Você está na página 1de 16

A MAÇONARIA - seus objetivos e seu método de ensino

Ir Wallace Lima


CIM 242.018
IRB 6.039
A MAÇONARIA - SEUS OBJETIVOS E SEU MÉTODO DE ENSINO

INTRODUÇÃO - PORQUE IDENTIFICAR E ENTENDER O OBJETIVO

Ao longo de nossas vidas nos agrupamos em vários tipos de organizações, nas


diversas áreas da atuação humana.

A clara definição e a correta compreensão dos objetivos de uma organização são


fatores de extrema importância para seu sucesso, a fim de que os indivíduos que a
formam orientem suas ações no sentido de alcançá-los.

Os objetivos podem ser traduzidos como as finalidades e os valores fundamentais


da organização.

Através da definição clara dos objetivos de uma organização, pode-se visualizar


melhor aonde se quer chegar e, o que é melhor, compartilhar essa visão com seus
membros. Assim obtém-se melhor empenho dos envolvidos, que passam a trabalhar
para uma finalidade comum, conhecida.

Tendo claros os objetivos a ser alcançados, podemos estabelecer estratégias,


maneiras práticas de atingi-los além de podermos estabelecer padrões de
desempenho, que servirão como parâmetros de avaliação dos progressos da
organização rumo aos seus objetivos.

Toda organização nasce com um objetivo, não importa em que setor atue. Mesmo
nas atividades mais corriqueiras de nosso dia-a-dia o objetivo do que fazemos ou do
que nos propomos a fazer deve ser identificado e entendido de antemão. A adoção
de um simples regime alimentar, por exemplo, não pode ser levada a cabo de modo
satisfatório sem que se defina preliminarmente seu objetivo. Para aqueles que
possuem doenças específicas que requerem a exclusão de certos alimentos em sua
dieta, seria necessário prescrever um regime alimentar também específico com a
finalidade de manter sob controle níveis de substâncias prejudiciais ao seu corpo. Já
se o objetivo do regime for simplesmente o de melhorar a aparência e bem estar
geral de uma pessoa, causando emagrecimento, o regime certamente será
diferente.

Sem essa definição prévia do objetivo, não se pode definir uma simples dieta
alimentar, nem mesmo verificar se ela estaria dando resultado, uma vez iniciada. A
forma de monitoramento do resultado do primeiro regime alimentar se dá através de
exames de sangue. No segundo caso, onde o objetivo é o de perder alguns quilos,
uma balança é suficiente para demonstrar se o regime adotado é ou não adequado,
se está dando resultado ou não.

Os dois casos tratam de regimes alimentares, mas têm objetivos diferentes, são
monitorados através de parâmetros diferentes e deles esperamos obter resultados
diferentes.

2
Se refletirmos sobre este assunto veremos que, desde as mais simples até as mais
complexas atividades realizadas pelos seres humanos, todas têm ou carecem de um
objetivo.

Peço desculpas se o leitor achou esse preâmbulo exaustivo, invocado apenas para
comprovar o óbvio, mas ele tem um motivo: nas Lojas maçônicas tenho observado
que não há a preocupação de se incutir em seus membros a importância de
identificar e compreender o objetivo da Maçonaria.

Como saber então se o que fazemos está dando resultado? Não sabemos,
achamos.

Alguns citam com orgulho que conseguiram Iniciar um grande número de novos
Irmãos em sua administração. Então deve ser esse o objetivo da Maçonaria,
aumentar o número de associados ao máximo possível?

Outros citam com igual satisfação que sua Loja ajudou muitas crianças carentes
durante o ano. Então o objetivo da Maçonaria é a filantropia?

Publicam-se manifestos em nome da Maçonaria demonstrando descontentamento


em relação a esta ou aquela situação. É então objetivo da Maçonaria fiscalizar
órgãos públicos e protestar publicamente contra atos que violem a lei e a ordem?

Se não podemos definir uma simples dieta alimentar sem conhecer antes seu
objetivo e a que se destina, o que dizer então da Maçonaria? É certo frequentarmos
as Lojas sem sabermos por que estamos ali, o que viemos fazer? É certo fazê-la se
pronunciar publicamente se não discutimos ainda se é assim que esta organização
deve agir? Será que a exposição pública vai ao encontro de seus objetivos?

