A IMPORTÂNCIA DA SELEÇÃO CRITERIOSA

DE PRODUTOS DERMOCOSMÉTICOS
NA ROTINA DE CUIDADOS COM A PELE E
A PELAGEM DE CÃES E GATOS

DRA. LARISSA BOTONI

• Médica-veterinária graduada pela Escola de Veterinária da Universidade
Federal de Minas Gerais – EV-UFMG (2010)
• Residência em Clínica Médica de Pequenos Animais pela EV-UFMG (2012)
• Mestre (2014) e Doutora (2018) em Ciência Animal pela EV-UFMG
• Especialização em Dermatologia Veterinária pelo Curso de Especialização em
Dermatologia Veterinária da Universidade de São Paulo/Sociedade Brasileira
de Dermatologia Veterinária – CEDV-USP/SBDV (2015)
• Secretária-tesoureira da Delegacia Estadual de Minas Gerais da Sociedade
Brasileira de Dermatologia Veterinária (DEMG-SBDV)
INTRODUÇÃO
A pele é o maior e mais visível órgão do corpo e exerce
funções essenciais, como as de barreira anatômica, física e
microbiológica, entre o ambiente e o animal. Em um filhote
de cão recém-nascido, a pele, os pelos e o subcutâneo
correspondem a 24% de seu peso total, ao passo que em
um animal adulto essas correspondem a 12% do peso
corporal. Entretanto, as características da pele e da pelagem
variam muito, de acordo com a espécie, o gênero, a região
corpórea, a idade, a raça e até entre indivíduos dentro da
mesma raça. De modo geral, a espessura da pele decresce
dorso-ventralmente no tronco e próximo-distalmente
nos membros. A pelagem também tende a ser mais densa
nas regiões dorsais e laterais do corpo. Estima-se que a
espessura da pele de felinos varie entre 0,4 mm e 2,0 mm, a
de caninos entre 0,5 mm e 5,0 mm, enquanto de humanos
varia entre 0,5 mm e 4,0 mm. A pele é dividida em três
regiões principais: epiderme, derme e hipoderme ou tecido
subcutâneo (MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL, 2013).
Apesar das semelhanças estruturais entre a pele humana
O pH FISIOLÓGICO
As superfícies cutâneas dos mamíferos tendem a ser
levemente ácidas, o que auxilia na proteção contra a
invasão de microrganismos e influência a permeabilidade
cutânea e o processo de queratinização (MILLER; GRIFFIN;
CAMPBELL, 2013). O pH da pele de humanos é relativamente
ácido, entre 4,0 e 4,9, quando comparado ao de outras
espécies (MATOUSEK; CAMPBELL, 2002). Já o pH da pele
de cães e gatos varia em torno de 5,5 e 7,5, com média de
6,5. Entretanto, diversos fatores provocam variações no
pH cutâneo, dentre eles destacam-se idade, gênero, área
corpórea, oleosidade, hidratação, entre outros (Quadro 1).
Os bebês humanos apresentam o pH cutâneo entre 4,4 e
6,5, mais semelhante ao de cães e gatos, apesar de ainda
ser mais ácido (MATOUSEK; CAMPBELL, 2002; MILLER;
GRIFFIN; CAMPBELL, 2013).
É importante ressaltar o conceito de pH. O símbolo pH é
utilizado para indicar o potzen (“poder” em alemão) ou a
concentração de íons de hidrogênio (H+) em uma solução
(MATOUSEK; CAMPBELL, 2002). O pH de 7,0 é considerado
neutro, enquanto valores abaixo de 7,0 caracterizam pH
ácido e aqueles acima de 7,0 representam pH básico ou
alcalino. Dessa forma, quanto menor for o pH, maior será
e a de animais de estimação, devem-se destacar algumas
das importantes diferenças entre elas. Primeiramente, a
pele de cães e gatos é predominantemente recoberta por
pelos oriundos de folículos pilosos compostos, enquanto
os pelos humanos provêm de folículos pilosos simples. Nos
folículos compostos, exteriorizam-se de cada óstio folicular
um pelo primário e entre cinco e vinte pelos secundários,
ao passo que,nos folículos simples, cada óstio folicular
apresenta apenas um pelo primário. Além disso, outra
distinção importante é a produção de suor pelas glândulas
sudoríparas, que nos humanos é uma das principais formas
de regulação térmica e nos cães e gatos não apresenta
relevância. A principal forma de dissipação de calor nesses
animais ocorre pela vaporização de água na respiração, por
isso tendem a apresentar-se ofegantes quando submetidos
a altas temperaturas. Finalmente, outra diferença importante
se refere ao potencial hidrogeniônico (pH) fisiológico da pele
de humanos e animais (MILLER; GRIFFIN; CAMPBELL, 2013).
a acidez de determinada solução. Entretanto, quando
consideramos o pH de produtos de uso dermatológico, o
conceito de pH neutro muda e não é o mesmo que dizer pH
de 7,0. O pH neutro mencionado nos rótulos dos produtos
é o mesmo que se dizer pH fisiológico para a espécie a que
seu uso se destina. Ou seja, não provocará alterações no pH
cutâneo daquele indivíduo. Isso é de suma importância na
seleção de um produto para uso tanto terapêutico quanto
de manutenção em animais de companhia.
Muitos clientes e veterinários estão familiarizados com
xampus, condicionadores, sabonetes e hidratantes com pH
neutro para peles humanas, cujo pH varia entre 4,0 e 4,9.
Considerando-se que o pH ideal para as peles de cães e gatos
seria em torno de 6,5, tais produtos são contraindicados
para uso nessas espécies, devido à considerável maior
acidez, capaz de provocar desequilíbrio no pH cutâneo
desses animais. Dentro da linha humana, os produtos com
pH balanceado para bebês (entre 4,0 e 6,5) são os mais
indicados para uso em cães e gatos, já que a faixa de pH
é mais semelhante. Entretanto, essas formulações ainda
tendem à acidez e podem provocar alterações de pH e
irritações, especialmente nos animais de pele sensível.
 FATORES QUE AFETAM O pH CUTÂNEO

