVRARIA FRANClSCO ALVES
16S, RUA DO' OUVIDOR, 184 - Rio DB JANlllllo
smr.r~ HORIZON'l'll
J d& Ba.hia, 1 o6 2
A
332 A.FRANIÇJ PEIXOTO,
que m1 fez coordenar este livrinho, ..
.
( , ELLE É DEDI CADO•

I .'
INDICE


PA.QS,
...,.. . ... ..
, . . . .. . . .' ... 9
., . .... . .. ... '
.......
'
Os nossos Indios 11
( Como a Noite appttreceu •.... ...• 24
,.
A: Origem dos Homens ... . .. . 28
;'
, O Diluvio .. .
.. . . . . . ~9
A Origem do Sete-Estrello ". 31
·Lenda do Milho .. 33
• Lenda da Mandioca ' .. . 3-4'
Ahanga e o Caçador. 36
O Corupira e o Caçador. 37
O Corupira e a Mulhet. ... 42
O Corupira e o Pobre, 45
O Yurupar1 e as Moças . . .. . . . . . . . . ..
~ . .. 48
O 1:"urupari e o Menin'o. • •. .. • • • • • • • • • r • • • • •• 62
O Comedor de Cobras . . . ,· . .
.. . . . .. . ...... .... .
~. ~ . 6~
f,.. Velha gulosa. '' . '• • •
.
~ • • •• • •. • • • • • jt • • • • • • • • 58
\

A Moça que
\
fel procurat Marido.
' 'I
...~ .,• •' .. .. . . . . . . 6't '
.
' ' '

I · - · A Moça, e o GaI'nbá....... . . 63 '


II - ·A Moça e o Urubu.
" .. 65
'
III --... A Moça e o Gavião. 66
João.de-Barro e os Caxinauás. .. 68
.. . . ... . . . .... .... 70
72
. .. 75
77
.. ..
~
80
I

iNblC~

t>Aoa.
,
O Jaboty. e o Caipora. ; .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...
...

O Jaboty e o Homem. . . . .. .. .. .. ... . ........ . .. · · · · : ·


83
85 ... • PREFACIO I

' .
O Jaboty e a Anta do Matto. . .. . ~ ..... . .... · . · · · · · · · · ~8
\
., .
O J aboty e o Veado. . . . .. . . .. .. . . . ...... . . .. .... · · · · · · 91
Como o Jaboty se vingou da Onça. . ...... : .. " . · · · · · · 95 ,

O Jaboty aposta com o Gambá. . .......... . · . . ·. · · · · · 9$ Teve o autor deste livrinpo uma idéil, que elle realiza,
O J a.boty e o Gambá. . .. . .... .... . ... . ·. . ... · · · · · · · · · · · e -pela qual muito deve ser lbuvado. As obras de ethno·
O Gambá e a Onça. . ... ·· . . . . \ .·.... .. ... . · · · · · · · · · · · · · · graphia ,brasilica ainda esperam' o sàbio que lhes dê a
O Gamkai. e o Homem. . ... .. .. . ... . .. . . · . . . · · · : · · · · · · · unidáde de um tratado, que entretanto ' vem . sendo es·
o Gambá e o Ariramba. . ... . . • . . .. .. . ... . ... . . : · · · · : · · 114 1' . c·r ipto ha quatro secul9s, nas observações e. na\ m~nu·

.
'
. den cias, ·mas ainda longe da synthese doutrinaria, !'.c omo
\

Amiga Raposa e Amigo Urubú ... .. . . . ... . ... . . .. · . · · · 116


A Onça.1 o Veado ~ o Macaco. .. .. . . .... ......... .. . ..·• 119· o r equer
'
a sciencia contemporanea. .D·e Pedro Vaz 'Cami..
Historia do Veado e da Onça que foram fazer casa. . .. . 124 nha, Hans Staden;- Nóbrega, Anchieta, Cardim, Thevet,
A Onça e o Cachorro do Matto. . .. . ... . ...... . ... . .. . 127 Léry,' Gendavo, Gabriel Soares, Claude d'Abbeville, Yves
O Macaco e a Cotia. . .. .. . . ...... .. .. . . · · .. · .. · · · · · · · 129 d'iEvreux. . . a Alexandre ·Rodrigues Ferreira, Maximilian
Assim dizem os Macaquinhos. . . . ..... . ...... .... .. . . . 131- von Wied, Martius, Varnhagen, Couto de Magalhães, Bar·
132
A Onça e a Anta.
.
A Onça e a Cotia. . ...................... . .. · .... · · · · ·
. ... . .. . .. ... .. . ·"· . .. . .... .. .... .. . . 137
bosa Rodrigues, von den Steinen, Ehrenreich, Capistrano·
de Abreu, Koch-Orünberg, Roquette Pinto, Rodolpho Gar·
O Veado e o ·Sapo. . . . . . . , .. ..................... · . . · · 138 eia ... já copioso material permittiria esse estudo, di·
O Urubú e o Sapo. . . ..... . . . . .. ... . . . . ...... . .... .. . . 140 gno d e tentar um erudito, se os nossos não andassem e111
Quem corre, depressa. cansa .. ... . . ... . . ..... .. .... ... . 143 busca de fallaz originalidade ou ficção discursiva, t«nto
A Preguiça, o Coati e a Juritf. . . .. .. . .. .. . . . . . . . . .. . 145 ao gosto de nossa genle.• Espereifios um estrangeiro, ~e­
A Tartaruga e o . Gavião. . ....... . . ~ .. . . . . , · · . · .. · · · • · nos alJlbicioso, que ·º faça, para. ~on;iea,da: bem ·merecida.
, Con1tudo, aos estudiosos qu~ andarem por esses livros
todos, , a alma µo . selvia.gen1; \lespida dos en(eites romanl"
ticús ·q ue lhe emprestaram as musas·- prestigio$as ~de José·
de Alencar e GonÇalves ·1 Dias, será, na' suà sincera tus·
ticidade, bem conhecida, :a inda quando a ternura ~acio·
nalista do mo1nénto, Candido Rondon á frente~ lhe queira
. .p1~mover uma irmandade et\lica,· qué é apenas mais u1n
'
• •
ulto á Humanidade . . .
' ..
A alma externa, poder-se-ia _dizer, Q da acção, nao a
" \
~m, a do . pensamento, esthetica e !iteraria, que esta
\

anda perdida em livros escassos, de Couto de Magalhães '


a von den Steinen, de Barbqsa Rodrigues a Sylvi<;> Roméro,
\ ~ •r ~

'
{

de Captistrano de Abreu a João Ribeiro quando muito


permlittindo inducções Iinguisticas e \fo~-loricas, certo ,
importantissimas, mas nunca ·expostas num conjuncto ou
em grande cópia, que deixem ao publico, menos curioso
ou sábio, investigar, por ellas, a mentalidade desses pri-
mitivos.
E' isto que nos consegue agora o livrinho do Dr.· Cle:.
mente Brandenburger, -nuncio de outro maior, mais ~~- · ÓS NOSSOS INDIOS·
dito ou só erudito, á germanica, como exige a s.u~ cuF · ." 1 • •1
' ~·
turaf ª§ora, J,JOrém, nest~ p1r;e cursor, bem sJmples :~ be~ ' ~'l 'lt, li.' ,,
' 1 • '
...
: ·~, , l.J !

.suggesbvo, á moda latina. . . t1 ..~ ~ /1 •· l f t 1 ' ' :

' Em vão se procurará ahi o enfeite, que ·s ~ria defor- . ... ' ~· · .Q.uand·o Vasco da· .G ama voltava a Li~bôa~
mação, ou a mor~iciade, que. seria tendenicia. o atitor quiz ' ',, '
fazer obra de sábio e não de. artista; reproduz, literal-"'
com a boa nova de ter .alcançadt> a India, con-
mente, das suas fontes; conserva piedosamente a inge- tornando a .Africà, apresso~-se o rei de Portu-
nuidade original e se exime ainda ao commentario indi· gal, D. Manuel · o Venturoso, em mandar ao
recto; não fôra assim, seria uma traição e não traduc-' ;

· ção, das "lendas dos nossos Indios". O merito estã· em Oriente u~a grande esquadra, sob o comman-
tê-lo feito, realizá-lo num liwo para o vulgo, agora final- do de Pedro Alvares Cabral. Teve ·este ordem
mente capaz de, numa proveitosa leitura, saber da men- de afastar-se quanto pudesse da costa da Afri-
talidade dos primeiros brasileiros, mais ou tão bem, comó
naquelle tratado sábio ia que alludimos, e muito teremos ca para Sudoeste, já afim de evitar as calma- . ··
que esperar. . . . • rias, que tanto difficµltavam a navegação á
Deante disto, ha qµe lhe encarecer ainda o me~lto? ·•.r:
Numa bibliotheca de literatura "nacional", deve ' ser· es,te "' ·
vela, já porque pârecia·
~ . proyavel
' '
· qu.e : eneon-
·o .primleiro: volume, como que "os textos ~rcba:iÇ~s" '. .·d~.(il!. trasse uma nova terra naquella' direcção~. ~ ~!
1•• •

' ,, DOS$0 patrlmonio Jiitera,ri'O: Se 'Dão .a, .)etra, •ahi éstâl'là;' ~"
1 • ' , ' J. 1' • ' l 1

. ,·. prltni~ivo 'espirit9 b'r:a sileiro, a alma !I'tide· e rqdimertt1ar.' · .


·S ahiu Cabral:de ·llisbôa, a 9 , de MarÇ'o de
' 1' 1'
'
1
dos nossos 1aborÍgenes, onde os seus conterraneos de h&j~ '~ · 1500, e no dia 2·2· de: .Âbtil avistou a Oeste uma
t~vez se possam rever, e sem_elle . não éomprrehenderãct ·~ ~psta desconhecida, culminando nÜm monte de
muita ·coisa que anda p()r ahi : será lição de humildade;
ás vezes de jubilo, sempre de siniceridade. .b astante altura. Era a costa do Brasil, entre as ~
E diverte, sendo util: não precisa de. mais. . ctuaes cidades de Oaravellas e Porto Seguro,
~ Estado da Bahia. Em attençâo á festa da
Paschoa deu-se o nome de Paschoal ao monte,
'
I

-1~-
. ·-
nome que ainda conserva. No dil immediato Deu elle á terra o nome de ilha de V cra-
:foram alguns tripulantes, em um batel, á terra, Cruz, pois ~lha se afigurava aos navegantes
os pr:irp.eiros Portug).lezes que pisaram solo bra,-. aquella terra sem animaes domesticados e com
sileiro. Chegaram á praia alguns indigena~, e rios de pequeno curso.' O nome -:- "Vera-Cruz"
os Portl1guezes, que iam no batel, tentaram en1 -- e "Santa-Cruz" - foi mais tarde substituido
vão fazer-se entender. Como o logar não fosse . por - Brasil - porque o' primei:o producto, : · ,
· 1 .•• • muito 'prop-rio par'a abrigar uma frota de doze. que d.o nosso p~iz:Je.v:aram par,a a.,Europa em . , ,
. , . , navios~ que precisava tomar·. provisões de. agua · ; ·.. v,;fl'..". \: _gr~ndes ·c.arregament,?s, foi t1ina . made:l:ra: .ve~.. ~>?:
1

1 · • {/ .• ·§
e de lenha·, resolveu ·Cabral no dia 24 de Abril .· · _'1 :~-.;;." ;~ : ~.. melha, muito procur~da .,p ara a tint:uraria' e
:r
'
procurar um lSom porto. Encontrou, a dez le- 1 . \ . :~ · • (·
' ..... j • .

que se chama páü.-brasil. . •


guas mais a~ Norte, uma enseada bem abri- · · · ·~ · · · No mesmo dia da posse, 1.º de Maio, fechou
gada, que_ainda hoje cons~rva o nome - Por- o escrivão Pero Vaz de Caminha uma longa
to-Seguro, - que lhe deu Cabral. carta ao rei, em que dava conta de tl1do o que
Alli demorou-se a frota até o dia 2 de Mai-0. tinha acontecido e o que haviam observado.
Os tripulantes cortarám arvores para lenha, Agradou a terra aos ~ortuguezes 1 embora não
· encheram os ·barris de agua e trocaram pre-· tivessem encontrado ouro nen1 pedras precio-
sentes· com os ·indigenas. Estes mostraram-se sas. Dizia P.~ro Vaz.no fim de sua carta: Nesta
muito ~pacificos, Yisita~am os navios e permit- , . . ilha "até agora não p_99.emos saber .que haja ' 1 • . ••

tir.am que ?s P~rtugu~Zes ,visitassem a su~ ·aF· ;; ,,,:~li .;., . , o uro nem prata, nem nen~um3. cousa dl'\ .metal,.. "~ l: :, .' ,; J~ i
.de1a. No dia J..º de<hfa10, quando Cabral to:tµou '''ti . \,\·,: . · : ·, ne1n de ferro, :µem lh.'o .vimos. Porém,~ ter.ra ,. •./:·:·:· · ·
posse "da ter:ra para o rei de Pertugal, ass~s~i- ,:~~. ~::~_ . . , . ,: em si é de muito.bons .a res, ·f~ios e .temp~~ados · .1 •·, ;;
ram muitos delles á missa solemne, que na- como os de Entre Douro e lVIinho (provincia ·
quella occasião foi celebrada. Em um mofÍ.'o do Norte de Portugal) . Aguas são muitas in-
vizinpo mandou Cabral levantar grande cru· . \~ findas. E em tal maneira é graciosa que, que-'
~e madeira, com as armas do rei Dom Mau11 rendo-a aproveitar, dar-se-á nell~ tudo por
em signal dá posse. ., .· · bem das aguas que ·tem".
~ J5-.
Esta carta, e mais outras informações so- da· ilha com~ ile "lndios", o que quer .d izer ha.:.
bre o descobrimento ·foram,, no .di~ 2 de Maio, bitantes da I~a, denopiinação erronea, mas
mandadas a Lisbôa por um dos navios da Ar- que se tem cons\rvado até hoje.
mada, emquanto os outros 'seguiam viagem ~ , os aborigene\ n:esnio não usaram de de~o-
minação commum a tod~s elles, o que era muito
1
para a India.. No Brasil ficaram dous degre- it . , .
natural pois pert . ciam a' povos bastante dif,. . , 1 ~~ 1, .
1
dados .<iue deviam apre11der a língua dos indi- ). ,· '·. , •
• . ·~· '.&i . ~
genas e s.e rvi.r de,interpre~es e guias a f1'.1t~~~s m,'· ~t~;~~~·· :·. •: ferentes ·entr~ .si e" H•ª~~va:rh muit~~ ,lin~as, al- .: ..,. ~J{'' V
l ' ' ' ' ' ' 1 l ).'

expe~i~ões~.. 11
'· • f, • ~·1 ;. ,,~:~;. :, ~
• ·! ~mas tão div~rsas .· entre · ~i, ~omo o sã~.o .por.; . 1
{
1
,.;

'.(Commemoramos, erroneamente, o desCp• · :l'l'_i ( ·";"' tug'uez e.o allemão, ó' µiglez é o russo, · : "q \;
brimento do ;Htl'asil no. dia 3 de Maio, que é ria ·i, _':~'.·: " ~ .~· ~ ·"· Ei~ como Pero Vaz Camiphtt, na··sua carta ' r •,",·
[greja Catholica o dia da festa da invenção da ao rei de Portugal, sobre o descobrimento do
Vera Cruz pel~ imperatriz Helena, em J eru-. Brasil, descreve os primeiro.s. encontros com os
salem.) • indigenas e as impressões, que delles tiveram ·
* os descobridores: ''E o capitão (Pedro Alva- ~
* * res Cabral). mandou ·110 batel em terra Nico-
Os Europeus acostumaram-se a appellidar Iáo C.oelbo para ve:r aquelle rio (per~o do
de ~':{ndios" os selyagens da America. Explica- '
~ '
... ,
.,
1 Monte Pa'Sohoal); e tanto que elle começou,·
. f '

-s e este ~ppellido pelo :engano ·d e.Christovão Co- 1 {i_~ r.< ·~ · · para lá de ir,, ~cud~1ta~ pela praia ·homens,
.1 .•

)1 •

t,;,,, f ·.. lombo' sôbre a situaÇ&;o da: terra qµe descob~ira · ~~~:Ft''.1~J: .. qua~do dous, . qti.~nd.ó:,: , t,rês,'.:, 'd e :·ttlaneira qu~
'"". ·"·""l"'"'·~'' ~'.~·~ " :noi' dia 12·:de ~u,-tu?r~, ~~ 14~·2. "Partir~ elle .: d~ ·~,: , ·.~f· ·~'i ;,~. '· qua~do 'o' bafel .'ch,egoµ :. ~'.b,Ó<ia~ dói Fio~ . eram:~'il.Ii~
~. · ·, '\ ... J;respanha com o intuito de procurar '. um ca- . ' · dezóito ou ~inte homens ..J?~rdo.s t9dos ·n(1s• .Tra- ·
.'.\ · ririnho á India por mar, em direcção Oeste ; e ziam arco,s nas mãos e suas settas. 'Vinham to-
quando naquelle dia aportava â. pequen~ ilha 17-. dos rijos para o batel, e Nicoláo Coelho lhes fez
de Guanahani, estava convencido de têr ch8:-' · -~ signal qu·e puzessem os arcos, e elles os puze-
gado a uma das ilhas . da Asia. Por este motivo \
r ·raro. Alli nem pode delles haver fala nem en-
falou Colombo, ·em suas cartas, dos habitantes tendimento, que apr~veitasse, pelo mar que-

- lfl - /-
I
- ,, - • . '

brar na cost~ Sómente deu-lhe~um bar1·ete roque de enia.dr~z. E em tal maneira o trazem
vermelho e uma carapuça de li ho~ que levava alli encaixado· que lhes nem paixam ( incom-
na cabeça, e um soinbreiro pr o. E um dellcs modami), n em 'l~es
" torva a fala, nem comer,
lhe deu um sombreiro de p en as de aves cürn- nem beber. Os ~.abellos seus são corredios, e
pridas com uma .copezinha · quena de pennas · andavam tosquia~os de tosquia mais alta ~e
vermelhas e pardas como d, ·papagaio. E . o~- ~ ·· que sobre p ente dt} bôa gr~ndura, e raspados
tro lhe 'deu um : ;ramal gJÍande de continhas àt~ por ciyia das:·or~lhas"~ . '·
•!t . $ * ~:..
bran,ca~ meu~~s, que querem parecer de alj~
a 1

. . . A bordo mostraram-lhes óbjectos ue ouro


veira". ' . e de prat a, e elles ·fizeram·,~ignal de que conhe-
Isto foi no flià '23 de Abril de 1500. No d.i a . . ; y;" , . · ciam taes rnetaes. O mesmo aconteceu com um.
seguinte, quando a esquadra de Cabral já es- · . ·t. \.~~." \ ~ 'papagaio. Quando viram. um carneiro, que ha-
tava ancorada em frente ao Port o Seguro, fo- , ~ ~:: ~
>;.! ~-'-
via a bordo, deram signal de não conhecer este
ram trazidos a bordo da náu capitanea dous ' ..., animal, e uma gallinha até lhes causou medo. '
mancebos índios, que alguns Portuguezes ti- Naturalmente, pois em toda a America não
nham sorprehendido pescando. Descreve-os existiam na época do descobrimento nem ca-
minuciosamente o bom de Vaz Caminha: "A - vallos e vaccas, nem ovelhas e cabras, nem gal-
f eição dellés é serem pardos, maneira de ~ver- linhas e gansos. E os Indios do Brasil não ti-
melhados, de bons ·rostros e bons narizes· bem .
..... • i:..\
nham domesticado nenhum dos animaes do
"" • ' ' ~

feitos . .A·n dam :nús, sem nenhuma·· cobertura:~ ~<: paiz, que a isto. se·:prest~vam, como por ·e~em-. ···
j

n e:rp estimam ·nenpuma cousa eobrl.r. · Tr.a.zianii.~ · . plo ·o. p orco do matto, 'º m~rreco,
1
a
gallinhá ,
·ambos os beiço~- de baixo furac;los, e mettidos- r
1

• fl 1
,mutum ou a pomba jurití. x Apenas··papagaios
'

nelles ossos de oss9 branco, de compridão de mansos havia, para divertimento.


um,a mão-travessa e de grossura de um fuso de ~ · · E xplica-se este facto pelo modo de vida dos
algodão e agudo na ponta como furador. Met- ndios brasileiros : eram elles nomadas, isto é,
tem-nos pela parte de dentro do beiço; e o qtie n- o tinham domicilio certo, mas vagavam pelas
!hes fica entre o beiço e os dentes, é feito como mattas e pelos campos, á procura de caça e de
-19 -
~_, pesca;

