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II - TITULAÇÕES REDOX
1) Gráfico E x Vtitulante - curva ascendente e não-ascendente
2) Cálculos de potencial - Exemplo: Titulação de 25 mL de FeSO4 0,1M com Ce(SO4)2 0,1 M,
adicionando diversos volumes de titulante e calculando o potencial resultante.
3) Construção da curva de titulação
4) Análise da curva de titulação
5) Teoria dos indicadores redox
6) Escolha de indicadores
7) Cálculo do erro provocado pelo indicador
8) Exercícios
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Eletroquímica – Potenciometria – Prof. Evelton Casartelli – DEQUIM – ICE – UFRRJ – 1/2003
EQUILÍBRIO REDOX
INTRODUÇÃO À ELETROQUÍMICA
Esta introdução tem como objetivo a caracterização de certos termos utilizados neste
estudo.
1. O que é uma reação redox? É aquela onde os elétrons são transferidos de um reagente para
outro. Assim temos que, em uma reação redox, ocorre uma semi-reação de redução e uma
semi-reação de oxidação, simultâneamente. Ex.: Cd+2 + Zn (s) Cd (s) + Zn+2
2. O que é uma semi-reação? É a reação que representa a oxidação ou a redução de uma espécie
envolvida na reação redox global. Ex.: na reação acima, as semi-reações são: a) Cd+2 + 2 e-
Cd (s) - semi-reação de redução; e Zn (s) Zn+2 + 2e- - semi-reação de oxidação.
3. O que é um potencial padrão de eletrodo? É aquele determinado em relação ao potencial
padrão da reação de redução do hidrogênio que é de 0,00 Volt. Observemos que os valores
existentes nas tabelas de potenciais foram obtidos em condições padrão, ou seja, a 25oC, 1 atm,
e concentração molar dos íons, em solução aquosa, igual a 1 M (daí serem chamados potenciais
padrão). Por convenção adotada mundialmente, as semi-reações são escritas no sentido da
redução da espécie química sendo que os potenciais são chamados de potenciais padrão de
redução, simbolizado por EoR (observem como escrevemos as semi-reações no item 2).
4. Agentes redutores e oxidantes, o que são? Como foi dito, temos uma semi-reação de oxidação
e uma de redução ocorrendo simultâneamente em uma reação redox. É correto deduzirmos que
existirá, então, uma substância que promova a oxidação da outra e esta outra, por sua vez, irá
reduzir a primeira. Chamamos de agente redutor a substância que possui uma grande tendência
a se oxidar, doando elétrons com muita facilidade, fazendo com que outras substâncias se
reduzam (fiquem com carga negativa); os potenciais padrão de redução para as semi-reações
destas espécies químicas são mais positivos. O agente oxidante é aquele cuja semi-reação de
redução, que o caracteriza, possui um potencial de redução mais negativo; agentes redutores
possuem a característica de terem uma grande tendência a se reduzir, aceitando elétrons com
muita facilidade, fazendo com que outras substâncias se oxidem (fiquem com carga positiva).
Temos que adicionar a estas definições o fato de que um agente só será oxidante caso exista na
mesma solução uma espécie química que possua um potencial de redução maior que o dele, ou
seja, um potencial de redução maior, mais positivo. Daremos exemplos mais adiante.
5. O que são formas oxidada e reduzida? São as formas nas quais as espécies químicas oxidante e
redutora são encontradas antes e após a reação ter se processado. Por exemplo, um oxidante vai
oxidar alguém e quando isto acontece ele se reduz, certo? Pois bem, antes da reação a forma do
oxidante se chama forma oxidada e após a reação ter se processado o oxidante estará na forma
reduzida. Como estas reações são reversíveis, podemos traçar uma analogia com as reações
ácido-base segundo a nomenclatura dos pares conjugados, dada por Bronsted-Lowry:
Ácido1 + Base2 Ácido2 + Base1
onde Ácido1 e Base1 são os pares conjugados, assim como os que
possuem o índice 2. Quando temos uma reação redox olha só como é que fica:
Rred + Oox Rox + Ored onde R está à
esquerda na forma reduzida e à direita na forma oxidada, o mesmo ocorrendo com O, oxidado
à esquerda e reduzido à direita.
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Dentre os métodos usados para balancear equações químicas, temos o método do íon-
elétron, que, para nós, é particularmente mais abrangente. Vamos discuti-lo.
A etapa seguinte é balancear a carga. À esquerda, a carga líquida é 2x(+2) + 2x(-1) = +2; à
direita é zero. Devemos portanto, adicionar dois elétrons, cada um com uma carga de -1, à
esquerda, para dar:
2Hg+2 + 2Cl + 2e- Hg2Cl2
Uma vez que aparecem dois elétrons em cada lado da equação, podemos cancelá-los, de tal
sorte que a equação balanceada final seja:
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Em muitas reações redox que ocorrem em solução aquosa, a área desempenha um papel
ativo. Qualquer solução aquosa contém as espécies, H2O, H+ e OH-. Em solução ácida as espécies
predominantes são H2O e H+; em solução básica são H2O e OH-. Ao balancearmos reações parciais
que ocorrem em solução, podemos usar estas espécies para efetuar o balanço material.
Para balancear reações parciais em solução ácida temos os seguintes pasos:
a) Para balancear o átomo de H, adicionamos um íon H+ ao outro lado da equação;
b) Para balancear um átomo de O, adicionamos uma molécula de água ao lado deficiente em
oxigênio e, então, dois H+ ao lado oposto, para remover o desbalanceamento do hidrogênio.
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Como dito anteriormente, convencionou-se mundialmente que os potenciais de eletrodo
seriam escritos no sentido das semi-reações de redução. Isto ocorreu em 1953 em um evento
conhecido como a Convenção de Estocolmo ou Convenção IUPAC (International Union of Pure
and Applied Chemistry). Procuramos relacionar alguns potenciais de redução na tabela abaixo.
se reduz mais
facilmente
oxidante
forte!
Conclusões que podemos
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tirar da tabela 1:
1. Quanto mais positivo for o potencial, maior será a tendência da forma oxidada ser reduzida.
Em outras palavras, quanto mais positivo o potencial de redução, mais forte será o agente
oxidante, mais forte será o poder oxidante da forma oxidada; mais fraco será o poder redutor
da forma reduzida.
