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De Evana Ribeiro
CAPÍTULO 33
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CENA 1 - FLAT DE VALENTINA/QTO DE HÓSPEDES - INT - NOITE
Michael e Valentina estão deitados na cama, se beijando e se
agarrando ardentemente, arrancando as roupas um do outro. A
cena explora principalmente os detalhes do cenário, sem
evidenciar muito a ação propriamente dita; e dura três
minutos.
CORTA PARA
LEON
Oi! Por que você não entra?
KÁTIA
Acho melhor não... Eu só tava
passando e vim ver o que era.
LEON
É meu aniversário.
KÁTIA
(sorrindo)
É? Meus parabéns.
LEON
Entra, vai!
KÁTIA
Mas eu não conheço ninguém aí...
LEON
(segurando delicadamente o
braço dela)
Vem, menina. Eu falei pra minha
namorada sobre você, acho que vocês
deviam se conhecer. Eu vou chamar
ela aqui, tá?
KÁTIA
Tá bom.
Milena sai do banheiro do bar e se dirige para a mesa onde
estão Jerri e os amigos. Leon vai procurá-la, mas não a vê.
Em contrapartida, Milena vê Kátia parada na porta do bar e,
prevendo que elas serão apresentadas, corre de volta para o
banheiro. Leon chega à mesa.
LEON
Ana... Milena ainda não chegou?
ANA PAULA
(olhando para os lados)
Achei que ela já estivesse aqui...
É estranho.
LEON
Será que ela tá passando mal?
ANA PAULA
Pra demorar tanto, deve ser isso.
Era algo urgente?
3.
LEON
Não, eu só queria apresentar uma
amiga. Mas fica pra próxima, eu vou
lá dizer a Kátia que Milena não
pode ir falar com ela agora.
ANA PAULA
Ok, eu vou ver como ela tá.
Leon e Ana Paula seguem para lados diferentes.
CORTA PARA
DONO DO BAR
Jerri, meu velho! Tá na hora!
JERRI
Tá na hora de mais uma cervejinha,
manda aí!
DONO DO BAR
Irmão, já é tarde! Eu tenho que
fechar a birosca aqui.
JERRI
Tarde nada, tá é cedo, isso sim!
Olha aí, não são nem três da matina
ainda!
LEON
(levantando)
Jerri, ele tem razão. A gente vai e
termina de comemorar em casa.
JERRI
(batendo na mesa)
Não, não! Vamos ficar aqui e é aqui
que vamos ficar.
LEON
Quem é o dono da festa?
JERRI
Você!
LEON
Então eu mando! Levanta e vamos
embora.
JERRI
(levantando com dificuldade)
Sim, senhor! Já vou!
Jerri tenta andar e quase cai da cadeira. Leon e o dono do
bar correm para segurá-lo. As meninas saem na frente e os
homens atrás, sendo que Jerri vai praticamente arrastado. Na
saída, Leon segue segurando Jerri sozinho, e o dono do bar
os observa de longe. Jerri canta uma música sem pé nem
cabeça.
DONO DO BAR
(rindo)
Se isso fosse no tempo da lei seca
eu tava lascado...
O grupo se afasta, e agora é possível ouvir que todos
acompanham Jerri na cantoria, formando um coral desafinado.
6.
CORTA PARA
CENA 6 - VIDEOCLIPE
Imagens panorâmicas de Recife no começo do dia, ao som de
Eterna busca - Seu Jorge.
CORTA PARA
LEON
Como é que vocês conseguem acordar
com essa disposição toda?
JERRI
Força do hábito, primo! E mais um
segredinho...
Jerri pisca para Leon, que olha para Milena esperando que
ela dê uma explicação. Ela devolve o olhar confuso, sorri
sem graça e encolhe os ombros. De repente, Leon se sente mal
e sai correndo.
MILENA
Leon? O que é? Leon!
JERRI
(correndo)
Deixa que eu vou! Ele tá passando
mal pela bebedeira de ontem, não
fiquem nervosas!
Jerri entra no banheiro.
CORTA PARA
MICHAEL
Aconteceu alguma coisa, Tininha?
VALENTINA
Pôxa, eu nem sei o que dizer, eu...
MICHAEL
(interrompendo)
Não precisa dizer mais nada, meu
bem. (a abraça)
VALENTINA
(se afastando)
Não, não! Eu te devo desculpas por
ontem. Eu não devia... Me perdoa.
MICHAEL
Perdoar o quê? Por quê?
VALENTINA
(olhando para o chão)
Você sabe o quê. O que aconteceu
ontem não era pra ser. Nós
estávamos bêbados!
MICHAEL
Sinceramente, acho que nunca me
senti tão lúcido como ontem. Eu
consigo lembrar de tudo com
perfeição! Foi uma noite
maravilhosa, meu amor.
Michael se aproxima de Valentina e tenta beijá-la, mas ela
se afasta dele com um movimento ágil. Eles ouvem a voz de
Angela, que corre pelo corredor.
