A Maçonaria Perde uma
Grande Oportunidade
Irm.’. Luciano do Espírito Santo
Or.'. Sorocaba - SP
É reco rren te num a co n v ersa
entre Maçons algum comentário do
tipo “ a M açonaria que participou
ativamente da Libertação dos Escravos,
da Independência do Brasil e da
Proclamação da República nada tem
feito nos dias atuais. É preciso uma
Maçonaria mais atuante, que participe
ativamente da história política da
atualidade.” Em partes, concordo (e
também discordo!) em tudo que esse
tipo de comentário contém. E explico!
A Maçonaria é plurall
Vejamos, historicamente falando,
realmente a Maçonaria teve participação
importante, por exemplo, na Abolição
da Escravatura. Mas isso não significa
dizer que toda a Maçonaria se uniu
nesse propósito. Algumas Lojas tinham
um viés abolicionista, outras, mais
conservadoras, sequer avençavam sobre
o assunto, até mesmo porque muitos
Irmãos Maçons possuíam escravos.
Apenas a título de esclarecimento, as
duas primeiras Lojas maçônicas com
perfil abolicionista no Brasil foram a
Loja América N ° 189 (de São Paulo),
e a Loja Perseverança III N ° 199 (de
Sorocaba). Nessas Lojas, era proibido
o ingresso de M açons que fossem
“ proprietários” de escravos. Assim
sendo, lado outro, todas as demais
Lojas do Brasil, até então, não tinham
nenhum posicionamento contrário à
escravatura.
Tantas outras observações sobre
outros acontecimentos históricos po-
deriam aqui ser mencionadas, sempre
com um lado atuante em prol de
determinado movimento, e outro con­
trário ao mesmo movimento. Todavia,
restou-nos o “legado” de que toda a
instituição participou ativamente desses
feitos históricos.
Tudo isso só evidencia que, do
ponto de vista político, a Maçonaria
sempre foi e sempre será plural, com
opiniões absolutamente distintas entre
os Irmãos, o que não quer dizer que
esse ou aquele tenha razão absoluta no
que pensa.
Há um outro detalhe que costuma
ser uma característica de todo iniciado:
o Maçom, via de regra, é um formador
de opinião. Sendo assim, por melhor
que seja um discurso, ou um argumento,
dificilmente um Maçom vai se deixar
levar pela opinião apresentada. É
quase sempre assim. Agora imagine se
o Maçom - cuja opinião está formada,
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e que não costuma se influenciar com
qualquer discurso, mesmo que seja de
outro Irmão - vai mudar sua opinião
por um “meme” (via de regra de mau
gosto, e ofensivo àqueles que pensam de
maneira contrária ao “ idolatrado” na
brincadeira). Evidentemente que não.
Pois bem , en tão eu me pego
pensando. Se não vou mudar de opinião
tão facilmente, por que um Irmão
Maçom publicaria num grupo de rede
social, restrita a Maçons, uma opinião
ofensiva a todos aqueles que pensam de
forma diferente da sua? Para mim, só
cabe uma resposta: provocar e ofender
os outros Irmãos. Mas isso não seria
antimaçônico?
Pois bem, já falamos que a Maçona-
ria é plural, do ponto de vista político.
Também falamos que os Maçons são
formadores de opinião, e que não se
“ sensibilizariam” ou mudariam de opi­
nião por simples piadas de mau gosto.
M as há um ponto no qual todos os
ritos e todas as potências maçônicas de
todo o mundo convergem. Isso porque
esse é o princípio da Maçonaria, sem
o qual a instituição sequer existiría: A
Maçonaria é tolerantel
Tolerância não significa concordar
com todas as opiniões, mas respeitá-las
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R A U L VIEIRA
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e defender o sagrado direito de cada
um de tê-las e exprimi-las, contanto
que essa forma de expressão não seja
ofensiva às demais pessoas.
Vivemos um período caracterizado
essencialmente pela intolerância. E
essa é uma constante fora de nossos
Templos. Mais do que a discriminação
racial (presente nesta terra desde os
tempos de Cabral), presenciamos a
discriminação religiosa, a discriminação
por preferência sexual, e atualmente, a
mais recente delas, por opinião política.
Aqui no Brasil, fomos divididos
em três categorias: os “ coxinhas” ,
os “ m o r ta d e la s ” (ou “ m a ld ito s
comunistas” , se assim preferir), e os
“ bolsominions” . Embora todos sejam
absolutamente diferentes do ponto
de vista político, via de regra todos
têm uma característica em comum:
eles costum am odiar quem pensa
de maneira diferente. Existe maior
exemplo de intolerância?
Eu também me incluo num desses
grupos. E obviamente, como deveria
ser, não me agrada o posicionamento
ideológico dos outros dois grupos. No
entanto, ainda que a duras penas busco
trazer a tolerância para as “ discussões
políticas” das quais acabo partici­
pando. Percebi que se eu insistir em
externar minha opinião, alguns Irmãos
podem ficar irritados, quando não, se
sentir ofendidos, o que é muito pior.
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Ha
Ora, se as acaloradas discussões,
as trocas de ofensas, as provocações
desmedidas e ofensivas são comuns
entre os não iniciados, elas sequer
deveríam existir entre os Maçons com
base, exclusivamente, na Tolerância.
Mas, lamentavelmente, isso parece estar
muito longe de acontecer.
Se os M aço n s pensam que a
Maçonaria deveria ter participação mais
efetiva na sociedade, na história de nossa
Nação, contribuindo efetivamente para
um mundo mais justo e mais perfeito,
poderíam (e deveríam) começar a fazê-
lo pregando a tolerância não só entre
Irmãos, mas entre todos aqueles que
exercem algum tipo de influência, seja
por ser um formador de opinião, seja
por suas relações profissionais, pessoais
e familiares, e principalmente pele
exemplo de suas condutas, um dos mais
valiosos bens que todo Maçom possui.
E ssa, indubitavelmente, seria a
maior de todas as contribuições que
a M açonaria Pátria poderia dar à
sociedade no atual cenário. No entanto,
parece-nos que a Maçonaria desperdiça
essa oportunidade não só de fazer
história, mas de contribuir para um
mundo de paz para nós e nossos filhos.
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