Você está na página 1de 11

Corpos deslocados em Mulheres Alteradas*

Bodies out of place in Mulheres Alteradas*

Thais Coelho da SILVA**

Resumo: Assumindo o corpo como ponto de encontro entre história, natureza, ciência
e cultura, como um constructo mutante, passível de intervenções, engendrado em redes
de poder e controle, produzido pela linguagem e dotado de significação, nos encontra-
mos presentificados no mundo. Nosso contexto “pós-moderno” apresenta-se conflituoso
e ambíguo, pois se revela ao mesmo tempo repressor e libertador, estando a todo tempo
a dizer de nós, de nosso corpo e de nossos comportamentos, determinando e represen-
tando nossa experiência como seres humanos. Assim, através dos aparatos midiáticos,
discursos são veiculados e destinados à regulação do sujeito através de sua identificação
ou não com determinadas verdades construídas, ou através de efeitos de verdade. Aten-
dendo à lógica capitalista do mercado de consumo, a mídia contribui para uma visão de
corpo como artefato sócio-econômico-cultural que, ao ser constantemente construído e
reconstruído na discursividade, se concretiza. A partir de tais entendimentos localiza-
mos a obra da cartunista argentina Maitena como oblematizadora da questão do corpo,
pois retrata sua provisoriedade de forma satírica.

Palavras-chave: corpo. aparência. mídia. mulher.

Abstract: Assuming that the body is affected by history, nature, science and culture,
and that it is also a mutable construct, feasible of interventions, engendered in nets of
power and control, produced by language and endowed with signification, we find
ourselves in the world. Our “postmodern” context is itself in conflict and in an ambiguous
condition. Therefore, it appears at the same time repressive and liberating, saying
things about our body and about our behaviors, determining and representing our
experience as human beings. Thus, through the media, discourses are circulated and
aimed for the regulation of the subject through its identification or not with particular
constructed truths or by means of the “truth effects”. Considering the logic of the
capitalist market, the media contributes for a view of the body as a social, economic and

* Título inspirado no livro Mulheres Alteradas, de Maitena Burundarena.


**
Especialista em Pedagogia Esportiva pela ESEF/UFRGS. Integrante do Grupo de Estudos
Identidades Juvenis em Territórios Culturais Contemporâneos do Programa de Pós-gradu-
ação em Educação (PPGEDU) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-
mail: thcoelho@ig.com.br
Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006. 131
cultural artifact materialized into the discursive process that comes to life by being
continuously constructed and reconstructed. From such understanding the work Mu-
lheres Alteradas of the Argentinian cartoonist Maitena is considered as that of a
professional that questions the issues concerning the body as she portraits its ephemeral
condition in a satirical manner.

Keywords: body. appearance. media. woman.