VALENTINA
(sem olhar para ele)
É melhor você ir embora, Michael.
Não vou saber como explicar pra
Angie o que você estava fazendo
aqui até essa hora. (tempo) E a sua
filha deve estar preocupada também.
Michael olha para Valentina, triste. Aproxima-se dela
lentamente e a beija no rosto. Ela não se move. Em seguida,
ele sai.
Ao se ver sozinha, Valentina se joga numa poltrona, fecha os
olhos e respira fundo.
9.
VALENTINA
Nunca mais vou beber.
Valentina continua jogada na poltrona,imóvel, de olhos
fechados.
FADE PARA
VALENTINA
Opa... Você tá com uma cara de
cansada. Parece que nem dormiu.
LUCILLE
Não dormi mesmo.
VALENTINA
Pela sua cara eu devo ter
aprontado. Aprontei algo além do
que eu sei que aprontei?
LUCILLE
Não exatamente. Só não gostei de
ser ignorada no fim da festa.
Chamei você centenas de vezes, mas
você estava tão alta que acabei
desistindo.
VALENTINA
Pôxa, desculpa... Mas agora sou
toda ouvidos.
LUCILLE
Agora já acabou, não quero dizer
mais nada.
VALENTINA
Tem certeza?
LUCILLE
Tenho, aquilo não me aflige mais.
VALENTINA
Aquilo o quê?
LUCILLE
Não quero falar!
VALENTINA
Nós nunca tivemos segredos uma com
a outra, mãe!
LUCILLE
Estou muito chateada com você.
Elas se olham longamente, sérias.
LUCILLE
Tudo bem, era sua festa, mas
precisava beber daquele jeito? Na
frente da Angela? Que espécie de
exemplo você acha que deu a ela,
hã?
11.
VALENTINA
Admito que me empolguei, mas...
LUCILLE
(interrompendo, brava)
E como se não bastasse ficar
bebendo até caír, depois de beber
ficou se atirando para todos os
convidados e levou Michael para a
cama! O que Herman deve estar
pensando de você agora?
VALENTINA
(levantando a voz, igualmente
irritada)
Espera um pouco! Primeiro: eu não
bebi até cair. Segundo: eu lembro
das coisas e não me consta de ter
me atirado para todos os
convidados. Ou agora ser atenciosa
virou sinônimo de ser oferecida e
eu não sabia? E terceiro: transei
com Michael, e isso não é da conta
de ninguém, muito menos do doutor
Herman!
LUCILLE
Mas você devia ao menos respeitar o
lar onde sua filha vive. Se você
queria...
VALENTINA
(interrompendo)
Por favor, Lucille! Já chega de
lições de moral por hoje! Posso
curtir minha ressaca em paz, pelo
menos?
Lucille não responde, mas olha para Valentina com mágoa.
Valentina entra no quarto correndo.
CORTA PARA
PIETRA
Precisava sim. Pelo o que eu tenho
pra dizer, acho melhor dizer
olhando pra você.
LEANDRO
Então pode começar.
PIETRA
Eu fiquei muito magoada com sua
falta de consideração ontem à
noite. Se queria sair, se
despedisse pelo menos?
LEANDRO
Vai me desculpar, Pietra, mas falta
de consideração maior foi você ter
levado a gente praquele lugar.
PIETRA
Qual é o problema daquela boate?
Boa música, boa comida, gente
legal! Isso é problema pra você?
LEANDRO
Aquele não era o meu universo! Eu
simplesmente não me sinto à vontade
em um lugar onde homens ficam com
homens, e mulheres com mulheres...
PIETRA
Você viu algo parecido com isso?
LEANDRO
Não, mas poderia ver. Por isso quis
sair logo.
PIETRA
Tá vendo? É exatamente assim que
eles se sentem no nosso meio:
estranhos, errados...
LEANDRO
(interrompendo)
Eu não disse que me sentia estranho
ou errado. Nunca me questionei se
no fim de tudo eles fossem os
certos e nós os errados. (tempo)
Mas peraí. Por que é que você
defende tanto eles?
13.
PIETRA
Se eu defendo alguma coisa é o meu
direito de freqüentar o lugar que
eu quiser. Você é que é o
preconceituoso aqui!
LEANDRO
Preconceituoso, eu?
PIETRA
Sim, você é!
LEANDRO
Olha, eu acho melhor acabar essa
conversa por aqui, senão não vamos
chegar a lugar nenhum.
PIETRA
(fria)
Também acho.
Pietra levanta e vai em direção a porta. Leandro levanta e
vai logo atrás.
PIETRA
Não precisa. Eu sei o caminho.
Pietra sai batendo a porta.
CORTA PARA
MILENA
Eu também. Agora toma o remédio,
vai...
O celular de Milena toca. Ela olha no identificador de
chamadas e não atende a ligação.
LEON
Quem era?
MILENA
Não era ninguém. Ninguém
importante.
