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UNIVERSDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

USINA HIDRELÉTRICA DE XINGO.


PERSPECTIVA DO TURISMO EM
CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO-SE

ILKA MARIA ESCALIANTE BIANCHINI

ORIENTADORA PROF.DRA. SUÍSE MONTEIRO


LEON BORDEST

Cuiabá, MT, agosto de 2006


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

USINA HIDRELÉTRICA DE XINGO.


PERSPECTIVAS DO TURISMO EM
CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO – SE

ILKA MARIA ESCALIANTE BIANCHINI

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Ciências Humanas e Sociais,
Universidade Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em Geografia.

ORIENTADORA PROF.DRA. SUÍSE MONTEIRO


LEON BORDEST

Cuiabá, MT, Junho/ 2006


BIANCHINI, Ilka, Maria Escaliante
B577. Usina hidrelétrica de Xingo:
Perspectivas do Turismo em Canindé do São Francisco – Se.
Aracaju , 2006. 100p.

Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Mato


Grosso – UFMT, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Programa de Pós
Graduação em Geografia, 2006

Orientador: Suíse Monteiro Leon Bordest


Bibliografia: p. 99 - 106
1. Geografia Regional- Sergipe 2. Desenvolvimento sustentável
3. Turismo- Sergipe 4. Usina Hidrelétrica -Xingó - Sergipe

CDU: 913:379.85 (813.7)


DEDICO

À
Izadora

Pelas muitas horas de ausência,


mas o amor sempre presente.
AGRADECIMENTOS

Neste caminho encontrei muitas pessoas queridas, algumas mais


pareciam anjos, e todas deixaram sua marca na minha vida. Agradecer é
pouco diante do muito que contribuíram para a realização deste trabalho.
Assim quero lembrá-los como foram preciosas suas palavras, gestos, carinhos.
À minha família, pelo apoio e torcida.
À Professora Suise Bordeste, sempre acreditando e incentivando.
À Maria Ângela Barros Moraes, um anjo de luz na reta final.
Aos sempre amigos de Cuiabá, todos, que mesmo longe estão
comigo.
Aos novos amigos de Sergipe, pela recepção fraterna.
Aos professores e funcionários do NPGEO da UFMT e da UFS pelos
conhecimentos transmitidos e solicitações atendidas.
Aos amigos da FaSe e SENAI, entendendo as ausências, ajudando
e contribuindo, em todas as etapas.
Aos meus alunos, que pacientemente conviveram comigo.
E a todos aqueles que fizeram parte desse processo, iluminando
meu caminho com informações, sinais, contribuições, pitacos, paciência e
amor, muito amor.
EPÍGRAFE

Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir...


Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.

Cora Coralina
RESUMO

BIANCHINI, Ilka Maria Escaliante. Usina Hidrelétrica de Xingó. Perspectivas do


Turismo em Canindé do São Francisco – SE: Suíse Monteiro Leon Bordest.
Cuiabá: UFMT 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia).

Esta dissertação tem como propósito refletir as contribuições do


turismo na vida econômica e social do município de Canindé de São Francisco
– SE a partir da construção da Usina Hidrelétrica de Xingó, das mudanças
ocorridas na qualidade de vida dos habitantes e no meio ambiente. Pretendeu-
se trabalhar sob a ótica do desenvolvimento sustentável para perceber o
panorama atual das potencialidades ambientais para o turismo, as condições
de uso da estrutura e infra-estrutura da cidade, de seus equipamentos e
serviços turísticos e as necessidades e possibilidades de expansão da
atividade turística. Parte-se da hipótese que com a construção a Usina
Hidrelétrica de Xingó o turismo passou a contribuir de forma positiva no
processo de desenvolvimento do município, e desenhar novos rumos de
crescimento econômico e social para a população, pois o município apresenta
contradições como boa arrecadação de impostos e grandes problemas
estruturais além de uma população bastante carente, carecendo de
oportunidades. Considerando que o turismo bem planejado é capaz de fornecer
diferentes caminhos para a prática de um desenvolvimento sustentável pensou-
se ainda com este trabalho ampliar a oferta de subsídios documentais a
investidores potenciais para o turismo na região, bem como orientar a
elaboração de políticas públicas e planejamento turísticos para Canindé do São
Francisco.

Palavras chave: espaço, meio ambiente, turismo, desenvolvimento sustentável.


ABSTRACT

BIANCHINI, Ilka Maria Escaliante. Usina Hidrelétrica de Xingó. Perspectivas do


Turismo em Canindé do São Francisco – SE. Orientadora: Suíze Monteiro Leon
Bordest. Cuiabá : UFMT 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia).

This dissertation has the purpose of reflecting on the contributions of


the tourism in the economic and social life of the city of Canindé do São
Francisco - from the construction of the Plant Hydroelectric of Xingó, of the
occurred changes in the quality of life of the habitants and in the environment. It
was intended to work under the optics of the sustainable development to
perceive the current panorama of the ambient potentialities for the tourism, the
conditions of use of the structure and infrastructure of the city, of its tourist
equipment and services and the necessities and possibilities of expansion of
the tourist activity. It has been departure of the hypothesis that with the
construction the Plant Hydroelectric of Xingó the tourism started to contribute of
positive form in the process of development of the city, and to draw new routes
of economic and social growth for the population, therefore the city presents
contradictions as good tax collection and great structural problems beyond a
sufficiently pore population, lacking of chances. Considering that the well
planned tourism is capable to supply different ways for the practical one of a
sustainable development it was still thought with this work to extend offers of
documentary subsidies the potential investors for the tourism in the region, as
well as guiding the public elaboration of tourist politics and planning for Canindé
do São Francisco.

Key-words: space, environment, tourism, sustainable development


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.


CVC – CVC Operadora Turística.
GLS – Gays, Lésbicas e Simpatizantes.
GOL – Gol Linhas Aéreas.
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços.
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.
MAX – Museu Arqueológico de Xingó.
OMT – Organização Mundial do Turismo.
PETROBRÁS – Petróleo Brasileiro S/A.
PNB – Produto Nacional Bruto.
PNMT – Programa Nacional de Municipalização do Turismo.
TAM – Transporte Aéreo Marília.
UFS – Universidade Federal de Sergipe.
UHX – Usina Hidrelétrica de Xingo,
Varig – Viação Aérea Rio Grandense.
LISTA DE FIGURAS E QUADROS

FIGURA 01: Sergipe – Divisão Política ........................................................... 15


FIGURA 02: Sergipe – Micro-Regiões ............................................................. 61
FIGURA 03: SERGIPE – Trajetos a Canindé do São Francisco ..................... 66
FIGURA 04: Barragem da Usina Hidrelétrica de Xingó ................................... 69
FIGURA 05: Lago da represa e muro de contenção ....................................... 70
FIGURA 06: Paredões do Talhado – Rio São Francisco ................................. 73
FIGURA 07: Leito do Rio São Francisco ......................................................... 74
FIGURA 08: Karrancas Bar e Restaurante ...................................................... 75
FIGURA 09: Escuna Maria Bonita na área de banho do Talhado ................... 76
FIGURA 10: Museu Arqueológico de Xingó .................................................... 79
FIGURA 11: Museu Arqueológico de Xingo .................................................... 80
FIGURA 12: Xingo Parque Hotel ..................................................................... 83
FIGURA 13: Xingo Parque Hotel ..................................................................... 83
FIGURA 14: Catamarã Cotinguiba .................................................................. 85
FIGURA 15: Escuna Maria Bonita ................................................................... 85
FIGURA 16: Vista do interior da Escuna Maria Bonita .................................... 86
LISTA DE ANEXOS

ANEXO 01: LISTA DE ENTREVISTADOS


ANEXO 02: GLOSSÁRIO
ANEXO 03: PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO SÃO FRANCISCO
SUMÁRIO

FOLHA DE APROVAÇÃO..................................................................................ii
DEDICATÓRIA...................................................................................................iii
AGRADECIMENTOS.........................................................................................iv
EPÍGRAFE...........................................................................................................v
RESUMO............................................................................................................vi
ABSTRACT.......................................................................................................vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..........................................................viii
LISTA DE FIGURAS E QUADROS....................................................................ix
LISTA DE ANEXOS............................................................................................x
SUMÁRIO...........................................................................................................xi
INTRODUÇÃO...................................................................................................13

CAPÍTULO 1
1. O TURISMO SOB O OLHAR GEOGRÁFICO: NA
GUISA DE UMA DEFINIÇÃO.................................................................18
1.1 Uma breve reflexão histórica do turismo.....................................28
1.2 Sobre os impactos do Turismo......................................................33
1.3 Turismo e Desenvolvimento Sustentável.....................................38
1.4 Turismo e Planejamento.................................................................47

CAPÍTULO 2
2. TRAJETÓRIA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................54

CAPÍTULO 3
3. A REGIÃO DE XINGÓ – UMA UNIDADE MULTIPLICADORA EM
SERGIPE................................................................................................60
3.1 Canindé do São Francisco – Conhecendo o quadro natural.....62
3.2 Viajando a Canindé do São Francisco..........................................65
3.3 Canindé do São Francisco, uma história entrelaçada à
história do Rio São Francisco e seus atrativos...........................67
3.4 Os atrativos naturais ensejam um turismo cada vez maior......72

CAPÍTULO 4
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES.............................91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................99

ANEXOS
INTRODUÇÃO

O turismo possui e gera benefícios que são reconhecidos no mundo


todo, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil se apresenta
como um fenômeno recente, porém não menos significante do que na Europa e
países norte-americanos. Ainda incipiente em alguns Estados brasileiros,
quase sempre é acompanhada de impactos negativos, decorrentes de sua
prática desordenada. Isso devido ao desconhecimento da maioria das pessoas,
em relação aos possíveis danos socioambientais. A identificação destes
impactos é ponto importante para, a instalação de infra-estrutura e
equipamentos de suporte turístico com vistas ao desenvolvimento sustentável
de uma região. Estudos de cientistas nacionais e estrangeiros informam que
algumas áreas de visitação turística apresentam uma alta densidade de
visitantes, enquanto que outras são praticamente inexploradas.

Para CRUZ, a situação do estado de Sergipe e Paraíba no


turismo é bastante parecida e decorre da soma de diversos
fatores. “Dois Estados que têm tantos recursos naturais
turísticos quanto todos os outros estados nordestinos, mas que
não conseguiram alcançar os índices desejados de
desenvolvimento na sua atividade” (1999: 214).

A região de Xingó, localizada a 213 km de Aracaju, capital de


Sergipe e escolhida para o desenvolvimento da pesquisa, compreende três
Estados brasileiros Sergipe, Alagoas e Bahia, porém o foco deste estudo é a
cidade de Canindé do São Francisco em Sergipe.

Integrante da Região Nordeste, o Estado de Sergipe ocupa 1,41%


dessa área regional, e 0,2% da área total do Brasil. É formado por 75
municípios, 13 micro-regiões, com seis bacias hidrográficas cortando seu
espaço (Vide Figura 1).

O Rio São Francisco é o principal fornecedor de água da região


semi-árida, não só de Sergipe, mas também do Nordeste, possuindo excelente
potencial hidrelétrico, onde estão instaladas, dentre outras, as usinas de Paulo
Afonso/BA e Xingo/SE.

O município de Canindé de São Francisco, distante 213 quilômetros


da capital do Estado - Aracaju passou a ter significativa importância política e
econômica para o Estado, após a construção da Usina Hidrelétrica de Xingo -
UHX, que gera 25% da energia elétrica consumida na região Nordeste. A
receita do município, proveniente do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços – ICMS é a segunda do Estado, perdendo apenas para a receita de
Aracaju.

Devido à construção desta usina e o conseqüente represamento de


águas formando um grande lago, a área do antigo povoado de Canindé do São
Francisco foi considerada de risco de alagamento. Assim, foi planejada uma
nova sede municipal que, apesar do planejamento de urbanização, a infra-
estrutura executada não foi suficiente, para atender o elevado número de
pessoas que para ali se dirigiram, em busca de trabalho e melhores condições
de vida. Dentro desse contingente populacional estão aqueles trabalhadores
recrutados para a construção que, depois de concluídos os trabalhos, não
retornaram para suas áreas de origem, e aqueles que foram atraídos pelo
sonho de melhores condições de vida na nova cidade.
Canindé do
São Francisco
A
GUIANA L
VENEZUELA SURINAME A
GUIANA G
Poço Redondo
FRANCESA O
COLÔMBIA Porto da A
Folha
S
RR Gararu
AP
N. S. de
Monte Alegre Lourdes
de Sergipe
Itabi Amparo do
São Francisco
Canhoba
N. S. da Graccho Telha
AM MA Glória Cardoso
PA CE
RN Propriá Santana do
Aquidabã São Francisco
PB Feira Cedro de
PI Nova São João
Carira Malhada
PE N. Senhora dos Bois Neópolis
AC Aparecida S. Francisco Japoatã
Cumbe
TO AL Muribeca
S. Miguel

B A H I A
RO SE do Aleixo
N. S. das Ilha das Brejo
PERU B R A S I L BA Dores Capela Pacatuba Flores Grande

Frei Paulo Ribeirópolis


MT
Pinhão
DF Pedra Moita Siriri
Japaratuba
Mole Bonita
GO Santa Rosa Carmópolis
BOLÍVIA de Lima Divina
Macambira Itabaiana Malhador Pastora Gal. Maynard
MG Pirambu
FIGURA 1

Maruim Rosário do
Poço Verde Catete
ES São Areia Riachuelo
MS Simão Dias Domingos Campo
do Brito Branca
Laranjeiras Santo Amaro
PA
R das Brotas
AG SP RJ N. S. do
Socorro
U Barra dos
AI Coqueiros
PR Lagarto
São
Cristóvão ARACAJU
SC Itaporanga
SERGIPE – DIVISÃO POLÍTICA.

Riachão do Salgado D'Ajuda


Dantas
RS
Boquim 0 10 20 30km
Tobias
Barreto

Pedrinhas
Itabaianinha Estância

B
ARGENTINA Arauá - SEDE DE MUNICÍPIO
URUGUAI

A
Tomar Santa Luzia
do Geru do Itanhy - CAPITAL
H Umbaúba
- LIMITE INTERESTADUAL

C H I L E
I A

- LIMITE INTERMUNICIPAL
Cristinápolis Indiaroba
- RIO
SEM ESCALA

FONTE: Atlas Sergipe, 2001.


ORGANIZAÇÃO: Ilka Bianchini
DIGITALIZAÇÃO: Marcelo H. A. Araújo.
Diante desse fato a cidade atualmente apresenta sérios problemas
habitacionais e de infra-estrutura, bem como elevado número da população
vivendo na linha da pobreza graças ao desemprego. Enquanto que do outro
lado do Rio São Francisco a Cidade de Piranhas em Alagoas apresenta grande
desenvolvimento, graças ao turismo ali realizado após a construção da UHX.

Considerando as diversas possibilidades de equipamento e serviços


turísticos para o município de Canindé do São Francisco, bem como novos
usos para os já existentes na vida atual da represa de Xingó, deve-se fornecer
novos pontos para a prática de um turismo sustentável e permitir alternativas
de desenvolvimento equilibrado para a população.

Considerando que atualmente as políticas públicas estão voltadas


para o Desenvolvimento Sustentável da biodiversidade e da sociedade,
principalmente aquela mais carente. E, para que se possam estabelecer linhas
de planejamento é necessário antes de tudo, compreender a atual utilização do
espaço geográfico e identificar as atuais ações do Estado junto à área definida.
Estabelecer novos usos para a área, projetando um desenvolvimento com
sustentabilidade para a sociedade através da atividade turística na represa de
Xingo, poderá possibilitar a aplicação pelo Estado das referidas políticas
federais de sustentabilidade ambiental e desenvolvimento social.

Paralelamente faz-se mister investigar produtos e roteiros potenciais


para o turismo social sustentável, pois através disso é possível propor
atividades de sensibilização aos sujeitos envolvidos na produção do turismo,
em relação aos excessos cometidos durante a visita e a utilização do espaço.
Perceber a necessidade da sinalização turística no entorno e na represa e
desse modo é que se pode ampliar a oferta de subsídios documentais a
investidores potenciais para o turismo na região.

Nesta trajetória a presente dissertação encontra-se disposta em


quatro capítulos. No primeiro capítulo foram desenvolvidas reflexões teóricas
do turismo sob o olhar geográfico, na guisa de uma definição a partir da leitura
de teóricos da Geografia e do Turismo. O segundo capítulo demonstra a
trajetória e os procedimentos metodológicos para a realização do trabalho. No
terceiro capítulo faz-se a descrição da Região de Xingó, e narra a trajetória
histórico-geográfica porque passou o município de Canindé do São Francisco
concomitante à história do Rio São Francisco e por fim a exposição da situação
vivida pela população local, após a construção da Usina Hidrelétrica de Xingó.
O quarto e último capítulo comporta as considerações finais e as
recomendações.

Deseja-se que esta dissertação possa contribuir para o


desenvolvimento da região estudada, bem como para a valorização e
ampliação de novos estudos e considerações sobre o complexo processo de
planejamento e fomento da atividade turística, pois a elaboração de Produtos
Turísticos poderá servir de orientação para empreendedores e municípios
organizarem serviços e produtos que possam vir efetivamente fomentar a
economia local. Espera-se que novas configurações e interpretações possam
surgir como contribuição ao arcabouço teórico da temática.
CAPÍTULO I

1. O TURISMO SOB O OLHAR GEOGRÁFICO: NA GUISA DE UMA


DEFINIÇÃO.

A existência do homem e a necessidade de produzir seus meios de


vida são os pressupostos da evolução histórica do trabalho humano. A partir do
momento que o homem se tornou sedentário, alterou suas atividades de
produção para reprodução dos bens necessários à sua sobrevivência. No
trabalho ele define o seu modo de produção e compõe novas formas ao espaço
geográfico.

De acordo com Moreira (1994, p. 85-86) O espaço geográfico é a


materialidade do processo do trabalho. É a “relação homem-meio” na sua
expressão historicamente concreta. (...) O processo do trabalho é a
transformação da natureza em produtos úteis aos homens.

Assim, considera-se que a história da vida do homem está vinculada


à história da natureza, numa relação impossível de dissociar. O homem
historicizando a natureza e esta naturalizando o homem.

A organização da produção espacial será diferente de acordo com a


diversidade das sociedades estabelecidas. Os espaços geográficos serão
compostos de espaços naturais socializados, planejados, construídos,
organizados, vividos, percebidos, degradados ou preservados na exploração
de seus recursos.

A geografia ao explicar a configuração dos diversos espaços,


esclarece a formação de territórios e as territorialidades consolidadas na
paisagem, pela cultura dos diferentes povos que nela imprimem suas marcas,
seus costumes e seus modos de produção, para a sobrevivência ou
acumulação do lucro conforme o sistema político-econômico vigente.
A geografia e o turismo, portanto, estão intimamente ligados. De
acordo com CORIOLANO,

Explicar o turismo implica estudar o espaço geográfico, pois os


turistas viajam para conhecer lugares, havendo, portanto, uma
relação estreita entre a Geografia e o Turismo. O turismo
materializa-se de forma contundente na lógica da diferenciação
geográfica dos lugares e das regiões. Tornou-se assim,
importante aos geógrafos para a compreensão do
desenvolvimento regional (2005, p.12).

