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Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e

I Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas


27 e 28 de setembro de 2011
ISSN 1982-0178

AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE OS SINTOMAS DE STRESS, O


CONTROLE DA RAIVA E A AQUISIÇÃO DE NOVOS HÁBITOS DE VIDA

Marília Zaparoli Falsetti Marilda Emmanuel Novaes Lipp


Faculdade de Psicologia Estudos Psicofisiológicos do Stress
Centro de Ciências da Vida Centro de Ciências da Vida
marilia.zf@puccampinas.edu.br marildalipp@puc-campinas.edu.br

Resumo: O trabalho teve por objetivo desagradável de situações vividas,


verificar a incidência de stress, raiva e causando uma intensificação da raiva,
hábitos de vida inadequados prejudiciais à podendo atingir o estado de fúria ou cólera)
qualidade de vida e agravadores do risco e temperamento (disposição à vivência e
cardíaco em mulheres e observar a expressão sem razão particular). [20]
associação entre as variáveis através da Ela pode ser interna (sentimentos
comparação dos dados pré e pós Treino de negativos causados pela supressão) ou
Controle do Stress (TCS). O projeto se externa (verbal e física). A expressão
enquadra no da docente orientadora, externa pode prejudicar as relações
“Identificação e redução de fatores de afetivas, provocando culpa; por isso há
riscos nas doenças cardiovasculares em tentativa de inibição, com expressão para
mulheres: contribuições da psicologia dentro e aparente apatia emocional. A raiva
clínica.” Participaram 2 mulheres de 62 e não expressada pode converter-se em
64 anos com diagnóstico clínico de doença sintomas psicofisiológicos e doenças
cardiovascular e stress, avaliadas com crônicas. A raiva afeta cognição, campo
ISSL (Inventário de Sintomas de Stress), afetivo e comportamento individual. A
IQV (Inventário de Qualidade de Vida), avaliação negativa dos outros é uma
STAXI (Inventário de Expressão de Raiva conseqüência cognitiva da raiva; desprezo
como Estado e Traço), e entrevista pelos outros é afetivo; cinismo e
psicológica e médica no LEPS (Lab. De agressividade são comportamentos típicos
Estudos Psicofisiológicos do Stress) da de quem lida inadequadamente com raiva.
PUCC. Participaram de 8 sessões do TCS O desenvolvimento processual da raiva tem
e receberam instruções multiprofissionais 6 componentes. O 1º refere-se ao evento
sobre modificação dos hábitos causadores desencadeador do sentimento. A avaliação
da patologia cardiovascular. A bolsista subjetiva do evento constitui o 2º
analisou os dados e verificou mudança componente da raiva. Já o 3º é o stress
significativa nos hábitos de vida, nível de emocional. Em seguida ocorre a resposta
stress e características psicológicas comportamental de raiva, seguida da
geradoras de tensão, concluindo que o reavaliação das condições sob a influência
TCS pode contribuir substancialmente no da presença da raiva. O 6º e último
tratamento de mulheres hipertensas. componente do processo é o
Recomenda-se a implantação do TCS no escalonamento da raiva, no qual ela pode
planejamento de tratamento de um número evoluir ou regredir de acordo com o
maior de mulheres atendidas no sistema de feedback recebido. [10, 11]
saúde e a prevenção do desenvolvimento A raiva é desencadeada pelo sistema
do stress e da hipertensão através de límbico e se origina na amígdala, parte do
informação. centro de controle das emoções no
Palavras-chave: stress, raiva, hipertensão cérebro. Estimulada por uma mensagem de
Área do Conhecimento: Área da Saúde – perigo físico ou emocional, ela ativa a
Sub Área Psicologia. glândula pituitária, que libera hormônio
adrenocorticotrófico, redutor dos níveis de
1- INTRODUÇÃO atenção por 30 minutos, período durante o
Raiva é um sentimento universal de qual a pessoa será incapaz de focar em
proteção em caso de perda de poder real outro estímulo que não seja o sentimento.
