Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Vitória
2009
Christianny Maria Brambila
UFES
CDU: 159.9
À Izolina, José, Zé Esio, Giani e Luciano, amigos e
Sou imensamente grata a Deus, por iluminar e guiar meu caminho, sempre.
À minha família agradeço pelo apoio incondicional e acolhimento num dos momentos
mais frágeis da minha vida. Obrigada, irmã, pelas intermináveis ligações, pelos risos,
Agradeço às amigas que souberam entender meu sumiço, quando necessário, mas
também estiveram presentes quando tudo o que eu precisava era um bom bate papo.
bolsa CAPES.
Por fim, agradeço a meu orientador Agnaldo Garcia, que apostou nesse projeto e
soube ser paciente em momentos difíceis que me impediam de dar o próximo passo.
Vinicius de Moraes
Brambila, Christianny Maria. Vinicius de Moraes, Parceiros e Amigos: Relações
Psicologia.
RESUMO
presente trabalho tem por objetivo analisar as relações entre amizades e parcerias
específicas, Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell e Toquinho. O material de análise
se constituiu das letras das composições em parceira com os quatro autores acima,
sendo 44 com Tom Jobim, 39 com Baden Powel, 26 com Carlos Lyra e 75 com
conteúdo. As parcerias foram tratadas como relações de amizade, com base nas
amor romântico; (b) a mulher; (c) valores e estilos de vida; (d) outros relacionamentos;
(e) temas infantis; (f) temas sócio-culturais; (g) música e dança, (h) a experiência
autores são consideradas como amizades musicais tendo como elemento central o
além de possibilidade de aplicação dos dados obtidos para a educação, por meio dos
Relationships between Friendship and Music. Vitória, 2009, 154 pp. Master’s
ABSTRACT
This study investigated the relationship between music and musical partnership in the
work of Vinicius de Moraes. The friendship in adulthood has been investigated based
on particular stages of development and gender. There are few studies correlating
friendship and music, usually in childhood and adolescence. Based on the dialectical
Adams and Bliezsner regarding friendships among adults, this study aimed at
analyzing the relationship between friendships and partnerships in the work of Vinicius
and musical creation, with emphasis on four specific partners, such as Tom Jobim,
Carlos Lyra, Baden Powell and Toquinho. The material for analysis were the lyrics of
songs in partnership with the four authors above. In total, Vinicius de Moraes produced
44 songs with Tom Jobim, 39 with Baden Powell, 26 with Carlos Lyra and 75 with
Toquinho. These compositions were subject to analysis of content and the songs
composed with these four partners were compared for their content. The partnerships
such as letters and biographies. The results indicated different themes in these songs,
as (a) the romantic love, (b) the woman, (c) values and lifestyles, (d) other
relationships, (e) children's issues, (f) social and cultural issues, (g) music and dance,
(h) human experience in a broader sense. These themes, whenever possible, were
interest in music as a central element. These friendships have different profiles. The
paper still discusses the relationship between friendship and music, the contribution of
understanding friendships in general, and the possibility of application of these data for
Valores...................................................................................... 81
1. Introdução .................................................................................................... 12
Blieszner ......................................................................................... 21
2. Metodologia ................................................................................................. 29
Jobim......................................................................................... 124
Lyra........................................................................................... 132
Toquinho................................................................................... 143
12
1. INTRODUÇÃO
consistente.
de relacionamento.
Dentro desse cenário, as relações entre amizade e música são ainda menos
investigadas.
produz.
Moraes.
14
1996), da Sociologia (e.g. Adams & Allan, 1998) e da Antropologia (e.g. Bell &
teórico proposto por Hinde (1997), pode-se observar que os estudos sobre a
(Harrison, 1998).
avanço teórico destes estudos foi fornecida por Adams e Blieszner (1994) e
2004) e de escalas para investigar suas dimensões (Tani & Maggino, 2003).
Finalmente, uma proposta mais ampla diz respeito aos focos de atividades
como contextos para a amizade (Feld & Carter, 1998), no sentido de que
representam uma área de investigação com uma organização teórica que vem
avançando com o passar do tempo (Blieszner & Adams, 1992; Auhagen, 1996;
como a similaridade (Wild & Fink, 1993), a reciprocidade (Buunk & Prins 1998);
(Schwab, Scalise, Ginter & Whipple, 1998), apoio à identidade social (Weisz &
(Kilduff, 1992); percepção dos amigos (Kenny & Kashy, 1994), popularidade e
(Heiman, 2000).
17
relações de amizade (Foster, 2005), incluindo desde a escolha (Pahl & Pevalin,
1992), atividades com amigos (Flora & Segrin, 1998) e afinidade e amizade
2001).
Hargreaves, 2007a, 2007b, 200c, Ilari, 2006, Rentfrow & Gosling, 2006, Bailey
& Davidson, 2005, Hays & Minichiello, 2005, Rossler, 2004, Tarrant,
Hargreaves & North, 2001, Knobloch, Vorderer, & Zillmann, 2000, Tarrant,
North & Hargreaves, 2000, Hargreaves & North, 1999, North & Hargreaves,
2007, Boerner & Von Streit, 2007, Blank & Davidson, 2007, Faulkner &
Davidson, 2006, Barret 2006, Ginsborg, Chaffin & Nicholson, 2006, John, 2006,
MacDonald, Miell & Mitchell, 2002, Davidson & Good, 2002, Miell e MacDonald,
2000).
(2006), os indivíduos usam suas preferências musicais para informar sobre sua
necessidades sociais (Tarrant, Hargreaves & North, 2001, Tarrant, North &
musical do outro também fornece parâmetro para seu julgamento (North &
amizade.
papel de estabelecer e manter conexão com o outro. Outro estudo (Bailey &
(Blank & Davidson, 2007; Davidson & Good, 2002). A influência da liderança do
condutor e o humor dos músicos numa orquestra (Boerner & Von Streit, 2007),
musical.
musical em relação às díades que apenas realizam a tarefa juntas (Barret &
Gromko, 2007; Barret 2006; John, 2006; MacDonald, Miell & Mitchell, 2002;
com ênfase para a qualidade das produções realizadas entre amigos. O estudo
demonstra que quando crianças trabalham junto com amigos, elas produzem
com não amigos. Composições mais bem avaliadas foram produzidas por
exploração.
Bliezsner
e Blieszner (1994).
Sua análise levou em conta cerca de 1.600 publicações das últimas décadas.
Três de seus livros (Hinde, 1979, 1987, 1997) visam a integração dos
processos com relações dinâmicas e dialéticas entre si. Para Hinde (1987),
Estes três níveis afetam e são afetados pela estrutura sócio-cultural e eles
natureza dos indivíduos que, por sua vez, também afetaria as forças culturais.
pesquisa do relacionamento.
processos dialéticos.
nos três livros. Hinde (1979) propôs que uma ciência do relacionamento
referiam àquilo que dois indivíduos fazem juntos (útil para uma classificação
juntamente), a qualidade dessas interações (como elas são feitas), o que pode
relacionamentos.
considerados e integrados.
incluem processos cognitivos (pensamentos que cada membro tem sobre ele
ser investigados.
28
complexos.
com ênfase em quatro parcerias específicas (Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden
2. METODOLOGIA
O arquivo pessoal de Vinicius de Moraes foi cuidado por sua irmã mais
Botafogo, estado do Rio de Janeiro. Em 1990, foi feita a doação da maior parte
mesma empresa, algum material por Gilda Matoso, sua última esposa, e dois
http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/edicoes%20online/iventarios/Inv
de base para análise de aspectos de sua vida e obra pertinentes a este estudo,
desses documentos.
Moraes (Vinicius, 2005). Com o título do nome do poeta, o vídeo foi produzido
em 2005 por Miguel Faria Junior e Susana Moraes. Para efeito de análise, foi
vida de Vinicius que se relacionam com suas amizades e sua criação musical.
31
como compositor. A base documental para análise das cartas foi constituída
(Fundação Casa de Rui Barbosa, 1999). A outra fonte é o livro organizado por
Rui Castro (2003). Tal escolha se deve à particularidade da obra de Rui Castro,
único autor a organizar tais cartas por períodos, facilitando a escolha das
duas biografias escritas por José Castello (2005b, 1994). Além disso, foram
consultadas 134 cartas trocadas entre amigos poetas, amigos músicos e outros
no livro organizado por Rui Castro (2003). Foram analisadas as cartas trocadas
por Vinícius a partir da década de 40: período que antecede a década na qual
Vinícius consolida sua atuação no meio musical. O objetivo foi analisar o pano
de fundo que serviu de base para essa trajetória do poeta, identificando quais
1
O samba é carioca e não nasceu no morro (sem data); O negro no samba e no jazz (sem
data); No meu tempo era assim... (sem data); Música popular (sem data); Os “Independentes
da Gávea” (1955); Retrato de Jayme Ovalle (1953); Tangolomango (1953); Um ás (1953); A
grande Elizeth (1953); O que elas têm na voz (1953); A bolerização (1953); Linha pura (1953);
Pixinguinha e os seus sete ou oito batutas (1953); O novo samba (1953); Ary em Chave (1953);
Capoeira e batucada (1953); Oito aqui, sete em paris (1953); Mestre Ismael Silva (1953);
Almirante (1953); Carta a Lúcio Rangel (1959); Carta mortuária a Dolores Duran (1959);
Brasília: o nascimento de uma cidade ou como se faz um poema sinfônico (1961); Em tom bem
triste (1964); Abrindo frentes (1964); Ascensão de Astrud (1964); João Gilberto (1964);
32
produzido por Miguel Faria Junior e Susana Moraes no ano de 2005 serviu
canções que podem ser ouvidas em sua discografia, além de inúmeros discos
Carlinhos Lyra e “Pobre Menina Rica” (1964); Elizeth no Municipal (1964); As baianinhas
(1964); ‘Le monde musical de Baden’ (1964); Bossa nova nova: Francis Hime (1964); Bossa
nova nova: Edu Lobo (1964); Bossa nova nova: Marcos Vale (1964); Lula Freire (1964); Tom e
a ‘batalha das letras’ (1964); A excursão de Sérgio Mendes (1965); Boas notícias (1965); SP
não é mais o túmulo do samba (1965); Uma casa em Norman Place, L.A. (1965); Certidão de
nascimento (1965); O que é bossa nova (1965); Meu parceiro Baden Powell (1965); O show de
bolso (1965); A propósito do VI Festival Internacional da Canção (1969); Antonio Maria: uma
velha crônica (1970); Ciro Monteiro (1965); Meu Caymmi (1970); Ano novo, música nova
(1973); Encontro (1972); Bichos d’O Pasquim e do meu Brasil trigueiro (amem-no ou deixem-
no) (1972); Nora Ney (1972).
2
Depoimento realizado no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 1967, para Otto
Lara Resende, Lúcio Rangel, Ricardo Cravo Albim e Alex Vianny; “A volta de Vinicius”,
publicada na Revista Manchete, em 1965, entrevista realizada por Odacyr Soares; “Detesto
tudo o que oprime o homem, inclusive a gravata”, publicada na Revista Manchete, em 1967,
realizada por Clarice Linspector; “Basta de Festivais!”, entrevista inédita realizada em 1968,
sem crédito; “Um analista tentou me pasteurizar” publicada no Pasquim, em 1969, realizada
por Tarso de Castro, Jaguar e Luiz Carlos Maciel; “Em busca da simplicidade” publicada no
Jornal do Brasil, em 1971, realizada por Araujo Netto; “Vinicius palavra por palavra” publicada
em O Jornal em 1973, realizada por Jésus Rocha; “A comunicação da poesia que preferiu a
vida” publicada no jornal O Globo, em 1973, sem crédito; “O apaixonado Vinicius de Moraes”
publicada na revista Desfile, em 1973, entrevista realizada por Ricardo Noblat e Tadeu
Lubamo; “Vinicius, Tom, Toco, Miúcha” publicada na Folha de São Paulo, em 1983, realizada
por Tarso de Castro; “Conversando (na cama) com Vinicius” publicada na revista Status, em
1978, realizada por Martha Ibañes; “A poesia e a canção são parte de um todo” publicada no
Estado de São Paulo, em 1979, realizada por Lourenço Dantas Mota, Frederico Branco e Nilo
Scalzo; “De parceria com a vida” publicada na revista Veja, em 1979, realizada por Humberto
Werneck e Regina Echeverria.
33
Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell e Toquinho. O critério para escolha foi a
criadas por três ou mais pessoas não foram selecionadas para análise. O
músicas em parceria com Vinicius. Com Tom Jobim foram 44, com Carlos Lyra
Após a identificação dos amigos e dos parceiros musicais (com base nas
biografias e nas cartas), foi feita análise da sobreposição dos dois grupos. O
interesses comuns; (b) Descrição do contexto social que aparece como pano
que aparece como pano de fundo das interações com amigos e parceiros.
e cartas).
letra e música) resultantes das quatro parcerias acima mencionadas com vistas
seqüência de análise, iniciando pelo nível das interações: 1. Efetuar coleta dos
36
interações em cada díade. 3. A partir daí, optar por um dos dois caminhos: a)
interação. Essa última opção foi a escolha feita para o presente estudo.
Os subtemas são categorias dentro do tema que detalham como este foi
tempo e um espaço que esta pesquisa não comporta e não tem como
fazer uma biografia de Vinicius de Moraes não seria tarefa fácil, pois
Casa de Rui Barbosa, 1999), as biografia escritas por Castello (2005b, 1994), o
livro de Cohn & Campos (2007) que reune algumas de suas entrevistas e o site
manifestações de arte. Sua mãe, Lydia Cruz de Moraes, foi pianista seguindo os
passos da avó materna e Vinicius. O pai, Clodoaldo Pereira da Silva, era sobrinho do
poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho, tinha amizade com Olavo Bilac e
amor e o avô materno, poeta. Outras figuras do círculo familiar de Vinicius, como tios e
Seu interesse pela música pode ser percebido desde cedo. Numa
crônica intitulada Música Popular (Jost, Cohn & Campos, 2008, 30), Vinicius
passa grande parte de sua infância. Aos 13 anos começa a compor com dois
Reserva. Nesse mesmo ano, publica seu primeiro livro, “O caminho para a
Jayme Ovalle.
conhecida por Tati. No final desse mesmo ano regressa ao Brasil. Sua primeira
filha, Susana, nasce em 1940. Passa uma temporada em São Paulo, onde fica
Manhã.
seu filho Pedro. Em uma caravana a Belo Horizonte – Minas Gerais –, chefiada
por ele a pedido do então prefeito Juscelino Kubitschek, faz amizade com os
Café Vermelhinho. Nesse mesmo ano, faz uma viagem de 40 dias pelo Brasil
com o escritor americano Waldo Frank e muda radicalmente sua visão política:
período que passa em Recife, conhece o poeta João Cabral de Mello Neto.
plásticos pouco conhecidos até então, como Carlos Scliar e Maria Helena
40
Vieira da Silva.
1947, estuda cinema com Orson Welles e Gregg Toland. E lança com Alex
Em 1953, nasce sua filha Georgiana. Nesse ano, compõe com Antônio
Maria a canção "Quando tu passas por mim". A partir daí o envolvimento com a
São Paulo. Em 1955, compõe, em Paris, uma série de canções de câmara com
da produção do filme “Orfeu Negro”, tem o ensejo de encenar sua peça “Orfeu
música do espetáculo, iniciando com ele a parceria que, logo depois, com a
parceria com Antônio Carlos Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No disco,
ouve-se, pela primeira vez, a batida da bossa nova, no violão de João Gilberto,
LP “Por Toda Minha Vida”, com canções em parceira com Jobim, interpretadas
pela cantora Lenita Bruno. Nesse mesmo ano, o filme “Orfeu Negro” ganha a
estrangeiro do ano.
musicada “Pobre Menina Rica”. Em agosto, faz seu primeiro show, de ampla
Gourmet”, Rio de Janeiro, que daria início aos chamados pocket-shows e onde
Lyra, na mesma boate, para apresentar “Pobre Menina Rica” e onde é lançada
a cantora Nara Leão. Nesse mesmo ano, compõe com Ari Barroso as últimas
Namoradas". Grava, como cantor, seu disco com a atriz e cantora Odete Lara.
Lobo. E, em 1964, com Francis Hime. Faz show de grande sucesso com o
42
Quarteto em Cy. Do show é feito um LP. Colabora com crônicas sobre música
Baden Powell. De Paris, voa para Los Angeles a fim de encontrar-se com seu
parceiro Antônio Carlos Jobim. Volta ao show com Caymmi, na boate Zum-
se para a Bahia após casamento com a baiana Gesse Gessy. Nasce Maria,
sua quarta filha. Em 1972, viaja com Toquinho para a Itália onde gravam o LP
com Toquinho dois discos. Em 1976, escreve as letras de "Deus lhe pague",
Em 1977, grava um disco em Paris com Toquinho e faz show com Tom,
cultural, sendo formado por pessoas ligadas à poesia, escrita, música, cinema
ou artes plásticas.
preencher o vazio que sente, mas de torná-lo suportável: “... de maneira que a
luta do homem deve ser a de tornar a sua solidão uma comunhão a dois, a
três. Aí vem o problema da amizade, dos amigos” (Cohn & Campos, 2007,
160).
dessa relação são encontrados nos materiais de análise, nos quais foi
indicando intimidade. Outro critério foi o número de cartas para análise. Apenas
Andrade, pois há apenas o registro de uma carta para o primeiro e duas para o
acordo com o amigo: a vida fora do Brasil, família, desenvolvimento dos filhos,
de livros, pedido de revisão de novas poesias etc). E sempre numa via de mão
dupla: fala de si e quer saber do outro. Vinicius faz questão de colocar o amigo
nesse estudo são Plínio Sessekind Rocha, Claudio Mello e Octávio de Faria.
por Vinicius e nas biografias utilizadas. Não foram analisadas cartas trocadas
entre eles, já que o início destas amizades se deu antes da década de 1940,
estudo.
cartas), Calazans Neto (14 cartas e bilhetes), Rubem Braga (11 cartas),
Antônio Maria (nove cartas), João Cabral de Melo Neto (nove cartas), Carlos
Drummond de Andrade (oito cartas), Ribeiro Couto (sete cartas), Lauro Escorel
(quatro cartas), Mário de Andrade (duas cartas) e Erico Veríssimo (uma carta).