Relacionar o turismo com o desenvolvimento regional poderá


fundamentar o conceito de região turística que se configura como o de espaço
geográfico que apresenta características e potencialidades similares e também
complementares, capazes de serem articuladas e que definirão um território.
Sendo este território caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o
ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e por
uma população com grupos sociais distintos de resistências e solidariedades.
Segundo CORIOLANO,

O caráter geográfico do turismo manifesta-se de forma tão


evidente no espaço que precisa ser estudado seja por suas
evidências empíricas, seja por suas normas, regras e modelos
que regem as relações do turismo com o território. O turismo,
ao movimentar as pessoas e intensificar o uso do espaço e dos
recursos naturais, torna-se indutor do desenvolvimento regional
(2005, p. 19).

Considerando que o desenvolvimento regional se realiza no espaço


geográfico e cabendo à geografia a conceituação deste espaço, recorre-se ao
conceito de SANTOS, quando sugere que a Geografia poderia ser construída a
partir da consideração do espaço como um conjunto de fixos e fluxos. “Os
elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o
próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais
e as condições sociais, e redefinem cada lugar” (1997, p. 50). Refletindo que os
fixos e fluxos se interagem para expressar a realidade de uma dada porção
territorial, assim relata o autor, que atualmente os fixos são cada vez mais
artificiais e fixados ao solo, enquanto que os fluxos são mais diversos e
amplos, mais numerosos e rápidos.

Diante da possibilidade de analisar este espaço turístico como espaço


construído a partir do planejamento de fluxos sobre um fixo estabelecido
anteriormente, se referindo à construção da Usina Hidrelétrica de Xingó como
um fixo – ‘objeto técnico’(SANTOS) imutável e o turismo como o conjunto de
fluxos instituídos sob um planejamento amplo e cada vez mais rápido para a
configuração territorial. Essa, estabelecida pelas relações sociais existentes
desde o começo1 da história da humanidade.

O espaço passa a ser formado, segundo SANTOS, “como por um


conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos
e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro
único no qual a história se dá” (1997, P. 51). E para o autor esses sistemas de
objetos são cada vez mais artificiais e cada vez mais tendentes a fins
estranhos ao lugar e aos seus habitantes. Entendendo que a Usina de Xingó se
enquadra no sistema de objeto, o turismo a ser empreendido será parte do
sistema de ações que formam a configuração territorial do município de
Canindé do São Francisco.

A sustentabilidade das gerações futuras reforça o caráter temporal do


espaço, pois o tempo é complemento do espaço, não há espaço sem tempo e
nem tempo sem espaço na construção da história da humanidade.

A história das relações de produção é a das relações sociais


empreendidas pelo homem nos diversos espaços, em diferentes épocas, que
analisadas sob o olhar geográfico, dão conta das relações de poder que
formaram os territórios nacionais.

1
“No começo da história do homem, a configuração territorial é simplesmente o conjunto dos complexos
naturais. À medida que a história vai fazendo-se, a configuração territorial é dada pelas obras dos homens.
(...) Cria-se uma configuração territorial que é cada vez mais o resultado de uma produção histórica e
tende a negação da natureza natural, substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada”
(SANTOS, 1997, p. 51).
A nação, de essência política com bases étnicas e culturais, se afirma
pelas suas instituições e as relações de poder realizadas, formando os
territórios e as territorialidades que se dará em tempos diversos dentro de um
determinado espaço.

A estratégia da regionalização é a de compartimentar os espaços de


uma determinada porção territorial, visando estabelecer relações de trabalho
diversas em porções menores – “o espaço real é real porque é possível
comprovarmos sua existência e deslocarmo-nos por ele, e mesmo, em muitos
casos modifica-lo” (BOULLÓN, 2002, p. 77). Com vistas a alcançar resultados
imediatos, num contexto geral amplo irá permitir estabelecer o planejamento
turístico para cada região detentora de espaço potencial que, segundo
BOULLÓN,

Espaço potencial é a possibilidade de destinar o espaço real a


algum uso diferente do atual; portanto, o espaço potencial não
existe no presente, sua realidade pertence à imaginação dos
planejadores, quando, depois do diagnóstico, (...) estudam-se
as possibilidades de uso de um território (2002: p. 77-78).

Esse território visto como aquele que no âmbito da

geograficidade ou, territorialidade, que vincula os homens ao


meio, à terra, ao espaço. (...) No bojo da crise contemporânea,
estaríamos vivendo um processo de reterritorialização, ou seja,
de construção de novos territórios (HAESBAERT: 2002, p. 117-
118).

A construção de novos territórios aqui se reconhece, de acordo com


LENCIONE, como uma construção intelectual do pesquisador, assim como a
região o é na concepção hartshorniana, pois as regiões não são auto-evidentes
assim como, para pensar o território, “o pesquisador não deve se limitar à
apreensão dos fenômenos mais evidentes da realidade, pois outros, não tão
aparentes, podem ser fundamentais para a análise” (2003, p. 127).
Como elemento fundamental para análise do território, aponta-se a
necessidade evidenciada pelo pensamento ratzeliano, que aponta a existência
do território apenas quando nele existe a população, pois o espaço natural sem
a sua população jamais formará o território e consequentemente o Estado.

O território, sendo um fator constante em meio à variação dos


acontecimentos humanos, representa em si e por si um
elemento universal. (...) A exata valorização do elemento
humano na história não pode ser obtida senão mediante o
estudo das condições em meio às quais o homem realiza sua
obra política (MORAES, 1990, p. 76-81).

A política produz trunfos de poder que estabelecidos dentro de uma


região – espaço geográfico determinado visa o controle e a dominação sobre
os homens e sobre as coisas. O que RAFFESTIN denomina de divisão
tripartida da geografia política: a população, o território e os recursos. A
população é a primeira a ser analisada, porque dela emana todo o poder que
será exercido para a apropriação dos recursos e a capacidade virtual de
transformação. Portanto é no território que a população exerce sua ação.
“Deve-se admitir que há uma infinidade de campos de poder num sistema
social em razão da multiplicidade de relações possíveis” (1993, p. 58-64).
As relações humanas pautadas pela organização social do Estado
priorizam como objetivo principal o lucro, sob a égide do modo de produção
vigente: o capitalista. No Turismo, segundo BENI,

pode-se imaginar, a priori, que tanto a área estatal como a


empresarial têm como objetivo real o lucro. O Estado espera da
atividade turística o superávit no balanço de pagamentos na
conta específica, em razão do ingresso de divisas, e as
empresas que atuam no setor igualmente dimensionam a
prestação de seus serviços em razão da lucratividade dos
investimentos necessários (2001, p. 25).
Sobre o turismo, não se pode iniciar a atividade turística sem a
estrutura do “Produto Turístico” formatado. Para tanto Mário Beni coloca

(...) o produto turístico é o resultado da soma de recursos


naturais e culturais e serviços produzidos por uma pluralidade
de empresas, algumas das quais operam a transformação da
matéria-prima em produto acabado, enquanto outras oferecem
seus bens e serviços (...) a demanda é gerada pelos clientes
potenciais, que estão dispostos a consumir o produto mediante
a propaganda de seus atributos (2001, p. 26).

Segundo este autor, a atividade turística tem início a partir de um


atrativo, na maioria das vezes natural, que a princípio é freqüentado por jovens,
depois passa a ser visitado por pessoas de classe social alta, com suas
necessidades de consumo que atraem os investidores. Na seqüência, a classe
média também inicia um processo de visita, e finalmente as classes sociais
mais baixas chegam, muitas vezes encontrando o atrativo já bastante
degradado, isso pode ser visualizado em diversas localidades do país, como
Balneário Camboriú - SC, Porto Seguro - BA, Porto de Galinhas – PE. Estas
cidades se encontram em níveis distintos do processo de desenvolvimento
turístico.
Estes atrativos naturais são percebidos pela paisagem que apresenta
características propícias à visitação pública. O turista irá desenvolver
inicialmente como lazer, a apreciação e o usufruto das potencialidades
oferecidas por este ambiente, e, conseqüentemente outras atividades
oferecidas pela infra-estrutura existente naquela paisagem do lugar. Na relação
paisagem e espaço, para SANTOS, todos os espaços são geográficos porque
são construídos – determinados pelo desenvolvimento das atividades humanas
neles estabelecidas. “(...) tanto a paisagem quanto o espaço resultam de
movimentos superficiais e de fundo da sociedade, uma realidade de
funcionamento unitário, um mosaico de relações, de formas, funções e
sentidos” (1988, p. 61). Assim, para este autor a paisagem é,
Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a
paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível,
aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes,
mas também de cores, movimentos, odores, sons etc. (...) a
paisagem toma escalas diferentes e assoma diversamente aos
nossos olhos, segundo onde estejamos (...). A paisagem
artificial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto (...)
que a paisagem natural é aquela ainda não mudada pelo
esforço humano (idem, p. 61-64).

Entende-se que a paisagem não é somente a soma de vários elementos, mas


a integração deles, como uma combinação dos elementos físicos e biológicos
que com a ação humana sob um modo de produção irão compor um conjunto
único e indissociável, em perpétua evolução. Considera-se então que “Se um
lugar não é fisicamente tocado pela força do homem, ele, todavia, é objeto de
preocupações e de intenções econômicas ou políticas” (SANTOS, 1988, p. 64).
Pode-se então perceber que a paisagem e o lugar sofrerão permanente ação,
SANTOS define que a lógica de construção de um objeto no passado obedecia
à lógica de produção daquele momento. Ele esclarece que são os acréscimos
e as substituições realizadas num determinado espaço em um dado tempo
histórico da sociedade que irão compor a paisagem.

Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de


objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos
diferentes momentos. (...) O homem vai construindo novas
maneiras de fazer coisas, novos modos de produção que
reúnem sistemas de objetos e sistemas sociais. O espaço
resulta do casamento da sociedade com a paisagem (1988, p.
66-72).

O espaço turístico da região de Xingó configurado pelas diversas ações ali


realizadas pelo homem, no dizer de SANTOS, dos objetos (estradas, pontes,
usinas hidrelétricas, portos etc.) e ações (obedecendo ao modo de produção da
sociedade) que “são acréscimos à natureza sem os quais a produção é
impossível. (...) heterogeneidade de formas, mas subordinada a um movimento
global. (...) herança de muitos momentos” (1988, p. 65-66).
A paisagem da região de Xingó com a construção da Usina Hidrelétrica
de Xingó e o represamento das águas formando a represa, o lago, recebeu
novas possibilidades para a exploração do turismo com vistas ao
desenvolvimento sócio-econômico para o município de Canindé do São
Francisco.

Tomando por base os dados da OMT sobre a sua contribuição ao


desenvolvimento econômico; nota-se que o turismo é a atividade que mais
cresce no mundo, gerando mais emprego e renda do que muitas atividades
propulsoras da economia mundial. Porém, esse crescimento muitas vezes é
acompanhado de diversos impactos negativos, entre eles o ambiental. Nem
sempre o turismo será a solução para problemas econômicos das localidades,
em muitos casos ele passa a ser o causador dos mesmos, como a degradação
ambiental e até mesmo a extinção dos recursos naturais em algumas regiões.

Um aspecto negativo para o turismo são os impactos


socioambientais que ocorrem em diversos aspectos, como: o lixo gerado, o
esgoto produzido, a poluição do ar, das águas, a visual, sem contar com a
descaracterização cultural que acomete as comunidades.

De acordo com RUSCHMANN,

Para prevenir os impactos ambientais do turismo, a


degradação dos recursos e a restrição do seu ciclo de vida, é
preciso concentrar os esforços em um desenvolvimento
sustentável não apenas do patrimônio natural, mas também
dos produtos que se estruturam sobre todos os atrativos e
equipamentos turísticos (1997, p. 108).

Assim, considera-se que o desenvolvimento do turismo só ocorrerá


com planejamento e participação comunitária. Definindo o respeito ao meio
ambiente natural e a harmonia entre a cultura e os espaços sociais da
comunidade receptora, priorizando-se o turismo com ações voltadas para uma
situação, não utópica, mas ideal de trabalho.
Até agora o modelo de desenvolvimento turístico foi baseado em
turismo de massa2, com algumas exceções de ecoturismo, e turismo de elite.
Nesse modelo há um favorecimento às grandes redes hoteleiras, companhias
aéreas, e operadores turísticos, caracterizando o monopólio e oligopólio do
setor. É um modelo que exige vários investimentos em infra-estrutura por parte
do governo e empresários, e em alguns casos, como Porto Seguro e Balneário
Camboriú, mostrou-se ineficiente na questão ambiental e cultural.

De acordo com TRIGO,

O ato de se deslocar geograficamente implica contatar culturas


diferenciadas. Quem viaja não pode ser xenófobo ou
etnocentrista. Precisa compreender que não existem costumes
universais. Há o mundo multifacetado, pluralista e
extremamente variado, especialmente quando transformado
pelas novas tecnologias (1999, p. 52).

Essas tecnologias refletem a posição do mercado capitalista, sobre o


modelo massificado de exploração turística, normalmente para a comunidade
receptora só restam empregos de baixa qualificação ou subempregos na área
informal. A ela não é permitida a participação intensa e ativa no
desenvolvimento, ficando essa a cargo das grandes empresas monopolísticas
do setor.

No entanto, aponta-se que há espaços para todo tipo de produção


que com preparação e financiamento adequados, a comunidade pode ser
mobilizada e implantar pequenos empreendimentos ligados ao setor turístico,
formando assim uma rede de desenvolvimento sustentável na localidade, e a
renda proveniente do turismo seria mantida, em grande parte, no próprio local.

Refletindo sobre as tendências para o desenvolvimento do turismo,


RUSCHMANN aponta que,

2
Segundo RUSCHMANN, “turismo caracterizado pelo grande volume de pessoas que viajam em grupos
ou individualmente para os mesmos lugares, geralmente nas mesmas épocas do ano – vem sendo
considerado o maior agressor dos espaços naturais” (1997, p. 110).
A extrema valorização dos aspectos econômicos do turismo
tem negligenciado os estudos e a consideração dos aspectos
relacionados com o meio ambiente natural, a cultura e os
aspectos psicossociais das comunidades receptoras (2000, p.
164).

Segundo BENI (2001, p. 60), para se promover a conservação dos


recursos turísticos naturais, e planejar a atividade turística deve-se aplicar
algumas normas. Planejar o uso dos recursos turísticos naturais com base em
planos, projetos, programas e atividades harmônicas com sua quantidade e
qualidade. Proteger os recursos que estão em risco de extinção, mediante a
proibição de caça, pesca e extração vegetal. Rever e corrigir os erros de
manejo em ecossistemas alterados com programas de reflorestamento,
combate de pragas, regeneração do solo, e tratamento de água. Aproveitar
totalmente um recurso, evitando seu desperdício e aumentando sua quantidade
e qualidade. Utilizar um recurso tantas vezes quantas sejam possíveis,
inclusive adotando a utilização de outros recursos em substituição daqueles
que estão em vias de extinção e a satisfação de várias necessidades mediante
um só recurso, isto é, o uso múltiplo.

A ocupação turística precisa, portanto, acontecer baseada em


3
ecologia , estética, sociedade e planejamento, sendo este último o fiel da
balança do desenvolvimento sustentável que pode ocorrer ou não no núcleo
turístico em questão.

A estética é premissa para o turismo, pois somente com sua


existência é que se inicia o processo de visitação e exploração turística. O
homem sempre busca o belo, o agradável para seus momentos de lazer e
recreação, porém ele mesmo contribui para que a descaracterização do belo
ocorra, ignorando aspectos importantes da ecologia, como deixar intacto tudo
aquilo que ele encontrou é a cultura da “lembrancinha” perpétua. Isso reflete

3
Segundo FERREIRA, (1988, p. 233-234). Ecologia: 1. Parte da biologia que estuda as relações entre os
seres vivos e o meio ambiente em que vivem, bem como as suas recíprocas influências; 2. Ramo das
ciências humanas que estuda a estrutura e o desenvolvimento das comunidades humanas em suas relações
com o meio ambiente e sua conseqüente adaptação a ele, assim como novos aspectos que os processos
tecnológicos ou os sistemas de organização social possam acarretar para as condições de vida do homem.
um pensamento humano baseado no pressuposto de que só ele fará aquilo, ou
seja, ninguém irá repetir o seu gesto.

1.1. Uma breve reflexão histórica do Turismo.

O turismo ao longo da história evoluiu em harmonia combinada com


a estrutura econômica da sociedade e do seu desenvolvimento tecnológico,
pois a economia estabelece classes sociais diferenciadas e com poder
aquisitivo para viver de acordo com seus desejos e modismos. O
desenvolvimento tecnológico estabelece como essas classes vão saciar seus
desejos e consequentemente praticar o lazer viajando. É fato que o turismo só
se desenvolveu mais intensamente, após a revolução industrial (Séc. XVIII),
com a modernização dos meios de transportes e comunicações, quando
tiveram início as primeiras viagens organizadas.

Marco do turismo moderno, Thomas Cook teve um trabalho pioneiro


na organização de viagens.

De acordo com BARRETO,

Em 1841, um vendedor de bíblias, chamado Thomas Cook,


andara 15 milhas para um encontro de uma liga contra o
alcoolismo em Leicester. Para um outro encontro, em
Loughborough, ocorreu-lhe a idéia de alugar um trem para
levar outros colegas. Juntou 570 pessoas, comprou e revendeu
os bilhetes, configurando a primeira viagem agenciada. Em
1846, realizou uma viagem similar de Londres a Glasgow
(Escócia) com 800 pessoas, utilizando os serviços de guias
turísticos (1999, p. 51).
Era o começo do turismo coletivo, a “excursão” organizada, hoje
chamada Pacote, e colocou o turismo na era industrial considerando a projeção
comercial que o setor teve impulsionado por Cook. Mas seu trabalho foi ainda
mais longe, e no âmbito social tornou as viagens mais acessíveis aos
chamados segmentos médios da população, através do financiamento das
viagens, era o início do “Turismo de massa”.

Diversos outros fatores contribuíram também para o


desenvolvimento do turismo e sua transformação em um fenômeno de massa.
Na Europa as cidades passaram por modificações estruturais, como o
tratamento da água e instalação de vias de esgoto; melhoria da segurança com
o policiamento das cidades e também das estradas. A melhoria do sistema de
ensino proporcionou maior índice de alfabetização das pessoas que, passaram
a ter acesso aos jornais, cujas informações as estimulavam a conhecer
diversos lugares. Aliado a estes fatos, houve pela população trabalhadora a
conquista de férias e assim, mais tempo livre para lazer e realizações pessoais,
o que impulsionou ainda mais a formação do mercado turístico.