ou imaginário. Há 2 padrões: raiva-traço Ele é o responsável pela ativação das
(percepção do caráter frustrante e glândulas suprarrenais, que liberam mais
dezenas de hormônios diferentes no processo cognitivo responsável pela
organismo, que sofre uma alteração tomada de decisões através da
metabólica para lidar com o motivo da determinação da sensibilidade ao reforço e
raiva. O córtex orbitofrontal, envolvido no à punição, também é estimulado pelo
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hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), cuja
sentimento de raiva. A capacidade de estrutura principal, o hipotálamo, pertence
tomar decisões racionais baseadas no ao sistema nervoso central (SNC) e
julgamento lógico do contexto diminui com controla funções fundamentais de
raiva. O córtex da adrenal é ativado em sobrevivência orgânica. Ele atua sobre o
situações mais críticas de raiva, liberando o sistema nervoso autônomo (SNA),
hormônio cortisol, relacionado à presença responsável por alterações fisiológicas
do stress emocional. Mobilizam-se o como aumento da frequência cardíaca.
sistema neuroendócrino, o neuroimune e o Quanto à caracterização hormonal do
neurovegetativo. Há aceleração dos stress, corticosteróides afetam a adaptação
batimentos cardíacos e aumento da comportamental, o aprendizado e a
pressão arterial. Psicotrópicos normalizam memória; a variação nos níveis de
neurotransmissores alterados e serotonina pode ser associada à
regularizam o funcionamento do sistema depressão. [1]
límbico. A ação química ligada à O prejuízo causado pelo stress no sistema
eletrofisiologia cerebral também pode ser imunológico possibilita o surgimento de
modificada através de psicoterapia. [10, 11] doenças adaptativas, presentes a partir da
A caracterização disfuncional da raiva fase de resistência. Patologias
depende da frequência, duração, cardiológicas e endocrinológicas estão
intensidade e consequências. A história de entre as mais comuns. A mortalidade
vida influencia a forma de expressão e a nacional e mundial de pacientes de
avaliação das consequências. A doenças cardiovasculares é alta;
contribuição ambiental é superior à internações e agravamento do quadro
genética. A raiva disfuncional é associada patológico podem ser prevenidos através
ao stress emocional, favorecedor do de programas de controle dos fatores de
aparecimento do sentimento negativo. Nem risco como stress. [16]
sempre stress culmina em reação de raiva, Dados literários apontam o stress como
mas o raiva sempre gera stress. [11] fator relacionado à elevação da pressão
O stress é um risco homeostático ao qual o arterial (PA), contribuinte para
organismo responde adaptando-se com desenvolvimento da hipertensão arterial
estratégias comportamentais, cognitivas ou (HA), que se caracteriza pelo aumento
emocionais. É o resultado de divergências sustentado da PA sistólica > 140 mmHg e
reais ou imaginadas entre a demanda de diastólica > 90 mmHg. Outros fatores de
uma situação e os recursos individuais risco são obesidade e sobrepeso, idade,
internos e externos, gerando Reações gênero, etnia, hereditariedade, fumo,
Biopsicossociais ao Stress, que levam a alcoolismo, maus hábitos alimentares,
pessoa a atacar os estressores ou a fugir sedentarismo e fatores econômicos –
deles [14]. grande parte presente nos hábitos de vida
Há 4 estágios da Síndrome de Adaptação de pessoas estressadas. A HA é uma
Geral (SAG) ao stress: alarme, resistência doença crônica, multifatorial, não
e exaustão. No alarme, o organismo comunicável e assintomática cuja
mobiliza recursos disponíveis para mortalidade está em crescimento no Brasil,
responder ao estressor e libera hormônios. principalmente entre as classes
Na resistência, ele tenta se adaptar e há econômicas inferiores. Seu tratamento
doenças de adaptação pela diminuição da envolve medidas medicamentosas e não
resposta fisiológica imunitária. Na medicamentosas. A mudança no estilo de
exaustão, danos fisiológicos e psicológicos vida em busca de hábitos mais saudáveis,
podem acarretar danos permanentes. A como boa alimentação, ingestão de
“quase exaustão” ocorre entre a resistência potássio, combate ao tabagismo e ao
e a exaustão, descrita como estágio sedentarismo, é uma medida não
intermediário [12, 14]. medicamentosa recomendada a ser
A resposta de stress é desencadeada pelo implementada pelo paciente em no máximo