Em nosso Ritual do grau de Aprendiz, consta uma pergunta interessante: “o que


vindes fazer aqui, meu Irmão?”

É essa pergunta que pretendo, ao longo deste trabalho, se não responder, pois seria
grande pretensão, ao menos suscitar nos Irmãos a importância de respondê-la antes
que se inicie qualquer atividade em prol da Maçonaria. Caso contrário, podemos
estar aplicando em nossa Loja o “regime errado”, contribuindo para a piora desta
antiga organização que tanto prezamos.

3
O CONTEXTO HISTÓRICO - MAÇONARIA OPERATIVA

Para entendermos melhor o que é a Maçonaria, quais os seus objetivos e como


funciona o seu método peculiar de ensino temos que voltar no tempo para descobrir
em que momento esta instituição foi criada e tentar sentir os ânimos que imperavam
então.

O termo “maçom” significa pedreiro.

Sabe-se que a partir do século XII (embora o primeiro registro histórico claro date do
século XIV) começaram a surgir no norte da Europa as “Guildas” ou associações de
profissionais, dentre eles os pedreiros. Tais associações visavam à organização,
defesa e proteção de seus membros ou sócios. Através dessas organizações de
ajuda mútua os pedreiros medievais praticavam o que chamamos hoje de
Maçonaria operativa, ou seja, eles se dedicavam à tarefa de construção de
castelos, catedrais e demais obras.

Os jovens aprendizes prestavam juramentos de não revelar os segredos da


profissão recebidos de seus mestres aos não associados àquela guilda e também de
prestarem ajuda aos seus colegas de profissão. Coletava-se dinheiro para auxílio
mútuo, amparo às viúvas, despesas funerárias e outras necessidades.

Nesta fase a Maçonaria não era iniciática e seus membros tinham dois status
possíveis, o de aprendiz e o de companheiro. O aprendiz era aprendiz de pedreiro
mesmo e depois de um longo período de aprendizado poderia ser considerado um
pedreiro profissional como os outros, um companheiro. Nem todos os aprendizes
eram promovidos a companheiro e continuavam executando tarefas mais simples e
braçais para sempre, eram os equivalentes a “serventes de pedreiro” como
conhecemos hoje. Quando de sua promoção, o aprendiz passava por um ritual
bastante simples, que consistia em reafirmar seu juramento de não revelar os
segredos da profissão a quem não pertencesse à guilda e prestar ajuda a seus
colegas.

Até aqui é fácil observar que não se trata da Maçonaria que conhecemos hoje,
chamada Maçonaria especulativa.

4
A MAÇONARIA ESPECULATIVA

Muitos relacionam o início da Maçonaria com a extinção da Ordem dos Cavaleiros


Templários pela Igreja e pelo rei da França em 1307. Por esta versão os Templários
que sobreviveram às perseguições, torturas e execuções deflagradas na sexta-feira,
13 de outubro daquele ano teriam adotado os sinais e as formas de reconhecimento
secretos dos pedreiros medievais para se manterem incógnitos e protegidos
refugiando-se principalmente na Escócia e depois Inglaterra, países onde a
sentença da Igreja não teria sido plenamente obedecida.

Ao lado, ilustração medieval retrata


Templários condenados à fogueira pela
Santa Inquisição.

Hoje a ICAR entende que os Templários


foram vítimas de calúnia e minimizam sua
participação no evento, atribuindo a Felipe o
Belo, rei da França, a responsabilidade pelas
prisões e torturas. No entanto na época, por
decisão do papa Clemente V a Ordem foi
declarada extinta pela igreja e a parte de
seus bens que não foram confiscados pela
coroa foi dividida entre outras ordens
monásticas.
Uma parte do processo de condenação dos
Templários foi exposta ao público em 2007
pelo Vaticano.

Ao lado, Jacques de Molay, último Grão-


Mestre da Ordem dos Templários, preso e
torturado por sete anos, morreu queimado em
1314 por sentença do Papa Clemente V.
No detalhe acima, o selo dos Templários que
representa dois cavaleiros em um só cavalo,
significando pobreza e companheirismo, mas
utilizado pelos seus detratores como mais uma
prova das acusações de sodomia.