2. Quanto mais negativo for o potencial, maior será a tendência da forma reduzida ser oxidada.
Em outras palavras, quanto mais negativo for o potencial de redução, mais fraco será o agente
oxidante, mais fraco será o poder oxidante da forma oxidada; mais forte será o poder redutor
da forma reduzida.
Verifiquem através deste exercício como podemos verificar a força de um agente oxidante
e de um agente redutor:
Ex1.: Colocar os íons em ordem crescente de força oxidante, de acordo com as reações abaixo:
2H+ + Cd H2(g) + Cd+2
+
2 Ag + H2 (g) 2 Ag + 2 H+
Cd+2 + Zn Cd + Zn+2
Observando a segunda reação, temos que Ag+ aceita melhor elétrons do que o H+. A outra
reação que possui hidrogênio reagindo é a primeira reação. Nela, observamos que o Cd reduz o íon
H+, de modo que o H+ pode ser considerado um agente mais oxidante do que o Cd+2. A terceira
reação possui o íon Cd+2 sendo reduzido pelo Zn, de modo que ele é mais efetivo para receber
elétrons do que o Zn+2.
Ordem de força oxidante: Ag+>H+>Cd+2>Zn+2
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3) POTENCIAL PADRÃO DE REAÇÃO GLOBAL
A combinação de várias semi-reações pode ser feita de forma a termos uma reação redox
global. Em Química Geral, vocês devem ter utilizado estas semi-reações para construir pilhas
voltaicas ou pilhas eletroquímicas.
Vamos utilizar o exemplo clássico da reação entre Fe+2 e Ce+4 para demonstrar como se
calcular o potencial padrão da reação global.
Primeiro escrevamos as semi-reações no sentido da redução, como está na tabela de
potenciais:
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FIGURA 1
- Esquema
de células
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ANODO (-) CATODO (+)
5) ESPONTANEIDADE DA REAÇÃO
Foi discutido no item 3, com um exemplo bem geral.
Quando trabalhamos com potenciais padrão, não há problemas para se saber se determinada
reação ocorre espontâneamente ou não. Porém, quando temos semi-reações cujos íons não se
encontram na concentração padrão de 1M (ou diferenças na pressão quando temos gases
participando da reação), ou, quando temos uma temperatura diferente da padrão que é de 25oC,
temos que utilizar a equação de Nernst para fazer o cálculo do potencial de cada semi-reação e
depois, o potencial global, para sabermos se a reação é espontânea ou não. Isto será discutido no
próximo item.
6) EQUAÇÃO DE NERNST
Para uma reação redox do tipo:
aA + bB cC + dD
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o RT [C]c [D]d
E = E − 2,303 log
nF [A ]a [B]b
onde, Eo = potencial padrão (volts)
R = constante dos gases ideais (8,314 J/mol.K)
T = temperatura em K (Kelvin)
F = constante de Faraday (96485 C)
n = número de moles de elétrons envolvidos na semi-reação
0,0592
o [C]c [D ]d
E= E − log
n [A ]a [B]b
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8) EXERCÍCIOS
a) Qual será a reação espontânea entre o conjunto de semi-reações abaixo? Calcule o EoT para cada
combinação. Os Eo encontram-se na Tabela 1. Escreva a notação para as células cuja reação é
espontânea.
Cr+3 + 3e- Cr e MnO2 + 4H+ + 2 e- Mn+2 + 2H2O
TITULAÇÕES REDOX
1) GRÁFICO E X Vtitulante
As titulações redox baseiam-se na grande mudança no potencial de uma célula formada por
titulante e titulado, que ocorre quando se atinge o ponto de equivalência. O gráfico para este tipo
de titulação será do tipo ExVtitulante, e cuja forma será a mesma apresentada pelas titulações ácido-
base, dependendo de quem é o titulante. Teremos as seguintes possibilidades:
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A
primeira
titulação possui
uma curva dita
ascendente e a
segunda,
descendente.
ATE
NÇÃO:
Não confundir
ascendente e
descendente
com curva
simétrica e não simétrica. Observar que as curvas não começam em Vtitulante= 0 mL.
Assim, a forma da curva pode ser prevista pelos valores de Eo das semi-reações do titulante
e do titulado.
De modo aproximado, o potencial muda durante o caminha de um lado do ponto de
equivalência para o outro e será igual à diferença dos dois valores de Eo. O potencial será próximo
do Eo para a semi-reação antes do ponto de equivalência (semi-reação do titulado) e próximo do
potencial da semi-reação do titulante quando além do ponto de equivalência.
Nas titulações ácido-base forte, o ponto de equivalência era sempre dado pelo pH = 7,
lembram? E, qualquer que fosse o pH de uma titulação ácido-base (fraco-forte ou forte-fraca), o
ponto de equivalência sempre era determinado na região mediana do salto do pH, não é? Pois bem,
as coisas mudam um pouco para as titulações redox. Quero dizer com isto, que em uma titulação
redox, o ponto de equivalência não se situará obrigatoriamente no meio do salto do potencial.
Como é isso???
Ocorre que, quando temos um oxidante e um redutor que reagem na proporção de 1:1, o
potencial do ponto de equivalência estará na região mediana do salto, e a curva é simétrica. Curva
assimétrica é aquela em que o potencial no ponto de equivalência não se encontra na região
mediana do salto de potencial, pois os reagentes não se combinam na proporção de 1:1.
Vejam a Figura 1 abaixo.
FIGURA 1
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Esta figura representa duas titulações utilizando Ce+4 0,1000 M como titulante:
A) Titulação de 50 mL de Fe+2 0,0500 M;
B) Titulação de 50 mL de U+4 0,002500 M.
Observar que a primeira é simétrica e que a segunda é assimétrica.
Em contraste com outras curvas de titulação, as curvas redox são independentes da
concentração dos reagentes exceto quando a solução é muito diluída, caso para o qual entram
outros conceitos o que não é nosso caso.
Para que tenhamos um ponto final bem definido é necessário que exista no mínimo uma
diferença de 0,2 V entre titulante e titulado. A Figura 2 apresenta o efeito das diferenças entre o
potencial do titulante e do analito ou titulado, na mudança no potencial do sistema, Esistema, na
região do ponto de equivalência.
