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Toda organização nasce com um objetivo, não importa em que setor atue. Mesmo
nas atividades mais corriqueiras de nosso dia-a-dia o objetivo do que fazemos ou do
que nos propomos a fazer deve ser identificado e entendido de antemão. A adoção
de um simples regime alimentar, por exemplo, não pode ser levada a cabo de modo
satisfatório sem que se defina preliminarmente seu objetivo. Para aqueles que
possuem doenças específicas que requerem a exclusão de certos alimentos em sua
dieta, seria necessário prescrever um regime alimentar também específico com a
finalidade de manter sob controle níveis de substâncias prejudiciais ao seu corpo. Já
se o objetivo do regime for simplesmente o de melhorar a aparência e bem estar
geral de uma pessoa, causando emagrecimento, o regime certamente será
diferente.
Sem essa definição prévia do objetivo, não se pode definir uma simples dieta
alimentar, nem mesmo verificar se ela estaria dando resultado, uma vez iniciada. A
forma de monitoramento do resultado do primeiro regime alimentar se dá através de
exames de sangue. No segundo caso, onde o objetivo é o de perder alguns quilos,
uma balança é suficiente para demonstrar se o regime adotado é ou não adequado,
se está dando resultado ou não.
Os dois casos tratam de regimes alimentares, mas têm objetivos diferentes, são
monitorados através de parâmetros diferentes e deles esperamos obter resultados
diferentes.
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Se refletirmos sobre este assunto veremos que, desde as mais simples até as mais
complexas atividades realizadas pelos seres humanos, todas têm ou carecem de um
objetivo.
Peço desculpas se o leitor achou esse preâmbulo exaustivo, invocado apenas para
comprovar o óbvio, mas ele tem um motivo: nas Lojas maçônicas tenho observado
que não há a preocupação de se incutir em seus membros a importância de
identificar e compreender o objetivo da Maçonaria.
Como saber então se o que fazemos está dando resultado? Não sabemos,
achamos.
Alguns citam com orgulho que conseguiram Iniciar um grande número de novos
Irmãos em sua administração. Então deve ser esse o objetivo da Maçonaria,
aumentar o número de associados ao máximo possível?
Outros citam com igual satisfação que sua Loja ajudou muitas crianças carentes
durante o ano. Então o objetivo da Maçonaria é a filantropia?
Se não podemos definir uma simples dieta alimentar sem conhecer antes seu
objetivo e a que se destina, o que dizer então da Maçonaria? É certo frequentarmos
as Lojas sem sabermos por que estamos ali, o que viemos fazer? É certo fazê-la se
pronunciar publicamente se não discutimos ainda se é assim que esta organização
deve agir? Será que a exposição pública vai ao encontro de seus objetivos?
É essa pergunta que pretendo, ao longo deste trabalho, se não responder, pois seria
grande pretensão, ao menos suscitar nos Irmãos a importância de respondê-la antes
que se inicie qualquer atividade em prol da Maçonaria. Caso contrário, podemos
estar aplicando em nossa Loja o “regime errado”, contribuindo para a piora desta
antiga organização que tanto prezamos.
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O CONTEXTO HISTÓRICO - MAÇONARIA OPERATIVA
Sabe-se que a partir do século XII (embora o primeiro registro histórico claro date do
século XIV) começaram a surgir no norte da Europa as “Guildas” ou associações de
profissionais, dentre eles os pedreiros. Tais associações visavam à organização,
defesa e proteção de seus membros ou sócios. Através dessas organizações de
ajuda mútua os pedreiros medievais praticavam o que chamamos hoje de
Maçonaria operativa, ou seja, eles se dedicavam à tarefa de construção de
castelos, catedrais e demais obras.
