Saúdo o presidente desta banca, professor Luiz Balsan; o arguidor deste
trabalho, professor Domênico, assim como, o meu orientador, professor Aluísio
Von Zuben. A esses e a estes: colegas, amigos e todos mais presentes, Bom dia! Minha monografia de conclusão de curso está situada na área da filosofia da linguagem, e tem como título: “A delimitação do dizível no Tractatus Logicus-Philosophicus de Ludwig Wittgenstein”. Ela se ocupa do problema dos fundamentos da significação das proposições. Seu desenvolvimento se estrutura em três partes. O primeiro capítulo objetiva apresentar os pressupostos filosóficos para a compreensão do “Tractatus”; o segundo capítulo destina-se a explicar a estrutura ontológica e linguística adotada no Tractatus; por fim, o terceiro capítulo tenciona expor o fundamento da significação das proposições, consoante com o objetivo geral da pesquisa. Quanto à metodologia, utilizou-se da pesquisa descritiva, tendo-se, como fonte de dados, a investigação bibliográfica em livros, teses, dissertações, artigos e anotações de aula relacionadas à temática. Inicialmente, há considerações gerais a respeito dos vínculos do “Tractatus” com os projetos filosóficos de Frege e Russell. Frege publicou, em 1879, a obra intitulada “Conceitografia: uma linguagem formal do pensamento puro decalcada sobre a Aritmética”. Essa obra corresponde ao seu projeto logicista, consistente em derivar a aritmética somente da lógica. Resultou disso, o desenvolvimento da lógica simbólica, a teoria da quantificação e das funções de verdade (cálculo de predicados). Temas que foram todos abordados no “Tractatus”. Russell, assim como Frege, desenvolveu seu trabalho no contexto do logicismo, mas diferentemente daquele, tem um projeto mais amplo, pois não se limita à dedução lógica da aritmética, mas de toda a matemática. Destaca- se, ainda, que Russell desenvolve a teoria das descrições, com a qual quer explicar a aparência da significação das proposições sem objeto. Isso está relacionado a possibilidade de se construir proposições aparentemente significativas, conquanto sejam inexistentes os objetos denotados por elas, tal como exemplifica com a proposição: “O atual rei da França é calvo”. Por mais que a sentença pareça referir é, contudo, vazia, pois, como se sabe, inexiste o atual rei da França. Diante do problema da existência de sentenças que se referem a objetos inexistentes, Russell desenvolve sua concepção sobre a proposição como tendo dois níveis estruturais. O gramatical e o lógico. O primeiro se refere ao símbolo incompleto, dado que os termos vazios significam apenas no contexto da sentença. Russell propõe, assim, a análise descritiva das proposições, por meio de paráfrases, quando há a substituição de símbolos, a fim de revelar sua falta de significação. A filosofia de Leibniz também foi objeto de nossa pesquisa, com o intuito de destacar dois elementos teóricos. O primeiro referente ao ideal de Leibniz quanto à formulação de sua “Characteristica universalis”, que surge na medida em que Leibniz percebe os problemas da linguagem. E o segundo, quanto à semelhança das ontologias mereológicas da Monodalogia de Leibniz e a do Tractatus. No segundo capítulo, explicou-se a relação de isomorfia, ou igualdade de forma lógica, entre a estrutura ontológica e linguística. Nesse sentido, quer- se fazer entender de que modo a isomorfia permite a afiguração da linguagem. O capítulo ainda ocupou-se da maneira com que Wittgenstein desenvolveu seus esquemas, mais conhecidos como tabela de valor de verdade. Quanto à constituição do mundo, destacam-se três elementos estruturantes: objetos, fatos e estados de coisas. Objetos constituem a substância do mundo, são os elementos primitivos com os quais os estados de coisas são formados. Estados de coisas resultam da concatenação dos objetos que, por sua vez, ligam-se uns aos outros, de acordo com suas propriedades internas. Dessa forma, o mundo é a totalidade dos fatos e não a totalidade das coisas, como uma coleção de objetos. O mundo não é a totalidade de coisas, como se não estivessem ligadas, quando constituem os estados de coisas existentes, o que corresponde a fato, mas quando não existentes são a possibilidade de um fato. Os estados de coisas existentes são fatos positivos e quando não existem, são fatos negativos. O conjunto é chamado de realidade. O mundo, considerando todas as suas possibilidades, é a realidade. As possibilidades de composição de coisas simples e consequente formação de estado de coisas, se dá no espaço lógico. Como os objetos possuem uma forma interna que define sua possibilidade de fazer parte de determinados estados de coisas, o mundo possível, assim como o mundo real, estão no espaço lógico. Pois, o espaço lógico é o conjunto total de possibilidades lógicas. A linguagem expressa o que existe no mundo, os fatos, por meio de figurações. As proposições apresentam os fatos que descrevem por meio da reprodução de sua forma lógica. A igualdade de forma lógica, ou isomorfia, entre linguagem e mundo, é a base do que Wittgenstein chamou de teoria figurativa. Para que a linguagem possa ser capaz de figurar um fato é necessário que linguagem, pensamento e mundo compartilhem a mesma estrutura lógica. A relação isomórfica diz respeito à estrutura da linguagem que corresponde à estrutura dos fatos, a linguagem é como um espelho lógico do mundo. A relação linguagem e mundo é biunívoca, ou seja, para cada elemento do estado de coisas há um único sinal na proposição. O sentido da proposição depende da correspondência isomórfica com os estados de coisas, sejam eles existentes ou não, portanto, independe do valor de verdade. A proposição pode ser verdadeira ou falsa, correta ou incorreta, dependendo da correspondência, ou não, com o estado de coisas existente. A linguagem é a totalidade de proposições, assim como o mundo é a totalidade dos fatos. As proposições são sentenças declarativas, e a menor unidade linguística. As proposições se dividem em elementares e complexas. As proposições elementares, na medida em que são simples, não podem ser analisadas. Sua composição é um encadeamento de nomes, relacionados de forma imediata. Os nomes caracterizam-se como sinais primitivos da linguagem. Ressalta-se que as proposições elementares podem ser combinadas de inúmeras maneiras. Disso decorre o surgimento das proposições complexas, sendo essas constituídas a partir das proposições elementares por meio dos conectivos lógicos. Diante disso, Wittgenstein desenvolve os esquemas da tabela de valor para mostrar as possibilidades de combinações das proposições elementares, e a validade dos argumentos correspondentes que, desse modo, revelam-se como função-de-verdade das proposições elementares. Por fim, no terceiro capítulo, apontou-se de que modo Wittgenstein estabelece a delimitação do que pode ser dito. Para tanto, apresentou-se os tipos de proposição: as proposições em sentido próprio, que dizem e mostram, aquelas da ciência natural; as pseudoproposições da lógica, que apenas mostram; e os contrassensos (também chamados pseudoproposições) da metafísica, que nada dizem nem mostram. As pseudoproposições compreendidas como contrassenso referem-se àqueles temas metafísicos, que estão para além dos fatos, pertinentes ao que podemos, genericamente, designar por ‘existenciais’, conquanto o termo não seja mencionado no “Tractatus”. O âmbito do dizível fica circunscrito ao que concerne às proposições da ciência natural, que possuem sentido, pois podem figurar os fatos que constituem o mundo. Logo, compreende-se a delimitação da linguagem a partir do que se entende por proposições com sentido. O dizível, assim, não está relacionado aos valores, a temas que se expressam por termos que nada figuram, como “vida”, “amor” e “felicidade”, restando somente o silenciar.