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FIGURA 2
A constante de equilíbrio para a reação do Ce+4 com Fe+2 é 7 x 1012 enquanto que para com
U é 2 x 1037. O efeito da efetividade da reação é assim demonstrado pela figura 4, a qual mostra
+4
curvas para uma titulação com um redutor hipotético com potencial padrão de 0,20 V com vários
oxidantes hipotéticos com potenciais padrão na faixa de 0,40 a 1,20 V; as constantes de equilíbrio
correspondentes encontram-se entre 2x103 e 8x1016. Claramente, a maior mudança no potencial do
sistema (EoT - EoA) está associada com a reação que é mais completa. Neste aspecto as curvas de
titulação redox são similares àquelas envolvendo outros tipos de reações.
2) CÁLCULOS DE POTENCIAL - CONSTRUÇÃO DA CURVA DE TITULAÇÃO - ANÁLISE
DA CURVA
Vamos estudar estes três pontos através da titulação de 100 mL de Fe+2 numa concentração
de 0,1M por uma solução de Ce+4 a 0,1 M.
Uma titulação redox possui basicamente 3 pontos importantes:
1. Antes do ponto de equivalência
2. No ponto de equivalência
3. Além do ponto de equivalência
Os potenciais serão calculados com base na equação de Nernst. Vamos aos cálculos.
1a FASE
INÍCIO: inicialmente temos apens Fe+2. Não podemos calcular o potencial do par Fe+2/Fe+3.
APÓS OS PRIMEIROS mL DE Ce+4 ADICIONADO
Temos uma quantidade conhecida de Fe+3 formado. Determinamos o potencial para o par
Fe /Fe+3 através da equação de Nernst. O E total será próximo ao Eo para este par (titulado) antes
+2
do ponto de equivalência:
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[Fe +2 ]
E= E oFe +3 ,Fe +2 − 0,059.log
[Fe +3 ]
No ponto médio, a razão [Fe+2]/[Fe+3] será igual a 1 e log 1 = 0. O E neste ponto será igual
o
ao E . Isto só será verdadeiro caso a semi-reação seja simétrica. Por exemplo, para a reação
assimétrica:
I2 + 2e- 2I-, a concentração de iodeto é duas vezes a concentração de iodo:
-
[I ] = 2x[I2] no ponto médio.
[I − ]2 22
A razão será: = = 4.
[I 2 ] 1
( −0,059)
O potencial será menor do que o Eo por: x log 4 = −0,018V .
2
2a FASE
NO PONTO DE EQUIVALÊNCIA
No ponto de equivalência de nossa titulação, teremos as seguintes condições:
onde C = concentração do Fe+3 conhecida já que todo Fe+2 foi convertido a Fe+3. O x é
negligenciável em relação a C.
Existem duas maneiras de se calcular o E no ponto de equivalência:
1. Através da equação de Nernst
n1E1o + n 2 E o2 0,059 1
2. Através da fórmula geral: E = − log + p + q
n1 + n 2 n1 + n 2 [H ]
3a FASE
ALÉM DO PONTO DE EQUIVALÊNCIA
Além do ponto de equivalência, temos um excesso de Ce+4 e uma quantidade desconhecida
de Fe . aqui o E é próximo do Eo do titulante. O par Ce+4/Ce+3 determina o potencial. Quando
+2
chegarmos a 200% de titulação, quer dizer, quando adicionarmos o dobro do volume necessário
para se atingir o ponto de equivalência, o E será igual ao Eo do par Ce+4/Ce+3.
OBSERVAÇÃO: Como mostrado na Figura 2, temos que para um ponto final bem definido é
necessário que exista no MÍNIMO uma diferença de 0,2 V entre os potenciais de titulante e
titulado.
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TITULAÇÕES POTENCIOMÉTRICAS
Até agora falamos sobre reações redox nos aspectos de equilíbrio químico e da aplicação
destas para fins analíticos. Específicamente, as titulações redox foram estudadas baseando-se no
fato de que as concentrações eram concentrações molares efetivas. A partir de agora veremos que
as coisas não são tão ideais assim... Contudo modelos matemáticos foram criados para explicar
certos efeitos que ocorrem em soluções não diluídas de eletrólitos e que levam a uma alteração no
conceito de concentração, tal como o conhecemos. Estamos nos referindo a um novo conceito: a
atividade iônica. Este conceito é importantíssimo pois ao trabalharmos com potenciometria, seja
para determinarmos pH, seja quando se trabalhar com eletrodos de íons seletivos, não estaremos
medindo concentrações mas atividades...
2) O COEFICIENTE DE ATIVIDADE
A atividade de um íon, ai é definida por:
ai = Ci fi
3) A FORÇA IÔNICA
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Pela discussão anterior, é evidente que o coeficiente de atividade seja uma função da
concentração total do eletrólito da solução. A força iônica é uma medida da concentração total do
eletrólito e é definida por:
1
µ = ∑ C i Z i2
2
onde µ é a força iônica e Zi é a carga de cada íon individual. Todos os cátions e ânions presentes na
solução são incluídos no cálculo. Vejamos o seguinte exemplo: Calcule a força iônica de uma
solução 0,2M de KNO3 e uma solução 0,2M de K2SO4.
C K + Z 2K + + C SO − 2 Z SO
2
−2
µ= 4 4
onde para as concentrações [K+] =0,4 M e
2
-2
[SO4 ] = 0,2 M teremos uma força iônica, µ = 0,6.
2
0,51Z i µ
− log f i =
1 + 0,33α i µ
onde:
fi = coeficiente de atividade da espécie i
Zi = carga da espécie i
µ = força iônica da solução
o
αi = diâmetro efetivo do íon, i, hidratado em angstrom (1 A = 10-8 cm)
Os números 0,51 e 0,33 são constantes para a água a 25oC, que envolvem a constante
dielétrica do solvente e a temperatura absoluta. A limitação da equação é a precisão com a qual αi
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o
pode ser avaliado. Para muitos íons de carga simples, αi está geralmente em torno de 3 A , e para
propósitos práticos esta equação pode ser simplificada para forças iônicas abaixo de 0,01M:
2
0,51Z i µ
− log f i =
1+ µ
o
Para muitos íons de carga múltipla, αi pode ser tão grande quanto 11 A . Contudo em forças
iônicas abaixo de 0,01 M, o segundo termo do denominador torna-se pequeno em relação à
unidade, de tal forma que as incertezas em relação à medida de αi tornam-se sem importância e
esta equação pode ser aplicada na forma:
2
− log f i = 0,51Z i µ
A literatura se refere a esta equação como Lei Limite de Debye-Huckel (DHLL). Assim em
soluções de força iônica muito baixa, a os coeficientes de atividade tendem à unidade, a atividade
do íon se aproxima da concentração molar e as constantes de equilíbrio aparentes tendem às
constantes efetivas.
