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Recomendações para Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) de

Pacientes com COVID-19

Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE),


Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Associação de Medicina
Intensiva Brasileira (AMIB)

Autores: Hélio Penna Guimarães1, Sérgio Timerman2, Thiago Domingos


Correa3, Roseny dos Reis Rodrigues4, Ana Paula Freitas5

1- Emergencista e Intensivista. Presidente da Associação Brasileira de Medicina de


Emergência (ABRAMEDE). Médico do Departamento de Pacientes Graves (DPG) do
Hospital Israelita Albert Einstein. Médico da UTI do Instituto de Infectologia Emilio Riba.
Doutor em Ciências pela USP
2- Emergencista, Cardiologista. Coordenador do Centro de Treinamento de Emergências
Cardiovasculares do Instituto do Coração-INCOR. Doutor em Ciências pela USP
3- Intensivista. Coordenador Médico do Centro de Terapia Intensiva do Departamento de
Pacientes Graves (DPG) do Hospital Israelita Albert Einstein. Doutor em Ciências pela
USP
4- Anestesiologista e Intensivista. Médico do Departamento de Pacientes Graves (DPG)
do Hospital Israelita Albert Einstein. Doutor em Medicina pela USP
5- Emergencista. Primeiro Secretário Associação Brasileira de Medicina de Emergência
(ABRAMEDE). Mestre pela UFRGS.

Recomendações para Ressuscitação Cardiopulmonar de Pacientes com


Covid-19:

Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE),


Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Associação de Medicina
Intensiva Brasileira (AMIB)

A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) é um procedimento máximo de


emergência e passível de ocorrência em pacientes portadores de COVID-19. A
RCP nestes pacientes demanda, portanto, atenção especial devido ao maior
risco de aerossóis durante as manobras de compressão torácica e ventilação,
oferecendo risco relevante de contaminação para a equipe assistente.
Considerando este cenário em que as evidências sólidas estão pouco
documentadas ou acessíveis, a Associação Brasileira de Medicina de
Emergência (ABRAMEDE) recomenda as seguintes práticas:
⁃ Os processos da tomada de decisão para diretivas de ressuscitação
cardiopulmonar (RCP) devem continuar sendo individualizados nos

Departamentos de Emergência e Unidades de Terapia Intensiva (UTI), e a RCP


deve ser sempre realizada a menos que as diretivas indiquem o contrário.
⁃ As decisões de “não ressuscitação cardiopulmonar” (NRCP) devem estar
adequadamente documentadas e comunicadas a equipe. Os cuidados
paliativos e de terminalidade devem seguir a política local e institucional
⁃ Todos pacientes suspeitos ou portadores de COVID-19 que estejam sob
maior risco de deterioração aguda ou parada cardíaca devem ser
adequadamente sinalizados aos Times de Resposta Rápida (TRR) ou equipes
que irão proceder o atendimento.
- Todas as medidas apropriadas para impedir os atendimentos a RCP, de
forma desprotegida, devem ser provisionados antes que a PCR ocorra. A
pronta disponibilidade de equipamentos de proteção individual (EPIs)
promoverá menor retardo para o início das compressões torácicas.
⁃ Ainda que possa ocorrer breve atraso no início das compressões torácicas, a
segurança da equipe é fundamental e o uso de EPIs adequados para esta
condição (risco maior de contaminação) é indispensável para equipe que
atende a RCP.
⁃ O Equipamento de Proteção Individual (EPI) para procedimentos com
geração de aerossol deve ser usado por todos os membros da equipe de
ressuscitação / emergência e adequadamente implantados antes de entrar no
local de atendimento.
⁃ Conjuntos de EPI devem estar disponíveis no carrinho de ressuscitação ou
parada, para pronto uso.
- Não devem ser realizadas compressões torácicas ou procedimentos de vias
aéreas sem instalação prévia do EPI completo.
⁃ O uso de escores de gravidade e sistemas de rastreamento e disparo de
códigos amarelos permitem a detecção precoce de pacientes graves e pode
otimizar o atendimento de eventuais PCRs.
⁃ A avaliação de potencial dificuldade para laringoscopia / intubação deve ser
realizada quando da admissão do paciente no hospital / e ou UTI: escores