·a.cata de .trutas e r~izes ~lvestres. ;
. '• . '
.AJ,..
r

' dimento en~e os diversos -grupos ·de Indios e


g~~as tribus, n~o todas, cultiva,va~ :tai:ib.e m o,. entre, Indios e, Europeus: dahi"a sua .denom;i-
milho e a ·mandioca, mas nem p'or isso ficavam . nação de "lingua ger:al". •
no log~r das roças por mais tejnpo .do que o ne~ .1 · ~··+- . · .Os inimigos dos Tupís ·foram por estes de•·
cei:;~ario para~ colh~i~a. E s;as tribus er~m a~ :... ; }!( signados pelo nome de Tapuyas~ .? que quer;, ~a
mais adeantadas- ·ao Brasil.fAo numero dell~s ~ri
l
.• língua tupí, dizer ' ''inimigos'?:·Os Tapuyas per-
pertenciam
. . . . tambem
. . ·os Indios,
r que Cabral na. tenciam, na sua maiori~, a,0 grupo.d9s Gés. O.s
·r egião•do Porto-Seguro encontrou. , •. mais conhecidos e mais temidos delles éi_~am os
Botocudos ou AimoréH, <:hljo~r restos' ainda· hoje· ·
* vivem na região do Rio Doce ('i1os Estados do ·
. '
* * ·Espírito Santo e das :Minas 'Ge'raes)': E os 'éo-
. lonos de Santa Cathaxina ~ f~:r;an,á' tinham, ~té,
)
• 1

' . ~ "\ i·'"


· Dividei;U~se os In~os do Brasil em quatro
' 1 ' ,. • '

",' '' . ' ha bem pouco tempo, que lutar com os Bugres
gr,~ndes grupo~ de povos, .e os 'visit~do~ pof . ,. ~ 1*~ ou Schoklengs e com os ;Kaingangs ou Kamés,
Cabral eram tr1bus do. grupo dos Tup1s. 'E stes ·, ) ,~ · que parecem ser tambem tribus Gés.
r:·" 1 ·i' Tupís .nã~. o~cupavam sóme~te grande.:parte ~.do ~.)~; ~ç:~· , Não existiam entre ,'os " Indios do Brasil
~: . · Brasil oriental, mas um ramo delles, que se cha- ~ ~ .,. ' :· ; . , grandes estados· ou reinos, màs. sómente p~qu.~.
, t am
' b ei;n reg1oes,
. - ·que h OJ'e
. per
' . ''.. ·:·.~· .,..' .t'
"" fl·k
ma.va Gu~ran1s, .
ten~em ás republicas nossas vizinhas~ ao :.Uru~ .
· ..
. .
·
~ ' · -:w··
..·wi"r.·'
11
nos agrupamentos de ,p'ou'c as faillilia:s, ,que~ eram
dirigidas· por màióres (mqrubix;al:>al?). , Q-er~l- .
·mente const~uiam cabanas; de palmitos e ta-
j ' •

guay, ·á ·A rgentina é ào Paraguay. 'P or serem·


trib~~ tupís os que primeiro rec.eberam a yi~jta .
~ ~ 1 '
qu,~ra, havel).do, poréqi,, tribu:?,,que :não Ufi)avam
. ' dos mi'ssionarios J esuitas, tornou-se a língua
' ' • t

·de taes abrigos. Alguns dormiam em rêdes, ou-


'h .dqs,. m~s~os ~el.h~r conh~ci~a . . Isto j.~nto· com·l" '11' ~· ,~~'.· '· tros sdbre esteiras, outr~os aihda/ em
~uma ca-'
a v~sta d1str1bu1çao dos Tup1s por toda a parte. · ada de folhas no chão. Uns eram· excellentes
' !Tiste da :Anierie~i d~ Sul fez com que a iinguiá 1 ,~ • ·~
• 1 , '.. \

1 • 1 li j ~ o

nadadores e canoeiros, outros não entravam na


iupí ou guaraní servisse· como meio üe' enten- ,
,f 1 ' l "" ' '
agua . . Ha~ia tribus,.
. que eram artistas'
e:rn teci;.
~· 'i,·~
r ' ' \

,; ' •. ' ' ( '


'· -~ - -
• ~ .
dos, outras em olaria, terceiras n;. fabricação )Conhecem: ~mo por · exemplo até ha pouco
de rêdes. Faziam commercio destes productos . ,. tempo os Parecís do Matto Grosso, eujos ma-
)com os seus vizirihos menos adeantados. Não chados, pontas de setta, etc., eram feitos de
tinham templos nem deuses. Todos ti11hám ~pedra.
muito medo das almas dos defuntos, que os Antigamente os civilizados perseguiam aos
fe:itiGeiros ("pagés") conjuravam. . àborigenes, mataram-:q.os oü ·conduziram-rios
eómó escravos para··as suas.·f {l.ze:hdas.e cidades. ,
*'
*
*
'. ·Os Indios oppuzerro'µl tesistencfa,. aggr~dir~m,,
até, por st1~ vez( aos Po:rtll.guezes, e h<:>uve mrii-
\
Parte dos Itidios da costa do Brasil succum- tas atrocidades de parte a parte~ ~s ordens re-
biu nas lutas com os Portuguezes ou pereceu ligiosas, especialmente os J esuitas e os Qarme-
na escravidão. Grande parte, entretanto, des- lÍtas, cuidaram sempre·,da defesa e da instruc-
appareceu de outro modo: pelo· cruzamento ção dos Indios, sendo em tão louvavel empreza
com os brancos. Os antigos mamelucos de São auxiliados pelos reis de Portugal, mas obstados
Paulo e os cabo~los, ,c aipiras, tabàréos, màtutos pelos colonos. Quando o Brasil se tornou inde-
do nosso interior provêm daq11elle casamento pendente, a Constituição reconheceu tambem
de Portµguezes com Indias. São estes mestiços a liberdade e os dire1tos dos primitivos donos
l '

os homens que mais .têm contribuído para 0 do paiz: O imperador D: Ped:r;o II, o Magnani- ·
desbravament<;> .d o sert~o. ·, . ,. , , "'' . , mo, foi tão ·grande alnigo' e. protector dos .~n~ ..
, ' No vast.o J.11:tetío1.f·do 'nossó :p1aiz ainda: exis- . · ?í~ . . ·0'.'.." .' . , dios que apren·d eu · não·.:~9m~nte a '''.1ingua 1 ge--
·:tem centenas Ç.e ·milhares-"de Indios, esp~ci~I- ' ,.:."' 1 ~.: .··,::: : ::· :~·
:". • ral", mas ainda outras linguas indigenas, 'de
mente nos Estados ·do Norte e Oeste: ·Pará, · ·· .. modo que, quando ,deputações de ·rndios vi-
Amazonas, Territorio do Acre~ Goyaz e }1atto ),P · . nham â Capital, poude conversar com estes
Grosso. Ha tribus que vivem tão afastadas do \~ ~rasileiros no idioma delles: ·
:Contacto com· os out:r:os habitantes do paíz que · Actualmente possuimos um , Serviço Fede-
nem o uso de instrumentos e armas de ferro ) ral de Prote.cção aos Indios, que já relevan-
.. -83-
tes serviços tem prestado, pacifi~ndo muitas Evitéi o.mais possível alterar. o feitio in-
tribus ~é então hostis aos civilizados, e ini- genuo destas lendas, afim de lhes conservar o
ciando a transformação dos nomadas em uteis
'\ "-Oaracter e a simplicidade artistica, embor~_a .
membros da communidade brasileira. Deve- custo da elegancia de dicção:
mos quasi tudo que' o '" Governo F~qeral tem .
feito pelos aborig~nes, . á abnegação, cora~e.m ~
e habilidade d•e officiaes
'
do nosso exercito, 'á'.·, ; '

testa Ílelle8 o constructor·'.da .grandiosa linha '


1

telegraphica do Matt.o Q-rosso ao Amazonas, "


! -~ '

' 1
.
'
' ,, ' '
.. ,

Dr. Clemente Br~ndenbu.rger. ;.


general Candlâb Mariano da Silva Rondon. ..
' Para \que a nossa mocidade chegl,le a conhe-
cer e comprehender um pouco a raça que é mais 1.

legitimamente brasileira do ·q11e todas as outras'


componentes da nossa nacionalidade, coordenei
este livrinho. As lendas nelle reunidas foram
colligidas pelos seguintes Brasileiros : general
C9uto de Magalh~es., antig~ presidente das pro- ·.1 ·.
' ' l

vinéias de Matto Gros.~o, Ç}oyaz e Pará; . J;"oãô :1 ·J


,:J3·~rbbsa ~odrigues~ ' erOi~e~t~ botanic~, f ª?~~:J 'i ~:
· cido no cargo ·d e :dire~~t.or ·do ·Jardim Botanieo ·· 1 .~~ ·r
d() Rio de J aneíro ; .Sylvio ·Roméro, ' illustre •. ~ f, ,f

poêta, critico e histo.riado~; general Candido j'


Rondon, já menciqnado; J o&o Capistrano d,~. NOTA: - O autor , tem em preparação uma edição
...çompleta de todas as lençlas dos, nossos indigenas, reu-
Abreu, nosso mais profundo historiador cOÍl.- nindo o maternal .colligido por brasileiros com o de. ethno·
temporaneo. graphos estrangeiros, especialmente allemães e norte-ame-
ri canos.
•• -625 -
. . • Chamou-O marido os tres· famulos; mandoll-
os a moça á casa de seu pai, para trazerem um
' .... • • f
caroço da palmeira tucumán.
COMO A NOITE APPARECEU Foram os criados, chegaram em casa da
.. Cobra Grande, esta lhes entregou um côco de
'' tucumán, muito bem fechado, e disse-lhes :
Notprincipio não havia noite-dia sóme~~e ~ ·.-.·.i-.. . ~.· .. i " _ Aqui está; leva\-o~ Eia! não ·o ~braei, se~ão
havia em todo· tempo. A noite estava adorme- ·· .~ '~'f_., todas as cousas se perderão~
cida no. fundo \las aguas. Não havia animaes~ . Tornando os · f ámulos, oltviram barulho
mas todas as cousas falavam. dentro do côco de tucumán, a~sim: "tem, tem,
A filha da Cobra Grande, contam, casara- tem ... xi ... ". Era ·o barulho dos grillos e dos
se com um moço.
sapinhos que cantam de noite.
Este moço tinha tres criados fieis. Um dia,
Quando já estavam longe, um dos criados
chamou elle os tres famulos e disse-lhes:
disse aos companheiros: - Vamos ver que
- Ide passear, porque nós agora vamos
dormir. barulho será este~
· Os criados foram-se, e então elle chamou : ~-. ·~1 :ri • ..
Respondeu o pil9to: ~ Não ; do cpntrario ,
Stla muher, para 'se · irem deitar. A filha · da '.'\ "<~ r 7.~ ·pe,r der-nos-hemos. ·\ra~os embora, ( e~.{t, rema! '·; .'. ~7·;; . ,_> :~ ....z:}·
Cobra ~rand~. respondeu-lhe: . - A1nda rlãb ~ .' .1 .. ·~t§ 1
Foram e C<?nt~riatam a ouvir 'o mesn10 ' .: ~:" >.·J:~ . . )..;:~f~'· . ~ \i J
"t .. .·
nol. e . . , . . . , . .~,'" .~r' 'l.~
~
' barulho dentro do côco ,d e tueum,án, sem saber ·. ·.· .'. •\ ·~ ; .
1·. .. . l}
'!'.l. . ..,,
• r ,• " '\ ,J \ .._• ; 1 ,.

Disse-lhe o marido: - Não ha noite; só-


mente ha dia. .
A moça respondeu: - Meu pa~ tem noite~ .1
1
• ·v que barulho era. "·
Quando já estavam muito longe, ajunta-
. ram-se no meio çla cahôa, accenderam fogo. '
Se queres dormir, manda lá buscá-la, pelo derreteram o breu que fechava o côco e o abri-
grande rio.
ram. De repente, tudo escureceu. . ,
.
'
. •
,.
Disse então o piloto: ~ Nós ~tamos per- Enrolou 9.>utro fio, sacudio cinza em cima
didos, e a moça, em sua casa, já sabe que nós ; delle e disse: - Tu serás inambú, para cantar
abrimos o côco de tucumán ! nos diversos tempos da noite, e de madrugada.
Seguiram, porém, viagem. De então para cá todos os passaros cantá-
. A moça, em sua casa, disse então a seu ma- . rªm em suas hor!1~' e de madrugada 'para ale~
rido: _:.._ Elles soltaram a n~ite; vamos e~perar 1
1 ' ' •
gr~r o principio d~ dia. . . , · ... . ~. . .1 • •} , ; .-p..;·

'
a .manhã.' '
... , Q uando os tres cFiados ·.c hegaram, ·disse- .. .· ..:1
~
1 '· ·
~ 'J-
• '\
1q . .,('..,
• .:~
#>.
~ , 1 1 • .

lhes ; moço: - Fost~s infiéís~ abriste~" o · cá• 1·,, ~ ·,·:~1 · ~,(: ../~
1 ,, • · • ' !• ,. ) ,

· E.n tão todas as cousas que estavam .espa- ·~ · , : 1 '1

' roço de tucui:ru%n, Soltit&tes, a' noite e' todas às • '


. ti ~~ ,,1.

lhadas pelo bo~que se transformaram em ani~ · ~ ·!_".', ···~ 1 1


''Í \

maes e em passaros. . . . cousas· se perde~am; e vós, tambem, ' que vos.


As cousas que estavam espalhadas pelo rio mudastes em macacos, andareis para ·todo

se transformaram em patos e em peixes. Do o sempre pelos galhos dos páus.
I
paneiro gerou-se a onça. O pescador e sua ca- Só então repararam que assitµ era.
nôa se t~ansformaram em pato: de sua càbeça (A boca preta, e a risca amarella que ~lles
nasceram a cabeça e bico do pato; da canôa o têm no braço, dizem ·que é ainda o signal do
corpo do pato; dos remos as p~rnas do pato. breu que fechava o caroço de ·tucumán; e es~ ·
A filha da Cobra Grande, quando viu a es:. correu sobre elles, quando o derreteram.)
.
'trella d'álva, 'disse a .s eu marido: - A madru- · .· I', ·.-
ga.d~ '.~r'~m ·rompendo~ Vou .s eparar · o ~ia ' aa. ·l ; ••·

nol•te· . . . ' : ' ' r . ,. ' '' "i'''


' ' . ' ' l·~
1
f ' ( ' \, • • .. 4.,
• ' • • 1 .. ' ~

'E nrolou então um fi'o' e disse-lhe: - · Til; .,· ~", ·..:.~{,


serás cujubi~. ·~ez assim o cujubim: pin~Ôu a ~Yt-'f!:,
cabeça do cuJu·b1m de branco, com tabat1nga; r.·fr '·
'
pintou-lhe as pernas de vermelho com urucú, e
' .
disse-lhe · en~ão : ·--.:... Cantarás . para todo o sem-
pre, quándo a ,manhã vie~ raiando.
••
'
A ORIGEM DOS HOMENS
,
, . '

. Enôrê o Ente'Supremo, appareceu e~ Ãtiu


' ' '

,(Pon'We de Pedr~). Cortou um páu; escul~1u


' . '

.
nelle uma figura humana e o fincot1 no solo. , ·' · i .\.'.
Depoi~ cortou•uma varinha e deu pancadas aó
páu; este virou homem. Procedeu do mesmo
. .
. '

Uma vez ouviu-&e ruido por cima e por.


modo com outro pedaço de madeira; surgiu a baixo da terra. Dizem que o sol e a lua, como
mulher. Este primeiro casal teve dous filhos, agouro, ficaram vermelhos, azues e amarellos.
,.. Zalúiê e Kamáikôrê. A caça misturou-se com a gente, sem ter medo,

Enôrê chamou Zalúiê e Kamáikôrê e per- · · isto é, as onças e todos os animaes ferozes .
guntou-lhes o que desejavam, na partilha ~ue . Um mez depois ouviu-se um estrondo '
ia realizar dos bens da terra. Zalúiê não qui.z maior . Viralij. então quê as trevas iam da terra
espingarda, nem boi, .nem éavallo; a primeira
ao céu, com trovoada e grande chuva,.· esmi~a:- · ..•.
por ser pes~da, os·ult~ps ·porque sujam .o tei;- ,
lhando o dia e a terra~ Perdera~-se uns, outros. .,·
rei.r o das ca.sas; es.colP.eu o arco, a .flecha ~. as . morreram, sem 'ver~ porque; contam, gtie;estava .' .',,. · ';~',, , ~; ~·· ~H· ~·
outras cousas pareeís (1). "' · . t11do mt1ito feio. As aguas então cresceram ' J ~. ·~
Kamáikôrê ficÓu possuidor dos outros dÔ- .· ·· . ; · 1

muito, e dizem que submergiram a terra, fi-


e
nativos de Enôrê, foi mais .feliz; dominou a /.
. cando só de f óra os galhos das grandes ar-
terra e seus .filhos prosperaram. vores. Para ahi subiu o povo, mas morreu de
.. fome e de frio, pois choveu todo o tempo da es-
,
'' (1) Os Pareeis sãó uma grande tribu do Metto Grosso. curidão.
. .
J
'

Escapar am somente 1Jaçú ª•


sua mulher

Sofará. Quando desceram, não. acharam dos
outros nem os cadaveres, nem os ossos. •

Depois disso, os Indios imaginaram :---Será•
bom, talvez, fazer as nossas cp,sas ~obre o rio, . A ORIGEM DO SETE-ESTRELLO i

para quando as. aguas erescerem, nós SU:birmos •' ~

•. .
• • • ...
com.o rio. . . ' ~ ,.
1 ",1 • l
.. . ' .
.P~r isso, os. Pa:çnarís (1.) moram ainda .h.qj.e 1~ ; :
l

. 1
Um casal tinha sete ·: filhos~ os quaes· cho- ·
.
sobre,as·agtlas ·do rio. râvam o dia inteiro :
• • •
- Oh 1meu pai, eu quero comer t Oh! minha ·
mãi, eu quero comer f
1 •

- Ah! meus filhos, eu lhes dou de comer


1 •
e nunca chega ...
. Dizem que os sete choramigaram, pelo que
~

a mãi ralhou com elles:


V ocês são gulosos t
I • '
"· - Então, minha mãi, não nos quer qàr ,de
·c·omer Q~ ·, "' .1•• ,
' ..
. j
, 1 ' ( ., ~ '
1,
1
,
!~

" . PtJXou a mãi, a·o.rµoqu'e;rl:t, .~ :qll.~ixo ·de~· uma ·.


anta, e lhes deu: . · ' . ·. ' . · . . : ;· .·.M.,··"''
• •

·- Aqui e~tá P,ara vocês comerem.


Isto, minha mãi,. não ch.e ga para nós. ··
Então o filho mais velho pegou dos ;irmãos
(1) lndios do rio Purús,
menores, e deu a coiner a cada um delles um
as aguas dos rios e lagos. pedaço. • •
Aqui está, meus irmãos ; &mbora a co- (".

mida não chegue para nós.


·Quando acabaram de comer, disse o irn1ão
mais velho : LENDA DO MILHO
• 1
- Bem, meus irmãosinhos, vamos já para ( , ,-\

o céu, para serlnos estrellas. ,,,


Pegaram-se, então, por debaixo dos braço~,,~,· . ~.i. , Um grande · chefe E?recí, dos primeiros
. e daJsaram,. cantando. E dansando- f oralll su... , '. tempos da tribu, Ainotar ê, sentindo .que a
bindo, subindo, e se for am indo embora. ·. · ~ -~ morte se appro:ximava, ·chamou seu filho Ka-
. A mãi olht>u para elles e gritou : l eitôê e ordenou-lhe que o enterrasse n o mei'o
- Ah ! meus fiÍhos 1 Para onde vão vocês' . da roça, assim que terminassem os seus dias.
Aqui está comida para vocês! A visou, porém, que; tres dias depois da in-
l' - E' inutil, minha mãi ! Deixe ficar ! Nós humação, brotaria de sua cova uma planta qtte,
vamos indo P.a ra o céu, para sermos estrellas. algum tempo depois, rebentaria em sementes.
E sempre dansando, foram dando voltas, Disse-lhe que não a· comesse; guardasse-a
como faz o urubú, e foram sumindo, sumindo, para a r eplanta, e ganharia a tribu tlm recurso
até chegar ao céu. E lá viraram o Sete-Est~ello. .
,. precioso.
Assim se fez ; e appareceu o milho entre

Lenda. dos Nossos I ndios


-4i5
•• ie
Depois muito tempo gritou; Kôkôtêrô
voltou-se, rapidamente. Viu, no logar em que
enterrára a filha, um arbusto mui alto, q}le
Jogo se tornou rasteiro assim que se approxi-
LENDA DA MANDIOCA D)OU. Tratou da sepultura. Limpou o sólo. A
' plantinba foi.:.se n10stran'do cada vez mais vi-·
~1 1 'j ' ; '~ 1 • •
•· j , ,·<i·, '~. · 9º~ª· 'Mais tardll'. KÔkôtêtô _arra~cou do sólo a'1
' Zalia:tnáre e st1a'mulher, 'Kô}{ôtêrô,:tiveram
~ . . '
. .,.·íf ~
1 " .··, .' ;raiz da planta:. era . a mandioca.
um
'

um casal de filhos:

inenin<;), Zôkôôiê, e ·uma: 'l):· ~.
1 ' (

menina~ Atiôl~. O pai amava o filho e despre.-


za:va a filha. Se ella o chamava, elle lhe res-
pondia por meio de assobios; nunca lhe dirigia
a palavra.
Desgostosa, Atiôlô pedia á sua mãi ql1e a .
enterrasse viva, visto como assim seria t1til aos
seus. Depois de longa resistencia ao estranho
· · deseijo, Kôkôtêrô acabou cedendo aos rogos 'da
filha, e.a enterrou no meio do cerrado. Porém, ' .i~Jl
.ali . n~o pôd~ ella resistir,, por .c~usa do calor/ :: ,: ·~·
e i;Úgou que a levasse pªra·. o ·~~m.po 'opd~, ~am.: : , · ;;\.
1
.