5
Essa verídica e terrível história se transformou em uma versão romanesca e um
tanto forçada do surgimento da Maçonaria, tendo ganhado força principalmente na
França, onde facilitou a iniciação de nobres e burgueses em larga escala: muito
mais poético e atraente fazer parte de uma associação descendente do legado
secreto de nobres cavaleiros injustiçados do que ser descendente de simples
pedreiros.

Outra linha credita o início da Maçonaria ao Egito antigo, devido a alguns símbolos
comuns. Outros preferem dizer poeticamente que a origem da Maçonaria “perde-se
na bruma dos tempos”. Há também os que mencionam Jesus como Maçom e às
vezes encontramos textos que levam a Maçonaria até Adão, o primeiro homem.

No entanto a história nos fornece registros claros que permitem afastar todas as
versões fantasiosas sobre o início da Maçonaria como a conhecemos hoje.

O nascimento da Maçonaria está ligado à repressão da Igreja e dos estados


monárquicos totalitários na Europa durante a Idade Média, quando os Estados eram,
em sua maioria, associados ou coligados diretamente à religião.

A base do sistema monárquico europeu consistia em que o poder dos reis sobre
seus súditos era absoluto, incontestável, vitalício e hereditário por ter sido concedido
diretamente por Deus. Para que esse sistema funcionasse, os líderes espirituais, por
meio de quem Deus se comunicava com exclusividade, deveriam confirmar essa
aliança, essa concessão do poder divino aos reis. A coroação de um rei era feita
pela Igreja, ato em que se confirmava indubitavelmente que aquele homem, coroado
rei, recebera todo o poder para governar em nome de Deus, sendo seu
representante direto para assuntos de Estado.

Em troca deste aval espiritual, a Igreja ocupava um espaço central no aparelho do


Estado, influenciando, segundo seus próprios interesses, o ordenamento nas
esferas jurídica, política, econômica e cultural. Uma aliança perfeita, indissolúvel,
uma relação simbiótica entre Igreja e Estado.

Todo o funcionamento desse sistema era baseado e estava apoiado em 2 princípios


básicos que não podiam ser quebrados:

1. A existência de uma única religião verdadeira, que mantinha um canal de


comunicação exclusivo com Deus para interpretar seus desígnios e representar os
homens.

2. A infalibilidade dos dogmas da religião dominante, ou pelo menos a crença


inconteste na sua veracidade, pois eles forneciam a evidência da correta
interpretação dos desígnios de Deus.

Um dogma, que fosse de alguma forma comprovado como errado ou equivocado, ou


tão somente questionado como tal, poderia levar a crer que aquela religião não
sabia como interpretar corretamente a vontade e os desígnios de Deus, não sendo
seu verdadeiro representante e, portanto, levaria também de roldão a validade da
investidura do rei, realizada por essa mesma religião.

Aparentemente, visto pelos padrões de hoje, esse seria um sistema frágil demais
para ser mantido. Mas era tão imensa e desmedida a ignorância dos homens de
6
então que não havia a menor condição de um cidadão comum sequer pensar em
discutir questões dogmáticas, mesmo porque, nem acesso aos textos bíblicos e
teológicos ele possuía. A tradução da bíblia para a língua vulgar, como era chamada
a língua falada em cada país, era terminantemente proibida, ficando a “palavra de
Deus” e sua interpretação, mantidas seguras e afastadas dos curiosos, na língua
dos doutos, o latim.

O sistema estaria seguro enquanto pudesse ser mantida a ignorância através do


monopólio das informações e do conhecimento, e com o Estado fazendo sua parte
através do uso da força bruta na repressão à livre expressão do pensamento.

É esse o cenário da época e durante séculos esse sistema funcionou muito bem,
mas, paulatinamente, com o passar do tempo e com o consequente e inevitável
desenvolvimento do pensamento humano, algum progresso foi feito no sentido de se
desvendar os mecanismos de funcionamento do nosso universo. Mesmo sem
recursos e utilizando-se apenas da força de seu intelecto e de poucas ferramentas e
equipamentos rudimentares, alguns homens notáveis fizeram descobertas científicas
importantes e geraram questionamentos que acabaram por esbarrar perigosamente
em certos dogmas religiosos.