sistema límbico em 2 vias: sistêmica e 6 meses após o diagnóstico, com avaliação
processiva. Na sistêmica os estressores médica após 3 meses. O tratamento
causam danos fisiológicos ameaçadores à farmacológico é demorado, de alto custo e
sobrevivência. Na processiva ou límbica apresenta diversos efeitos colaterais, mas
não representam ameaça homeostática a ação preventiva é efetiva. [17, 18, 19]
imediata; demandam processamento Respostas comuns de stress em
sensorial prévio à resposta adaptativa. O hipertensos são: preocupação, dificuldade
stress é desencadeado pelo eixo
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para orientar-se, disponíveis, avaliados comparativamente,
tristeza, cansaço, irritabilidade, ansiedade, demonstraram baixa adesão em longo
vontade de chorar, prazo”. Outras recomendações alimentares
são redução do consumo de sal e álcool e
problemas no sono, dificuldade para relaxar adição dos seguintes alimentos na dieta
e usar a memória, variações de humor, diária: ácidos graxos insaturados,
inquietação, depressão e medo. Há oleaginosas, fibras, proteína de soja,
associação da hipertensão à depressão, laticínios, alho, café, chá, chocolate
agravando a doença. Sintomas podem ser amargo. [19]
averiguados pelo ISSL. [4, 9, 15] O 2º pilar é a atividade física, pois ameniza
O impacto causado pelos estressores no sintomas físicos. Recomenda-se para
emocional varia de acordo com a idosos hipertensos acompanhamento
resiliência, as experiências anteriores profissional. A porcentagem de hipertensos
frente a eventos estressantes e os que praticam exercício físico regular é
pensamentos resultantes. [4] baixa, tendendo ao sedentarismo. [2, 5]
A Sociedade Brasileira de Cardiologia, de Os hábitos anteriormente elencados
Hipertensão e de Nefrologia predizem doenças coronarianas em longo
(SBC/SBH/SBN) indicam o controle do prazo e são sinais de estilo de vida
stress como tratamento não estressante e afetam a forma como o
medicamentoso, pois pode desencadear e sistema cardiovascular responde. [6, 7]
manter a HA ou impedir a adesão ao O 3º consiste em relaxamento. O hábito de
tratamento e a mudança de hábitos de respirar profunda e lentamente 10 vezes
vida. [19] por minuto durante 15 minutos diários
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) comprovadamente reduz a PA. [19]
é um tratamento não medicamentoso que O 4º é a TCS, que enfatiza a participação
pode contribuir com o desenvolvimento de ativa do paciente na focalização de metas
habilidades de enfrentamento, incluindo processuais. O terapeuta cognitivo busca
treinamento anti-stress (biofeedback, identificar pensamentos presentes do
relaxamento muscular e treinamento de paciente, comportamentos problemáticos e
manutenção emocional), reduzindo a fatores precipitantes dos mesmos; também
vulnerabilidade psicológica e reequilibrando realiza levantamento de eventos
o organismo. [8] desenvolvimentais chaves e padrões
O Treino de Controle do Stress (TCS) de duradouros de interpretação destes. A TCC
Lipp é baseado na TCC. São propostas psicoeduca o paciente a se auto-avaliar
aproximadamente 12 sessões nas quais para prevenir recaídas, visto que o tempo
focam-se os 4 pilares de combate do stress de terapia é limitado e sessões são
– alimentação saudável, exercício físico, estruturadas a partir do rol de técnicas
relaxamento e equilíbrio mental. Orientam- disponíveis para modificar pensamento,
se os pacientes para a modificação do humor e comportamento. [3]
estilo de vida e o controle do stress. A De forma sucinta, o modelo cognitivo é
mudança de hábitos de vida é assim descrito por Beck: uma situação
imprescindível para que o hipertenso possa desafiadora leva a um pensamento
se autocontrolar, tornando-se independente automático gerador de reações emocionais,
do terapeuta. [13] físicas e fisiológicas disfuncionais. O
Hipertensos possuem necessidades pensamento automático provém das
nutricionais específicas e os efeitos crenças intermediárias e centrais da
colaterais dos anti-hipertensivos modificam pessoa. [3]
hábitos alimentares (tosse, paladar As metas de cada sessão de terapia são
metálico, anorexia, constipação, náusea, diferentes. Na 1ª, o terapeuta explica o
flatulência, diarréia), reduzem o teor transtorno e o modelo cognitivo,
glicêmico no organismo diabético e normatizando expectativas sobre a terapia.