· bem não se sentiu. b.em>' Mais um'a ·vez supp1'~ ', . .~ .! ~:., ·; "· .~ ,
r \i , ' t

..cou a ·K ôkôtêrô que a mudasse para outra c~va, ~.~ .j ' ,

·.esta ultima aberta na mata; ahi sentiu-se ·á.. t '


vontade~ Pediu,. então, ~ sua mãi que se ret·_~
rasse, recommendand~lhe não volvesse os
olhos, quando ella gritasse.

::<7
.._ I

AHANGA E O CAÇADOR
O CORUPIRA E O CAÇADOR

'

Na~ im·r nediações


'

·aa. hoje cidade de . Sa11ta~~·;


'

rém, um Indio Tupinambá · p er seguia uma. ·


•'

·, ~·
~. 1,·1
'
' '
P erdeu-se no matto un1 caçador, e Ghegando
. .
. '

ao anoitecer debâixo de uma grande arvore


veada seguida tle um .f ilhinho, que ainda ip.am- .
deitou-se e adormeceu. • '
mava. D epois de havê-la ferido, conseguindo o
Indio agarrai" o f ilho d~ veada, escondeu-se p or De r epente1ouviu gritar . , Foi o Corupira.
detraz de uma arvore, e f ê-lo gritar. Attrahida que bateu nas sapopeinas das arvores e gritou.
p elos gritos de agonia do filhinho, chegou-se a ~epois ~uviu gritar ainda mais perto: chegou
,. Junto d elle o Corupira, a sseil1tou-se e começou
, veada a poucos passos de distancia do Indio .
a conversar.
Flechou-a então: ella cahiu.
Quando o I ndio, satisfeito, foi apanhar sua · ' - Com o estás, meu neto ~
presa, .reconh~ceu que havia , sido victima de - S empre bom1 met1 avô, e você, como .
passa~ · ..
uma illusão por part.e do Ati.anga. A veada, a )

.· qµeni elle havi~ p erseguido., não era uma ·v~a~ :· .. - S empre bem.
- A h! m eu àvô ! Eu -p~rdi-me de cas~ . .
'

da, mas sua proprià ·n1ãi, que ja~ia morta ao .· ~,i'~~\


chão, varada com a flecha e toda dilacerada · .·.· . - E' p ossível, ~e11 neto ~ Tua casa não 6 ·
pelos espinhos. • . . ,//.. onge. Quando vieste de casa~
- Hontem, meu avô.
1
Continuaram a conver sar. <'
'
- Ah! me11 neto! Eu est ou com fome.

'
-19-
Eu tambem tenho fome. Nada comi - E' bem ·feito que morresse, disse o ca-
"'
ainda hoje. çador, e foi-se embora.
- Meu neto, tl1 me dás a tua mão para eu · Passado um anno, lembrou-se do Corupira.
comer~ - Vou agora vêr o Corupii"a que inorreu,

- Aqui está, meu avô. para lhe tirar os dentes verdes para remedio;
Cortou a inão de llID macaco, que tinha tr~-:­ já deve estar decom1)osto; .vo~ t~rar-ll1e os
zidq da caça, e deu-lh'a. O (J,~rupira pegou, ~~~· " . ossos p~ra bico de f rechas. , ,,
della é comeu. . .;i~J· ~.. · Chegando ao logar, ·achou os qssos jà b:ran-·
' . ' ' ' ~!;- ~·
- Meu neto, a t11a nlão é gostosa, eu que~o ·1 ". ~· , cos e foi tira-los coin o· rnachaÇlo qtie 'Ievo11.
comei• a ot1tra~> Quando bateu nos dentes, o OJrupir.a resus-
- Aqui está, meu avô. E deu-lhe a outra, citou e assentou-se. a homem assustou-se.
do macaco. - Oh! meu neto 1 Estou com sêde, quero
- Ah! meu neto! E' bem gostosa a tua agua.
n1ão. Tu me dás tambem teu pé para eu comer~ Trouxe-lhe agua o caçador.
O Corupira comeu os pés do macaco, e de- - Agora vamos, met1 neto .. Que queres que
pois pediu tambem o coração ao caçad9r. Este te dê'
tiro11 logo o coração do macaco, e de~-lh 'o, di- - Não sei.
zendo: '
- Dou-te uma frecha i)ara tu matares caça.
.,., 1 1., ,.,. 1 r· .. , , , - Aqui ·está o meu coração, me11 avô! . . Foram para o mat:to, e ahi deu ·o 9orupi:râ
, ' ~ ·., . .Antes que o Coru:Pi!a lhe pedi~Se ~ ' out~a a frecha ao oaçador. ,, ~
' cousa, disse o caçador: ' . - Agora, mel1 neto, eu ' vou me embora e te
1 ' ..,.

- Agora ~u tambem. quero o teu coração. "~ ..... .:·. deixo. Quando precisares de mim, já sabes
'· .- E' possível, meu neto~ Então dá-me a ,Y · onde estou. Quando quizéres vem ter comigo.
tua faca. ., í/ Desta frecha só tu sabes o geito. Não a leves
Tomou immediatamente a faca, feriu-Se, p1.ra casa, não contés o segredo a ninguem, nem .'
cahi11 e morreu . á tua mulher. Só tu sabes caçar com ella. Esta
...
,
.,

-48- -=- 41 -

:frecha é l1ma cobra suruct1cú; para matar a ~ De manhã lá foram, tiraram a frecha do
caça, não precisa de arco, basta joga-la. Bem, galho e quizeram. logo experimentá-la num
.
adeus! passaro que voava. -Mas a frecha volto11, fre-
- Adeus, meu avô. Agora, quando eu vier cbando um delles, que cahiu morto. O outro
passear vireí ter comtigo. correu para a aldêa e contou : ...
Daquelle dia.em dear1te o caçador teve sem- Morreu meu companheiro.
pre muita sorte. Quand-0 -0s outros moços vol'":· De que·' morreu~ , /
tavamcá casa com as mãos vasias, vinha elle . ''-' ]llordido peJ.a cobra. •
carregado de caça. Ninguem sabia como elle Foram-no busçar' e trouxeram o cadaver.
/
caçava. E diziàm: · Quando o dono da fre~ha foi buscá-la para '
- Como é isso 6? Nós vamos para o matto . , -
ir a caça, nao a ach9u mais; foi ella ter com
caçar, e nada matamos. Elle, porém, vae e de- o Corupira, seu dono, porque os outros a
pressa volta com muita caça, quando menos se tinham achado.
espera. \
Outros disseram:
- Que será então~ V amos mandar dous
i11eninos a vigiá-lo~ 1~ 1 '

Os meninos puz~ra~-se logo a vigiar. Quan..: '


do elle foi para Q niatto, .foram a.traz e esconde-
. ram-se. Viram-110 então tirar a sua frecha do
galho de um~ ·a rvore e atirá-la contra um pas- . ~· ~
1

saro que voava. O passaro cabiu morto ao chã(), ,, / 1· ~ ·


com a f~echa ao pé. J · 1
- J a sabemos agora, como elle mata caça
disseram os meninos. Amanhã voltaremos par~
experimentar a sua f recba,.
• •
- .f3 -

- Agora eu quero dormir. Traze o filho


para dormir commigo.
O Corupira deit9u-se logo na r êde. Trouxe
a mulher o filho e lh'o deu. Quando dormiu,
O CORUPIRA E A MULHER olholl\ para ell~, e, reparando bem, disse:
- \Est.e nã.o é meu m. arido \ .. , Este n.ão
meu m:àrido'. ·:. ,Este. é o Corupira.
Âr r'ÜIDOU 'logo as suas cousas nllID cêsto Ótl
Indo um dia l1n1 11omen1 casado caçar., ~rr- ·" · .
, samburá·; tirou o filho e botou um pilão sobl'e
· controu o Coro.pira. Contam que o Corupira
-0 peito do Corupira, em logar• do filho. P .oz
111atou-o e tirou-lhe o f igado. D epois vestiu a ·
o samburá com as s~as cousas ás costas, car-
calça e a camisa do morto e foi t er á casa delle;
r egou o filho numa tipoia ao p eitq e foi-se en1-
- Velha! Velha!. . . onde estás~ chamou o
' bora.
Corupira a mulher do homem .
Pou co depois acordou o Corupira. Levan-
- Estou aqui. ' tou-se, sahiu par~ fóra e disse:
Entrou o Co1b pira em casa ; e como a mu- - Ah! . . . -Aquella mulher enganou-.m e. E
lher não olhasse para elle, pensou ser seu ma- procurou-a, gritando~
rido. - Velha! Velha! Onde estás~ ~
·- T<?me lá. : . Eu trouxe carne gostosa. : Quando. a clulher viu o Corupira vir-lh~ aq
.\ '.- á cpzinhar para mini.
1 '
. , '
'- .
1
1 encalço, .s ubiú para uni galho alto dó ma~bui-
1
. E .d eu-lhe o fígado ·do marido . Ella assou.:o · zeiro, e lá ficou bem cala.d a. ' "

logo, e, ~epois de buscar a farinha, assent~u,se .: 'r , , O Corupira. não viu a m11lher e voltou . .
com o filho; assentando-se tambem na esteira 1 ./ , .,. Vendo-o voltar , ella desceu, correu e entrou no
disse o Cor11pira: (
;1 · atto. Mas o Corupira tornou a procurá-la, ~
- Vamos comer. . cl1amando-a:
Comeram Juntos. Depois, disse o Corupira: V el!ia ! Velha ! Onde estás°? · ~
'
- 4'1: -
..
Correu então para um grosso tronco de
vore, que no alto tinha um grande buraco, e
delle saltou o sapo Ounauarú.
- Ah! Ounauarú, eu quero que m e l,iyres
do Oorupira. O CORUPIRA E O POBRE
' . Dizem que o S?-Pº fez da resina do se corpo
uma corda, e por ella subiu a mulher para o • • •' ") t ;<"\ 1, '

~' ..\~~ ~
1
1 ! ' ' • • ' .'•. 11/
.. buracÓ da arvor_e. Chegou,t ambem o Chrupira, - · .Nã se sabe como, passavam um liomem e . ·.··~ , '.'..'»;1 ".
chamando:
- Velha r \relha !' Onde estás~
Disse o Ounauarú:
.
uma mhlher muito pobres. Quando o homem · "
ia caçar de dia, nada achava para matar, tao -·
1

: • " ·

pouco de noite.
- Aqui está ella. / Na · caçada de uma noite ouviu barulho no
A mulher assustou-se e p ediu ao sapo para matto, e não sabendo o que era, escut ou e per~
i1ão deixar subir o Oorupira. guntou:
- Não tenhas medo. Eu que1'0 matá-lo. - Que é isto~
Dizem que o Canauarú esfregou a sua re- D e r epente, appar eceu o Corupira. Tinha
sina no tronco da arvore. Logo que o Corupira cabellos compridos, os pés volt~dos para traz e
'
se encostou á arvore, ficou grudado pelo pello, um cacete na mão.
é ahi m9rreu. - Quem .és t u Pft~ª caçar de noite: ' ~ Q1J:e .
Então desceu a mulher com o filho e correu :fazes pnr aqu~ a esta horà ·~ E's cor~joso·· par.a
para casa. andar no m et1 :Qlatto...
E levantou o cacete para o ·p obre.
- Estou procurando caça para mim., Sou
m homem pobre e casado; por isso caço .
'
Quando não acho o que matar de dia, caço de
noite, para comer com minha mulher.

- 4&-- -.47 ·-

- :Nieu companheiro, posso ajudar-te. Dar ar, onde o esperava, .o pobre encontrou o Co-
te-ei tudo que ql1izeres. Tens ahi fumo~ 1 upira, que lhe disse logo:
1 - ~1:el1 cunhado, agor:;t acaba-se o trato que
O pobre tirou logo fl1mo de sua capanga,
cortot1· u1n pedaço e deu-lhe. t tin amos feito ás escondidas, para que tua mu-
Como estivesse fria á noite, o Corupir .fez lhe não o soubesse. Mas; por mai~ que escon-
t1ma, fog~neira, assentou-se junto della, e cheu dess s, ella já o soube. P~nsas, . meu cunhado,
· o seu cachimbo . dei fiumo, poz-lhe t1ma . ra~a~ · que la está em · c.asa ~.. Lá está ella. Pelo. que.
' ' • '\ ' i~ 1

't'
ella ·f z, agora ~estilo acabar.á . os, seus dias:" .. ,.': ,'· i" ..... ,'
l 1 •

accendeu-o .e fumou. Depois conversot ·com o. . ' '


homem. :i ' Nada · 11s com ·o qn~· .
ella vai
'
soffrer. ·
- · lVIeu cunhado, se trouxeres f nino para Dito isto, o Corupira deu "'JID salto, pulou
mim todas as noites, guardar-te-hei a caça qt1e en1 cima da n1ulJ1e.r, ~matou-a. O pobre homem
quizeres. Ma:s não o deves contar a ninguem, enlo11ql1e eu, perdido pela mulher, e fugiu para
nem a tt1â mulher. Não quero que ella o saiba. 011tro log
Conversaram durante o resto da noite, e
quando ia amanhecer, despediu-se o Corupira.
Todas as noites, quando a mulher dormia
profundamen~e, ia o pobre i:>ara o matto caçar
e levava fumo para o Coru·p ira. Lá ch~gando,
.:.:t1'., :;~, .. • encoD;trava-0 assentado junto ao fogo, e. Já
!~~ .·:.'.:.,\" ' ~·" : a<~háva· caça á espera. . .
1
" ·
:0
: '<: ·,'.
í(li
1
1•
li
,
J •
,,

n· ,
~sse a mulher comsigo·:
r . .
,.
' ;.; • • 1

" .., · - Onde é qt1e meu marido acha agora caça,


quando sae á noite~ Como póde ser isso~ Vj-
gia-lo-hei. ' /
Qt1ando anoitecet1, ella fingit1 dormir, mas
estava vigiando e foi atraz do homem. No lo-

" I .
apagaio de sentinella ás moças, para que não
f gissem.
• A' noite, voltot1 e chamou a mais velha para
tra er-lhe fogo á rêde. Qua11do a moça se ap-
'O YURUPARI E AS MOÇAS pro ou, agarrou-a e começou, como mor-
chupá-la. De madrugada tornou a sahir
.para matto. .
Lo o que elle sahiu :forarn as dua~ irmãs
1

' C9ntam que uma v"'elha, que tinh ver a s ' a irmã mais' 'velha e encontraram só~ ' ' . '
'

• com o tio dellas par levá-las


'

lhas, combinara· mente a , ua ossada. .~


a apanhar éôcos da palmeira miritYJ. De ma- A' n te chegou o ·yu;upary e pediu á se-
drugada appareceu-lhes em casa o · urupari, gunda pa _a trazer-lhe fogo á rêde, e quando
sob a figura do tal tio, que elle ha · morto em ~ . esta s~ ai\Pro.ximou, agarrou-a, e chupou-a
caminho. Sahiram as moças com tio fingido. como a pr1me1ra. Pela madrt1gada foi nova-
mente para o matto. Então a mais nova foi á
Depois de muito caminharem, perguntot1
rêde e viu a outra ossada. Chorando, deitou-se
uma dellas se ainda estava longe o miritisal. '
· 'n a rêde junt-0 dos ossos de suas irmãs. Logo
O Yurupari respondeu que não. A' medida q.ue
depois viu pass~r voando sobre a gruta Q Carão .
caminhavam, de quando em quando uma dellas
e. gritou: ·"' · \ '
to;rnava a pergunta·r- se ainda' estava .longe o
. - .Ah.!. C~rão 1 c ·a rão ! s~ . tu fosse~· g~nte, .·
ntiritisal~ Já quando' estavam pel-to da gruta,.
me levarias á. ·minha ·mã1· '• · "
ern que morava o Yurupar,i, urµa dellas, olh~n~ 1
D 'ahi. a ,pouco apparéceu-lhe o Carão, sob
do para os pés. do tio supposto, exclamou:
a f ór~a de um moço, que lhe disse que tomasse
. . . - · Este é o Yurupari ! ~/
/ s ossos, um pouco de sal e de cinzas e fosse
Chegando á casa disse-lhes o Yurupari qu~ furtar o feitiço do Yurupari, que estava guar-
alli era o miritisal. Sahiu depois, deixando um dado dentro de um caramujo.
' -~ . -

Logo que ella arranjou tt1do, partiraµi. al>parecesse um grande rio que o Yurupari não
1 •

Apenas sahiram, começou o papagaio pÔde atravessar, e assim podera;m chegar' á


gritar: casa da mãi, que ficou contente por ver a mais
- Met1 senhor, lá vai o Carão levando moça· das filhas, quando as julgava todas per~
caraIU.llJO.
.' , didas.

Ouvindo · isso, coJ;"reu atraz delles
.})ar~, ~~itand<Y: .. ·
.. ~ Carão, traz o meu feitiço !
'
Ao · approx~mar-se o Yurupari, o
se á moça que jogasse um dos ossos as 1rmas.
. -
' '
Im1nediatamente levantou-se uma ande fu-
m aceira que impediu o Yurupari , e os avis-
. tar. Aproveitaram-se disso e caminharam. Já
tinl1am anda9.o muito, quando novamente ou-
viram o grito :
- .C arão, traz o meu feitiço 1
O Carão mando1J então queimar sal e cinza,.,
o que, fez com que se levantasse 11m grande es-
,, '. pinhal~. ,:,: . " · · ··
Emquanto o Yurupa1~i se desembaraÇa:vâ
dos ' espinhos, elles avançaran1 . .Já .perto da
casa da mãi~ ouviram ~inda : '
1
- Carão, traz o meu feitiço t (
l\1andou então o Carão que queimasse jun-
tos os ossos, o sal e as cinzas, o que fez com qt1e


,

O YURUPARI E O MENINO
O COMEDOR DE COBRAS
• 1 •
' ". ' J,
• ' 1 "•~ -"
· Contam qµe dormia na sua rêde u~a mu- ,~f:i,~ ·' · ,i
lher com seu filho. ",
o·Yurupat·i tirou dos braços della o filho Eis o conto ·do cómedor de .éobras.:'
e pô-lo debaixo da rêde. ·. Era um~ vez u;m I ndio Caxinauá (1), muito .
Depois gritou com a voz do :filho: bonito, Dunu-nawa (2), que se casou com uma '
- Mãi! Mãi! Espia o Yurupari que está formosa mulher de nome Pái (3),
deitado debaixo da rêde.
A mulher pegou em um cacete e bateu o Dunu-nawa fez grande numero de frechas
filho. bem acabadas e muitos arcos e trançou muitas
Então o Yurupari saltou, rindo-se e di- cordas para os arcos. Depois afiou as pontas
zendo: das frechas e einpennou as hastes. Para isso
- Enganei! enganei ! · tomou pennas do gavião p'ega-macaco, do mu-
E foi-se embora. tum, do un1bú, do jací1· e ·do jujubim. Aparou · ·
' ' '
•i
' .
'
' as pennas, e depois ' a~arrou-as com f~os qué ' . ~·
primeiro esfregára com cera. . 1.
' ----
\ (1) Tribu do Rio Ibuaçú, affluente do Murú, no Ter-
1·itorio do Acre.
(2) Dunu-nawa = de cobra gente.
(3) Pái = do peixe o nadair. J

' •
-M- i.
• •
Quando tinha prompto as armas, disse-~ ' Depois da refeição, Pái cortou a carne, que
a mulher: ..:_ Meu' marido, não quero mais ce- sobrára em pedaços, fez um moql1em (1) e bo-
mer legumes. ~Sinto muita f orne de carne. Vai tou a c~rne a seccar. Todos os dias tinha ella
matar alguma coisa· para mim.
1
agora carne para comer.
Dunu-nawa agarrou as suas frechas, poz a - Dunu-nawa, porém, teve · sal1dade das co-
faca na cinta e respondeu: - Minha ~ulher, bras que vira na matta, .e disse· comsigo: --;. . . ', :~
cozinha aipim e bananas para · 0omermo8 com Porq'ue não ir matar coJ:>ras ~ Ten}lo fome ·ae'. - . · r.í, ',~. '·'.1
' • 1
''. :~ }h .
,r.1h•1:·&:.·t i ' '

carne de cobra~ · '


' . . . • • ' f • ), í(l'

' o :tnac&co:..prego· que vou matar para;. ti." " E


~
1
·
f4
• • ·· 1~ ·" ·~· "/·~1~1 1
l.
• :
1
" :; ••


~
1

f
• ...
{' l'j •

·.. ~
'\-

entrou pela mata a dentro; . ., · · Um dia falou·cóm'a mulher.: - Minha mu- ,,, '
A mulher :ficou ·muito s~tisfeita e princi~ Iher, tenho muita vo~tade de c~er muçú (2),

piou a cozinhar o aipim e as bananas.' . Quando vou ao rio pegar um. E sahiu.
a agua estava fervendo, tirou a panella do Em vez de ir para o rio, foi para a matta,
fogo, assentou-"a no chão, para que a comida onde avistou uma jararaca nluito grande, dor-
esfriasse, e esperou a volta do marido. mindo ao sol. Morta a cobra, decapitou-a e ti-
Quando Dunu-nawa entrou na m~tta, en- rou-lhe a ponta do rábo. O resto cortou em pe··
controu muitas cobras, mas não as quiz matar. daços, que embrulhou.
Continuando cautelosamente no seu caminho, Em casa· deu o embrulho á mt1lher, e disse:
avistou uma· onça pintada que tinha pegado - Este muçú grande· peguei no rio, cozinha-o
. (

·.um vea(J.o e estava a dilacerá-lo. Com uma fre- ' depressa. .. ?.


