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Disciplina ENSAIOS DE MATERIAIS A. Marinho Jr

Tópico 02 ENSAIOS MECÂNICOS – GERAL

Conceitos básicos de resistência dos materiais

Resistência dos materiais é a área de conhecimento que trata das relações entre forças
internas, deformações e cargas externas de um material. Na análise da resistência dos
materiais o primeiro passo é assumir-se que o corpo sob estudo está em equilíbrio. As
equações de equilíbrio estático são então aplicadas às forças agindo em algum ponto do
corpo sob estudo, no sentido de obter-se a relação entre as forças externas aplicadas ao
corpo e as forças internas que resistem às externas. Isto pode ser representado dividindo o
corpo no ponto de interesse através da passagem de um plano de corte. A parte do corpo
que fica de um dos lados do plano de corte é removida e substituída pelas forças que
exerciam na parte remanescente. Tais forças internas resistentes são normalmente expressas
pela tensão, , agindo numa determinada área, de tal modo que a força interna seja a
integral da tensão vezes a diferencial de área sobre a qual ela age. A distribuição de tensões
é obtida pela observação e medida da distribuição de deformações, uma vez que a tensão
não pode ser medida fisicamente. Todavia, uma vez que a tensão é proporcional à
deformação para as pequenas deformações envolvidas na maioria dos casos, a determinação
da distribuição de deformações fornece a distribuição de tensões. Em resistência dos
materiais é importante assumir que o corpo sob estudo é contínuo (isto é, sem vazios ou
falhas internas), homogêneo (com propriedades idênticas em todos os pontos) e isotrópico
(as propriedades não variam com a orientação). Enquanto materiais de engenharia, como o
aço, ferro fundido e alumínio podem parecer atender a estas condições quando olhados em
escala macroscópica, em escala microscópica eles não se apresentam nem um pouco como
homogêneos nem isotrópicos. A maioria dos materiais usados em engenharia tem mais de
uma fase, com propriedades mecânicas diferentes, de modo que em microescala eles são
heterogêneos. Além disso, mesmo um material monofásico apresenta normalmente alguma
segregação química e, portanto, suas propriedades variam de ponto a ponto. Metais são
constituídos de um agregado de grãos cristalinos que possuem diferentes propriedades em
diferentes direções cristalográficas. A razão pela qual as equações de resistência dos
materiais descrevem o comportamento real de metais, por exemplo, é que, em geral, os
grãos são tão pequenos que, para um corpo de prova de volume macroscópico, o material é
estatisticamente isotrópico e homogêneo. Todavia, quando os metais são severamente
deformados em uma direção particular, como em processos de laminação ou forjamento, as
propriedades mecânicas podem ser anisotrópicas em macro escala.

Comportamento elástico e plástico

A experiência mostra que todo material sólido pode ser deformado quando sujeito a cargas
externas. Dentro de certos limites, quando a carga é removida, o sólido volta às suas
dimensões originais, o que é conhecido como comportamento elástico. O limite além do

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qual o material não mais se comporta elasticamente é o limite elástico. Se este limite for
ultrapassado, o corpo sofrerá uma deformação permanente, passando a apresentar um
comportamento plástico. Para a maioria dos materiais, dentro do limite elástico, a
deformação é proporcional à carga aplicada. A relação de proporcionalidade é conhecida
como Lei de Hooke, que requer que ela seja linear. No entanto, nem sempre um material
com comportamento elástico terá uma relação tensão x deformação linear. As borrachas são
um exemplo disto.

Tensões e deformações médias

Consideremos a figura 02.1 (a) a seguir. Uma carga P é aplicada e tem-se uma deformação
. A deformação linear média, , é dada por:

= / Lo = L/ Lo = (L - Lo)/Lo

Na figura 02.1(b) temos a representação do corpo livre do engaste, onde a força P é


contrabalançada pela força resistente dA, onde é a tensão normal à seção cortada e A
a área desta seção.

(a) (b)

Figura 02.1 (a)Barra cilíndrica sujeita a carga axial. (b) Diagrama de corpo livre para o
caso (a)

A equação de equilíbrio será:

P= dA = A , donde = P/A

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Em geral, a tensão não será uniforme sobre a área A e, portanto, a equação acima representa
a tensão média. Abaixo do limite elástico, a Lei de Hooke é válida, de modo que a tensão
média é proporcional à deformação média:

=E

A constante E é o Módulo de Elasticidade, ou o Módulo de Young.

Deformação sob tensão de um material ductil

Os dados básicos sobre as propriedades mecânicas de um material ductil são obtidas no


ensaio de tração, no qual um corpo de prova convenientemente projetado é submetido a
cargas axiais crescentes até a fratura. A carga e o alongamento são medidos ao longo do
ensaio e são expressos como tensões e deformações médias
de acordo com as equações já vistas. Maiores detalhes sobre o ensaio de tração serão vistos
mais tarde. Os dados obtidos são geralmente plotados em um diagrama tensão x
deformação, como o mostrado na figura 02.2.

Figura 02.2 Curva típica tensão x deformação para um material ductil.

