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Texto para Discussão 2614 Brasília, Novembro de 2020 SUMÁRIO EXECUTIVO

SANEAMENTO NO BRASIL: PROPOSTA DE PRIORIZAÇÃO DO INVESTIMENTO PÚBLICO

Julio Issao Kuwajima


Consultor sênior na área de saneamento e recursos hídricos no Projeto ODS 6 pelo IPC-IG, em parceria do Ipea com a
ANA. E-mail: <jkuwajima@gmail.com>.
Gesmar Rosa dos Santos
Técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais,
Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea. E-mail: <gesmar.santos@ipea.gov.br>.
Valéria Maria Rodrigues Fechine
Consultora em metodologia estatística no Projeto ODS 6 pelo IPC-IG, em parceria do Ipea com a ANA.
E-mail: <consultoriafechine@gmail.com>.
Adrielli Santos de Santana
Pesquisadora do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD) na Dirur/Ipea.
E-mail: <adrielli.santana@ipea.gov.br>.
DOI: http://dx.doi.org/10.38116/td2614

Este trabalho é sequência dos estudos apresentados que altera a legislação (Lei no 14.026/2020), embora
em Ipea (2018),1 Santos, Kuwajima e Santana (2020) com enfraquecimento da titularidade municipal e au-
e Santos e Santana (2020) sendo motivado: i) pela mento de exigências para acesso a recursos da União
consideração de que os serviços de abastecimento (Santos, Kuwajima e Santana, 2020).
de água e esgotamento sanitário, componentes do
Desta forma, o artigo tem como objetivo apre-
saneamento básico, são essenciais à saúde e ao bem
sentar uma proposta metodológica com critérios de
estar da população, além de serem importantes para
priorização do investimento público para os serviços
a economia de gastos futuros; ii) pela compreensão
de abastecimento de água e esgotamento sanitário
de que o saneamento básico é uma função do Estado,
(inclui coleta, tratamento e destinação final). Três
conforme a Lei no 11.445/2007, a Política Nacional
pressupostos relacionados entre si ajudam a definir os
de Saneamento Básico (PNSB); iii) pela situação de
critérios adotados: i) que há necessidade de reduzir o
escassez de recursos da União, frente ao desafio de
deficit entre as regiões e entre municípios; ii) que os
prover financiamento para universalizar os serviços de
investimentos alcancem a população mais vulnerável
abastecimento de água e esgoto no país; e iv) pelas
(periferias, zona rural); e iii) que haja equilíbrio nas
dificuldades estruturais e econômicas dos municípios
condições de acesso aos recursos públicos, incluindo
com os maiores deficit nesses serviços em ter acesso a
municípios com maiores dificuldades fiscais.
investimentos, sejam eles públicos ou privados.
Além dos dados de água e esgotamento sanitário
Parte-se do fato de que a titularidade e a
de todos os municípios do Brasil, disponíveis no Sistema
responsabilidade da prestação dos serviços de sane-
Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e
amento básico no Brasil, além de legalmente atribuída
no Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab)
aos municípios e Distrito Federal, conta também com
(Brasil, 2019), são também utilizadas informações do
atribuições da União e estados, em decorrência da
Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF) e do Índice de
Constituição de 1988 e das leis que constituem o
Vulnerabilidade Social (IVS), desenvolvido pela parceria
Pacto Federativo vigentes. Desse modo, não apenas a
entre o Ipea, o Programa das Nações Unidas para o
regulação e o financiamento, como também a oferta
Desenvolvimento (PNUD) e a Fundação João Pinheiro
dos serviços, a exemplo do meio rural, contam com o
(FJP). Em razão da falta de dados sobre esgotamento
apoio de todos os entes, o que se mantém no debate
sanitário em mais de 2 mil municípios, são utilizadas

1. Este texto desenvolve estudos iniciados pelo Acordo de Cooperação Técnica (ACT) firmado entre o Ipea e a Agência Nacional de Águas
(ANA), para estudos envolvendo a implementação dos Objetivo de Desenvolvimento sustentável 6 – água e saneamento, o qual teve
cooperação também do PNUD e IPC-IG.
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informações complementares do Atlas de Esgotos • aperfeiçoar os Planos de Saneamento Nacional