!
~ - .. ,
'' l
• .·''
j ...

chada no .coração .matou a onça, fez um fardo. · : · ' .Pái obedec~u, ·~ Dnnl'l"'n.awa começou a ,,eu·1· .. 1 ·J'..',i tif:'.).~;
' ' .
e le:vou os dous an1maes para casa;. golir a carne com prazer. Tã.o .saboroso aehou ·.,: .\<lf.~ . t'
' ' j ' . :.t
1
Ao ver"o marido voltar com o grande fardo' r . ,,,,.\ Pái o cheiro qt1e c11:biçou um pedaço e olholl . ' . .
.
de carne, a mulher alegrol1-se muito. E Dunu- r·l para a comida.
· nawa disse-lhe: - Pái, esta onça pegou o vea- _,/.
do, e eu matei a onça. Agora, cozinha e come (1) Grade alta, em que se moqueia com fogo a carne
secca. '
depressa1 (2) Um peixe da Amazonia.
..
' - 00- -~-
' ...

Queres comer muçú commigo ~ p ergun- E ntão perguntou o marido - ~ái, porque
tot1 Dunu-nawa. , emmagreceste e amarellaste .
e que f .
- Quero, sim, respondeu a mulher. R espondeu a mulher: - Pare.ce que 01 por
O homem deu-lhe um pedaço, e Pái comeu. ' causa da banha que trouxeste para mim 1
- Oh! como é carnudo este muçú ! exclamou Dunu-na-vva riu-se, e ella perguntou:
. d . 62
o marido. Pái, porém, respondeu: - ·Este Meu marido, porque te ris e mim .
muçú iguala á cobra, é catinguento. _ Tu adoece:st~, po:r:que com a banha de
.,
Duh1:1-na-vva riu-se: - Ora, catingu~nto ! porco tambem comeste carne de cobra.• ·
Muito saboroso é t Mas a mulher não q11iz sa-· Quando ouviu isso,, chamou Pái os seus pa-
ber mais de cluçú e tornou· a comer da caça r entes para que matassem o n!arido. Mas o ~
(
:rnoqueada, que restava da primeira caçada. E comedor de cobras fugiu, e Pái morreu sem
o marido ficou muito aborrecido por causa ser vingada.
disso.
Quando a carne moqueada se acabou, disse
' Pái ao marido:-A minha caça já se acabou.
Dunt1-nawa agarrou as st1as frechas, sahiu
e matou um porco e t1ma cobra~ Do porco tirou ' .
a banha, cortou a cobra em p edaços e embru-.
lhou-os na .·b anha.
Minha
Em casa disse á mulher: -- mulher,
matei este porco, trouxe para ti sua gordura,
come depressa. ·
Pái a~egrou-se, cozinhou a banha, e comeu-a. \

~1as com a banha comeu tambem a cobra e fi-


cou doente. Dormiu muitas noites seguidas,
depois sentiu dores, emmagreceu e amarellot1.
- 59
(
-

mutá no meio da agua. A velha atirou a t ar-


• rafa 'e d 'essa vez o envolveu, leva11do-o para
t •
casa embrulhado nas ~albas da r êd e.. .
D eixando-o no t erreiro, foi ella apanhar le-
A VELHA GULOSA
nha p ar a: cozinhar, mas atraz d'ella surgiu
sua filha , que disse c~msigo:
' - E sta minha mãi, quandó veJ? da caçad~,
Estava Ceincy, a velha ·gulo8a, pescan do' '
""" \ .. .-..
' ., ,~ semp r e d á conta da cáça que triatou, . mas :q.pje
um dia, de tarrafa, no igarapé do rio, quan do .,- . / ·, nada disse. . . E' que aqui ha co11sa i. . . Vamos
avistou um li11do m oço, robusto e bem feito, , . (

ver o que e.
pescando tambem n 'um mutá, em cima. Imme-
D esembr ulhou a rêde e viu o moço, qt1e lhe
diat am ente atir ou sobre elle á st1a rêde, mas_
não conseguiu alcançar o moço, que do seu falou : ·
logar se poz a rir. - E sconde-me, por quem és !

r Ella, então, gritou: A f ilha da velha achou--0 tão bo11it o, que
- D es ce d ,a h.i , meu net o.' V em ca...
' · teve pena e o escondeu. En1 seu logar , embru-
l"{,ecusou o moço, e ella r eplicou: ~ lhou na r êde um pilão todo ur1tado de cêra, e .
- Ora desce, menino! Olha que eu man- . t .
ie e1xou-o no erre1ro. ' I'
' 1,
·~~· 1 ;~:··· • • . • ·!,\~
. , .
1
1
• • . .. ,

d a're1. a h.i mar1ºb' on d os . .. . . ,. ' ' , .., , ç~·J ·~ t


Ahi voltou ,a vel.h a do m,atto, acc~nde~ f.ogo · :~ · ·~. .:·. ~.~;_!./:;~· r. " "!
1
E ·mai:tdoth·os. O moço, · poré~, ?-ti~brou
• ·um...)
·i,~ . ;~ :),'., · em baix o do moquem, e' as \chamm:;u~ esquén- ~'~ 1" ,~,,·:1~~~~. 0
t.~» { '1 ~ (~ ''' ·.tt
.. \
1

galho' de arvorf ; .e nxotOtl-OS e m.a_t0U-OS todos. . . j1: .·'" t an.do o pilão,. derreteram a cêra; que a velha ' :' . ,i',.:';~;t,: ,.:. ". 1\
t • ' • ' ,

A velha ainda insistiu : . . · ·~


' ...
Jffl· aparou. O fogo queim ou a t arl"afa e 'appareceu · '; ' ··
- D esce, meu i1eto, siuão eu m ando ahi tu- '? · i" ' o pilã o em logar do moço.
J ·'
candiras... · - Ah ! disse a velha., am eaçando a filha, si
E como não descesse o moço, elia mandou - t u não me trouxeres já a minha caça de hoje,
essas formigas bravas, que deram com elle do car o me h as-de pagar ... Eu matar-te-hei .


- 6)-
Assustada, a moça correu para o moço e ..
0 s macacos metteram-no dentro de um pote
mandou-o que cortasse depressa palmas de vasio; ao chegar a velha não o encontrou mais,
uaçahy e fizesse t1ns cestos e fugisse. e seguiu para deante.
Esses cestos deviam virar-se em animaes, e , Então os macacos mandaram-n 'o embora e
quando a velha chegou perto, o moço mandou elle andou andou, andou ainda muito, até que ·
' #

todos elles transformarem-se em antas, veados ouviu de novo "kan", "kan" 1 Depressa entrou
, e porc.~s. A gulosa se atirou sobré essas caças· em c~sa do surucucú ·e pediu~lhe que o occul-
todas e, emquanto as comia, o moço fugiu e foi . tasse. A velha não o achou e foi-se. •
fazer . mais lonie, no rio um cercado, onde co- A' tarde., porém, o moço ouviu que o su-
meçou a cahir muito peixe. · rucucú estava combinado com. sua mulher
para fazerem urp. moqÚem e o comerem. Quan-
Não tardou que a velha, tendo acabado de
do elles estavam faz~ndo o moquem, o moço
devorar os animaes; se mettesse pelo cercado
ouviu cantar o passaro mak:auan e gritou:
a dentro para comer os peixes. - Ah! meu avô makauan, deixe que eu fale
O moço espetou .u m páu . de marajá e fe·- ,..
com voce.
riu-a, fugindo para longe. Disse-lhe a filha da O makauan veio, ouviu e perguntou:
velha: - Que é meu neto~
· - Quando tu ouvires um passaro cantar
• • O moço respondeu: - Ha ·. dous surucucús
''kan", "kan", "k:an", "k:an", é min;ha mãi, que · , . 1
•• • que me querem comer.. ' .
está perto de te 'p egár. · - Quantos esconderijos . têm
E o moçd andou, andou., ando~ muito. 1 guntou o makauan. \ ~·
Quando ouviu "kan", ·"kan", correu mu.i to e - Um sómente. '· \
chegou a um logar onde os macacos estavam O 1nakauan comeu os dous surucucús e o
moço passou para a outra banda do campo,
fazendo mel e pediu-lhes: " ' on de se encontrou com um tuiuiú que estava
- E scondam-me, macacos! •• deitando um uaturá, ou cesto de talas de can-
• ,-~2 -

na, para apanhar peixe. Quan do o tuiuiú aca-


bou de pescar, mandou o moço entrar para .º ' ' •
. .
I t1aturá, voou com elle um p edaço e posou, fi- • . ',
n almente, · sobre o galho de uma grande ar-
vor e, porque não pôde levá-lo adeante.
De cima o moço viu uma casa, desce11 e ~p~ ..
'proximou-se. U1na n1t1lher na beira da r9ça. 1· \,: .I ,
r alha'f a com uma cotia por comer sua n1a~~ '"'
1 • ''

diocp,~, e apenàs viu o moço, chamou-o para su'a ' '


A Moca e o·Gambá
>

casa e p erguntou-lhe de onde vinha. ó


- ~


Narrou o moÇo ,toda a sua historia: que es-
tava elle esperando pelo peixe na margem do Disse uma moça ~ sua ma1:
. -·
f

igarapé, quando appareceu a velha gulosa, que - Eu estou padecendo muita fome. Vou
procurar um marido.
"
o apanhou na rêde, ainda menino, e o levou . ..
-para sua casa. Desde então tinha· elle andado · Foi-se e chegou a um logar aonde havia tres
por montes e valles, sempre fugitivo, e sempre caminhos.
p er seguido. Agora a sua cabeça estava toda - Qual s.e,,rá o caminho do gavião inaje ~
branca e elle já erâ mn velho 1 A mulher reco- .. pergunto11 a si mesma. . . .
· ,n hecel1 que- elle era o s~u filho q fê-lo . to!Ila~.· .: · ·i;.' .'. .
• • ,
l
~ ! '
Em ltm dos caminh.os' vju .e spalhadas
' r 1 r " 1 ~

conta,'da •sua roça. < \ ,'~!; ;..;~ 1 '; ·tas p ennas de iuhámbú. . , \· ·
..
o <' "' I • L ', ) ,''"

• . "' ' 1f'' , ''\ ' • t 1' ·,~ ' ' ~ •. ' ' 1 1 "
~ ' ' t

'
'
'
--- E ste é o ·c aminho ·d o .inajé, pensot1 a '. ' '--; 1 ~~·4 • "
' " •
1

' i
f.
....

moça, e tomou por essa estrada . ,N o fim encon-


• trou uma casa, _onde estàva sentada uma velha
á beira do fogo.
- Você é a mãi do inajé ~ perguntou a
moça'
-fW- -~- •

Sou ~u mesma, r espondeu a velha.


, Pois eu venho para me casar com seu .. II
filho.
A velha replicou: - Meu filho é muito~ A Moca e o Urubú
.>

· v ·o ltou a moça -aQ logar dos tres caminhos


e seguiu p elo .s egundo, onde encontrolf 1outr& ' i ..

casa e outra vé.lha. . "


qi1e eram passaros.
• •
- Tu és a mãi do inajé 1 pe1guntou. ..
\
A mãi apromptou a comida ; e quando es- A. velha r espondeu: .- Sou eu mesma.
tavam comendo, p erguntou a velha ao filho: - Pois eu venho para casar com elle.
- Caso chegasse um habitante de outra pa- . Replicou a velh?- : - Eu a vou esconder,
tria, como o tratarias~ . porque meu filho é muito bravo.
O gambá .respondeu: - Eu convidava-o E sta velha era a mãi do urubú. A' tarde
p ara jantar comnosco. voltou seu filho, trazendo a sua caça: que eram
A velha ei1tão chamou a moça, que estava vermes pequenos; disse á sua mãi:
escondida, e a moça comeu com elles. O gambá , - Eis aqui peixes pequenos, minha mãi.
ficou muito alegre, porque a moç.a era muito A velha apromptou. a caÇa, e quando .elles~
,.\ '•
f ormosa. .. •
ir · · , ·'li ·
l ' • ' ~
estav&m comend@, p~rguntou
.... ' .
'
ao urubú: ..
;~
1

Mas· a moça não se . quiz casar com e\~~ e ,\,_' . ·: - .C aso chegass.e um·habitante de outra pa-
disse-lhe : . . , tria, como o tratarias~
- Não te quero para meu marido, porque · - Eu o chamaria para comer comnosco,
.~

és muito catinguento. respondeu o urubú.


De manhã, 2. velha mandou a moça tirar Então, sua mãi chamou a moça, e o urubú
lenha, e ella ft1giu. ficou muito alegre, porque a moça era formosa.
·~~da dos Nossos Indios
- i6 - -p7
A moça, comtudo, não quiz tê-lo por ma- A velha chamou então a moça. Ficou o inajé
rido, porque era feio e cheirava mal. muito alegre, porque a moça era bonita, e ca-
Na manhã seguinte, quando a velha a man-.. sa;ram.
dou tirar lenha, fugi~ de novo . . No dia seguinte entrou pela casa a dentro
o urubú, em procura da :rpoça, e brigou· com o
inajé. Este quebrou-lhe a cabéça, ~ o urubú
III. ·.
'
fugiu. "· , , · ··
' \ 1

' ' Em c·asa, sua mãi aquen~oU: ag~a pafa lavar


· ~Moça e o Gavião a ferida da sua cabeça. Mas a agu~ ficou
quente demais, de modo que ~epennou a 'ca-·
be~a.
Foi agora pelo te.i:ceiro caminho e chegou E' desde então que os urubús têm a cabeça
á casa de uma velha muito agradavel. . depennada. (
. '
- Você é a mãi do inajé~ perguntou.
Resp,ondeu a velha: - Sou eu mesma.
- Pois eu venho para casar com elle.
Disse a velha: ·- Eu vou escondê-la; meu
filho é muito bravo. , .
A' t~rde, o {µç1,J°é,· voltou, trazendo a su..ª
caça·: muitos:pass.a~9s p'eqpenos. A mãi apr6~~ ..
ptou. os passaros, e'.quando os estavam co~en-: ·: ~ ~:·.
' . . '., ' "
do, P.e rguntou ,ao inaJe:
- Caso aqui pousasse um habitante
outra patria, como o tratarias~
Réspondeu o inájé: - Convidaria-o
comer comnosco.
• 1

• '
.,.. - (\9 -

Quando a panella estava feita, cozinharam


' j
a comida nella.
Depois disse o João-de-barro:
. - Agora ide tirar ~uito barr.o, para a
O JOÃO-DE-BARRO E OS CAXINAUAS vossa casa.
, ' E lles trouxeram muito barro, ficaram em
1.
' ' pé e olharam como o passaro fazia a casa. .
Os eCaxinauãs não po$suia~ casas e dor- - J oão-d:e-barro é muito intelligente. E lle
miam no chão não possuiam panellas e comiam f eiZ panella para nós .e fez ·c asa. para .nós. Agora
(' não precisamos mais dormir nt chão e comer
só carne assada. .
Um dia avistaram o ninho do João-de-barro apenas carne assada. João-de-barro é muito
e disseram: trabalhador.
•.

- Isto é a panella ao João-de-barro. · Os Caxinauás não matam o João-de-barro


O passaro defendeu-se, quiz beliscar os C!l- porque elle lhes ensinou tudo isso.
1 '

xinauás, e elles correram.


Foi então o João-de-barro atraz de~les e ,
lhes perguntou:
- Minha gente, quereis ter ·panellas e mo~ •
ra'.r em cas~s ~
Os Caxinauás responderam que sim.
- Ide tirar barro, para que eu faça ~ma . ·
panella. . . I

Foram elles buscar barro, sentaram-se, e o 1

João-de-barro lhes diss~ :


- Minha gente, olhae ! V ou fazer uma pa- l
'
uella. ,,

pescar com os cabellos de vossas mulheres para


a pegarem... .
.A.s mulheres immediatamente cortaram os
cabellos e fizeram uma linha de pescar bem
.. TINCUAN grossa, puzeram como isca uma criança, e pu-
xaram para fora da lagô~ a velha piraiba. Os ·
p~gés disseram-lhes: ·
j ~ .,

' •1" ,ll \ ' 1

Teve um chefe n'outro tempo, um filho;que · .·. - Vocês matem-na, abram-lhe a b:frriga··e ·
ficou encantado em ~ma piraiba. Esta' pira1hà · \ · .r1 : : ~~\ nella atharão um pa.ssaro, que é a. alma do filho .
·comia a gente que passava pela lagôa. Por isso, ,.";,. ·~ do chefe. Não o deixem fugir ~u voar, porque .
os Tapuyas punham diariamente uma criança si elle cantar: · "Tincuán !" nós todos morre-
á piraiba, para que a engolisse -e deixasse pas- remos.
• sar aquelles que iam pescar na lagôa. Acharam o passaro na barriga, mas deixa-
Os chefes que viam ~ariamente a gente ram-no fugir. O passaro subiu e cantoÚ: "Tin-
desapparecer na lagôa disseram, finalmente: cuán !" "Tincuán !". .
- Vamos já. cortar nambé para fazer uma O céu ficou completamente escuro, a terra
corda, afim de pescarmos a piraiba. tremeu, a lagô~ ·seccQu, a gente toda morreu,
. Fizeram a linha de pescar, e a isca delle~ e só ficou no mu,n~o .o.passaro cantando: "Tin-
foi rima criança. bem bonita que atiraram n'o. cuán !" "Tincuán t".
meio da l agÔa. À. piraiba pegou no anz'ol qUe'
1
. .
arr~ben-. "> .,_j
H
,,
elles puxaram,mas coino era valente,
tou a linha e fugiu. ·O feiticeiro chamou então / -~~ ··. ·,' .. ·
os chefes e disse-lhes : .. Y ~·. (1 '

- Meus netos, vocês não pegam a piraiba, 1

porque ella não é boa, é cousa má, é a 'alma do


filho do chefe. Façam vocês ·agora~uma linha de • •
'
((

- 7'J - •

r seio em casa da amiga onça; o jaboty deu mui-


..
tas desculpas, dizendo que estava doente e não
J •
podia sahir de pé naquelle dia. O teyú insistiu
O JABOTY E O TEYlJ' (*) muito. ,
.,,.
- Então, disse o jaboty, você me leve mon-
' '
tado nas suas -costas.
Er~ uma vea;, havia uma onça que tihha uma , , '~ 1~ .' .
- Pois sim, respon·d eu. o teyú, mas. ha de
· filha ; o teyú queria casar com ella, e amigo ia- ' ser.até longe da porta dà amiga onça.
boty (kágado f, ·tambem .. O jaboty, sabendo da - Pois bem; mas .você ha di deixar eu 'bo-
pretenção do outro, disse em casa da onça que . / tar o meu caquinho de sella: porque assim em
o teyú para nada valia, e que até era o seu ca- osso é muito feio. ,
vallo. O teyú, logo que soube disto, foi tambem O teyú se maçou e disse:
(
ter â casa da comadre onça, e asseverou·que ia · · - Não, que eu não soll cavallo !
levar o jaboty para alli para dar-lhe muita - Não é por ser meu cavallo, mas é muito ,.
pancada á vista de todos, e partiu. O jaboty, que feiq.
\
estava na sua casa, quando o avistou de longe, Afinal, o teyú co~sentiu.
correu para dentro e amarrou~ um lenço na ca- . ,. - Agora, disse o jaboty, deixe botar minh·a.
beça, fingind.o que estava doente. O teyú che-, ., .' '· : :·, brida.
·- . l < .
gou á porta e o convidou para darem um pas"' ' 1
• _ ,. "!.
.
Novo barulho' do teyú, e novos pedid.os · e·
deg;culpas do jaboty, até que finalmente con-
' ' '
' / -'" ..~ · , seguiu pôr a brida no teyú e mt1Iiiu-se <lo man-
( *")D·esta lenda não possuimos mais a forma ori/ . ._'.'. . goal, esporas, etc.

'.. ginal ip.digena, mas sómente a tradição dos nossos Ca~
boclos no Sergipe, onde a colligiu o Snr. Sylvio Roméro. / Partiram; quando chegaram em logar não
• Por isso sella, brida, -espÓra, que os Indios não co· , muito longe da casa da onça, o teyú pediu ao
nheciam. ' . jaboty que descei$se e tirasse os arreios, se não
'
"· '



era muito feio para elle ser visto servindo de
cavallo.
Respondeu o jaboty, que tivesse paciencia
e caminhasse mais um bocadinho, pois estava
O JABOTY E A FONTE
muito incommodado e não podia chegar a pé.
Assim foi enganando o teyú até á pprta da casa ,
r
. ..
•,
'
da on~, onde lhe metteu o rnangoal e ·às .es- :.. i. ~
r. l
~\t

,' ·'
' r

·'t , .·:.' . Uma vez o Jªboty in. t r1gou...rse


. ' o h ornem~
+ .. ' 1 •

poras, a valer. Gritou então' para dentro .de li· • f · ''


com ' ' •

' ' ' t ' 1 ' '

casa: · • '.~·1 'i · o · teyú e a onça, por causa do &asamento com


- Olá, eu não disse que o· teyú era meu ca.. ~. ·~~~ ' a filha da onça. Havia uma fonte onde todos os
vallo ~. venham vêr ! bichos costumavam ir beber; o jaboty lá che-
Houve muita risada, e o jaboty, victorioso, gou, botou dentro d'ella uma porção de sapi-
disse á filha da onca: ' ~ nhos e deu-lhes ordem que, quando viesse alli
- Ande, moç~; monte-se na minha garupa algum bicho beber, elles cantassem: .
e vamos casar.
Assim aconteceu, com grande vergonha "Tur1,. t ur1. .- ..
para
.
o teyú. '
Quebrar-lhes as pernas,
• 1
Fura·r -lhes os olhos ... '~ ·
' . .
Feito isto, o jaboty foi-se .e:rnbora. ,.
.• 1' + • •

>.~~:·:,· · : Chegou o ~acaco ~ara béber; ouviu aquillo.