Inicio este artigo comentando so- de abordagens metodológicas e no


bre seu título: mulheres alteradas. surgimento de novos objetos no cam-
Inspirei-me nele para emergir algumas po epistemológico, o corpo é legiti-
questões presentes e reincidentes na mado como interlocutor da história
realidade feminina - os cuidados com que, carente de linguagem, é, simulta-
o corpo, as exigências com a aparên- neamente, o lugar do desejo e da dor.
cia, o mercado de consumo da beleza, Historicamente, pode-se encon-
a interpelação de discursos midiáticos, trar o corpo tematizado como um ele-
enfim, alterações constantes que evi- mento importante nos processos de
denciam a provisoriedade de nossos produção, manutenção e transforma-
corpos. ção de identidades sociais e culturais,
Para desenvolver meus escritos, bem como nos processos de diferen-
recorro ao campo de teorização e in- ciação, hierarquização e desigualda-
vestigação denominado Estudos Cul- de social, como asseveram Meyer e
turais, que considera a cultura como Soares (2004, p.9). Dessa forma, “O
totalidade da experiência vivida dos corpo é um dos locais envolvidos no
grupos sociais e como campo de luta estabelecimento das fronteiras que
entre esses grupos em torno da signi- definem quem nós somos, servindo
ficação. Ao pontuar como dimensões de fundamento para a identidade”.
centrais o conhecimento e a identida- (WOODWARD, 2000, p. 15)
de posiciona o corpo como questão Assim, as identidades sociais são
central na cultura contemporânea. construídas no interior da represen-
Para Tomaz Tadeu da Silva (2000, tação, através da cultura. Por meio das
p. 31), a análise cultural contemporâ- práticas de significação e dos siste-
nea argumenta que “o corpo é, ele mas simbólicos por meio dos quais
próprio, um constructo cultural, soci- os significados são produzidos,
al e histórico, plenamente investido posicionamo-nos como sujeitos, dan-
de sentido e significação”. do sentido à nossa experiência e àquilo
Mary Lucy Murray Del Priore que somos. A identidade, entendida
(1994, p. 55) constata que graças às como processo social discursivo, é
mutações pelas quais vem passando vista como contingente, resultado,
a história, refletidas na modificação portanto, de uma fusão de diversos
132 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006.
componentes, de discursos políticos os aparatos midiáticos estão a todo
e culturais e de experiências singula- tempo a dizer de nós, de nosso corpo
res. É também relacional, marcada pela e de nossos comportamentos, deter-
diferença, por meio de símbolos; é tan- minando nossa experiência enquanto
to simbólica quanto social e histori- seres humanos.
camente específica. (HALL, 1998). Assim, para Fischer (1987, p. 60),
Para Meyer e Soares (2004, p. 6), “os meios de informação e comunica-
vivemos um tempo em que o corpo é ção constroem significados e atuam
exaustivamente falado, invadido, in- decisivamente na formação dos su-
vestigado e ressignificado; um contex- jeitos sociais”. Nesse processo, a
to em que várias áreas do conhecimen- mídia vem assumindo um papel rele-
to têm interferido e redefinido as for- vante, junto às demais formas de
mas pelas quais vemos, conhecemos, dinamização e expansão da cultura na
falamos e nos relacionamos com aqui- produção de sentidos.
lo que chamamos de ‘nosso corpo’. No universo cultural, a mídia pro-
Nosso tempo, comandado por duz saberes, através de pedagogias
valores capitalistas, tem o consumo, culturais, transmitindo atitudes e va-
principalmente de imagens cujo cor- lores. Reforça,assim, modelos de con-
po é veículo, como a principal moeda duta, modos de ser e de viver, nos
das relações. (ROSA, 2003, p. 120). posicionando socialmente. Em meio a
Instâncias econômicas se sustentam tensões e conflitos estabelecidos pe-
promovendo e comercializando repre- las relações de poder, nos encontra-
sentações de determinados corpos, mos em um campo de luta e de prática
instituídos como belos, jovens e sau- de uma política de representação que
dáveis. Assim, vários segmentos de produz o que somos ou devemos ser,
mercado têm-se estruturado a partir nossa identidade.
da produção do corpo humano, Através dos aparatos midiáticos,
reconfigurando sua aparência, dissi- discursos são veiculados e destina-
mulando suas ‘deficiências’, dos à regulação do sujeito através de
otimizando suas funções e aumentan- sua identificação ou não com deter-
do sua longevidade. minadas verdades construídas, ou,
Assumindo o corpo enquanto parafraseando Foucault, através de
ponto de encontro entre história, na- ‘efeitos de verdade’. Atendendo à ló-
tureza, ciência e cultura, constructo gica capitalista do mercado de con-
mutante, passível de intervenções, sumo, a mídia contribui para uma vi-
engendrado em redes de poder e con- são de corpo como artefato do merca-
trole, produzido pela linguagem e do- do econômico-social-cultural
tado de significação, encontramo-nos (ANDRADE, 2003, p.110), que, ao ser
presentificados no mundo, neste constantemente construído e
mundo conflituoso e ambíguo, onde reconstruído nessas discursividades,
Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006. 133
adquire uma materialidade que é, ao A obra artística de Maitena é de
mesmo tempo, um produto do poder grande visibilidade, já que hoje é
que gera divisões sociais. publicada em mais de 15 países. Per-
Também a falar do corpo, a cebe-se, assim, a inserção da chargista
problematizá-lo, retratando sua em um campo de crítica cultural nas
provisoriedade em nossa cultura de diversas situações vulgares que en-
forma satírica, através do artefato cul- volvem o universo da mulher, em seu
tural da charge, está a cartunista ar- posicionamento estético, político e
gentina Maitena. Com os cinco volu- cultural. A partir de fragmentos da fala
mes do livro Mulheres alteradas, ela cotidiana, percebe-se em Mulheres
discute o comportamento feminino em alteradas a construção de um imagi-
relação à aparência e ao envelhecimen- nário da mulher pautado pela forma-
to, ressignificando, assim, essas repre- ção de um discurso envolto pela pro-
sentações na sociedade pós-moderna. blemática da aparência.