Fisiológicos Raça, idade, gênero, área corpórea, secreção sebácea, hidratação, dieta, excitação, exercício.

Exógenos Irritantes, produtos tópicos.

Bactérias, leveduras, dermatite atópica, dermatite de contato irritante, diabetes mellitus, uremia,
Patológicos
doença hepática.

Exemplos de
Ácido lático, aminoácidos livres, ácido urocânico, ácidos graxos, colesterol.
ácidos

Exemplos de Lactato, bicarbonato.

bases

Quadro 1. Fatores que afetam o pH cutâneo. Fonte: adaptado de Miller, Griffin e Campbell (2013).

Outro produto bastante contraindicado e utilizado com fre-
quência em clínicas veterinárias e pet shops é o sabão de
coco, devido a suas relatadas propriedades de limpeza pro-
funda e remoção intensiva das sujidades. Entretanto, seu
pH é bastante alcalino, em torno de 10, amplamente dife-
rente do pH fisiológico de cães e gatos, por isso é comum a
observação de irritações e ressecamento intensivo da pele
desses animais, ainda que ela seja saudável, após o uso des-
se sabão. Em dermatopatas, a irritação cutânea por sabão
de coco é ainda mais frequente. Dessa forma, seu uso deve
ser banido da rotina de cuidados com a pele e a pelagem de
animais de companhia. Para uma limpeza profunda e inten-
siva adequada, a linha veterinária conta com uma gama de
produtos formulados e testados, especialmente em cães e
gatos, que apresentam o pH balanceado para essas espé-
cies, com base na faixa de variação fisiológica, que vai de 5,0
a 6,5. A linha Noxxi®, produzida pela Avert® Saúde Animal,
conta com ri­goroso controle da estabilidade do pH de todos
os seus produtos (Figura 1), de modo a manter sempre o
pH fisiológico de 5,0 a 6,5, recomendado para cães e gatos.

Figura 1. Linha Noxxi®. Fonte: Avert® Saúde Animal (2021).