Sempre que isso ocorria, a máquina repressiva do Estado era ativada pela Igreja e
posta em funcionamento para coibir a divulgação das ideias tidas como permissivas
e punir exemplarmente seus autores.

Acima, figura antiga retratando a exumação e cremação do corpo de John Wycliffe. Além de
traduzir a Bíblia para o Inglês ele defendia a ideia de que o poder da Igreja devia ser limitado
às questões espirituais, sendo o poder temporal exercido apenas pelo Estado. Mesmo tendo
falecido de causas naturais não escapou da condenação da Igreja que ordenou que seu
corpo fosse desenterrado e queimado, como aconteceria se estivesse vivo. Junto com seu
corpo foi queimada também a tradução da Bíblia.
7
A figura abaixo retrata Jan Hus, seguidor de Wycliffe, que não teve a mesma sorte
de morrer de causas naturais antes do término de seu julgamento, por isso foi
queimado vivo em praça pública.

Preparação da execução de Jan Hus

Talvez o mais emblemático caso desta repressão à livre expressão do pensamento


tenha sido o julgamento e a condenação de Galileu Galilei por ter afirmado que a
Terra gira em torno do Sol, idéia contrária aos dogmas da época. Em certa
passagem bíblica, que era tomada em seu sentido literal, Deus teria ordenado ao
Sol que parasse em seu curso para favorecer o término de um massacre que estava
em andamento; para os teólogos da época, isso fornecia prova incontestável de que
o Sol gira em torno da Terra.

Ao lado, figura que


representa o sistema
geocêntrico conforme a visão
do astrônomo Claudio
Ptolomeu. Esse sistema era
defendido pela Igreja.

8
A imagem acima retrata Galileu Galilei se apresentando ao tribunal da Inquisição por
afirmar que a terra gira em torno do Sol, idéia contrária aos dogmas da época.
(Pintura do século XIX de Joseph-Nicolas Robert-Fleury)

Em dado momento a influência da Igreja sobre a sociedade européia, que


remontava aos primórdios da Idade Média, começou a ser questionada por aqueles
que desejavam progresso científico, moral, intelectual ou espiritual. A ignorância, a
superstição e o fanatismo, condições básicas para a manutenção do equilíbrio
Igreja/Estado, passaram a ser considerados por esses homens como entraves ao
progresso social e representavam então as “trevas” que deviam ser combatidas.

Os Maçons construtores de ofício (pedreiros) eram ligados à guildas como a


“Venerável Companhia dos Maçons Livres da Cidade de Londres”. Mas o esoterismo
e os ensinamentos maçônicos, como os conhecemos hoje, contidos em símbolos e
alegorias e transcritos em rituais foram desenvolvidos pelos Maçons chamados
Especulativos, a partir do século XVII.

Esses não eram pedreiros, eram homens de condição social média ou alta,
pertencentes à burguesia, pesquisadores e estudiosos das culturas antigas e das
ciências que precisavam se reunir para divulgar entre si suas descobertas e
tentarem de alguma forma elevar o espírito humano.

Conforme o Ir Fadista “A Inglaterra era, na Europa de então, o único país que os
colocaria a salvo dos processos e dos autos de fé da Inquisição Católica. Mesmo na
Inglaterra a situação político-religiosa estava em transição, e ainda era bastante
perigosa a divulgação dos conhecimentos esotéricos, filosóficos e sociais que os
haviam inspirado. Nestas condições, era bastante atraente a oportunidade de se
ocultarem dentro da organização [a Maçonaria de ofício], de modo a resguardar a

9
permanência do conhecimento não ortodoxo, bem como a sua transmissão, de
modo velado.”

Surge a ideia de se fundar uma Ordem não-religiosa, que fomentaria a tolerância


religiosa, a liberdade de pensamento e os diretos civis.

Ainda segundo o Ir Fadista o simbolismo geométrico-arquitetônico, as imagens e a


linguagem da construção passam a ser utilizados para exprimir conhecimentos
esotéricos e filosóficos. Uma parte desses conhecimentos são os valores morais que
conhecemos bem hoje, e que se baseiam na tolerância religiosa, na ação social em
favor dos necessitados, na difusão da cultura, na preferência pelos sistemas
democráticos de governo, na aversão por toda a forma de despotismo, no
compromisso com o social em todas as suas formas, e na obrigação de manter um
comportamento ético irrepreensível.