134 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006.


A cultura moderna é assombrada beleza disponibiliza recursos para que
pela ideologia do presente, que re- cada corpo materialize o ideal difun-
gula o ser a sua condição estética. dido através dos meios de comunica-
Como propõe Foucault (1987, p.126), ção. Saber cuidar do corpo e mostrar
“em qualquer sociedade, o corpo tal capacidade figuram entre as ‘leis’
está preso no interior de poderes impostas pelo social, através de die-
muito apertados, que lhe impõem li- tas, exercícios físicos, cirurgias plás-
mitações, proibições ou obrigações”. ticas, técnicas de relaxamento e inú-
Ao comparar o sentimento da mulher meros dispositivos para minimizar as
em relação a seu corpo com determi- ‘imperfeições’ e retardar o envelheci-
nados animais, Maitena reabre o es- mento.
paço do questionamento da imagem Nessa perspectiva, em que o cor-
da mulher que vive sob o domínio da po é visto como projeto, em que toda
aparência, no qual o desejo de inser- intervenção, transformação, reconfi-
ção ao padrão estético em voga é guração é aceita e incentivada, somos
atravessado pelas individualidades constantemente envolvidos em pro-
objetivas e subjetivas do gênero fe- cessos de regulação e cuidado, que
minino. dizem da saúde que devemos ter, de-
Na indústria do consumo, o corpo é terminam a aparência que nossos cor-
guiado por diferentes princípios en- pos devem assumir e o grau de satis-
tre os quais está o progresso. Valori- fação que podemos ter acerca de nos-
zam-se características da juventude, sa imagem. O que se percebe é que
como disposição, saúde, liberdade e prevalece um modelo estabelecido
busca de emoção. Mudanças relacio- que busca homogeneizar os sujeitos,
nadas ao envelhecimento são
que apaga as singularidades do indi-
subjugadas, escondidas, plastificadas,
tonificadas e revigoradas. (ROSA,
víduo pós-moderno, que interfere em
2003, p. 125). sua subjetividade propondo padrões
corporais e comportamentais.
Atualmente, a preocupação com a
Dessa forma, percebe-se a magre-
aparência gera a necessidade de in-
za identificada como atributo a ser
vestimentos concernentes ao cuida-
perseguido incessantemente através
do com o corpo, à saúde e ao lazer,
de cuidados com o corpo, que, no atu-
bem como traduzidos em comporta-
al contexto, representa uma
mentos que exigem disciplina e con-
positividade do caráter. É o que evi-
trole dos excessos. A indústria da
dencia a ilustração que segue.

Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006. 135


Para Denise Sant’Anna (2000), na Desde la televisión y las revistas, des-
sociedade contemporânea um mal-es- de el cine y los afiches publicitarios
tar generalizado se introduz nos indi- en la vía pública, se muestra el cuerpo
del ‘joven modelo’: ágil y esbelto,
víduos quando a questão é a
desinhibido, seguro de sí, con firmeza
constatação de modificações que se
en sus carnes y en su actitud.
operam em seus corpos, mais especifi- (CHMIEL, 2000, p. 90).
camente quando se trata da passagem
do tempo e da perda da saúde física. A Para a autora, os corpos aparen-
aparência é vinculada à adoção de há- tam a pessoa que se gostaria de ser,
bitos e condutas, responsabilizando as pois somente através de uma ênfase
opções de cada um pelo seu sucesso sobre si mesmo se tornaria possível a
ou fracasso no que concerne aos sa- aceitação por parte do outro. Dessa
beres do corpo. Assim, o autocontrole forma, o corpo que apresenta carac-
é fundamental para aplicar os disposi- terísticas aceitáveis garante sua inclu-
tivos que possibilitarão uma padroni- são em determinado grupo social. Em
zação dos corpos e das condutas. alguns deles, para ser considerado
jovem, o ano do nascimento não é

136 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006.


importante; o que se considera é a to, equilíbrio e saúde para distintos
forma como cada ‘ator’ atua, a ado- grupos etários, pautas que têm como
ção do disfarce e da máscara correta referência a juventude.
em cena. Assim, a juventude se con- Nas últimas décadas, os meios de
verte em uma estratégia particular que comunicação de massa vêm fortale-
ignora o tempo dos relógios: o passar cendo sua presença na sociedade,
dos anos pode ser esquecido pela reforçando a legitimação de padrões
simples magia do mercado. considerados mais ou menos desejá-
É notório que o ‘ser jovem’ é, em veis, aceitáveis, difundindo, enfim,
nosso tempo, um valor positivo. As- modelos ideais de indivíduos. Dessa
sim, como em outros momentos e lu- forma, a juventude torna-se uma es-
gares se respeitava a serenidade, a tética em voga e quesito almejado de
experiência e a sabedoria dos idosos, acordo com os referenciais midiáticos,
ou mesmo a seriedade de um adulto, que reveste de conotações positivas
hoje se propõe, como modelo de êxi- quem possuir tal ‘atributo’.

Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006. 137


Os canais informativos, junto à desde su origen por la apropiación y
extensa rede de publicidade que en- explotación de los valores específicos
volve as sociedades, veiculam todo de los grupos de jóvenes – o, al me-
um conjunto de imagens que nos, aquellos que se les han atribuido
– hasta convertirlos en un estereotipo
interagem na vida cotidiana, articulan-
dominante y, a veces, hegemónico. En
do um processo que toma caracterís- este sentido, cabe hablar, pues, de
ticas provenientes do mundo juvenil, juvenilización de la cultura
tais como padrões estéticos, estilos (TORNERO, 1998, p. 263).
de vida, consumo, gostos e preferên-
O autor afirma que ser ou parecer
cias. Constitui, assim, sinais
ser jovem se mostra funcional em re-
emblemáticos de modernização, ma-
lação ao sistema industrial e consu-
nifestando o temor das marcas que o
mista da indústria cultural. Trata-se,
tempo assinala nos corpos, produzin-
então, de um mecanismo de contesta-
do significados através dessas mes-
ção própria dos sistemas culturais
mas marcas.
hierarquizados como são os da indús-
FREYRE, em artigo publicado pelo
tria cultural, resultados da correspon-
Jornal do Brasil, em 1972, já vislum-
dência formal entre os valores que são
brava: “os menos jovens vêm ultima-
funcionais à sociedade de consumo e
mente, entre os povos ocidentais, imi-
a outros que resultam do estatuto dos
tando os mais jovens”. O jovem dita a
jovens em nosso sistema social.
moda, impõe padrões que constroem
Com efeito, a sociedade de con-
e legitimam uma cultura juvenil e o
sumo, engendrada a partir da estabili-
idoso adota-a, amalgamando-se às
zação e manutenção de uma econo-
suas exigências. Paralelamente à ele-
mia privada capitalista, impele o indi-
vação da média de vida, percebe-se a
víduo ao consumo de infinitos pro-
disseminação do uso de artifícios,
dutos cujas quantidades postas em
como cosméticos, adornos, vesti-
circulação no mercado se coadunam
mentas, tratamentos estéticos e cirur-
não só aos desejos criados nos con-
gias plásticas, que permitem ao idoso
sumidores, mas, sobretudo, aos seus
parecer jovem, bem como, ‘compor-
produtores. Dessa maneira, a publici-
tar-se juvenilmente’. E para transpor
dade e a moda atuam como propulso-
os limites biológicos, a medicina se
ras do consumismo, uma vez que con-
faz presente através de procedimen-
figuram um panorama imagético reves-
tos dedicados a proporcionar ao su-
tido de valores coletivos associados
jeito condições de saúde e vitalidade,
a um imaginário social de novidade,
buscando uma juvenilidade. Nesse
celeridade, aceleração e visibilidade,
contexto, para os mais velhos, ser jo-
características típicas do consu-
vem é parecer jovem.
mismo.
Hay que reconocer que la cultura de A adoção de um sistema global
masas se ha venido caracterizando de comunicação propicia, por con-
138 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006.
seguinte, a criação de culturas juve- Margulis e Urresti (2000, p.15)
nis interconectadas a partir de deter- alertam para o emprego do termo ‘ju-
minados signos identitários, de for- ventude’ como produto, aparecendo
ma que, especialmente na década de como valor simbólico associado a
50, com o surgimento de uma cultura marcas apreciadas em nossa socieda-
juvenil que delimitou as distinções de, principalmente em relação a pa-
inerentes às gerações precedentes, drões estéticos. Promove-se, assim, a
houve uma exortação aos valores e comercialização de mercadorias, bens
estéticas culturais juvenis, entendi- e serviços relacionados à aquisição
dos como paradigmas a serem perse- dessa juventude, atuando direta ou
guidos dali por diante. Assim, o ‘blue indiretamente sobre os discursos so-
jeans’ e o ‘rock’, segundo assevera ciais que a identificam.
Carrano (2004), passam a fazer parte Dessa forma, vemos a banalização
de uma espécie de relicário de uma dos corpos na sociedade contempo-
juventude cultural global, constitu- rânea, onde é possível construir a apa-
indo, igualmente, elos de identifica- rência desejada comprando os signos
ção. relacionados a ela. Ciência e tecno-
Afirma Bebiano (2004) que “a per- logia se unem no afã de elaborar no-
cepção do presente vive saturada de vos procedimentos cirúrgicos e esté-
referências ao papel dos jovens e à ticos para permitir cada vez mais altos
valorização da própria idéia de juven- investimentos por parte dos sujeitos.
tude”. Em outros tempos, aparentar ROSA (2003, p.115) afirma que “os
ser mais velho indicava uma conduta discursos que certificam corpos se-
modelar. Hoje, parecer jovem “asse- duzidos e limitados pelo processo de
gura um estatuto de notoriedade”, civilização, apontam, simplesmente, a
através da valorização de caracterís- submissão do corpo ao progresso e à
ticas como ousadia, rapidez e entusi- disciplina, ao mercado e às
asmo. tecnologias, denotando um estado de
passividade”.

Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006. 139


Nessa perspectiva, entende-se sempre reinventar seus signos e sen-
que o corpo, enquanto processo em tidos. Por isso, ao apropriar-nos das
permanente desenvolvimento, é go- charges de Maitena como lentes vol-
vernado por instâncias que o contro- tadas à reflexão acerca do corpo, es-
lam detalhadamente em todos os seus pectro que nos diferencia e nos igua-
aspectos, desconsiderando suas la, nos liberta e nos controla, desve-
“apropriações, inventividades e la-se um caminho inusitado para a crí-
ambivalências” (ROSA, 2003, p.133). tica e a busca de possibilidades pe-
Percebe-se, assim, nas charges de dagógicas nos caminhos da educa-
Maitena, uma forma de “rir do que ção.
devíamos chorar” (MAITENA, 2004).
Afinal, o corpo que construímos é REFERÊNCIAS
também lugar de múltiplas possibili-
dades, conflitos e resistências, mui- ANDRADE, S. Mídia impressa e educa-
tas ainda a serem descobertas tam- ção de corpos femininos. In: LOURO, G.;
bém por nós, professoras. NECKEL, J. F.; GOELLNER, S. V. (Org.).
Dada a pluralidade e a Corpo, gênero e sexualidade: um deba-
suscetibilidade do corpo, é possível te contemporâneo na educação.