• ~!\:· • e ficou com muito medo; foi-se, e espalhou o

caso. Outros bichos vieram, e todos se retira-


• ram com metlo. Veiu o teyú, a mesma cousa;
'
veiu a onça, o mesmo. Afinal, o homem veiu e
tambem fugiu com medo. Faltava o jaboty, e
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
(
-'m- •
foram chamá-lo. Elle disse que estava prompto
a ir, mas acompanhado de todos os outros, e
munido de sua flauta para tocar. Chegando a
' . '
'

certa distancia mandou os outros esperarem, I

avançou, chegou junto á beira da fonte, deu O JABOTY E A FRUTA *'•

ordem aos sapinhos para se calarem; elles obe-


?eceralJl. O jaboty encheu seu pote e retirou-se .. . . . •v

victorioso, com ·grande espanto de todo~ os · ; ,·, <,'


l.


outros. animaes,
. ,. f
e .,, assim casou com a filha da · ·· · ~· :.~ Dizem que foi u~ dia, havia no ·matto uma
onça. fruta que todos os bichos tin11am vontade de
I
comer; mas era prohioido de comer a tal fruta '

· sem primeiro saber o nome d'ella. Todos os


animaes iam á casa de uma mulher que morava
.. ,,. nas paragens onde estava o pé de fruta, per-
gt1ntavam-lhe o nome, e voltavam para comer;
mas quando chegavam lá, não se lembravam
l,
mais delle. Assim acontece1u com todos os bi-
.chos que iam· e voltavam, e nada de ·acertar.em
com o nomé . .Faltava sómente amigo jaboty; ·
'. os outros :foram chamá-lo para ir por. s·u a'· vez.·
'.Alguns caçoavam muito, dizendo:
- Quando os outros não acertaram, quanto
1 ~ '
' menos ellel
,
Amigo jaboty partiu, munido de uma flau-
'
ta; quando chegou na casa da mulher, pergun-
tou o nome da fruta. Ella disse :
- Boyôyô-boyôyô-quizama-quízú; boyôyô.. ~oube-o e metteu-se debaixo de uma raiz gran-
boyôyô-quizama-quizú. de de arvore, onde ella costumava descançar.
Mas a mulher, depois que cada um se ia re- Ahi chegada, poz-se a onça a gritar:
tirando, já a alguma d~stancia, punha-se de lá - Amjgo jaboty, amigo jaboty !
a bradar: .. O sabido responde~ a1li de pertinho:
7-- Oh, amigo t~l; o nome não é esse, não. j t '.
,r.!J
" - Oit
;,.re "~ 1 .,,
1 ) 1

· E .dizia. outros nomes; o bicho se at~apa- .e ~''


A ·onça 0:lhava de uma banda

'

.
E} d'outra, e
•'

lha~a, é quando chegava ao pé da fruta:, ·. nttb' . ·: •• ;;/r '· · não via ninguem. ·. F~:çou muito espa:rfcada, ·e
1

sabia mais o nome. Co;rn o jaboty não fói assim, .. 1 pensou' que ena o seu rabo que respQndia. :;Foz-
' t ' • ' )11 1

porque elle deu de mão á sua flaut~, e poz-se se de novo a gritar, e· se~pre <1 jaboty resp<;>n-
a cantar o nome até ao logar da árvore, e ven.:. dendo: ·
ceu a todos. M~ amiga onça, que já lá estava - Oil
á sua espera, disse-lhe: E ella:
- Amigo jaboty, você como não póde tre- - Cala a boca, rabo!
par, deixe que eu trepe para tirar as frutas, E sempre a cousa para deante. Amigo ma-
e voeê em paga me dá algumas. .caco veiu passando, e ·a onça contou-lhe o caso
O jab.oty consentiu; a onça encheu o. sell da desobediencia
. .
de seu rabo e pediu-lhe que o
sa~co e largou-se sem lhe dar :µenhuma. o ja- ,'t ·1; • açoitasse. O· macaco tanto executou a obra que .
..
.f ;

. bóty, muito zangado, l~:r--gou-se ~traz; 'Cl1ega11~ · ,~·!'~.:~ · ~ ~.:~~i . 1~im·.: a matou. Del}.-sé ·e ntão ,o "jaboty por satisf~ito.'·
1

~.\' 1~·'~,;~·}i "~~; :"J:~·,,


1
' ' ~
do. a; 'um .tio, disse eJle á. oD;Ça: , '1 • , : • "

• ....!- .Amiga onça,· aqui você· . me ·d ê o sacco


'
I.;.·~~:'

•I,.~ ,{

para eu passar, que sou melhor nadador, e 'você . -r .


. . . ;"
passa d epo1s. / '· /
A onça concordou, mas o sabido, quando se
viu da outra banda, sumju-se, ficando a onça
lograda. Formou esta o plano de o matar; elle
' t
•.
'
· -84.- ,

cima. Labreou o rabo bem de mel, e de quan-


do em quando, largava uma abelha: "tum" ...
.O jacaré, vendo aquillo, suppôz ser algun1
cortiço, e ID:etteu o dedo ; o jaboty apertou-o
·o JABOTY E O JACARE' entre as cascas e disse~
--.- Só te làrgo quan·d o m:e deres conta da
minha flaut a. . ··
O j~boty tfnha uma flauta em que tocava '.. E foi arrochando cada vez mais. o" jacaré
·com grande admiração de todos bs outros ·a ni- abriu a bocca no mt1ndo e pôz-se a gritar:
maes, e de qu.ê o jacaré tinha muita inveja.

"O' Gonçalo, ,,
Uma vez elle foi esperar o jaboty no logar em
Meu filpo mais velho,
que este costumava ir be ber agua, e p8z-se do
A flauta do jaboty ...
1lado de fóra da fonte deitado. Quando o ja-
Tango-lê-rê. ·..
boty chegou, saudou-o, dizendo : •\
A flauta do jaboty ...
- . Oh! amigo jacaré°? como vae? '
..
- Estou apanhando sol, amigo jaboty.
T ango-Ie-re ...A A "

O jaboty bebeu sua agua e pôz-se a tocar a O rapaz de lá ouvi~ ' mal, e dizia:
flauta; então, o jacaré disse: - O que, meu pai .... ·. a ,carmsa 6li
A . ·~ . •

. - A~igo jaboty, empresta-~e êsta fikuta


1 ' .

O jacaFé, vexado, g1"Ítava com mais força:


! ' • ·~\ • \

·para experimentâ-la. . , 1 l •

. Deu-a o . jaboty, e o jacaré pulou com ·ella . . , . "Não, GonÇalo, , ·


4ent~o d'agua e foi-se. Ficou o jaboty muito; Ji}!j.·. J\1eu f ill10 mais velho~
zangado e foi-se embora. Passados dias, foi a ·1 · · i A flauta do jaboty ...
um cortiço, engoliu muitas abelhas, e indo se Tango-lê-rê ...
I

pôr no logar onde o jacaré costumava apanhar A flauta do jaboty ...


T ango-Ie-re . . .
..
A A " .,.,..

sol, escondeu-se nas folhas, com o rabo para (


se-

O Gonçalo: - O quê, meu pai~ As calças' r

O jacaré tornava a repetir a cantilena, e, só


depois de muita maçada e quando o seu dedo ..
estava tora, não tora, é que q :filho vei"lf com a
O JABOTY E O'CAIPORA
flauta, qt1e o jacaré deu .
, ao jaboty. Só depoia . <
· ' da- entrega .este lhe 'largou o dedo.
'

(' " 1, •

. .Chegou o jaboty ao ôco de um· páu e pôz-se


a toca~ a sua :flauta. O Caipora11 ouviu e disse:
- Ninguem póde ser, senão o jaboty~ Eu
vou agarra-lo.
Chegou á boca do ôco ~o páu. O jaboty
tocou na flauta:

Li, ri, li, ri .


, ~e,
L e, , l'e, re, .....
"
O Caiporll-"chamou: - Oh, jaboty !
J ' 'I '1 • ·I

· Respondeu o jaboty: ~ Oi !
• 1 ' ' ;

'-Vem, jabotyt Vamos·ver quem tem mais


força,! '
O jaboty respondeu : Vamos ver, como
tu quizerest
Foi o Caipora ao matto, cortou um cipó,
trouxe o cipó á beira do rio, e disse ao jaboty:
,
- 3 4 -. •
..
Experimentemos, jaboty ! tu na agua,
eu em terra.
O jaboty disse: - Pois bem, Caipora;
O jaboty. saltou na agua, com a cor-da, e foi
O JABOTY E O HOMEM •'
amarrar a corda na cauda de um pirarucú.
,Voltou o jaboty para terra, e escondeu-se l-1 ' .,
"
debaixo do matto. O ·caipora puxou a. corda. O
"piraru~ú fez força e arrastou o Caipora pelo O jaboty metteiu-se numa ' tóca, e pôz~s~ . a
pescoço até á agua. Fez iorçà o Caipora para · · tocar a sua flauta~
puxar o rabo ~o pirarucú para terra-. O J>ira.. As pessoas qÚ~ iam passando escutaram. .
rucú, porém, fe.z · força e puxou o Caipora de Um homem disse: - Eu vou apanhar
'
novo pelo pescoço até a agua. aquelle jaboty.
Debaixo do matto o jaboty estava vendo Chegou á toca, chamou: - Oh, jaboty t '
.. tudo, e ria-se . Respondeu o jaboty: - Oi!
Quando já o Caipora estava cançado, disse: Disse o homem: - ·vem cá, jaboty.
- Basta, ja.boty. - Pois bem, aqui est~u, eu vou já.
." O ja.boty riu-se, -saltou á agua e foi desatar O jaboty sahiu, o homem agarrou-o, e le-
a corda da cauda do pirarucú. Puxou o· Cai- vou-o para casa. Quando ch'egou á casa, metteu . .. , · ~ ·. ;~
. pora a corda com·elle. O jaboty chegou á terra . . o j.a boty dentro de uma caixa . Logo de ma- ··.· · . , · ~ : :......, , .\~
Perguntou-lhe o Caipora: . nha:Uzinha, disse o" homem aos seus ~filhos:
.
. . , (<, .

1
·\'·

.. il· 1- .>··,
1

- Tu estás bem cançado, jaboty 1 . · - · Agora vou sahir, não vão vocês soltar
• O jaboty respondeu - Não r não suei nada! . ~· h , o jaboty. ' · 'i
Disse então o Caipora: ' - Agora, com cer- . J • • O jaboty estava dentro da caixa,. tocando
. feza, jaboty, sei que tu és mais valente do que a sua flauta.
eu! Vou-me embora. Os meninos ouviram e vieram para escutar.
Calou-se o jaboty.
' ..
..
-8'- . - 8' -

Então os meninos disseram: - Toca mais, : De tarde chegou o pai· d'elles. - Ponhall)
jaboty. a panella no fogo, para tirarmos o casco do
O jaboty respon~eu: - Vocês acham muito jaboty.
I '

bonito <t Como não seria se vocês me vissem Elles disseram: -:-- Já está no fogo.
dançar!
'
o pai deitou a pedra pintada na panella
Os· meninos abriram a caixa para vere~. 0 ·1 ' pensando que era o jaboty. . · . . .. '{·,. ·1·r. ,·~/I ;
jaboty dançar. Depois disse-lhes: - . Trag~m vocês ~s pra- · :. "~1 :,:.~Jl(~~'.. 1 ···$ :;r.:;'. •

,. · ·o j!boty dançou pelo qu~rtq : b .t' ' ~· ~~.


1
~.,\IJ~I
1 • . '1 •
'·1;~·~ . :~·; . !
' .r ' l • r ••..'
tos para comermos Q J_a o y, '• 1 11
'
1
':: • , r:1'.
. • ·, '} 1 ' 1 . •i;;. .

Os meninos trouxeram. ·. • 1 ' • •


. 1. 'ft:·.• :· ·~..., 1• "' '1 1 • ~ 1 ~;, •

L e, , l"e, l'e .. .
, •re, O pai tirou o jaboty da panella, e quando o , , . ·., .··.~ ;;
'l
Lé, ré, lé ré . . . deitou no prato, quebrou-o! . ,

Disse o pai• aos' menmos

: Vocês dei-
Depois pediu aos .meninos para o deixarem xaram o jaboty fugir~
ir um momento lá :fóra. Elles responderam: - Não, senhor.
Os meninos disseram-lh~: - Vae, jaboty, Quando estavam dizendo isto, o jaboty to-
mas não fujas. cou a sua flauta.
O jaboty foi para traz da casa, correu e Quando o homem ~uviu, , disse:-Eu vou
escondeu-se no meio do matto. . apanhá-lo outra ve~! .
Então, os me,ninos . disse;ranl: - O jaboty 1
• • Foi e chamou~ - Oh, jabotyt
fugiu 1 ,. · ,. • . · , ·" · ' i •. -~
o jaboty r~spondeu:. ~. O~t .
Um d 'ell~ disse: ~ Agora como ha de ser~ ·::.:"' \~ O homem foi pelo_.m atto. afóra, ·á pr9cura
Como é que · ha~emos de dar conta a nosso pai . --:~·>,~ ~.· d'elle. Chamou:
quando elle chegar~ Vamos pintar uma pedra ' ·1 ~' ~ V em, jaboty !
da côr do casco do jaboty, senão, quando elle ' Elle chamava de uma banda, e o jaboty
chegar nos dá pancada. respondia-lhe sempre de traz. O homem abor-

Assim :fizer.aro. receu-se, voltou para casa, e deixou-o. ,.
l
. . - fi9 --
..
/
Quando as chuvas vieram, sahiu o jaboty
do barro e foi atraz da anta. Encontrou o rasto
, da anta e perguntou-lhe:
,.
- Quanto tempo teu· senhor já te deixou~
' ,
Respondeu o rasto: 7 ' lia muito já me . '
O JABOTY E A ANTA DO MATTO·
I'
deixou.
Um mez depois , enqontrou outro rasto e
'
perguntou: •
~ ' " · O jaboty· é pom rapaz, não é malvado. · - Teu senpor ·e~tâ ainda longe~
Ú m dia es~ava elle em baixo de um de pé '
Respond'eu-lhe o rasto: - ~e andares dous
taperebá, ajuntando as frutas . Como a ·a nta dias, encontra-lo-has.
do '.matto tambem, gosta da fruta do taperebá, - Estou cansado de procurá-lo; talvez te-
disse ao jaboty: .' nha elle abandonado a terra de uma vez .
O rasto perguntou: - Por que razão será
- Retira-te, jaboty; se não, eu te piso!
qu~ agora procuras tanto o meu senhor~
Respondeu o jaboty: - Eu daqui não me
- Por nada. Preciso conversar com elle.
retiro, porque estou em baixo da minha , ar-
- Então · vae . ao rió pequeno; lá acharás
' vore de fruta. • l
meu pai . gr..ande.
- R·e tira-te, jaboty"; se não e1u te piso! . '
•• Qu~n:do 1 o . ~~botY: chegou ao pequeno rio,
1

- Pisa! V:aes ver, se tu só és "valente. . ·


' ' ~
perguntou assim:
o diabo a'e· anta pisou o coitado de _jaboty; ·./ ~· ' :. · ~ Rio~· onde está o teu senhor ~
• ·' <

enterrando-o no bar1"0. 'Depois foi-se emb'o ra. , O que importa isso · a você~ respondeu
Disse o .jaboty.: - Deixa estar, diabo! o rio.
'
Quando ~ôr o tempo da chu:va, eu saio e vou - Porque falas a .mim desta maneira~
em teu encalço, até te encontrar. Então dar- - Porque eu soube o que meu pai grande
te-hei o troco. fez a você!
,
- Deixa estar; eu hei de achá-lo. Vou-me
embora, rio. Quando tornares a me avistar,
mostrar-te-hei o cadaver de teu pai.
-Não bulas com meu pai! Deixe-o dormir~
- Muito agradecido! replicou o jaboty.
Agora s~i onde encontrar teu pa,i.
A

, - Ah, jàqoty l Parece que voce quer ',. j l 1

enterr\do pela segunda vez. SahiU: o jaboty a Pl~ücurar seus pa~ntes ,e


. - Não estou no mundo para servir· de pe.:. ,· encontrou-se com o':· ve~do. '.Pei-gunt.ou-lhe ·o
dra. Agora vdh ver, se elle é mais valente do veado:
r

que eu. - Para onde vae. você~ · '


O jaboty conheceu o logar que servi3: Q.e R espondeu o jaboty:
pouso á anta. .- Vou chamar meus parentes para me
- Então, encontrei-a ou não 't falou elle á virem ajudar na caçada grande da anta.
anta adormecida. Agora verá que sou valen~e. O veado falou assim: '
E pulou contra a anta, e agarrou-se com os - Então você matou a anta ~ Vá chamar
dentes na parte mais fraca do diabo. ~ todos, que eu fico aqui; quero vê-la.
. . . A anta, assustada. e mal f ~ri.da, acordou: .1 ; ~(~ ·~: Disse-lhe então Q jaboty: , . , <• , i ..

·: , , ·: , " - P .elo bom '.l'tupan, .Jaboty, larga! ·:" ·. ~1 , 1 1 • 't • :-('f ' \
1 '' 'l'I: ji j

' • 1 :...'1 ~ ' ~ t ( t' ~ _ Eu ,j~ me Vbu; aqui mesmo q~e~o. e~pe- ... · . ··' , \ ~ :. f: 1~;.d,
' n,,· ,: .:, '<\ :". N·ã o largo, porque quero ver a . ua va.. . L,':~ ·~ /~:~ ,
11
1 l ,,, • . •
i -
• • • · , ,, rar que a ·anta apedreça e tirar-lhe ·o osso para. > ; : ·:'..;

· ; '. .:, ,~,:" ·', : lentia, ,re~pondeu . o jaboty. . · · . .· · , f .: ta , . . . . ~ .. . t . r.


A anta levantou-se e c9rreu para ô pequeno
. azer uma gal • >. /', ,rt"' " ··· •.
~ ~
' • ! •
Respondeu o veado : . li ,

rio. Mas no fim de dous dias morreu~ - Você matou a anta; agora queria eu
- Eu te matei, ou não~ falou então o ja- t

apostar uma carreira com voe~, para ver se e


A ,

.. boty. Agora vou buscar os meus parentes para valente.


que me ajuqem a te comer. ~ Tornou o jaboty:
:
't
-92- 9~ -
• -

- E spere por mim aqui ; vou ver por onde O veado estava seguro da victoria, con..
'
hei de correr. fiado n as suas p ernas .
Replicou o veado: O p ar ente do jaboty gritou pelo veado. O
- Correndo você p elo outro lado,
, deve res- veado r espondeu para quem lhe ficava atraz,
ponder, quando eu gritar. '. f ala11do assim:
.Disse então_o jaboty: - Eis-me que aqui vou, tartaruga Q.o
- Já vou indo. r~
matto.! · ·
O ~eado falou:
'
'
, !
' . '
".

