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Como fazer uma máscara em casa

EUA são o mais recente país a recomendar o uso de máscara e Portugal não exclui essa
possibilidade. Mas, para que não faltem aos médicos, há exemplos de versões caseiras
que podem ajudar.

08 abr 2020, 14:4516

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A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa contribui para que esta informação,


essencial para o esclarecimento público, seja de leitura aberta e gratuita para
todos

É uma das questões que mais tem dividido as políticas de vários


governos para travar a evolução do surto do novo coronavírus: as
máscaras devem ou não ser usadas por todos, sobretudo quando estou
em espaço fechados ou em contacto com outras pessoas?

Vista como natural nos países orientais — onde o uso da máscara é


comum, mesmo que não em situações de epidemia —, a máscara tem
passado de não recomendada a proteção obrigatória também em países
ocidentais. Em algumas regiões de Itália, sobretudo no Norte, não ter a
boca e o nariz tapados em espaço público pode valer multas de várias
centenas de euros. Na Áustria, na República Checa e em Israel, por
exemplo, o uso generalizado — em qualquer circunstância ou em locais
com maior concentração de pessoas — também passou a ser
obrigatório. E o facto de não haver máscaras cirúrgicas disponíveis
para toda a população fez com que esses países lançassem campanhas
que ensinam a fazê-las em casa, com vários tipos de tecido.

O mesmo aconteceu mais recentemente nos Estados Unidos, com o


próprio Centro de Controlo de Doenças a emitir tutoriais e vídeos
explicativos de como produzir máscaras caseiras.

Estes países decidiram não esperar por novas recomendações da OMS


que, ainda esta semana, anunciou que estava a estudar a questão das
máscaras para decidir se deve mudar a sua recomendação. O que a
OMS defende, neste momento, é que pessoas aparentemente saudáveis
e sem sintomas só devem utilizar máscara “se estiverem a tomar conta
de alguém que se suspeita estar infetado” com Covid-19. A decisão é
justificada com custos (já que uma corrida às mascaras poderia agravar
a falta de material para profissionais de saúde) e com a “falsa
sensação de segurança” que pode provocar, já que de nada serve
usar máscara se não for corretamente utilizada — à semelhança do que
já acontece com as luvas, por exemplo.

É esse o argumento que mais tem sido repetido também em Portugal.


No fim de semana, a ministra da Saúde lembrava que o tema tem
estado em evolução “dinâmica” e admitia que o Governo estava “a
equacionar é uma alteração possível — possível — do
contexto em que uma necessidade de uma maior circulação
social possa ser adequadamente mais protegida de máscara”.

Nessa ponderação, a DGS pediu um parecer sobre a questão das


máscaras, que recomendou o uso generalizado, somando-se a apelos
semelhantes feitos pela Ordem dos Médicos ou pelo Conselho de
Escolas Médicas. Mas, na segunda-feira, Graça Freitas mantinha a
mesma posição: a diretora-geral da Saúde diz que “continuamos
alinhados, à data – sublinho, à data – com as recomendações da
Organização Mundial de Saúde [OMS]”. Por isso, não é certo que essa
decisão vá ser tomada em Portugal.

Se for, colocar-se-á a questão da disponibilidade do material, sabendo-


se que as máscaras estão esgotadas nas farmácias e a sua distribuição
tem sido feita, prioritariamente, aos grupos de risco. Nesse cenário, as
recomendações de outros países sobre como fazer as próprias
proteções em casa — e com que materiais — podem ajudar. Mesmo
tendo sempre em conta que é determinante saber usar bem as
máscaras e que o seu uso não deve, em qualquer circunstância,
eliminar as outras medidas de auto-proteção, sobretudo o
distanciamento social — o mais eficaz para evitar a propagação da
doença.
▲ O uso de máscaras na Ásia já é uma realidade desde o primeiro
surto de SARS, em 2003
AFP VIA GETTY IMAGES

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Como fazer uma máscara em casa
O Center for Disease Control (CDC), organismo público dos EUA, não
só passou a sugerir o uso de máscaras feitas de tecido à população em
geral, como deu a conhecer várias formas — umas mais elaboradas,
outras mais simples — de cada um criar a sua própria máscara. Aqui
ficam os três exemplos dados por este órgão, com níveis de dificuldade
diferentes.

Adaptar dois retângulos de algodão


A fórmula mais difícil envolve alguma habilidade na costura, mas
garante uma máscara com duas camadas e elásticos bem presos. É, por
isso, aquela que provavelmente terá mais durabilidade — mas também
a que implica mais trabalho.
Figura 1

Criar uma máscara a partir de uma t-shirt


Com um nível de dificuldade intermédio, é possível improvisar uma
máscara apenas com uma t-shirt velha e uma tesoura.
Figura 2

Adaptar um lenço ou quadrado de tecido


A forma mais fácil e rápida de criar uma máscara caseira é utilizando
um lenço e alguns filtros de café, já que este tipo de tecido é geralmente
menos eficaz a impedir a transmissão de gotículas do que os tecidos de
algodão. Mas, com a ajuda de elásticos de cabelo, é possível criar uma
máscara improvisada em poucos segundos.
Figura 3