7)
POTENCIOMETRIA
Até agora falamos sobre equilíbrio redox em soluções aquosas, sobre potenciais padrão de
redução de eletrodo, e titulações redox. A partir deste ponto utilizaremos um instrumento chamado
potenciômetro para efetuar as medidas dos potenciais de eletrodos, e aplicaremos estes dados para
fins analíticos, determinando a concentração dos analitos envolvidos no sistema. Métodos
analíticos baseados nas medidas dos potenciais eletroquímicos são chamados de métodos
potenciométricos e a técnica é chamada de potenciometria.
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O potencial da cela em consideração será dado pela adição entre os vários potenciais que o
sistema exibe:
Ecela = Eind – Eref + Ejunção
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O eletrodo de calomelano pode ser representado esquematicamente como:
onde x representa a concentração molar de KCl na solução em contato com o mercúrio. Três
concentrações de KCl são comumente encontradas: 0,1 M; 1 M; e saturado (cerca de 4,6 M). O
eletrodo de calomelano saturado, ECS (ou SCE, em inglês) é o mais utilizado dado a facilidade de
preparação. Sua desvantagem principal é o seu grande coeficiente de temperatura o qual é
importante apenas em raras circunstâncias onde mudanças substanciais de temperatura possam
ocorrer durante uma medida. Seu potencial de eletrodo é igual a 0,2444 V a 25oC.
A semi-reação na meia cela de calomelano é:
A Tabela 1 apresenta uma relação dos potenciais para o ECS em função da temperatura e
da concentração de KCl. A Figura 1 apresenta um diagrama típico deste eletrodo.
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torna-se positivo por causa da mais rápida difusão dos íons H+. O lado concentrado, entretanto,
apresenta carga negativa devido ao excesso dos íons cloreto que se movem mais lentamente. A
carga desenvolvida tende a compensar as diferenças nas taxas de difusão dos dois íons de forma
que o equilíbrio seja atingido rapidamente. A diferença de potencial resultante desta separação de
carga pode ser de muitos centésimos de volt. A magnitude do potencial de junção líquida pode ser
minimizado colocando-se uma ponte salina entre as duas soluções. A ponte salina é mais efetiva se
as mobilidades dos íons positivos e negativos no dispositivo forem aproximadamente iguais e se
suas concentrações foram grandes. Uma solução saturada de KCl funciona muito bem nestes dois
aspectos. O potencial de junção líquida de tal ponte é de tipicamente alguns milivolts.
Todas as celas usadas para medidas potenciométrias contêm um ponte salina que conecta o
eletrodo de referência à solução do analito. Contudo incertezas na magnitude do potencial de
junção através desta ponte coloca um limite fundamental na exatidão dos métodos
potenciométricos de análise.
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onde Eind é o potencial de eletrodo do eletrodo metálico e aX é a atividade do íon X+n (ou
aproximadamente, para o caso de soluções diluídas, igual à sua concentração molar, [X+n]).
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Nós frequentemente expressamos o potencial de eletrodo do eletrodo indicador em termos
do logarítmo do inverso da concentração do cátion ou, mais simplesmente, da função-p do cátion.
Assim, substituindo a definição de pX na equação anterior teremos:
0 0,0592
E ind = E +n − pX
X n
Esta equação descreve precisamente o comportamento de um número de metais comuns
que são usados como eletrodos indicadors de primeiro tipo. Em contraste, certos metais duros
como Fe, Cr, W, Co e Ni, não fornecem potenciais reprodutivos. Além disso, gráficos do potencial
de eletrodo de um metal deste último tipo, como uma função de pX produzem frequentemente
retas cujas inclinações diferem significantemente do teórico (-0,0592/n). O comportamento não
ideal deste tipo de eletrodo pode ser atribuído a constrições e deformações na estrutura cristalina
do metal ou à presença de um filme de óxido sobre a superfície.
A figura ao lado representa um sistema potenciométrico
composto por um eletrodo de referência e um eletrodo
indicador de primeiro tipo.
0 −
E ind = E AgCl − 0,0592 log[Cl ] = 0,222 + 0,0592pCl
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O mercúrio serve como indicador de segundo tipo para o ânion EDTA, Y-4, sendo a semi-
reação no catodo de mercúrio, a seguinte:
para a qual
−4
0,0592 [Y ]
E ind = 0,21 − log −2
2 [HgY ]
0,0592 −4 0,0592
E =K− log[Y ] = K + pY
2 2
0,0592 1
onde K = 0,21 − log −2
2 [HgY ]
O eletrodo de mercúrio é assim um eletrodo valioso de segundo tipo para titulações com
EDTA.
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relação aos íons H+ são razoavelmente compreendidas. Além disso, este entendimento tem levado
ao desenvolvimento de outros tipos de membranas que respondem seletivamente a mais de uma
dúzia de outros íons. Os eletrodos de membrana são, algumas vezes, chamados de eletrodos p-íon,
porque os dados abtidos deles são apresentados como funções-p tais como pH, pCa, ou pNO3. As
membranas usadas na construção destes eletrodos são classificadas como cristalinas e não-
cristalinas. As não-cristalinas podem ser subdivididas em vidro, líquido e líquido imobilizado.
É importante observar no início desta discussão, que os eletrodos de membrana são
fundamentalmente diferentes dos eletrodos metálicos tanto em design quanto em princípios de
funcionamento.
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H+ + Glass- H+Glass-
Solução 1 Vidro 1 Vidro 1
H+Glass- H+ + Glass-
Vidro 2 Solução 2 Vidro 2
Onde o subscrito 1 refere-se à interface entre o vidro e a solução do analito e 2 refere-se à interface
entre a solução interna e o vidro. As posições destes dois equilíbrios são determinadas pelas
concentrações de íons H+ nas soluções dos dois lados da membrana. Nos pontos em que estas
concentrações diferirem , a superfície na qual a maior dissociação ocorrer ficará negativa em
relação à outra. Um potencial de fronteira, Eb, desenvolve-se através da membrana, e sua
magnitude depende da razão das concentrações de íons H+ das duas soluções. É esta diferença de
potencial que serve como parâmetro analítico na medida potenciométrica do pH.