declinam o funcionamento renal. O índice Ele também coleta informações sobre as
de tabagismo nesse grupo é de 50%. [5] queixas para desenvolver a lista de metas.
Segundo a SBC/SBH/SBN, as dietas DASH Beck recomenda estabelecimento lógico da
(Dietary Approaches to Stop Hypertension), agenda, checagem de humor e pontuações
Mediterrânea e Vegetariana, baseadas em objetivas, revisão breve do problema,
alimentos orgânicos ricos em potássio, atualização dos detalhes, e a identificação
magnésio e cálcio, ajudam na diminuição de outros problemas. A partir da 2ª sessão,
da PA. “Dietas da moda e programas de atualizar e verificar o humor do paciente,
emagrecimento comercialmente fazer ponte com metas anteriores,
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estabelecer roteiro  Registros de vídeo da 1ª e última
para a sessão atual, revisar tarefa de casa, sessão de tratamento dos grupos.
discutir tópicos do roteiro, estabelecer nova
tarefa de casa, Local
Laboratório de Estudos Psicofisiológicos
resumir temas trabalhados e solicitar do Stress (LEPS) da PUC Campinas.
feedback. Ao final da terapia, o paciente
pode ter pensamentos automáticos, desde Procedimento
entusiasmo e esperança até raiva e medo. Após avaliações médicas e psicológicas e
Recomenda-se responder a tais aplicação de instrumentos de coleta de
pensamentos examinando vantagens e dados e entrevista psicológica, as variáveis
desvantagens, avaliando a possibilidade de foram comparadas na busca de mudanças
diminuição gradual das sessões. significativas que mostrassem se o TCS é
Autoterapia deve ser encorajada e eficaz e adequado para promover mudança
acompanhada pelo terapeuta para garantir de hábitos de vida e reduzir risco cardíaco
eficiência e permanência pós-término. de mulheres com síndrome metabólica
Possíveis retrocessos são esperados e o (SM).
terapeuta pode minimizar danos
preparando anteriormente o paciente, 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO
podendo recorrer à ajuda terapêutica para As mulheres observadas com o objetivo de
manejar problemas inesperados. [3] comprovar a eficácia e adequação do TCS
na mudança de hábitos de vida para
2- OBJETIVO redução da SM foram A.A.S. – 64 anos,
Verificar incidência de stress, raiva e divorciada, ensino fundamental completo,
hábitos de vida inadequados que auxiliar de enfermagem – e M.A.E. – 62
prejudicam a qualidade de vida e anos, viúva, ensino fundamental completo,
aumentam risco cardíaco em mulheres, dona de casa.
além de observar associação entre as Ambas diagnosticadas com SM e HA em
variáveis. O projeto se enquadra no maior estágio 1 há menos de 5 anos, com
da docente orientadora Dra. Marilda Lipp, antecedentes familiares para doenças
“Identificação e redução de fatores de cardiovasculares, sedentárias. A.A.S. era
riscos nas doenças cardiovasculares em sedentária, obesa, alimentava-se
mulheres: contribuições da psicologia inadequadamente, no padrão de risco para
clínica”. complicações cardíacas. Ao relatarem suas
crenças sobre a doença cardiovascular,
3- MÉTODO A.A.S. afirmou que a HA é uma doença
perigosa de fácil controle e M.A.E. informou
Participantes que não considerava a HA um problema
2 mulheres de 62 e 64 anos, com sério.