Entre 1939 e 1945 aconteceu a Segunda Guerra Mundial – o turismo


ficou paralisado. Após a guerra houve um desenvolvimento intenso no
transporte aéreo e o Turismo entra na era do avião. Ainda nesta época, com a
internacionalização da economia no mundo ocidental, o desenvolvimento de
modernos meios de produção e o investimento pós-guerra da América na
Europa arrasada, o consumo de massa emerge com força no mundo todo,
principalmente nos Estados Unidos. Porém o mundo não possuía
preocupações com o meio ambiente, ainda pensava os recursos naturais como
infinitos propícios ao uso da tecnologia em crescente desenvolvimento.

A consciência ambiental e a percepção da esgotabilidade da


natureza começaram a se dar na década de 1960, nos Estados Unidos da
América, com a obra: Primavera Silenciosa4 de Rachel Carson, e o chamado
primeiro mundo passou a se preocupar com o meio ambiente, quando nasce o
conceito de desenvolvimento sustentado ou não-predatório.

4
Obra responsável pelo aparecimento de um novo ecologismo nos Estados Unidos da América nos anos
1960, pois nesta obra a autora denuncia o uso de biocidas, resultando em grande influência nos
movimentos que responsabilizavam a tecnologia moderna pela crise ambiental. CARSON, Rachel. A
Silent Spring. Boston: Houghton Mifflin, 1962.
De acordo com BARRETO,

Os americanos foram pragmáticos: é preciso cuidar dos


recursos naturais porque, caso contrário, eles deixam de dar
lucro. Em outras partes combateu-se a “poluição por turismo” e
hoje o turismo é uma das atividades que mais preserva o meio
ambiente (1999, p. 56).

O turismo expandiu-se sob os auspícios do ambientalismo


exatamente para áreas, onde o ambiente era portador de grande beleza cênica
sem poluição. Desse modo os primeiros países a desenvolver o turismo
receptivo na América Latina foram: Chile, Argentina, Uruguai, instalando os
chamados núcleos de praia.

No Brasil, o turismo como fenômeno social surgiu após 1920, e


sempre foi muito sedimentado no lazer externo, e, apesar de ser classificado
como “de massa”, nunca atingiu o total da população local. Diferente do turismo
europeu que possuía cunho educativo ou de aventura e atingia uma grande
parcela de sua população. Há poucas instituições preocupadas com o turismo
social, e a crise financeira que se arrasta por décadas no país, não permite que
uma grande parcela da população tenha acesso às viagens de longa distância
ou duração.

Nesta busca por novas formas de trabalhar o turismo para fomentar


a economia, vislumbra-se uma exclusão do turismo interno o que contradiz as
palavras de TRIGO, quando ele afirma:

Quem trabalha com turismo não pode ser etnocentrista ou


pregar um nacionalismo excludente. O turismo é um campo no
qual a diversidade cultural e a abertura às novas experiências
fazem parte do cotidiano. Na realidade, há espaço para a
cultura nacional e a importada, em qualquer sociedade
organizada e avançada. Não se pode isolar o país ou uma
região no momento em que a internacionalização da economia
e da cultura acontecem em vários pontos do planeta.
Evidentemente os setores econômicos e culturais mais frágeis
devem ser defendidos contra monopólios e grupos poderosos,
nacionais ou internacionais. Porém o que não pode ser
inviabilizado é um relacionamento mais amplo e o
desenvolvimento geral do país, porque se está preso a dogmas
ultrapassados (1999, p. 74).

Na década de 1970 os Estados do Norte e Nordeste brasileiros


lançaram-se no turismo nacional e internacional focando “sol e praia”,
diferenciando-se das badaladas praias do Sul e Sudeste do país onde a
temperatura ambiente e as águas termais, além da beleza cênica atraíam
turistas de diversas áreas do mundo.
Na década de 1980 inicia-se o incentivo ao turismo receptivo e ao
turismo social por parte de algumas grandes indústrias e governantes com a
criação de colônias de férias. No entanto, até o início da década de 1990, no
Brasil o turismo era tratado de forma amadora. Os diversos planejamentos
realizados não proporcionaram resultados satisfatórios. Apesar disso, o
fenômeno econômico gerador de divisas vem crescendo desordenadamente, e
os Estados na urgência de organizarem a sua economia, bem como o
atendimento às normas da preservação ambiental, priorizam a organização de
espaços turísticos geradores de renda e entretenimento com sustentabilidade
sócio-ambiental.
De acordo com TRIGO (1999) a sociedade pós-moderna exige,
entre outras coisas, qualidade nos produtos que consome. É
uma sociedade indiferente, individualista, cética, que vivenciou
experiências diversas com guerras e terrorismo, e hoje busca
emoções fortes, porém controladas, uma sociedade que
acredita no concreto, em suas próprias experiências, e coloca
em xeque o sistema publicitário.

Trabalhar com uma sociedade que busca minimizar perdas e


maximizar lucros, faz-se necessário aplicar muita criatividade, imaginação,
questionamentos dos modelos atuais de produção e consumo, buscando
extrair o máximo de qualidade dos equipamentos, dos serviços, da interação
turística entre comunidade autóctone, turistas e trabalhadores.
O turismo é atualmente um dos setores da economia mundial que
mais cresce, e segundo a Organização Mundial do Turismo5 somente na
década de 90 cresceu 60%. Indiscutivelmente como atividade econômica já é
considerado como um dos maiores fenômenos na geração de emprego e renda
e isso o coloca em uma posição importante entre os setores tradicionais da
indústria, como a petrolífera, a automobilística e de eletroeletrônicos. Porém do
ponto de vista científico ainda há muito para se realizar, e o tema é responsável
por calorosas e infindáveis discussões sobre seus conceitos e definições.

1.2. Sobre os Impactos do Turismo.

O movimento de mundialização da economia chamado de


Globalização pelos diversos setores político institucionais é um processo de
integração das economias e sociedades dos países, no que se refere à
produção de mercadorias, prestação de serviços, mercado financeiro e à
divulgação da informação. Hoje apresenta um avanço significativo, com
empresas distribuindo seus produtos no mundo inteiro. Essa uniformização de
produtos e padrões sugere que além da economia, os povos também estão se
igualando. No entanto, a realidade demonstra que a globalização tem
contribuído para acentuar as diferenças. SANTOS, considera a globalização no
mundo como uma perversidade, pois

De fato, para a grande maior parte da humanidade a


globalização está se impondo como uma fábrica de
perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A
pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade
de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo
se generalizam em todos os continentes. (...) a mortalidade
infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da
informação. A educação de qualidade é cada vez mais

5
A Organização Mundial de Turismo - OMT é uma agência especializada das Nações Unidas e a
principal organização internacional no campo do turismo. Funciona como um fórum global para questões
de políticas turísticas e como fonte de conhecimento prático sobre o turismo.
inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e
morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção (2000, p.
19-20).

Diante disso a globalização emite a idéia de que o local passa a


pertencer ao mundo, e que o seu concorrente não é mais o vizinho da esquina,
mas simplesmente o mundo, onde o turista o consome como um produto em
uma loja de departamentos. Inclusive insinuando uma generalização da
identidade do turista, colocando-os com os mesmos gostos e anseios. No
entanto AVIGHI relata,

O caso é que a globalização configura um turista cosmopolita,


diferente do consumista provinciano porque vê o mundo, ou
parte dele, como o ecúmeno, um universo mais ou menos
dilatado de perspectivas compartilhadas. Muito mais rica e
vigorosa, e também mais exata do que a noção de “aldeia
global”, o ecúmeno melhor exprime as tendências hoje
esboçadas da globalização (2000, p. 103).

A dialética da economia e cultura na sociedade globalizada sugere


uma divisão, uma separação de interesses que correm em raias opostas, pois
a globalização massifica, e a cultura cada vez mais busca a individualização, a
diferenciação da sociedade.

Em um sentido inverso ao movimento das empresas encontramos o


novo turista, que passa a ser chamado de “turista viajante”, e aproveita as
facilidades eletrônicas do mundo globalizado e busca por novas e diferentes
culturas. A globalização forma um “novo turista”, que não vê o mundo como
uma “aldeia global”, mas cada cultura como única e peculiar.

Assim, torna-se necessário o planejamento adequado da área a ser


explorada pelo turismo, para que a comunidade local e o turista sejam
atendidos de forma satisfatória. De acordo com a OMT,
Se for cuidadosamente planejado, ordenado e gerenciado, o
turismo pode levar benefícios substanciais às comunidades
locais (...). (...) Sem o devido planejamento, desenvolvimento e
gerenciamento, porém o turismo pode resultar em problemas
para a área local (2003: 30-31).

Porém, o desenvolvimento do turismo implica em impactos, que são


a gama de modificações ou a seqüência de eventos provocados pelo processo
de desenvolvimento turístico nas localidades. As variáveis que provocam os
impactos têm natureza, intensidade, direções e magnitude diferentes, porém os
resultados interagem e são geralmente irreversíveis quando ocorrem no meio
ambiente natural.

O Turismo evoluiu aliado ao desenvolvimento dos meios de


produção, e o crescimento populacional trouxe uma série de impactos na
economia, na cultura e no meio ambiente. Estes impactos nem sempre foram
positivos. Registros históricos indicam que alguns ganhos sociais como um
maior tempo livre e o desenvolvimento da tecnologia dos transportes
possibilitaram mais lazer e descanso à população. Neste sentido, TRIGO no
relato do turismo da década de 1990, observa que turismo e lazer são viáveis
com relevada importância sociopolítica sendo muito bom para quem consome e
lucrativo para quem o produz. Porém nos países subdesenvolvidos é ainda um
sonho a ser realizado, principalmente no que se refere às classes sociais
menos favorecidas, se tornando assunto motriz para muitas discussões
(TRIGO 1999).

O turismo é reconhecido, mundialmente, como atividade produtiva e


geradora de emprego e renda, o que por suas propriedades pode promover a
diminuição das desigualdades entre as regiões, principalmente as menos
favorecidas/desenvolvidas, mas com atrativos turísticos. O turismo promove
ainda outra atividade econômica que é a exportação dos produtos artesanais
da comunidade visitada, configurando uma exportação de produtos, sem
custos com transportes e demais impostos.

Para BENI, o turismo é um multiplicador,


O Turismo é manifestação e contínua atividade produtiva,
geradora de renda, que se acha submetida a todas as leis
econômicas que atuam nos demais ramos e setores industriais
ou de produção. Por outro lado, provoca indiretamente
acentuadas repercussões econômicas em outras atividades
produtivas através do efeito multiplicador (2000: 65).

Percebe-se que o espaço do turismo será o do território do dinheiro e da


fragmentação, pois diversos ramos de atividades são necessários para o
desenvolvimento de atividades turísticas. De acordo com SANTOS,

No mundo da globalização, o espaço geográfico ganha novos


contornos, novas características, novas definições. (...) o
espaço geográfico não apenas revela o transcurso da história
como indica a seus atores o modo de nela intervir de maneira
consciente (2000, p. 79-80).

Assim a atividade turística impacta diretamente na economia local,


influenciando consideravelmente na formulação do Produto Nacional Bruto -
PNB, principalmente na Balança Comercial. O setor público recebe os
benefícios do turismo através dos impostos diretos cobrados dos turistas e dos
indiretos, cobrados do setor privado. O impacto direto na economia se reflete
quando resulta da despesa realizada pelos turistas dentro do núcleo receptor –
seja equipamento ou serviços turísticos ou de apoio. Ou ainda, o impacto pode
ser indireto se a despesa efetuada pelos turistas for no consumo dos
equipamentos e prestadores de serviços turísticos e de apoio na compra de
bens e serviços de outros tipos. Isso é o chamado “Efeito Multiplicador do
Turismo”.

O turismo engloba ainda impactos em outras áreas, como a cultural


e a ambiental, pois diversos são os aspectos das viagens pelas quais o turista
conhece a vida e o pensamento da comunidade receptiva. Esses impactos
permeiam o positivo e o negativo na ocorrência da atividade turística. Pois,
segundo BENI, BARRETO e outros autores, os atrativos de uma localidade
compõem-se do natural e do cultural, sendo que assim, a necessidade da
preservação dos mesmos é imprescindível para a continuidade do processo
turístico, bem como da vida sustentável da comunidade.

Nas palavras de SANTOS,

O conteúdo do território como um todo e de cada um dos seus


compartimentos muda de forma brusca e, também,
rapidamente perde uma parcela maior ou menor de sua
identidade, em favor de formas de regulação estranhas ao
sentido local da vida. (...) já que as decisões essenciais
concernentes aos processos locais são estranhas ao lugar e
obedecem a motivações distantes (2000, p. 104-107).

Os reflexos deste impacto se mostram de forma positiva e negativa.


Do lado positivo há um aumento da urbanização, um incremento das indústrias
associadas de transportes, alimentação, souvenires, demanda de mão de obra
para serviços turísticos, mão de obra da construção civil e um aumento da
demanda local de hortifrutigranjeiros. A conservação do patrimônio com a
reafirmação da identidade cultural, intercâmbio cultural, conservação de áreas
naturais importantes, conservação de lugares históricos e arqueológicos, bem
como do patrimônio arquitetônico local. Há também melhoria da qualidade do
meio-ambiente, da infra-estrutura, aumento da consciência sobre o meio
ambiente, criação de áreas protegidas, entre outros (BARRETO, 1999).

Porém, os impactos negativos que o turismo proporciona para uma


comunidade, segundo BARRETO e BENI, podem ser relacionados a: pressão
inflacionária devido à concentração de demanda em períodos muito curtos,
elevando os preços dos produtos e serviços básicos. Mudanças estruturais de
algumas atividades em função da presença da atividade turística e a
dependência econômica do turismo com a comercialização excessiva. Há
também a perda da autenticidade das manifestações culturais com mudança
da identidade cultural, mediante influências no estilo de vida tradicional.
Modificações dos padrões de consumo da comunidade a partir da influência
dos hábitos dos turistas, despertando necessidades econômicas até então
desconhecidas. Relacionamento conflituoso entre hotel e hóspedes devido a
mal-entendidos relacionados a diferenças de idioma, costume, valores e
padrões de comportamento. Aumento da população residente e sazonal, e
conseqüente perda das comodidades dos habitantes resultando num aumento
dos problemas sociais como: drogas, crime e prostituição. Bem como aumento
das agressões ambientais como: poluição da água, do ar, sonora e visual;
problemas de saneamento básico, degradação ecológica, danos aos lugares
históricos e arqueológicos e relativos ao uso e à ocupação do solo.

1.2. Turismo e Desenvolvimento Sustentável.

Segundo o Manual do Programa Nacional de Municipalização do


Turismo – PNMT, sustentabilidade significa desenvolver, sem deteriorar o
patrimônio cultural, os recursos naturais e o meio ambiente, administrando a
utilização e a renovação simultânea dos recursos. Significa ainda procurar
recursos que se renovem e se regenerem mais rapidamente, e ter presente
que é preciso satisfazer as necessidades do momento, sem comprometer a
capacidade de atender às gerações futuras.

No entanto, MORAES relata que as atividades desenvolvidas sob o


discurso do desenvolvimento sustentável, devem ser previamente avaliadas em
suas repercussões, principalmente sociais e ambientais, para a primeira a
manutenção e melhoria da qualidade de vida e, para a segunda fiscalizar se os
impactos necessários para a atividade que se propõe realmente não irão
degradar mais do que preservar. A autora afirma,

No conflito de interesses pelo desenvolvimento sustentável a


questão em pauta é a problemática ambiental que se converteu
numa questão política gerada pelo conflito de interesses em
torno da apropriação da natureza. A globalização do discurso
do desenvolvimento sustentável gerou ideologias
conservacionistas não só nos países do Norte, os quais
desfrutam de hiper-consumismo, mas também nos países do
Sul que, embarcaram em políticas neoliberais para reivindicar
seu direito de consumir os recursos naturais próprios para
impulsionar o crescimento econômico com a esperança de
reduzir a brecha que os separa dos países ricos (2004, p. 38-
39).

De acordo com a Organização Mundial do Turismo - OMT, o


desenvolvimento do turismo sustentável é aquele que

atende às necessidades dos turistas de hoje e das regiões


receptoras, ao mesmo tempo em que protege e amplia as
oportunidades para o futuro. É visto como um condutor ao
gerenciamento de todos os recursos, de tal forma que as
necessidades econômicas, sociais e estéticas possam ser
satisfeitas sem desprezar a manutenção da integridade
cultural, dos processos ecológicos essenciais, da diversidade
biológica e dos sistemas que garantem a vida (2003, p. 24).

Tendo como princípios a sustentabilidade econômica, sociocultural e


ambiental. Na sustentabilidade econômica deve-se assegurar que o
desenvolvimento seja eficiente para a sociedade e que os recursos devem ser
geridos de maneira que possam manter a geração presente e as gerações
futuras. Na sustentabilidade sociocultural deve-se assegurar que o
desenvolvimento aumente o controle das pessoas sobre suas próprias vidas, e
preserve a cultura e os valores da comunidade, reforçando a identidade
comunitária. Já na sustentabilidade ecológica deve-se assegurar que o
desenvolvimento seja compatível com a manutenção do processo ecológico
essencial, com a diversidade biológica e com os recursos biológicos.

Os homens enquanto nômades viviam em liberdade, desfrutando


intensamente de todos os atributos oferecidos pelo meio físico natural, até
mesmo sem se preocuparem em degradar ou preservar, simplesmente porque
suas atividades neste momento, não forneciam nenhuma ameaça ao ambiente
natural. A partir do momento que ele se torna sedentário, passa a ocupar áreas
cada vez maiores, onde a construção das residências e de toda a infra-
estrutura necessária para reprodução da sua sobrevivência, influenciou
diretamente na dinâmica ambiental, na maioria das vezes degradando e
poluindo o ambiente natural. Daí se constituíram os núcleos urbanos – as
cidades - onde a humanidade passa a desenvolver suas atividades de trabalho
e entretenimento. A zona rural – assim denominadas as áreas fora dos núcleos
urbanos – ficou destinada às atividades de produção agropecuária.

Entendendo que neste período o contato do homem com o meio


natural, se realizava apenas nas praças públicas, construídas nas cidades. A
natureza apenas servia aos serviços necessários de produção de alimentos
pelo “homem do campo”, ou seja, o homem da cidade o “urbano” não
visualizava nenhuma atividade de lazer prazerosa na zona rural.

A partir dos discursos ecológicos de proteção e preservação do meio


ambiente, surgiu uma nova sociedade que desgastada do mundo moderno,
onde a tecnologia avançada proporcionou uma poluição generalizada (do ar, do
solo, da água, sonora, auditiva, visual etc.) da zona urbana. Nasce daí uma
sociedade que sente necessidade de rever as formas primitivas naturais.
Conhecer seu conteúdo em lugares onde até então nunca havia vivido ou
pensado para seu lazer e entretenimento.