Milena guarda o telefone no bolso e este logo volta a tocar.
Irritada, ela constata que é a mesma pessoa que ligou da
primeira vez, mas agora atende.
MILENA
(irritada)
Alô. (tempo) Que é? (tempo) Não! E
não amole mais!
O rosto de Milena vai tomando uma expressão de medo e ela
quase começa a chorar. Ela treme muito. Leon segura sua mão,
tentando acalmá-la mesmo sem saber o que acontece. Milena
desliga o telefone e o guarda no bolso.
LEON
O que aconteceu?
MILENA
Eu tenho que ir agora, Leon,
desculpa... Passo aqui depois pra
ver como você tá, ok?
LEON
Eu posso ajudar em alguma coisa?
MILENA
Não, meu amor! Descansa, eu me
ajeito.
Milena dá um selinho em Leon e sai correndo. Ele a observa,
sem entender nada.
CORTA PARA
15.
FERNANDO
Pronto, já não estamos mais
almoçando. Pode parar de me olhar
com essa cara e começar a falar.
BÁRBARA
Antes, sinto informar que não posso
olhá-lo com outra cara. Esta é a
única que eu tenho, que pena...
FERNANDO
Bárbara, eu não vou admitir
gracinhas...
BÁRBARA
(o interrompe, gritando)
Não admite gracinhas? Então o que é
que estou sendo obrigada a admitir
nos últimos dias? Ou vai me dizer
que o que você tem feito conosco
não é uma gracinha muito da sem
graça?
Bárbara, encolerizada, pára de falar e respira fundo
repetidas vezes. Fernando a observa, aparentemente
tranqüilo, esperando que ela continue.
BÁRBARA
Você, que bebia tão pouco e
repreendia a minha conduta em
relação ao álcool, agora deu pra
passar a noite toda fora e chegar
exalando pinga! Some durante o dia
inteiro, não responde mais
recados...
FERNANDO
Estou enfrentando problemas de
trabalho, posso?
BÁRBARA
Deve, meu filho! O que muito me
admira é a sua maneira de enfrentar
os problemas. Bebendo até cair na
garagem da própria casa!
FERNANDO
O que eu faço da minha vida é
problema meu.
BÁRBARA
(grita)
Então vá pro inferno com seus
problemas!
17.
FERNANDO
(irônico)
Já estou nele, abraçado ao capeta,
inclusive.
Fernando e Bárbara seguem para lados opostos. Ele sai
batendo a porta e ela senta na escada, quase chorando.
CORTA PARA
CENA 18 - VIDEOCLIPE
Imagens de Salvador e Recife, terminando com a vista externa
de um conjunto de prédios de pequeno porte.
CORTA PARA
HOMEM
Bom, tudo bem. (bebe o seu copo e
em seguida o que se destinaria a
ela) Então vamos direto ao assunto,
sem enrolação, sem cerveja.
O homem avança ligeiro sobre Milena, que não se move. Ele
começa a beijá-la e pára imediatamente ao perceber que ela
não tem reação alguma. Ele tira um canivete do bolso e o
coloca bem perto do pescoço de Milena.
HOMEM
É bom a bonequinha fazer o serviço
direito, senão...
O cliente aproxima mais a lâmina do pescoçoo de Milena, a
ponto de dar a impressão de que vai cortar a pele.
CORTA PARA
LEON
Não tá escondendo nada?
JERRI
Não. E vamos entrar, sim?
LEON
(brincalhão)
Tá bom, mamãe!
JERRI
Mamãe é a...
LEON
Vê lá o que vai falar!
Os dois entram no apartamento.
CORTA PARA
VALENTINA
Não esquenta.
LUCILLE
Me perdoa pelo que eu disse hoje de
manhã?
VALENTINA
(sorrindo)
Claro! Como você mesma disse, é
bobagem. E eu tenho mesmo que
maneirar na bebida...
LUCILLE
Então me dá aqui um abraço,
filha...
Elas se abraçam carinhosamente, mas logo se soltam.
VALENTINA
Agora tenho mesmo que ir.
LUCILLE
Bom trabalho!
Valentina sai e Lucille fecha a porta. Ela sorri,
satisfeita.
CORTA PARA
LEON
Por que demorou tanto pra abrir?
MILENA
Eu tava guardando umas roupas que
acabei de passar.
LEON
Parece que você passou um tempão
chorando.
MILENA
Impressão sua.
LEON
Milena, não mente pra mim. Você
estava chorando sim. Olha só o seu
rosto, tá vermelho e inchado.
MILENA
Não foi nada! Eu só tô com um pouco
de sono.
LEON
Não, não...
MILENA
O que é? Você acha que eu tô
mentindo pra você?
LEON
Não é isso, mas...
MILENA
É isso sim! Dá pra ver a
desconfiança estampada na sua cara!
Vai, responde... Você acha que eu
tô mentindo pra você, que eu tô te
traindo?
Leon não responde. Milena tenta não começar a chorar.