Nesta fase a Maçonaria não era iniciática e seus membros tinham dois status
possíveis, o de aprendiz e o de companheiro. O aprendiz era aprendiz de pedreiro
mesmo e depois de um longo período de aprendizado poderia ser considerado um
pedreiro profissional como os outros, um companheiro. Nem todos os aprendizes
eram promovidos a companheiro e continuavam executando tarefas mais simples e
braçais para sempre, eram os equivalentes a “serventes de pedreiro” como
conhecemos hoje. Quando de sua promoção, o aprendiz passava por um ritual
bastante simples, que consistia em reafirmar seu juramento de não revelar os
segredos da profissão a quem não pertencesse à guilda e prestar ajuda a seus
colegas.
Até aqui é fácil observar que não se trata da Maçonaria que conhecemos hoje,
chamada Maçonaria especulativa.
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A MAÇONARIA ESPECULATIVA
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Essa verídica e terrível história se transformou em uma versão romanesca e um
tanto forçada do surgimento da Maçonaria, tendo ganhado força principalmente na
França, onde facilitou a iniciação de nobres e burgueses em larga escala: muito
mais poético e atraente fazer parte de uma associação descendente do legado
secreto de nobres cavaleiros injustiçados do que ser descendente de simples
pedreiros.
Outra linha credita o início da Maçonaria ao Egito antigo, devido a alguns símbolos
comuns. Outros preferem dizer poeticamente que a origem da Maçonaria “perde-se
na bruma dos tempos”. Há também os que mencionam Jesus como Maçom e às
vezes encontramos textos que levam a Maçonaria até Adão, o primeiro homem.
No entanto a história nos fornece registros claros que permitem afastar todas as
versões fantasiosas sobre o início da Maçonaria como a conhecemos hoje.
A base do sistema monárquico europeu consistia em que o poder dos reis sobre
seus súditos era absoluto, incontestável, vitalício e hereditário por ter sido concedido
diretamente por Deus. Para que esse sistema funcionasse, os líderes espirituais, por
meio de quem Deus se comunicava com exclusividade, deveriam confirmar essa
aliança, essa concessão do poder divino aos reis. A coroação de um rei era feita
pela Igreja, ato em que se confirmava indubitavelmente que aquele homem, coroado
rei, recebera todo o poder para governar em nome de Deus, sendo seu
representante direto para assuntos de Estado.
Aparentemente, visto pelos padrões de hoje, esse seria um sistema frágil demais
para ser mantido. Mas era tão imensa e desmedida a ignorância dos homens de
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então que não havia a menor condição de um cidadão comum sequer pensar em
discutir questões dogmáticas, mesmo porque, nem acesso aos textos bíblicos e
teológicos ele possuía. A tradução da bíblia para a língua vulgar, como era chamada
a língua falada em cada país, era terminantemente proibida, ficando a “palavra de
Deus” e sua interpretação, mantidas seguras e afastadas dos curiosos, na língua
dos doutos, o latim.
É esse o cenário da época e durante séculos esse sistema funcionou muito bem,
mas, paulatinamente, com o passar do tempo e com o consequente e inevitável
desenvolvimento do pensamento humano, algum progresso foi feito no sentido de se
desvendar os mecanismos de funcionamento do nosso universo. Mesmo sem
recursos e utilizando-se apenas da força de seu intelecto e de poucas ferramentas e
equipamentos rudimentares, alguns homens notáveis fizeram descobertas científicas
importantes e geraram questionamentos que acabaram por esbarrar perigosamente
em certos dogmas religiosos.
Sempre que isso ocorria, a máquina repressiva do Estado era ativada pela Igreja e
posta em funcionamento para coibir a divulgação das ideias tidas como permissivas
e punir exemplarmente seus autores.
Acima, figura antiga retratando a exumação e cremação do corpo de John Wycliffe. Além de
traduzir a Bíblia para o Inglês ele defendia a ideia de que o poder da Igreja devia ser limitado
às questões espirituais, sendo o poder temporal exercido apenas pelo Estado. Mesmo tendo
falecido de causas naturais não escapou da condenação da Igreja que ordenou que seu
corpo fosse desenterrado e queimado, como aconteceria se estivesse vivo. Junto com seu
corpo foi queimada também a tradução da Bíblia.