Outra parte é formada por conhecimentos esotéricos baseados principalmente nas


doutrinas Rosa-Cruz. A parte esotérica da Maçonaria é formada por uma mistura de
diversas correntes filosófico-religiosas: o hermetismo egípcio, o cabalismo judaico, o
gnosticismo dito cristão, a alquimia, etc. Seus ensinamentos são, na verdade, uma
síntese do ocultismo encontrado na Idade Média.

Os sobreviventes do movimento Rosa-Cruz da Alemanha também se refugiaram na


Inglaterra depois da dissolução do reino da Boêmia, em 1619. Coincidentemente os
primeiros documentos que atestam a existência de Maçons não operativos, são
datados de dois anos depois, isto é, de 1621.

Assim nascia a Maçonaria em sua forma atual.

Outras sociedades secretas também floresceram neste período como locais


perfeitos, que forneciam a proteção necessária para o desenvolvimento de novas
ideias e conceitos. Combater as trevas pela propagação da luz não é uma metáfora
exclusiva do universo maçônico, essa concepção representou a visão dos ideais de
toda uma época. Uma época marcada pela tentativa de dominação da livre
expressão do pensamento humano através da força e da manutenção da ignorância.

10
O entendimento desse contexto histórico é vital para falarmos sobre o objetivo da
Maçonaria, pois ele não poderia deixar de estar intimamente ligado com o
nascimento desta instituição, com os motivos que levaram à sua criação.

A título de exemplo do tipo de pessoas que formaram a Maçonaria, a Sociedade


Real de Londres a The Royal Society of London for the Improvement of Natural
Knowledge (Sociedade Real de Londres para o Progresso do Conhecimento da
Natureza), fundada em 1660, ainda ativa, e tida hoje como a mais respeitada
sociedade científica do mundo foi fundada pelos primeiros maçons.

Sede da Royal Society em Londres

Agora fica mais fácil compreendermos a resposta á pergunta que lancei no início
deste trabalho, sobre o que fazemos na Maçonaria e qual é o objetivo desta
instituição.

A página oficial do Grande Oriente do Brasil nos responde: “Seu objetivo é a


investigação da verdade, o exame da moral e a prática das virtudes ... em uma
palavra, a Maçonaria trabalha para o melhoramento intelectual, moral e social da
humanidade.”

Temos do contexto histórico que resultou na sua criação que o objetivo da


Maçonaria é o de propiciar um local seguro e protegido, “a coberto” de olhos
profanos, onde seja promovida a elevação pessoal do indivíduo por um caminho
íntimo e individual.

O simbolismo do trabalho construtivo, buscado na tradição da Maçonaria operativa


coloca em ênfase o trabalho construtivo do caráter, da cultura e da espiritualidade do
homem.
11
Concluímos então que o objetivo, o alvo, o foco, a meta é que este grupo de
pessoas, que não é muito numeroso, justamente por ser selecionado, e que
aparentemente subsiste isolado, se dissemine naturalmente entre a população
influenciando a sociedade em que está inserido e, em última análise a
humanidade, tornando-a melhor à medida que também se tornam melhores.

É isso o que precisamos entender: “a finalidade da Ordem maçônica é a elevação


pessoal do indivíduo, o qual, por um caminho único e particular chega a
compreender o seu lugar em relação ao Ser Supremo e aos seus próprios
semelhantes, refletindo necessariamente em suas atitudes na vida prática gerando
um cidadão honesto, bom pai, uma pessoa atenciosa e tolerante e de indiscutível
moralidade.”

O Maçom Gorel Porciatti Umberto esclarece que “Magnífica é a finalidade que a


Ordem se propõe, e, se não forem deturpados, pacíficos e serenos são os meios
que ela emprega; um único objetivo direto: elevar o Homem, o ser individual, aquele
que quer se elevar, fazê-lo pensar, meditar...”

A Maçonaria foi criada para incentivar homens bons a se tornem homens cada vez
melhores, com maior cultura e mais elevada moral do que já possuem, através da
observação, pesquisa, estudo e profunda reflexão sobre o ensinamento contido
nos símbolos e alegorias a que são expostos e sobre as diversas ciências
mencionadas nos Rituais. Homens que não serão conduzidos, que não aceitarão
verdades impostas, farão uso antes da razão para buscar as suas próprias
verdades.