OBS.: Uma membrana de vidro, comumente encontrada em um eletrodo de vidro, possui uma
espessura de 0,03 a 0,1 mm, e uma resistência elétrica de 50 a 500 megaohms.
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O potencial E1 é determinado pela razão entre as atividades dos íons hidrogênio na solução
do analito, a1, e na camada de gel, e pode ser considerada uma medida da força direcionadora para
a reação mostrada na Figura 7. Similarmente, E2 está relacionado à razão das atividades do íon H+,
a2, na solução de referência interna e na camada de gel correspondente e está relacionada à força
direcionadora para a reação abaixo (já vista anteriormente):
H+ + Glass- H+Glass-
Solução 1 Vidro 1 Vidro 1
H+Glass- H+ + Glass-
Vidro 2 Solução 2 Vidro 2
a1
E b = E 1 − E 2 = 0,0592 log Equação 1
a2
Como mostrado na Figura 8a, se a atividade do íon H+ do analito for 10 vêzes a atividade
na solução de referência,
10a 2
E b = 0,0592 log = 0,0592 V
a2
Se as duas atividades forem iguais, então Eb=0, como mostrado na Figura 8b. Finalmente
na Figura 8c, quando 10a1 = a2, Eb= -0,0592V.
Resumindo, o potencial de fronteira depende apenas das atividades do íon H+ nas soluções
em ambos os lados da membrana. Para um eletrodo de pH de vidro, a atividade do íon H+ da
solução interna a2 é mantida constante, de forma que a Equação 1 simplifica-se em:
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H+Glass- + B+ H+ + B+Glass-
Vidro 2 Solução Solução Vidro
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,
a 1 b1
K troca = ,
a 1 b1
onde a1 e b1 representam as atividades de H e B+ em solução e a e b linha, representam as
+
atividades destes íons na superfície do gel. A equação pode ser rearranjada para se obter:
,
b1 b1
,
= K troca
a1 a1
Para os vidros usados nos eletrodos de pH, Ktroca é tão pequeno que a razão de atividades no
gel é ordinariamente minúscula. A situação difere em meio fortemente alcalino. Por exemplo, a
razão de atividades no gel para um eletrodo imerso em uma solução de pH 11 que seja 1M em íons
sódio, é de 1011Ktroca. Aqui, a atividade dos íons Na+ relativa à dos íons H+ torna-se tão grande que
os eletrodos respondem a ambas as espécies.
onde kH,B é o coeficiente de seletividade para o eletrodo. A Equação 4 se aplica não só para
eletrodos indicadores de vidro para H+, mas para todos os outros tipos de eletrodos de membrana.
Coeficientes de seletividade encontram-se na faixa de zero (sem interferência) a valores maiores
que a unidade. Assim, se um eletrodo para o íon A responder 20 vezes mais fortemente que para o
íon B do que para o íon A, kA,B tem um valor de 20. Se a resposta para um íon C é 0,001 da sua
resposta para A (sutuação mais desejada), então kA,C=0,001.
O produto kH,Bb1 para um eletrodo de pH de vidro é ordinariamente pequeno relativamente
a a1 desde que o pH seja menor que 9; sob estas condições a Equação 4 simplifica-se na Equação
2. Em valores de pH altos, e a altas concentrações do cátion monovalente, o segundo termo da
Equação 4 assume um papel mais importante na determinação de Eb, e o erro alcalino é
encontrado. Para eletrodos especificamente produzidos para trabalho em meio altamente alcalino
(curva E da Figura 9), a magnitude de kH,Bb1 é bem menor do que para eletrodos de vidro comuns.
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Para o cátion X+n a 25oC, a resposta do eletrodo indicador toma a forma Nerstiana geral:
0,0592 0,0592
E ind = L − pX = L + log a x Equação 6
n n
onde L é uma constante e ax é a atividade do cátion. Para eletrodos indicadores metálicos, L é
ordinariamente o potencial padrão do eletrodo; para eletrodos de membrana, L é a soma de várias
constantees, incluindo o potencial assimétrico.
Substituindo a Equação 6 na 5, teremos:
E cela − (E j − E ref + L)
pX = − log a x = −
0,0592 / n
Os termos constantes nos parênteses podem ser combinados para dar uma nova constante
K:
E cela − K
pX = − log a x = − Equação 7
0,0592 / n
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0,0592
E cela = K − pX Equação 9
n
e para ânions:
0,0592
E cela = K + pA Equação 10
n
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que permitem a leitura de pH no interior de uma célula; eletrodos robustos, para inserção em fluxo
de líquido para monitoramento contínuo do pH; e pequenos eletrodos que podem ser engolidos
para medir a acidez dos líquidos do estômago (o eletrodo de calomelano é mantido na boca).
3) Desidratação – pode causar uma performance errática; aumento da imprecisão das medidas.
4) Erro de soluções neutras não tamponadas – porque o equilíbrio entre o tod da solução e a
camada de solução na superfície de uma membrana é estabelecido apenas lentamente em soluções
próximas à neutralidade, deve-se dar um tempo maior para que o sistema atinja o equilíbrio. Antes
de se usar o eletrodo para medir o pH neste tipo de solução, deve-se rinsar o eletrodo de vidro com
muita água. Então ambos eletrodos deverão ser imersos em sucessivas porções da amostra até que
uma leitura constante de pH seja obtida.
5) Variação no potencial de junção – Uma fonte fundamental de incerteza para a qual a correção
não pode ser aplicada; resulta da variação entre as composições do padrão e da solução
desconhecida.
8) TITULAÇÕES POTENCIOMÉTRICAS
Uma titulação potenciométrica envolve amedida do potencial de um eletrodo indicador
como função do volume de titulante. A informação fornecida pela titulação potenciométrica não é
a mesma obtida pela leitura direta. Por exemplo, as leituras diretas de uma solução de HCl, e outra
de HAc, 0,100 M deverão resultar em duas diferentes concentrações de H+ dado ao fato da última
estar parcialmente ionizada. Em contraste, a titulação potenciométrica destes dois ácidos, requererá
a mesma quantidade de base porque ambas soluções possuem o mesmo número de prótons
tituláveis.