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A figura abaixo retrata Jan Hus, seguidor de Wycliffe, que não teve a mesma sorte
de morrer de causas naturais antes do término de seu julgamento, por isso foi
queimado vivo em praça pública.
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A imagem acima retrata Galileu Galilei se apresentando ao tribunal da Inquisição por
afirmar que a terra gira em torno do Sol, idéia contrária aos dogmas da época.
(Pintura do século XIX de Joseph-Nicolas Robert-Fleury)
Esses não eram pedreiros, eram homens de condição social média ou alta,
pertencentes à burguesia, pesquisadores e estudiosos das culturas antigas e das
ciências que precisavam se reunir para divulgar entre si suas descobertas e
tentarem de alguma forma elevar o espírito humano.
Conforme o Ir Fadista “A Inglaterra era, na Europa de então, o único país que os
colocaria a salvo dos processos e dos autos de fé da Inquisição Católica. Mesmo na
Inglaterra a situação político-religiosa estava em transição, e ainda era bastante
perigosa a divulgação dos conhecimentos esotéricos, filosóficos e sociais que os
haviam inspirado. Nestas condições, era bastante atraente a oportunidade de se
ocultarem dentro da organização [a Maçonaria de ofício], de modo a resguardar a
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permanência do conhecimento não ortodoxo, bem como a sua transmissão, de
modo velado.”
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O entendimento desse contexto histórico é vital para falarmos sobre o objetivo da
Maçonaria, pois ele não poderia deixar de estar intimamente ligado com o
nascimento desta instituição, com os motivos que levaram à sua criação.
Agora fica mais fácil compreendermos a resposta á pergunta que lancei no início
deste trabalho, sobre o que fazemos na Maçonaria e qual é o objetivo desta
instituição.
A Maçonaria foi criada para incentivar homens bons a se tornem homens cada vez
melhores, com maior cultura e mais elevada moral do que já possuem, através da
observação, pesquisa, estudo e profunda reflexão sobre o ensinamento contido
nos símbolos e alegorias a que são expostos e sobre as diversas ciências
mencionadas nos Rituais. Homens que não serão conduzidos, que não aceitarão
verdades impostas, farão uso antes da razão para buscar as suas próprias
verdades.
Por isso a Maçonaria, como entidade, não deve se envolver diretamente em política
ou em qualquer outra área de atuação humana, mas sim deve se concentrar em
desenvolver e capacitar homens moral, espiritual, intelectual e civicamente para que
estes ajam de acordo com sua consciência e, na medida de suas forças, contra os
males que afligem a humanidade.
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UM PECULIAR SISTEMA DE ENSINO
Por esse método, os símbolos e alegorias que nos são apresentados devem ser por
nós compreendidos como veículos que nos instigam a aperfeiçoar nossas virtudes
morais, adquirir cultura e desenvolver nossa espiritualidade.
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Capacitar os homens a se “autolapidarem” - a verdadeira missão da Maçonaria - não
é simplesmente ensinar os homens sobre moral, política, sociologia ou qualquer
outra ciência, mas ensinar-lhes antes de tudo a aprender sozinhos, ensinar-lhes que
eles precisam aprender a aprender, ou seja, a se autoaprimorarem com o objetivo
de poderem ser assentados com perfeição, como pedras bem esquadrejadas e
polidas, no edifício social em construção.
Uma vez lapidados e preparados, ou melhor, uma vez que aprendemos a como nos
lapidar e nos preparar continuamente, que cada um de nós atue então de forma
correta junto à sociedade, como pai, marido, líder de classe, político, empresário ou
em qualquer outra atividade, praticando a filantropia e a fraternidade e nos
envolvendo nos problemas sociais.
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CONCLUSÃO
Wallace Lima
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Referências bibliográficas
CAMINO, Rizzardo da. Rito Escocês Antigo e Aceito - 1° ao 33°. São Paulo: Madras,
2009.
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100313212945AAwjd61
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