Por isso a Maçonaria, como entidade, não deve se envolver diretamente em política
ou em qualquer outra área de atuação humana, mas sim deve se concentrar em
desenvolver e capacitar homens moral, espiritual, intelectual e civicamente para que
estes ajam de acordo com sua consciência e, na medida de suas forças, contra os
males que afligem a humanidade.

O verdadeiro papel da Maçonaria como entidade, não é o de atuar diretamente


contra os diversos males que nos afligem hoje, mas sim de forma indireta, sendo o
criadouro de homens preparados para atuarem contra eles.

12
UM PECULIAR SISTEMA DE ENSINO

O sistema de ensino adotado pela Maçonaria é bastante peculiar. Não estamos


acostumados a ele e por isso temos, geralmente, grande dificuldade em entendê-lo
e aproveitá-lo na sua totalidade.

As entidades religiosas, de um modo geral, tentam lapidar o homem. A Maçonaria


induz o homem a se autolapidar. Essa é a grande diferença.

As igrejas nos impõem as suas verdades, a Maçonaria nos expõe a símbolos e


alegorias para que nós mesmos descubramos nossas próprias verdades através da
pesquisa, estudo e reflexão.

Por esse método, os símbolos e alegorias que nos são apresentados devem ser por
nós compreendidos como veículos que nos instigam a aperfeiçoar nossas virtudes
morais, adquirir cultura e desenvolver nossa espiritualidade.

13
Capacitar os homens a se “autolapidarem” - a verdadeira missão da Maçonaria - não
é simplesmente ensinar os homens sobre moral, política, sociologia ou qualquer
outra ciência, mas ensinar-lhes antes de tudo a aprender sozinhos, ensinar-lhes que
eles precisam aprender a aprender, ou seja, a se autoaprimorarem com o objetivo
de poderem ser assentados com perfeição, como pedras bem esquadrejadas e
polidas, no edifício social em construção.

Por isso as alegorias maçônicas se referem à construção do Templo de Salomão.


Enquanto Aprendizes, somos exortados a trabalhar em nossa “pedra bruta” tal como
os aprendizes desbastavam as pedras retiradas das pedreiras de Salomão para que
elas pudessem ser encaixadas no Templo sem o uso de ferramentas, uma vez que
uma das exigências de Deus era de que as ferramentas não deveriam perturbar o
silêncio daquele local sagrado. Logo descobrimos que a “pedra bruta” a ser
desbastada é cada um de nós, e não nossos Irmãos, e que fazemos isso
estudando, aprendendo, livres de dogmas e nos aperfeiçoando moral e
espiritualmente com as ferramentas fornecidas pela Maçonaria.

A Maçonaria se preocupa com o desenvolvimento do indivíduo. Cada Maçom deve


se preocupar com o seu próprio desenvolvimento moral, cultural e espiritual e não
com o de seu Irmão, pois a pedra bruta a ser lapidada é cada um de nós. Esse
sistema é muito diferente do que estamos acostumados, onde os erros são
procurados nos outros e a forma correta de postura ou visão ou o dogma são
impostos através de instruções claras.

Por esse método de ensino o máximo que podemos admitir, em termos de


interferência no desenvolvimento de nossos Irmãos, é induzi-los a refletir através do
nosso próprio exemplo. Assim, se julgamos que algum Irmão deve melhorar em
algum ponto, devemos dar a ele, silenciosamente, e unicamente através da prática,
o nosso exemplo. Caberá a ele perceber e levar em consideração nossa maneira de
agir, ou não. A pedra bruta a ser desbastada sou eu e não o meu Irmão. Ele está
trabalhando, bem ou mal, na sua própria pedra, que é ele mesmo, e pode, se
desejar, olhar para o lado e tentar fazer como eu faço.

Uma vez lapidados e preparados, ou melhor, uma vez que aprendemos a como nos
lapidar e nos preparar continuamente, que cada um de nós atue então de forma
correta junto à sociedade, como pai, marido, líder de classe, político, empresário ou
em qualquer outra atividade, praticando a filantropia e a fraternidade e nos
envolvendo nos problemas sociais.