Neste momento a subjetividade dessa sociedade, com a segurança


que o mundo moderno lhe oferece, está buscando novas formas de prazer e
dentro delas está o lazer e o entretenimento longe de sua “base operacional”
como se pode denominar, o local de residência e trabalho do homem capitalista
contemporâneo.

Essa busca o leva a um reencontro com a natureza, com o cosmos.


O turismo ecológico ou os esportes radicais remetem o homem ao “paraíso
perdido”, ao passado, ao sentir e dar prazer.

O prazer em uma viagem de turismo possibilita o homem ao encontro de


novos significados para a vida cotidiana, que irá alterar sua vida futura, assim o
turismo tem a virtude de atingir a pessoa nos seus mais profundos sentimentos.
“O prazer de viajar nasce da expectativa, da procura do prazer que se situa na
imaginação e não no real. (...) A realidade jamais propicia os prazeres
aperfeiçoados com que o indivíduo se depara nos devaneios” (URRY, 1996, p.
29-30).

Para que ocorra o turismo é necessário que além dos atrativos


naturais ou culturais exista também uma infra-estrutura razoável para receber o
turista. O núcleo receptor, que é o lugar que recebe o turista necessita de uma
série de equipamentos e serviços denominados turísticos e de apoio. Os
equipamentos e serviços turísticos são as chamadas instalações básicas para
o turismo, e que sem elas torna-se difícil o desenvolvimento do mesmo, como
hotéis, alojamentos diversos, transportadoras, agências, guias de turismo,
agentes de recreação, entre outros. Já os equipamentos e serviços de apoio
são aqueles que oferecem a segurança necessária e útil para a população e
consequentemente para o turista, como hospitais, postos de combustível, rede
bancária, souvenires, telefonia, etc. Além disso, qualquer núcleo receptor
precisa ainda da infra-estrutura de acesso e básica urbana que são as
estradas, asfalto, energia elétrica, limpeza pública, esgoto, aeroportos, entre
outras facilidades, que em primeiro lugar beneficia a comunidade, mas também
atenda ao turismo.

O importante é utilizar o turismo como uma ferramenta para


promover as relações culturais e valorizar as localidades turísticas pelos seus
fatores culturais. Desta forma o turista se realiza ao conhecer outras culturas,
ao tempo em que se preservam as localidades e mantém-se a geração de
emprego e renda, um dos bons resultados da atividade turística.

A atividade turística requer relações de gênero que ainda hoje, em


toda sua extensão existe muito preconceito, e os profissionais do turismo em
geral, não estão preparados salvo algumas exceções, precisam de mais
esclarecimentos para lidar, com a sua própria construção do extraordinário
enquanto profissional, e também com a do turista. A falta de seriedade leva a
uma prática amadora do turismo, danificando destinos e relações profissionais.

Se a ordem social revela o perfil de uma civilização, estamos


presenciando a lenta mudança desta sociedade capitalista, onde o nível de
exigência do consumidor está cada vez mais alto, e começaram a surgir ilhas
de oxigênio em meio ao preconceito poluidor, exemplo disto são os hotéis para
o público GLS, só para mulheres, adultos, crianças, entre outros. É uma
abertura que pode significar as mudanças desta sociedade. Esta sociedade
também está mais exigente em relação ao desenvolvimento, e hoje não basta
oferecer um produto bonito, mas também deve ser funcional, responsável
socialmente e ecologicamente.

Os conceitos de desenvolvimento sustentável e de turismo


sustentável estão intimamente ligados à sustentabilidade do
meio ambiente, principalmente nos países menos
desenvolvidos. Isso porque o desenvolvimento e o
desenvolvimento do turismo em particular dependem da
preservação da viabilidade de seus recursos de base.
Encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos que o
turismo estimula e um desenvolvimento da atividade que
preserve o meio ambiente não é tarefa fácil, principalmente
porque seu controle depende de critérios e valores subjetivos e
de uma política ambiental e turística adequada – que ainda não
se encontrou no Brasil e em vários outros países
(RUSCHMANN, 1992d, p. 44).

Certamente se trata de sustentabilidade e turismo sustentável que,


segundo BENI,

O conceito de turismo sustentável é mais abrangente e


transcende a preocupação centrada na conservação e manejo
do meio ambiente e recursos naturais, incluindo os aspectos de
comercialização, marketing, qualidade, produtividade e
competitividade dos bens e serviços turísticos (2001: p. 61).

Desenvolver de forma sustentável parece ainda um sonho remoto,


apesar de a expressão figurar no mundo há aproximadamente duas décadas,
as nações ainda não conseguiram estabelecerem planos e parâmetros para
este desenvolvimento. Os confrontos entre a economia e conservação e
proteção do patrimônio ecológico e cultural, tem nos mostrado que o
capitalismo impera nas decisões e o meio ambiente vem perdendo
significativas batalhas nos países desenvolvidos. Pode ser que a fórmula para
desenvolver, sem deteriorar o patrimônio cultural, os recursos naturais e o meio
ambiente, ainda não tenha sido encontrada. Entretanto, já existem inúmeras
tentativas e a percepção de alguns países e dos turistas já se mostra mais
aguçada, para a busca por modelos em que administrar significa utilizar com a
renovação simultânea dos recursos, e ainda encontrar formas de utilizar os
recursos para que se renovem e se regenerem mais rapidamente.

Se o turismo pode ser considerado um fator de degradação do


meio natural devido a seus equipamentos e a certas formas de
utilização, essa atividade está longe de ser a única que agride
os meios frágeis. Como exemplo cita-se a utilização, altamente
predatória, de inseticidas e pesticidas nas zonas rurais. (...) as
refinarias de petróleo, que comprometem grandes áreas
costeiras e os próprios navios petroleiros que vazam
(RUSCHMANN, 1997, p 81).

O ambiente sendo o local do turismo e o seu desenvolvimento o


pressuposto para crescimento econômico sob a égide do capitalismo, a
sustentabilidade do espaço turístico necessariamente será preservada, pois de
acordo com BOULLÓN,

O espaço turístico é conseqüência da presença e distribuição


territorial dos atrativos turísticos que, não devemos esquecer,
são a matéria prima do turismo. Este elemento do patrimônio
turístico, mais o empreendimento e a infra-estrutura turística,
são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país
(2002, p.79, grifo nosso).

O espaço turístico é pensado pela Organização Mundial do Turismo que


declara,

Há uma estreita conexão ente o turismo e o meio ambiente em


vários aspectos. Muitos elementos do ambiente natural e do
construído são atrativos para os turistas, e o turismo pode
auxiliar na conquista da proteção do meio ambiente. As
instalações e a infra-estrutura turística constituem parte do
ambiente construído, e o desenvolvimento turístico e a
utilização de uma área pelos turistas são capazes de gerar
tanto impactos ambientais positivos quanto negativos. Por
último, o nível geral de qualidade ambiental da área turística é
tão importante para os residentes como para os turistas (OMT
2003, p. 105).

A representação deste espaço na maioria das vezes é feita através


de mapas, em superfícies planas, e mostram que na maioria das vezes os
atrativos são isolados, ou quando muito próximos formando pequenos
complexos. Este espaço entrecortado dificulta um pouco o processo de
planejamento, pois em um país como o Brasil, a regionalização não permite as
mesmas técnicas de desenvolvimento.

O desenvolvimento do turismo, de acordo com MITRAUD, deve


ajudar e não prejudicar uma comunidade.

Todo o desenvolvimento do turismo deve ser empreendido com


uma visão preventiva. O turismo não deve comprometer as
oportunidades de uma economia local diversificada, deve ser
empreendido dentro dos “limites aceitáveis de mudança” (ou
capacidade de carga) e em preferência a outras formas de
desenvolvimento potencialmente mais prejudiciais. No caso de
o próprio turismo ser a atividade mais prejudicial, ele deve
então ser evitado (2003, p. 24, grifo nosso).

O Turismo, apesar de contribuir muito para o desenvolvimento


econômico e humano, impactando de forma positiva em diversas áreas,
também é causador de diversos problemas, principalmente nas áreas
econômicas, ambientais e sociais. Segundo IGNARRA, a exploração turística
deve ser feita com cautela, para que não haja um processo de aculturação,
uma alteração dos valores tradicionais e até mesmo a desconfiguração do
artesanato. O turismo pode ainda impactar negativamente nas manifestações
culturais tradicionais, como o folclore.

Já BARRETO fala que o turismo pode causar diversos problemas


tanto no âmbito sociocultural como no econômico, isso se reflete nas
modificações dos padrões de consumo, na comercialização excessiva e perda
de autenticidade das manifestações culturais, na perda da identidade cultural
mediante influências no estilo de vida tradicional, na modificação dos padrões
de consumo a partir da influência dos turistas nos hábitos de compras da
população local, despertando necessidades econômicas até então
desconhecidas, no aumento dos problemas sociais como: drogas, crime e
prostituição.

Nesse quesito recorre-se a OMT que esclarece,

A manutenção da sustentabilidade do turismo requer o


gerenciamento dos impactos ambientais e socioeconômicos, o
estabelecimento dos indicadores ambientais e a conservação
da qualidade do produto e dos mercados turísticos. Através de
um bom planejamento, desenvolvimento e gerenciamento do
turismo é possível minimizar seus impactos negativos; porém, a
fim de assegurar a continuidade da sustentabilidade do
turismo, o desenvolvimento turístico deve ser continuamente
monitorado, e ações devem ser tomadas, caso apareçam
problemas (OMT, 2003, p. 104).

Ter presente que é preciso satisfazer as necessidades do momento,


sem comprometer a capacidade de atender às gerações futuras, já é realidade
em alguns lugares, e as cidades que possuem os “Patrimônios Naturais da
Humanidade” recebem um intenso fluxo turístico, a ponto de sua economia já
não poder ignorar tal fato, e em alguns casos, depender intensamente dele.
Estamos falando da possibilidade real da existência de turismo sustentável em
convivência pacífica com desenvolvimento econômico.

Ao falarmos de turismo sustentável, temos que abordar temas como


educação ambiental, capacitação profissional, estudo de impacto ambiental,
capacidade de carga, plano de manejo e controle ambiental, pois este conjunto
assegura a sustentabilidade necessária à ecologia, que também está ligada à
economia e a cultura. O desenvolvimento precisa ser equilibrado entre as áreas
mencionadas, a ecológica deve assegurar a manutenção necessária à
diversidade biológica e seus recursos. A economia não pode ser preterida, sob
pena de se ver o trabalho interrompido pela estagnação financeira e ingerência
dos recursos, e finalmente a cultura e seus valores são o que mantém a
identidade comunitária, permite o desenvolvimento, mas conserva suas
características próprias.

(...) a sustentabilidade é um processo permanente de busca do


equilíbrio que provavelmente nunca será alcançado, mas serve
de parâmetro de discussão e análise, procurando-se sempre a
aproximação com a condição ideal, ou seja, o equilíbrio perfeito
entre os três componentes: preservação ambiental, equidade
social e viabilidade econômica (DIAS, 2003, p. 80).

Esta trilogia pode promover e sustentar o desenvolvimento


econômico, manter a qualidade do ambiente e proporcionar satisfação ao
turista e à comunidade, que representa perfeitamente os objetivos do
desenvolvimento e do planejamento do turismo sustentável.

1.3. Turismo e Planejamento.

Falar dos benefícios do desenvolvimento sustentável é também


falar de educação e da correta aplicação dos recursos disponíveis. Nas
pequenas comunidades onde a industrialização é mínima, a implantação de
parques industriais é inviável, e a agricultura já não sustenta a sociedade,
faz-se necessário a criação de uma nova fonte de emprego e renda que não
promova a poluição, ofereça diversas atividades a serem exploradas e
permita aos jovens novas oportunidades. De maneira geral o turismo
preenche todos estes requisitos, e desenvolvido através de um plano
ordenado com princípios de sustentabilidade, não só o governo, mas a
população autóctone e os turistas serão beneficiados, conforme referências
de BORDEST (2002 e2005)6.

O importante papel do município no turismo pode ser


dimensionado quando verificamos o que consome um turista
que se desloca a um destino. A maior parte do que é
consumido está na escala local, ou tem grande
responsabilidade municipal. Do município o turista consome o
meio ambiente, seus recursos turísticos, seus serviços e suas
infra-estrutura, sua cultura, seu povo, seus estabelecimentos
de modo geral, e assim por diante. A soma agregada de todos
esses fatores configura o que convencionamos chamar de
produto turístico (DIAS, 2003, p. 181).

Ao se iniciar um plano de desenvolvimento do produto turístico em


uma pequena comunidade, alguns benefícios devem ser esperados tanto
pela comunidade autóctone, como por empresários e poder público. Estes
benefícios podem ser exemplificados como o despertar da consciência sobre
o impacto no meio ambiente natural, cultural e humano, a distribuição dos
custos e benefícios, a criação de empregos diretos e indiretos nos setores
turísticos e de apoio, a criação de empresas domésticas lucrativas como
pousadas, restaurantes, meios de transportes, etc. Porém, fala-se ainda de
benefícios que devem vir do poder público para beneficiar tanto a economia
local, como estimular melhorias para o conforto dos turistas. Isso significa
que a população local também será beneficiada com as instalações
recreativas, com a preservação dos locais arqueológicos, dos bairros e

6
Anotações retiradas das observações da orientadora: Professora Dra. Suíse Monteiro Leon Bordest em
colóquios de orientação realizados 2002 e 2005.
edifícios históricos, com a utilização produtiva de terrenos marginais,
gerando assim um aumento na alteridade da comunidade.

Os princípios da sustentabilidade por si só não produzem resultados.


É preciso gerar alianças entre ele e o planejamento, tanto urbano quanto
turístico, e também não perder de vista o potencial econômico, a proteção
ambiental e os benefícios da comunidade. A partir disto já se fala de turismo
responsável. Este tipo de atividade só passa a existir após um minucioso
processo de planejamento, que com suas ferramentas podem detectar as
necessidades, as oportunidades e as ameaças ao correto desenvolvimento e
benefício da comunidade.

O processo de planejamento é uma ferramenta que as pessoas e as


organizações usam para administrar suas relações com o futuro, onde se
define objetivos ou resultados a serem alcançados, os melhores meios para
possibilitar a realização dos resultados, e o momento de interferir na realidade,
para passar de uma situação conhecida a outra situação desejada, dentro de
um intervalo definido de tempo. É o ato de tomar no presente decisões que
afetem o futuro, portanto tudo deve ser muito bem pensado e medido, para
evitar problemas e o retrabalho no futuro (MAXIMIANO, 2000).

O “planejamento estratégico”7 é um tipo de planejamento de médio


em longo prazo, onde se visualiza os pontos fortes e fracos do mercado atual e
da concorrência, os possíveis nichos de mercado com novas oportunidades a
serem exploradas, e também as forças e as fragilidades da organização em
questão, seja ela pública ou privada. Este processo leva ao diagnóstico da
situação atual, tanto da empresa como do ambiente onde ela está inserida,
ofertando um panorama geral do que existe e suas condições. A partir disso
pode-se fazer diversas projeções de futuro, os chamados cenários, com base
em fatos já acontecidos e previsões estabelecidas, ou simplesmente a
invenção daquilo que se pretende, e como ficará a realidade após algumas
ações (MAXIMIANO, 2000).

7
De acordo com BENI, o ponto crucial do planejamento estratégico é a necessidade de um propósito
unificante, consentido pelo governo, para assegurar que os diversos elementos do Turismo fluam na
mesma direção (2001, p. 113).
No planejamento existem os planos, que são resultados do processo
de planejamento. Podem ser informais e nem chegarem a ser registrados no
papel, ou formais, simples ou complexo, dependendo da estrutura que se quer
planejar. Planos são desdobramentos do planejamento, que partem do nível
institucional até se tornarem tarefas e execuções cotidianas. O plano pode ser
desdobrado em programas, projetos e atividades, que são ferramentas pra se
atingir os objetivos maiores do processo de planejamento.

Os planos possuem pouco valor, a menos que possam ser


implementados e o sejam, de fato. As técnicas de
implementação devem ser consideradas ao longo do processo
de planejamento e, as técnicas de implementação específicas,
devem ser identificadas no programa de planejamento. Essas
abrangem o programa de desenvolvimento, a aplicação de
padrões de instalações turísticas, os regulamentos de
zoneamento, os mecanismos financeiros e outros meios (OMT,
2003, p. 51).

Assim o planejamento requer planos táticos, que variam de meses a


um ano de extensão, e cada um deles requer planos operacionais, onde as
ações podem ser estabelecidas, quantificadas, distribuídas e passíveis de
mensuração, geralmente previstos para semanas ou meses de trabalho.

O planejamento estratégico é apenas um instrumento para planos,


diagnósticos e desenvolvimento de projetos, ele sozinho não promove
mudanças ou desenvolvimento. A correta implantação ou não desses projetos
é que definirá o futuro, a viabilidade e o sucesso de um planejamento. É
comum organizações desistirem da implantação do planejamento estratégico
por diversos motivos, como: o não envolvimento da comunidade na elaboração
do planejamento, as dificuldades iniciais de se atribuir tarefas, funções, prazos,
continuidade e ainda a questão financeira, que muitas vezes é a grande
responsável pelo fracasso dos projetos.

A implantação responsável do que foi definido nos planos, é um


instrumento para desenvolvimento físico, educacional e capacitação. O terceiro
passo para o sucesso do planejamento é a gestão integrada, que é um
instrumento para verificação, controle e administração dos planos, bem como
garantir a participação dos envolvidos no processo.

Ao se desenvolver e programar qualquer tipo de planejamento é


importante visualizar que, a sustentabilidade não é um fim a ser alcançado,
mas um caminho continuamente percorrido. O monitoramento que sucede o
planejamento deve continuamente refletir a busca da sustentabilidade, posto
que o processo seja dinâmico, contínuo e flexível.

O início de qualquer projeto que precede um planejamento voltado


ao desenvolvimento de comunidades turísticas deve levar em conta alguns
elementos como: o tempo, a região, os atores envolvidos como sociedade civil,
patrocinadores, pessoa pública e privada. Após a definição dos envolvidos, é
importante definir ainda os papéis de cada um, pois a partir deste momento
pode-se estabelecer as responsabilidades e a área de atuação de cada um,
facilitando o processo contínuo de checagem e melhoria dos processos.

O controle ambiental, através da fiscalização de todos os projetos,


programas e empreendimentos de turismo ecológico, devem ser realizados
tanto pelo agente público quanto pelas organizações não-governamentais,
envolvendo sempre a comunidade. A capacitação profissional refletida através
da formação de guias especializados para orientar e acompanhar a
permanência dos turistas no local, e desta forma assegurar a preservação e a
utilização correta dos atrativos naturais, é mais uma ferramenta de controle, e
com certeza agrega valor à comunidade e ao desenvolvimento do projeto.