Por fim, amizades musicais são aquelas cujo interesse em comum gira
Lyra, Baden Powell e Toquinho. O material de análise são cartas trocadas com
Tom Jobim (15 cartas), Carlos Lyra (11 cartas) e Baden Powell (duas cartas).
capítulo.
autor.
coadjuvantes de uma difícil ruptura rumo à vida adulta. Por terem acontecido
3
Site de Tom Jobim: http://www.jobim.org/jspui/acervo/acervodigital.jsp
Site de Baden Powell: http://www.badenpowell.com.br
Site de Carlos Lyra: http://www.carloslyra.com
Site de Toquinho: http://www.toquinho.com.br
48
debate intelectual, pairam com suas mentes esgarçadas uns bons centímetros
religiosa, acontecem “em noites marcadas por álcool, muita fumaça e olheiras
dessa escolha e a limitação que ela acarreta para sua poesia. A música
período que Vinicius fazia uma viagem de um mês pelo interior do país na
muito boa e ficamos grandes amigos, que somos até hoje”, relata em entrevista
nem por isso menos íntimo: “meu caro Vinicius”. Na carta, João Cabral dá
retorno sobre um livro que aparentemente Vinicius pediu que o amigo lesse e
não está bem. E há, sobretudo, o nervosismo ao pensar que dentro de uns
“querido amigo Lauro Escorel” (Cohn & Campos, 2007, 35). Após um ano
em 1942.
cartas trocadas entre eles são muito apaixonadas, com muita raiva ou muito
1949, Vinicius desabafa que não se contentou com uma carta anterior do
amigo. Lauro foi solicitado a fazer uma revisão crítica de um livro de Vinicius,
colocações do amigo depois que este lhe escreveu. Fala novamente sobre sua
postura política, mas num tom mais ameno, menos agressivo. Reconhece que
tinha se exaltado, provavelmente pelo trabalho que o livro deu, portanto não
revisões e opiniões pessoais, envia livros e revistas, conta histórias dos lugares
52
por onde passa e das pessoas que conhece, pergunta sobre amigos em
episódio no qual Vinicius tece elogios depois de falhar com o amigo. A partir de
1957, Ribeiro tentou reunir artigos sobre cinema que ele e Vinicius escreveram
sou eu mesmo, seu velho e preguiçoso amigo” (Castro, 2003, 259). E enfatiza
o apreço que sente por Ribeiro: “andei relendo suas coisas ultimamente e me
deu um calor muito bom saber você tão brasileiro, tão sensível às nuances
mais difíceis da poesia, tão você mesmo em tudo” (Castro, 2003, 259). “Tenho,
como você deve bem saber, uma extrema dificuldade para escrever cartas:
uma outra prerrogativa e privilégio dos homens da sua geração” (Castro, 2003,
tenha nos separado em muitos sentidos, inclusive no político, ficou um sino que
toca quando nos encontramos. Isso eu acho inestimável” (Castro, 2003, 260).
amigo, permanece amigo mesmo que não entre em contato ou demore a fazer
encontrar com frequência, junto de outros amigos em comum. Lá, após alguns
amigo. Numa carta de 1944, Drummond elogia uma poesia de Vinicius que
explosiva. Obrigado pela leitura prévia” (Castro, 2003, 110). Nesse mesmo ano,
Vinicius escreve carta na qual demonstra grande alegria por seu poema conter
2007, 150). Apesar de toda admiração entre eles, os tratamentos utilizados nas
Verríssimo. Chamando o amigo por “meu caro Erico”, Vinicius nega convite de
Vinicius se muda para lá. Calazans era seu vizinho e torna-se seu melhor
amigo. Foi seu padrinho de casamento com a baiana Gessy Gesse, sua sétima
convidar o amigo para uma noite de leitura de poesias, em sua própria casa ou
na casa de Calazans.
como Pai. E os assuntos são os mais variados possíveis e parecem não ter fim:
55
“estou ligando pra você neste instante mesmo, mas me deu vontade de lhe
contar mais coisas do que cabem num telefonema” (Castro, 2003, 345). Fala
dos shows de Carlos Lyra com o Quarteto em Cy, do poema de Ferreira Gullar
proximidade. Saúde a família são outros assuntos sempre em pauta nas cartas
o poeta sente-se mais à vontade para falar da saudade que sente quando está
Dos amigos literários que Vinicius teve, alguns foram mais decisivos
esteve em meio à música popular, por meio de Pixinguinha, Noel Rosa e outros
57
sambistas que ele conheceu. Antes disso, aos quinze anos, Vinicius compôs
como não foram encontradas cartas disponíveis com estes amigos. Foi
de volta ao chamado plano concreto, Vinicius responde que não, mas não
Moraes Neto, crítico modernista com grande interesse por música popular.
frequentar esse grupo, que era mais voltado para a realidade” (Conh &
Campos, 2007, 26). Sua poesia passa a denotar essa mudança e futuramente
correspondências que se inicia nos anos 1930 e se estende até 1960. Falam
sentimentos.
De poesia e de emoção
Vinicius (http://www.blogtribuna.com.br/Literatura/Postagem/Bandeira,-Vinicius-
Resposta a Vinicius
Arrancando do coração
você é um anjo”.
Vinicius sempre envia seus poemas inéditos para o amigo, procurando obter
dizer, Mané, se você pode tomar conta para mim de uma ediçãozinha de
minhas poesias escolhidas, que estou querendo fazer. Mas não quero dar
trabalho”.
Numa longa carta escrita por Vinicius em 1947, o poeta lembra o tempo
as poesias que havia escrito. Nesse sentido, o envio de poesias por meio de
cartas para avaliação mútua parece ser a continuidade desse “ritual”, que faz
muito satisfeito de ter escrito essa carta. Para você, o velho coração do seu
lembrança. É, como você sabe, e como tudo que vai de mim para você, right
importância muito grande para trazer Vinicius para um reencontro com a fonte
empenhado. Com uma tremenda vocação para a amizade” (Cohn & Campos,
2007, 37). Nas cartas, Vinicius solicita ajuda de diversas ordens: financeira,
poética ou de outra ordem qualquer. Ao mesmo tempo, tenta deixar claro que
não deseja que o amigo tenha muito trabalho com os pedidos que faz:
Filho da classe média alta, Antônio Maria é um boêmio que adora a noite e é
“na minha vida, não fiz outra coisa senão amar. (...) Esvaio-me no amor e sinto,
Vinicius lhe chama por vários nomes, dando um indicativo das várias
faces de Antônio Maria: Meu Maria, Menino Grande, Zé Maria. Nas cartas, o
amigo se refere à Vinicius como Meu Poeta e outras vezes ainda o chama de
63
assuntos tratados nas cartas trocadas entre os amigos sempre giram em torno
1957:
influência que sofreu e a admiração por esse homem: “Você foi dos primeiros a
livremente e sem medo, comprometido tão-somente com o amor” (Jost, Cohn &
Campos, 2008, 161), da mesma forma como o próprio Vinicius tentou balizar
PRINCIPAIS PARCEIROS
cartas trocadas com eles trazem como assunto letras de música, produção de
parceiros que teve até então: “os meus parceiros foram todos sujeitos
eles” (Cohn & Campos, 2007, 131). Depois disso, ainda encontra seu último
onde a gente às vezes fala sério, às vezes tira pêlo um do outro, às vezes não
diz nada, quando não há nada pra dizer” (Jost, Cohn & Campos, 2008, 174).
comenta a sugestão do amigo Lúcio Rangel, que indicou Antônio Carlos Jobim:
popularmente conhecido, resultando daí não apenas uma parceria, mas uma
amizade que hoje sinto de grande importância para nós ambos”. A relação
entre eles, inicialmente voltada apenas para a criação da trilha sonora da peça,
Jobim, por outro lado, anônimo nos bares onde tocava por muito pouco,
Jobim definiu os encontros que tinha com o amigo: “eu tomo chope com o
Rui Barbosa, 1999, VMcp 351), escreve Tom Jobim em carta para Vinicius e
sua esposa. Numa crônica de 1964 (Jost, Cohn & Campos, 2008, 87), Vinicius
considerada marco inicial desse movimento, por sua letra inusitada e simples e
brasileira ouvida pela classe média alta, marcada até aquele momento pela
saudade e amor.
68
para Vinicius dizendo que gostaria de lhe mostrar algumas melodias. Vinicius
cassete, desanimando Carlos Lyra. Porém, poucos dias depois Vinicius liga
para o jovem com as letras prontas. Inicia-se aí uma nova parceria e amizade.
Vinicius se refere a Carlos Lyra como “parceirinho cem por cento” na canção
Samba da Benção, composto com Baden Powell. Completa dizendo que Carlos
uma saudade brutal de você”. Os assuntos das cartas trocadas giram em torno
Em 1963, Carlos Lyra foi um dos idealizadores do rapto que Vinicius faz
vai com Vinicius para Paris. A idéia surgiu numa brincadeira, quando Vinicius
se queixava com o amigo de que não suportava mais ficar longe da amada. Na
dia para Nova York, horas antes do vôo de Vinicius e Nelita para a França.
69
Boate Arpege, após um show de Tom Jobim. Baden Powell tocava guitarra em
amizades viris meio raras hoje em dia (...). Vinicius nunca teve medo de dizer
que, para ele, Baden era uma pergunta a ser domesticada, e não respondida”.
Maria, Noel Rosa, Pixinguinha” (Castello, 2005a, 42). Baden levou Vinicius ao
um elemento novo na bossa nova, a música de tradição negra, que acabou por
agressão controlada.
crônica sobre o trabalho de Baden em Paris, a sensação que teve ao saber que
popular:
começa em 1970, quando ele é convidado por Vinicius para uma temporada de
shows na Argentina. “Ali solidificou-se entre Toquinho e mim uma amizade que,
nem filial da parte dele” (Jost, Cohn & Campos, 2008, 174).
Argentina. “Houve uma adaptação perfeita entre a gente, porque tudo que
Vinicius gostava de fazer eu também gostava: tocar violão, curtir os temas que
iam saindo, comer bem, viver a noite ao lado de amigos e mulheres bonitas”
grupos temáticos: (a) o amor romântico, (b) a mulher; (c) a música; (d) a
4
Água de beber; Amor em paz; Andam dizendo; Brasília, sinfonia da Alvorada; Brigas nunca
mais; A cachorrinha; Cala, meu amor; Caminho de pedra; Canção do amor demais; Canção em
modo menor; Canta, canta mais; Chega de saudade; Chora coração; Derradeira primavera; Ela
é carioca; É preciso dizer adeus; Estrada branca; Eu e o meu amor; Eu não existo sem você;
Eu sei que vou te amar; A felicidade; Frevo de Orfeu; Garota de Ipanema; O grande amor;
Insensatez; Janelas abertas; Lamento no morro; Luciana; Maria da Graça; Modinha; O morro
não tem vez; Mulher sempre mulher; Na hora do adeus; Um nome de mulher; O nosso amor; O
que tinha de ser; Pelos caminhos da vida; Por toda a minha vida; Se todos fossem iguais a
você; Sem você; Só danço samba; Soneto de separação; Valsa do amor de nós dois; Vida
bela.
5
Orfeu da Conceição (1956), Canção do amor demais (1958), Por toda a minha vida (1959),
De Vinicius e Baden especialmente para Ciro Monteiro (1965), Vinicius: poesia e canção – ao
vivo – volume 1 e 2 (1966), Garota de Ipanema (1967), Vinicius de Moraes com Maria Creuza y
Toquinho – Grabado en Buenos Aires (1970), Vinicius + Bethania + Toquinho – Grabado em
Buenos Aires (1971), Vinicius canta: nossa filha Gabriela (1972), Saravá Vinicius! (1974),
Vinicius/Toquinho (1975), O poeta e o violão (1975), Antologia Poética (1977), Tom, Vinicius,
Toquinho e Miúcha – Gravado ao Vivo no Canecão (1977) e Testamento (1980). Ainda na
coleção da sua discografia, mas nos discos lançados após sua morte, as canções podem ser
ouvidas em: Vinicius – História da música popular brasileira – Grandes Compositores (1982),
Brasília Sinfonia da Alvorada (1983), Poeta, Moça e Violão – Vinicius, Clara e Toquinho – A
história dos shows inesquecíveis (1991), Vinicius em Cy – Quarteto em Cy (1993), Songbook –
Volumes 1, 2 e 3 (1993), Vinicius de Moares por Odete Lara – Coleção Poesia Falada Volume
5 (1998), Vivendo Vinicius – ao vivo – Baden Powell, Carlos Lyra, Miúcha e Toquinho (1999),
Tom canta Vinicius – Ao vivo (2000), Canção do Amor demais por Olivia Byington (2003),
Jobim Sinfônico (2003), Trilha Sonora do Filme Vinicius de Miguel Faria Junior (2005).
6
Na discografia de Tom Jobim as canções compostas pelos parceiros encontram-se em The
composer of Desafinado, plays (1963), Caymmi visita Tom (1964), Antonio Carlos Jobim
(1964), The wonderful world of Antonio Carlos Jobim (1965), Antonio Carlos Jobim: composer
(1967), Tide (1970), Jobim (1973), Elis e Tom (1974), Terra Brasilis (1980), Tom canta Vinicius
(1990), Tom Jobim inédito (1995), Meus primeiros passos e compassos (1997), Raros
compassos 1, 2 e 3 (2000), Antonio Carlos Jobim em Minas – Ao vivo – Piano e voz (2004).Os
discos produzidos por Vinicius e Tom Jobim nos quais aparecem apenas canções da dupla são
Orfeu da Conceição (1956), Canção do amor demais (1958), Por toda a minha vida (1959) e
Brasília Sinfonia da Alvorada (1983).
73
tabela, ainda são propostos subtemas e alguns termos ou frases que procuram
resumir o conteúdo dessas letras de forma muito breve, com vistas à sua
parceiro.
para falar de amor: “Olha que o amor, Luciana / É como a flor que não dura
dizer adeus”) desse momento. Apesar de não ser característica das letras de
forma preferida pelos parceiros para falar de amor romântico. Mais uma vez, a
prazer e esperança.
espera e almeja, mas que também causa sofrimento e dor, estão as músicas
CONTEÚDO MÚSICA
Mulher carioca: beleza física, sensualidade e charme Ela é carioca
Mulher carioca: beleza física, sensualidade e charme Garota de Ipanema
Maria da Graça: graça e charme Maria da Graça
Prazer, pranto, dependência, amor romântico Um nome de mulher
Estas letras exaltam, de forma mais concreta, a mulher carioca com sua
narram uma conversa com a mulher amada: “Andam dizendo”, “Mulher, sempre
“Por toda a minha vida”, “Brigas nunca mais”, “Amor em paz”, “Vida bela”, “Um
nome de mulher”.
Há uma letra cuja fala é voltada para o coração: “Ah, meu coração,
quem nunca amou/Não merece ser amado/Vai, meu coração, ouve a razão/
chama-se Maria da Graça e a letra mostra uma conversa com essa mulher.
que o narrador canta. Por fim, há uma canção dirigida a um animal: “Mas que
encontra. Ela é cantada como destino, luz e paz, ao mesmo tempo que traz
tormento e dor. Essa relação faz sentido, uma vez que o amor também é
ela traz o amor, que carrega em si tal contradição. Mulher que passa, que
só dele, que o prende e o liberta ao mesmo tempo. Ainda assim, não lhe
vivido por Vinicius quando encontra Tom Jobim e compõe a canção: o homem
de meia idade que vê a juventude que passa. A letra aponta para o poeta que
percebe seu redor, a poesia da vida que se dá ao seu lado. Reflete o início da
nova vida de Vinicius, da qual Tom Jobim foi grande parceiro: vida de música,
amor: bossa nova. Portas, janelas e caminhos que se abrem. Algumas letras
são emblemáticas nesse sentido, como Água de beber (A minha casa vive
abrir/Para que o sol possa vir iluminar nosso amor), Caminho de pedra (Hoje
sozinho não sei pra onde vou/É o caminho que vai me levando ô ô) e Estrada
a sensação de melodia aberta, solar, viva, por isso geralmente é usado para
letras alegres. Mas a letra fala exatamente o contrário: “Tristeza não tem fim”.
parecidas. Mas, apesar de “Lamento no morro” ser mais alegre, inicia-se com
aparentemente contrários.
CONTEÚDO MÚSICA
Efeito positivo da música: alegria, leveza Canta, canta mais
Carnaval: alegria, beleza Frevo de Orfeu
Samba: ritmo contagiante, dança Só danço samba
Expressão musical: alegria, beleza, samba O morro não tem vez
7
Em música, acorde é a escrita ou execução de três ou mais notas simultaneamente. Acorde
maior é um acorde formado por notas pertencentes à escala maior. O acorde maior é o mais
usado na música popular ocidental, podendo ser encontrado nas músicas eruditas ou nas
músicas dos Beatles, por exemplo. Já o acorde menor é um acorde formado por uma tríade
menor, usado em canções de melodias mais tristes.
79
experiência do homem diante da vida. Também são marcadas por seu caráter
dialético.
(c) a música; (d) a experiência humana (em um sentido mais amplo, como
romântico, (b) a mulher, (c) a experiência humana e valores, (d) temas sociais,
8
Balanço do Tom; Broto maroto; Broto triste; Canção do amor que chegou; Cartão de visita;
Coisa mais linda; Gente do morro; Hino da UNE; Lamento de um homem só; Marcha de quarta-
feira de cinzas; Maria moita; Minha desventura; Minha namorada; Nada como ter um amor;
Parece que ela vai de samba; Pau-de-arara; Pobre menina rica; Pode ir; Primavera; A primeira
namorada; Sabe você?; Samba do carioca; Saudade que dá; Também quem mandou; Valsa
dueto; Você e eu.
9
Vinicius e Caymmi no Zum Zum (1965), Vinicius: poesia e canção – ao vivo – vol 1 e 2 (1966),
Vinicius (1967), Vinicius de Moraes – Grabado en Buenos Aires com Maria Creuza y Toquinho
(1970), Saravá Vinicius! (1974), O poeta e o violão (1975), Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha –
Gravado ao vivo no Canecão (1977), Testamento (1980). Na discografia póstuma, canções
dessa parceria podem ser ouvidas em Vinicius – História da música popular brasileira –
Grandes compositores (1982), Poeta, Moça e Violão – Vinicius, Clara e Toquinho (1991),
Vinicius em Cy (1993), Vivendo Vinicius – ao vivo – Baden Powell, Carlos Lyra, Miúcha e
Toquinho (1999), Tom canta Vinicius – ao vivo (2000). Na discografia de Carlos Lyra, os
seguintes discos possuem letras feitas em parceria: Carlos Lyra (1961), Depois do Carnaval –
O sambalanço de Carlos Lyra (1963), The sound of Ipanema (1965), Carlos Lyra (1967), Carlos
Lyra/Saravá (1969 e 1970), ...E no entanto é preciso cantar (1971), Carlos Lyra/25 anos de
Bossa Nova (1987), Bossa Lyra (1993), Songbook/Carlos Lyra (1994), Sambalanço (2000),
Carlos Lyra – 50 anos de música (2005).Os discos com canções exclusivamente da parceria
Vinicius e Carlos Lyra são Pobre Menina Rica (1964) e Canta – A UNE (1986).
81
de amar e ter a pessoa amada estão presentes nestas letras, assim como
CONTEÚDO MÚSICA
Novo amor: descoberta, curiosidade Broto maroto
Perfil da mulher: arrogância por causa do dinheiro Broto triste
Balanço / Ginga: sensualidade, beleza, dança Parece que ela vai de samba
Beleza da mulher Coisa mais linda
Perfil da mulher: amizade, companheirismo, namoro Minha namorada
Namorada, amante A primeira namorada
retratada como seu objeto, assim como relacionado à música, à dança, mas
romântico.