como MACOCHA* ou mnemônicos LEMON** podem auxiliar na determinação


de via aérea difícil e prévio acionamento de suporte.
⁃ O reconhecimento da PCR mantém a conduta preconizada pelo ILCOR/AAH
com avaliação de pulso central, e ausência de respiração efetiva.
⁃ RCP deve ser iniciada por compressão e monitorização do ritmo da parada
cardíaca do paciente o mais rápido possível para estabelecimento do algoritmo
adequado.
⁃ Desfibrilação em ritmos chocáveis não deve ser adiada para acesso a via
aérea ou outros procedimentos.
- Considerando a hipóxia uma das principais caudas de PCR nestes pacientes,
o acesso invasivo a via aérea deve ser priorizado.
⁃ Não realize ventilação boca a boca e não utilize máscara de bolso (“pocket
mask”).
⁃ No caso de absoluta necessidade de ventilação com BVM, a técnica de
selamento da máscara deve envolver dois profissionais e uso uma cânula
orofaríngea (Guedel). Não esquecer da instalação de filtros (HEPA) entre a
máscara e bolsa.
⁃ Deve-se evitar a ventilação com BVM ou bolsa-tubo endotraqueal, pelo
elevado risco de aerolização e contaminação da equipe, além de efetividade
não superior a ventilação mecânica, em acordo com as evidências disponíveis
atuais.
⁃ A garantia de uma via aérea avançada para isolamento e menor probabilidade
de aerolização e contaminação da equipe de atendimento, bem como melhor
padrão de ventilação, deve ser efetuada para os pacientes ainda sem um
dispositivo invasivo durante a PCR. Não esquecer da instalação de filtros
(HEPA) no circuito ventilatório após o tubo orotraqueal e na via do circuito
expiratório.
⁃ A intubação através de videolaringoscopia deve ser primeira escolha para o
acesso rápido e seguro a via aérea, em acordo aos procedimentos de IOT
segura previamente referenciados pela ABRAMEDE e AMIB.

⁃ A intubação traqueal com videolaringoscopio deve ser prioridade desde a


primeira tentativa e pelo operador mais experiente. No caso de falha, a ajuda
imediatamente deve ser acionada e, caso opte-se por segunda tentativa, a
videolaringoscopia deve ser considerada novamente.
⁃ A falência ou impossibilidade da IOT demanda a necessidade de dispositivos
extraglóticos (tubo laríngeo e máscara laríngea), que permitem a ventilação
mecânica em circuito fechado, até que haja a adequada possibilidade de
acesso definitivo à via aérea (intubação orotraqueal) ou cirúrgico (cricostomia).
⁃ Em pacientes sob ventilação mecânica, deve se manter o paciente conectado
ao ventilador em circuito de ventilação fechado, com fração inspirada de
oxigênio a 100%, modo assíncrono, frequência de 1 (uma ventilação) a cada
seis segundos (em torno de 10-12 por minuto). Alguns ventiladores apresentam
a função “RCP/PCR” que pode ser ativada automaticamente que ajusta
automaticamente os limites de alarme e aciona os parâmetros alinhados acima.
- Identifique e trate as causas potenciais mais comuns de PCR, antes
considerar interromper a RCP, com especial consideração para hipoxemia,
acidemia e trombose coronária, causas citadas como frequentes nas
publicações atuais sobre COVID-19.
⁃ Restrinja o número de funcionários no local do atendimento (se for um quarto
individual comum).
⁃ Antecipe a solicitação de necessidade de leito em unidade terapia intensiva e
isolamento respiratório para o pós PCR, caso retorno da circulação espontânea
(RCE).
⁃ Descarte ou limpe todo o equipamento usado durante a RCP, seguindo as
recomendações do fabricante e as diretrizes locais da instituição.
⁃ Quaisquer superfícies de trabalho usadas para posicionar equipamentos de
vias aéreas / ressuscitação também precisarão ser limpas de acordo com as
diretrizes locais. Especificamente, verifique se o equipamento usado nas
intervenções nas vias aéreas (por exemplo, laringoscópios, máscaras faciais)
não foi deixado travesseiro do paciente: deixo-os sobre uma bandeja. Não

deixar cânula de aspiração sobre o travesseiro do paciente; em vez disso,


descarte a extremidade contaminada dentro de uma luva descartável.
⁃ Remova o EPI com segurança para evitar auto-contaminação.
⁃ A higiene das mãos tem um papel crucial na diminuição da transmissão. Lave
bem as mãos com água e sabão; e utilize o álcool gel nas mãos.
- Realize o debriefing ao final de cada procedimento . Isso estimula melhorias e
crescimento da equipe.
*MACOCHA: Mallampati como III ou IV, síndrome da Apneia (obstrutiva), Limitação da coluna
Cervical, abertura Oral <3 cm, Coma, Hipoxemia e operador não Anestesiologista intubou
previamente.
** LEMON: Look (olhar externo: micrognatia, deformidades de face) Evaluate (3:3:2),
Mallampatti, Obstrucao/obesidade, Neck(pescoço sem mobilidade)

Referências:
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