Dentro de uma comunidade incluem-se vários segmentos da


sociedade que podem beneficiar-se do turismo. Os mais
envolvidos, e também responsáveis pelo seu sucesso, são os
moradores locais, os proprietários (de terra e estabelecimentos
comerciais) e o governo local. Todos possuem diferentes
formas de agir para o desenvolvimento do turismo e diferentes
formas de se beneficiar dele. Porém, o principal benefício de
comum alcance é a melhoria da qualidade de vida da
comunidade (MITRAUD, 2003, p. 36).
O planejamento de um turismo responsável começa na definição dos
objetivos, que devem estar voltados para a preservação da biodiversidade e
fomento da economia local. Para que o turismo sobreviva é imprescindível a
preocupação com a conservação e manejo do meio ambiente e recursos
naturais. Isso deve constar do planejamento estratégico regional, e dos
sistemas de planejamento de desenvolvimento turísticos envolvidos no
processo precisam levar em conta o estado atual de desenvolvimento da
comunidade, e aonde e como chegar aos objetivos levantados. Certos
aspectos importantes como os culturais, os legais, econômicos, sociais,
ambientais, financeiros e políticos precisam estar constantemente sendo
revisados, para que as decisões tomadas pela comunidade não estejam indo
contra qualquer princípio, norma ou regra anteriormente estabelecida,
pensando sempre na importância do recurso turístico local (natural e cultural),
daí a necessidade de conservar o meio ambiente é garantir a atividade
econômica.

Os objetivos definem o que se procura alcançar através do


desenvolvimento turístico. Via de regra, os objetivos combinam
e equilibram fatores econômicos, ambientais e socioculturais e
devem sempre incluir o conceito de sustentabilidade. São
determinados de uma maneira preliminar no início do projeto e,
mais tarde, apurados, com base no feedback obtido durante o
processo de planejamento (OMT, 2003, p. 45).

De acordo com BENI, para se promover a conservação dos recursos


turísticos naturais, e planejar a atividade turística deve-se aplicar algumas
normas ecológicas: Planejar o uso dos recursos turísticos naturais com base
em planos, projetos, programas e atividades harmônicas com sua quantidade e
qualidade, proteger os recursos que estão em risco de extinção, mediante a
proibição de caça, pesca e extração vegetal, rever e corrigir os erros de
manejo em ecossistemas alterados como programas de reflorestamento,
combate de pragas, regeneração do solo, e tratamento de água, aproveitar
totalmente um recurso, evitando seu desperdício e aumentando sua
quantidade e qualidade, utilizar um recurso tantas vezes quantas seja possível,
utilização de outros recursos em lugar daqueles que estão em vias de extinção,
satisfação de várias necessidades mediante um só recurso, isto é, o uso
múltiplo (2001:60).

No planejamento propriamente dito das comunidades, na maioria


dos casos, o início da atividade turística dá-se pelas belezas naturais, portanto
o ecoturismo é a primeira alternativa a ser trabalhada. Porém, nem sempre a
comunidade autóctone está preparada para empreender atividades turísticas, e
menos ainda para planejá-las. Despertar isso muitas vezes é responsabilidade
do poder público e das organizações não-governamentais. Nesse momento se
mostram os benefícios e as desvantagens que o turismo trás, como o
desenvolvimento das comunidades e os impactos negativos na economia,
cultura e meio ambiente.

De certo que o Brasil possui um amplo potencial para o


desenvolvimento de um mercado turístico de qualidade, (...).
Porém, para ser viabilizado com sustentabilidade, há a
necessidade de se avaliar cuidadosamente o contexto em que
se encontram nossos destinos potenciais, quais os objetivos de
desenvolvimento sustentável a serem alcançados e os meios
para atingi-los, por meio de uma Política Nacional de Turismo
Sustentável, integradora e associada às visões de mercado e
das comunidades anfitriãs (MITRAUD, 2003, p. 41).

No início do planejamento definem-se os objetivos e as metas a


serem alcançadas e a partir disto pode-se também tratar das ações, que
transformarão esses objetivos em realidade, dos prazos para cumpri-los, dos
recursos e financiamentos necessários, das entidades envolvidas e seus
respectivos papéis e atividades, bem como seus limites e prováveis problemas.
Por se tratar de um processo contínuo, as ações devem ser constantemente
checadas, avaliadas e se preciso for, ações de correção devem ser instaladas.
Um bom exemplo disso são as implantações dos parques, suas trilhas, e a
capacidade de carga de cada uma delas, que podem ser pré-estabelecidas,
mas alteradas de acordo com o comportamento da natureza.
Durante o processo de planejamento a equipe multidisciplinar
envolvida deve sempre se preocupar com a base político-legal da questão
ambiental, e sua relação com o desenvolvimento econômico da região. A
expectativa dos atores do processo deve ser o mais próxima possível da
realidade, o meio ambiente e a economia não devem entrar em choque, mas
caminhar paralelamente, pois são os dois pilares da sustentabilidade, ligados
intrinsecamente, um não sobrevive sem o outro. A análise da situação atual
permite estabelecer os pontos fortes e fracos da região e a partir disso se
estabelece o diagnóstico com as linhas de ação para se chegar aos objetivos.

A implantação é uma das últimas ações do planejamento, e também


uma das mais difíceis. É a fase do trabalho braçal, por em prática o que se
estruturou no papel, perceber as falhas, e retomar o trabalho já com as devidas
correções. Essa fase demanda tempo, e nem tudo acontece no ritmo previsto.
É quando o choque de interesses entre os atores fica mais visível, e a
continuidade do plano pode ficar comprometida se os problemas iniciais não
forem superados. Somente com equipes multidisciplinares preparadas, e
vontade dos atores é que o desafio pode ser superado.
CAPÍTULO 2

2. TRAJETÓRIA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.

A fim de abordar adequadamente o tema deste estudo, o trabalho de


coleta de informações exigiu a adoção de procedimentos e recursos diversos.
Os estágios da pesquisa se dividiram em pesquisa teórica e prática. Para
desenvolver a pesquisa teórica foi realizado levantamento bibliográfico em
trabalhos acadêmicos, livros, documentos cartográficos e históricos
particularmente do distrito de Canindé do São Francisco.
Como recurso metodológico foram realizadas a observação participante
e a entrevista pessoal desestruturada, as quais se interagem diante da
possibilidade que, de seus resultados se obtém maior contribuição no processo
do estudo em pauta.
A configuração espacial do município de Canindé do São Francisco se
processou intensamente a partir da instalação/construção [sic] da Usina
Hidrelétrica de Xingó, pois até então o município era um povoado de apoio, aos
inúmeros veículos de carga que transitam pela rodovia que faz a ligação entre,
a capital do Estado de Sergipe – Aracaju e as Cidades baianas de Paulo
Afonso e Juazeiro, Petrolina em Pernambuco, citando apenas as mais
significativas no processo das relações econômicas entre esses Estados.
De acordo com SANTOS,

O espaço deve ser considerado como um conjunto


indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de
objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de
outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja a sociedade
em movimento. (...) É um movimento permanente, e por esse
processo infinito a sociedade e o espaço evoluem
contraditoriamente (1988, p. 26-27).

A contradição a que o autor se refere é baseada na importância que o


espaço passou a ter para a globalização da sociedade e da economia, a qual
gera a mundialização do espaço geográfico, carregando-o de novo significado.
“O espaço assume hoje em dia uma importância fundamental, já que a
Natureza se transforma, em seu todo, numa forma produtiva” (1988, p. 27-28).
O conceito de fluxos, de acordo com SANTOS, como um sistema de
ações realizadas no espaço, será tarefa coerente a análise da região de Xingo
para interpretar a possibilidade de implantação do turismo, visando o
desenvolvimento sustentável do ambiente e da sociedade regionais. Mesmo
porque o conceito de desenvolvimento sustentável prega a sustentabildiade da
geração atual visando a manutenção do ambiente para a sustentabilidade das
gerações vindouras.
Diante deste cenário, para evitar um avanço desenfreado sobre as
diversas áreas naturais propícias à prática do turismo em suas diversas
modalidades, torna-se necessário um estudo da ecologia, onde se deve
observar itens como: Tipos de espaço e conservação ambiental. Ao relacionar
tipos de espaços estamos nos referindo ao uso dos mesmos, e assim temos a
superfície da terra e a ocupação humana, bem como as áreas ainda não
ocupadas, as áreas protegidas, as transformadas pelo homem para os mais
diversos fins como agricultura e cidades.

De acordo com BARRETO,

O diagnóstico na área social, difere do diagnóstico na


medicina ou na mecânica. Um rim que não funciona e uma bobina
queimada tem sintomas evidentes e claros que permitem um
diagnóstico certo. Os fatos sociais são complexos e sua
interpretação tem carga subjetiva (do pesquisador) importante. A
classe social da qual ele provém, sua história de vida, sua
ideologia, seus valores morais, são variáveis que influenciarão sua
visão de mundo e, consequentemente seu diagnóstico. Por outro
lado, o raciocínio, ou, se quisermos, o nível de inteligência e sua
formação anterior, no sentido de conhecimentos gerais
(instrução), serão variáveis de importância no indivíduo. A forma
de diminuir essa interferência é por intermédio de um profundo
auto-conhecimento, a fim de se estar consciente das próprias
reações e poder controlá-las ao máximo. O trabalho em equipe e,
dentro do possível, de uma equipe multidisciplinar, constitui uma
boa técnica para superar a interferência pessoal (1991, p. 35).

Com esse estudo para o planejamento turístico se pode identificar as


ações predatórias do homem, e compreender as diferentes fragilidades
ambientais, considerando que os recursos naturais são esgotáveis e devem ser
utilizados, reutilizados e portanto conservados pelo homem.

O início da atividade pode ser através da observação, considerando


a homogeneidade, as semelhanças e diferenças visuais da área, bem como
imagens atuais e antigas classificando-as conforme o arcabouço teórico
adquirido.
No tocante à conservação ambiental, observamos uma crescente
contaminação por lixo doméstico e industrial, o mau uso e descaracterização
dos recursos naturais, onde o turismo contribui para agravar a situação,
combinando a falta de educação ambiental com a cultura exploradora dos
turistas e empresários do ramo. Para a sobrevivência do turismo e das áreas
turísticas faz se necessário um planejamento de desenvolvimento turístico da
região, incluindo a sensibilização da população autóctone e dos turistas, pois
juntos, eles podem cobrar do Poder Público e dos empresários, ações corretas
e concretas para a conservação do ambiente.

De acordo com a Organização Mundial do Turismo,

Muitos tipos de impactos ambientais podem ser gerados pelo


desenvolvimento turístico e pela utilização do meio ambiente
pelos turistas. Se o turismo for bem planejado, desenvolvido e
gerenciado, os impactos podem ser positivos (2003, p. 105).

Justamente por ainda não estar sedimentado como outras áreas do


conhecimento o turismo possui diversas definições, que dependem de qual
foco se está abordando no momento, pode ser como atividade econômica,
como área técnica ou holística, e estas ainda acabam se subdividindo de
acordo com áreas naturais, culturais, sociais, entre outras.

Para estudar o turismo e a sua complexidade torna-se necessário o


uso de instrumentos que permitam uma abordagem multidisciplinar, com base
em novas abordagens como a “Teoria dos Sistemas de Turismo” (BENI, 2001,
p. 17-19), “onde a realidade é feita de sistemas, que são feitos de elementos
interdependentes. A realidade não é feita de elementos isolados, sem qualquer
relação entre si”. Esta abordagem permite uma integração dos diversos
elementos que compõe o turismo, como o meio ambiente e suas relações.

E ainda as relações estabelecidas com o Poder Público que diante


das políticas emergentes de preservação e conservação ambiental necessitam
fomentar as diversas ações necessárias ao desenvolvimento sustentável de
comunidades sócio-ambientais possuidoras de recursos naturais viáveis tanto à
proteção ambiental, quanto ao turismo. Dentre essas ações, podem ser
destacadas a partir de 1995, o fortalecimento da Embratur como órgão
planejador do desenvolvimento turístico nacional, a inserção do BNDES como
uma das entidades financiadoras de projetos de âmbito turístico e a criação,
em 1992, do Programa de Ação para o Desenvolvimento Integrado de Turismo
na região Nordeste – Prodetur/NE, o qual objetiva o incremento do turismo
regional principalmente através da implementação de infra-estrutra básica em
localidades com elevado potencial turístico.

Desta forma priorizou-se as visitas de campo que de acordo com a


maior convivência da pesquisadora e a comunidade, os relatos em entrevistas
serviram para maior detalhamento da situação existente. Foram realizadas três
visitas que tiveram a duração de oito dias cada uma delas com intervalo de
quatro e três meses. A aplicação das entrevistas possibilitou conhecer as
potencialidades turísticas e reunir informações de ordem econômica, social,
cultural e o levantamento dos impactos ambientais que a exploração atual está
proporcionando, além dos registros fotográficos.

Ao praticar a observação participante é que se conseguiu descrever,


conhecer e fotografar paisagens naturais e interagir com o autóctone conforme
BORDEST8 (2002). Sobre a observação participante CHIZOTTI, relata que “a
observação direta ou participante é obtida por meio do contato direto do
pesquisador com o fenômeno observado para recolher as ações dos atores em
seu contexto natural, a partir de sua perspectiva e seus pontos de vista” (2000,
p.90). A observação participante permite ao pesquisador penetrar no meio e
transitar entre a prática e a teoria, de forma a compreender os vários
significados do contexto.

A entrevista segundo MAZZOTTI e GEWANOSZNAJDER, pode ser


parte integrante da observação participante, pois

De um modo geral, as entrevistas qualitativas são muito pouco


estruturadas, sem um fraseamento e uma ordem rigidamente
estabelecidos para as perguntas, assemelhando-se muito a
uma conversa. Tipicamente, o investigador está interessado
em compreender o significado atribuído pelos sujeitos a
eventos, situações, processos ou personagens que fazem
parte de sua vida cotidiana (2000, P. 162-168).

Assim, as entrevistas foram transcritas, e decodificadas as gravações


realizadas das conversas informais, para então realizar a incorporação das
informações nos textos descritivos da situação encontrada no município de
Canindé do São Francisco. Mais especificamente no foco de estudo até agora
demonstrado, que é a área de maior valor turístico para a região do lago da
represa da Usina Hidrelétrica de Xingó.

8
Sugestão da Orientadora: Prof. Dra. Suíse Monteiro Leon Bordest, em colóquio de orientação realizado
em 2002.
CAPÍTULO 3

3. A REGIÃO DE XINGÓ – UMA UNIDADE MULTIPLICADORA EM


SERGIPE.

A Usina Hidrelétrica de Xingó está localizada no extremo norte do


Estado de Sergipe, na divisa com o estado de Alagoas, e faz divisa ainda com
o Estado da Bahia. Sergipe é o menor estado do Brasil, ocupando uma área de
0,26% do território Nacional, e 1,14% da Região Nordeste, da qual é integrante.
Possui uma área de 22.050,40 km² divididos em 75 municípios, está divido em
13 micro-regiões geográficas onde distribui-se uma população de 1.779.522
habitantes (Vide Figura 2).

Para se medir o desenvolvimento de uma região, a Organização das


Nações Unidas – ONU, através do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento - PNUD lançou em 1990 o primeiro índice para medir o
desenvolvimento humano, composto por três indicadores interligados:
alfabetização, expectativa de vida e nível de renda. Chamado de Índice de
Desenvolvimento Humano - IDH, este índice reflete a realidade das condições
sociais dos países, e é levado em consideração por diversas instituições no
mundo todo. No relatório da ONU de 2002 o Brasil ocupa o 73º lugar em um
ranking de 173 países, e Sergipe o 23 º lugar no ranking brasileiro. Sergipe
apresenta ainda o melhor IDH da Região nordeste na Capital Aracaju, porém
apresenta também um dos piores IDH do Brasil na cidade de Poço Redondo,
no interior, o que reflete a alta desigualdade em relação á distribuição de renda
no Estado, o que acaba se tornando um espelho da distribuição de renda do
país (DIAS, 2003, p. 70).
FIGURA 2
SERGIPE – MICRO-REGIÕES

A
L
A
G
O
A
S
B A H I A

ARACAJU
B
A
H
I A

0 10 20 30km
I - SERTÃO DO SÃO FRANCISCO VIII - COTINGUIBA
II - CARIRA IX - JAPARATUBA

FONTE: SEAST, 1998. III - NOSSA SENHORA DAS DORES X - BAIXO COTINGUIBA
ORGANIZAÇÃO: Ilka Bianchini IV - AGRESTE DE ITABAIANA XI - ARACAJU
DIGITALIZAÇÃO: Marcelo H. A. Araújo. V - TOBIAS BARRETO XII - BOQUIM
VI - AGRESTE DE LAGARTO XIII - ESTÂNCIA
VII - PROPRIÁ

3.1. Canindé do São Francisco - Conhecendo o quadro Natural.


Canindé do São Francisco dista 213 quilômetros da cidade de
Aracaju a Capital, limita-se ao Norte com a cidade de Piranhas – Alagoas,
separadas pelo Rio São Francisco; a Oeste e Sudoeste com o município
baiano de Santa Brígida; ao Sul e Sudeste com o Município de Poço Redondo.
O acesso de Canindé a Piranhas é feito pela Ponte Delmiro Gouveia com
aproximadamente 300 metros. A cidade faz parte da Micro-região Sergipana do
Sertão do São Francisco, que compreende ainda as cidades de Feira Nova,
Gararu, Graccho Cardoso, Itabi, Monte Alegre, Nossa Senhora da Glória e
Poço Redondo. Pertence também ao Pólo Velho Chico, que abrange cerca de
16 municípios ribeirinhos do São Francisco Sergipano, dentre estes, alguns
fazem parte da região do semi-árido e figuram entre os 50 mais pobres do
Brasil.

O Estado apresenta clima quente que se distribui entre úmido, semi-


úmido e semi-árido, com médias anuais de 25,3°C, 24,8°C e 28,9°C
respectivamente. Geologicamente o Estado é constituído por 35% de rochas
sedimentares (bacias sedimentares e coberturas terciárias e recentes) e 65%
de rochas cristalinas. O relevo apresenta altitudes modestas, que crescem
gradativamente do litoral para o interior. Pode-se afirmar que predominam
terras baixas com altitudes menores de 300 metros, poucas áreas com
altitudes superiores a 400 metros e o ponto culminante, a Serra Negra, no
município de Poço Redondo, Noroeste do estado está localizado o ponto mais
alto, com 750 metros de altura em relação ao nível do mar (SANTOS, 1992, p.
61-65).

O solo da região é uma associação de Solos Litólicos Eutróficos,


com textura arenosa e média fase pedregosa rochosa, ondulado e
montanhoso, mais Bruno Não Cálcico com textura média argilosa fase
pedregosa e relevo ondulado e forte ondulado, ambos fase caatinga
hiperxerófila. Em relação à curva de nível, a de 100 metros está situada entre
20 e 45 km do litoral, porém na parte norte esta cota penetra por mais de 150
km, acompanhando o rio São Francisco, chegando até Canindé do São
Francisco, que é o município mais ocidental do Estado. De acordo com
SANTOS,

A geomorfologia propõe uma caracterização do Estado no


tocante à compartimentação e à descrição geral das unidades
de relevo. Trata-se de um estudo apoiado em bases geológicas
e nos demais elementos do quadro natural, isto é: climatologia,
fitogeografia e pedologia, responsáveis pela ação dos sistemas
morfoclimáticos que atuam na região (1992, p. 61-62).