Titulações potenciométricas produzem dados mais confiáveis que aqueles obtidos usando-
se indicadors visuais. São ótimas para titulações onde as soluções são turvas ou extremamente
coloridas. Possuem a desvantagem de serem mais lentas.; por outro lado podem ser automatizadas.
A Figura 12 ilustra um aparato típico para se proceder a uma titulação potenciométrica manual.
Seu uso envolve a medida e a anotação do potencial da cela (em mV ou pH) após cada adição de
reagente. O titulante é adicionado em grandes incrementos no início e de pouco a pouco quando se
estiver próximo ao ponto final da titulação ( como indicado por grandes mudanças na resposta por
unidade de volume).
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+ −
[H 3 O ][ A ] +
Ka = = [H 3 O ] e pKa = pH
[HA ]
Já que o eletrodo de vidro fornece uma boa aproximação de aH30+, o valor de Ka medido
difere do valor termodinâmico pela razão dois dois coeficientes de atividade. O coeficiente de
atividade no denominador da equação não muda significativamente com o aumento da força iônica
porque HA é uma espécie neutra. O coeficiente de atividade para A-, por outro lado, diminui com o
aumento da concentração do eletrólito. Ainda assim, a atividade observada do íon H+ é
numericamente maior que a constante de dissociação termodinâmica.
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ELETRODOS ÍON-SELETIVOS
Vários tipos de eletrodos de membrana, tem sido desenvolvidos nos quais o potencial da
membrana é seletivo para um íon ou íons, tal como o potencial da membrana de um eletrodo de vidro
convencional é seletivo para os íons hidrogênio. Esses eletrodos são muito importantes para a medida de
íons em solução especialmente a pequenas concentrações. Geralmente, esses eletrodos não são
suscetíveis ao “envenenamento” por proteínas e, assim, podem ser utilizados em fluidos biológicos.
Nenhum desses eletrodos é específico para um determinado íon, mas possuirá uma certa
seletividade por um íon ou grupo de íons. Daí serem chamados de eletrodos íon seletivos (ISE, ion-
selective electrode, ou EIS), ao contrário de eletrodos íon específicos.
Existem vários tipos de eletrodos, os quais podemos dividir em 7 grupos principais: eletrodos de
membrana de vidro; eletrodos de precipitados; eletrodos de estado sólido; eletrodos líquido-líquido;
eletrodos ionóforos em membranas plásticas; eletrodos de fios recobertos e eletrodos enzimáticos.
Observar que todos os eletrodos são sensíveis ao íon H+, mas os do tipo II e III são bem menos
sensíveis do que o do tipo I. Devido a esta resposta, os eletrodos devem ser usados em um pH
suficientemente alto para que a atividade dos íons H+ seja tão baixa que a resposta será determinada
40
primariamente pelo íon de interesse. Este limite de pH variará de eletrodo para eletrodo assim como de
íon para íon.
O tipo “sensível a sódio” pode ser usado pra determinar a atividade do íon sódio na presenã de
quantidades apreciáveis de K+. sua seletividade para o sódio sobre o potássio é da ordem de 3000 ou
mais. Eletrodos de vidro podem ser obtidos de forma a mostrarem uma razão de seletividade para prata
sobre sódio maior do que 1000. Eletrodos de vidro podem ser usados em amônia líquida e em meio de
sais fundidos.
2) Eletrodos de precipitados
A construção de eletrodos de precipitados é mostrada na Figura 1.
São usados principalmente para a medida de ânions, mas geralmente, apresentam resposta lenta e
são sujeitos a envenenamento. Um sal pouco solúvel tendo como seu anion o ânion a ser medido, e
suspenso em um a matriz semiflexivel, inerte, que consegue manter o precipitado em sua superfície. Tal
membrana é chamada de membrana impregnada de precipitado ou membrana heterogênea. O material
do suporte pode ser borracha de silicore, cloreto de polivinila (PVC), ou outros. Por exemplo, em um
eletrodo seletivo a iodeto, a membrana consiste de 50%m/m de AgI na borracha de silicone, e a solução
de enchimento é de iodeto de potássio. O eletrodo de referência interno é então um eletrodo de Ag/AgI.
Sulfato de potássio mais um sal de haleto, podem ser usados como solução de enchimento, sendo o
haleto usado para estabelecer um potencial constante para o eletrodo de referência.
Estes eletrodos são adequados para a medida de iodeto, brometo, cloreto, e sulfeto. Eletrodos íon
seletivos são vantajosos em relação ao eletrodo de fio de Ag/AgCl, visto serem insensíveis a
interferências redox e envenenamento de superfície, e possuem melhor seletividade para um íon haleto
sobre outros.
A sensibilidade dos eletrodos de precipitado é limitada pela solubilidade dos precipitados na
membrana. A solubilidade do AgI é de cerca de 10-8 mol/L, e o íon iodeto pode ser medido a
concentrações tão baixas quanto 10-7 mol/L. A solubilidade do AgCl é de 10-5 mol/L, e assim o limite de
41
determinação é cerca de 1000 vezes maior do que aquele para o iodeto. A seletividade para um dado
ânion sobre outros ânions aumenta com a diminuição da solubilidade do sal usado.
42
recipiente contendo a solução. Esta membrana é um bom condutor iônico com baixa resistência; e,
misturando-se o Ag2S com outro sal de prata ou sais de sulfeto(cujas resistências devem ser altas), ele
pode se tornar sensível a outros íons. Por exemplo, uma membrana de AgI/Ag2S irá responder ao íon I-
e, adoção a Ag+ e S-2. Uma membrana mista CuS/Ag2S, irá responder ao íon Cu+2 em adição aos outros
íons da membrana.
A principal restrição destes eletrodos de sais mistos é que a slubilidade do segundo sal deve ser
maior do que aquela do Ag2S; mas, por outro lado, deve ser suficientemente insolúvel que sua
dissolução não limite a valores relativamente altos de concentração o íon testado, de forma que possa ser
detectado.