(ANA, 2017), além de procedimentos estatísticos para a e Municipal (Plansab e PMSB), que devem ser
formação de grupos de prioridades para a alocação em mais estratégicos nos planos de ações, trazendo
serviços de água e de esgotamento sanitário, primeiro as prioridades de investimento;
separadamente e em seguida consolidado.
• aumentar/diversificar as fontes de recursos e
Como resultado do trabalho é gerado um ranking o investimento destinado para capacitação
dos municípios, por grupos de prioridades, de modo a e desenvolvimento institucional do setor
equilibrar as condições de acesso aos recursos públicos. (orçamento já estimado no Plansab);
São listados 961 municípios com graus de prioridade
• aumentar a cobertura no meio rural, em
máxima e prioritários, bem como dois outros grupos com
sistemas coletivos e isolados, valendo-se de
serviços precários de água ou de esgotamento sanitário,
modelos e parcerias com soluções efetivas e
que podem ser considerados no grupo com maior ne-
do Plano Nacional de Saneamento Rural; e
cessidade de investimentos. No total desses grupos há
1.959 municípios de maior prioridade, chegando a 35,7 • aperfeiçoar as formas de subsídios existentes
milhões de habitantes, alcançando realidades de maiores no saneamento, com melhora na fiscalização e
deficit nas regiões Norte e Nordeste, principalmente. A na divulgação dos valores, da função exercida
tabela 1 apresenta os grupos formados e o enquadramento por ele e dos resultados obtidos.
dos municípios conforme a metodologia.
Compreende-se que a metodologia de priori-
Para a efetivação das sugestões apontadas no zação do investimento e esse conjunto de medidas
estudo, e para dar passos adicionais no sentido da complementares se somam às importantes iniciativas
gestão integrada do saneamento, na forma prevista já em andamento no Ministério do Desenvolvimento
na Lei no 11.445/2007, o trabalho lista sugestões de Regional (MDR), desde 2007, em particular o Plansab.
iniciativas tais como: Ademais, o investimento público tende a exercer,
cada vez mais, o papel de induzir ações adicionais
• obter dados e enquadrar os 434 do grupo de
de empresas e entidades reguladoras para apoiar
municípios que não puderam ser considerados
iniciativas de aumento da eficácia dos investimentos
por absoluta deficiência/ausência de informações;
e a autossuficiência operacional dos sistemas, com
• fomentar e exigir bons projetos, com técnicas de ações integradas entre os distintos níveis de governo

Texto para Discussão


sustentabilidade ambiental e socioeconômica em temas correlatos ao saneamento – como gestão
nas obras, apoiando as tecnologias alternativas ambiental, da água e de ocupação do solo urbano –,
para água e esgotamento; com indicadores de redução de perdas de água nos

TABELA 1
Número de municípios conforme a situação de prioridade de investimentos
Situação Número de municípios População total (IBGE)

Prioridade Máxima 732 15.072.239

Prioritários 229 4.185.417

Prioridade – Abastecimento de água 312 3.779.597

Prioridade – Esgotamento sanitário 686 12.734.003

Enfoque – Abastecimento de água 513 7.443.586

Enfoque – Esgotamento sanitário 952 37.412.122

Não prioritário 1.712 121.587.544

Aprimorar dados e gestão 434 6.280.392

Total 5.570 208.494.900

Elaboração dos autores.


Texto para Discussão 3 SUMÁRIO EXECUTIVO

sistemas de abastecimento, aumento da segurança


hídrica e combate à poluição que encarece os serviços.

REFERÊNCIAS

ANA – AGÊNCIA NACIOANAL DE ÁGUAS;


BRASIL. Secretaria Nacional de Saneamento.
Ministério de Desenvolvimento Regional. Atlas
Esgotos: despoluição de bacias hidrográficas. Bra-
sília: ANA; MDR, 2017. 88 p.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regio-


nal. Secretaria Nacional de Saneamento. Plansab
– Plano Nacional de Saneamento Básico Brasí-
lia: MDR, 2019. 240 p. Disponível em: <https://
bit.ly/30lB780>. Acesso em: 10 nov. 2019.

IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔ-


MICA APLICADA. Saneamento e segurança à
saúde: caminhos para ampliação de infraestruturas
e melhoria dos serviços. In: Desafios da Nação.
Brasília: Ipea, 2018. v. 2. p. 91-102. Disponível:
<https://bit.ly/3n4awGf>.

SANTOS, G. R.; KUWAJIMA, J. I.; SANTA-


NA, A. S. Regulação e Investimento no Setor
de Saneamento no Brasil: trajetórias, desafios e
incertezas. Rio de Janeiro: Ipea, 2020. (Texto para
discussão, n. 2587).

SANTOS, G. R.; SANTANA, A. S. Gestão co-


munitária da agua: soluções e dificuldades do
saneamento rural no Brasil. Brasília: Ipea, 2020.
(Texto para discussão, n. 2601).

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