O município pertence à bacia hidrográfica do Rio São Francisco o


maior em extensão, largura média e volume de água no Estado. É a região
mais promissora economicamente no estado, assumindo um papel de grande
importância em função dos projetos de irrigação, adutoras e desenvolvimento
do turismo.

O clima em Canindé do São Francisco é do tipo mediterrâneo,


quente, semi-árido mediano, com sete a oito meses secos por ano. O clima é
de seca que vai de agosto a março, e precipitação inferior a 500 mm anuais. O
verão é seco e o inverno mais úmido, porém a maior evaporação da época do
estio não é compensada por uma pluviosidade suficiente. As precipitações
prováveis situam-se entre 500 e 700 mm. A umidade relativa do ar fica entre
70% e 75%, variando conforme as massas de ar que atingem a região,
principalmente no inverno. A região é ainda bastante sensível aos efeitos das
secas prolongadas e de longa estiagem, para a agricultura o benefício das
chuvas é apenas durante dois a três meses no ano (UFS/SEPLAN: 1979).

Sergipe apresenta cobertura vegetal bastante devastada pela


agricultura, pecuária extensiva e secas prolongadas. A atual cobertura vegetal
nativa é de menos de 50% da área, e esse número tende a cair em função do
Projeto Califórnia que, entre outros, apóia principalmente a produção de
Biodiesel a partir da Mamona. A vegetação predominante na região de Canindé
do São Francisco é do tipo Arbustivo – arbórea – caatinga arbórea baixa, com
cerrado e capoeira. Observa-se a presença bastante desfigurada de caatinga
arbustiva densa divida em três estratos e ainda as cetáceas: O Arbóreo; o
Arbustivo representa 90% do total das espécies vegetais encontradas; o
Herbáceo; e as Cetáceas.
Em uma faixa entre 5 a 10 km de largura no sentido do Rio São
Francisco há incidência de Formações não florestais com árvores de caatinga
arbórea aberta.

3.2. Viajando a Canindé do São Francisco.

O acesso a Canindé do São Francisco a partir de Aracaju pode ser


realizado por três caminhos diferentes, com distâncias semelhantes, variando o
estado de conservação das rodovias, e os municípios que se deseja visitar.

O primeiro caminho é pela BR-235, passando por Areia Branca e


Itabaiana. Seguindo pela SE-116 nos municípios de Ribeirópolis e Nossa
Senhora da Aparecida, Nossa Senhora da Glória, depois a SE-206 pelos
municípios de Monte Alegre de Sergipe, Poço Redondo e Canindé do São
Francisco totalizando 195 km a percorrer.

O segundo caminho inicia pela BR 101 passando pelos municípios


de Pedra Branca, Maruim e Rosário do Catete; segue para a SE-206 por Siriri,
Nossa Senhora das Dores, Feira Nova, Nossa Senhora da Glória, Monte
Alegre de Sergipe, Poço Redondo e Canindé do São Francisco, também com
percurso de 195 km.

Na terceira opção o trajeto inicia pela BR 101 até Propriá, seguindo


pela SE-200 passando por Telha, Canhoba, Nossa Senhora de Lourdes,
Gararu e Porto da Folha. Segue pela rodovia SE-452 que liga Porto da Folha a
Monte Alegre de Sergipe, passando por Poço Redondo até Canindé do São
Francisco, neste caminho o trecho percorrido totaliza 273 km.

As duas primeiras opções são mais curtas e rápidas, com boa


conservação da cobertura de asfalto e alguns trechos em recuperação. A
terceira opção é voltada pra quem deseja ver o Rio São Francisco e os
municípios ribeirinhos. É a mais longa e menos conservada de todas, porém
visualmente é a mais bonita (Vide Figura 3).
FIGURA 3

SERGIPE – TRAJETOS A CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO

Canindé do
São Francisco
A
206
L
A
Poço Redondo
G
O
Porto da
Folha A
452
200
G araru
S

ACE S
N. S. de
M onte Alegre Lourdes
de Sergipe

S
III Am paro do

O
200 São Francisco
206 Itabi
Canhoba
N. S. da G raccho Telha
B A H I A

G lória Cardoso
Propriá Santana do
Feira Aquidabã São Francisco
Nova Cedro de
São João
Carira M alhada
N . Senhora dos Bois Neópolis
AC

Aparecida C um be S. Francisco Japoatã


ES

M uribeca
SO

S. Miguel
do Aleixo
II

106 Ilha das Brejo


N . S. das
D ores Capela Pacatuba Flores G rande
101
Frei Paulo Ribeirópolis
206
Pinhão
Pedra M oita Siriri Japaratuba
M ole Bonita
Santa Rosa Carm ópolis
de Lim a Divina
M acam bira Itabaiana M alhador Pastora G al. M aynard

Areia M aruim Rosário do Piram bu


AC

Poço Verde Branca Catete


Sim ão Dias Cam po Riachuelo
ES

São do Brito
SO

Laranjeiras Santo Amaro


Dom ingos 235
das Brotas
I

N. S. do
Socorro Barra dos
C oqueiros
Lagarto
São
Cristóvão ARAC AJU
Itaporanga
Riachão do Salgado D'Ajuda
Dantas

Boquim
Tobias
Barreto

Pedrinhas
Itabaianinha Estância
Arauá
B
A

Tomar Santa Luzia


do G eru do Itanhy
H

Umbaúba
I A

Cristinápolis Indiaroba

- ÁREA DO M UNICÍPIO DE
CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO
- SEDE DE M UNICÍPIO
- CAPITAL
0 10 20 30km
- LIM ITE INTERESTADUAL
- LIM ITE INTERM UNICIPAL

FONTE: Mapa Rodoviário 2002, DER/Se.


101 - RODOVIA FEDERAL PAVIM ENTADA

ORGANIZAÇÃO: Ilka Bianchini 206 - RODOVIA ESTADUAL PAVIM ENTADA


DIGITALIZAÇÃO: M arcelo Henrique A. Araújo.
- ACESSO ARACAJU / CANINDÉ DO
SÃO FRANCISCO

- RIO
3.3. Canindé do São Francisco, uma história entrelaçada à história do Rio
São Francisco e seus atrativos.

No Nordeste brasileiro os históricos conflitos políticos entre famílias


são constantes, atualmente estes conflitos ocorrem em menor número e
intensidade. Também na cidade de Canindé do São Francisco, a vida política
sempre foi marcada por conflitos violentos que resultaram em assassinatos,
acidentes não explicados, prisões, corrupção, inclusive com a necessidade de
duas intervenções estaduais no município. Com a mudança e inauguração da
nova cidade, em 1987, o município passou a receber elevados tributos vindos
da hidrelétrica, e alcança hoje o posto de segundo município do Estado de
Sergipe em arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
prestação de Serviços – ICMS.

O município apresenta comércio incipiente, voltado para o


atendimento básico da população. Com a construção da Barragem da Usina
Hidrelétrica de Xingó, o município de Canindé passou a receber royalties da
energia elétrica gerada. O recebimento do Imposto Sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços - ICMS e demais tributos provenientes da UHX, causou
grande impacto na economia e política do município.

Estes royalties se tornaram o principal componente da sua


arrecadação, e o coloca atualmente na posição de segundo município do
Estado de Sergipe em arrecadação de impostos e benefícios. Isso
proporcionou também diversas melhorias na infra-estrutura do município bem
como em suas estradas, como o asfaltamento da Rodovia SE–206, o principal
acesso à cidade. O número de residências duplicou desde a mudança do
município, e um outro fator de crescimento é o Projeto Califórnia, que vem
beneficiando cerca de cinco municípios da região semi-árida de Sergipe.

O Projeto Califórnia é voltado para o pequeno produtor que trabalha


o cultivo de hortifrutigranjeiros, objetivando promover o crescimento econômico
tendo como pressuposto a sustentabilidade sócio-ambiental. Assim,
proporcionando a ampliação da base produtiva, modernizando a produção e a
capacitação do sujeito gestor da estrutura planejada. O Projeto é financiado
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID que além de infra-
estrutura como estradas e energia elétrica, fomenta o desenvolvimento através
da fruticultura irrigada, pecuária semi-intensiva, carcinicultura, plantio de
mamona para biodiesel, criação de Tilápias em gaiolas, cultivo da goiaba para
exportação, e, finalmente as atividades turísticas para a região de Xingó. Já
houve tentativa de se implantar a apicultura na região, no entanto o projeto foi
abandonado o que justifica a existência de grande quantidade de abelhas
africanas nas margens da represa.

O referido Projeto deu novo ânimo à produção local pela sua


diversidade de culturas, a qual se restringia à agricultura e pecuária extensiva.
O município apresenta comércio incipiente voltado apenas para o atendimento
básico da população. A atividade industrial é praticamente inexistente contando
apenas com um laticínio. Além das atividades previstas o projeto visa também
a criação de áreas de Proteção Ambiental encerrando o projeto de
desenvolvimento sustentável da região de Xingó, cujas características naturais
de per si justifica preservação. O Turismo está contemplado no projeto, pois
tanto a agricultura, a pecuária e o turismo podem degradar o meio ambiente,
apesar de todos dependerem exclusivamente dele naquela região.

A história de Canindé do São Francisco interage perfeitamente com


a do Rio São Francisco descoberto em 1505. Inicia em 1629 fazendo parte da
sesmaria de 30 léguas de terras doadas pelo governador de Pernambuco, D.
João de Souza à família Baiana de Burgos. Depois, passou ao Morgado de
Porto da Folha, sofreu com a cobiça das bandeiras, e foi abandonada devido
ao clima seco e quente que sempre castigou a região, apesar de estar às
margens do Rio. Até o final do século XIX existiam quatro fazendas na região:
Cuiabá, Brejo, Caiçara e Oroco, quando Francisco Cardoso de Britto Chaves,
Coronel Chico Porfírio, comprou grande extensão de terras e resolveu investir
na região construindo sua residência e o Curtume Canindé juntamente com o
coronel João Fernandes de Brito. O curtume cresceu, virou indústria e atraiu
muitos trabalhadores para o local, aumentando o número de moradores do
então lugarejo.

Em 1938 é elevado à categoria de Vila, e em 25 de novembro de


1953 é elevada à de Cidade, sendo desanexada do município de Porto da
Folha. A partir de 1963 a pequena cidade apresentava uma estrutura de casas
na beira do Rio São Francisco e outras entre os morros, assim ficaram
conhecidas como Canindé de Cima e Canindé de Baixo. Estas foram
destruídas com a construção da usina e seus moradores transferidos para a
nova Canindé, a cidade planejada.

Obedecendo a uma política nacional de desenvolvimento energético


foi construída a Usina Hidrelétrica de Xingó - UHX no Rio São Francisco, entre
os Municípios de Canindé do São Francisco/SE e Piranhas/AL. A Usina tem
capacidade de gerar 3000 MW de energia e seu reservatório capacidade para
3,8 bilhões de m³ de água, possuindo 60 km de extensão e 60 km² de área
(CHESF, 1997) (Vide Figuras 4 e 5).

Figura 4 – Barragem da UHX


Fonte: Pesquisa de campo 2006.
Figura 5 – Lago da represa e muro de contenção.
Fonte: Pesquisa de campo 2006.

Essa obra causou importante impacto de ordem positiva e negativa


na economia, na política, na sociedade e principalmente no meio ambiente da
região. O primeiro impacto social foi a mudança da população de Canindé de
Baixo, que foi desocupada com a construção da UHX e seus moradores
transferidos para a nova Canindé, a cidade planejada. Alguns moradores
receberam indenização e muitos trocaram o terreno localizado em área de risco
de alagamento por outro na nova área. A mudança e inauguração da nova
cidade ocorreram em 1987.

A nova cidade apesar de planejada, com uma arquitetura de traçado


moderno recobre-se de ares de conjunto habitacional. No entanto, vem
sofrendo alterações em sua estrutura, nos últimos anos, por parte dos
moradores, pois a sua estrutura não estava preparada para receber o elevado
número de pessoas em busca de emprego, riqueza e melhores condições de
vida, provenientes de estados vizinhos que chegaram para a construção da
usina.
Canindé rapidamente apresentou problemas idênticos àqueles
apresentados nos grandes centros urbanos como: desemprego, miséria latente
e todas as suas intercorrências, ou seja, mendicância, roubos, furtos, pequenos
delinqüentes, “sem tetos”, meninos de rua e idosos abandonados. A população
local passou a denominar de “forasteiros” aqueles que vieram durante a
construção da usina. Muitos deles vieram para estabelecer seu próprio
negócio, outros em busca de trabalho e ficaram vagando pela região.

Há uma dicotomia na situação atual de Canindé, que apesar de nova


e promissora era carente de recursos econômicos, porém rica em atrativos
naturais. Percebe-se claramente que a cidade cresceu, pelo número de
residências que existentes atualmente (2006), em função do que existia na
década de oitenta e noventa. Porém seu comércio continua precário, quase
não existem opções de lazer, exceto as festas juninas, e eventuais festejos
ligados à agricultura e pecuária, não existem áreas de lazer para os jovens,
nem restaurantes ou bares que permaneçam abertos após as vinte e duas
horas pra atender a população e o turista.

Esse movimento populacional gerou um outro problema, que foi a


descaracterização da cultura local, que já tinha sofrido seu primeiro revés com
a mudança da população de suas casas. Os chamados “forasteiros” vieram de
todos os lugares tanto de Sergipe, nordeste, e outras regiões do Brasil.

Canindé do São Francisco é um município com aproximadamente


dezoito mil habitantes, segundo dados do Censo do IBGE de 2000 (IBGE,
2000). Desse total, aproximadamente quarenta e cinco por cento dos
habitantes residem em área rural, em fazendas ou povoados. O ensino público
vai até o nível médio, e há a opção de ensino superior nos cursos de
Pedagogia e Matemática através de cursos modulares que tiveram início no
ano de 2004, realizados nos finais de semana por instituições particulares. O
SEBRAE - SE eventualmente promove cursos de capacitação em diversas
áreas. No entanto em entrevista com os comerciantes, se percebe que não há
um interesse por parte da população, e muitas turmas não foram concluídas ou
nem iniciaram os estudos por falta de demanda.
3.4. Os atrativos naturais ensejam um turismo cada vez maior.

Os atrativos naturais são resultados de um “processo


geomorfológico e biogeográfico durante a formação do planeta” (BARRETO,
1991, p. 53), que podem ou não receber a ação antrópica para uma melhor
utilização, preservação, conservação e aproveitamento pelo homem. No caso
de Canindé a natureza foi pródiga, e se pode dizer que adaptada às novas
necessidades.

O primeiro e maior atrativo turístico da região é o Rio São Francisco,


também chamado de rio da unidade nacional e popularmente conhecido como
Velho Chico. Nasce ao sul de minas no Parque Nacional da Serra da Canastra
e possui 3.161 km de extensão, percorrendo os estados de Minas Gerais,
Bahia, Pernambuco até a foz, entre os estados de Sergipe e Alagoas. Com
aproximadamente 2.300 km navegáveis oferece condições de transporte de
carga e passageiros entre Pirapora (MG), Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), além
do abastecimento de água (CHESF, 1995)

Xingó significa “águas que correm entre pedras”, daí a origem da


denominação da região, onde se localiza o município de Canindé do São
Francisco, nota-se que tanto o nome da região como o nome do município
refletem a importância do Rio São Francisco.

A imponência do rio e a sua beleza natural podem ser verificadas,


quando se visita a represa passando pelo canyon com paredões de mais de
setenta metros de altura. As águas represadas, pela construção da Usina
Hidrelétrica de Xingó, subiram algumas dezenas de metros elevando o nível do
leito anterior, cobrindo parte dos paredões que ainda fascinam e encantam
(Vide Figuras 6 e 7).
Figura 6 – Paredões rochosos do Talhado – Rio São Francisco.
Fonte: FONTES, Lígia, 2005.
Figura 7 – Leito do Rio São Francisco.
Fonte: idem, 2005.

A Represa de Xingó, apesar de ser no Rio São Francisco é um caso


especial, pois é o grande motivo das visitas de turistas e pesquisadores à
região. Com a formação da Represa uma grande área foi alagada, formando
vários braços de rio antes inexistentes, três deles são interessantes para o
turismo, apesar da extensão da represa apresentar diversos outros, os
mesmos não são explorados turisticamente. O primeiro é o Sítio Vale dos
Mestres, o segundo no Karrancas Bar e Restaurante e o Terceiro no povoado
de Curituba, na Fazenda Maninho Feitosa, todos do lado de Sergipe (Vide
Figura 8).
Figura 8 – Karrancas Bar e Restaurante.
Fonte: Pesquisa de campo 2006.

A Represa transformou a região, tornando navegável e de águas


calmas um trecho do rio que antes era cheio de corredeiras, e hoje entre os
municípios de Paulo Afonso (BA), e Canindé do São Francisco (SE) e Piranhas
(AL) é possível navegar e observar as formações rochosas interessantes da
região, bem como ninhais e paradas para banho (CHESF, 1998) (Vide Figura
9).
Figura 9: Escuna Maria Bonita na área de banho do Talhado.
Fonte: Pesquisa de campo 2005.

A região apresenta duas pequenas quedas d’água, a Cachoeirinha,


mais próxima da estrada e a Cachoeira Detrás, um pouco mais afastada.
Ambas localizadas nas proximidades dos galpões da CHESF. São pouco
utilizadas pelos moradores, e praticamente nunca pelos turistas. Não
apresentam navegabilidade, o acesso é relativamente fácil, mas não existe
nenhum tipo de infra-estrutura ou trilha com sinalização para banhistas. Estes
devem se preocupar com a vegetação, pois é espinhenta e o solo pedregoso
coberto por gramíneas pode ser escorregadio. Visualmente as águas das
cachoeiras são limpas, porém como estão localizadas no entorno de Canindé,
em área de agricultura irrigada, podem conter resíduos de agrotóxicos, que não
são detectados a olho nu.

A Região do baixo São Francisco foi habitada na pré-história por


diversos grupos humanos antes de ter sua população fixa. Eram grupos que
buscavam comida e um bom lugar para se viver. Canindé oferecia razoáveis
condições para isso, com grupos de animais de pequeno e médio porte como
veados, macacos, tatus, lagartos, tamanduás, tartarugas e muitas aves que
viviam dispersos pela caatinga e necessitavam de tempo para serem caçados.
As corredeiras do rio ofereciam piracema farta. Os grupos ocupavam os topos
ou flancos dos terraços e ali registravam sua história através das pinturas nos
paredões dos abrigos. A região de Xingó oferecia condições interessantes para
a sobrevivência humana, com relativa oferta de fauna e flora e possibilidade de
contatos interétnicos, porém as cheias do rio obrigavam os grupos a abandonar
de temos em tempos seus abrigos. Isso promovia certa sazonalidade e poucos
sítios de habitação foram identificados, o mais encontrado eram os sítios
cemitérios e acampamentos temporários para caça e coleta (CARVALHO,
2003).