Estas máscaras são laváveis, mas se perderem a forma no processo é


melhor fabricar outras.
Que tecidos deve ou não usar
Calma. Seja qual for o método escolhido, algumas regras devem ser
tidas em conta para garantir máxima eficácia. Em primeiro lugar, o
tipo de tecido utilizado pode ser mais ou menos resistente à passagem
das gotículas por onde o novo coronavírus circula. “O maior desafio ao
fazer uma máscara caseira é escolher um material que é
suficientemente denso para capturar as partículas virais,
mas respirável o suficiente para que o possamos utilizar. Alguns dos
itens vendidos online dizem ter alta capacidade de filtrar o vírus, mas o
material de que são feitos torna-os inutilizáveis”, explica o The New
York Times.

▲ Com agulha e linha ou até com uma máquina de costura, é possível


fazer uma máscara em poucos minutos
GETTY IMAGES

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A Universidade de Stanford, nos EUA, dá uma ajuda sobre quais os
materiais que devem ser utilizados, recorrendo a um artigo científico
publicado em 2013, onde se comparou o uso de máscaras caseiras com
as máscaras cirúrgicas N95 ou PFF2 (de acordo com as normas norte-
americanas ou europeias, respetivamente) —  as mais profissionais e
eficazes, que devem ser reservadas para profissionais de saúde. Nesse
estudo, intitulado “Testando a eficácia de máscaras caseiras: poderiam
elas proteger-nos no caso de uma pandemia de gripe?” foram
estudados vários materiais e comparados com a eficácia das PFF2. A
Stanford compilou essas conclusões, no seguinte gráfico, onde se pode
ver que alguns dos materiais mais eficazes são filtros de
aspiradores, toalhas de mesa e t-shirts de algodão.

Comparação da eficácia de vários materiais de máscaras caseiras


(D.R. Stanford University)

Qualquer máscara feita a partir de um destes materiais deve, no


entanto, ser sujeita a uma série de cuidados. O CDC recomenda que
estas máscaras sejam regularmente lavadas, numa máquina de lavar
comum com detergente, e que sejam respeitadas as regras de
segurança ao remover a máscara, não tocando nos olhos, nariz e boca e
lavando de imediato as mãos a seguir. Além disso, não devem ser
usadas por crianças com menos de dois anos de idade, por pessoas com
problemas respiratórios ou por pessoas que não sejam capazes de as
retirar sozinhas. São “uma medida adicional e voluntária de saúde
pública”.

Para que sejam mais eficazes, o CDC recomenda ainda que cubram
toda a boca e nariz, mas que não estejam demasiado apertadas, que
tenham várias camadas de tecido e que sejam feitas de um material que
não encolha na lavagem.
Atenção: uma máscara não lhe
garante proteção total
Mesmo que tenha seguido todas as recomendações, é importante
lembrar que ter uma máscara não lhe garante que, a partir daqui, está
completamente protegido da Covid-19. Aquilo que podemos saber é
que estamos, provavelmente, a contribuir para a redução do risco de
propagarmos o vírus, caso sejamos portadores dele sem o sabermos. E,
mesmo isso, não é 100% garantido — é preciso saber usar a máscara e,
sobretudo, não deixar de ter todas as outras medidas de proteção,
sobretudo o distanciamento social.

“As máscaras, só por si, não travam a pandemia. Não há


pretos e brancos, não há ‘balas mágicas’”, avisou Tedros
Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS, na tarde desta segunda-feira,
dizendo que “há poucos dados disponíveis” sobre a eficácia das
máscaras na contenção deste vírus e que devemos evitar que as
máscaras faltem aos profissionais de saúde. Contudo, afirmou que a
OMS vai emitir novas recomendações nesta matéria e apelou aos países
que estão a adotar a medida que a estudem ao máximo.

▲ A OMS, aqui representada pelo diretor Tedros Adhanom


Ghebreyesus, continua a olhar com ceticismo para o uso de
máscaras, mas vai criar orientações
FABRICE COFFRINI/AFP VIA GETTY IMAGES

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É certo que uma máscara de tecido nunca terá a eficácia de uma
máscara PFF2, mas essas devem ser mesmo deixadas para os
profissionais de saúde. Mas, quanto à eficácia desta solução para a
população em geral, alguns especialistas consideram que pode trazer
mais benefícios do que riscos: “Não é como se elas não bloqueassem
nada. Simplesmente não bloqueiam tanto como as que são
equipamento médico”, resumiu Marybeth Sexton, professora de
Medicina na Geórgia (EUA), à Vice.

A mesma ideia já tinha sido resumida pelos investigadores que fizeram


a comparação entre máscaras de tecido e máscaras tradicionais em
2013. “As nossas conclusões sugerem que uma máscara caseira deve
ser considerada como um último recurso para prevenir a transmissão
por gotículas de indivíduos infetados. Mas é melhor do que não
usar qualquer tipo de proteção.” Cumprindo sempre todas as
regras, é claro, nomeadamente a distância social.

Neste vídeo, pode ver as recomendações da OMS sobre como usar a


máscara de forma correta:

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