diagnóstico clínico de stress e doença Ambas diagnosticadas como estressadas.
cardiovascular, encaminhadas pelo serviço Antes da terapia, A.A.S. encontrava-se na
de endocrinologia do Hospital e fase de resistência, com sintomas
Maternidade Celso Pierro da PUC- majoritariamente psicológicos; 6,7 mcg/dL
Campinas. de cortisol. M.A.E., na quase exaustão,
com presença equilibrada de sintomas
Material físicos e psicológicos; cortisol no nível de
 Inventário de Sintomas de Stress para 8,9 mcg/dL.
Adultos de Lipp (ISSL): identifica níveis O STAXI comprovou que ambas lidavam
aumentados de stress, fase em que o com a raiva disfuncionalmente. A.A.S.
respondente se encontra e tipo de apresentava estado de raiva tendendo a
sintoma mais frequente. controlá-lo de forma reprimida; em M.A.E.
 Inventário de Qualidade de Vida (IQV): destacava-se a raiva temperamento e a
avalia hábitos de vida e revela qualidade frequente expressão.
de vida nas áreas profissional, saúde, Quanto às queixas da 1ª sessão: A.A.S.
afetiva e social. citou dores nas articulações das pernas e
 Inventário de Expressão de Raiva medo de “ficar gorda e feia” – crença
como Estado e Traço (STAXI): central sustentada pela intermediária de
identifica estilo de expressão da raiva. que as pessoas julgam o obeso como
 Roteiro de Entrevista Psicológica. “sem-vergonha” e culpado por seu físico
 Entrevista Médica. fora de forma. M.A.E. identificou ser
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inassertiva por Nas sessões finais, constata-se que A.A.S.
preocupar-se muito com o sentimento e a modificou hábitos de vida: substituiu
reação de raiva das pessoas. Apresentava sedentarismo por atividades físicas
a crença central de regulares, abandonou o cigarro e reduziu
açúcar e carboidratos, adotou relaxamento
que não pode discordar de opiniões diário com técnica de respiração profunda.
opostas às suas, e a intermediária de que Nas situações estressantes lembrava-se
indignar-se com alguém pode magoar e das lições, monitorando o pensamento e
suscitar sentimento de raiva. controlando o comportamento de resposta.
Quanto às metas particulares: A.A.S. A avaliação pós-terapia apontou que A.A.S.
adotaria práticas saudáveis de alimentação desenvolveu técnica de autocontrole da
e exercício físico; M.A.E. desenvolveria a raiva, expressa para dentro. Os sintomas
assertividade. tornaram-se principalmente físicos. O
As pacientes foram psicoeducadas sobre exame pós-TCS de cortisol resultou em 9
formas de relaxamento a serem praticados mcg/dL. O IQV, que inicialmente detectou
diariamente. Antes e depois do exercício sucesso nas áreas social e profissional,
deveriam preencher um quadro em que mas fracasso nas áreas afetiva e de saúde,
relatavam como se sentiam. ao término da terapia detectou sucesso em
A.A.S. fez a tarefa de casa e na maioria todas as áreas da vida da paciente.
das vezes marcou a opção intermediária de Na 1ª sessão, M.A.E. relatou que vizinhos
stress antes de começar e a opção de interferiam em sua vida e não se defendia
stress mínimo após o término. M.A.E. fez o porque temia que a exposição de sua
relaxamento pouco mais de 50% das opinião culminasse em conflito. A terapeuta
semanas, com aumento da adesão a partir questionou-a socraticamente. Estabeleceu-
da metade da terapia; também se sentiu na se como meta o desenvolvimento de
maioria das vezes estressada antes de repertório de respostas mais assertivas. No
fazer a tarefa e relaxada ao concluí-la. entanto, na última sessão, M.A.E. relatou
Na 1ª sessão, A.A.S. falou sobre o divórcio piora da relação com os vizinhos. Quando
desde o qual não manteve nenhum falhava em sua tentativa de se mostrar
relacionamento afetivo por conhecimento assertiva, M.A.E. apresentava um sintoma
do aumento de casos de AIDS na 3ª idade típico de stress: hipersensibilidade.