A região é também berço de “Lampião e Maria Bonita”, e possui


diversas fazendas e sítios arqueológicos interessantes. Alguns já buscam
estruturar-se para atender o turismo, outros se encontram em total abandono
ou não são explorados (SANTOS, 1999, p. 72).

Foram identificadas trilhas que dão acesso a pontos turísticos de


rara beleza cênica.

Trilha Sítio Vale dos Mestres: Trilha Sítio Vale dos Mestres:
localizado no povoado de Curituba, município de Canindé do São Francisco, é
um percurso de difícil acesso, por apresentar trecho íngreme, solo arenoso, a
trilha é pedregosa, porém as formações rochosas e a vegetação de caatinga
proporcionam beleza cênica ao passeio. A Trilha fica na Fazenda Poço Verde
sendo necessário percorrer vinte e quatro km de estrada asfaltada, seis km de
estrada não pavimentada e praticamente dois km de picada. Na chegada vê-se
um abrigo de pedra com inscrições rupestres e logo adiante a represa de
Xingó.

Trilha Grota de Angico: Esta trilha é de extrema importância para a


região, pois leva ao local onde Lampião, Maria Bonita e parte do bando foram
mortos pelos volantes. Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), principal
representante do Cangaço Nordestino, nasceu em Pernambuco em 1898, e
devido a vários fatores tornou-se um criminoso, bandoleiro andarilho dos
sertões, denominado cangaceiro. Seu bando assombrava a região, mas era
benquisto por muitos, que também sofriam com os desmandos do Coronelismo
típico da época. O extermínio do bando aconteceu na manhã do dia 28 de julho
de 1938, na Grota do Angico, povoado do município de Poço Redondo, divisa
com o município de Canindé do São Francisco, em Sergipe. A Grota fica
localizada na Fazenda Sítio Duas Irmãs, e para se chegar é preciso pegar um
barco, percorrer um trecho de 350 metros no Rio São Francisco e mais 750
metros de caminhada no meio da vegetação.

Vale ressaltar que existem outros atrativos naturais no entorno da


região de Canindé, mas estão no município de Piranhas – AL, e não fazem
parte deste estudo, porém podem ser utilizados pelos turistas como
complemento à visita ao canyon de Xingó, e em uma visão mais ampla do
desenvolvimento turístico, pode-se trabalhar as duas cidades em conjunto na
promoção de um pólo de turismo regional.

Em função da construção da Usina e da Represa de Xingó, foi


realizado um levantamento arqueológico da região, deste levantamento surgiu
um grande acervo que originou o Museu Arqueológico de Xingo - MAX, bem
como diversos sítios arqueológicos que poderão ser utilizados como atrativos
turísticos.

O MAX – Inaugurado em abril de 2000, têm como instituidores a


Universidade Federal de Sergipe – UFS, a PETROBRAS e a CHESF. O
salvamento arqueológico do Baixo São Francisco foi realizado pela UFS no
período de 1988 a 1997. A criação do MAX permitiu a manutenção da pesquisa
e preservação do patrimônio arqueológico. Localizado no município de
Canindé, próximo a barragem e no caminho para o Karrancas Bar e
Restaurante, tornou-se uma parada obrigatória para turistas e comunidade
local, pois possui a Exposição de Longa Duração, com simulações de
escavação, informações acerca do povoamento da América, da chegada do
homem a Xingó, das condições do ambiente encontradas nessas áreas, restos
da fauna, e uma visualização em maquete, da vida cotidiana do Homem de
Xingó. Possui ainda Exposições de Curta Duração, caracterizada por temas
específicos, quer elaborados pelo próprio museu, ou oriundas de outras
instituições afins. O MAX também promove Exposições Itinerantes que com
seu acervo já divulgou o conhecimento sobre a Pré-História do Baixo São
Francisco por diversos estados brasileiros bem como a Capital Federal (Vide
Figura 10 e 11).
Figura 10: Museu Arqueológico de Xingó.
Fonte: FONTES, Lígia, 2005.

Figura 11: Museu Arqueológico de Xingó.


Fonte: idem, 2005.
Em entrevista com o funcionário da Secretaria Estadual de Turismo
de Sergipe – SETUR e também do Banco do Nordeste Joab Almeida Silva,
obteve-se a informação que o Estado de Sergipe iniciou um processo de
divulgação turística baseado em Planejamento Estratégico no ano de 2000.
Este processo envolveu também o contato com grandes operadores como a
CVC Turismo, VARIG, GOL e TAM linhas aéreas.

– O reflexo desse trabalho teve início de forma mais


significativa no ano de 2004, com um aumento no número de
turistas que o estado recebeu. Porém o maior movimento
ocorreu no ano de 2005, Sergipe recebeu cerca de 13.000
turistas, um aumento de 64 % em relação ao ano de 2004. No
primeiro semestre de 2006, o aumento em relação ao ano
anterior foi de 46,85%, segundo dados da SETUR e Infraero. A
primeira rota a ser divulgada pelo estado foi a Aracaju – Xingó,
apesar das precárias condições das estradas e também da
estrutura de recebimento ao turista. Porém o destino foi bem
recebido por todo o trade turístico, e principalmente pelos
turistas, porém a Secretaria e o Governo do Estado, sabem das
deficiências encontradas na rota. O Prodetur Nordeste tem
ajudado muito reformando os aeroportos, estradas, construindo
pontes, são obras de infra-estrutura extremamente necessárias
e caras, e apesar de se restringirem ao litoral, respingam
também no interior (JAS, SETUR).

Conversando com antigos moradores da região de Canindé do São


Francisco percebe-se dois tipos de posicionamento, o primeiro reflete o
saudosismo daqueles que viviam pacatamente nas suas casas à beira do rio,
nele pescavam e tiravam seu sustento, viviam em comunidade, e não tinham
aspirações de vida melhor,
– antes é que era bom, não tinha carro, nem esse monte de
motos, podia-se dormir de portas abertas, e nada acontecia.
Hoje ta tudo muito diferente, é muito barulho, tem bandidos,
violência, não tem mais aquela tranqüilidade de antes (Josefa,
70 anos).

O segundo demonstra um outro grupo que se mostra satisfeito com


a mudança, isso se reflete na fala quando abordam questões relativas à saúde,
educação e empregos

– eu gostava da minha vida antes, mas eu preciso pensar nos


meus filhos e nos meus netos. Eles precisam de empregos, de
educação, de saúde, e agora até faculdade a gente tem aqui,
olha só, quando que isso ia acontecer na antiga Canindé (DFA,
68 anos).

O fluxo de visitantes em Canindé sempre foi significativo. A


localização estratégica na divisa com dois estados acentua o movimento de
caminhões, representantes comerciais, professores, estudantes e agora
turistas. A cidade ficou caracterizada como ponto de apoio no caminho para
outros lugares. Com o desenvolvimento sócio-econômico da região e o fomento
ao turismo pelo Estado, a cidade passou a receber mais turistas para pernoite,
o que ocasionou um aumento nos preços das diárias das poucas pousadas e
hotéis da cidade.

Os comerciantes locais acostumados a receber em seus


estabelecimentos pessoas que estão apenas em deslocamento pela cidade e
que não permanecem por mais de quatro horas, agora tentam lidar com
turistas, que são clientes mais exigentes e ainda deixam na cidade mais
dinheiro do que os viajantes de um dia só.

Serviços como posto de combustível, borracharia e mecânica são


procurados devido às más condições das rodovias da região. Outros serviços
como farmácias, panificadoras, lanchonetes e supermercados são também
necessários para abastecimento dos viajantes. Não existe ainda bares ou
restaurantes que fiquem abertos após as vinte e duas horas, apesar da
demanda. Também a pernoite do turista não é comum.

Canindé do São Francisco apresentando essa estrutura turística


pouco desenvolvida sinaliza que crescer faz parte dos planos de seus
empresários, que mostram isso ampliando estabelecimentos e melhorando a
atual estrutura física dos mesmos. A hotelaria é composta por um hotel de
porte médio com aproximadamente sessenta unidades habitacionais, que foi
construído para alojar trabalhadores durante a construção da UHX, e depois
transformado em hotel. É o que apresenta melhor estrutura com restaurante e
piscina, além de uma vista privilegiada (Vide Figuras 12 e 13).

Figura 12: Xingó Parque Hotel.


Fonte: FONTES, Lígia, 2005.
Figura 13: Xingó Parque Hotel.
Fonte: idem, 2005.
Existem ainda cinco pequenas pousadas com dez unidades
habitacionais em média, cada uma delas, porém sem estrutura de lazer. De
acordo com as pesquisas realizadas, alguns proprietários pretendem, em curto
prazo, ampliar suas pousadas, sendo que um deles já iniciou as obras de
duplicação da capacidade atual, que é de seis unidades habitacionais.

A área de restauração é composta de pequenos bares e


restaurantes que servem comida caseira, a maior parte abre somente para
almoço. Todos apresentam estrutura bem simples, com mesas e cadeiras de
pouco conforto. À noite as opções se restringem a lanchonetes e um pequeno
restaurante na rodovia que atendem os viajantes, e após as vinte e duas horas
a cidade fica praticamente sem opção de refeição. Para atender o turista
somente o Bar e Restaurante Karrancas apresenta uma estrutura melhor, com
quatro salões flutuantes, cozinha regional, e o acesso aos passeios de barco
no canyon do Rio São Francisco. Funciona todos os dias da semana, mas
pouco atende aos moradores locais, pois estes consideram elevados os preços
praticados no restaurante.

Segundo o empresário e Guia de Turismo Aragão, responsável


pelos passeios de escuna e catamarã na represa de Xingo, o Karrancas é
pioneiro no desenvolvimento do turismo em Canindé, pois o fluxo turístico só
começou na região por volta de 1997, com a chegada de um Catamarã de
pequeno porte, o Cotinguiba. Comportava apenas 45 pessoas, e atuava
somente nos finais de semana na parte alta, ou seja, na represa de Xingó. Os
poucos turistas que se aventuravam a fazer o passeio enfrentavam uma
estrada esburacada, e uma cidade sem estrutura, inclusive sem hospitalidade.

Na mesma época o restaurante Karrancas instalou sua primeira e


pequena base na beira da represa, do lado de Canindé do São Francisco,
apenas para atender aos poucos turistas e pescadores que abasteciam os
barcos com bebidas, alimentos e gelo. Por cinco anos o fluxo turístico foi muito
baixo, e os investidores praticamente não tiveram lucro, conseguiram manter
os custos fixos, mas acreditando no futuro, continuaram. Atualmente são dois
catamarãs, o Cotinguiba ampliado com capacidade para sessenta passageiros,
o Delmiro Gouveia com capacidade de cento e sessenta passageiros, e a
Escuna Maria Bonita (Vide Figura 9 acima), com capacidade para cento e vinte
passageiros. Cada um deles sai duas vezes por dia, chegando a três vezes na
alta temporada. O serviço funciona de quarta a domingo na baixa temporada,
mas se houver um grupo de quinze pessoas o passeio é realizado. Na alta
temporada os passeios funcionam todos os dias da semana, com várias saídas
(Vide Figuras 14 e 15).

Figura 14: Catamarã Continguiba.


Fonte: ibidem, 2005.

Figura 15: Escuna Maria Bonita – vista aérea.


Fonte: SILVA, J.A. 2004.
O Passeio no canyon dura aproximadamente duas horas, a saída e
chegada são feitas no atracadouro do Restaurante Karrancas. Durante o
passeio navega-se pelo leito natural do Rio São Francisco e também por áreas
alagadas onde se pode avistar os paredões do canyon, a vegetação de
caatinga, a gruta em homenagem a São Francisco, até a chegada ao ponto de
banho no Talhado, que fica do lado de Piranhas – AL. No local para banho há
bóias de delimitação e o tempo de permanência é de trinta minutos. Nos barcos
há serviço de bar, banheiros e ducha. Sendo que a escuna Maria Bonita conta
também com um ambiente refrigerado. Ao chegar os turistas podem ficar no
Restaurante com sua piscina natural, fazer alguma refeição ou retornar ao hotel
em Canindé ou retornar a Aracaju (Vide Figura 16).
Figura 16: Vista do interior da Escuna Maria Bonita.
Fonte: FONTES, Lígia, 2005.

A proprietária do Karrancas Bar e Restaurante, Vera Brasil relata em


entrevista, que encontrou muitas dificuldades, no começo e ainda enfrenta
muitos problemas como falta de apoio do poder público, baixa qualificação de
mão de obra, desinteresse geral dos comerciantes locais. Tanto o município
como o Estado não desenvolvem ações concretas, ou apresentam políticas de
desenvolvimento do turismo para a região.

– Não existe transporte público em Canindé, somente” vans de


linha “para Aracaju e Piranhas – AL. A população local não tem
oportunidades de qualificação, e os royalties e alimentos
(peixes que ficam presos nas redes de proteção da represa são
distribuídos à população por preços irrisórios) distribuídos pela
CHESF deixaram a população acomodada, e é muito difícil
encontrar funcionários, principalmente em datas festivas como
carnaval, São João, que é o momento de mais movimento (VB,
40 anos – Proprietária Karrancas).
No tocante aos serviços prestados em Canindé do são Francisco,
encontramos muitos problemas, sendo o principal o despreparo generalizado
dos prestadores de serviços. A baixa escolaridade e a falta de opção de
qualificação da população afeta a prestação de serviços em todos os níveis. É
visível nas conversas informais com os proprietários e trabalhadores do
comércio em geral da cidade. Está refletido na fala do proprietário de uma
farmácia, sendo um discurso corrente por repetidos comerciantes, em diversas
ocasiões:

– o turista não é importante aqui não, ele vem hoje e vai


embora, não vai voltar, não vai ficar, é uma venda pra nunca
mais (José, 50 anos).

Com a finalização da construção da Usina, a CHESF percebeu a


necessidade de realizar um trabalho social com os antigos e os novos
moradores da Cidade, principalmente os trabalhadores, que no auge da obra
somavam cerca de 9.500 pessoas, e muitas delas formaram família e ficaram
em Canindé. Para isso foi criado o Instituto de Desenvolvimento Científico de
Xingó, que promove ações na região do semi-árido, de inclusão social, apoio à
pequenos agricultores e de fomento sócio-econômico. Para o assessor do
Instituto, Moisés de Aguiar, a repesa trouxe muita coisa boa, mas como todo
processo de desenvolvimento trás também os ônus. Para ele o turismo na
região não avança, pois está muito isolado restrito a um destino só, que é
Xingó.

– Se fossem incluídos novos parceiros, cidades, ou até outros


estados a rota Aracaju – Xingo seria mais interessante, o
turismo só funciona em blocos, e no momento estamos
isolados, um só destino não sustenta um roteiro (Moisés de
Aguiar, 55 anos).
Ainda segundo Moisés não há a formação de Trade turístico em
Canindé, e sem a união de empresários dificilmente uma atividade econômica
cresce e se desenvolve. Um outro ponto levantado pelo diretor é a questão
cultural, e Canindé do São Francisco não tem a cultura do turismo, a população
não tem tradição em hospitalidade, em lazer, e isso é um trabalho em longo
prazo e que deve ser iniciado pelo poder público.

A Usina de Xingó não é só mais uma hidrelétrica que existe para


diminuir o problema energético no país, ela tem algumas peculiaridades, desde
a escolha do local, como na forma de construir, fica claro que aquela é
diferente. Em entrevista realizada com a Guia de Turismo Lígia Fontes, a
mesma relata

– Em Xingó, o que chama atenção é a represa e a hidrelétrica.


Ela não foi construída, ela foi aberta dentro de uma pedreira,
então ela gastou muito pouco para os cofres públicos (...)
porque quando começaram a procurar o local para fazer a
hidrelétrica, eles descobriram que existia essa pedreira e então
a maior parte da usina é feita aproveitando esses paredões de
pedras já existentes e isso chama muito a atenção. É que às
vezes o turista chega, diz que hidrelétrica conhecem muitas por
aí a fora, até no exterior, mas quando eles chegam aqui em
Xingó, eles vêem que é diferente de todas as outras e depois a
paisagem, a vegetação do sertão é o que chama mais atenção.

O turista quando chega a Canindé do São Francisco já percorreu


aproximadamente 200 quilômetros e no caminho recebeu informações diversas
sobre a região, sua história, economia, ele relata que

– parece que vamos encontrar Lampião e seu bando na


próxima curva, e de repente vemos aquela imponência que é a
Usina Hidrelétrica. E ao redor tanta seca e pobreza, é um
paradoxo.
De acordo com relatos de comerciantes, as Prefeituras do interior do
Estado de Sergipe, a exemplo de prefeituras do interior de outros Estados do
Nordeste, promovem a “ajuda aos cidadãos da seca”, e distribuem para a
população indistintamente, a quantia de aproximadamente R$ 60,00 por
pessoa por mês, além da distribuição quase gratuita de pescado pela CHESF à
população, principalmente às famílias de pescadores que viviam na região e
foram prejudicados com a construção da Usina.

Essa ajuda financeira em Canindé do São Francisco provém dos


royalties pagos pela CHESF ao município pela construção e uso da Hidrelétrica
de Xingó. Para os comerciantes essa ajuda influencia negativamente na oferta
de mão de obra, pois as famílias já têm garantido o mínimo para a
sobrevivência, e não buscam novos empregos, ou qualificação, mesmo quando
essa é oferecida gratuitamente pelo poder público, ou pelos comerciantes da
região.

A apresentação destes significativos recursos turísticos, somados às


agradáveis sensações que a visita ao ambiente descrito proporciona aos
visitantes, verifica-se, portanto a viabilidade de tornar o município de Canindé
do São Francisco Pólo de apoio ao turismo para a Região de Xingó.
CAPÍTULO 4

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES.

O discurso de Marx sobre a necessidade do tempo livre e do lazer é


exaltado como forma de libertação da exploração pelo trabalho. Por se tratar de
capitalismo, ou seja, a modernidade como resultado do processo de avanço
tecnológico nas relações sócio-espaciais, sob o modo de produção capitalista,
dispõe o turismo como o mais recente fenômeno na acumulação do lucro para
o capital. No entanto, as relações de poder engendradas por este modo de
produção, podem ser também benéficas para as comunidades carentes, que se
presta a adotar a modernidade e a melhoria de sua qualidade de vida, diante
dos recursos naturais valiosos disponíveis.

O turismo como protagonista de transformações na relação homem-


natureza, sob o discurso do desenvolvimento sustentável – proteção e
conservação racional dos recursos naturais, também passa a ser exigido cada
vez mais como um fenômeno que pode contribuir para ações, que reduzam as
desigualdades regionais e as disparidades sociais. Para CORIOLANO, “A
transformação do turismo ocorre por uma consciência cada vez mais exigente
com a proteção e conservação do patrimônio natural e cultural, com o
saneamento básico e qualidade de vida dos residentes” (2005, p. 69).