A peça Pobre Menina Rica parece uma crítica aos homens “cultos” que
de Pobre Menina Rica. Vinicius, que era diplomata e convivia com a alta roda
Broto Triste é muito clara e enfática nesse sentido, porém transportanto essa
CONTEÚDO MÚSICA
Morro da favela: qualidade de viver no morro, gratidão/ingratidão, retorno Gente do morro
UNE (União Nacional dos Estudantes): juventude e trabalho,força, Hino da UNE
jovialidade, disponibilidade
Trabalho e relação familiar: rico/pobre, homem/mulher, resignação, Maria Moita
desigualdade social
Desigualdade social: relação sertão-cidade, sofrimento, fome, falta de Pau-de-arara
perspectiva
perfil do amigo, das regras para ser amigo. Finalmente, o tema Música é
quarta-feira de cinzas).
(d) temas sociais (como o trabalho e a desigualdade social), (e) amizade e (f)
música.
84
relação de amizade.
temáticos foram propostos: (a) o amor romântico, (b) a mulher, (c) música e
dança. Dentro de cada grupo temático, por vezes, são propostos alguns
das letras.
10
Além do amor; Amei tanto; Um amor em cada coração; Apelo; O astronauta; Berimbau;
Bocochê; Bom dia, amigo; Canção do amor ausente; Canção de enganar tristeza; Canção de
ninar meu bem; Canto de Iemanjá; Canto de Ossanha; Canto de pedra preta; Canto de Xangô;
Cavalo-marinho; Consolação; Deixa; Deve ser amor; É hoje só; Formosa; Garota porongondon;
História antiga; Labareda; Linda baiana; Mulher carioca; Pra que chorar; Queixa; Samba da
benção; Samba do café (Para fazer um bom café); Samba em prelúdio; Seja feliz; Só por amor;
Sonho de amor e paz; Tem dó; Tempo de amor (Samba do Veloso); Tempo feliz; Tristeza e
solidão; Valsa sem nome.
11
Vinicius & Odete Lara (1963) e Os Afro-Sambas (1966). Na discografia de Vinicius de
Moares, outros discos que incluem as composições da dupla são De Vinicius e Baden
especialmente para Ciro Monteiro (1965), Vinicius e Caymmi no Zum-Zum (1965), Vinicius:
poesia e canção – Ao Vivo – Volume 1 (1965), Vinicius (1967), Vinicius de Moraes – Grabado
en Buenos Aires com Maria Creuza y Toquinho (1970), Vinicius + Bethania + Toquinho –
Grabado en Buenos Aires (1971), Saravá Vinicius! (1974), O poeta e o violão (1975),
Testamento (1980). Na discografia póstuma de Vinicius, canções dele com Baden Powel estão
nos discos Vinicius – História da Música Popular Brasileira (1982), Poeta, Moça e Violão –
Vinicius, Clara e Toquinho – A história dos shows inesquecíveis (1991), Vinicius em Cy –
Quarteto em Cy (1993), Songbook – Volume 1, 2, 3 (1993), Vivendo Vinicius – ao vivo – Baden
Powell, Carlos Lyra, Miúcha e Toquinho (1999), Berimbau – Paula Morelenbaum (2004).
85
Ossanha e Xangô.
86
CONTEÚDO MÚSICA
Mulher que dança: samba, admiração, exaltação, valorização Garota Porongondon
Mulher que dança: paixão, fogo, amor Labareda
Mulher baiana: sensualidade, beleza, dança Linda baiana
Mulher brasileira e carioca: sensualidade, beleza, graça, charme Mulher carioca
Beleza, romance, felicidade O astronauta
Procura, busca, fuga Bocochê
Entrega, disponibilidade, paixão, agradecimento Só por amor
tratando-se de uma figura que desperta a paixão e a admiração por sua beleza,
mais terno. A mulher também se liga à música por meio da dança. Há um certo
Baden a ligação entre música e mulher aponta para a música como via de
se apaixonar.
CONTEÚDO MÚSICA
Dança, ritmo contagiante Canto de pedra preta
Carnaval: dança, ritmo envolvente, cura para queixas e reclamações Queixa
Saudade do Carnaval: felicidade, paz, recordações, nostalgia Tempo feliz
Compor samba: tristeza e alegria, amor, aprendizagem, amizade Samba da benção
amizade.
enganar tristeza), podendo ser considerada como uma música que trata da
universal.
aspecto típico do Brasil e do povo brasileiro, de uma receita para fazer café,
Bocochê ela é usada para imitar o som do mar, dar o ritmo de balanço: “Nhém-
som é marcado pela batida da capoeira e tem clara influência dos sons
esperado, que é uma constância não somente nas letras de Vinicius, mas em
seu título, de modo que o tema “música” está presente em muitos momentos
dessa parceria. Outras canções não trazem nos títulos essas palavras, mas o
tema música ao longo da letra, tal como Tempo Feliz, na qual as canções
alegravam e traziam paz aos corações. Importância desse tema e relação dele
com outros: com a mulher, com o amor, com a amizade, com o samba e a
aspecto típico do Brasil e do povo brasileiro, de uma receita para fazer café.
90
foram compostas apenas pelos dois12. Outras 13 canções contaram com pelo
menos mais um parceiro, entre eles Guido Morra e Maurizio Fabrizio (em
Nahle (em A arca de Noé), Paulinho Nogueira (com Choro chorado para
Paulinho Nogueira), Georges Moustakis (na canção Je sus une guitarre), Paulo
Soledade (nas canções: O pato; O peru), Carlinhos Vergueiro (em Por que
será), Chico Buarque (no Samba de Orly), Tom Jobim e Chico Buarque
(Estamos aí) e Gilda Matoso, Pipo Caruso e Sérgio Bordotti (com O pintinho).
grupos temáticos: (a) amor romântico, (b) a mulher, (c) valores e estilos de
vida, (d) outros relacionamentos, como amizade, (e) temas infantis, (f) temas
12
Acende uma lua no céu; Amigos meus; Amor em solidão; Aula de piano; O bem-amado; A
benção, Bahia; A bíblia; Os bichinhos e o homem; Blues para Emmett; Calmaria e vendaval;
Canto e contraponto; Canto de Oxalufã; O canto de Oxum; Caro Raul; Carta que não foi
mandada; Carta ao Tom; O céu é o meu chão; Chorando pra Pixinguinha; Como dizia o poeta;
Como é duro trabalhar; As cores de abril; Corujinha; Cotidiano nº 2; Deixa acontecer; Essa
menina; Eu não tenho nada a ver com isso; O filho que eu quero ter; A flor da noite; A foca;
Fogo sobre a terra; A galinha d’angola; Gilda; O girassol; Golpe errado; Um homem chamado
Alfredo; Mais um adeus; Maria vai com as outras; Menina das duas tranças; Meu pai Oxalá;
Morena flor; No colo da serra; Paiol de pólvora; Para viver um grande amor; Patota de
Ipanema; Planta baixa; O poeta aprendiz; O porquinho; A porta; Um pouco mais de
consideração; A pulga; Regra três; A rosa desfolhada; As razões do coração; Uma rosa em
minha mão; Samba para Endrigo; Samba do jato; Samba da rosa; Samba da volta; São demais
os perigos desta vida; Se o amor quiser voltar; Se ela quisesse; Sei lá... A vida tem sempre
razão; Sem medo; Tarde em Itapuã; Tatamirô (Em louvor de Mãe Menininha de Gantois); A
terra prometida; Testamento; A tonga da mironga do kabuletê; Triste sertão; Tudo na mais
santa paz; Turbilhão; Valsa do bordel; Valsa para uma meninha; Veja você; A vez do dombe.
91
dentro da música popular brasileira, mas também como algo que representa
vezes.
apenas com “processos”. Nas amizades do dia a dia, não se costuma registrar
artística.
estava presente nas composições com Tom Jobim, Carlos Lyra e Baden Powell
retorno ou volta do amor, (e) saudade e ausência da pessoa amada, (f) término
ou perda do amor.
necessidade de amar e ter a pessoa amada, de exaltar o ser amado. Por outro
momentos marcados por uma maior carga emocional. Apesar de uma certa
temática. Um fator que parece permear este conjunto é a dialética entre alegria
presente no amor romântico, mas também nas posições diante da vida. Estes
(como Meu pai Oxalá, Maria vai com as outras, O canto de Oxum).
CONTEÚDO MÚSICA
Loucura, comicidade, fofoca A flor da noite
Alegria, festividade, humor, amor romântico Maria vai com as outras
Estilo de mulher, beleza, amor, objeto de admiração Samba da rosa
Mulher do bordel, sofrimento, esperança Valsa do bordel
o trágico.
não apenas retratam o amor entre o homem e a mulher, de forma mais terna
sobre o tema da morte, do fim das coisas (Canto de Oxalufã; Sei lá... A vida
da morte é sempre positiva, como experiência que vem afirmar a vida, que nos
dar respostas e parece apostar e confiar na vida, mesmo que ela esteja
apontando para seu fim próximo. A letra de “Sem medo” fala de travessia, de
quando interessado por uma mulher e envolvido pelo amor, a vida; quando em
infantil “Os bichinhos e o homem” o tema da morte aparece; morte vista como
aquela que iguala os homens, independente do tipo de vida que ele tenha
mais novas. Toquinho, por sua vez, vive a intensidade dos namoros e
envolvimentos. Tanto que a canção “Regra Três” é definida por Toquinho como
vida tem que ser vivida de modo a valer a pena e que, no fim, todos se igualam
pela morte.
circo, com coro infantil em quase todas as canções. Esses discos contam com
especialmente a amizade.
98
tristeza e alegria, mas também de uma forma de viver em que os amigos são
parte da vida. Esta forma intensa de viver com os amigos também pode ser
filhos, mas quando o faz, também entra na dialética da alegria e da dor. Nesse
papel de pai, como indica a letra de “O filho que eu quero ter”, enquanto
zona sul. Letras relacionadas: Amigos meus; Caro Raul; Carta que não foi
irreverente.
Tabela 9.7.
CONTEÚDO MÚSICA
Pedido de benção a santos e divindades, musicalidade, A benção, Bahia
confiança
Pedido de benção a santos e divindades, Musicalidade, Tatamirô
confiança, louvor
Ritmo dombe, musicalidade, dança A vez do dombe
100
elementos afro-brasileiros.
(c) valores e estilos de vida; (d) outros relacionamentos, como amizade; (e)
biográfica.
feminina. Por outro lado, cada parceria tem características próprias. Do ponto
de vista dos estudos de amizade, pode-se ressaltar que cada uma das quatro
relação entre Vinicius e Toquinho, a partir das composições que fizeram juntos,
Toquinho (A benção, Bahia; Canto de Oxalufã; Canto de Oxum; Maria vai com
102
artística em parceria.
são simultaneamente amigos (no caso estudado, amigos com uma grande
onde dá lugar a uma temática ainda mais ampla, envolvendo valores e estilos
de vida. A parceria entre Vinicius e Baden tem mais elementos da cultura afro-
brasileira. Com Carlos Lyra, há mais preocupação com temas sociais. Estes
11. DISCUSSÃO
importantes por sua relação com a música não apenas como um produto
com movimentos culturais, que reúne um grupo de artistas com uma tradição
refere a uma rede de relações sociais e culturais que servem de moldura para
podem ser feitas com base nos dados investigados. Cada amizade/parceria
Assim, não se pode separar uma amizade do autor como algo isolado de sua
rede social e cultural mais ampla. Por outro lado, cada relacionamento é único,
o que pode ser visto pelo conteúdo das composições que é, em última análise
não devem ser compreendidas apenas como laços entre duas pessoas que
cultural específica.
110
e Tom Jobim figuras de destaque não apenas pela produção musical, mas
amizades.
e de amizade.
a atividades nos momentos de folga, nos fins de semana, mas estão no cerne
de realizações humanas.
111
a-dia, seus processos internos, por vezes influenciados por normas sociais.
historiadores da literatura ou das artes. Cabe destacar que amizades não são
amizades em geral
investigação do tema;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
163-184.
Allan, G. (1993). Social Structure and Relationships. In: Duck, S. (org). Social
Bell, S. & Coleman, S. (Eds) (1999). The anthropology of friendship. New York:
Berg.
231-248.
Blieszner, R. & Adams, R.G. (1992). Adult friendship. Thousand Oaks: Sage.
115
Buunk, B.P. & Prins, K.S. (1998). Loneliness, exchange orientation, and
Carvallo, M. & Pelham, B.W. (2006). When fiends become friends: The need to
Beco do Azougue.
Cole, T. & Bradac, J.J. (1996). A lay theory of relational satisfaction with best
49-75.
Dugan, E. & Kivett, V.R. (1998). Implementing the Adams and Blieszner
219-237.
Fehr, B. (1999). Stability and commitment in friendships. In: Jeffrey M. Adams &
Feld, S, & Carter, W.C. (1998). Foci of activity as changing contexts for
Press.
Flora, J. & Segrin, C. (1998). Joint leisure time in friend and romantic
relationships: The role of activity type, social skills and positivity. Journal
Gore, J.S.; Cross, S.E. & Morris, M.L. (2006). Let's be friends: Relational self-
(1), 83-102.
71 - 83.
Press.
Hays, T., Minichiello, V. (2005) The meaning of music in the lives of older
Press.
Press.
Press.
119
http://www.blogtribuna.com.br/Literatura/Postagem/Bandeira,-Vinicius-e-a-
Jost, M.; Cohn, S. & Campos, S. (2008) Samba falado (crônicas musicais):
Kenny, D.A. & Kashy, D.A. (1994). Enhanced co-orientation in the perception of
Legge, N.J. & Rawlins, W.K. (1992). Managing disputes in young adult
Mitchell, W.R. (1991). Mr. Elgar and Dr.Buck: A Musical Friendship. Castleberg.
North, A. C., & Hargreaves, D. J. (1999). Music and Adolescent Identity. Music
(2), 179-200.
gender in the nineteenth century. In: Rebecca G. Adams & Graham Allan
University Press.
Pahl, R. & Pevalin, D.J. (2005). Between family and friends: A longitudinal study
42.
Rezende, C.B. (1999). Building affinity through friendship. In: Sandra Bell &
York: Berg.
In: G. Velho & K.Kuschnir (orgs.). Mediação, Cultura e Política (pp. 237-
Schwab, S.H.; Scalise, J.J.; Ginter, E.J. & Whipple, G. (1998). Self-disclosure,
1264-1266.
Education, 3, 305-339.
166-73.
Ueno, K. & Adams, R.G. (2006). Adult Friendship: A Decade Review. In:
Vinícius de Moraes. Produção de Miguel Farias Junior & Susana Moraes. 2005.
Weisz, C. & Wood, L.F. (2005). Social identity support and friendship outcomes:
432.
Wild, K.P. & Fink, B. (1993). Die Ahnlichkeit von Freizeitinteressen als Faktor
Xing-Hua, F. & Xiao-Yi, F. (2004). Reliability and Validity of the Chinese Version
12 (2), 133-134.
ANEXO A
O CONTEÚDO DAS COMPOSIÇÕES DE VINICIUS DE MORAES
E TOM JOBIM
1) Água de beber – o narrador fala consigo mesmo ou com o ouvinte sobre o medo de
amar, pois o amor é um sentimento que traz desilusão. Ao mesmo tempo, sabe que
viver sem ele não é viver. Relaciona amor ao perdão. O tema é o amor romântico, sem
a indicação de um objeto específico. O subtema é o medo de amar, sentimento
abordado como desilusão.
“Eu quis amar mas tive medo / E quis salvar meu coração / Mas o amor sabe um
segredo / O medo pode matar o seu coração”
2) Amor em paz – narra uma conversa com a pessoa amada. O narrador diz que esse
amor apareceu quando tudo já parecida perdido, tudo era tristeza e não havia mais
esperanças. A pessoa amada trouxe paz e razão de viver. O tema é o amor romântico
e não há indicação explícita ao objeto. O subtema é o novo amor, trazendo paz,
alegria e razão para a vida.
“Foi então / Que da minha infinita tristeza / Aconteceu você / Encontrei em você a
razão de viver / E de amar em paz / E não sofrer mais / Nunca mais / Porque o amor é
a coisa mais triste / Quando se desfaz”
3) Andam dizendo – conta a história de um homem que sai na noite, sofrendo pela
constatação do fim do sentimento pela mulher amada. Mas aos olhos das demais
pessoas ele está em busca de um novo amor. O narrador tenta explicar à mulher
amada os motivos que o levam a sair na noite. É possivel afirmar que essa canção
tem como tema principal o amor romântico e o objeto desse amor é a mulher. O
subtema é o término do amor, abordado pela via do sofrimento e da constatação do
fim necessário e esperado do amor. Essa percepção sinaliza para a necessidade da
renovação constante desse sentimento.
“Mas ninguém sabe, querida / O que é ter carinho / Que eu saio na noite / Mas fico
sozinho / Mais perto da lua / Mais perto da dor / Perto da dor de saber / Que o meu
céu não existe / Que tudo que nasce / Tem sempre um triste fim / Até meu carinho, até
nosso amor”
5) Brigas, nunca mais – é uma conversa direcionada ao ouvinte e não ao objeto do amor
cantado. Relata o início de um novo relacionamento amoroso. Aquele que canta esse
amor afirma que o sentimento lhe traz paz, consolo e ajuda. O tema dessa canção é o
amor romântico e o objeto do amor é a mulher. O subtema é o novo amor, abordado
através de sentimentos de paz, enamoramento, alegria.
“Chegou, sorriu, venceu, depois chorou / Então fui eu quem consolou sua tristeza / Na
certeza de que o amor tem dessas fases más / E é bom para fazer as pazes, mas /
Depois fui eu quem dela precisou / E ela então me socorreu / E o nosso amor mostrou
que veio pra ficar”
125
7) Cala, meu amor – é uma conversa com o próprio sentimento do amor. Percebe-se que
o amor andou sumido e agora volta cansado, com o olhar triste. Pergunta a ele o que
houve, mas desiste de saber e prefere que o amor se cale e somente receba seu
abraço. O tema dessa canção é o amor romântico. O subtema é o retorno do amor ou
da pessoa amada, indicando preocupação daquele que ama com o objeto amado, ao
mesmo tempo carinho e demonstração de acolhimento por aquele que ficou.
“Entra, meu amor / Que bom você voltar / De onde você vem / Cansado assim? / Vejo
tanta dor / No teu triste olhar / Este olhar que, outrora / Se acendia só pra mim”
8) Caminho de pedra – conta a história de uma pessoa que, por causa da solidão, sente
que há um “caminho de pedra” no peito, ou seja, sente que não consegue mais amar.
Não fica claro com quem o narrador está falando, provavelmente é uma conversa
consigo mesmo, apenas fazendo constatações. O tema é a solidão e o subtema é o
caminho que ficou pra trás e que hoje se transformou em solidão. O sentimento é de
nostalgia.
“Velho caminho por onde passou / O meu carinho chamando por mim ô ô / Caminho
de pedra perdido na serra / Caminho de pedra onde não vai ninguém / Só sei que hoje
tenho em mim / Um caminho de pedra no peito também”
9) Canção do amor demais – é uma conversa com a pessoa amada, como se fosse um
lamento. A canção conta a história de uma pessoa extremamente envolvida com o
sentimento do amor. Acredita que esse sentimento será seu fim porque é sentido de
forma muito intensa. O tema é o amor romântico. O subtema é a dor causada pelo
amor e pela saudade da pessoa amada. O amor é tratado pela via do sofrimento e da
dor, emoções próprias dele. Por outro lado é ele também que traz vida.
