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Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas

Processo
AREsp 1718814

Relator(a)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO

Data da Publicação
DJe 22/09/2020

Decisão
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1718814 - PR (2020/0152620-0)
DECISÃO
1. C uida-se de agravo interposto por JOSE AC AC IO HNATUW contra decisão
que não admitiu o seu recurso especial, por sua vez manejado em face de
acórdão proferido pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, assim
ementado:
APELAÇÕES C ÍVEIS JULGAMENTO SIMULTÂNEO DE AÇÃO DE USUC APIÃO E DE AÇÃO
REIVINDICATÓRIA APELAÇÃO CÍVEL NPU 00016737819988160001 AÇÃO DE USUCAPIÃO
PEDIDO JULGADO PROCEDENTE APELO DOS RÉUS INSTRUÇÃO PROBATÓRIA QUE REVELOU
A EXISTÊNC IA DE C OMPOSSE PROVAS C OLHIDAS (TESTEMUNHAL E DOC UMENTAL) QUE
DEMONSTRAM O EXERC ÍC IO DA POSSE TAMBÉM PELA MÃE DO AUTOR E SEUS IRMÃOS
HIPÓTESE DE LITISCONSÓRCIO ATIVO NECESSÁRIO IMPOSSIBILIDADE DE DECLARAÇÃO
DA PROPRIEDADE A SOMENTE UM DOS C OMPOSSUIDORES NEC ESSIDADE DOS
C OMPOSSUIDORES INTEGRAREM A LIDE EXTINÇÃO DO PROC ESSO SEM RESOLUÇÃO DE
MÉRITO DESC ABIMENTO OFENSA AO PRINC ÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROC ESSO
INTELIGÊNC IA DO ART 6 DO C PC 2015 FEITO QUE TRAMITA HÁ MAIS DE 20 ANOS
ANULAÇÃO DO PROC ESSO A PARTIR DA SENTENÇA PARA C ITAÇÃO DE TODOS OS
C OMPOSSUIDORES SOLUÇÃO QUE SE REVELA MAIS JUSTA INSUBSISTÊNC IA DA
SUCUMBÊNCIA EM RAZÃO DA ANULAÇÃO DA SENTENÇA RECURSO PREJUDICADO APELO DA
AUTORA REC URSO QUE VISA EXC LUSIVAMENTE A MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA
ANÁLISE PREJUDIC ADA EM RAZÃO DA ANULAÇÃO DA SENTENÇA REC URSO NÃO
C ONHEC IDO APELAÇÃO C ÍVEL NPU 00029814720018160001 AÇÃO REIVINDIC ATÓRIA
PEDIDO JULGADO IMPROC EDENTE APELO DOS AUTORES ANULAÇÃO DA SENTENÇA
PROFERIDA NA AÇÃO USUC APIÃO QUE C ONDUZ À ANULAÇÃO DA SENTENÇA PROFERIDA
NESTA DEMANDA JULGAMENTO QUE DEPENDE DIRETAMENTE DO RESULTADO DA AÇÃO DE
USUC APIÃO OBRIGATORIEDADE DE APURAÇÃO DA QUALIDADE DA POSSE DOS
C OMPOSSUIDORES SE JUSTA OU NÃO NEC ESSIDADE DE NOVO JULGAMENTO SIMULTÂNEO
DE AMBAS AS DEMANDAS SENTENÇA ANULADA INSUBSISTÊNC IA DA SUC UMBÊNC IA
REC URSO PREJUDIC ADO APELO DA PARTE RÉ REC URSO QUE VISA EXC LUSIVAMENTE A
MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA ANÁLISE PREJUDICADA EM RAZÃO DA ANULAÇÃO DA