 MANUTENÇÃO DO pH
Manter o pH cutâneo dentro da faixa fisiológica é fundamental
para diversas funções essenciais do sistema tegumentar, tais
como equilíbrio do microbioma, funcionamento adequado
de enzimas e hidratação. Os distúrbios nesses processos
afetam diretamente a barreira cutânea, que é a primeira
linha de defesa do organismo contra patógenos, alérgenos e
irritantes (MATOUSEK; CAMPBELL, 2002; MILLER; GRIFFIN;
CAMPBELL, 2013; BENSIGNOR; VIDÉMONT, 2016).
Em geral, a acidez cutânea está associada a propriedades
antimicrobianas e à manutenção do equilíbrio da microbiota
residente, ou microbioma. O pH levemente ácido favorece
o crescimento de espécies de bactérias comensais com
função protetora e imunomoduladora, ao passo que o pH
mais básico, observado em doenças como a dermatite
atópica, está associado a maior aderência de microrganismos
RECOMENDAÇÕES NA ROTINA DE BANHOS DE CÃES
Outro ponto importante dos cuidados com a pele e a pelagem
de cães que gera muitas dúvidas tanto em veterinários quanto
em tutores é a rotina de banhos e escovações. Existe um mito
de que, quanto menos banhos o animal tomar, melhor para
a manutenção dos mecanismos de defesa da pele, e que
excessos de banhos estariam associados a doenças de pele
e otites recorrentes. Entretanto, esse assunto precisa ser
esclarecido e desmistificado, para que, como veterinários,
possamos fornecer as melhores orientações aos nossos
clientes. Quando pensamos novamente na comparação entre
a pele humana e a de animais, há diferenças importantes
também na rotina de higiene, principalmente no tocante ao
que deve ser considerado excesso de banhos.
De maneira geral, as pessoas têm como hábito tomar
banhos todos os dias, principalmente em países e regiões
de clima tropical. Ao considerar um animal como o cão, essa
frequência é certamente excessiva, já que a pele desses pets
é quase completamente recoberta por pelos. Além disso, os
folículos pilosos compostos de cães contam com os pelos
secundários, que são importantes para o isolamento térmico,
mas, ao mesmo tempo, contribuem para que a secagem
completa da pelagem seja mais demorada que nos indivíduos
com folículos simples. Dessa maneira, banhos diários não
são recomendados para estes pets. Entretanto, a lavagem da
pelagem é fundamental para a remoção de debris celulares,
pelos mortos, poeira e alérgenos ambientais acumulados,
bem como para a hidratação cutânea e a melhora do odor.
Esse último parâmetro, o odor, é muito importante ser
considerado, ainda que pareça somente uma preocupação
estética e irrelevante. Os cães convivem com seus tutores
cada vez mais em intensa intimidade, e o fato de o animal
patogênicos, bem como a maior gravidade dos sintomas
da enfermidade. Dessa forma, observa-se uma alteração
seletiva na microbiota comensal, dependendo da faixa de pH
em que o microambiente se encontre, com favorecimento
do crescimento de determinadas espécies ou inibição de
outras, o que gera desequilíbrio e infecções (MATOUSEK;
CAMPBELL, 2002; GLATZ et al., 2018). Além das alterações
no microbioma cutâneo, o manto acídico é essencial para a
formação adequada das ceramidas do extrato córneo e para a
manutenção da epidermopoiese normal, já que o pH alcalino
ativa serino-proteases degradadoras dos desmossomos,
provocando descamação precoce dos queratinócitos e,
consequentemente, distúrbios de queratinização (TSAKOK et
al., 2018). Esses fatores ratificam a importância da manutenção
do pH cutâneo na zona fisiológica, a fim de manter o perfeito
funcionamento da barreira cutânea.
apresentar mau cheiro pode levar à rejeição e até mesmo
ao abandono. O acúmulo de sujidades, a presença de pelos
com nós e o excesso de oleosidade podem causar irritação e
dermatites.
Entretanto, é muito difícil estabelecer uma recomendação
padronizada de frequência de banhos para todos os animais,
já que isso envolve fatores individuais do paciente e de
seu tutor, tais como odor próprio, pelagem, presença de
dermatopatias e disponibilidade de tempo. De maneira
geral, o banho semanal é uma indicação razoável para a
manutenção do equilíbrio fisiológico da pele e da pelagem da
grande maioria dos cães saudáveis. Se associado à escovação
dos pelos ao menos duas vezes por semana, os resultados são
ainda melhores. Quando consideramos cães dermatopatas,
a indicação de banhos pode ser de até duas ou três vezes
por semana. Entretanto, a recomendação vai depender da
dermatopatia em questão e da resposta observada pelo
tutor e pelo veterinário após o banho. Nos casos de cães
com dermatite atópica, por exemplo, o banho é um grande
aliado na prevenção e atenuação das crises da doença, já
que permite a hidratação e a melhora da função da barreira
cutânea, além de auxiliar na remoção de alérgenos aderidos
aos pelos. Nesses casos, os pacientes costumam se beneficiar
muito de banhos duas vezes por semana com produtos que
apresentam propriedades hidratantes e/ou antissépticas. No
mercado existem diversas linhas indicadas para a reparação
da barreira cutânea de cães atópicos, como a linha Noxxi®, da
Avert® Saúde Animal, que conta com produtos formulados
com nanopartículas lipídicas, que contribuem para a formação
de filme oclusivo sobre a pele, a fim de evitar a perda de água
transepidérmica (Figura 2).
 BARREIRA CUTÂNEA
Forma um filme oclusivo sobre a pele, o que
impede a perda de água.