“Quero chorar porque te amei demais / Quero morrer porque me deste a vida/ Oh, meu
amor, será que nunca hei de ter paz? / (...) E já nem sei o que vai ser de mim / Tudo
me diz que amar será meu fim”
10) Canção em modo menor – é uma canção de lamento, na qual o narrador fala com a
pessoa amada da sua tristeza pelo fim do amor. Tudo ficou sem graça depois dessa
perda. O tema da canção é o amor romântico. O subtema é a perda do amor, sentido
com tristeza e desolação.
“Porque cada manhã me traz / O mesmo sol sem resplender / E o dia é só um dia a
mais / E a noite é sempre a mesma dor”
11) Canta, canta mais – a letra indica que música faz esquecer tristeza. Cantando é
possivel sentir beleza e seguir em paz. O tema é música e o subtema é o efeito
positivo da música na vida de quem canta.
“Canta, canta / Sente a beleza / Canta, canta / Esquece a tristeza”
12) Chega de saudade – conta a história de um homem que está com saudade da sua
amada e quer tê-la por perto. Sem a mulher amada sente tristeza e melancolia.
Quando ela volta, porém, tudo se transforma em alegria, beijos e abraços. O tema é o
amor romântico e o objeto desse amor é a mulher. O subtema é a saudade devido a
ausência da pessoa amada e a alegria por seu retorno.
126
“Chega de saudade / A realidade é que sem ela / Não há paz, não há beleza / É só
tristeza e a melancolia / Que não sai de mim / Não sai de mim / Não sai / Mas se ela
voltar / Se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca”
13) Chora coração – essa canção narra a tristeza daquele que está longe da pessoa
amada. Há tristeza e vazio. Até o dia parece mais triste. A canção trata do amor
romântico, abordando a ausência da pessoa e o sentimento de tristeza que essa
ausência causa.
“Aqui dentro está tão frio / E lá fora está também / Não há tempo mais vazio / Do que
longe do meu bem”
14) Derradeira primavera – o narrador conversa com a pessoa amada. Fala de um tempo
que está se acabando, como se tivessem pouco tempo ainda juntos. Constata que
tiveram pouco tempo juntos até então, mas pede que ela não se entristeça por isso e
que permaneçam juntos no tempo que ainda resta. A canção fala do fim do amor
romântico. Na letra, percebe-se um sentimento de tristeza pelo tempo não vivido junto
da pessoa amada, misturada a um sentimento de fatalidade e concordância com o fim
da relação.
“Fecha os olhos devagar / Vem e chora comigo / O tempo que o amor não nos deu /
Toda a infinita espera / O que não foi só teu e meu / Nessa derradeira primavera”
15) Ela é carioca – a canção descreve a beleza e o jeito da mulher carioca, enaltecendo-
a. Declara amor à mulher carioca, que reflete a beleza da cidade. O tema dessa
canção é a mulher e o subtema é a mulher carioca, abordada por suas características
positivas.
“Ela é carioca, ela é carioca / Basta o jeitinho dela andar / Nem ninguém tem carinho
assim para dar / Eu vejo na cor dos seus olhos / As noites do Rio ao luar”
16) É preciso dizer adeus – narra a constatação do fim de um amor que foi belo, falando
diretamente com a mulher amada. O tema abordado é o amor romântico e o objeto
desse amor é a mulher. O subtema é o fim do amor, abordado como dor e beleza ao
mesmo tempo. O amor cantado nessa canção é um sentimento otimista, positivo, pela
vivência do amor, mesmo se tratando do fim do amor e da tristeza que isso traz.
“É inútil fingir / Não te quero enganar / É preciso dizer adeus / É melhor esquecer / Sei
que devo partir / Só me resta dizer adeus / Ah, eu te peço perdão / Mas te quero
lembrar / Como foi lindo / O que morreu”
17) Estrada branca – é uma canção de saudade cantada por alguém que sente muita falta
da pessoa amada. Diz que caminha sozinho, mas sente a presença do seu amor,
como se a pessoa amada estivesse caminhando ao lado. O tema é o amor romântico,
mas não especifica o objeto desse amor. O subtema é a saudade e a separação
daquele que se ama. Há um tom triste na letra.
“Estrada branca / Lua branca / Noite alta / Tua falta caminhando / Caminhando /
Caminhando / Ao lado meu / Uma saudade / Uma vontade tão doída / De uma vida /
Vida que morreu”
18) Eu e o meu amor – conta a história de um homem que fala consigo mesmo ou com o
ouvinte sobre o fim do seu amor. Narra que a pessoa amada foi embora, mesmo tendo
jurado que não faria isso, e deixou muita tristeza e mágoa em seu coração. O tema é o
amor romântico e o subtema é o fim do amor, abordado pela via do abandono. A letra
traz um sentimento de tristeza.
“Eu e o meu amor / E o meu amor... / Que foi-se embora / Me deixando tanta dor /
Tanta tristeza / No meu pobre coração / Que até jurou / Não me deixar / E foi-se
embora / Para nunca mais voltar”
127
19) Eu não existo sem você – a canção narra uma conversa com a pessoa amada,
constatando a necessidade de um pelo outro para viver. É uma constatação da dor
que o amor necessariamente traz e, ao mesmo tempo, da necessidade de amar e ser
amado pelo objeto do seu amor. Há uma comparação do amor com outros fatos que
indicam necessidade de realização. O tema da letra é o amor romântico, mas o objeto
não é especificado. O subtema é a necessidade da pessoa amada para poder viver. O
sentimento que se percebe na letra é um misto de alegria, prazer e sofrimento pela
dependência do amor.
“Eu sei e você sabe que a distância não existe / Que todo grande amor / Só é bem
grande se for triste / Por isso, meu amor / Não tenha medo de sofrer / Que todos os
caminhos me encaminham pra você / Assim como o oceano / Só é belo com luar / (...)
Assim como viver / Sem ter amor não é viver / Não há você sem mim / E eu não existo
sem você”.
20) Eu sei que vou te amar – é uma declaração para a pessoa amada, onde constata o
amor que sente e afirma que esse amor será sentido em todos os momentos da sua
vida, trazendo dor na sua ausência e alegria quando estiverem juntos. O tema da
canção é o amor romântico. O subtema é a necessidade da pessoa amada. A letra e a
melodia trazem a sensação de exaltação e angústia, tristeza e alegria ao mesmo
tempo.
“Eu sei que vou te amar / Por toda a minha vida, eu vou te amar / Em cada despedida,
eu vou te amar / Desesperadamente / Eu sei que vou te amar”
21) A felicidade – narra a reflexão sobre felicidade e tristeza. O narrador fala com o
ouvinte quão efêmera é a felicidade, pois por qualquer motivo se desfaz. Diferente é a
tristeza, sentimento muito mais duradouro e presente. O tema é a felicidade e o
subtema é a espera por ela.
“A felicidade é como a pluma / Que o vento vai levando pelo ar / Voa tão leve / Mas
tem a vida breve / Precisa que haja vento sem parar”
22) Frevo de Orfeu – o narrador convida para a música e a dança, para acompanhar a
banda que passa anunciando o carnaval. O tema é a música e o subtema é o
carnaval, abordado como alegria e beleza.
“Vem, vamos dançar ao sol / Vem, que a banda vai passar / Vem, ouvir o toque dos
clarins / Anunciando o carnaval / E vão brilhando os seus metais / Por entre cores mil /
Verde céu, céu de anil”
23) Garota de Ipanema – conta a experiência de um homem que fica encantado por uma
mulher que vê passando numa rua de Ipanema, no Rio de Janeiro. Enaltece sua
beleza física e seu charme, destacando que tudo ao redor fica mais bonito por sua
causa. O tema dessa canção é a mulher, em especial a mulher carioca, caracterizada
pelos atributos físicos e pelo modo atraente de se comportar.
“Olha que coisa mais linda / Mais cheia de graça / É ela menina / Que vem e que
passa / Num doce balanço, / A caminho do mar / Moça do corpo dourado / Do sol de
Ipanema / O seu balançado é mais que um poema / É a coisa mais linda que eu ja vi
passar”
24) O grande amor – a letra fala que há sempre um homem para uma mulher. Há sempre
um novo amor para suprir aquele que se foi. O tema é o amor romântico, sem objeto
especificado. O subtema é a necessidade do amor, que sempre está presente. Os
sentimentos são de esperança e alegria.
“Haja o que houver / Há sempre um homem para uma mulher / (...) / Seja como for /
Há de vencer o grande amor / Que há de ser no coração / Como um perdão pra quem
chorou”
128
25) Insensatez – conta a conversa de uma pessoa com seu coração. Pergunta a ele por
que feriu o seu amor e o fez chorar de dor. A letra sugere uma traição. Pede que o
coração use sinceridade e peça perdão. O tema da canção é o amor romântico e o
subtema é a traição, o amor ferido e magoado. Há tristeza e lamento.
“Ah, insensatez que você fez / Coração mais sem cuidado / Fez chorar de dor o seu
amor / Um amor tão delicado / (...) Ah, por que você foi fraco assim / Assim tão
desalmado / (...) Vai, meu coração, pede perdão / Perdão apaixonado”
26) Janelas abertas – narra a conversa com a pessoa amada. Começa afirmando que
poderia se esconder e viver sereno como uma casa vazia, sem luz e sem calor. Mas
quer que o amor dos dois seja iluminado, por isso deixará as janelas abertas,
indicando que se abre aos riscos desse amor. Sugere que viver sereno é viver sem
riscos, num estado de equilíbrio que pode acabar matando o amor, por isso a
necessidade de abrir as janelas. O tema é o amor romântico e o subtema é a
necessidade do amor. O amor é abordado como um sentimento que precisa de
liberdade, luz, precisa de renovação.
“Sim / Eu poderia fugir, meu amor / Eu poderia partir / Sem dizer pra onde vou / Nem
se devo voltar / Sim / Eu poderia morrer de dor / Eu poderia morrer / E me serenizar /
(...) Mas / Quero as janelas abrir / Para que o sol possa vir iluminar nosso amor”
27) Lamento no morro – é uma canção de lamento na qual o homem fala para a mulher
amada que ela é seu destino. Na sua ausência, não há como esquecê-la. A música
fala do amor romântico e o objeto desse amor é a mulher. O subtema é a saudade,
abordada como dor, boas lembranças, alegria e sofrimento, ao mesmo tempo.
“Não posso esquecer / O teu olhar / Longe dos olhos meus / Ai, o meu viver / É te
esperar / Pra te dizer adeus / Mulher amada / Destino meu / É madrugada / Sereno
dos meus olhos ja correu”
28) Luciana – narra os conselhos de uma pessoa a uma mulher chamada Luciana. São
conselhos e explicações sobre o amor. O tema da canção é amor romântico e o
subtema é a explicação desse sentimento, abordado como contradição: traz riso e paz
e, ao mesmo tempo, dor e sofrimento.
“Olha que o amor, Luciana / É como a flor, Luciana / Olhos que vivem sorrindo / Riso
tão lindo / Canção de paz / Olha que o amor, Luciana / É como a flor que não dura
demais / Embriagador / Mas também traz muita dor, Luciana”
29) Maria da Graça – a canção conta a história de uma mulher, chamada Maria da Graça.
O narrador fala com ela sobre suas características positivas. Afirma que tem muita
graça e alegria e que chama atenção onde passa. Não fica claro se a mulher cantada
nessa canção pode ser vista como possível objeto de um amor romântico. O tema é a
mulher. Como subtema tem-se as características positivas de uma mulher específica,
Maria da Graça, vista como charmosa e graciosa.
“Não é inultimente / Que existe tanta gente / Que é louca por você, Maria / Você tem
tanta graça / Que depois que você passa / O povo diz assim: Maria!”
30) Modinha – narra o lamento de uma pessoa que sofre por amor, que sente o coração
dilacerado e se percebe em meio à desilusão e melancolia. Pede à uma “triste canção”
que saia do seu peito e leve a emoção que carrega dentro de si. O tema é o amor
romântico. O subtema é a ilusão que esse sentimento traz. O amor é abordado como
sofrimento, melancolia.
“Não! / Não pode mais meu coração / Viver assim dilacerado / Escravizado a uma
ilusão / Que é só desilusão / (...) Vai, triste canção, sai do meu peito / E semeia a
emoção / Que chora dentro do meu coração”
31) O morro não tem vez – o narrador chama a atenção para a importância do morro e a
vontade dos seus moradores de se expressar. Provavelmente está falando da favela
129
carioca. Alerta que o morro quer cantar e que se isso acontecer toda a cidade cantará
junto, porém não é dada nem vez nem voz ao morro, que é cantado como local de
expressão de arte e música. O tema da letra é o morro da favela e o subtema é sua
expressão musical, tendo como característica o samba, a beleza e a alegria.
“O morro não tem vez / E o que ele fez já foi demais / Mas olhem bem vocês / Quando
derem vez ao morro / Toda a cidade vai cantar / Morro pede passagem / Morro quer se
mostrar”
32) Mulher, sempre mulher – num tom cômico, conta a história de um casal cujo amor
está acabando, mas a mulher insiste na relação e “coloca banca”. A história é contada
pelo homem, que chama sua companheira de “martírio meu”. O tema da canção é o
amor romântico, cujo objeto é a mulher. O subtema é o fim do amor, que traz
incômodo ao homem pela insistência da mulher. Traz uma abordagem cômica do
tema.
“Mulher, ai, ai, mulher / Sempre mulher / (...) Você bota muita banca / Infelizmente eu
não sou jornal / Mulher, martírio meu / O nosso amor / Deu no que deu / E sendo
assim, não insista / Desista, vá fazendo a pista / Chore um bocadinho / E se esqueça
de mim”
33) Na hora do adeus – a letra fala do amor de forma conflituosa: “O amor só traz tristeza
/ Saudade, desilusão / Porém maior beleza / Nunca existiu pra iluminar / Meu pobre
coração”. No fim, pede perdão e deseja que o amor volte, mesmo sabendo que amor
traz dor e sofrimento. O tema é o amor romântico e o subtema é o retorno da pessoa
amada, que acontece por meio do perdão.
“Ha quem diga que o amor que se tem / É uma graca de Deus / Outros dizem que a
graça se acaba / Na hora do adeus / Mas, seja como for / Perdoa, amor / E volta aos
braços meus”
34) Um nome de mulher – narra a declaração de um homem pela mulher amada. Conta
que a mulher leva amor ao homem e, por causa desse amor, ele faz o que não quer.
Percebe-se um sentimento de impôtencia diante da mulher, que mantém o controle da
situação depois que um homem se apaixona por ela. Mas depois que o homem
conhece uma mulher e sente esse amor quer ainda mais, mesmo sabendo que
perderá a paz. O tema da canção é a mulher e o subtema é o amor romântico por
essa mulher, visto como prazer e dependência.
“Um nome de mulher / Um nome só e nada mais / E um homem que se preza / Em
prantos se desfaz / E faz o que não quer / E perde a paz”
35) O nosso amor – o narrador conversa com a pessoa amada sobre o amor que sente.
Comenta que não quer mais sofrer e o amor que sentem possibilitará isso: um vivendo
para o outro e fazendo o outro feliz. Essa é a característica do amor dos dois. O tema
dessa canção é o amor romântico e o subtema é a vida a dois, abordada como
felicidade, paz e entrega.
“O nosso amor / Vai ser assim / Eu pra você / Você pra mim / Tristeza / Eu não quero
nunca mais / Vou fazer você feliz / Vou querer viver em paz”
36) O que tinha de ser – é uma declaração da mulher para o homem que ama. É a única
canção da parceria cuja letra é escrita a partir do ponto de vista da mulher. Conta que
ele que é exatamente o que deve ser para ela. Ele lhe desperta o sentimento de
esperança. Chegou em sua vida de surpresa e a tornou melhor. O tema da cancão é o
amor romântico e o objeto é o homem. Como subtema a letra traz a exaltação das
qualidades do parceiro, que lhe proporciona esperança e alegria.
“Porque foste na vida / A última esperança / Encontrar-te me fez criança / Porque já
eras meu / Sem eu saber sequer / Porque és o meu homem / E eu tua mulher”
130
37) Pelos caminhos da vida – narra uma conversa com a pessoa amada, num tom de
despedida ou separação. Comenta que em todos os caminhos que a pessoa amada
seguir, sempre encontrará seu rosto triste, seu constante adeus. O tema da canção é
o amor romântico e o subtema é o término da relação, abordada com serenidade,
apesar do tom triste e de despedida.
“Vai, segue o caminho / Encontrarás meu rosto triste / Em todas as estradas / Os
velhos caminhos / Desertos e sem fim / Que seguem sozinhos / Sem vida e sem amor
/ E que te querem levar / De mim / (...) Ouvirás na voz do vento / Meu constante adeus
/ E meu coração batendo / No mesmo passo dos teus”
38) Por toda a minha vida (Exaltação ao amor) – narra o juramento que um homem faz à
sua amada. Ele promete ser somente dela por toda a vida e amá-la com o maior amor
que existir. A mulher é proclamada como seu amor. O tema da canção é o amor
romântico e o objeto é a mulher. O subtema é juramento de fidelidade, a partir de um
sentimento sublime, de exaltação.
“Eu prometo, por toda a minha vida / Ser somente teu e amar-te como nunca /
Ninguém jamais amou, ninguém... / Minha bem-amada / Estrela pura, aparecida / Eu
te amo e te proclamo / O meu amor, o meu amor”
39) Se todos iguais a você – o narrador canta para a pessoa amada, imaginando como
tudo seria mais belo se todos fossem iguais à ela. O tema da canção é o amor
romântico. A letra trata do amor através da exaltação das qualidades do parceiro, que
proporciona encantamento e admiração.
“Se todos fossem iguais a você / Que maravilha viver / Uma canção pelo ar / Uma
mulher a cantar / Uma cidade a cantar / A sorrir, a cantar, a pedir / A beleza de amar /
(...) Amar sem mentir, nem sofrer / Existiria a verdade / Verdade que ninguém vê / Se
todos fossem no mundo iguais a você”
40) Sem você – narra a conversa com a pessoa amada. O narrador a compara ao próprio
amor. Diz a ela que sem ela só há sofrimento, tristeza e solidão. Apenas a presença
da pessoa amada poderá fazê-lo viver em paz e sem sofrimento. A letra fala da vida
triste sem a pessoa que se ama. O tema da letra é o amor romântico. O subtema é a
necessidade do amor e do objeto desse amor.
“Sem você / Sem amor / É tudo sofrimento / Pois você / É o amor / Que eu sempre
procurei em vão / (...) Nunca te ausentes de mim / Para que eu viva em paz / Para que
eu não sofra mais”.
41) Só danço samba – a letra é uma repetição do nome da música, em ritmo de samba.
Fala também de dança. O tema da letra é a música e o subtema é o samba, abordado
como ritmo preferido para a dança.