.
O veado correu, correu, cerreu, depois gr1- ·
- Nada de demoras. . . Quero ver a sua
tou : - J"aboty ~
valentia. • '
" 1
~

Outro par ente do ja~oty r espondeu sempre


Tornou o jaboty: .
de deante.
- E spere um pouquinho; de~xe-me chegar
O veado disse :
á outra banda.
Logo que alli chegou, chamou todos os seus - Aqui vou, jaboty !
parentes. Postou-os a todos pela margem do O veado correu, correu, correu e gritava:
pequeno rio para responderem ao tolo do vea- - Jaboty~
do. Depois gritou assim: R espondia sempre adeante o jaboty.
- Oh, veado! você já está prompto ~ Disse então o veado :
' ' 1,
O veado respondeu: - Jntl ai~da vou beber agua.
-:-:-· Sim, estou prompto. E ficou calado.. .
Perguntou · o jaboty :, O jaboty gritou, gritou, gritou ... Ninguem
, - Quem é que vae na deanteira ~
' '
'' lhe respondeu. Disse então aos seus compa-
Riu-se o veado: , nheiros:
- Tu vaes mais adeante, jaboty. - Aquelle sujeito, por ventura, morreu ~
O jaboty não correu; enganou o veado e foi D eixem-me ir vê-lo. Vou sorrateiro, para es-
collocar-se mais adeante. preitá-lo.
'
-94-
.;l • '

Quando o jaboty sahiu na margem do


disse com graça: ,
- Nem sequer cheguei a suar ...
Chamou então pelo veado: - --:\!'eado !
'
:!\ias o veado não deu resposta. COMO 'o JABOTY SE VINGOU,
Quando .os companheiros do jaboty olharam DA O;NÇA
para ,o veado, exclamaram:
. · ~·Coitado, é que está morto!
·Disse o jaboty:
- ·Vamos 'irar-lhe a ca)lella.
,' •
Os outros perguntaram-lhe:
• - Para que é que tu a queres~ - Venham! meus parentes . . . Venham!
Re.s pondeu o jaboty: gritou o jaboty, quando matára a anta.
- Para fazer flauta e assoprar por A onça ouviu o chamado e perguntou:

em qualquer tempo. - O que estás gritando, oh jaboty ~ .
O jaboty respondeu:-:- Estou chamando os
meus parentes para comerem commigo a mi-
nha ·caça gra:qde, a ·anta. . .· .. ," i~: .!.
1

-Quêres que ,eu parta a ·anta para vocês ~ :."·~1- <·,.~~: ••


•' 1

O.' jabo'ty acceitou ~ 'd isse: i.,


· . " . : · .. ·... 11·.: <j' ·• );<<
Separa uma 'b anda para ti, outra para ~ '..·~i~·:,· ~~~.
1

Então vae tirar lenha, que eu já dis-


tribuo a anta.
Mal o jaboty tinha sabido, a onça carregou
a caça e ~ugiu. \
1
'- 96 -
J • •
Quando o jaboty voltou, encontrou apenas ,
I
..- 97- - I

as entranhas da anta. Disse comsigo:


- Deixa estar! Algum dia encontrar-me- III
hei comtigo 1
O coitado do jaboiy permaneceu dous dias
.\ nos galhos da arvore e não pôde descer. .
• '
I
II .. . . Nó te.r ceiro dia appareceu por alli a onça .
• E~la olhou para cima, viu ·o jaboty e pergu~tou: .
· . :. . . . Oh, .jaboty, ·porque foi que subiu~
O jaboty andou lo:qge~ á procu·r a da onça. . ..:__ Pçr causa das frutas desta.arvore.
1

No segundo dia encontrou-se com o macaco, .A onça, que estava com f orne replicou: -

que estava comendo as frutas de uma arvore, ·nesçaf . · ' •

e disse-'l he: - Apare-me lá; abra a sua boca, para que


- Macaco, jogue algumas frutas ao chão, · eu não caia no chão e me machuque.
estou com f orne. ·O jaboty pulou, e com tanta força foi de en-
O macaco respondeu: ~ contro ao focinho da onça, que a diaba morreu.
- Suba! Você por ventura não· é .gente
para tanto~ . : . IV
- Sou gente, sim; ·m as não quero . "· i • •

porque estou cansado. · .. ~· ·.~,.~~~ ~.·';~· . .'~ .. : Qu~:çd,? 'tinha morto a onça, o jaboty.'espe-
- O unicp .favor qµe lhe posso fazer, .é ir , rou ate, q.u e o cadaver apodrecesse. Então· ti~
buscá-lo lá em bai~o e carregá~lo para ·cimã.' ~.. ··. · , .rou a canella para della fazer uma flaut~, e
- Pois então venha me buscar, disse o ja-1'.. , andou pelo matto, tocando a sua flauta e can-
boty. - .. · '~Jr tando :'
O :r;nacàco desceu e carregou-o para cima, 1
- Ih ! Ih ! O osso da onça é a minha flauta!
mas depois o abandonou. Isto ouviu outra onça. V eiu ter com 0 ja-
,, boty e perguntou-lhe:
Lenda dos Nossos Indioa
,
• <

~98 - .. •
- Como tocas tão bem na tua flauta! (

Respondeu o jaboty: - Eu toco assim a


minha flauta: "0 osso do veado é a minha . .
fl aut a,..l h , i.h . . .
,,~ O JABOTY APOSTA COM O GAMBA'
A onça tornou: - A modo que nao -
assim que eu te ouvi tocar. .
Despon·deu · o jaboty: - Arreda-te mais ·~· : 1
i
(

O jaboty metteu-se por um buraco ~ · den-


lá um pouco; de longe te ha de p.a recer mais · ": tro, tocou a sua flauta, e pôz-se a dançar:
bo11ito. , • · •
O jaboty procurou. um buraco, pôz-se na _· ·~ Tin, tin, tin . . .
soleira da po~ta, e tocou na flauta: - O osso Olô, olô, olô ... ,
da onça é a minha. flauta, ih, ih !
Quando a onça· ouviu isto, correu para o pe- / .V eiu o gambá, e gritou por elle:
gar. O jaboty metteu-se ·pelo buraco a dentro. - Oh, jaboty!
A onça enfiou a mão pelo buraco, mas ape- O jaboty respondeu : - Oi !
nas lhe agarrou a perna. - V amos ver qual de nós póde ficar de
Deu o jaboty uma risada, e disse: ": jejum por mais tempo~
- Pensas que agarraste a minha perna, ~ - Vamos, gambá! quem vae adeante~
agarraste a raiz de urr;i ·páo ! .. Disse o gambá: - Tu, jaboty !
A onça replicou-lhe: -- Deixa-te estar! -:----- Está bom, gambá; quantos annos são ..
Largou então ·a perna .do jaboty. precisos~

O jaboty riu~se outra vez e disse: ' O gambá respondeu: - Dois annos.
-_ De facto era a minha propria perna. Então o gambá fechou o jaboty no fundo do
A grande ,tola da onça esperou alli, ta:p.to buraco; depois que acabou de o fechar, disse:
esperou, até que morreu. - Adeus, jaboty ! eu vou-me e~bora.
\
-100 -
- 1'01 -
Passado um anno, o gambá voltou . e
·_ Oh, gambál .
chamou:
E ste respondeu :
- Oh, jaboty 1
- Já estão amarellos os ananazes, jaboty 1
O jaboty respondeu: - Oh, gambá ! já es-
Replicou o jaboty: . . ·
tarão amarellas as frutas do taperebá ~ ,
- Ora! ainda não estão, gambá. Ainda an-
O gambá ~eplicou: - Ainda não, ja~ot!.; . '
dam agora a roçar. Eu vou-me embora! Adeus, . " ·~ •
agora os taperebazeiros estã? apenas em . flor. ·~ b, ' . '
, 1 ''.i''f t~ -r. p,f.i. •
'
1
1

··~
1
amigo gam a. · • · 1··" ·)1:" · ,:1.,.., ·..
11 t .. ' • \f•, .,, ' '

Adeu~ jaboty, ainda me vou desta vez~ · • ,, , ,l

D.ois annos depois, o jaboty -voltou. e cha~ ' '. 1 1 i·~;),·_.·1 1 •


Qu~n.do foi · Q temp() do j~boty sahir, ~ , \ i(
'

· ./..
' '

'l "
• "',''

.mou: · .

.

... •
1 j
~ 1
' í '!

~ 1.
'
)'
• l

gambá veiu, •chegou ,á boca do buraco, e '1

- Oh, gambá ! "


chamou.
T.u do calado. O .jaboty chamou segunda
Perguntou o jaboty: - Já estão amarellas
vez. Tudo calado. Só sabiam moscas do fundo
as frutas do taperebá ~
do buraco. '
O gambá respondeu: -Agora, sim, jaboty,
O jaboty abriu a boca do buraco e disse :
agora na verdade já estão ; agora, sim, está
- E ste diabo morreu!
em baixo da arvore grande porção d'ellas.
· . Puxou-o o jaboty para fóra:
Sahiu o jaboty e disse:
· - , Eu bem te tinha dito, gambá. Tu n,ão
- Entra agor;;i, gambá ! ~!
eras gente para . medires forças commigo t·
O ga~bá respondeu : - Quantos annos· sã? '. .
De~ou~o ficar e foi-se embora.
precisqs,."jaboty~ · . · · · . . , · · · . 1'. '" ., '

O jaboty respo;ndeu: ~ Quatro
gambá. · . . . .
O jaboty metteu o gambá no fundo do, bu
raco e foi-se ~hora. Um anno depois, o jaboty
volto11 para falar com o gambá, chegou á boca
do buraco e chamou:
' .
I

O gambá tomou a flauta do jaboty, tocou, ·


' ;. .
se pôz a dançar, e achou muito bonito; depois
largou-se, de carreira, com a flauta. o j aboty
O JABOTY E O GAMBA~ quiz correr atraz delle ; mas não pôde e voltou
para o mesmo logar onde estava e disse:
--:- D·e ixa-te estar, gambá ·! Não te dou muito
.tempo que não te apanhe. · • . '..
Conia-se que o jaboty tinha uma flauta. U n1 Foi o jaboty p~l,o matto a f óra, chegou perto
dia quando elle estava tocando sua flauta, o do rio, cortou madeira para fazer uma ponte
gambá foi escutar e disse-lhe: · para passar; chegou á outra banda, trepou,
- Empresta-me . esta flauta. 1
cortou da arvore do mel, tirou mel do páu, vol-
- Eu, não! respondeu o jaboty; para tu tou para traz, chegou no caminho do gambá,
:fugires com a mi"Qha :flauta ... encostou a càbeça no chão, pegou no pau de
O gambá disse: m~l e untou com elle o rabo. D 'ahi a pouco o
- Então toca, para eu ouvir a tua flauta. gambá chegou alli e olhou para aquella agua,
O jaboty tocou assim: que parecia tão lustrosa e tão bonita. E disse:
. f.in, f.in.' , . t o e, mel .
Ih . . .. i. . . . . i. . . . .' is
F in, -

Culo, f on, fin ! Outro gambá obs~rvou:


Disse o.· gambá:,
,, .
- Qual métl ~ nada, aquillo 6 o rabinho do·
, ' ' i ' I' .l
· ·
..._ r

jaboty. ..
- Como .ês tão formoso com a tua flauta, . · O outro -respondeu:
jaboty. Emp~esta-m'a um bocadinho. - Que! o rabinho do jaboty ! Como é que
o jaboty respondeu: ' isso não é mel~ !
- Pega lá! Agora não vae fugir com a mi- Com a muita sêde com que estava metteu a
nha flauta; se fugires, atiro-te com esta cêra lingua nelle. O jaboty apertou as casças, e o
.
em crma. gambá gritou:
104-

- Deixa a minha língua, jaboty t
Disse o outro gambá.
- E' o que eu te disse. E' o rabinho do ja-
boty; tu disseste: .Como é que·não é mel~ O GAMBA'· E A ONQA
Disse então o jaboty: '
r ' ..
- Han 1 han 1foi o que eu te 4isse, ou não~ · ·. ·l

,Cedo te. apanhei. Dizem que tu, gambá, ~s :~ ;~,w·: I. "


~

muito esperto! Que.é da minha flauta~


• ~

. \ ·· ·.f. · .
)
1
+' /
•'.

o gambá respondeu~ 1

r !. ~:.:
' '
• •
- Não está aqui, não, jaboty 1 Um dia o gambá estava passeando, quando
O jaboty insistiu:
ouviu um ronco: - U. . . U. . . U . ..
- Tu bem que a tens ahi, dá-me já, senão I
- O que será aquillo ~ Eu vou vêr. .
te aperto mais.
O gambá não teve remedio senão restituir E chegou-se a uma cova,, na qual se achava
a flauta. uma onça.
A onça enxergou-o e disse-lhe :
- . Nasci dentro deste buraco, e agora não
' . .pos.so sahi~. ~-Tu me ajudas a tirar a pedra~
..:. O gamb᪠aju4uu, a onç~ sahiu, e, o ga,mbá ·
perguntou.:.l he: - · Quanto ·me pagas' ,
A onça, que estava com fome, respondeu !
i - Agor.a eu vou te comer.
Agarrou. o gambá, e perguntou-lhe:
" - Com o que· ~ que se paga um beneficio~
O gambá
.. ~
respondeu ;
t
- 10~ - -~7-

, - O bem paga-se com o bem. Alli perto ha "xáu", "xáu", "xáu" ! Olhqu; era o gambá que
um homem que sabe todas as cousas; vamos estava tirando cipó.
lá perguntá-lo. Quando o gambá a viu, disse: - Estou per-
Atravessaram para uma ilha; o gambá ,. dido ; a onça agora, quem sabe, me vae comer!
contou ao homem que tinha· tirado a onça do Mas assim falou á onça: - Ahi vem um
buraco e que ella, em paga disso, o queria vento muito forte; ajude-me a tirar cipó para
comer. me amarrar n 'uma arvore, se não o vento me
Diss~ a onça : carrega.
••
- Eu quero comê-lo, porque o bem se paga A onça ajudou a. tirar cipó, e disse ao
com o mal.
1 '

\
gambá: -Amarra-me primeir~; eu sou maior,
O homem reflectiu. o vento póde me levar anteis.
- Está bom; vamos vêr: a tua cova. Disse o gambá á onça que se abraçasse com
Elles tres foram, e o homem disse á onça:
, . ,
um pau grosso; amarrou os pes e as maos e
-
- Entra, que eu quero vêr como estavas. disse : - Agora fica ahi, diaba; que eu já me
'
A onça entrou, o homem e o gambá rolaram vou!
a pedra, e a onça não pôde mais sahir. O ho-
mem disse então: '
-- Agor~, sim, tu fie.a~ sabendo que não se III
faz 9 bem sem saber a quem.
' 1 1

· A qnça ahl ·ficou .; os outros foram-se. ,


Passado tempo, vieram os cupins e começa-
II ram a fazer casa no páµ.'.em que a onça estava.
A onça disse: -Ah, cupins ! se vocês fossem •
A onça sahiu afinal do buraco e disse: gente, roiriam logo este cipó e me soltariam.
- Agora vou agarrar o gambá ! Andou, e Os cupins disseram: - Nós soltamos você,
:passando :pelo matto ouviu um barulho - e você depois nos mata.
-1~-

Disse a onça:. - Não mato. 'A onç disse:-Agora eu pego o gambá,


Trabalharam os cupins toda a noite, e na porque vo tocaiá-lo no poço d 'agua.
outra manhã a onça estava solta. Estava com
Quand o gambá ;veiu, olhou adeanter e
f orne, comeu os cupins, e foi no encalço do
~nxergou a bnça; não pôde beber agua, e foi-se,
gambá.
pensando como beberia.
.Yinha uma mulher pelo caminho, · com um
f
IV. . . pot~ 'de. meJ na cabeça. o gaµib,á deitoit-s'e 'no
• 'j ! '

í,; ",•' ·.' . . '


r ' i t, ' •t ;'t l~
<' \: ~i
I' 1 . '
• í
. 'caminho,, e fingiu-se de. morto. A mulher a,r re- ". ,,. : ,! " '. • 1
;

('
dou-o e. passou. Então o gam-eá correu pelo
'

Com medo, o gambá, só andava de noite. A cerrado, sahiu adeante no caminho, e fingiu-se
onça armou um laço, limpou o caminho, e, outra vez de morto. A mulher arredou-o, e
quando o gambá chegou, ·ella disse-lhe: - Eu
passou adeante. Mais adeante, a mesma cousa.
limpei nosso caminho por causa dos espinho~.
O gambá desconfiou e disse : :._ Passa A mulher chegou e diss~e: - Se eu tivesse apa-
adeante: nhado os outros, já teria tres.
Quando a o.n ça passou, desarmou-se o laço. Arreou o pote de mel no chão, pôz o gambá
'

O gambá pulou para traz e fugiu. Se o teu • dentro do paneiro, deixou-o


. ahi, e voltou para
'

inimigo f i~er algum(}) cousa e disser que f di ·. · trazer os outros. Então. o ga.mbá lar.ubuz.o-µ-~e
par,a ~eu. bf3neficio, 'nã~ confies! · ., ·, i\, . .. \ ,.' &. de mel, diitou-se por .cima das folhas · sec~as,;" , ·, 1• ·

' ' 1( .tl \ 1

. modo que ficou todo coberto , de folhag~m


" • ' 1 ,

~' , , ~·
'
j
" •'
,1

•,
'

'
~
1 ~
de ~

e pareceu outro anim'a l · qualquer, chegou ao


poço, e assim bebeu agua.
'
, , Mas quando entrou n'agua e bebeu, .as fo-
O sol seccou todos so um lhas se soltaram; a onça conheceu-o e quiz pu- .
poço com agua. lar sobre elle; mas era tarde, o gambá fugiu.
'.
"- 111 , -
- ilO - •
gambá, não entrou, e perguntou
0

VI de fóra: Ella já arrotou~


Os out os bichos responderam: Não.
. Então gambá informou: - O defunto
Estava o gambá outra vez com sêde, bateu meu avô, q ando morréra, arrotou tres vezes.
um pé de almécega, lambuzou-se bem na sua A onça . uviu e arrotou tres vezes: . . ,
resina, espojou-se sobre folhas seccas, e · foi O gambá riu-se e disse: - Quem e que Jª
para <i poço. ,A onça perguntou. , viu alguem arrotar depois de mórto ~. . •
'· - Quem és~ Fugiu, e ate hoje a onça não o pôde agar-

- Sou o Qicho :B,olha Secca. rar, por ser o gambá muito la~ino. ·
A onça disse: - -Entra n 'agua, sahe, e de-
pois bebe. '
I .
O gambá entrou ; desta ve~ seu disfarce
não boiou, porque a resina não se derretell:
dentro d'agua; sahiu, e depois bebeu, e assim .
'

fez sempre até chegar o tempo da chuva.

'
VII i. t ·\

1 • ' ,, ~1 · ..
f ' . .1 . .J •i .
• . • ' •
:\' ><};
t: 1~ ,ri:
'
I
..
. ' "
Disse a onça: - Eu vou fingir-me de mor- ' ,~ ~~·· . : 1~
f ' ' , V •

". " . : , I

ta, os bichos vêm vêr se é certo ; o ga~bá : "".·: Â.·-.·· , ·,: · "

tambem, e então eu o pego. ,., ~~· i j 1 \ .


Os bichos todos souberam que a onç3: '
morreu, foram, entraram na ~ova della, e r

disse~am: - A onça já morreu, graças sejam


dadas a Tupan, já podemos passear!

'
_..;,. 113 -
• •

gambá, e foi outra vez fin~ir-se


no caminho. ·
em chegou e disse: - Diabo leve
tantp ga bá morto! Agarrou-o ·pela poi;tta do
rabo é aI 'e messou-o no meio do màttó. • 1

Disse tão oigambá: -Não se deve,cansar 1 :) • ,

a . qrUem · 1io~ . faz :'lf.em. .


1 1
'1 1 1 • ' '
' '
o 'g ambá foi deitar-se no caminho po1~ onde
' /' ~
\;
' " '
'!' (' _l :,

' (
I 1 f '

,11'
jj(.
't!J'

.
J ' t' \ (J • ~~
•' '..- l 1 '1 \
t\ (
o homem tinha de passar, e fingiu-se de morto. 1 f j


,

"I
.. .. .,,
Veiu o homem e disse: - Coitado do gambá !·
Fez um buraco, ent~rrou-o, e foi-se embora.
Correu -o gambá pelo matto, passou adeante
do homem, deitou-se no caminho, e fl.ngiu-se
de morto.
Quando o homem· chegou, disse: - Outro
gambá· morto! Coitado! \


Arredou-o do caminho, cobriu-o com fol~as,
e seguiu' adeante. · . .
.., ' ' ' ,11

O gambá correu outra .ve~ pelo' cerra;do~ ·dei-·"t


tou-se adeante no caminho, .e fingiu-se . de;
morto'. 1

Chegou o homem e disse : Quem terá ,


morto tanto gambá ~ Arredou-o p,a ra f óra do ·
caminho, e foi-se.

Sem demora appareceu-lhe o avô do peixe
tucumaré. O velho gambá saltou sobre o
\ ,
peixe, mas este aparou o bote e engu.liu o

velho.
o·_GAMBA E O ARIRAM A velha correu para .-asa, gritando: .
. . ·: · . - Uh ! meu marido. Min4a filha, o peixe 1

·'
l •
.
'
t
1

,
!:'

t'
avô já enguliu t~u pai.

4,i ~. i.:.
i'r
l'J 3' ' ,
'(
~ ,


,,
t: ' \ ,1c~i
' 1 ' '
;, · Disse a filha a .seu 'm arido:
• .... t '<1' •
O gambá tinha uma filha ca~ada co.m o ar1- · ,,' :: ':
ramb.a (Martim pescador), que, ia ao !io .e ao .. ·~~
ae ver meu pai que o peixe enguliu. . .:.__ ·v
' O ariramba subiu no páu~ e sem demora '
lago frechar peixe. A' margem do rio havia '
um páu inclinado, de éima do qual esperava ·o .
appareceu avô do peixe. O passaro frecl1ou-o; o
puxou-o para t€rra e disse á .mulher:
peixe para frechar. Voltava sempre muito de-
. - Traz e a faca.
pressa, quando J?lenos a sogra esperava. Um
Pegou na faca e abriu a barriga do peixe.
dia, o gambá ohamou .a filha.
Achou nesta o sogro gambá, já quasi a n1orrer.
-Minha filha, como é que tet1 marido p:iata Dizem que, por isso, o gambá ficou com o
peixe~ ,. rabo feio, e de .máu cheiro: rabo feio, porque
- Como lJ.a de .ser, meu pai~ Sobe no 'p áu · 0 peixe o pellou, e'. de máu cheiro, devido ao
.t

que está inclinado sobre o l"io. . , . ·..,,., ·~ .;. ;/~ · . ,, .calor da barriga do peixe~
. ' .\ ' '". 'i y1 ifi)·\ t~ i. ·, <

_..E' assim~ Assim eu tambem mato , pe~x~..\;1~


:·• ' ) · '

;t,, 1 1

.
.• • '. /:·

. ., - ~

Chamou, então, a mltlher e disse-lhe: · ·,. <. : .~.