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O ponto A é o limite elástico, que é muito trabalhoso para ser determinado, dependendo
fortemente da sensibilidade do instrumento de medição de deformação. Por esta razão, ele é
freqüentemente substituído pelo limite de proporcionalidade, ponto A´. Para os fins de
engenharia, o limite utilizado é descrito pelo limite de escoamento, ponto B. Este limite é
definido como a tensão que produz uma pequena quantidade de deformação permanente,
geralmente 0,2%. à medida que a deformação plástica progride, o metal fica mais resistente
(fenômeno de encruamento) de modo que a carga requerida para deformar o corpo de prova
aumenta com a deformação posterior. Eventualmente a carga alcança um valor máximo. A
carga máxima dividida pela área original da seção reta do corpo de prova é o limite de
resistência à tração do material. Para um metal ductil o diâmetro do corpo de prova
começa a decrescer rapidamente além da carga máxima, de modo que a carga requerida
para continuar a deformação decresce antes da fratura.

Comportamentos ductil e frágil

O comportamento geral dos materiais sob carga podem ser classificados como ductil ou
frágil dependendo da ocorrência ou não de deformação plástica. A figura 02.2 ilustra o caso
de um material dutil e a figura 02.3 a seguir mostra em (a) o comportamento de um material
idealmente frágil e em (b) um material frágil real como o ferro fundido cinzento. É
importante notar que a fragilidade não é uma propriedade absoluta de um material,
dependendo, por exemplo, da temperatura, da taxa de carregamento e de agentes
fragilizantes, como o hidrogênio.

Falha de um material

Componentes estruturais e elementos de máquinas podem falhar em cumprir suas funções


pretendidas em três maneiras gerais:

Deformação elástica excessiva


Escoamento, ou deformação plástica excessiva
Fratura

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Figura 02.3 Curvas tensão deformação para (a) material frágil ideal e (b) material frágil real

Para diferentes tipos de falha, parâmetros significativos diferentes serão importantes. Dois
tipos de deformação elástica excessiva podem ocorrer: (a) excessiva deflexão sob condições
de equilíbrio estável, como uma viga sob condições de cargas aplicadas gradualmente; (b)
deflexão súbita, ou flambagem, sob condições de equilíbrio instável. Deformação
excessiva de uma parte de uma máquina pode significar uma falha da máquina tanto quanto
se ela estivesse completamente fraturada. Por exemplo, um eixo muito elástico pode
danificar os mancais. Em colunas esbeltas, falhas súbitas podem ocorrer por flambagem,
quando a carga axial atinge um valor crítico. As falhas por excessiva deformação elástica
são controladas pelo Módulo de Elasticidade e não pela resistência do material. O
escoamento, ou excessiva deformação plástica, ocorre quando o limite elástico do metal é
excedido. Escoamento produz mudança permanente de forma, que pode impedir que um
componente continue a funcionar adequadamente. Num metal ductil sob condições de carga
estática, à temperatura ambiente, o escoamento raramente resulta em fratura, porque o metal
endurece à medida que se deforma. Em altas temperaturas, o metal não mais apresenta
encruamento. Ao invés disto, o metal pode deformar-se continuamente sob tensão
constante, num tipo de escoamento dependente do tempo chamado “creep”, fenômeno que
será visto mais tarde. A formação de uma trinca, que pode resultar numa completa ruptura
da continuidade de um material, constitui a fratura. Os metais falham por fratura geralmente
de três modos: (a) fratura frágil súbita; (b) fadiga, ou fratura progressiva, ou (c) fratura
retardada. Já vimos que, em materiais frágeis pode ocorrer fratura súbita mesmo sob cargas
estáticas. Mesmo em metais ducteis à temperatura ambiente, pode ocorrer fratura frágil sob
certas condições, como baixas temperaturas. A maioria das falhas em máquinas deve-se à
fadiga, que ocorre em componentes que estão sujeitos a tensões alternadas, ou flutuantes.
Uma pequena trinca começa num ponto localizado, geralmente num entalhe ou ponto de
concentração de tensões e gradualmente espalha-se por toda uma seção do material, até que
o mesmo se rompe. Um tipo comum de fratura retardada é a ruptura sob tensão, que ocorre

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quando um material é submetido a temperaturas elevadas por um tempo longo. Dependendo
da tensão e da temperatura, pode não haver escoamento antes da fratura. Aços em presença
de hidrogênio também podem apresentar fratura retardada. Todos os materiais de
engenharia mostram certa variabilidade nas propriedades mecânicas, as quais podem ser
influenciadas, por sua vez, por mudanças em tratamentos térmicos e em processos de
fabricação. Além disso, existem normalmente incertezas relativas aos valores de cargas
aplicadas e a ocorrência de sobrecargas acidentais. Assim, no sentido de se ter uma margem
de segurança, é necessário que as tensões admissíveis sejam menores do que aquelas que
produzem falhas. A tensão efetivamente utilizada, ou tensão de trabalho, pode ser baseada
tanto no limite de escoamento quanto no de resistência, divididos pelo fator de segurança.

Revisão: 00 Março de 2009

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