“Só danço samba / Só danço samba / Vai, vai, vai, vai, vai / Só danço samba / Só
danço samba / Vai / Já dancei twist até demais / Mas não sei / Me cansei”
42) Soneto de separação – é um soneto de Vinicius musicado por Tom Jobim. Segundo
Castello (2005), Vinicius se incomodava com a musicalização de poemas e se
preocupava com a possível distorção da poesia. Em relação a esse soneto, o próprio
Vinicius pede que Tom Jobim faça a música para ele, antes que algum “aventureiro”
se adiante e tente musicá-lo. Vinicius se encanta com o resultado, pois, segundo ele,
“é uma música que não atrapalha o soneto. Que o deixa quieto” (Castello, 2005, 21). O
soneto narra diversas transformações que aconteceram de repente, indicando uma
mudança brusca, algo deixado para trás, uma separação. O tema da canção é
separação, mas sem um objeto específico. O subtema é a mudança, que parece ser
vista com espanto por ser rápida e brusca.
“De repente, não mais que de repente / Fez-se de triste o que se fez amante / E de
sozinho o que se fez contente / Fez-se de amigo próximo, distante / Fez-se da vida
uma aventura errante / De repente, não mais que de repente”
131
43) Valsa do amor de nós dois – narra o convite feito à pessoa amada para que juntos,
vejam o mar de Capacabana, passeiem à beira mar e se envolvam com o clima
romântico da cidade, onde os casais namoram sem perceber seu redor. O tema é o
amor romântico e o subtema é o romance, abordado como sonho, dança,
envolvimento, enamoramento.
“Vem ver o mar / Vem que Copacabana é linda / Vamos ser só nós dois / E o que vai
ser depois / É melhor, é melhor nem pensar / (...) / Ah, namorar... / Os casais nem
parecem saber / Nos seus beijos de amor / E o que resta depois / É a valsa do amor
de nós dois”
44) Vida bela (Praia branca) – narra a divagação de um homem por meio da sequência de
palavras e frases curtas sobre a praia, o mar e a lua. Também compõe o cenário a
figura da mulher, acariciada pelo vento. O tema é o amor romântico e o objeto desse
amor é a mulher. O subtema é o local onde esse amor se configura, demonstrando
uma sensação de calma e lentidão, próprias desse ambiente.
“Praia branca, tristeza / Mar sem fim/ Lua nova / Mulher / Pobre de mim / (...) A maré,
peixe do mar / Morte longe / Tem tempo pra pensar”
132
ANEXO B
O CONTEÚDO DAS COMPOSIÇÕES DE VINICIUS DE MORAES
E CARLOS LYRA
2) Broto maroto – faz parte da comédia musicada Pobre Menina Rica. A letra narra o
pensamento de um rapaz a respeito de uma moça que tem um bonito balanço e por
quem está se interessando. Ele lhe faz elogios e acredita que ela pode se interessar
por ele também. A compara a um broto de flor que quer desabrochar. O tema é a
mulher e o subtema é o novo amor, abordado como descoberta, curiosidade.
“Olha que graça de moça / Vê que balanço ela tem / E aqui, que ninguém nos ouça /
Se eu insistir ela vem / Se não me engano esse broto / Quer se mudar numa flor”
3) Broto triste – também faz parte da comédia musicada Pobre Menina Rica. Fala de uma
moça bonita, mas cheia de manias, arrogante e que só pensa em namorar. Aconselha
a menina a ter cuidado pois “não está nada fácil casar”. O tema é a mulher e o
subtema é o perfil da mulher, abordada nessa letra como arrogante por causa do
dinheiro.
“Menininha bonita, cheia-de-mania / Que faz tanta fita e se acha a maior / E diz que
não topa quem lê poesia / Que tudo na Europa é muito / Mas muito melhor”
4) Canção do amor que chegou – faz parte da comédia musicada Pobre Menina Rica.
Narra o encontro com a pessoa que lhe despertou o amor. O tema é o amor romântico
pela mulher e o subtema é o início do amor, abordado como primavera em flor, luz e
alegria de viver.
“Quem jamais poderia supor / Que de um mundo que era tão triste e sem cor / Brotaria
essa flor inocente / Chegaria esse amor de repente / E o que era somente um vazio
sem fim / Se encheria de cores assim”
5) Cartão de visita – mais uma canção da peça Pobre Menina Rica. O narrador lista as
exigências para quem deseja ser seu amigo, enfatizando que a pessoa deve ser
simples, tranquila, dar valor às pequenas coisas, gostar de samba e amar muito. O
tema é a amizade e o subtema é o perfil do amigo.
“Quem quiser morar em mim / Tem que morar no que o meu samba diz / Tem que ter
nada de seu / Mas tem que ser o rei do seu país”
6) Coisa mais linda – narra a admiração de um homem por sua amada. O tema é o amor
romântico. O objeto desse amor e o subtema da letra é a mulher, abordada por sua
beleza.
“Coisa mais bonita é você, assim / Justinho você, eu juro / Eu não sei por que você /
Você é mais bonita que a flor / Quem dera a primavera da flor / Tivesse todo esse
aroma de beleza”
7) Gente do morro – a letra fala dos moradores do morro que decidem descer para a
cidade. Afirma que só faz isso os ingratos e aqueles que perderam a paixão pelo local
onde nasceram, porém ao perceberam a ilusão de viver na cidade voltarão
133
8) Hino da UNE – hino da União Nacional dos Estudantes. Fala dos jovens estudantes e
de seu trabalho pra melhorar o Brasil. O tema é a UNE e o subtema é o trabalho e a
atuação dos estudantes do país.
“União Nacional dos Estudantes / Mocidade brasileira / Nosso hino é nossa bandeira /
De pé a jovem guarda / A classe estudantil / Sempre na vanguarda / Trabalha pelo
Brasil”
10) Marcha da quarta-feira de cinzas – é uma canção triste, na qual o narrador fala do fim
do carnaval e da saudade dos dias de folia, de brincadeira e samba. O tema é o
carnaval e o subtema é nostalgia, saudade.
“Acabou nosso carnaval / Ninguém ouve cantar canções / Ninguém passa mas
brincando feliz / E nos corações / Saudades e cinzas foi o que restou”
11) Maria Moita – música da comédia musicada Pobre menina rica. A letra é cantada por
um mendigo que narra sua história, sua origem, a vida em família. Destaca que a mãe
servia ao pai, tanto nos trabalhos domésticos quanto nos relacionamentos sexuais. A
letra aponta a relação entre o pobre o rico, o homem e a mulher, dando destaque para
a mulher resignada e trabalhadora. O tema da canção é o trabalho e o subtema é a
relação familiar.
“Nasci lá na Bahia / De mucama com feitor / Meu pai dormia na cama / Minha mãe no
pisador / (...) Deus fez primeiro o homem / A mulher nasceu depois / Por isso é que a
mulher / Trabalha sempre pelos dois”
12) Minha desventura – canção da peça Pobre menina rica. É a fala de um homem que
sofre muito por ter magoado a mulher amada e por ela ter ido embora e, assim, ter
perdido o seu amor. Não diz o motivo de sua partida e o que fez para magoá-la. O
tema é o amor romântico e o subtema é o término do amor. Os sentimentos são de
sofrimento, saudade e dor.
“Ah, doloroso instante de adeus e de dor / Oh, espera sem piedade / Amor dilacerante
/ Mata-me também de amor / Ah, se ela não voltar / Eu sei que vou morrer de amor”
13) Minha namorada – a letra narra as condições que o homem coloca para uma mulher
que quer ser sua namorada e amada. O tema é o amor romântico e o objeto do amor é
a mulher. O subtema é a pessoa amada, vista como amiga, companheira, fiel e
dedicada.
“Se você quer ser minha namorada / (...) Você tem que me fazer um juramento / De ter
só um pensamento / Ser só minha até morrer / E também de não perder esse jeitinho /
De falar devagarinho / Essas histórias de você”
14) Nada como ter um amor – o narrador canta a alegria e a beleza de ter um amor e de
ter a pessoa amada por perto. O tema é o amor romântico e o subtema a necessidade
de amar, abordada
134
“Nada como ter carinho / Nada como estar pertinho / Ao se enternecer / Bem baixinho,
assim, dizer / Só hei de amar você”
15) Parece que ela vai de samba – a letra fala de uma mulher com um gingado bonito, um
balanço que conquista os homens. O tema é a mulher e o subtema é o gingado da
mulher, relacionada ao samba.
“Parece que ela vai de samba / Que coisa mais espetacular! / Ela remexe para tanto
lado / Que a vista do coitado chega a confundir”
16) Pau-de-arara – a letra faz parte da trilha sonora da peça Pobre menina rica. Narra a
história de um cearense pobre tentando a vida no Rio de Janeiro, contada por ele
próprio. No Ceará a seca era muito grande e ele passava fome, então decide ir para a
cidade grande. Mas lá a vida é ainda pior e ele é considerado um “zé-com-fome”,
chamado pelos outros de pau-de-arara. Consegue juntar dinheiro comendo caco de
vidro e tenta voltar para o Ceará. O tema é a desigualdade social, com o foco na
relação sertão-cidade grande.
“Eu um dia cansado que tava da fome que eu tinha / Eu não tinha nada, que fome que
eu tiha / Que seca danada no meu Ceará / Eu peguei e juntei um restinho de coisa que
eu tinha / (...) E num pau-de-arara toquei para cá”
17) Pobre menina rica – parte integrante da trilha sonora da peça homônima. Conta a
história de uma jovem rica, mas que não tem liberdade e por isso é infeliz. O tema é a
felicidade, entendida como ação, ou seja, liberdade para tentar ser feliz, sentimento
que não se compra, mas se conquista. A letra também sinaliza a desigualdade social.
O título da letra aponta para uma inversão, para o inesperado: a menina rica é
chamada de pobre, não pelo que possui, mas exatamente pelo que não possui e que
seu dinheiro não pode comprar.
“Pobre menina rica, tão rica / Que triste você fica se vê / Um passarinho em liberdade /
Indo e vindo à vontade na tarde / Você tem mais do que eu / Passarinho, do que a
menina / Que é tão rica e nada tem de seu”
18) Pode ir – conta a história de uma pessoa que alerta seu par romântico sobre os
perigos de se brincar com o amor. Afirma que se a pessoa amada que ir embora deve
se lembrar que alguém ficará chorando e que ela própria chorará depois de partir. O
tema é o amor romântico e o subtema é a possibilidade de perda da pessoa amada,
abordada com pesar e tristeza.
“Pode ir / Pode fazer o que melhor entender / Porque, amor, cada um sabe de si / Mas
se você quiser brincar com o nosso amor / Não vem, que alguém provavelmente / Vai
amargurar a grande dor”
19) Primavera – faz parte da peça Pobre Menina Rica. Conta a história de um mendigo
que se apaixona por uma menina rica. Ele fala como gosta dela e de tanto gostar acha
que ela também o ama. Ao mesmo tempo, a menina rica também canta afirmando as
mesmas coisas. O tema é o amor romântico e o subtema é a necessidade da pessoa
amada. A letra aponta para a entrega daqueles que amam, a preocupação com a
pessoa amada.
“O meu amor sozinho / É assim como um jardim sem flor / Só queria ir dizer a ela /
Como é triste se sentir saudade / (...) É que o meu amor é tanto / Um encanto que não
tem mais fim / E no entanto ele nem sabe que isso existe”
20) A primeira namorada – o narrador conta a história do seu encontro com a primeira
namorada, que acontceceu em um jardim, sob o luar. Há muito carinho e amor na
forma como narra. O tema é o amor romântico e o subtema é a mulher vista como
namorada, amante.
“Havia um banco e um jardim / Que era puro jasmim / E um luar transparente / Eu te
beijava e sofria / E a gente morria / Uma morte sem fim”
135
21) Sabe você? – faz parte da comédia musicada Pobre menina rica. Na peça, o
mendigo-poeta provoca um homem rico (o pai da menina rica?) perguntando-lhe se
ele conhece as coisas mais simples e se viveu as experiências do amor e da poesia,
que o mendigo considera as realmente importantes. O tema é a felicidade. A letra
aborda a conquista da felicidade através das pequenas experiências do dia-a-dia. Os
sentimentos envolvidos são a coragem, o amor, a entrega.
“Você é muito mais que eu sou / Está bem mais rico do que eu estou / Mas o que eu
sei você não sabe / (...) Sabe o que é o amor? / Não sabe, eu sei / Sabe o que é um
trovador? Não sabe, eu sei”
22) Samba do carioca – também faz parte da comédia Pobre menina rica. O narrador fala
de uma vida boa de ser vivida, vida feliz, somente com as preocupações necessárias:
ter uma mulher e um amor, cuidar e receber carinho, trabalhar, aproveitar céu e sol,
terra e mar. O tema é a felicidade e o subtema aponta para a vivência da felicidade no
dia-a-dia, sem luxo ou maiores preocupações.
“Vamos, minha gente / É hora de trabalhar / O dia já vem vindo aí / O sol já vai raiar/ E
a vida está contente / De poder continuar / (...) Ê, vida tão boa / Só coisa boa pra
pensar / (...) E ainda ter mulher / De ter samba pra cantar”
23) Saudade que dá – narra a fala de um sertanejo com saudade de sua terra, com
vontade de voltar para o sertão nordestino. O tema é saudade e o subtema é o sertão
nordestino, visto como belo por seu luar, acolhedor por ser a origem.
“Terra seca mais danada / Não dá nada, dá saudade / Saudade, saudade que dá /
Não dá nada, dá vontade / Vontade de voltar pra lá”
24) Também quem mandou – um homem arrependido diz que não pode viver sem a
mulher amada, que está ausente, mas se repreende constantemente com a frase “mas
também quem mandou”. Não indica o fato que trouxe como consequencia a perda da
mulher amada. O tema é o amor romântico e o subtema é a perda do amor, abordado
com tristeza, saudade e culpa.
“Já não sei mais viver sem ela / Mas também quem mandou / Quando estou longe
dela / É uma dor, é uma dor / Que saudade... / (...) Eu queria brincar de amor com ela /
Mas também quem mandou / Também quem mandou...”
25) Valsa dueto – essa composição faz parte da comédia musicada Pobre menina rica.
Ela narra o convite de uma pessoa ao seu amor para aproveitarem a noite, vendo as
estrelas e as sensações de dor, solidão e paz que a noite carrega. O tema é o amor
romântico e o subtema é o namoro, abordado como beleza, descoberta,
enamoramento.
“Vem, a noite é linda / E eu quero ver no teu olhar / Nascer a estrela da manhã / No
céu do amor / Vem, vamos olhar / O grande céu do adeus / Nesse luar cheio de dor /
Cheio de paz”
26) Você e eu – o narrador fala com a pessoa amada que tudo é melhor com ela e ele
deixa de fazer coisas por isso e rejeita convites. Por isso, algumas pessoas podem até
achar que ele está desistindo de viver. O tema é o amor romântico e o subtema é a
necessidade da pessoa amada. O sentimento é de satisfação.
“Podem espalhar / Que eu estou cansado de viver / E que é uma pena / Para
quem me conheceu / Eu sou mais você e eu”
136
ANEXO C
O CONTEÚDO DAS COMPOSIÇÕES DE VINICIUS DE MORAES
E BADEN POWEL
2) Amei tanto – conta a história de uma pessoa que amou tanto que agora não sabe mais
chorar. O amor foi buscado e desejado, mas ao encontrá-lo encontra também muita
dor e solidão. É preciso coragem para amar e experimentar a felicidade e a dor
inerentes a esse sentimento. No fim o que resta é a solidão. O tema é o amor
romântico e o subtema é a solidão.
“Nunca fui covarde / Mas agora é tarde / Amei tanto / Que agora nem sei mais chorar /
Vivi te buscando / Vivi te encontrando / Vivi te perdendo / Ah, coração, infeliz até
quando? / Para ser feliz / Tu vais morrer de dor”
3) Um amor em cada coração – é a fala de uma pessoa envolvida com o amor falando
desse sentimento, mas sem se dirigir a uma pessoa específica. Apenas fala de si
mesmo e do amor, enfatizando a contradição que ele carrega: a vida e a morte. Afirma
que o amor é uma necessidade na vida das pessoas e é preciso que cada um
carregue um amor em seu coração. O tema é o amor e o subtema é a necessidade de
amar.
“Deixa aí, deixa andar, deixa vir, deixa estar / Pode ser, e se for, é o amor / Deixa aí,
deixa andar / O que é preciso é viver / Morrendo de amor / Porque o amor é o nosso
rei”
4) Apelo – narra um pedido de perdão à mulher amada. Por ter se magoado, ela foi
embora sem nem se despedir. Pede que ela esqueça o mal ele lhe fez e que volte
para chorar em seus braços. Não fala que mal foi esse. O tema da letra é o amor
romântico e o subtema é o perdão e o arrependimento.
“Ah, minha amada, se soubesses / Da tristeza que há nas preces / Que a chorar te
faço eu / Se tu soubesses um momento / Todo o arrependimento / Como tudo
entristeceu / (...) Ah, meu amor, tu voltarias / E de novo cairias / A chorar nos braços
meus”
5) O astronauta – a letra é uma declaração para a mulher amada, na qual afirma que
pensar nela o deixa fora de si, como se entrasse em órbita. Diz-lhe que é linda por ser
mulher, sem maiores explicações, simplesmente por ser. O tema é o amor romântico e
o objeto desse amor é a mulher. O subtema é a mulher, abordada pela beleza,
romance e felicidade.
“Quando me pergunto / Se você existe mesmo, amor / Entro logo em órbita / No
espaço de mim mesmo, amor / (...) Mas você, sei lá / Você é uma mulher / Sim, você é
linda / Porque é”
7) Bocochê – é uma conversa de um homem com uma “menina bonita” que depois
chama de amor. Quer saber onde ela está e diz que vai procurá-la no fundo do mar
para se casar. Pede que ela não vá para lá e a chama de Iemanjá. Há a repetição de
um refrão que lembra o balanço e o barulho do mar. Frases e algumas palavras se
repetem. O tema é o amor romântico e o objeto desse amor é a mulher. O subtema é
a procura da mulher amada, que parece sempre lhe escapar. Parece que há um jogo
de esconde, procura e acha, num ciclo contínuo.
“Nhem, nhem, nhem / É onda que vai / Nhem, nhem, nhem / É onda que vem / Nhem,
nhem, nhem / É a vida que vai / Nhem, nhem, nhem / Não volta ninguém / Menina
bonita, não vá para o mar (2x) / Vou me casar com meu lindo amor / No fundo do mar
(2x)”
8) Bom dia, amigo – parece um bilhete deixado por alguém que está partindo e que se
despede do amigo. O tema é a amizade e o subtema é despedida, abordada com
sofrimento.
“Bom dia, amigo / Que a paz esteja contigo / Eu vim somente dizer / Que eu te amo
tanto / Que vou morrer / Amigo... Adeus”
9) Canção do amor ausente – narra a dor de um homem que está sentindo a ausência da
mulher amada. Pede que ela volte e o mate de amor em seus braços. A mulher é
comparada ao amor, à canção e à despedida. O tema da canção é o amor romântico
pela mulher amada. O subtema é a ausência da mulher amada, abordada como dor e
sofrimento.