Se isso realmente acontecer um dia - um grande número de homens de bem,


preparados e polidos, encaixados perfeitamente em cada local onde são
necessários homens de bem, ou seja, por toda a sociedade - então teremos sem
dúvida uma possibilidade de melhores dias.

14
CONCLUSÃO

Como vimos na introdução, a Igreja e os monarcas totalitários da época não


toleravam os livres-pensadores, e qualquer forma de ciência ou arte deveria refletir a
doutrina religiosa vigente. A Maçonaria surgiu para propiciar ao homem um local
protegido onde este possa se autodesenvolver sem temer dogmas ou imposições
que restrinjam o livre pensamento.

A filantropia, a fraternidade e a participação ativa em causas sociais não são


objetivos DIRETOS da Maçonaria, tais benefícios à humanidade são atingidos de
forma indireta como consequência natural do desenvolvimento do indivíduo, este
sim, árduo praticante e incentivador de tais ações junto à sociedade.

É argumento comum dizer que a Maçonaria foi responsável por diversos


movimentos que provocaram mudanças históricas no mundo todo; porém engana-se
quem assim pensa. Se repararmos bem, o que ocorreu na verdade foi que Maçons
participaram e fomentaram esses movimentos, mas não a Maçonaria como entidade.
Havia Maçons defendendo posições antagônicas nesses momentos históricos
importantes. No entanto, à frente desses movimentos que resultaram em benefício à
humanidade, se não havia unidade na Maçonaria, havia Maçons que aprenderam a
se “autolapidar” ao longo do tempo e que no momento certo combateram a injustiça
e juntaram-se a outros homens, também ilustres e bravos, que não eram Maçons.

A Maçonaria, como entidade, não deve participar ela mesma de campanhas de


cunho político ou mobilizações de qualquer natureza. Sua finalidade não é chamar
atenção para si, ao contrário, em seu gene está a influência VELADA, atuando
sempre através de seus membros, nunca de forma direta. Se conseguirmos ater a
Maçonaria à sua finalidade: tornar homens de bem capazes de se “autoaprimorar”,
teremos já uma tarefa dificílima, digna de um Hércules.

A Maçonaria de hoje está deixando muito a desejar, justamente em seu objetivo,


formando pessimamente seus quadros, precisamente pela falta de foco.

Oriente de Jaguariúna, 10 de abril de 2011, EV

Wallace Lima

15
Referências bibliográficas

_____. Ritual do Grau 18 - Cavaleiro Rosa-Cruz ou Cavaleiro da Perfeição. Rio de


Janeiro: Supremo Conclave do Brasil. Rito Brasileiro, 2003.

ROBERTO, Douglas. Maçonaria – A Descoberta de um Mundo Misterioso. São


Paulo: Globo, 2004.

LOMAS, Robert. A Maçonaria e o Nascimento da Ciência Moderna. São Paulo:


Madras, 2007.

SCHURÉ, Édouard. Os Grandes Iniciados. São Paulo: Madras, 2003

BLAVATSKY, Helena Petrovna. As Origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000.

CAMINO, Rizzardo da. Rito Escocês Antigo e Aceito - 1° ao 33°. São Paulo: Madras,
2009.

TAVARES, Marcelo dos Reis. Tese de Mestrado: Entre a Cruz e o Esquadro: O


Debate Entre a Igreja Católica e a Maçonaria na Imprensa Francana (1882-1901).

Publicação da Ordem Rosa-Cruz AMORC - O Domínio da Vida

COSTA, Dival Gomes da. Trabalho - A Maçonaria Força e a Maçonaria Espírito.

Artigo - A Ordem Rosa-Cruz e a Maçonaria, obtido em:


http://www.culturabrasil.org/maconariaerosacruz.htm

FADISTA, Antonio Rocha. Artigo As Origens Da Maçonaria Especulativa, obtido em


http://www.maconaria.net/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=23

Sociedade Católica Rainha Maria. Artigo - Maçonaria x Cristianismo - Obtido em:


http://www.rainhamaria.com.br/Pagina/227/Maconaria-X-Cristianismo

http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100313212945AAwjd61

Artigo - Os Grandes Iniciados.


Obtido em: http://www.ofrancopaladino.pro.br/mat566.htm

16

Você também pode gostar