Enquanto a membrana tiver suficiente sulfeto de prata para fornecer caminhos de condução de
íon prata através da membrana, ele funcionará como um eletrodo de prata. O potencial, então, é
relacionado com o íon testado através de uma série de equilíbrios similares àqueles descritos para um
eletrodo de segundo tipo, ou um eletrodo de tercero tipo; assim, o íon Ag+ disponível é governado pelo
equilíbrio de solubilidade. Outros eletrodos de Ag2S mistos, são disponíveis no mercado para Cl-, Br-,
SCN-, CN-, Pb+2, e Cd+2. Estes eletrodos, é claro, são sujeitos a interferências de outros íons que reagem
com Ag+ (no caso de eletrodos para ânions) ou com S-2 (no caso de eletrodos para cátions).
4) Eletrodos líquido-líquido
A construção básica destes eletrodos é mostrada na Figura 3. Aqui, a membrana determinante do
potencial é uma camada de um trocador de íons imiscível em água, mantido em seu lugar por uma
membrana porosa inerte. Esta membrana permite o contato entre a solução teste e o trocador de íons mas
minimiza a mistura. Dependendo do fabricante a membrana pode ser um polímero sintético flexível ou
uma placa de vidro poroso. A solução de enchimento interno contém o íon para o qual o trocador de íons
é específico mais um íon haleto para o eletrodo de referência interno.
45
mínimos trabalham satisfatoriamente (p.ex., Pt, Cu, Ag). Estes eletrodos são muito convenientes para
preparo e uso. Uma solução de THF dos ingredientes da membrana é colocada no fio, e o solvente é
deixado evaporar.
6) Eletrodos enzimáticos
Eletrodos íon seletivos usados em conjunto com enzimas imobilizadas podem servir como base
de eletrodos que são seletivos para substratos enzimáticos específicos. Enzimas são proteínas que
catalisam reações específicas em um alto grau de especificidade. Os reagentes são os substratos.
Considere a hidrólise do substrato uréia na presença da enzima uréase:
NH2CONH2 + 2H2O + H+ ==urease== 2NH4+ + HCO3-
O eletrodo de uréia pode ser preparado imobilizando-se urease em um gel e recobrindo com ele a
superfície de um eletrodo de vidro sensível a cátions monovalentes. Quando o eletrodo é mergulhado em
uma solução contendo uréia, a uréia se difunde na camada de gel e a enzima catalisa sua hidrólise para
formar íons amônio. Os íons amônio se difundem na superfície do eletrodo onde eles são detectados pelo
vidro sensível a cátions para dar uma leitura de potencial. Depois de 30 ou 60 s, uma leitura estável é
obtida, a qual, sobre uma certa faixa de trabalho, é uma função linear do logaritmo da concentração da
uréia. Uma série de eletrodos deste tipo têm sido descritos na literatura, através da escolha apropriada da
enzima imobilizada e do eletrodo.
46
equilíbrio de troca iônica na membrana/interface da solução envolve íons cálcio, e o potencial depende
da razão das atividades dos íons cálcio na solução externa e dos íons cálcio na fase da membrana.
A RAZÃO DE SELETIVIDADE
O potencial de um eletrodo ion seletivo na presença de um simples íon segue uma equação
similar à equação 1 para o eletrodo de membrana de vidro:
S
E ISE = k + log aíon Equação 1
z
A constante kNa corresponde àquela na equação de Nernst para o íon primário, sódio, sozinho.
ENaK é o potencial do eletrodo na mistura de sódio e potássio. KNaK é a razão de seletividade do
eletrodo para potássio sobre o sódio.É igual ao recíproco de KKNa, o qual é a razão de seletividade do
sódio sobre o potássio.
KNaK e kNa são determinados medindo-se o potencial de duas soluções de referência diferentes
contendo sódio e potássio e então resolvendo as duas equações simultâneas para as duas constantes.
Alternativamente, uma das soluções pode conter apenas sódio, e kNa é determinado da equação 1.
Podemos escrever as equações gerais para as misturas dos dois cátions como:
1 – Para A+ e B+:
E AB = k A + S log(a A+ + K AB a B + )
47
Equações similares podem ser escritas para eletrodos seletivos a ânions.
As equações acima são exemplos específicos de uma equação mais geral, chamada equação de
Nicolsky:
S
E AB = k A + log(a A + K AB a B2 z A / 2 z B ) Equação 3
zA
Onde zA é a carga do íon A (o íon primário) e zB é a carga do íon B. Assim, medida de sódio na presença
de cálcio usando o eletrodo para íon sódio seguiria a seguinte expressão:
S
ECaMgH = k Ca + log(aCa + 2 + K CaMg a Mg + 2 + K CaH a H2 + ) Equação 5
2
Na prática, as equações expandidas além de dois componentes não são estritamente funcionais, e
assim esta técnica é raramente usada. Desde que todos os eletrodos respondem mais ou menos aos íons
H+, a prática é manter-se a atividade dos íons H+ baixa o suficiente para que o produto K CaH a H2 + na
Equação 5, por exemplo, seja negligível quando comparado com os outros dois termos em parêntesis.
Um problema com as razões de seletividade deveria ser mencionado. Eles algumas vezes variam
com as concentrações relativas dos íons e não são constantes. Por esta razão, é difícil de se usar a razão
de seletividade nos cálculos envolvendo misturas de íons. Elas são boas para se prever as condições sob
as quais os íons interferentes podem ser negligenciados. Assim, na prática, as condições são geralmente
ajustadas de forma que o produto K AB aHz A+ z B seja negligível e uma simples equação de Nernst aplica-se
para o íon testado. Usualmente, uma curva de resposta é preparada, e se o íon interferente estiver
presente, este pode ser adicionado às soluções de referência nas mesmas concentrações que as das
amostras desconhecidas; o resultado seria uma curva de resposta não linear mas corrigida. Esta técnica
pode apenas ser usada se a concentração do interferente permanecer praticamente constante nas
amostras.
Um exemplo de como a razão de seletividade pode ser usada em um cálculo, é dado no problema
abaixo:
1) Um eletrodo cátion sensível é usado para determinar a atividade de cálcio na presença de sódio. O
potencial do eletrodo em uma solução de CaCl2 0,0100 mol L-1, medido contra um ECS é de +195,5
mV. Em uma solução contendo CaCl2 0,0100 mol L-1 e NaCl 0,0100 mol L-1, o potencial é de 201,8 mV.
48
Qual é a atividade do íon cálcio na solução desconhecida se o potencial do eletrodo nesta solução é de
215,6 mV versus o ECS e a atividade do íon sódio foi determinada com um eletrodo sensível a sódio,
como sendo 0,0120 mol L-1? Assuma uma resposta Nernstiana.