“Ah, mulher / Tu que criaste o amor / Aqui estou eu tão só / Na imensa treva / Da tua
ausência / Mulher, canção / Noturna flor do adeus / Vem me matar de amor / De amor
nos braços teus”
10) Canção de enganar tristeza – narra uma pessoa dando conselho sobre como tratar a
tristeza caso ela apareça. Sugere que ela seja bem tratada para que vá embora
contente. O tema da canção é a tristeza e o subtema é o encontro com esse
sentimento. A letra traz uma abordagem otimista da tristeza, num tom cômico.
“Se a tristeza um dia / Te encontrar triste e sozinho / Trata bem dela / Porque a tristeza
quer carinho / (...) E dá-lhe um amor tão lindo / Que quando ela for indo / Ela vá
contente / De ter tido o teu carinho”
11) Canção de ninar meu bem – narra a fala de uma mulher à um homem que ora chama
de amado ora chama de amigo. Diz-lhe que durma tranquilo e afirma que sempre
serão um do outro. O tema da canção é o amor romântico e o objeto desse amor é o
homem. O subtema é o relacionamento dos dois. A letra passa uma sensação de
tranquilidade, amizade e calma.
“Dorme, meu amor / Como no céu a lua / Tu serás sempre meu / E eu só tua / Dorme,
amigo, que a poesia / É um mistério que não tem fim / Dorme com calma / Que assim,
um dia / Dormirás para sempre em mim”
12) Canto de Iemanjá – canção em tom triste, parece um clamor por Iemanjá. Afirma que
ela é a rainha da mar e por ela é possível encontrar o amor. O tema dessa cação é o
amor romântico e o subtema é o caminho para o amor, que pode ser alcançado pela
canção triste de Iemanjá.
138
“Iemanjá, Iemanjá / Iemanjá é muita tristeza que vem / Vem do luar no céu / Vem do
luar / No mar coberto de flor, meu bem / De Iemanjá (2x) / De Iemanjá a cantar o amor
/ E a se mirar / Na lua triste no céu, meu bem / Triste no mar”
13) Canto de Ossanha – narra uma pessoa falando sobre aqueles que falam demais, mas
sem viver o que afirmam. Usa muitas palavras de origem afro para dizer do amor e da
sua “mandinga”, que faz sofrer, mas também viver. O tema é o amor romântico e o
subtema a necessidade de amar. Sentimento que traz liberdade para quem tem
coragem de assumi-lo.
“O homem que diz ‘dou’ não dá / Porque quem dá mesmo não diz / O homem que diz
‘vou’ não vai / Porque quando foi já não quis / (...) Amigo sinhô / Saravá / Xangô me
mandou lhe dizer / Se é canto de Ossanha, não vá / Que muito vai se arrepender /
Pergunte pro seu Orixá / Amor só é bom se doer”.
14) Canto de pedra preta – Fala de uma contradição entre a vontade do pandeiro e a da
viola. O primeiro não quer que a pedra preta sambe, já a viola quer o contrário. Muitos
elementos afro: o ritmo, os instrumentos, as palavras. Repetição da expressão “olô”. O
tema é o samba e o subtema a dança.
“Pandeiro não quer / Que eu sambe aqui / Viola não quer / Que eu vá embora / Olô
pandeiro / Olô, viola”
15) Canto de Xangô – conta a história de um homem que pede que Xangô o faça sofrer e
morrer de amor. Afirma ser negro de cor, filho do Rei e clama por Xangô, o chama de
“meu Rei Senhor”. Diz que é tempo de amor e, portanto, tempo de dor também. Muitos
elementos afro: o ritmo, os instrumentos, as palavras. O tema é o amor romântico e o
subtema é a necessidade de amar. Aborda o amor como sofrimento necessário, vida e
morte.
“Mas amar é sofrer / Mas amar é morrer de dor / Xangô meu Senhor, saravá! / Me faça
sofrer / Ah, me faça morrer / Mas me faça morrer de amor / Xangô meu Senhor,
saravá!”
16) Cavalo-marinho – parece uma narrativa infantil. É a história de uma rua, onde morava
uma menina. A letra narra o que acontece na rua em três momentos: quando está
alegre, triste e escura. Nesses momentos a menina cantava uma rima, que é o refrão
da letra. O tema é o amor romântico e o subtema é o amor adolescente, quase
inocente. A letra traz uma sensação de nostalgia, lembrança da infância e puberdade,
tristeza.
“Rua alegre, parecia não ter fim / Rua onde eu corria / Atrás do meu arco / Rua onde
eu morava / Tinha uma menina / Que cantava assim: / Cavalo-marinho / Dança no
terreiro / Que a dona da casa / Tem muito dinheiro / Cavalo-marinho / Dança na
calçada / Que a dona da casa / Tem galinha assada”
17) Consolação – é a fala de uma pessoa que amou demais e por isso também chorou
muito e perdeu a paz. Mas acredita que sem essa vivência nada vale à pena e é
melhor tudo se acabar. O tema é o amor romântico, abordado como uma necessidade
para a vida, apesar de vir acompanhado de sofrimento. A dor é inerente à vida.
“Se não tivesse o amor / Se não tivesse essa dor / E se não tivesse o sofrer / E se não
tivesse o chorar / Melhor era tudo se acabar / Eu amei, amei demais / O que sofri por
causa do amor / Ninguém sofreu / Eu chorei, perdi a paz / Mas o que eu sei / É que
ninguém nunca teve mais / Mais do que eu”
18) Deixa – a letra é um conselho para o ouvinte deixar a paixão e o amor acontecerem,
pois o coração tem sempre razão. Além disso, só se vive uma vez e é melhor dizer sim
ao amor e deixá-lo acontecer. Não fica claro se a letra é direcionada à pessoa amada.
Há a repetição constante da palavra “deixa”, indicando a tentativa de convencimento.
139
19) Deve ser amor – narra a fala do narrador com a pessoa amada, dizendo que não
sabe bem o que se passa com ele. Parece estar num estado embriagador. Sente uma
dor que não dói e um certo prazer em chorar, apesar de estar contente. Acredita que
isso possa ser amor e o compara à música, mais especificamente ao samba. O tema é
o amor romântico. A letra indica a tentativa de explicar o sentimento do amor,
abordado como exaltação e beleza, sentimento que deixa a vida completa, com alegria
e sofrimento também.
“Sim, sinceramente, amor / Eu não sei o que se passa em mim / É assim como uma
dor / Mas que dói sem ser ruim / Sim, é ter no coração / Sempre uma canção / E tão
embriagador / Deve ser, sim / Deve ser amor”
21) Formosa – conta a história de um homem que pede à mulher amada que não lhe
negue carinho nem amor. Acredita que mulher que nega tem algo a menos no
coração, pois tudo o que se quer na vida é amar, mesmo que se sofra por isso, pois
afinal “ninguém tem nada de bom sem sofrer”. O tema é o amor romântico e o objeto
do amor é a mulher. O subtema é a necessidade de amar, abordada pela via da
alegria e do bem estar que esse sentimento traz, mesmo que seja acompanhado do
sofrimento. É uma abordagem otimista do amor.
“Formosa, não faz assim / Carinho não é ruim / Mulher que nega / Não sabe, não /
Tem uma coisa de menos / No seu coração / A gente nasce, a gente cresce / A gente
quer amar / (...) A gente pega, a gente entrega / A gente quer morrer / Ninguém tem
nada de bom / Sem sofrer / Formosa mulher!”
22) Garota porongondon – narra as características de uma mulher que samba e requebra
muito bem. Repetição de monossilábicos. O primeiro (nhem-nehm-nhem) se refere a
uma característica negativa de mulheres sem graça e sem ritmo para o samba. O
segundo (au-au-au-ziriguidau-au), imita o ritmo e a batida do samba. O tema da
canção é a mulher e o subtema é a mulher que samba, vista com valorização e
admiração por seu requebrado.
“Vê só como ela dança bem / Vê só que samba bom/ Eu acho que ela tem – tem /
Muito porongondon / Ela não é de nhem-nhem-nhem / Ela requebra bem / (...) Nunca
vi ninguém capaz / De fazer o que ela faz / Au-au-au-ziriguidau-au / Ela é demais!”
23) História antiga – é uma canção de lamento pelo fim do amor. O narrador lembra as
coisas boas que existiam no tempo que estavam juntos: a rua, a lua, a casa dos dois,
o jardim, uma cantiga. A pessoa amada estava sempre sorrindo e cuidava do amor
dos dois. O tema é o amor romântico e o subtema é o fim do amor, abordado com
saudosismo e tristeza.
“Tempo distante / Uma história antiga / Tinha aquela rua / Aquela lua tão amiga / Tinha
a nossa casa / E o jardim tão lindo / E você sempre sorrindo / Você cuidando do nosso
amor”
140
24) Labareda – a letra faz a comparação da mulher com uma labareda, pois ela faz
queimar de paixão. Relaciona a mulher ao fogo, à paixão, à dança. Repetição da
estrofe “lá vai, lá vai, labareda”. O tema é a mulher e o subtema é a mulher dançarina,
vista como fogo para a paixão.
“Labareda / O teu nome é mulher / Quem te quer / Quer perder o coração / Rosa
ardente / Bailarina da ilusão / Mata a gente / Mata de paixão”
25) Linda baiana – elogios à uma mulher baiana específica, provavelmente Gessy Gesse,
uma de suas esposas. Ela samba muito bem e é muito bonita: a cor da sua pele, seu
olhar, seu calor. Pára de falar pois a considera somente dele e não quer que os outros
saibam como ela é. O tema é a mulher e o subtema é a mulher baiana, abordada
como bela e sensual.
“Eu vou me mudar / Pra São Salvador / Lá tem mais amor / Tem uma linda baiana por
lá / (...) Porque eu vi como essa baiana / Samba muito bem / Balangandã de lá pra cá /
Torso de renda a remexer / E o que está dentro / Juro que nem é bom dizer”
26) Mulher carioca – narra as características das mulheres brasileiras, de acordo com o
estado. Todas são muito belas e têm suas qualidades, mas a mulher carioca tem
características como nenhuma outra. Repetição da expressão nhém-nhém-nhém e da
última frase de cada estrofe. O tema é a mulher e o subtema é a mulher brasileira,
com ênfase na mulher carioca, abordada como muito bela e com um jeito sensual e
sedutor.
“A gaúcha tem a fibra / A mineira o encanto tem / A baiana quando vibra / Tem tudo
isso e o céu também / (...) A mulher carioca / O que é que ela tem? / (...) Ela tem um
corpinho que ninguém tem / Ela faz um carinho como ninguém”
27) Pra que chorar – o narrador questiona o por quê de chorar se existe amor. Afirma que
sempre haverá um novo amor em cada novo amanhecer. O tema é o amor romântico
e o subtema é a necessidade e a constatação do amor.
“Pra que chorar / Se o sol já vai raiar / Se o dia vai amanhacer / Pra que sofrer / Se a
lua vai nascer / É só o sol se pôr / Pra que chorar / Se existe amor”
28) Queixa – o narrador fala ao ouvinte para não se queixar tanto, pois não há solução
para a queixa e em breve será carnaval na cidade. O tema da letra é o samba, ligado
ao carnaval. Esse evento é visto como remédio para queixas e reclamações.
“Cavaco, pandeiro, cuíca / Ganzá, tamborim, violão / E o samba, que coisa mais rica /
E o surdo batendo no coração / Deixa / Porque hoje é tudo natural / Deixa / Que essa
queixa, sim, é sempre igual / Quando a cidade amanhecer / É carnaval”
29) Samba da benção – samba cantado por Vinicius, em primeira pessoa, na qual pede a
benção a vários parceiros musicais e a grandes sambistas. Afirma que o bom samba é
feito com um pouco de tristeza e se parece com uma oração. O tema é o samba e o
subtema é beleza desse ritmo,
“Fazer samba não é contar piada / Quem faz samba assim não é de nada / O bom
samba é uma forma de oração / Porque o samba é a tristeza que balança / E a tristeza
tem sempre uma esperança / A tristeza tem sempre uma esperança / De um dia não
ser mais triste não”.
30) Samba do café (Para fazer um bom café) – narra a receita de um bom café, como se
faz no Brasil. A letra é direcionada aos estrangeiros e enfatiza o amor pelo Brasil.
Relaciona samba, café, Brasil e mulher. O tema é café e o subtema é a receita para
fazer o café, relacionando a receita com o amor pelo Brasil.
“Para fazer um bom café, meu bem / Como se faz lá no Brasil / Precisa por tudo a
ferver, meu bem / Como se põe lá no Brasil / (...) Tem que ser forte, como o bem / Que
a gente tem pelo Brasil / Tem que ser doce, como o amor / Que a gente tem pelo
Brasil”
141
31) Samba em prelúdio – o narrador canta a necessidade que tem da mullher amada para
poder viver e afirma que sem ela nada tem sentido. O tema é o amor romântico pela
mulher. O subtema é a necessidade do amor e da pessoa amada, percebida como
rumo, porto seguro, luz.
“Eu sem você / Sou só desamor / Um barco sem mar / Um campo sem flor / Tristeza
que vai / Tristeza que vem / Sem você, meu amor, eu não sou ninguém”
32) Seja feliz – narra a história de alguém que foi abandonado, mas que deseja que a
pessoa amada seja feliz. O próprio abandonado é quem canta e se refere diretamente
ao amor que se foi. Há mágoa na canção pois não houve despedida, há um
sentimento de abandono e ressentimento. O tema é o amor romântico e o subtema é o
fim do relacionamento. Há sentimento de abandono, mágoa e desilusão.
“Foi e eu fiquei sem ninguém / À espera do que não vem / Que melancolia / Foi, foi só
porque eu nada fiz / Como um adeus que nem se deu / Pois seja muito feliz / Infeliz já
sou eu / Pra sofrer sofro eu”
33) Só por amor – é um agradecimento à mulher amada por sempre ter colocado o amor
na frente da razão e nunca ter dito não a esse sentimento. O tema é o amor romântico
pela mulher. O subtema é a mulher, relacionada à entrega, disponibilidade e paixão no
relacionamento. O sentimento é de agradecimento.
“Por você que foi só minha / Sem jamais pensar por quê / Por você que apenas tinha /
Razões e mais razões para não ser / Só por amor / Só por amado / Só por amar / Meu
amor, muito obrigado / Meu amor, muito obrigado”
34) Sonho de amor e paz – a letra é o pensamento de uma pessoa como se estivesse
sonhando alto, imaginando um lugar onde um homem e uma mulher possam se amar
em paz e viverem sozinhos esse amor. O tema da canção é o amor romântico e o
subtema é paz no relacionamento, visto com felicidade quando o casal pode se
relacionar sem sofrer e sentir dor.
“Deve haver / Num canto qualquer / Uma ilha / Ao abrigo da dor / Onde um homem e
uma mulher / Possam ter seu amor / Um lugar para ser feliz / Sem ninguém / Feito
para dois”
35) Tem dó – a letra, em tom cômico, fala de um homem conversando com seu par, que
parece estar lhe cobrando mudança de atitude. O homem reclama que, quando se
conheceram, a mulher já sabia do seu jeito e das suas características e não poderia
cobrar mudanças agora. O tema é o amor romântico e o subtema é a convivência com
a pessoa amada e as diferenças de personalidade.
“Ai, tem dó / Quem viveu junto não pode nunca viver só / Ai, tem dó / Mesmo porque
você não vai ter coisa melhor / Não me venha achar ruim / Porque você me conheceu
assim / Me diga agora, e agora / Não foi assim que você gamou”
36) Tempo de amor (Samba do Veloso) – é uma reflexão sobre a necessidade de amar e,
por causa disso, sofrer, chorar, desejar. Acredita que, sem isso, tudo fica sem graça.
Recusar o amor é viver em paz, mas uma paz improdutiva, onde se evitam os
sentimentos mais intempestivos por puro medo de sofrer. O tema é o amor romântico
e o subtema é a necessidade de amar, mesmo que isso signifique sofrer.
“O tempo de amor / É tempo de dor / O tempo de paz / Não faz nem desfaz / Ah, que
não seja meu / O mundo onde o amor morreu / Ah, não existe coisa mais triste que ter
paz / E se arrepender / E se conformar / E se proteger / De um amor a mais”
37) Tempo feliz – narra as lembranças de alguém que conversa com seu amor num tom
de saudosismo. Fala de um tempo mais alegre, no qual as pessoas cantavam e se
alegravam. O tema é a saudade e o objeto da saudade indica ser o carnaval. O
subtema é a felicidade e a paz trazida pela canções e as recordações que elas
deixaram. Há um sentimento de nostalgia, saudosismo e tristeza na letra.
142
“Que sons mais lindos tinha pelo ar / Que alegria de viver / Ah, meu amor, que tristeza
me dá / Vendo o dia querendo amanhecer / E ninguém cantar”
38) Tristeza e solidão – narra a dor de alguém que está sofrendo pela indiferença da
mulher amada. Recorrerá à umbanda para consegui-la de volta. O tema é o amor
romântico e o objeto desse amor é a mulher. O subtema é a ausência da mulher
amada, abordada pela dor e solidão.
“Sou da linha de umbanda / Vou no babalaô / Para pedir pra ela voltar pra mim /
Porque assim eu sei que vou morrer de dor”
39) Valsa sem nome – é uma declaração de amor, mas o sentimento é tão forte que é
difícil falar dele na poesia, então canta novas canções de amor. Diz que apenas a
lembrança da pessoa amada já é motivo para chorar e sofrer. Esse sentimento é
vivido com magia e encantamento, mas também com dor por ser forte demais. O tema
é o amor romântico e o objeto é o homem. O subtema é a declaração e expressão do
amor, que pode ser pela poesia, pela música, sempre de forma muito intensa e
dolorida.
“Nada poderia contar-te um dia / O que é sofrer por teu amor / Mas na poesia não
saberia / Contar-te nunca o meu amor / Eu te amo tanto/ Que o meu pranto corre / E
corre apenas em lembrar / O teu encanto / O teu silêncio e / Essa magia de te amar”
143
ANEXO D
O CONTEÚDO DAS COMPOSIÇÕES DE VINICIUS DE MORAES
E TOQUINHO
1) Acende uma lua no céu – o narrador explica o que deve ser feito por aquele que está
aguardando o amor chegar. O tema é o amor romântico e o subtema é a espera pelo
amor. A abordagem é otimista e o amor é visto como beleza e vida.
“Acende uma lua no céu / E muitas estrelas no olhar / (...) Semeia de flores ter chão /
E abre as janelas aos perfumes do ar / E esquece tua porta entreaberta / Porque na
hora certa / Verás teu amor surgir”
2) Amigos meus – a letra conta a tristeza que o narrador fica ao fim de um show e do
encontro entre amigos em um bar. A pessoa fala da constatação de que tudo se
acaba, porém sempre há a esperança de que um dia a alegria retome seu lugar. O
tema é a amizade e o subtema separação e reencontro com amigos. Abordagem
nostalgia, saudosismo, tristeza, esperança.