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SENTENÇA REC URSO NÃO C ONHEC IDO Nas razões do recurso especial, aponta a
parte recorrente, além de dissídio jurisprudencial, ofensa ao disposto
nos arts. 488 CC/16, 1.199 do Código Civil, 47, 114 e 485, IV, do Código
de Processo Civil.
Sustenta, em síntese, o agravante: "Tratando-se a composse de um vínculo
possessório em favor de mais de um titular, não se mostra possível o
ajuizamento individual da ação de usucapião. Isso porque a penalidade
para a inobservância do litisconsórcio necessário não é o retorno dos
autos à origem, mas sim a extinção do processo sem resolução de mérito. É
que estariam ausentes os pressupostos de constituição e desenvolvimento
válido do processo, é de rigor, ao contrário do entendimento esposado
pelo acórdão recorrido, a extinção do feito, sem resolução de mérito.".
Contrarrazões ao recurso especial às fls. 1296-1303.
É o relatório.
DECIDO.
2. O Tribunal de origem - destinatário da prova - após a análise dos
elementos informativos contidos nos autos, assim concluiu:
Em que pese os fundamentos da sentença, tem-se que ela está a comportar
reforma, na medida em que os autores não preenchem os requisitos para a
aquisição da propriedade pela prescrição aquisitiva, porquanto a prova
produzida nos autos demonstrou, com absoluta certeza, que a posse
exercida pelos autores sobre o imóvel não era exclusiva, existindo, em
verdade, uma situação de composse.
De início, restou incontroverso nos autos que os pais dos autores
passaram a ocupar o imóvel usucapiendo por engano, acreditando se tratar
do imóvel que havia sido adquirido por eles (lote 17, da quadra 44, da
Planta Rio Negro), o qual foi registrado exclusivamente em nome da Sra.
Otília Hammerschmidt (mãe do autor Rafael), em 27 de fevereiro de 1.978,
conforme consta da matrícula 9.718, da 8ª C ircunscrição Imobiliária de
Curitiba (mov.1.3). A tese defendida na inicial de que os autores exercem
a posse sobre o imóvel usucapiendo desde o ano de 1977, não se sustenta,
porquanto a aquisição da propriedade do lote 17 pela Sra. Otília
Hammerschmidt, que deu causa à ocupação por engano do lote nº 16 (objeto
da lide), somente ocorreu em 27 de fevereiro de 1978.
(...)
Por outro lado, ainda que se admita que os autores exercem a posse sobre
o lote nº 16 desde o ano de 1978 após a aquisição do lote nº17 pela Sra.
Otília , é inquestionável que ela não é exclusiva, porquanto restou
incontroverso nos autos que as edificações existentes no imóvel
usucapiendo somente foram construídas por engano, por acreditarem que

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estavam construindo sobre o imóvel adquirido pela Sra. Otília
Hammerschmidt. A prova oral produzida nos autos demonstrou que o imóvel
era ocupado pela sra. Otília Hammerschmidt e pelos irmãos do autor Rafael
(Raul, Rubens, Rosilda e André).
(...)
Nesse particular, após a morte da Sra. Otília Hammerschmidt, todos os
seus herdeiros passaram a ser possuidores do imóvel usucapiendo, por
força do princípio de (art. 1784 do C C B), e deveriam ter saisine se
habilitado nos autos. Portanto, por mais que os autores tenham ocupado o
imóvel pelo prazo de mais de vinte anos desde a aquisição do lote nº 17
pela Sra. Otília e ocupação por engano do lote nº 16 , necessário
observar a regra do art. 488 do Código Civil de 1916 - correspondente ao
art. 1.199 do C ódigo C ivil de 2002-, que estabelece que "se várias
pessoas possuírem coisa indivisa, ou estiverem no gozo do mesmo direito,
poderá cada uma exercer sobre o objeto comum atos possessórios, contanto
que não excluam os dos outros compossuidores".
No caso concreto, não obstante os autores tenham afirmado na petição
inicial que exercem exclusivamente a posse mansa e pacífica do imóvel, e
a sentença tenha entendido que não restou comprovada a situação de
composse, não é o que se verifica do conjunto probatório produzido nos
autos. Relevante destacar que a ação de usucapião não foi ajuizada pela
"família Hammerschmidt", mas sim por Rafael Hammerschmidt e sua esposa
Nerí Paulo Hammerschmidt, única e exclusivamente, de forma que a
comprovação da posse da "família Hammerschmidt", por si só, não é
suficiente para reconhecer que os autores preencheram os requisitos
legais da usucapião, tal como concluiu a magistrada singular.
Ora, se as provas produzidas nos autos comprovaram que o imóvel era
ocupado pela "família Hammerschmidt", é inquestionável a existência da
composse, circunstância que obsta o pedido usucapião de forma individual
pelos autores, diante da necessidade de o pedido ser formulado em nome de
todos os compossuidores.
(...)
C om efeito, tratando-se de composse , é obrigatória a formação de
litisconsórcio ativo ad usucapionem necessário para a constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo, sob pena de excluir os atos
possessórios do outro compossuidor, nos termos do art. 1.199 do C ódigo
Civil (art. 488 do Código Civil de 1916), o que não foi observado no caso
dos autos.
(...)
Assim, estando comprovado que a Sra. Otília Hammerschmidt e os irmãos do