Entendendo por qualidade de vida a melhoria das condições de


salubridade e dignidade, ou seja, a maneira de bem viver e não a de acumular
bens, de forma que transpareça uma sociedade qualificada e voltada
agradavelmente para o atendimento satisfatório ao turista.

A transformação que ocorre no planeta Terra, face ao movimento da


sociedade em busca de um espaço cada vez mais globalizado, reflete a vida,
ou o “estilo de vida” das pessoas que habitam os diferentes espaços. As
necessidades humanas são satisfeitas observando a cultura e hábitos de
sociedades cada vez mais exigentes, tendo a modernidade refletida na
tecnologia e nas telecomunicações, mostra a nova organização do território.
Neste contexto inclui-se o município de Canindé do São Francisco que passa a
ter a oportunidade de viver um outro tempo, diferente daquele vivido até bem
pouco tempo, o tempo da modernidade e do desenvolvimento.

A pesquisa realizada na região de Canindé do São Francisco


permitiu a percepção parcial do panorama das potencialidades ambientais para
o turismo, seu estágio de atuação, possibilidades de expansão e
desenvolvimento.

Porém é impossível falar de desenvolvimento e ignorar a


sustentabilidade do mesmo. “Garantir para as atuais e futuras gerações” é um
pensamento generoso, mas não há formulas para alcançá-lo. O que ocorre na
maioria das vezes é o desconhecimento do como usar, como fazer, como
garantir o futuro, quando se demonstra não saber usar o que se tem no
presente.

É através do diagnóstico turístico que se pode formatar planos de


ação, com atividades inerentes ao planejamento. O estudo mostrou ser este
um momento necessário para se identificar os tipos de recursos turísticos da
região, sejam eles naturais ou culturais, o estado de conservação dos mesmos
e se estão preparados para receberem turistas, pois no mercado turístico se
inicia uma fase de descobertas das belezas naturais e culturais do Estado de
Sergipe.

O Governo do Estado vem, nos últimos três anos investindo em


marketing, e atualmente começou a colher os frutos. Porém ainda não
conseguiu sanar suas debilidades estruturais como estradas pavimentadas
e/ou recuperadas. Programas como o Prodetur Nordeste ajudaram e continuam
atuantes, porém eles se restringem à faixa litorânea dos estados. Como
Canindé do São Francisco está localizada no interior algumas obras podem
ajudar, mas é necessário um trabalho mais intenso e direcionado.

A rota turística Aracaju – Xingó já teve seu traçado inicial alterado


devido às más condições das estradas, e o fluxo que antes passava pelo
município de Nossa Senhora das Dores para se chegar a Canindé do São
Francisco hoje atravessa a cidade de Nossa Senhora da Glória. Para o turista
essa alteração não tem significância, porém para os comerciantes da cidade de
Nossa Senhora das Dores que investiram em seus pequenos negócios, a
mudança ocasionou perdas econômicas.

Iniciamos a pesquisa considerando que o turismo influenciava


positivamente a vida de Canindé, porém no decorrer das investigações
percebemos a distância que estava da realidade. Na atualidade considero que
a influência foi mínima, e somente em um prognóstico otimista é que
visualizamos reflexos positivos no comércio e na sociedade em curto prazo,
apesar de alguns comerciantes acreditarem e investirem, são casos isolados.
Acreditamos que em médio e longo prazo a atividade vai ter peso mais
significativo na economia do município.

Identificando através do estudo os principais atrativos turísticos da


região, percebemos que os equipamentos e serviços turísticos e equipamentos
e serviços de apoio são insuficientes para atender confortavelmente a
demanda, e precisam passar por reformas e ampliações, sendo até mesmo
necessária a criação de novos equipamentos como restaurantes, para suprir as
necessidades dos turistas, e também da população local.

Apesar de Canindé ser a segunda cidade em arrecadação de


impostos, do Estado de Sergipe, seu desenvolvimento não é compatível com
tal status. Falta empenho do poder público tanto em atividades comerciais para
abastecimento da própria população como em relação a outras atividades e o
turismo se enquadra nisso. Acaba-se gerando um “círculo vicioso”, nem o
poder público municipal investe, esperando os empresários se posicionar a
favor do desenvolvimento, e nem estes buscam novos empreendimentos, ficam
esperando um posicionamento mais efetivo da prefeitura.
O poder público e comunidade não trabalham afinados para se
estabelecer políticas e produtos turísticos diferenciados, tão necessários ao
desenvolvimento sócio-econômico. Alguns poucos empresários visualizam no
turismo uma chance de bons resultados financeiros e se empenham em atrair
turistas, através de divulgação, porém ainda não perceberam as necessidades
de se prestar um bom serviço e não investem em qualificação.

O trabalho reconhece também a necessidade de um estudo


aprofundado na região de Canindé do São Francisco acerca do impacto
ambiental causado pelo turismo, uma análise imprescindível para a
conservação da integridade dos recursos naturais de interesse turístico, a ser
realizada por equipes multidisciplinares. Verificou-se a necessidade de se
auferir a capacidade de carga, com os números máximos diário, mensais ou
anuais de visitantes que o atrativo turístico natural pode suportar, sem sofrer
alterações significativas em sua essência, já que os turistas estão freqüentando
tanto a represa como algumas trilhas.

O turismo mostra-se ainda incipiente na cidade de Canindé do São


Francisco, porém com a Rota Aracaju – Xingó e a entrada do Estado no circuito
nacional de roteiros turísticos, a tendência do fluxo é crescer. É importante
preparar a população e comércio local para a expansão sócio-econômica e
cultural que vem a seguir. Percebemos como um bom momento para iniciar o
diálogo com a população, para esclarecê-la sobre a importância do tema, e
buscar a formação de grupos de estudo e parceiros para o desenvolvimento do
planejamento turístico. É o momento de se formar o Fórum Municipal de
Turismo. Os trabalhos de sensibilização e pesquisa junto à população
fornecem dados que norteiam ações, bem como os objetivos, os custos e os
limites do desenvolvimento aceitos pela sociedade, para minimizar a perda de
privacidade, identidade e agressões ao meio ambiente.

A comunidade deve participar mais ativamente da elaboração dos


planos na sua totalidade, ajudando também na definição dos atrativos,
equipamentos e serviços a serem explorados, restaurados ou resguardados da
visitação. Essa participação dá-se através dos fóruns, das Associações de
Classes, das Organizações Não Governamentais, de qualquer instrumento
agregador que permita às representatividades atuarem de forma positiva para
as comunidades que representam. Isso é o chamado processo participativo de
planejamento, e com as pesquisas e prospecções iniciais, e estabelecidos os
recursos turísticos viáveis é o momento de transformar os mesmos em
produtos atrativos e passíveis de serem consumidos pelos turistas, e ainda,
ofertar à população caminhos para empreender e se beneficiar realmente do
turismo, através de pequenos negócios nos ramos de hospitalidade e
artesanato.

São esses os primeiros passos na direção do desenvolvimento


sustentável do turismo na região. Mas as ações públicas e privadas não param
aí. Muitas outras vão surgindo e se fazendo necessárias continuamente, como
manejo de trilhas, a interpretação ambiental, os programas de capacitação, que
uma vez iniciados precisam de constante monitoramento. É a chamada Gestão
integrada, onde a visitação dos atrativos precisa ser sempre controlada, tanto
pelos empresários como pela população e o poder público. Integrada também
deve ser a participação da comunidade através do voluntariado, das pesquisas
das atividades turísticas como o ecoturismo, da administração das práticas
contábeis, pois deixar o desenvolvimento e a preservação ambiental e cultural
a cargo somente do poder público e dos empresários pode significar impactos
negativos maiores que o desejado, e não é essa a premissa do
desenvolvimento sustentável.
Um turismo de qualidade só se consegue através da manutenção do
ambiente natural, do patrimônio, e com a educação e formação dos
profissionais do setor, bem como do turista que visita a localidade. O turista
pode e deve ser educado, através de palavras, de sinalização e
acompanhamento. Observando suas características e estudando seu
comportamento, sob a ótica do preço, da sazonalidade e da faixa etária, obtém-
se a base para o um novo formato, mais correto do produto turístico, que pode
ser ecológico e ou cultural.

A população de Canindé, como visto em entrevistas, não tem


tradição em turismo, nem em participação popular. Essas atividades não se
despertam na população em pouco tempo, é um trabalho para ser realizado
ininterruptamente para obtenção de resultados em médio e longo prazo. Este
procedimento trouxe benéficos retornos em todas as áreas que foi implantado.
Entendo ser um bom momento para se iniciar programas de participação em
educação ambiental, turismo e gestão.

A exemplo de outras Represas com potencial hidrográfico para


exploração turística, como é o caso da Represa do Rio Manso em Chapada do
Guimarães (MT), a represa de Martinópolis (SP) entre outras, a represa de
Xingó não apresenta o mesmo uso recreativo. Praticamente não existem
barcos de pequeno, médio e grande porte para navegação de lazer nem
marinas na região de Canindé, apenas algumas poucas embarcações
pequenas, como canoas de madeira e barcos de alumínio utilizados por
fazendeiros ribeirinhos. Uma das explicações para esse fato foi dada pela
proprietária do restaurante Karrancas e pelo guia de turismo Aragão, quando
disseram que isso se deve ao baixo poder aquisitivo da população, e a
proximidade com o mar, que direciona a navegação de lazer.

Um outro ponto levantado durante as entrevistas é que por Canindé


do São Francisco e toda sua região ter uma população muito pobre, “ostentar”
um barco ou outro tipo de embarcação a motor para diversão não é “bem visto”
entre os moradores, que se contentam em nadar nas águas do rio abaixo da
Represa nas diversas praias de rio que se formam, ou passear nos barcos
oficiais de turismo, apesar de considerarem os preços abusivos.

A ajuda em dinheiro e pescado oferecida pela Prefeitura para a


população acaba desestimulando a busca e manutenção dos empregos, pois
se sabe que sempre haverá o dinheiro no fim do mês, e que apesar de pouco,
oferece condições para uma família ter o mínimo necessário para sua
sobrevivência. Posto que esses habitantes tenham como costume limitarem
suas necessidades ao mínimo adquirido, ainda se reportando aos costumes
adotados por conta das condições precárias que vivem os povos das regiões
de secas prolongadas. Isso contribui também para o absenteísmo e o turnover
dos empregados nas empresas da região.

O poder público pode e deve prover lazer para a população. Em uma


região tão árida, castigada pela seca, poder usufruir um espaço de lazer do
porte da represa de Xingo é um privilégio que poucos se sentem merecedores
de possuir, pois não estão e não foram conscientizados dos direitos ao lazer
que podem desfrutar. Prover o local com instalações adequadas com
banheiros, lanchonetes, lixeiras, espaços para pic-nic, estacionamentos lojas
de artesanato e facilidades é tanto função do poder público quanto de parceiros
da iniciativa privada, visto que é através dessas parcerias que se fomenta
sócio-economicamente um lugar.

Observando as modificações que a paisagem já sofreu, em


decorrência das ações inadequadas do homem, não só em Canindé como em
outros lugares, a atividade mostra ser de risco para o meio ambiente. Impedir o
uso é um caminho, porém ter um recurso e não poder utilizá-lo acaba gerando
insatisfações generalizadas. A área do entorno da represa pertence a diversos
proprietários com fazendas de pequeno e médio porte. Porém a área onde está
localizado o restaurante Karrancas pertence à CHESF. Este local poderia se
tornar uma Reserva de Proteção Particular Natural, ou uma Unidade de
Conservação, aberto parcialmente à população local e turistas, como forma de
acesso ao lago, e ainda opção de lazer.

Percebe-se que não existe nenhum tipo de sinalização. Para o


turista que vai por conta própria as dificuldades são muitas, vão desde a falta
de sinalização viária e turística, periculosidade da estrada esburacada, falta de
sinalização de navegação, até a ausência de postos de informações e estrutura
na estrada. Para as empresas que transportam turistas o custo com transporte
é elevado, encarecendo o produto, e causando em todos o desconforto de se
trafegar sem segurança.

A Rota Aracaju – Xingó beneficia poucos, porém possui um potencial


bem maior do que o utilizado. Cidades da rota como Poço Redondo, Nossa
Senhora da Glória e Itabaiana poderiam ser mais exploradas turisticamente,
pois possuem atrativos naturais e culturais e, no entanto se prestam a local de
passagem ininterrupta de turistas. Povoados como o Sítio dos Bordados em
Poço Redondo, que produzem a renda de Bilro, Ponto Cruz e exportam seus
produtos para diversos outros países no mundo, acabam sendo ignorados
pelos turistas que ali trafegam. Ali não foram instaladas lojas adequadas com
atrativos que possibilitem que o turista possa conhecer os trabalhos de
bordado.

No entanto, na estrada que leva a Xingó (BR SE-206) existem


artesãos que vendem seus produtos cujas qualidades se tornaram atrativas,
refere-se aqui a “Dona Nena”, uma doceira famosa que adequou seu comércio
para atender os turistas e atualmente se tornou ponto de parada obrigatória de
todos que por ali trafegam.

O planejamento fornece apenas as ferramentas para se desenvolver


um produto turístico com sustentabilidade. O trabalho não se restringe a
pesquisar e planejar. Outras fases são necessárias como os levantamentos
contínuos, a viabilidade econômica e ecológica, bem como a implementação
responsável do processo, que é praticamente a garantia do sucesso do
planejamento.
A nossa intenção nesta pesquisa foi reconhecer algumas
contribuições para perceber e pensar o turismo com um novo olhar, como parte
de um contexto multidisciplinar e de grande complexidade, porém acessível e
provedor de condições de desenvolvimento humano, além de fonte de dados
para a elaboração de políticas públicas e planejamento turístico para Canindé
do São Francisco. Não estamos finalizando um trabalho, mas apenas
começando um processo.
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www.programa-xingo.gov.br/biodiversidade/biodiversidade.htm 18/05/2005
www.programa-xingo.gov.br/recursos_hidricos/r_hidricos.htm 18/05/2005
www.turismoemsergipe1.hpg.ig.com.br/municipios_caninde_de_são_francisco.htm
18/05/2005
ANEXO 1
LISTA DE ENTREVISTADOS

Aragão, 40 anos - Guia de Turismo e empresário, responsável pelos passeios


de barco e catamarã na represa de Xingó em Canindé do São Francisco – SE.
Delcina Fernandes Alves - “Dona Didi”, 68 anos – Funcionária pública
aposentada, diretora do Grupo da Melhor Idade, foi professora, diretora de
escola, Secretaria Municipal de Ação Social de Canindé do São Francisco - SE.
Joab Almeida Silva, 28 anos - Turismólogo - Funcionário da Secretaria
Estadual de Turismo de Sergipe – SETUR e Banco do Nordeste - Aracaju –
SE.
Lígia Fontes, 49 anos – Estudante de Turismo e Guia de Turismo em Sergipe –
SE.
Lílian Mesquita, 28 anos – Turismóloga, Mestre em Meio Ambiente,
Coordenadora do Curso de Turismo da FaSe.
Moises de Aguiar, 55 anos – Assessor do Instituto de Desenvolvimento
Científico de Xingo – Instituto Xingo, em Canindé do São Francisco – SE.
Vera Brasil, 40 anos – Proprietária do Restaurante Karrancas em Canindé do
São Francisco - SE.
Wilson Brasil, 45 anos – Engenheiro da CHESF, proprietário do Restaurante
Karrancas em Canindé do São Francisco – SE.

Conversas informais:

Leninha – Lanchonete e sorveteria Kibom.


José – Farmácia da cidade.
Antonio – Supermercado
Turistas em visitação ao Canyon.
População local.
ANEXO 2
GLOSSÁRIO

Absenteísmo – A falta do funcionário ao trabalho.


Atrativo turístico – É todo lugar ou acontecimento de interesse turístico, que
provoca o deslocamento de grupos humanos para conhecê-lo. Pode ser natural
ou cultural.
Autóctone – Morador local, residente da comunidade.
Capacidade de carga – Capacidade que tem um lugar ou meio de suportar
determinada intensidade de uso.
Complexo turístico – Conjunto de equipamentos, serviços e atrativos
turísticos concentrados em uma área, onde os visitantes têm condições de
permanecer por vários dias. Embora disponha de certa infra-estrutura turística
de alimentação, hospedagem, entretenimento, não se constitui em um centro
urbano.
Demanda turística – É o total de pessoas que visitam uma região, país ou
atrativo, e os recursos financeiros que gera.
Ecoturismo – É o segmento da atividade turística que utiliza, de forma
sustentável, o patrimônio natural e cultural.
Equipamentos e serviços de apoio – Instalações e serviços que existem para
atender necessidades da comunidade, mas que são de muita utilidade para o
turismo, tais como hospitais, clínicas, auto mecânicas, agências bancárias,
locais de entretenimento.
Equipamentos e serviços turísticos – Representam o conjunto de
edificações, instalações e serviços indispensáveis ao desenvolvimento da
atividade turística. Compreendem os meios de hospedagem, serviços de
alimentação, entretenimento, agenciamento, informações, instalações
sanitárias, estacionamentos, entre outros.
Infra-estrutura básica - Condições básicas necessárias que garantam uma
boa qualidade de vida para a comunidade e à prática do turismo, tais como:
sistema de transportes, sistema de comunicação, energia elétrica, serviço de
abastecimento de água, rede de esgoto e outros.
Oferta turística – Conjunto de elementos compostos por atrativos turísticos,
serviços turísticos, serviços públicos e infra-estrutura.
Operadora – Empresa responsável pela montagem dos pacotes turísticos.
Pacote turístico – Roteiro de viagem predeterminado pela operadora de
viagem, que inclui os meios de transportes, hospedagem, alimentação,
passeios, traslados etc.
Patrimônio cultural – Bens de natureza material e imaterial, tombados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação,
à memória dos diferentes grupos da sociedade nos quais se incluem: os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, arqueológico,
paleontológico e científico.
Patrimônio natural – O conjunto de monumentos naturais, acidentes
geológicos, habitat de espécies ameaçadas de extinção, desde que
apresentem valor científico e/ou estético excepcional.
Produto turístico - É um composto de atividades e serviços relativos ao
alojamento, à alimentação e às bebidas, aos transportes e serviços, à
aquisição de produtos locais, às visitas e aos divertimentos. Sendo que, estas
atividades estão ligadas a uma atração cultural ou natural, fatores estes que
determinam o fluxo de turistas nos locais onde se encontram situados.
Receptivo – serviços prestados aos viajantes no local do destino.
Recurso turístico - Matéria prima de um país ou região para o
desenvolvimento da atividade turística. Divide-se em Natural e Cultural.
Sazonalidade - Concentração dos turistas em certa localidade em
determinadas épocas do ano.
Trade – Conjunto de empresas e instituições ligadas ao turismo.
Turnover – Rotatividade de funcionários em uma empresa, cargo ou setor.
Envolve demissão, contratação e treinamento de novos funcionários.

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