Resolução:
A força iônica do CaCl2 0,0100 mol L-1 é 0,0300, e a da mistura é 0,0400. Assim, o coeficiente
de atividade do íon cálcio na solução pura de CaCl2 é 0,55, e para os íons cálcio e sódio na mistura ela é
0,51 e 0,83 respectivamente. Assim,
k Ca = ECa − 29,58 log aCa + 2
49
na presença do íon sódio. Uma curva de resposta é preparada para o lítio, na presença de uma
concentração fixa de sódio, p.ex., 140 mM tal como encontrada no sangue humano. Um gráfico tal como
o mostrado na Figura 6 resulta. Na parte superior da curva, o eletrodo responde de forma Nernstiana aos
íons lítio. Quando a concentração de lítio diminui, o potencial do eletrodo é crescentemente afetado pelo
potencial (fundo) constante dos íons sódio. Quando a concentração de lítio é muito pequena, a resposta é
devido somente ao sódio (o potencial da linha de base do gráfico).
Dois métodos podem ser empregados para se estimar a razão de seletividade baseada nesta curva.
O primeiro é baseado em se descobrir graficamente o ponto no qual o eletrodo está respondendo
igualmente aos dois íons. Isto corresponde à atividade de A, a partir da porção linear extrapolada da
curva na qual o potencial é igual ao potencial de fundo devido a B (esta é a concentração de A que daria
aquele potencial caso não existisse B presente na solução, ou seja, se a curva seguisse a equação de
Nernst para A). Já que naquele ponto cada íon está contribuindo igualmente para o potencial, podemos
escrever (da Equação 3):
aA
a A = K AB a Bz A zB
ou K AB = Equação 7
a Bz A zB
50
S S 0,301S
E AB = k A + log 2a A = k A + log a A +
zA zA zA
Para uma inclinação Nernstiana a 25oC temos:
S 17,8
E AB = k A + log a A + mV
zA zA
A Equação 8 implica que a atividade de A que produz a mesma resposta que aquela do fundo de
B, possa ser encontrada graficamente do ponto no qual a linha extrapolada e a linha experimental
tenham uma diferença de 0,301S/zA mV, ou seja, 17,8/zA mV. Para um eletrodo para íon monovalente,
isto é 17,8 mV para uma resposta Nernstiana. Então a Equação 7 aplica-se novamente.
Embora estes dois métodos de cálculo raramente produzam valores idênticos para a razão de
seletividade, o princípio do cálculo é o mesmo, e os valores calculados são comparáveis.
51
determinada em se diluindo amostras e referências com uma solução 0,15 M de NaCl. Apenas o cálcio
não complexado é medido e não a fração complexada.
O coeficiente de atividade do íon sódio no soro humano normal, tem sido estimado usando
eletrodos íon seletivos, como sendo 0,780 ± 0,001, e na água do soro como 0,747 (o soro contem cerca
de 96% de água por volume). Soluções de referência de cloreto de sódio e de cloreto de potássio são
utilizadas para calibração dos eletrodos para a determinação de sódio e potássio no soro. Concentrações
de 1,0, 10,0, e 100,0 mmol L-1 podem ser preparadas com atividades respectivas de 0,965, 9,03 e 77,8
mmol L-1 para o íon sódio em solução pura de cloreto de sódio e 0,965, 9,02, e 77,0 mmol L-1 para o íon
potássio em solução pura de cloreto de potássio.
A resposta dos eletrodos íon seletivos é frequentemente lenta, e um tempo considerável deve ser
tomado para se atingir o equilíbrio da leitura. A resposta torna-se mais vagarosa a concentrações mais
baixas. Alguns eletrodos, por outro lado, respondem suficientemente rápido que podem ser usados para
monitorar taxas de reação.
Podemos resumir algumas das vantagens e desvantagens dos eletrodos íon seletivos e algumas
precauções e limitações em seu uso abaixo.
a) Eles medem atividades ao contrário de concentrações o que é uma única vantagem, mas um fator
que deve ser considerado ao se obter concentrações das medidas; interferência pode ocorres a
partir de efeitos de força iônica.
b) Eles medem ~ions livres isto é, a porção que não está associada com outras espécies.
Interferência química pode ocorrer por complexação, protonação e outros.
c) Eles não são específicos mas somente mais seletivos no sentido de um íon particular. Daí resulta
uma maior propensão a interferência de outros íons. Eles respondem aos íons hidrogênio e são,
assim, limitados ao pH.
d) Eles funcionam em soluções turvas ou coloridas, onde métodos absorciométricos falham.
e) Eles produzem uma resposta logarítmica, a qual resulta em uma faixa dinâmica de trabalho
ampliada geralmente de quatro a seis ordens de grandeza. Esta resposta logarítmica também
resulta em um erro essencialmente constante, ainda que relativamente grande, sobre a faixa de
trabalho onde a relação de Nernst é mantida.
f) Exceto em solução diluída, a resposta é bem rápida, frequentemente requerendo menos que um
minuto para a medida. A resposta do eletrodo é, em geral, suficientemente rápida para permitir o
monitoramento em fluxos de processos químicos na indústria ou em laboratório.
g) A resposta é dependente da temperatura por RT/nF.
h) O equipamento requerido para medida pode ser adaptado para operações em campo, em
pequenas amostras (p.ex. 1 mL) podem ser medidas.
i) A amostra não é destruída durante a medida. Não é ensaio destrutivo.
52
j) Enquanto certos eletrodos podem operar abaixo de 10-4 mol L-1, muitos não podem, e os
eletrodos não são ferramentas ultrasensíveis como algumas outras técnicas que podem atingir
sensitividades de 10-9 mol L-1 ou mais baixo que isso.
k) Deve-se realizar calibrações freqüentes.
l) Poucos padrões primários de atividade estão disponíveis, quando se compara com aqueles que
existem para medidas de pH (existem padrões de atividade similares aos padrões de pH, que
podem ser encontrados no NIST – National Institute of Standards and Technology, para alguns
sais, tais como o cloreto de sódio).As soluções de referência que são usadas não são tamponadas
no íon sendo testado. Impurezas, especialmente em padrões diluídos, podem causar resultados
errôneos.
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