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autor Rafael também exerceram (e exercem) a posse sobre o imóvel
usucapiendo, e considerando que eles não integraram o polo ativo da
demanda, impossível a declaração da propriedade exclusivamente a favor
dos autores.
Não obstante isso, ao revés do que defendem os apelantes, não se
justifica, neste momento, a extinção do processo de usucapião sem
resolução de mérito, porquanto essa medida importaria em ofensa ao
princípio da razoável duração do processo (art. 6º do C PC ), notadamente
quando a ação foi ajuizada no ano de 1998 e a extinção importará na
desconsideração de todas as provas já produzidas, sobretudo a prova oral
(mov. 143 dos autos de usucapião).
Assim, a melhor solução é a anulação do processo a partir da sentença,
para que os demais possuidores sejam citados para, querendo, integrarem a
lide, sob pena de, em caso de inércia, se sujeitarem aos efeitos da
sentença de usucapião (eficácia preclusiva da coisa julgada). erga omnes
(...)
O acórdão recorrido sustenta que: "Não se justifica, neste momento, a
extinção do processo de usucapião sem resolução de mérito, porquanto essa
medida importaria em ofensa ao princípio da razoável duração do processo
(art. 6º do CPC), notadamente quando a ação foi ajuizada no ano de 1998 e
a extinção importará na desconsideração de todas as provas já produzidas,
sobretudo a prova oral (mov. 143 dos autos de usucapião).Assim, a melhor
solução é a anulação do processo a partir da sentença, para que os demais
possuidores sejam citados para, querendo, integrarem a lide, sob pena de,
em caso de inércia, se sujeitarem aos efeitos da sentença de usucapião
(eficácia preclusiva da coisa julgada). erga omnes.". Todavia, tais
fundamentos autônomos e suficientes para a manutenção do acórdão
recorrido não foram rebatidos pelo recorrente em seu apelo especial.
Desse modo, verifica-se a falta de impugnação objetiva e direta ao
fundamento central do acórdão recorrido nesse ponto, o que denota a
deficiência da fundamentação recursal, a fazer incidir, no particular, as
Súmulas 283 e 284 do STF.
Nesse sentido:
AGRAVO INTERNO EM AGRAVO EM REC URSO ESPEC IAL. AÇÃO DE C UMPRIMENTO DE
C ONTRATO C /C REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. C ERC EAMENTO DE DEFESA.
PRELIMINAR AFASTADA. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. NEGATIVA DE PAGAMENTO DA
INDENIZAÇÃO C ONTRATUAL. APOSENTADORIA C ONC EDIDA PELO INSS.
INVALIDEZ PERMANENTE PARA O TRABALHO. INDENIZAÇÃO DEVIDA.
C ERC EAMENTO DE DEFESA. SÚMULA 7/STJ. INC IDÊNC IA. PREQUESTIONAMENTO
AUSENTE. SÚMULA 211 DO STJ. SÚMULAS 283 E 284 DO STF. INC IDÊNC IA.

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AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. O exame da pretensão recursal sobre a necessidade da prova pericial
dispensada nas instâncias ordinárias exigiria o revolvimento e a
alteração das premissas fático-probatórias estabelecidas pelo v. acórdão
recorrido. O questionamento é obstado pela incidência do princípio do
livre convencimento motivado do magistrado e pelo enunciado de Súmula 7
do STJ.
2. Para que se configure o prequestionamento da matéria, ainda que
implícito, há que se extrair do acórdão recorrido pronunciamento sobre as
teses jurídicas em torno dos dispositivos legais tidos como violados, a
fim de que se possa, na instância especial, abrir discussão sobre
determinada questão de direito, definindo-se, por conseguinte, a correta
interpretação da legislação federal (Súm.
211/STJ).
3. A subsistência de fundamento inatacado apto a manter a conclusão do
aresto impugnado impõe o não conhecimento da pretensão recursal, a teor
do entendimento disposto na Súmula nº 283/STF. Aplicação analógica.
4. A ausência de demonstração clara de violação à lei federal ou do
dissídio jurisprudencial configura deficiência da fundamentação,
incidindo a Súmula nº 284/STF. Aplicação analógica.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp 1158372/AL, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 05/12/2019, DJe 10/12/2019) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM
REC URSO ESPEC IAL. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. HOMOLOGAÇÃO DE C ÁLC ULOS
PERIC IAIS. ABATIMENTO DOS VALORES REFERENTES À DIFERENÇA DE RESERVA
MATEMÁTIC A. SÚMULAS 5 DO STJ, 283 E 284 DO STF. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A falta de impugnação objetiva e direta ao fundamento central do
acórdão recorrido denota a deficiência da fundamentação recursal que se
apegou a considerações secundárias e que de fato não constituíram objeto
de decisão pelo Tribunal de origem, a fazer incidir, no particular, as
Súmulas 283 e 284 do STF. 2. O acolhimento da pretensão recursal de
remessa dos autos ao perito para refazer os cálculos considerando a nova
DRM dos agravados tendo em vista o regulamento da agravante demandaria a
interpretação de cláusulas contratuais, o que é inviável nesta via
especial ante o óbice da Súmula 5 do STJ.
3. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1425786/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 15/10/2019, DJe 24/10/2019) 3. Por fim, assevero que o
conhecimento do recurso fundado na alínea c do permissivo constitucional
pressupõe a demonstração analítica da alegada divergência. Para tanto,

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faz-se necessário a transcrição dos trechos que configurem o dissenso,
mencionando as circunstâncias que identifiquem os casos confrontados,
ônus do qual não se desincumbiu o recorrente.
4. Ante o exposto, nego provimento ao agravo.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília, 16 de setembro de 2020.
MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO Relator

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