MAIOR EFICÁCIA
Os princípios ativos atingem a camada mais
profunda da pele.

ATIVOS NATURAIS
Produto elaborado com ativos naturais
inovadores que promovem limpeza profunda
da pele e sensação de bem-estar do animal.

Figura 2. Atuação da Linha Noxxi®. Fonte: Avert® Saúde Animal (2021).

RECOMENDAÇÕES PARA A ROTINA DE BANHOS DE GATOS

A recomendação de banhos para felinos é ainda mais
controversa e complicada que para cães. De maneira geral,
essa espécie não necessita ser submetida a banhos, até
porque muitos gatos têm aversão ao contato com a água
dessa maneira. Como são animais que fazem a limpeza
diária de toda a pelagem por meio da lambedura, na grande
maioria das vezes, somente esse hábito já é suficiente para
a remoção adequada de debris celulares e pelos mortos e
para a atenuação do odor. É muito pouco frequente a queixa
de tutores a respeito de mau cheiro em felinos. Ainda assim,
se houver essa demanda, o profissional pode recomendar
banhos mensais com produtos veterinários rotulados para a
utilização em felinos. Além disso, principalmente para gatos
de pelos longos, como os da raça persa, a escovação em dias
alternados deve ser incluída na rotina de cuidados desses
animais, mas desde que o procedimento seja tolerado e não
cause mais estresse ao pet. No caso de gatos dermatopatas,
pode haver a necessidade de banhos até semanais, durante
o tratamento da doença, mas isso também vai depender da
dermatopatia em questão. Não existem evidências científicas
de que felinos alérgicos se beneficiem de banhos para a
reposição de barreira cutânea, como ocorre com os cães.

CONCLUSÃO

Em face do exposto, evidencia-se a importância da escolha

de produtos adequados para a pele de cães e gatos, com
pH fisiológico apropriado para essas espécies e tecnologias
inovadoras de manutenção e reparação da barreira cutânea,
tanto para a manutenção quanto para o tratamento de
animais dermatopatas. Não se devem utilizar xampus e
condicionadores de uso humano nem produtos de limpeza
doméstica na rotina de cuidados com a pele e a pelagem dos
animais. Para cães, a frequência de banhos semanais parece
a mais razoável a ser indicada, jao passo que os felinos não
têm essa necessidade e podem ser banhados de acordo com
as necessidades para cada caso, ainda que isso signifique não
banhar o animal.
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BENSIGNOR, E.; VIDÉMONT, E. Guide pratique de dermo-cosmétique vétérinaire. 1ere ed. Paris, France:
Éditions Med’Com, 2016. 160 p. ISBN 978-2354032166.

2. GLATZ, M.; JO, J. H.; KENNEDY, E. A.; POLLEY, E. C.; SEGRE, J. A.; SIMPSON, E. L.; KONG, H. H. Emollient use
alters skin barrier and microbes in infants at risk for developing atopic dermatitis. PLoS One, San Francisco, CA,
USA, v. 13, n. 2, e0192443, Feb. 2018. DOI: 10.1371/journal.pone.0192443.

3. MATOUSEK, J. L.; CAMPBELL, K. L. A comparative review of cutaneous pH. Veterinary Dermatology, Oxford,
UK, v. 13, n. 6, p. 293-300, Dec. 2002. DOI: 10.1046/j.1365-3164.2002.00312.x.

4. MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E.; CAMPBELL, K. L. Muller & Kirk’s small animal dermatology. 7th ed. Saint Louis,
MO, USA: Saunders Elsevier; 2013. 948 p. ISBN 9781416000280.

5. TSAKOK, T.; WOOLF, R.; SMITH, C. H.; WEIDINGER, S.; FLOHR, C. Atopic dermatitis: the skin barrier and beyond.
The British Journal of Dermatology, Oxford, UK, v. 180, n. 3, p. 464-474, Mar. 2019. DOI: 10.1111/bjd.16934.