140 Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006.


Petrópolis: Vozes, 2003. p.108-123. MEYER, D.; SOARES, R. (Org.). Cor-
BEBIANO, R. A juventude como po, gênero e sexualidade. Porto Alegre:
objecto da historia. Disponível em: Mediação, 2004.
< h t t p : / / w w w. a p h . p t / o p i n i a o / PRIORE, M. L. M. D.. A história do
opiniao_0208.html> Acesso em 09. set. corpo e a nova história: uma autópsia.
2005. In: <www.usp.br/revistausp/n23/
CARRANO, Paulo. Identidades juvenis artigo5.pdf>. Acesso em 17 set. 2005.
e globalização. In: http:// ROSA, M. C. Corpo e cultura. In:
www.multirio.rj.gov.br/seculo21/ WERNECK, C. G. et. all. Lazer, recrea-
texto_link.asp? Acesso em 09 set. 2005. ção e educação física. Belo Horizonte:
CHMIEL, S. El milagro de la eterna Autêntica, 2003. p. 115-144.
juventud. In: MARGULIS, M. (Org.). La SANT’ANNA, D. B. de. Descobrir o cor-
juventud es más que una palabra. 2. po: uma história sem fim. Educação &
ed. Buenos Aires: Biblos, 2000. p.85-101. Realidade, v. 25, n. 2, p. 49-58, jul. – dez.
FISCHER, R. M. B. O estatuto pedagó- 2000.
gico da mídia: questões de análise. Educa- SILVA, T. T. Teoria cultural e educa-
ção & Realidade, Porto Alegre, v. 22, n. ção: um vocabulário crítico. Belo Hori-
2, p. 59-80, jul. – dez. 1997. zonte: Autêntica, 2000.
FREYRE, G. O homem do futuro. Dispo- TORNERO, J. M. P. T. El ânsia de
nível em: http://prossiga.bv.fg.fgf.org.br/ identidad juvenil y la educación. In:
portugues/obra/artigos/imprensa/ MARGULIS, M.; LAVERDE, M. C.
homem_futuro.html>. Acesso em 24. set. Viviendo a toda: jóvenes , territorios
2005. culturales y nuevas sensibilidades. Bogo-
FOUCAULT. M. Vigiar e punir. Rio de tá: Siglo del hombre, 1998. p.263-277
Janeiro: Vozes, 1987. WOODWARD, K . Identidade e diferen-
________. Microfísica do poder. Rio de ça: uma introdução teórica e conceitual.
Janeiro: Graal, 2004. In.: SILVA, T T.; HALL, S.;
WOODWARD, K (Orgs.). Identidade e
HALL, S. A identidade cultural na pós- diferença. Petrópolis: Vozes, 2000.
modernidade. 2. ed. Rio de Janeiro:
DP&A, 1998.
Encaminhado em: 13/10/05
MAITENA. Mulheres alteradas 3. Rio
de Janeiro: Rocco, 2003. Aceito em: 28/11/05
______. Mulheres alteradas 4. Rio de
Janeiro: Rocco, 2004.
MARGULIS, M.; URRESTI, M. La .
juventud es más que una palabra In:
MARGULIS, Mario. (Org.). La juventud
es más que una palabra. 2. ed. Buenos
Aires: Biblos, 2000. p. 13- 30.

Olhar de professor , Ponta Grossa, 9(1):131-141, 2006. 141

Você também pode gostar