' ' '

- Velha, vamos frechar peixe~ , /'~'..,. .


- Vamos, velho.
Os dous foram para o rio, e o velho gambá
subiu no páu e esperou pelo peixe.
- 117.-

mas córto o vento. Você, amiga raposa, e com..


padre gambá, é que tê~ de se
vêr h,oje; .se
.ella pegou em compadre c_a rneiro, que e maior
••
do que vocês, quanto inais em vocês !
Chegou à. )lora d.e ceia. A .onça convidou os
t ' ' ·, ' ~ seus,P,ospedes para cearem. Só a raposà é que ~, ., .. . ~ .·.
Amiga, raposa convidou· amigo urubú p~rà' ·.;'. '
.~ '
pôde .cri6er, per caus3t do feitio do pr~~º·'· ·., ' "\"",.·;,;~~
,faz~renfuma· viagem; a raposa convidou o ·gi\m"-
(

'A' on,· ~:a· fez ais Iningáo e espalhou nn~a · ·,: "~·· '~ '~..'.!L
1
J, - .. '.·,'. ,. • · ·l
f'' ' 1';!f
m
··
1 ' < Ir - 1 ~ ~,

bá para aeu cempanheiro, ' e o u'rubú convidou ~ 1,/ í :pedra, 'e' 'ª raposa tornou a lamb.e r ~ Depois o' ' '' I~ ·~ :. ! '

o caracará (gav1ão). Partiram. Quando chega- - , · . ·,· " . ·~ . • ' . .s 1

• 1 {
urubu disse : ;1.w"""'
ra~ no meio dos montes, veiu a noite, e foram · · - Comadre onça, eu não acho . boa esta
pe.d ir rancho na ·casa da amiga onça. A onça mo<Ia: quem lambe come, quem penica com
andava por fóra, atraz dé um rebanho de car- fome fica?
neiros, e chegou á casa muito tarde, trazendo · Foram todos dormir. O Úrubú disse para
um grande carneiro morto. Os hospedes, que . o .caracara:
, .
se achavam em casa, ficaram com medo. - Nós havemos de ficar com fome.
N
Disse a raposa: - Compadre urubÜ, as
1
Quando a. ~nça pegou no somno, o urubú 1
cousas nao· estão boas. ,, agarrou nos filhos da op.ça e os devo~ou com · ' 1
/. _

tJisse o caracará : - Ora, esta. é bôa, nos, ., ' .:' 'Q bíQO, ~ 'c aracará fez. o mesmo. Safaram~se, ' ,..: ' :"}. ·.: "'." .~ ~7
',~1 .i:-,11.·" :· cl.eixan.do a 4raposa e ·o g~mb~ dormiµdo. ': Quan~ ·: ~ '.• ·'·<)$ ·r·, ·.~·,.:~ ]·:·.
~ 'Í

!;.~~,. f}: '., "'; ·,. ~~o. ten:ios de. que· temer,; mas você, comádre'." §
' 1 •

;~ , i;.~/!'::r · , raposa, ·é que deve estar em eita, sem ter ond~


·' ' f 1 ' , 1 • ' 4 ·,· •
. 1 't ~ . \I•\,,~·,
<f" ' h 1• • ,

'f • l
do a onça acordou, pi:~curou os filhos e so ·viu (1t .~· ' · ,:, 1, · •• · 1
i ;J1. r~ ,· se metta ! os ossos, e investiu para a rapos~, que escapou ·
4- raposa deu uma gargalhada e disse: · e foi ·á procura de seus companheiros de via-
- Serei eu peor do que compadre cachorro' gem, que encontroU: -na ,casa do m~caco.
O caracará! - Commigo niriguem póde ; nã9 :A raposa: ...-- Agora é occasião de vingar-·
corro por terra, porque ~ão córto bem o -chão; me do que vocês me fizerftm. ·
\

-.11s -
'
Mas como era hora de jantar, ella esperou.
No fim da janta viu um cachorro, teve medo
e despediu-se. Foram o urubú e o caracará ·
para casa do gallo, e a raposa já lá estava, es-
perando pela ceia.
A ()NÇA, O VEADO E O MACACO
Chegada a hora, foram todo$ .c ear. O gallo
.~spalhou milho p or toda a casa e disse : '\

' ' •
"V·e nham de bico ' '

Que m.~ despico : Uma vez, amiga onça convido~ amigo veado
Quem tem focinho para ir tomar' leite em easa de um compadre;
'

Nem um tico." o amigo 'veado acceitou. No caminho tinham


de atravessar um riacho, e a onça enganou o
A raposa meio desconfiada : " veado dizendo que elle era muito raso, e não
tivesse medo. O veado metteu o peito e quasi
''Façam o que qu1zer,
.
morreu afogado. A onça passou por um logar
Durmam vocês, é que se quei:." ' f
mais raso e não teve nadá. Seguiram. Adeante
'
· Foram todos dormir, e a raposa foi con- encontraram umas h.a naneiras, e a onça disse
'

vidar mais amigas para virem dar cabo de sétis · ao veado' :.


"

i11imigos. Deram cabo de todos, mas deixar~iÚ; . · '.__ Am~go ve,ado~· vamos . comer bananas;
o gan1bá, por ·ser de muito mau cheiro.
1 '
"·. ·; ·~. ' você suba, coma as ver·a es, que são as. me-
' lhores, e me atire as mad.u ras.
'
Assim fez am1go veado e não pôde comer
nenhuma, e a onça encheu a pança. Segt1iram ;
adeante encontraram uns trabalhadores capi-
nando uma roça. Disse a onça ao veado :

- 120 --

Amigo veado, quem passa por aquelles
aparou o sangue numa cuia, comeu a carne,
trabàlhadores, de~e dizer: "Diabo leve a quem ·,
voltou para casa, largou a cuia de sangue ~m
trabalha" ! ·
cima do veado para o sujar, e foi-se deitar.
Assim foi; qu~ndo o veado passou Quando o compadre foi ao curral, achou uma
homen~, gritou:
ovelha de menos. Foi vêr se tinha sido a onça,
- D~abo leve a· quem 'trabal4a ! •
e ella lhes, respo:rideu : --, .
' · Os, traball;lado~es largaram-lhe· os caÇhó.r- ,e, k,_ - Eu·não, meu compàdre, só ·se foi amigo
( . .
' '

ros, e qua~i o pegaram. A onça, 'q uan'do :pass'ou·;.~ .


1 .li'' t •

veado, yeja. bem··.que eu ~ estou -limpa. .,


disse: ·O homem foi' 'á ·rêde do veado e achot1-o
t ' .
- Deus ajude a quem trabalha! ,. •
todo sujo de sangue.
Os homens gostaram d·'aquillo, e deixa- - Ah! foi você, seu ladrão~. r ,
ram-na passar. Adeante encontraram uma co- · Metteu-lhe o cacete até o matar. A onça
.. brinha coral, e a onça disse: bebeu. bastante. leite e foi-se embora.
- Amigo veado, olhe que linda pulseira Passados tempos, ella tomou um capote em-
para você levar á sua filha! prestado ao macaco e convidou-o para ir tomar
O veado foi apanhar a cobra, é levou uma leite em casa do mesmo compadre. O macaco
dentad~; pôz-se a queixar-se da onça, e ella .acceit.ou a .wrtiram: Chegaram adeante, ·en-
lhe respondeu~· · . , ,, contr~~am o .+~acho,. e a on~a disse .:
~ i· (. , i.' _. A • 1, ·.• ,• • A

- ~igo n,ia~aco; 9.) 'iacho ,e :raso, e voce


• .. 1 ...

. · . / ~· Quem manda ,você ser tolo~ ~' ·.· · · ' v r .t;::~;·~ ··.1 •

,.
1
• •· Afinal éhegaram á casa do compadre, p.a ·,; 1,;~ ~':"
'

·
' j
1
! ~· ' 1. i
. :p asse' adiant~' e 'por ·~anr: ~' "./_ .· ' . ·.'

·.
1 • J \

onça; já era tarde e f oratri dormir. O veado ar...:, .~ ~ Respondeu o macaco·: Y.


·- Ah! você pensa.qtie eu sou co~o o veado
mou sua redinha num canto e ferrou no somno.~~"
que você enganou~, passe ,adeante se quizer,
Alta .noite, a onça. se l.e vantou devagarinho, na . '

pontinha dos pés, abriu a porta, foi ao curral senão ·eu volto ...
A onça, que viu isto, passou adeante. Quan-
das ovelhas; sangrou uma das mais gordas~ .'
do chegaram nas bananeiras, ella disse:
1

_.§ 122 - - 123. -

~ Amigo macaco, vamos comer banana~ ; - E não quiz o macaco pegar. Afinal chega-
voce coma as verdes, que são as melhores, e · ram á casa do compadre da. onça e foram-se
me atire as maduras. deitar porque já era tarde. O macaco de sabido
- V amos, disse o macaco, e .foi logo tre- armou sua r êde bem alto, deitot1..:se e fingiu
pando na bananeira. Comeu as maduras e ati...: · que estava dormindo.
,
A onça, bem tarde, sa-
1

rou as verdes p~ra a onça. Elia .ficou desespe.,-. · · hiu na ·pontinha dos pés, foi ao chiqt1eiro das
ràda ,e disse: · · ., ' "··1i: ovelhas, sangrou a ~ais bonita; comeu a carne, '
..- Amigo macaco, .amigo 1nacac0 ! e foi com ·ª cuia· dei s.â ngue para derrarltar no
boto a unha! macaco. Elle estava ~·e~do tudo, deu-lhe com o
'
- Eu vou-me embora, se você péga com pé, e o sangue cahiu todo · em êíma da onça.
historias. .. Quando foi de manhã, o d.Pno da casa foi ao
'

Assim respondia o macaco e foram se- curral, e achou uma ovelha de menos, e disse:
guindo. Quando passaram pelos trabalhadores - Sempre que a malvada desta comadre
a onça disse:
. .' dorme aqui, falta-me uma criação!
1L . ' encont rou o ma-
, - Amigo macaco, quem passa por aquelle~ argou-se para casa, e Jª
homens, deve dizer: "Diabo leve a quem tra- caco de pé e apontando para a onça, que fin-
balha'.' ; porque alli elles estão obrigados. .. ,· gia estar dormindo. O homem vendo-a toda
1

O macaco, quando passou, disse: · . . suja de sangue, di'sse : .


~ Deus ájude á quem' trab!llha · ' , ' :t $Jl·"''.~ - ~Ah t é você~ s~a diaba!
' ....,, ' ' • '( ' ' 1 •

O.s trabalhadores ficaram satisfeitos, e d~k ,~~ ·~ ~ Deu:-llie um tiro e matou-a.


' ' '.
O macaco be..: ·
·xaram-no p~ssar. · A "· onça passou' tambení. beu muito leite, e foi-se embora muito satis-
Adeante avistou uma cobrinha de coral' ·e diss "'' feito.
.
ao macaco:
- Olhe amigo, que lindo collar para sua
filha I apanhe e leve. .
Pegue você!
No outro dia a onça, achando a casa prom-
p ta mudou-se para ahi, occupou um cornmodo,
'
e poz-se a dormir. '
·V eiu o veado no outro dia, 'e occupou outro
comrnodo. , ··
De manhã acordaram, e, ao se avistarem,
a onça disse ao v.éado: - Era. você .q ue e:Stava ,
• 1
.. 1 '
..
.'J.l
me ajud~D;d9 i 'º
,ve'ado resprindeu1: ~~ra eu,
~ t~,-
mesmo. Disse a:onÇa: - Pois bem, agora va~·
1
1 ) '

Disse o v~~do : -:-r Eu estou passando m'tlito' ,~. '.·


mos Ínorar juntos. ' 'o veàdo• respondeu: -
·trabalho e por isso v9u vêr um logar para f~- ··lfi. ~.
Vamos.
zer minha casa. Foi pela beira do rio, achóu ·
No outro dia disse a onça: - Eu vou caçar.
um logar bom e disse: - E' aqui mesmo.
.Vócê limpe os tocos, veja agua, lenha, que eu
A onça tambem disse: - Eu estou passando hei de chegar com f orne.
muito trabalho e por i~so vou procurar logar Foi caçar, matou um veado muito grande,
para fazer minha ca,sa.' Sahiu e, chegando ao trouxe para casa e disse ao seu companheiro:
mesmo logar que o veado havia escolhido, disse-: - Aprompte para nós jantarmos.
.-- Que bom .Jogar; ·a qui vou fazer minha easa.. ' • • j o :veado ap~omptou, mas estava triste, não
·1~ '.i ." ,No dia seguínte veiu o veiad.o; 'q apinou e.rq1'. ·',: ~1 • •
qu1z· come~' ~. ,de noite não dormiu 'com' medo .
f ~/ "fÍ '·~ til ; ~r' ~ , , +1,, , , .! , , ·~ '~

. , "'(lo11ologar . ' .. . ,,,' • , , ,, ., ... ;~


·.1 1 t ' ' '· ' '

·~''!:'·
' t' t j •;. , ! '1, '

M' ~l~'' /.. :,!t ~


"
· ~ ,._. . • t.\. ' . ;; •. , , • . ·' ·; que 'a ,onça ·o ·pegasse. · :· . , · · ·
.,·· a
•·,,; t i 1 f l t ' l' '' ' \ <'\

>1.~'.·, :, 1.:'- . . : . No outro dia veiu onÇa e di~se:.'~';Dupan:~ J" : .......


1
1 l1

, <l.l'l.i '\ r . , , , ,
O veado foi ·. caçai" no outro dia, encontrou-
,
.~. J·'.:. ..· , '. , '. me ,está ajudando. Fincou as forquilha~,, ar:.- " . · se com outra onç~ grande e depois com um ta-
.
mou. a casa. . . ~anduá; disse ao t3:manduá: ...._ A onça está
J '

V eiu no outro
. dia o ve~do e disse: -Tupan '
alli falando mal d_e você.
· me está ajudando . .Cobriu. a aasà e fez dous O tamanduá veiu, achou a onça a~ranhando
commodos: um para ·s i, outro pa,r a Tupan. um páu, chegou por detraz de vagar, deu-lhe
'
..
' •
um abraço, metteu-lhe a unha, e a onça
morreu.
O veado levou-a para casa, e disse á sua
companh€ira: - Aqui ~está, . aprompte I>ara /

nós jantarmos.
A onça apromptou, mas não jantóu, porque A ONÇA .E O CACHORRO DO MATTO
ficou triste.
, Quàndo chegou a noite, os dous não ; \

.,
miam, a onça espiando o vea~o, o. veado es~ •
7
. a
piando a onça. . O veado foi morar em ccfmpanhia do ca- .
A' meia noite estavam elles com muito chorro do matto.
somno · a cabeça de um delles esbarrou no 1gi- Passado muito tempo, a onça tambem foi
ráu, :f~z: tá! Á onça pensando que era o veado morar lá, porque o veado já se tinha esquecido
.. que já ia matá-la, deu um pulo. d 'ella.
O veado tambem asst1stou-se e ambos fu- No ot1tro dia foram caçar. A onça queria
giram, um correndo para um lado, outro cor- pegar o cachorro, mas não o encontrou. O ca-
rendo para o outro. chorro,. quando voltou de tarde, ~rouxe caça
pequena1 coti~; paca, tatú e inambú~ Jan-
,taram, e depoís· de jantar foram jogar. A onça,
·jogava e .dizia',: ;~ o·qúe eu caçav·a nao pudé
1\ 1
l' • ''. ·,

pega;r, ' o ca~horro jogava e dizia: - Quem • Í' !:H:"':. ~~·,.;~, 1,


.!,. r

tem perna cu,r ta não deve caçar. . Assim jo- . ."' l.,, «~ ~ '.~ ·r~; '.
garam até que a onça saltou no cachorro. O , · '
cachorro e o veado fugiram, a onça seguiu
atraz e, quando pegou o veado, este virou
pedra. ·
I •
O cachorro atravessou um rio, e disse para ·,
a onça:-Agora se me queres pegar, só se me
jogares uma pédra. A onça ágarrou na pedra-:-
veado e jogou. Quando a pedra cahiu na .o utra
banda, grit.ou: "mé.", e virou outra vez. em
. vea~o. Foi d'al1i.. que se gerou a raiva do ca:.
' O MACACO E A COTIA.
~horr? ~ontra a onça. · ~
,'
• •
I
• 'I

• •
(
..
• •
O macaco foi dançar em casa da eotia; a
cotia, de sabida, maindou o macaco tocar, dan-
do-lhe uma viola. Começou a cotia a dançar, e,
no virar á roda, deu uma embigada na parede
e partiu o rabo. Todos os que tinham rabo fi-
caram, vendo isto, com medo de dançar. Então
o preá disse:
'
- O~a, vocês estão com medo de dançar!
,, · mandem ·tocar, e ,vão ver obra'
J , . ,,. ' ... . . •

J •
O macaco .ficou ·logo' desconfiado, trepou
n-gm banco e pôz-se a tocar para o pr.eá dançar.
""'- O preá deu u~as ~oltas e :foi dar sua embigada
\~no mestre macaco, que não teve outro geito se-
não entrar tambem na dança das cotias e dos
outros animaes, e todos lhe pisaram no rabo.
, Disse elle então :
Lenda dos Nossos Indios ·
5
.
__.._ 140

Não danço mais, porque compadre {>reá


e compadre sapo ·nãõ devem dançar pisando no
rabo dos -outros, pois elles não têm rabo p'ra
nelle se· pisar. . .
:Pulou pata/ cima da janella e de lá tocav~, . ,~ ~-
sem ser incommóda, do. "", t;: 'l . ~
.,
. Os macaco~ · bocª'"'.preta dor!n~m a1Jlont9à-
, ' 1 '

,. dos ·nas· folha~ das )?almefras. Nas nottes '.de


trovôadas ·e gr~1'.)des· 'chüvas,' os .filhinhos cbo-
,,. : ' ,. ,,. . · . ·'' l .

ra~ e gritam de · frio~ '. O meslf1o· acontece ás


mãis. Dizem então os pais: ·
1

- Amanhã faremos a nossa casa.


Outro responde:
- Amanhã mesmo.
Quando amanhece, dizem :
- Vamos fazer as nossas casas<í/
Responde. ot1tro: ·
---. Vo:tl ~omer um
' .. bocadinho aindai
' '

Ou~rqs r~spotideni:
1

'.
.,,,,.:
1
··, ~, ·1
Nós "ta·;;nbel'Y\
' l "'µ ., .p..a..•.

" ~, · "t • ~· Vão~se todós e .11ão se lembram mais


' 1

:fa.!;·.
'

de·
zer· a éasa. Quando volta a ·chuva, e que estão ,
dormindQ; então se lembram e dizem:
--:-r Havemos de fazer a nossa casa.
Algum dia, talvez, farã.o casa.
~ '
Assim faz
tambem muita gente.
• -13i-

·stando attençãq, sahiu deixando um filho to ...


ma.ndo conta do serviço e preveniu a este que
reparasse se a cotia se coçava. Esta, aprovei--
tando a ausencia da onça, virou-se para o me..
A ONÇA E A COTIA
nino e disse-lhe, para se poder coçar :
- Oh menino, ó boi que sua mãi vai me
., .,!!· "" ' dar ' 'é pinta~o· assun,. ~sim; neste logar,
< ., '
'1 ' 1

... ·u~a onça tinha uma roça, mas como esta .~·~i, :: 1 .•· dssim .. ~ e 'ahi .se: coçava a ·-vaier. •
estivesse toda coberta eo,m ·e ansanção e ell:a 1 1' '. .*'\ . O menino ·muito 'tolo i•esp.o ndia: - E'. ·
não a pudess·e roçar, reuniu diversos animaies A cotia continuava o seu traiaiho, e q11a:ndo
e disse: o cansanção lhe passava pelas pernas, orelhas,
- Aquelle qu-e me limpa1· esta r.oça s~m se ou qualquer parte do corpo, ella aproveitava..
coçar, ganhará de recompensa um boi. . se e perguntava ao menino se o boi tinha uma
O macaco foi o primeiro que se offereceu ·malha naquelle log·a r, ássim, assim, e nisto co:"'
para fazer o trabalho. ~ava-se muito; Deste modo acabou de limpa:r
Principiou a roçar, mas a onça teve de des- toda a roça e ganhou o boi. Então disse-lha
pedi-lo logo, porque elle se coçou. Veiu o veado ." a onça:
que tambem não :f~z nada. S·e guiu-se o bo~e '\,/. -. ;·'.1 · ~ Comadre· cotia, você ha de matar este.
que por sua vez tamb~m não pôde <'.On~inua1\ ·~ ;<:,;;~;,~ . . . boi . aonde :n~o p~u,7er. moscas nem mosquitos, ,; .1 h:" .'~ J.