e a certeza de que só adotaria um novo Quanto ao diagnóstico médico e
parceiro caso “acrescentasse” qualidade a psicológico, M.A.E. apresentou melhora do
sua vida. A.A.S. tinha uma vida bastante quadro inicial. O STAXI comprovou que a
ativa, exercia sua profissão e não pensava raiva está sob controle e expressa para
em se aposentar; entretanto, recusava dentro. O stress regrediu da fase de quase-
ofertas de trabalho desinteressantes. exaustão para a fase de resistência e os
A.A.S. interrompeu a medicação porque um sintomas tornaram-se majoritariamente
efeito colateral, a alteração do sono, psicológicos. O cortisol decaiu para 8,6
incomodava-a muito. Outros sintomas de mcg/dL. O IQV permaneceu estável antes e
stress apresentados pela paciente eram depois do TCS, indicando que M.A.E.
sudorese e aumento de apetite, com obteve sucesso nas áreas de saúde,
predileção por alimentos que contêm alto afetivo e profissional, mas fracassou em
teor de açúcar. social.
A.A.S. sustentava as crenças de ser
possível mudar hábitos e que uma boa 5- CONCLUSÃO
forma de aprender algo é ouvir O adoecimento possui não apenas causas
especialistas falando do assunto. Apesar orgânicas, mas também é diretamente
de suas escolhas durante a vida terem sido afetado pelo meio em que o indivíduo se
baseadas em suas crenças, A.A.S. pôde encontra e pelos estímulos que dele
desenvolver a assertividade e relembrar a recebe. Eventos estressores de vida
importância primordial de cuidar da própria demandam adaptação, sendo a raiva
saúde física e mental. Segundo a paciente: disfuncional um possível sentimento
“Tudo que eu fiz foi porque eu quis, eu originado. O conhecimento dos sintomas
escolhi, foi uma escolha”, mas evitava falar de stress e dos 4 pilares básicos de seu
“a coisa certa na hora errada” para não combate através do TCS, aliado à
magoar as pessoas. O que aprendeu com percepção da origem e expressão da
a terapia: “Percebi que não preciso ser a própria raiva e ao aprendizado de formas
primeira da fila, mas a última não quero ser construtivas de expressá-la, são mudanças
mais. Eu tenho que ter tempo pra mim”. de hábitos que contribuem para a mudança
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significativa da pressão arterial: uma metanálise de
sintomatologia psicofisiológica da HA. estudos de coorte. Cadernos de Saúde
Portanto, o trabalho multiprofissional no Pública, Rio de Janeiro, n. 25, v. 4.
tratamento de diagnóstico clínico de HA é [9] Lipp, M. E. N. (2000) Inventário de
sintomas de stress de Lipp. Casa do
altamente recomendado, pois ela é Psicólogo: São Paulo.
multifatorial e abrangente de todos os [10] Lipp, M. E. N. (2005) Stress e o
contextos de vida do paciente, de forma a Turbilhão da Raiva. Casa do Psicólogo:
não haver uma única solução. A São Paulo.
contribuição da participação da Psicologia [11] Lipp, M. E. N.; Malagris, L. E. N.
na alteração de hábitos de vida é primordial (2010) O Treino Cognitivo de Controle da
e provou nesse estudo sua eficácia. Raiva: o passo a passo do tratamento. Rio
de Janeiro: Cognitiva.
AGRADECIMENTOS [12] Malagris, L. E. N.; Fiorito, A. C. C.
A Dra. Marilda Lipp, a Andréa Gualberto de (2006) Avaliação do nível de stress de
Macedo Bottcher, a Andréia Cristina dos técnicos da área de saúde. Estudos de
Santos Kleinhans e a PUC Campinas. psicologia (Campinas), Campinas, v.23, n.
4.
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