“Amigos meus, está chegando a hora / Em que a tristeza aproveita pra entrar / E todos
nós vamos ter que ir embora / Pra vida lá fora continuar”
3) Amor em solidão – o narrador fala da solidão que lhe traz o amor que sente. Sofre por
amor e sente a morte mais perto por causa desse sentimento, mas ao mesmo tempo o
relaciona com a vida. O tema é o amor romântico e o subtema é a necessidade de
amar e da pessoa amada. Os sentimentos são de solidão e angústia.
“Ah, seu eu pudesse dizer-te / Que pela graça de ver-te / Já nem me importa ter que
fingir / (...) Porque este amor demais / Que nunca vai ter fim / Na morte que me traz / É
a vida em mim”
8) Os bichinhos e o homem – faz parte do disco Arca de Noé 2. Fala de vários bichos e
insetos e suas características. No fim, afirma que o homem será o jantar dos bichos,
mesmo aquele que acha que tudo sabe. A temática é infantil e o subtema são os
bichos. A abordagem é circense, alegre, divertida.
“Nosso irmão, o grilo / Que vive dando estrilo / Só pra chatear (2x) / E o bicho-do-pé /
Que gostoso que ele é / Quando dá coceira / Coça que não é brincadeira”
10) Calmaria e vendaval – o narrador fala da característica que ele imprime à sua vida, de
fazê-la calma e tumultuada ao mesmo tempo. Ele mistura sentimentos, experiências e
assim vai vivendo e procurando as saídas para os problemas. Afirma que ambos – os
problemas e as soluções – só vão deixar de existir quando a morte chegar. O tema é o
estilo de vida e o subtema é a contradição, abordada como intensidade, duplicidade
vida e morte, identificação do que vale a pena ser vivido.
“Choro e canto, mato e morro / Corro entre o bem e o mal / Sem querer faço da vida /
Calmaria e vendaval / Passarinho e águia brava / Brisa mansa e temporal”
11) Canto e contraponto – narra o pedido de um homem à sua amante. Pede que tenha
ela calma e apazigue o desejo, pois seu corpo está exausto e a noite é longa. A letra é
rebuscada, usando palavras pouco populares. O tema é a paixão e o subtema é o
desejo sexual. A abordagem é a intensidade.
“Ai, amante, espera um pouco / Deixa que se canse / Este desejo louco / De teu corpo
/ Deixa que se estanque / O canto rouco / De paixão / Que noite sem fim / Soluça em
mim / Dilacerante”
12) Canto de Oxalufã – a letra questiona aquele que acredita que o conhecimento que
tem vale mais que o dos outros, que é arrogante, se acha superior e dá pouca
importância ao amor. O tema é o estilo de vida e o subtema é a importância do amor.
A abordagem é pela via do questionamento, da simplicidade.
“Você que sabe demais / Meu Pai mandou lhe dizer / Que o tempo tudo desfaz / A
morte nunca estudou / E a vida não sabe ler / (...) Você que sabe demais / Mas que
não sabe viver / Responda se for capaz: / Da vida, quem sabe lá? / Da morte, quem
quer saber?”
13) O canto de Oxum – conta a história da traição de Xangô com Oxum. O Rei Xangô
vencia todas as guerras e tinha Inhansã ao seu lado como companheira. Quando
voltou deu uma festa para comemorar as vitórias nas guerras. Oxum estava muito
bonita e Xangô a colocou no trono esquerdo ao seu lado. Traída e cheia de ciúme,
Inhansã chamou um temporal, gritou sua maldição e todos se apavoraram. O tema é o
145
14) Caro Raul – narra a conversa de Vinicius de Moraes com um amigo chamado Raul.
Ele convida o amigo para irem a um bar bater papo. Pede que ele convide outros
amigos e cita vários nomes. Há um trecho falado no qual o próprio Vinicius, falando
em primeira pessoa e em nome também de Toquinho, manda um “abraço fraterno” a
algumas pessoas, que chama de gente maravilhosa. O tema é a amizade e o subtema
é o encontro de amigos. Os sentimentos são de alegria, agradecimento, animação,
felicidade.
“Caro Raul, tá tudo bem, tá tudo azul / Que tal a gente se encontrar / Lá por um bar, na
zona sul / Bater um papo e pôr as coisas no lugar / E, se puder, leve o Carlinhos, o
Levon / Doca e Paulinho com você, pra gente ver/ Quem é o bom numa partida de
sinuca / Pra valer”
15) Carta que não foi mandada – em um tom triste e nostálgico, um homem fala de si
mesmo. Está sentado sozinho em um bar e observa sua imagem no espelho em
frente. Vê ali o reflexo de um homem que já foi feliz. Na mesa ao lado, um outro
freguês chora, provavelmente, por saudades de um grande amor e ele se identifica
com essa pessoa e suas lágrimas. O tema é o amor romântico pela mulher e o
subtema é a saudade de um grande amor. A abordagem é nostálgica e triste.
“É, a vida é assim, o tempo passa / E fica relembrando / Canções do amor demais /
Sim, será mais um, mais um qualquer / Que vem de vez em quando / E olha para trás /
É, existe sempre uma mulher / Pra se ficar pensando”
16) Carta ao Tom – é uma carta escrita por Vinicius a Tom Jobim, relembrando os tempos
da parceria para a produção do disco “Canção do amor demais”, que inaugurou a
Bossa Nova. Fala de como eram Ipanema e o Rio de Janeiro naquela época. O tema é
a amizade e o subtema é a saudade. A abordagem é nostálgica, com sentimentos de
tristeza, saudade e esperança.
“Rua Nascimento e Silva, 107 / Você ensinando pra Elizete / As canções de Canção
do amor demais / Lembra que tempo feliz / Ah, que saudade / Ipanema era só
felicidade / Era como se o amor doesse em paz / (...) É, meu amigo, só resta uma
certeza / É preciso acabar com essa tristeza / É preciso inventar de novo o amor”
17) O céu é o meu chão – narra a fala de um homem que vive no sertão ao lado de sua
mulher. Fala da seca e da mulher que parece nem perceber que há uma grande
mágoa em seu coração. Sente-se preso à mulher amada, mas ainda assim quer
somente os seus abraços. Ao mesmo tempo que ela é vista como mágoa e tormento,
ele a ama e deseja. O tema é o amor romântico e o objeto desse amor é a mulher. O
subtema é a dificuldade de se entender com a pessoa amada. Os sentimentos
envolvidos são angústia, desejo, tristeza.
“Amor, meu tormento / Meu céu e meu chão / Aonde só se ouve o vento / Gemer de
paixão / Amor, minha mágoa / Que nada desfaz / Este pranto sem água / Este canto
sem paz”
18) Chorando pra Pixinguinha – a letra foi composta para Pixinguinha. É uma conversa de
Vinicius com o sambista, na qual Vinicius se coloca ao lado do amigo na saudade que
sente de tempos que já passaram. Pede a benção a Pixinguinha. O tema é a amizade
e o subtema é a saudade de experiências e momentos que já passaram. A abordagem
é a nostalgia e o saudosismo.
“Meu velho amigo / Chorão primeiro / Tão Rio antigo / Tão brasileiro / Teu
companheiro / Chora contigo / Toda a dor de ter vivido / O que não volta nunca mais”
146
19) Como dizia o poeta – Vinicius, conhecido como poetinha, é quem dá o tom da letra,
na qual fala sobre a importância de se entregar ao amor e à paixão para que a vida
valha a pena. Acredita que quem nunca chorou e sofreu não viveu plenamente. O
tema é o estilo de vida e o subtema é a importância do amor e da paixão. A canção
traz sentimentos de alegria, jovialidade, esperança.
“Quem já passou / Por essa vida e não viveu / Pode ser mais, mas sabe menos do que
eu / Porque a vida só se dá pra quem se deu / Pra quem amou, pra quem chorou / Pra
quem sofreu”
20) Como é duro trabalhar – narra a fala de um homem que busca um lugar para morar e
trabalhar. Porém, precisa da presença e do colo da mulher amada, sem os quais não
consegue se estabelecer. O tema é o amor romântico e o objeto é a mulher amada. O
subtema é a necessidade da pessoa amada. Os sentimentos são tranquilidade,
dependência.
“Achei a terra, vi a casa / Só faltava capinar / Mas sem o colo da morena / Quem sou
eu pra me abusar / E lá vou eu / Paro aqui, paro acolá / E lá vou eu / Como é duro
trabalhar”
21) As cores de abril – a letra fala de natureza, pássaros e flores, indicando que não é
tempo de chorar e sofrer, pois “as cores de abril não querem saber de dor”. O tema é o
estilo de vida e o subtema é a ligação com a natureza. A abordagem é pela via do
amor, da paixão e da alegria.
“Olha quanta beleza / Tudo é pura visão / E a natureza transforma a vida em canção /
Sou eu, o poeta, quem diz / Vai e canta, meu irmão / Ser feliz é viver morto de paixão”
22) Corujinha – canção do disco Arca de Noé 1. O narrador fala com uma corujinha que é
feia e da qual todos sentem pena. Porém, ela anda orgulhosa, pois toda noite aparece
na TV. O tema é infantil e o subtema é os animais.
“O seu canto de repente / Faz a gente estremecer / Corujinha, pobrezinha / Todo
mundo que te vê / Diz assim, ah, coitadinha / Que feinha que é você”
23) Cotidiano no. 2 – o narrador fala consigo mesmo sobre seu cotidiano e,
especialmente, sobre os dias em que está descrente, entediado ou sonhando alto, fora
da realidade. Depois de cada estrofe repete a constatação de que, independente de
qualquer coisa, ele ainda possui seu violão. O tema é o estilo de vida e o subtema é o
cotidiano, visto pela via da contradição, da surpresa e da mesmice ao mesmo tempo.
“Às vezes quero crer mas não consigo / É tudo uma total insensatez / Aí pergunto a
Deus: escute, amigo / Se foi pra desfazer, por que é que fez? / Mas não tem nada, não
/ Tenho meu violão”
24) Deixa acontecer – a letra fala da força do amor e de como ele muda a vida de quem o
sente. O narrador diz que o melhor é não tentar explicar esse sentimento e
simplesmente deixá-lo acontecer. O tema é o estilo de vida e o subtema é o amor
romântico e a paixão. A abordagem é pela entrega e intensidade.
“O amor é essa força incontida / Desarruma a cama e a vida / Nos fere, maltrata e
seduz / É feito uma estrela cadente / Que risca o caminho da gente / Nos enche de
força e de luz”
25) Essa menina – narra a conversa de um homem com uma menina nova, mas que já
tenta seduzi-lo. Ele pede que ela pare e tenha compaixão dele. O tema é o amor
romântico e o objeto do amor é a mulher. O subtema é a sedução, abordada como
desejo.
“Você não tem mesmo o que fazer, essa menina / Como é que você já fica toda
feminina / Como é que você olha pra mim / Com essa falta de respeito / Olhe que isso
assim não está direito, essa menina”
147
26) Eu não tenho nada a ver com isso – em tom de deboche ou de pouca importância, o
narrador constata que o Brasil será um país jovem e feliz no ano 2000, pois haverão
muitos Pelés e violões. O tema é o Brasil e o subtema é o estilo do brasileiro. O tom é
de deboche.
“Eu não tenho nada a ver com isso / Nem sequer nasci em Niterói / Não me chamo
João / E não tenho, não / Vocação pra ser herói”
27) O filho que eu quero ter – incluído no disco Arca de Noé 2. Expressa o desejo do
próprio Toquinho de ser pai. Letra composta após conversa entre Vinicius e Toquinho
sobre o desejo e o medo de Toquinho em relação a esse assunto. Nessa conversa,
Vinicius incentiva o amigo a ter um filho. O narrador fala do seu desejo de ter um filho.
Conta a história do filho desde pequeno, ainda no berço, até o momento em que ele
próprio quer ter um filho também. Isso acontece quando o pai está em seus últimos
momentos de vida e o filho está próximo, segurando sua mão. O tema é o ciclo da
vidae e o subtema paternidade, sob uma perspectiva de alegria, dor, esperança, vida.
“É comum a gente sonhar, eu sei / Quando vem o entardecer / Pois eu também dei de
sonhar / Um sonho lindo de morrer / Vejo um berço e nele eu me debruçar / Com o
pranto a me correr / E assim, chorando, acalentar / O filho que eu quero ter”
28) A flor da noite – conta a história de uma mulher chamada Matilde, conhecida como
louca mansa, que vivia repetindo a frase “Olha a flor da noite” em pleno Pelourinho,
porém sem especificar o que seria essa flor. O narrador tenta imaginar o que é e vai
dando palpites. O tema é a mulher e o subtema é a loucura e a fofoca. A abordagem é
cômica e alegre.
“Na solidão escura / do velho Pelourinho / Matilde, a louca mansa / Vivia mercando
assim: / Olha a flor da noite... (2x) / Seria a flor da noite / A luz da estrela solitária / A
tremular tão pura / Sobre o velho Pelourinho?”
29) A foca – canção do disco Arca de Noé 1. Conta a história de uma foca que faz
malabarismo para poder ganhar uma sardinha, seu alimento. Letra com tema infantil e
subtema de animais. A abordagem é alegre, circense.
“Lá vai a foca / Toda arrumada / Dançar no circo / Pra garotada / Lá vai a foca /
Subindo a escada / Depois descendo / Desengonçada / Quanto trabalha / A coitadinha
/ Pra garantir sua sardinha”
30) Fogo sobre terra – a letra fala da contradição entre a vontade das pessoas de às
vezes explodir e em outros momentos se ocultar em um canto escuro. Aponta essa
tendência como necessária e afirma que é melhor ter um amor ao lado para “curar a
ferida”. O tema é o estilo de vida e o subtema é a contradição de sentimentos no dia-a-
dia. A abordagem é positiva, com a afirmação do amor e da vida.
“A gente às vezes tem vontade de ser / Um rio cheio pra poder transbordar / (...) Mas
outras vezes tem vontade de ser / Um canto escuro pra poder se ocultar”
31) A galinha d’angola – faz parte do disco Arca de Noé 2. Fala de uma galinha d’angola
que “não anda ultimamente regulando da bola”. Ela arruma confusão, briga, fofoca, dor
de barriga e ainda diz que está fraca. O tema é infantil e o subtema é animais. A
abordagem é alegre, circense.
“Come tanto / Até ter dor de barriga / Ela é uma bagunceira / De uma figa / Quando
choca, cocoroca / Come milhor e come caca / E vive reclamando / Que está fraca /
Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!
32) Gilda – canção feita para a nona e última mulher de Vinicius de Moraes. Ele a invoca,
como que chamando alguém para salvá-lo. Relaciona-os a Eurídice e Orfeu, do mito
grego de Orfeu. O tema é o amor romântico e o objeto desse amor é a mulher. O
subtema é o relacionamento com Gilda e a abordagem é de paixão, encontro, entrega.
148
“Nos abismos do infinito / Uma estrela apareceu / E da terra ouviu-se um grito / Gilda,
Gilda / Era eu, maravilhado / Ante a sua aparição”
33) O girassol – faz parte do disco Arca de Noé 2. Fala do girassol e sua característica de
rodar em busca do sol. O tema é infantil e o subtema é plantas.
“Sempre que o sol / Pinta de anil / Todo o céu / O girassol / Fica um gentil / Carrossel /
Roda, roda, roda / Carrossel / Gira, gira, gira / Girassol / Redondinho como o céu /
Marelinho como o sol”
34) Golpe errado – letra dirigida aos malandros, aqueles que usam de artifícios ilícitos
para viver e conseguir o que quer. Recomenda precaução e mudança do estilo de
vida. O tema é o estilo de vida e o subtema é a malandragem sob uma perspectiva
negativa, maléfica, preocupante.
“Ouça, malandragem não convence / Uma vez a gente vence / Outra vez bota a perder
/ (...) Olha que não é nada engraçado / Você dar um golpe errado / E ver o sol nascer
quadrado”
35) Um homem chamado Alfredo – o narrador conta a história do seu vizinho, chamado
Alfredo, que “se matou de solidão”. Não tinha amigos, ninguém lhe dava atenção. Era
sozinho, não tinha ninguém para amar. O tema é a solidão e o subtema a morte. Os
sentimentos são tristeza e espanto.
“Eu sempre o cumprimentava / Porque parecia bom / (...) Num velho papel de
embrulho / Deixou um bilhete seu / Dizendo que se matava / De cansado de viver /
Embaixo assinado Alfredo / Mas ninguém sabe de quê”
36) Mais um adeus – letra dividida em duas partes. Na primeira, um homem fala da dor da
separação, do amor que se vai e da tristeza que ele deixa. Na segunda parte, faz o
contraponto: agora é a mulher que fala, dando conselhos banais e cotidianos. Num
discurso longo e cansativo, fala para ele não pegar sereno, tomar cuidado com o
resfriado, beber pouco, guardar-se para ela, escrever, mandar o dinheiro do
apartamento. O tema o amor romântico e o subtema é o fim do amor devido a rotina, o
relacionamento diário.
“Mais um adeus / Uma separação / Outra vez, solidão / Outra vez, sofrimento / Mais
um adeus / Que não pode esperar / O amor é uma agonia / Vem de noite, vai de dia /
É uma alegria / E de repente / Uma vontade de chorar”
37) Maria vai com as outras – conta a história de uma moça chamada Maria que era vista
como “Maria vai com as outras”. Mas Maria tinha qualidades: sabia coser, rezar, era
moça para casar. Porém, outra característica era pouco conhecida: Maria também
sabia pecar. No dia dois de fevereiro, Maria não foi na festa de Iemanjá e não jogou
flores para sua Orixá, por isso Iemanjá levou seu amor de volta para o mar. O tema é
a mulher e o subtema é o amor romântico. A abordagem é alegre, festiva e cômica.
“Maria era uma boa moça / Pra turma lá do Gantois / Era a Maria vai com as outras /
Maria de coser, Maria de casar / Porém o que ninguém sabia / É que tinha um
particular / Além de coser, além de rezar / Também era Maria de pecar”
38) Menina das duas tranças – a letra é cantada por dois personagens: o pai e o filho. Em
separado, ambos pedem à menina que deixe o outro em paz. O pai pede isso em
relação ao filho, pois ele ainda é muito novo e não conhece a “escuridão do amor”. Já
o filho pede que a menina não seduza o pai como está fazendo, pois ele já sofreu
muita desilusão por amor. O tema é o amor romântico e o objeto do amor é a mulher.
O subtema é a sedução feminina, vista como provocação e insinuação.
“Menina das duas tranças / Deixe o meu filhinho em paz / Que ele ainda é muito
criança / Pras coisas que você faz / (...) Menina das duas tranças / Deixe o meu
paizinho em paz / Que ele não é mais criança pras coisas que você faz”
149
39) Meu pai Oxalá – narra o amor não correspondido de um homem pela filha de Inhansã.
Na procissão, ele a observa linda em seu “manto todo branco”, porém ela nem o nota.
No terreiro de Oxalá ele fica muito triste ao perceber que ela está se envolvendo com
Xangô. O tema é o amor romântico e o objeto é uma deusa afro. O subtema é o amor
não correspondido e o ciúme.