'A final .a ppareceU tlma CO~Ía_,,diizerido que'qUe~iat· ., ;: rJ·.;,. .~~~ ' ,€ onde não CfU}tar gallo ri.em gallinha.
1

:ti:mp~r a roça,. ao que a on<;a disse comsigo: " .'. o


Ouviu..a .cotia que a onça disse e· sahiu
· · - Se _os outros_. animaes· não roçaram/~ · ·. ~ com o boi. Caminhou um bom pedaço e repa~
quanto ma1s esta eot1a.. · · · · , · :rava. ·Ouviu O· gallo cantar, então dizia: ·.
Em todo o caso a aeceitou e ella prineipio11 - Ainda não é aqui.
o seu trabalho. Limpou um bom pedaço e eomo Ca.:mjnboll durante muito tempo, e quando
a onça já estivesse cançada de estar alli pre- não viu mais moscas nem mosquitos nem ouviu
- ··~34 -

. o gallo cantar, matou ahi o boi e principiou a cipiov. a amarrá-la. Quando a onça já não põ-
esfolá-lo, ql1ando appareceu a onça dizendo: dia mais se bulir, disse _q ue afrouxasse mais
- O.o madre cotia, por f avor me dê um pe- s cipós, mas ella continuou a apertá-la, di-
daço d'este boi, que et1 estou doente. ndo que só assim ella resistiria. ao ve11to e.
1 ••

Partiu a cotia um pedaço que a' onça devo-,· ,~ 1 . 1 · ~pois sahiu correndo., . .
rou de llIDa só vez. Ái11da não satisfeita torti.o u . ', \~ 't·· .i 1 . • ··'· • t Pas$ÚU por alli 'º maca.co, e a onça pediu " · :~ . ~
t • 1,
· • '11 ' · 1 ' . R d eu-lbe. P,, in.a ·· ·· ,".'.,• . "':) ,i'1" ,i·t
anieaÇaJ;ld,~" ·!; ,.. :.;: i f' , ; .1· .. pa.:r a ,~tl~ des.amarra:-la. •• · ~
1

1,
••., o.., })edir
' • f '
'
.mais um pedaço, e isto já 1 i '
• l)l!i ' . ' I' '
. ·I '}
espon
' '

1 ' •• ' :~r,1' ,. '

.<, ·á,.cotia qe m.atá-la. Esta, como tiv~~se '.mti.i.t~ )'~ ···~,~l1itJ ,-.. ~/·. ·i·1 \ 1oa,co:.*, . ·: .. , .> • .. "~, 11
"i1 • ,. medo a :ella, foi-lhe dando a carne todas · as .,..~ '·· '· ~·~;(.~"). : , ~._:__ '.'.Deus . aj~1de a quem ahi t e botou r E 'foi , ·:...... "
• vezes ~ue pediu, acabando a. ' onça por comer- " ~1i}~ ..r ' ';y.' :.passando. ~· •
lhe todo o boi. Veiu' o ·veado_e ~ onça pediu-lhe a n1es1na
Depois voltot1 a cotia para. casa sóment~ cousa, e elle dell a mesma resposta do macaco.
com o facão nas costas, muito triste, mas pro- Com o bode acontecet1 o mesmo.
mettendo vingar-se da. onça. Prestou attenção Lembrou-se ·a cotia da onça e foi ver se ella
ao logar por 011de ella m.ais passava ~ para lá ainda e.stava viva. E sta assim que a viu, pediu
foi cortar uns cipós. · que a desamarrasse. A cotia fingiu não ser ella
Nisto appareceu a onça e p~rguntou-lhe o a autora da obra e fingindo estar muito pe.nali-
que est.a va ella alli fazendo. Ella ·;respondeu~ zada, principiou 'ª des~tar os cipós, para ver se
"'"'l~e. ~ue J!eu~ ia castigar o mundo .mandap.dç.·-,"' ·"· . , ~ . ,,, .::a ~J;;lÇ~. 1 ~ssÍin~nãQ a: Çomia. A onça, a~siffi; que se,···:
:·úp1à Y~t~~ia,.e que .e lla estava ti~ahqo ·aqu~ll~s· '/~, ,, ;\<;!· ..· ~·:,.· )~iu. ~·~attm8:;rtada, "avançou para~. doti~ e .3:. qu}·~ .·.·,
· · cípó's pal"a "se am~.rrar . A onça instou mQ.tto,) · ~- · 'f . · • ,., ~ t PEtgar;,' mas esta correu e metteu-se nu:tn buracol · 1
··'

P.~r~ qu~_ella a amar~asse primei~o, ao qU:e eilâ? : ' · •.. ·~- con&eguindo a o~ç~ ain~a pegá-la :numa per~
f1ng1u nao querer, dizendo que ainda tinha. d~f v . 1
na.1.Qt1ando a cot1a se viu com a perna p1"e.sa,
1:
.,
• • \, f • .-

para casa amarrar toda Slla fami~ia. Insis- \ :·. . 7l disse: r


t~ndo. a onça, disse-lhe~ cotia que,. como ella era , · - Comadre onça ainda é muito t.ola; pensa
Slla comadre, fazia-l~e aquelle favor; e prin- ql1e uma raiz de pát1· é minha perna.
1; 6 -
• •
f

Ouvindo isto, a onça soltou-a, e então pegou ...


na raiz do páu. A. cotia escondeu-se lá no fun- •
I ,

do do buraco. Estava uma garça pousada num


arvore· e a onça disse-lhe: I

- Comadre garça, fique botando sentido A ONÇA E A ANTA


aqui que eu vou buscar uma enxada para cavar
este buraco,, e não deixe: a eotia: sahir. ; .._ •' A f ' r ' .
A g~rça ficou lá no páu e a cotia lhe disse i ff·11
'~·: ·, • •
'
~
Oh ! ineu cunhado ,anta !

1
11
·L...
' 1 f r{ ' 1 '

1•· "1 ·, ~ ' .


- Oh ! é. assim~ quem bota 's.e ntido á cotia ·, ~
' ,,· o .que é, meu cvnhado 011ça ~
1
• '-· r ' -

vem para a porta do buraco,, arregalando ben1 i·: ' . - ' Quando eu ando de noite, os espinhos .
• I
os olhos.
es.p etam meus pés ; empr esta-me t eus cascos
A garça desceu e veiu para a porta do bu- para eu andar.
raco, arregalando bem os olhos. A cotia atiro.u-
- Aqui est~ó, leva-os; mas quando quizer
lhe de dentro uma porção de areia nos olhos e
amanhecer, traze-m'os outra vez, porque o ca-
sahiu sem que ella risse. Quando a onça che- lor do sol queima meus pés.
gou, principiou a cavar, mas nada de encon- .
Por isso dizem que a onça, quando anda
trar a cotia.. Perguntou então á garça :
Çle, nóite, faz "bulha ei a anta não, porque está
- Comad.r e garça,, aonde está comadre, co- ··
· ~ .. descalça; e de dia acontece o contrario.
' tiai. ~; d '

Esta Yespondeu,. dizoodo,: ·"· ~ ~ ~ . , . ".


' . i\1
- ·Eu :não· sei; ella me atiToµ uma porçã~L ,.'t 1 ;._.
a.e areia; nos olhos e eu. não vi mais . na~ . · ..y~ 0 ·
A onça ficou muito desapontada e fo1 em- ·
bora.
,
1~ -

. O veado corria, corria, e tornava a cantar:

"Laculê, laculê, laculê."

O VEADO E O SAPO
.
·t
,, •
. r '
'
~
, r~;,.,
,,p,
.
~ ' .
~i' ,~ ''~nlug,\1p~pgo, bango
,. ' .. 1
~· 1 1. ~
!ff
! '
!1''. ,; , rl' 1
Ir, ( l '. ',

·~ 'l'I ~ .
...

~ ~-1.. r, ~ ~

• h.
'I • 'I ll< .f. ' ' 4' '/. 1i
'' ' 'ol'\ , . ' ·' 9. ! • ' 1ifi ,· ' ,t 1 f , 1 ' ,' •
\• ! ' 1h;'
'
1 i 1
li\ -A ' I' 1 ; : lf ••, ' ' '
t , i{ '1 l~I I' ·'.. 1 1J
1. ,, . ' 1 ' . 1 " •f'
', .'' ' 1:0 "vead<'.> fic~V,a desesp erado e la1:gava-se na ·
'!

Era um dia up.1 ·veado e llm sapo que que-: ·· ~;~;:"~1 •


~"ian1 ambos C-àsar com i1ma moça. Para .Q..e~i- . ' :· :.' !".r~.
1 ~: ' '\ t 1

'
carreira, diz'endo ': •' " •
direm a questão pegaram llma .aposta. Havia ( ~;·;; · '.Y •, !
- Agora eil~ não -ouve.
duas estradas ; então o veado disse que aquelle · Tornava a cantar a mesma cot1sa e o sapo
qt1e chegasse primeiro ao fim d 'ellas, "este se respondia. Quando o veado chegou no· f im da
casaria com a moça, e que quando elle cantasse estrada já encontro11 o sapo e foi este que se
o sapo respondesse : Fico11 tudo combinado e . casou COD1 a moça. o·veado ficou desesp erado
cada qual seguiu por sl1a estrada. O -yeado es'-. ' ·1 ~\.~· e disse :
tava muito alegre julgando ·ser elle· quem ga- ··~; X:.­ ~ Aquelle ·sapo me paga.
' ,
;nliava a . aposta, mas o sapo Çle s~bido re~niu ~ . · . : E . quando foi na noite do .casamento, encheu
. ' '

' 1 1
todos os sapos, ·u m atraz . do· .011tro, .~m .t9da .~ ~
' i 1 .. 1 , .. '
1

'
. um ppço<lql)é ti~h~ n9. quintal do sapo, de a~t1a
\ .,,.. tt ' •

'1~~ < ' ~tensão. ~o . caminh.o. e, orqe119~1 qu~t . ·a~u,e~L~:( · ~ :fe,rvendo; .Qu;a•t ndo• ' 'f oi
~ ' ''
de .madt-qgada e o · sapo
1 'il .1\1 1
1
. ·que ouvisse .·o veado cantar e estivesse · n,tais'' :viü. que a moça estava dormindo,.s ahip. ·a a cama
• ' 1 • ' ' ~ • , 'I '
,, 1 · 1 ' ·
p erto d 'elle respondesse; e foi-se collocai, lá \DO ,
' .
1
• . 1
. ,. " · devagarinho e ·pulou. para de11tro·' do poço. ·
'.f im da estrada. Os sapos todos ficarant ale;r:t~· ·<-~ ·~~~~ \ ·Quando foi cahindo dentro, não Q.isse n em mais
e quando o veado ca11tava : "Lac11lê'~, "laculê'' ·:efl _ ·~ 1
• · Ai J e~us.! ... e morreu logo. O veado ficou muito
.. J •' •
"lacµlê", o sapo qtie estava n1ais. p erto respon- ~ :\ alegre e casou-se co1n a mesma moça.
dia: "Gulµgubángo";'~bango lê".
"1 • •



. <

·e os afilhados. E quando o urubú estava entr~


tido com a sapa e os sapinhos, o sapo velho en-
trou-lhe na viola; e disse-lhe de longe:
l Eu, como ando um pou~o de vagar, com•
O URUBú E O SAPO (1)
padre, 'vou indo adeante .
. E deixou-se ficar bem quietinho dentro da ·
. viola. O urubú. d ' ahi :a pedttç9, se dês}fediu da .
' '
o' urubúe. o' sapo foram convidados ' para ; " GOmadre ·e dos af~1hados, aga1ToU ria viola .. e
uma festa no céb. O urubú para debicar o sapo, largou-se para o ééo~ ·L á ·chega'1.do, lhe pergun-
foi á casa d'elle e disse-lhe: taram logo pelo sapo~ no que elle respondeu:
- Então, compadre sapo, já sei que tem de - Ora, esse moço não vem cá; quando lá em
ir ao céo, e eu quero ir em sua companhia. baixo elle anda tão devagar, quanto mais voar!
·- Pois não, disse o sapo, eu hei de ir, com- Deixou a viola e foi comer, que já eram
tanto que você leve a sua viola. horas.
- Não tem duvida, mas você ha de levar o Estando todos reunidos nos comes e bebes,
seu pandeiro, respondeu o urubú. . pulou, serµ ser visto, ü sapo de den,tro da viola,
o urubú retirou-se, ficando de voltar no' dia dizendo:· ·
· marcado par;a a viagem. Nesse dia. se apre~en-· .
' '1
' '
- ·.~1t, ..aqu;i estou!
. " tou em casa dcf ·sapo, e este o ~ec~beú. muito ... ,. ·Yf~·~. · . ' ' ' r

• ' < r t,
r ·, ! ' 1
'To~ó$ s~· ad:µiiraram ·de ver o sap~ naquellas
· bem,, mandando-o entrar para vêr sua coma.d re .. ·( · ' . :, :~
. ?'·· ' ~~~ alturas. Entrar~m a ·d ançar e brincar. Acabado
., Jl : o samba, foram todos se retirando, e. o sapo,
vendo o urubú distrahido, entrou-lhe outra vez
(1) Tambem esta lenda, colligida pelo Snr. Sylvio
dentro da viola. Despediu-se o urubú e largou-
Roméro em Pernambuco, não conserva inai~ a sua feição
original. . /
se para terra. Chegando a certa altura, o sapo
~'2
mexeu-se dentro ·da viola e o urubú virou-a de
boca para baixo, e o sapo despenhou-se lá de
ci~a, e vinh~ gritando: ·
Arreda pedra, senão .t e quebras t. . . · '
O ~rubú: - Qual ~,.! qual ~ ! compadre sapo
bem sabe voar!. . . ,
O sap o cahiu e r alou-se t odo, })Or isso
qiie ·ell<!. é· meio f ouveíro. , t ,.

Um , dia, o beija..flo1; foi' visitar o ma-


' . l
gt~arí. ( 1) ·
~

Ohl met1 cunhado! V·amos apostar.


- Va~os, respondeu o. maguarí . E' pos-
sível' que tenhas força de atravessar o r io a
vôo ~
'
.,
---' T enho força.
~· " . . ~ N QS veremos·. · Amanhã de manhã,
\"' ,.r~~~: esp·ero' ~or ti~ '
l " ,
,~ ' ,p (
. ·I
..
1
.
,~ela nt~n~ã/'v~1to,u o beija-flor ~
,t · .
m~~uàrí,'. e:este p~i;guntou: '" . ' '
• . --'-' Quem va~ pri1neiro ~
~,:.,,1\ 'V ae já, que ou vou. depois.
• • '. 1
144
<:'

O beija-flor, então, foi-se a toda pressa e


desappareceu. ·Mas ao chegar ao meio do rio
cansou, cahiu e boiou. Em seguida chegou o
maguarí, voando vagarosamente. Quando Q
beija-flor o avistou, gritou:
- Oh! meu cunhado! Eu cansei. Deua.::m.e :ri ' ,. •" ''
/.f ,,,.,~ ' ! • ,,

~\ ~ ~!J
1
\. 1'

pegar 11as tuas pe~as. ' " t ' 't • j

· · · · . , A ,pr~\l~~~ é )ni:tito . pr~guiçosa. Nc~o ·quer .'


Aá$im, ó ·m agu,a rí ·salvou â
"tràbalhal' e.. só tratá de eo~er. Por isso, todos
1

.. .r:t·;
flor.
e ,.~~ "os animaes 'zârigám-se. corri a .preguiça, quando
1&~
1

• A. Í '\..

· a encontram.
Um dia o coatí mandou a preguiça fazer
.. um serviço. Mas a preguiça não quiz trabalhar,
quiz ~ó comer : Então espancou-a, e ella, que
não poude fugir, ch~rou.
, Vem a jurití e pergunta: - Oh preguiça,
porque est~ chorando~
,_,... O coatí. m,andou-me fazer um serviço, eu
' '

,•\ ·· ·est~va com pre~iça e elle me espancou.


.»f. ·: · .A,·j·Ul"~ti·1;fi~óu com pei11a da preguiça e cho~" ~11
f .
.; : ,j ~ "
'·; ' ''. rou coin
I
•l 1 l

\/
ella.
y • ,
~ "

1
1

'
t

\~ ili:.· ,r Qµarido o ~oatí voltou, tornou a espancar a


p':be~uiça, xingando-a : . .
..~"
' · - Oh preguiça . . ' N-ao
preguiçosa.
muito, sinão espancar-}e-hei outra vez.
Lenda doa N~ Indios
- 146
(i

A J. urití que se tinha escondido, ouviu tlldo


e zangou-se.' Fez con;i pedaços d e pau' ~ma ar-
madilha no meio do ca1ninho do coat1. Este
não viu a armadilha:, ei1trou 11ella e fico~ p~e~o.
Como começasse a gritar, riu-se a JUr1t1 e A TARTARUGA E .O GAVIAO
!

perguntou : . ' . : . ., . .
_ Oh coatí ! porque estás chorand~ ~ . " , · 1 .J ; ,r:)1~
- ~u choro porque a pr.e guiça ~~ meio .ªº ·-. 41
~: ).;-:~
rrieu caminho fez u1na armadilha. e. quasi me · :t~,~.{,_· ·, ·' .

. ·oo'Iltam 'qt1e, ·nos -tempos f ri~1itivos, t1ma
matou. · '* , · tartaruga matpll uin gavião, que deixot1 n1u-
- Ella te fez isto, porque tu a espancaste. ~r e um fllho pequeno. Sempre que o fjlho ia
- ~ Quem t 'o disse ~ i)ergu11tou o co~tí. . / caçar cameleões, achava pennas de passaros.
- Eti mesmo vi. Tll fingias ser valente. C-h egando em casa perguntou á st1a mãi:
agora apanhaste. · · · . .,.., -De quen1 são as pe11nas q11e et1 acho sen1-
E foi-se embora, para dizê-lo á preguiça. ~.\. 1)re no matto, quando vou caçar~
pl~eguiça riu-se muito e disse: . - Meu fill10, são de tet1 pai, que morrell.
- Se elle vier para cá, espanquémo'-lo ou- · Calou-se elle e concentrou-se. Cresceu e es-
tra vez! tava quasi moço.,
·. ·un:i dia f,o i caçar e encontrou tu:µas tarta~
' 1\ ' '

· .r ugu1nhà§. Estas dissera)1:1-lhe.: .


·- Vamo-.n os banhar ~
- Vamos. . .,
Dizem que se, banhar~m e no banho, elle
,·-.. ...qnerja pegá-las com as t1nhas. Ellas então dis-
sera1'~he: •
- ·:P or isso minha avó matou teu pai.
. . /
Agora sei quem, verdadeiramente, Então a velha ta_rtaruga_disse ao gavião :
tou meu pai. -- Como vou morrer agora, ~anda chamar
Cr esceu, e, quando j á grande, disse~ t~us p arentes para que venham. me vêr morrer .
. , - V ou experimentar minhas :forças. Vier am , então, ·t odos os paren~es do gavião.
Dizem. que as exp erimentou, no grelo. do , .; .
~. .. ~, ~ '
Cliegaran1 todos os passaros e ajudaran1 ina- ·
" .
a i
"
merití. Chegou ·e metteu as unhas pa r a o ar-
" ' 1
". _., , ~ar a ;velha 'tàr tarruga. Os passar os qt1e a n1a- ~~
.. .. 1 '
l 1~ ~· • 1 •. ~ :.c'i 1
r t ' d • Ü •t 'f • , .l "' v.
_'t.~\~.1\1\'.r, · " ~ram, , ,c a~am ,
'i • ' •

:rancar.(J Ex;peri~mentou, pux,011 .,e , n~9 o. ·~rr~~-/ 1 ";, .L saFap1r:i a os, u ros , içaJ;:arn
cou. Disse, então·!. , · · ~;,- .,,.
~ .rnr,,11~ " I'h ' A , ·n· . . b i· · •
::":;·;~~~·. ·:i; ~erx,ne ," os. ·.: , 9~µ~ "·~~/que. e 1scaram o casco i.i- · . ' .
.e..: ,· r·'l·

/ ·~1 ·•'it~ ..-~. c~ra;m ~óm o 'b~çol preto·; outros que beliscar an1 ,
' '
- Não t enho ainda forças~
Foi outra ~ez experimentá-las. Então t ~ ar- ·. .. W' .",~ ·O . ti.gàdo fiéaram, ve.r des,
f •
ran cou o grelo e disse: . , · .· · >.;·~~~ ~/ . Assim 'a cabaram .as t arta.r ugas assassir1as ; ·
- Agora já tenho força. Agora vou d eve;ras · · 1j, assim se acabaram.
vingar m eu d efunto pai. Esperarei a sabida D esd e então 'os passaros ficaram pintados.
da avó das tartarugas.
Dizem ql1e um dia aquella espalhou paricá
em cima de uma est eira. V eiu depois chuva
com vento, e ella disse ás netas :
__:. V ocês vão ajuntar par~ recolher da chu-
~
. ,. 1 11

va o par1ca. . 1 '.l }

.As -tartarugt1inhas n.ãc» , f oram;1• pô,r ;·~t, · L~


' • ' ' ' 1

\ .,, ' " ~ ' ' 1 '

aquillo pesado, e por iss'o charilara;n1.~ , ..


- Minha avó, venha ajudar 7nés. .· ~ r • j:.:>~ J,1.
· ~ .. k
1
.A. avó sahiu e foi ajudar as netas.
O gavião estava vigiando, e, vendo-a sahi1;1 , ·"""·~ r f·:
saltou-lhe em cima e a <(arregou para um gal~ 1
de piquiá. 1 ' • , ;

Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai


www.etnolinguistica.org

Você também pode gostar