“Que vontade de chorar / No terreiro de Oxalá / Quando eu dei com a minha ingrata /
(...) Em meio à multidão / Cercando Xangô num balanceio / Cheio de paixão”
40) Morena flor – canção feita, provavelmente, para a esposa baiana de Vincius, Gessy
Gesse. A letra narra um homem apaixonado chamando sua amada de morena flor e
lhe pedindo carinho. Fala no diminutivo, forma típica de Vinicius se referir àss coisas e
pessoas queridas por ele. Afirma que sem seu amor tudo ficaria muito triste, porém a
Bahia a fez toda somente para ele. O tema é o amor romântico e o objeto é a mulher.
O subtema é o relacionamento com a pessoa amada. A abordagem é pela alegria e
intimidade.
“Morena flor / Me dê um cheirinho / Cheirinho de amor / Depois também / Me dê todo
esse denguinho / Que só você tem”
41) No colo da serra – narra a fala de um homem empolgado com a vida e o amor, que
deseja ter a amada do lado, lutar por ela, ter uma vida simples, ser feliz e fazê-la feliz
ao seu lado. Acredita que vale a pena morrer por amor e pela vida, mas é preciso ter
simplicidade e saber lutar pelas coisas que realmente valem a pena. Fala dos homens
que não conseguem mais mirar as estrelas. É um hino de louvor à vida e ao amor. O
tema é o amor romântico e o objeto do amor é a mulher. O subtema é a necessidade
de amar e ter a pessoa amada. Exaltação da vida, que só vale a pena com amor.
“Se eu tiver que lutar / Vou é lutar por ela / Se eu tiver que morrer / Vou é morrer por
ela / E seu eu tiver que ser feliz / Você vai ter que ser feliz também!”
42) Paiol de pólvora – na letra, tudo o que acontece é dentro de um paiol de pólvora.
Conta episódios que acontecem dentro lá dentro. Todos estão dentro de um paiol de
pólvora que só tem entrada, não há saída, e a vida se dá dentro do paiol, que no fim
explode. O tema é o cotidiano e o subtema é a pressão, a submissão.
“Estamos trancados no paiol de pólvora / Paralisados no paiol de pólvora / Olhos
vedados no paiol de pólvora / Dentes cerrados no paiol de pólvora”
43) Para viver um grande amor – a letra indica como viver um grande amor. As instruções
são faladas. Intercalado, há o refrão cantado que fala da boa companhia do violão, da
canção e da poesia e, tendo isso, nunca se está só. O tema é o amor romântico e o
objeto do amor é a mulher. O subtema é o caminho para viver um grande amor, as
instruções descrita com alegria, envolvimento, entrega.
“Eu não ando só / Só anda em boa companhia / Com meu violão / Minha canção e a
poesia / (...) Para viver um grande amor, primeiro / É preciso sagra-se cavalheiro / E
ser de sua dama por inteiro / Seja lá como for”
44) Patota de Ipanema – fala do desdém pela “patota de Ipanema”, turma da qual o
narrador diz não fazer mais parte e não lhe interessar mais. Afirma que cansou de ir
ao bar Zepelin, do papo e do jeito dos frequentadores dos bares e praias de Ipanema.
O tema é a amizade e o subtema é o desligamento de amizades antigas. Parece haver
nostalgia no ar ao mesmo tempo um desdém e desinteresse por algo que já foi
importante.
“Não tenho ido ao cinema / E a patota de Ipanema não me interessa mais / Podem
dizer que eu já era / E eu só digo: ai, quem me dera / Uma vida em paz”
45) Planta baixa – o narrador fala dos cuidados que uma planta requer e a compara aos
sentimentos, que também precisam ser regados, cuidados, têm que respirar e estar
contente. E compara isso tudo às pessoas, dizendo que “gente também é semente”. O
150
46) O poeta aprendiz – conta a história de um menino de dez anos que pulava muros,
vivia correndo, mergulhando, jogando bola e amava as mulheres ao seu redor: primas,
tias, criadas, vadias da rua. Era um menino que achava bonita “a palavra escrita” e
escrevia seus primeiros versos. Indica a história do próprio Vinicius, que nessa idade
morava na Ilha do Governador. Mais uma letra de retomada do passado, da sua
história. O tema é o estilo de vida e o subtema amores de adolescência e sua relação
com a poesia.
“Ele era um menino / Valente e caprino / Um pequeno infante / Sadio e grimpante / (...)
Amava Leonor / Menina de cor / Amava as criadas / Varrendo as escadas / Amava as
gurias / da rua, vadias / (...) Amava a mulher a não mais poder”
47) O porquinho – canção do disco Arca de Noé 2. É cantada por um porquinho para as
crianças. O porquinho conhece seu destino, sabe que é feito para ser comido,
alimentar e agradar as pessoas e gosta disso. Fala das diversas maneiras que as
pessoas o preparam e dos diferentes pratos gostosos que ele pode servir. Possui
tema infantil e subtema sobre animais.
“Muito prazer, eu sou o porquinho / Eu te alimento também / Meu coro bem tostadinho
/ Quem é que não sabe o sabor que tem”
48) A porta – faz parte do disco Arca de Noé 1. Quem canta é a própria porta, que conta
suas utilidades. Fala que é feita de madeira e que, apesar de ser matéria morta, “não
há coisa no mundo mais viva do que uma porta”. O tema é infantil e o subtema é a
utilidade da porta.
“Eu abro devagarinho / Pra passar o menininho / Eu abro bem com cuidado / Pra
passar o namorado / Eu abro bem prazenteira / Pra passar a cozinheira / (...) Eu fecho
a frente da casa / Fecho a frente do quartel / Fecho tudo no mundo / Só vivo aberta no
céu”
49) Um pouco mais de consideração – a letra é cantada por alguém que está sofrendo de
amor, pois a pessoa amada não se decide e não sabe se gosta mesmo ou não. O
narrador pede um pouco mais de consideração, pois foi cativado e, por isso, a pessoa
amada é responsável por seus sentimentos. O tema é o amor romântico e o subtema
é o cuidado com aquele que se ama, necessidade expressa através de sentimentos de
angústia, medo e sofrimento.
“Por que você é tão ruim / Não me diz não nem me diz sim / Sofre demais meu
coração / Pois nunca sabe quando é sim ou não / (...) Já que você foi quem me fez
contente / Já que você me cativou assim / Você não podia, muito francamente / Entrar
a sério nessa história de gostar de mim?”
50) A pulga – canção do disco Arca de Noé 1. Quem canta é a própria pulga. Letra curta,
na qual faz um jogo de rimas com os números, mostrando a sequencia para se
alimentar: pula na perna, dá uma mordida e por fim está com a “barriguinha cheia”. O
tema é infantil e como subtema a letra fala de animal.
“Um, dois, três / Quatro, cinco, seis / Com mais um pulinho / Estou na perna do
freguês”
51) Regra de três – narra uma conversa entre amigos. Um chama a atenção do outro
sobre a forma como vem tratando sua amada, magoando-a e deixando-a triste. Afirma
que ela o deixou porque não aguentava mais tanto perdoar. O tema é o amor
151
52) A rosa desfolhada – canção triste na qual o narrador fala da tentativa de recompor
uma intensa paixão que acabou, ilustrada pelos objetos jogados ao chão e pela rosa
desfolhada, que ele tenta inutilmente reconstruir. O tema é o amor romântico e o
subtema é o término do amor, visto pela via da tristeza, do espanto, da perda.
“Tudo pisado, tudo partido / Tudo no chão jogado / E em cada canto / Teu desencanto
/ Tua melancolia / (...) E logo o espanto e logo o insulto / O amor dilacerado / E logo o
pranto ante a agonia / Do fato consumado”
53) As razões do coração – o narrador fala para a pessoa amada sobre a saudade que
sente. Acredita que o amor chegou tarde demais para os dois e que já não é mais
possível que eles fiquem juntos. O tema é o amor romântico e o subtema é a saudade,
abordada com sentimentos de desejo, envolvimento e necessidade do outro.
“É uma saudade tão doída de você / Que eu não sei mais nada, não / E é isso aí
sempre que o amor não pode ser / Sempre que a distância pode mais que o coração”
54) Uma rosa em minha mão – uma mulher se questiona sobre onde pode estar seu par,
pois tanto procura e não consegue encontrar. Junto com o amado queria ela um lugar
bonito, céu, mar e um campo florido. Porém, o que ela tem é solidão. O tema é o amor
romântico e o objeto do amor é o homem. O subtema é a solidão e a busca pelo amor.
“Procurei um lugar / Com meu céu e meu mar / Não achei / Procurei o meu par / Só
desgosto e pensar, encontrei / Onde anda o meu rei / Que me deixa tão só por aí / A
quem tanto busquei / E que de tanto que andei me perdi”
55) Samba para Endrigo – a letra enaltece o Rio de Janeiro e o estilo de vida do carioca.
Acredita que são cheios de ginga, de samba e muito brasileiros. O tema é o Rio de
Janeiro e o subtema é o perfil do carioca, visto com beleza, malandragem, samba.
“Quando eu chego ao Rio / Eu me arrepio / De ver tanta coisa linda / Solta no ar / (...)
Cada um na rua / É um rei na sua / Maneira tão popular”
56) Samba do jato – a pessoa que narra a história dessa canção está solitário, de repente
se viu sozinho, em um bar onde já esteve com a pessoa amada. Sente uma ilusão na
madrugada, como se tivesse sido acordado de um sonho e está perambulando entre
cachorros, um jato que partiu e a sensanção de tempo parado. O tema é o amor
romântico e o subtema é a ausência da pessoa amada. A abordagem é pela visa da
ilusão, solidão e tristeza.
“Um galo cantou / Meu sonho acordou / O jogo acordou, calado / E eu madruguei /
Chutando pedras pelo chão / Com a solidão do lado / Um cão me seguiu / Um jato
partiu / E tudo ficou parado / E eu acabei naquele bar / Onde nós dois / Vivemos nosso
passado”
57) Samba da rosa – fala sobre a vontade do narrador de ter uma rosa e para quê.
Compara a rosa à mulher e deseja ter uma rosa no coração. O tema é a mulher e o
subtema é o estilo da mulher, abordada como beleza, amor, algo para se admirar.
“Rosa pra dormi / Rosa pra acordar / Rosa pra sorrir / Rosa pra chorar / Rosa pra partir
/ Rosa pra ficar / E se ter mais uma rosa mulher / É primavera / É a rosa em botão / Ai,
quem me dera / Uma rosa no coração”
58) Samba da volta – narra a alegria de alguém que tem a pessoa amada de volta, depois
de tanto tê-la magoado. O tema é o amor romântico e o subtema é o perdão e a volta
da pessoa amada, trazendo alegria e felicidade.
152
“Você voltou, meu amor / A alegria que me deu / Quando a porta abriu / Você me
olhou / Você sorriu / Ah, você se derreteu / (...) É verdade, eu reconheço / Eu tantas fiz
/ Mas agora tanto faz / O perdão pediu seu preço”
59) São demais os perigos dessa vida – a letra fala que a vida é muito perigosa para
quem ama e tem paixão. Relaciona esse perigo à mulher, que é feita de música, luar e
sentimento. O tema é o amor romântico e o objeto desse amor é a mulher. O subtema
é o perigo de se amar. A abordagem é dramática. Há tristeza, beleza e necessidade
de cuidado implícito na letra.
“São demais os perigos dessa vida / Pra quem tem paixão principalmente / Quando
uma lua chega de repente / E se deixa no céu, como esquecida / E se ao luar que atua
desvairado / Vem se unir uma música qualquer”
61) Se ela quisesse – é a fala de um homem que espera que sua amada queira viver e
morrer por amor. Deseja que ela se entregue a esse sentimento. O tema é o amor
romântico pela mulher e o subtema é a necessidade de amar. A abordagem é da
entrega, da paixão, alegria, esperança.
“Se ela tivesse a coragem de morrer de amor / Se não soubesse que a paixão traz
sempre muita dor / (...) Ela veria, saberia que doçura / Que delícia, que loucura / Como
é lindo se morrer de amor”
62) Sei lá... A vida tem sempre razão – a letra traz uma reflexão sobre a vida, sobre o fim
das coisas, geralmente logo depois que se iniciam. Mas, por fim, afirma que, mesmo
não sabendo a resposta para seus questionamentos, “a vida tem sempre razão”. O
tema é a vida e o subtema é as dúvidas sobre a existência. A abordagem é otimista e
positiva, parecendo fazer uma enaltação da vida.
“Tem dias que fico pensando na vida / E sinceramente não vejo saída / Como é, por
exemplo, que dá pra entender / A gente mal nasce / Começa a morrer / (...) Sei lá, sei
lá / A vida é uma grande ilusão / Sei lá, sei lá / Só sei que ela está com a razão”
63) Sem medo – a letra fala dos obstáculos que temos que enfrentar na vida desde
crianças e da necessidade de superar medos e riscos. Até que por fim vem a morte,
que é o último obstáculo e que chega para todos. O tema é o superação de obstáculos
e o subtema é o desenvolvimento humano. A abordagem é otimista, com sentimentos
de alegria, coragem e esperança.
“Chega um belo dia de qualquer semana / Alguém bate na porta, é um telegrama / Ela
está chamando, pra uns ela vem cedo / Pra outros vem tarde / É que cedo ou tarde,
ela vem de repente”
65) Tatamirô (Em louvor de Mãe Menininha de Gantois) – é um canto em louvor a vários
deuses do candomblé e à Mãe Menininha do Gantois, pela qual Vinicius tinha grande
admiração e era seguidor. A letra é contada hora por uma mulher hora por um homem.
Ambos falam que Mãe Menininha os adotou e batizou. Vários deuses os protegem. O
tema é divindades do candomblé e o subtema é agradecimento e pedido de proteção.
Há muita musicalidade, sentimentos de confiança e louvor.
“Apanha folha por folha, tatamirô / Apanha maracanã, tatamirô / Eu sou filha de Oxalá,
tatamirô / Menininha me apanhou, tatamirô / Xangô me leva, Oxalá me traz / Xangô
me dá guerra, oxalá me dá paz”
66) A terra prometida – a canção indica os caminhos para se viver bem e ter uma morte
em paz. Destaca a possibilidade do homem de ter sua terra, seu espaço e nele pode
fazer as coisas mais simples e mais importantes. O tema é o estilo de vida e o
subtema é a necessidade de um lugar para se viver e morrer. O tema é abordado
como necessidade, tranquilidade, esperança.
“Poder domir / Poder morar / Poder sair / Poder chegar / Poder viver bem devagar / E
depois de partir poder voltar / E dizer: este aqui é o meu lugar”
67) Testamento – canção com partes faladas e outras cantadas. São indicações sobre o
que vale a pena na vida e um alerta para o tempo que é muito curto e passa rápido
demais para ser vivido sem amor e sem paixão. Fala dos compromissos materiais e de
trabalho que muitos vezes consomem as pessoas para, na hora da morte, nada ser
levado consigo. O tema é o estilo de vida e o subtema é a importância das coisas mais
simples, destacada por meio de um aviso, um alerta.
“Você que não pára pra pensar / Que o tempo é curto e não pára de passar / Você vai
ver um dia / Que remorso! Como é bom parar / Ver um sol se pôr / Ou ver um sol raiar
/ E desligar, e desligar”
68) A tonga da mironga do kabuletê – expressão ensinada por Gessy Gesse, mulher de
Vinicius, a ele e Toquinho para expressar um desabafo, um xingamento sem um
objeto específico, podendo ser usado com diversos significados e em diferentes
ocasiões. Na letra, a expressão é usada para as pessoas que não se envolvem
realmente no que fazem. A letra de despreocupação e o subtema é o xingamento. A
abordagem é pela comicidade e alegria.
“Eu caio de bossa / Eu sou quem eu sou / Eu saio da fossa / Xingando em nagô / Você
que ouve e não fala / Você que olha e não vê / Eu vou lhe dar uma pala / Você vai ter
que aprender / A tonga da mironga do kabuletê (3x)”
69) Triste sertão – a letra fala como é dura, solitária e triste a vida no sertão. Fala dos
pássaros que cantam sem platéia, da falta de água, da escuridão. O tema é o sertão e
o subtema é a vida dura. A abordagem se dá pela simplicidade, sofrimento,
resignação.
“É ano de seca no sertão / Lá onde a vida acaba / Vive só quem tem razão / Vive o
bode, vive a cabra / E o maracujá e a cana-brava / E o mandacaru e a assombração”
70) Tudo na mais santa paz – o narrador fala da sensação após um período feliz, uma
festa, uma comemoração. Fala de como tudo fica triste, dos medos que permanecem,
da solidão. Ainda assim tudo permanece em ordem, “na mais santa paz”. O tema é a
solidão e o subtema é a necessidade de conviver com a solidão, abordada como
apreensão, angústia e medo, mas também lembranças boas e esperança.
“Acabou a festa, amor / Ainda tem uma cerveja no congelador / Vamos ao que resta,
amor / Dia de festa é véspera de muita dor”
72) Valsa para uma menininha – faz parte do disco Arca de Noé 1. É a fala de um pai
para sua filha pequena. Ele deseja que a filha fique sempre pequena, fazendo
gracinhas. Fala que o mundo é ruim e que, quando crescer, ela pode sofrer desilusão.
O tema é a infância e o subtema é a filha pequena, vista com alegria, contentamento,
felidade, encanto.
“Menininha do meu coração / Eu só quero você / A três palmos do chão / Menininha,
não cresça mais não / Fique pequenininha na minha canção / Senhorinha levada /
Batendo palminha / Fingindo assustada / Do bicho-papão”
73) Valsa do bordel – a letra é feita a partir do ponto de vista das prostitutas de um bordel.
Fala da solidão em meio a tantas fantasias dos clientes e da alegria quando chega um
especial, cheio e paixão, que faz valer os dias ruins, o dinheiro ganhado mas que tem
que ser dado. O tema é a mulher e o subtema é a mulher do bordel. Os sentimentos
são de dor, sofrimento e esperança.
“Longas piteiras / Perfumes no ar / Roxas olheiras em torno do olhar / Que brincadeira
fazer profissão / Da mais antiga e mais sem solução / Discos franceses tão
sentimentais / Velhos fregueses / Com taras iguais”
74) Veja você – conta a história de uma pessoa que não tem medo de ser infeliz, que se
entregou ao amor. Sofre muito por isso, mas está mais feliz agora que se “despediu do
desamor”. O tema é o estilo de vida e o subtema é a importância do amor e da paixão,
vistos como felicidade e necessidade para a vida.
“Veja você, eu que tanto cuidei da minha paz / Tenho o peito doendo, sangrando de
amor por demais / Na dor eu sei a extensão da loucura que fiz / Eu que acordo
cantando, sem medo de ser feliz”
75) A vez do dombe – fala do ritmo musical conhecido como dombe. Depois da rumba
cubana, do mambo, calipso, merengue, samba e bossa nova, agora é a vez do
dombe, que tem raízes africanas, mas vem da Argentina. Cita todos os países origens
dos ritmos precedentes e citados. O tema é a música e o subtema é o dombe. Há
musicalidade e referência à dança.
“Mas é agora a hora do dombe / Esse menino cheio de plá / África na América / A
rumba, o merengue eo chá-chá-chá / Ritmo candombe / É o dombe que veio da
Argentina”